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pt | 137 | fevereiro/março 2019 | bimestral | € 10

Diretora e editora Cláudia Maia

Superalimentos
Não são a solução milagrosa para todos os males, nem justificam uma ingestão intensiva

HOSPITAIS

a experiência
dos utentes

Batons Químicos IVA

Testámos 19 produtos para crianças. Dicas para reduzir a exposição Exigimos a taxa reduzida de 6%
Nem todos são seguros a substâncias tóxicas em casa para alimentos saudáveis
 sumário
BREVES

04 CHECK UP Insetos à refeição

• Vacinas dão saúde • Oferta
deficitária em saúde mental
• Visita ao museu • Três questões 04
137 a Francisco George • Cosméticos
sem glúten • Atendimento
prioritário: as exceções • Trabalho
mais ativo • Efeitos na saúde
fevereiro/março 2019
da exploração de petróleo e gás.

EM FOCO

08
CAPA
Hospitais Avaliámos
42 estabelecimentos com base
na experiência dos cidadãos.

12
Resistência aos antibióticos
Boas práticas para manter a eficácia
no combate às bactérias.

16 Marketing Abacate, gengibre, açaí,

sementes de chia ou bagas de góji:
serão mesmo “superalimentos”?
12
20
OS NOSSOS VALORES
Há química entre nós Como
INDEPENDÊNCIA reduzir a exposição a substâncias
A nossa missão exige independência total: nocivas em casa.
financeira, política e ideológica.

22
Os conselhos e tomadas de posição
resultam dos nossos estudos e análises, “Batons” para criança Testámos
livres de qualquer tipo de pressão. 19 produtos e não recomendamos
A totalidade das receitas da nossa atividade o uso de treze.
é reinvestida em prol dos consumidores.

CREDIBILIDADE
A concretização da nossa missão assenta
na credibilidade e no reconhecimento da
25 Aditivos na alimentação Alguns
são dispensáveis e duvidosos.
Aprenda a reconhecê-los.
qualidade do nosso trabalho. Esta resulta

29
do profissionalismo das nossas equipas
e de métodos comprovados, transparentes Cigarros eletrónicos Podem
e permanentemente reavaliados, baseados ser menos nocivos do que os
numa ética profissional exigente. tradicionais, mas não são inócuos.

32
PROXIMIDADE

22
A nossa missão é permanentemente orientada Saúde online Inquérito
para a satisfação das necessidades a 415 portugueses revela pouca
dos consumidores. A sua concretização propensão para o uso de serviços
passa por interagir com todos os

29
de saúde online.
interlocutores – consumidores, comunicação
social, poderes políticos, etc. –, respondendo
às suas solicitações de forma direta, concreta
e adequada. 36 IVA: taxa menor, melhor
alimentação Consumidores pedem
redução de imposto para alimentos
saudáveis.

CONTACTE-NOS
Telefone
218 410 801(telemóvel) PERTO DE SI
808 200 146 (chamada local)
Serviço de informações
218 410 858 (telemóvel)
808 200 145 (chamada local)
38 LEITORES EM DIRETO
Prótese dentária com ajustes
intermináveis • Quanto açúcar cabe
Assinaturas e encomendas numa lampreia • Esterilizar a escova
pela internet de dentes é desnecessário • O bolo
www.deco.proteste.pt/contactos de mel já tem mel.

2 testesaúde 137
 Saúde digital

08 O futuro
já chegou?
A digitalização de todas as áreas da sociedade está a
transformar também a forma como nos relacionamos com os
João Oliveira cuidados de saúde. Já é possível aceder a um espaço pessoal
Coordenador técnico no portal do Serviço Nacional de Saúde, onde, além do
da TESTE SAÚDE
registo eletrónico dos nossos dados clínicos, podemos marcar
consultas, pedir medicação crónica, consultar o boletim
de vacinas, entre outros serviços. A desmaterialização das
receitas, a prescrição eletrónica de exames complementares
ou a adoção crescente de aplicações móveis com diferentes
fins são outros exemplos de como pacientes, profissionais
e os próprios cuidados de saúde se estão a “digitalizar”,
ainda que persista algum distanciamento e desconfiança

16 "Em
dos primeiros, como revela o nosso estudo na página 32.
As promessas da saúde digital são extensas e ambiciosas:

25
deste logo, reforçar o acesso e a utilização eficiente
momento dos recursos, melhorando a qualidade dos cuidados
algum e os resultados em saúde; e também aumentar a autonomia
podem os dos utentes e a sua capacitação para uma gestão mais ativa
da sua saúde, com ferramentas que promovem escolhas
consumi- e comportamentos mais saudáveis. Mas, se, por um lado,
dores a digitalização dos cuidados de saúde tem potencial para
melhorar drasticamente aspetos críticos do sistema,
deixar de tradicionalmente demasiado focado no tratamento da
ser donos doença e pouco orientado para a prevenção e promoção de
bem-estar físico, mental ou social, por outro, arrasta elevados
ou de riscos quanto à privacidade do consumidor, à segurança
controlar os e à proteção de dados. Numa economia em que os dados
seus dados se convertem na nova moeda, as violações de segurança dos
sistemas e as partilhas indevidas de informação criam novos
pessoais desafios. Também a proliferação de produtos e serviços
de saúde" digitais levanta questões de credibilidade e segurança.

36
Em momento algum podem os consumidores deixar de
ser donos ou de controlar os seus dados pessoais de saúde.
Os produtos e serviços digitais devem ser seguros e credíveis,
supervisionados de perto pelas autoridades responsáveis, e
ter em conta as preferências dos utilizadores. E, claro, é fulcral
aumentar a literacia digital em saúde, tanto de consumidores
como de profissionais.
O recente regulamento de proteção de dados, em vigor desde
maio, veio responder a algumas destas necessidades, mas
persistem insuficiências. Não menos importante será garantir
que, no centro das orientações políticas quanto à saúde
digital, estejam sempre os reais interesses e necessidades
de utentes e consumidores.
Envie-nos os seus comentários editorial@deco.proteste.pt

137 testesaúde 3
Checkup
Iguaria com futuro? Portugueses
INSETOS À REFEIÇÃO VACINAS
Minhocas, formigas ou gafanhotos. A maioria dos DÃO
portugueses ainda não provou insetos, nem derivados, SAÚDE
como pão com farinha de grilo, mas metade não descarta
essa possibilidade, revela um inquérito europeu Os portugueses
são, na União
O inquérito que realizámos ao abrigo da iniciativa EIT Food, Europeia, os que
composta por empresas e universidades europeias, revela mais confiam nas
que 6% dos (mil) inquiridos portugueses já provaram insetos vacinas. Segundo
e que mais de um quinto gostou. um estudo da
Os insetos, por estranho que pareça, podem vir a tornar-se Comissão
numa alternativa alimentar na Europa, por serem produzidos Europeia, 98%
com menos recursos do que outros alimentos e serem da população
nutritivos. Em geral, são bons fornecedores de proteínas, nacional
de hidratos de carbono e de cálcio. Por exemplo, 100 gramas considera-as
de minhocas cobrem boa parte das necessidades diárias importantes para
em minerais, como cálcio (20%), potássio (40%), magnésio as crianças, 97%
(40%) e fósforo (80 por cento). No caso do zinco e do ferro, veem-nas como
a quantidade fornecida é superior à necessária. eficazes e 95%,
Desde 2015, a União Europeia tem vindo a simplificar como seguras.
a legislação relativa a novos alimentos, categoria que O inquérito
inclui insetos, fungos, algas, microrganismos e alimentos envolveu cerca de
constituídos por nanomateriais artificiais. Segundo as novas 29 mil pessoas,
regras, estes vão ser sujeitos a um processo de avaliação representativas
e autorização harmonizado. de cada um
Encontra mais pormenores sobre os “Insetos no menu dos 28 países da
dos europeus” em www.deco.proteste.pt. União Europeia.

4 testsanté 000
 Oferta deficitária Receita
médica
SAÚDE MENTAL VISITA
AO
O Serviço Nacional MUSEU
de Saúde não cobre Francisco George

as necessidades de Uma associação

cuidados de saúde
de médicos
e um museu “Trabalho imparável”
mental de crianças de Montreal, no
Canadá, iniciaram À margem da conferência internacional Consumidores
e adolescentes um projeto-piloto e Justiça Ambiental, no Porto, em finais do ano passado,
de terapia com o ex-diretor-geral da Saúde e atual presidente
O relatório Gerações Mais Saudáveis, do arte. Os médicos
Conselho Nacional de Saúde (CNS), órgão da Cruz Vermelha Portuguesa respondeu a três
receitam visitas
de consulta do Governo, revela grandes gratuitas ao
questões da TESTE SAÚDE
lacunas nos cuidados de saúde mental museu, onde é
para os mais novos, no Serviço Nacional O que destaca dos tempos na Direção-Geral da Saúde?
possível apreciar
de Saúde (SNS): os recursos existentes Foi ter compreendido e confirmado o interesse, a dedicação e a
pintura e
são insuficientes para acompanhar os qualidade de todos os funcionários públicos com quem trabalhei
escultura.
problemas que, segundo as estimativas, e, em particular, dos especialistas das diferentes disciplinas, que
Os médicos
afetam 10 a 20% das crianças. formaram uma equipa coesa, e que defendia os interesses da DGS
acreditam que
Existem, atualmente, 21 unidades de [Direção-Geral da Saúde] na perspetiva da promoção da saúde
esta terapia pode
pedopsiquiatria no SNS e nove serviços das portuguesas e dos portugueses, sem qualquer distinção.
beneficiar desde
locais de psiquiatria da infância e da doentes com
adolescência, com distribuição desigual O que ficou por fazer?
problemas
ao nível nacional. O Algarve, o Alentejo Este trabalho não acaba. Há sempre questões que carecem de
mentais e
e a região Centro são os mais penalizados. coordenação, que precisam de ser investigadas e de ser geridas.
desordens
Além do reforço dos profissionais nos É um trabalho que não tem fim, não é um itinerário de comboio,
alimentares,
serviços de saúde, em particular nos que acontece todos os dias e em que cada dia é diferente do
até diabéticos
cuidados de saúde primários, o CNS anterior. E não se trata só das doenças. A DGS trata da saúde.
e hipertensos,
recomenda a integração de psicólogos Uma criança nasce em ambiente de saúde, num bloco de partos,
passando
nas equipas de saúde escolar e aposta que tem de estar preparado, com enfermeiras qualificadas,
por pacientes
em programas de prevenção e promoção médicos, pediatras, obstetras... a primeira vacina é dada minutos
em cuidados
da saúde psicológica. depois. Não é possível parar, portanto. Todos os dias nascem
paliativos.
crianças, que vão crescendo, e depois atingem a idade da escola,
em que são necessários novos cuidados – vacinas, alimentação,
exercício físico... É um trabalho imparável.

A Cruz Vermelha pode ter um papel complementar

ao do Serviço Nacional de Saúde?
O orçamento anual do SNS [Serviço Nacional de Saúde] é superior
a nove mil milhões de euros. Não há nenhuma organização que
tenha capacidade financeira de o substituir, ou de ser alternativa.
O que estamos a fazer, em articulação com as diferentes
autoridades de saúde, nomeadamente ao nível regional, é montar
unidades, como acontece agora na Maia, que vão responder,
em termos de urgência, a problemas críticos, como as doenças
crónicas de pacientes, que ocupam, sem necessidade, camas
em hospitais centrais. São, portanto, unidades de cuidados
continuados.

137 testesaúde 5
 Atendimento prioritário
AS EXCEÇÕES
Entidade Reguladora
da Saúde esclarece
regras de prioridade
no atendimento nas
unidades de saúde
Grávidas, pessoas com incapacidade,
idosos e acompanhantes de crianças de
colo (até 2 anos), por lei, têm prioridade
no atendimento de serviços públicos e

Cosméticos
privados, incluindo os estabelecimentos
de saúde. Mas há exceções. É o caso da
prestação de cuidados não-programados,
por exemplo, em serviços de urgência,
Tratamentos

sem glúten?
que tem de reger-se por critério clínicos,
termais dando prioridade às situações mais
ESTADO graves. Face a um quadro clínico de
AVALIA gravidade e complexidade idênticas,
deve ser dada prioridade aos que
Os doentes celíacos podem usar cosméticos com tenham deficiência ou incapacidade igual
O Serviço
glúten? Sim, desde que não haja risco de ingestão. ou superior a 60%, segundo a Entidade
Nacional de
A proteína presente em cereais, como o trigo, Reguladora da Saúde.
Saúde passou
a cevada e a aveia, não é absorvida através da pele sã Nos cuidados previamente marcados,
a comparticipar
como consultas médicas, por princípio,
35% das
Cada vez há mais cosméticos “gluten free” e vários artigos o atendimento deve seguir a ordem
despesas com
sobre alegadas alergias tópicas ao glúten. Não existem provas de marcação.
os tratamentos
científicas de que os cosméticos com glúten que não corram Nos restantes serviços de saúde,
termais prescritos
o risco de ser ingeridos possam ser prejudiciais para doentes incluindo os administrativos, aplicam-se
pelo médico de
celíacos ou com dermatite herpetiforme (problema de pele as regras do atendimento prioritário.
família, até 95
desenvolvido por celíacos quando consomem glúten). euros. Trata-se de
O glúten não é absorvido pela pele, a menos que haja lesões um projeto-piloto,
ou feridas. Por isso, produtos como loções corporais, creme de a decorrer
barbear, desodorizante e maquilhagem, à partida, são seguros. durante 2019, em
De acordo com a ciência, é a ingestão de glúten que desencadeia que se pretende
o processo autoimune típico da doença celíaca: o organismo avaliar os
entende a proteína como nefasta e defende-se, produzindo alegados
anticorpos que danificam o intestino. Estes provocam lesões benefícios das
na mucosa e atrofia das vilosidades (pregas), dificultando terapias, tendo
a absorção de nutrientes. em vista a
Os produtos para aplicar na pele podem ser usados, se não definição da
houver risco de ingestão. Neste sentido, no caso dos celíacos, política de
é mais seguro evitar batons, pastas de dentes e elixires com prescrição e
glúten, isto é, que incluam ingredientes que tenham no nome comparticipação.
trigo (wheat, em inglês), glúten ou trigo (Triticum aestivum, Aguardamos
em latim); cevada ou malte (Hordeum vulgare); centeio os resultados.
(Secale cereale); e derivados de aveia (Avena sativa).

6 testesaúde 137
 Sedentarismo
Trabalho
mais ativo
O ambiente de trabalho que convida a
levantar-se e a formação dos trabalhadores
reduzem o sedentarismo dos profissionais
de escritório
Os trabalhadores de escritório passam 70 a 85% do período
laboral sentados, o que contribui para um maior risco de
diabetes e de problemas musculoesqueléticos, como dores
nas costas e no pescoço, e para o aumento da mortalidade.
Esta postura parece ainda ter implicações no trabalho,
diminuindo o envolvimento do trabalhador e aumentando o
presentismo – a presença no local de trabalho sem produzir.
A ciência tem demonstrado que qualquer redução no
tempo sentado contribui para melhorar a função cardiovascular
e alguns indicadores de saúde, como os níveis de glucose
e de insulina, e a pressão arterial. Um estudo recente, realizado
no Reino Unido, demonstrou que a alteração das condições
de trabalho, acompanhada pela formação dos profissionais,
é uma boa estratégia para diminuir o sedentarismo laboral.
Durante um ano, 77 trabalhadores de escritório receberam
uma secretária ajustável em altura, que lhes permitia
manterem-se sentados ou de pé enquanto trabalhavam.
Foi-lhes ainda dada formação sobre a postura adotada no
local de trabalho, as suas implicações na saúde, e a forma de
a alterar. Outro grupo, de 66 trabalhadores, manteve a rotina.
O primeiro grupo revelou maior propensão para reduzir o
tempo sentado, a curto, médio e longo prazo. A intervenção
parece também ter tido um impacto positivo ao nível
musculoesquelético e no desempenho profissional.
O empenho no trabalho aumentou e a fadiga laboral
diminuiu, havendo também impacto ao nível psicológico,
com diminuição da ansiedade e melhoria da qualidade de vida.
Os autores propõem, agora, que se teste a intervenção
noutras organizações laborais.
Saúde pública
PETRÓLEO E GÁS
Existem poucos estudos
sobre os efeitos na saúde
da exploração de petróleo
e gás em terra
Agravamento da asma, possível aumento
de casos de cancro hematológico
(do sangue) e prejuízos ao nível dos
nascimentos (por exemplo, malformações
no feto ou abortos espontâneos) são alguns
dos riscos a que as populações vizinhas
de explorações de gás e petróleo em terra
(onshore) poderão estar sujeitas. Suspeita-se
de que estas explorações emanem mais
de 1300 substâncias, algumas conhecidas
como cancerígenas.
De acordo com o Comité Científico para
a Saúde, Ambiente e Riscos Emergentes
(SCHEER, do inglês Scientific Committee
on Health, Environmental and Emerging
Risks), que avaliou a situação a pedido da
Comissão Europeia, os estudos mostram
evidência fraca a moderada sobre os
malefícios daquelas explorações para
a população geral. De modo a obter
conclusões mais robustas, esta entidade
recomenda que se faça um inventário
das explorações da União Europeia e pede
investigação para caracterizar a exposição
a substâncias prejudiciais, bem como
estudos quantitativos de avaliação do risco.
137 testesaúde 7
 Hospitais
de Norte
a Sul
42 ANALISADOS
Apoio, respeito,
privacidade
e empatia dos
profissionais estão
entre os aspetos
mais bem avaliados.

utentes avaliam experiências

hospitais
Os portugueses dizem terem vivido boas experiências nos hospitais, mas criticam o tempo
de espera até serem atendidos, o ruído e a alimentação. Entrevistámos 1723 cidadãos,
que avaliaram a ida mais recente ao hospital, e reunimos informação consistente
sobre 42 estabelecimentos, públicos e privados. Conheça os resultados do primeiro
inquérito alargado que põe o acento na experiência do utente
Inês Lourinho

8 testesaúde 137
C
ada cidadão conta. Cada
experiência conta. Quisemos BOAS ... E EXPERIÊNCIAS
ouvir as experiências, e não os EXPERIÊNCIAS... MENOS BOAS
números. E, experiência a experiência,
ponto por ponto, lançámo-nos a
bordar uma grande narrativa em que 62% Hospital Amadora-Sintra
95% CUF Infante Santo (Lisboa)/
o cidadão é o principal protagonista.
/Hospital de Angra 63% Hospital S. Teotónio (Viseu)
Há quatro anos, começámos a ouvir
utentes, peritos e profissionais de saúde
do Heroísmo (Açores) 66% Hospital Barreiro-Montijo/
para identificarmos os aspetos mais 92% CUF Descobertas (Lisboa) /Hospital de São José
(Lisboa)
importantes na avaliação da experiência
90% Hospital de Ponta Delgada/
de quem dá entrada numa urgência, URGÊNCIAS
/Hospital de Famalicão 67% Hospital de Faro/Hospital
é internado ou recorre a uma consulta de Santarém
externa num hospital.
Os resultados da primeira fase desta
investigação foram publicados na 98% Hospital de São Bernardo
edição n.º 112, em dezembro de 2014. (Setúbal) 73% Hospital de São Sebastião
(Feira)/Hospital Egas Moniz
No que às urgências diz respeito, o 96% Hospital Curry Cabral (Lisboa)
controlo dos sintomas, como a dor, (Lisboa)
e a informação sobre a situação clínica 78% Hospital de São Pedro
do doente fornecida pelos profissionais 95% Hospital dos SAMS (Vila Real)
de saúde foram alguns dos aspetos (Lisboa)
81% Hospital Beatriz Ângelo
mais valorizados. No internamento,
INTERNAMENTO
93% Hospital de Beja (Loures)
pesaram aspetos relacionados com
a higiene, o ruído, a alimentação e 92% Hospital Dr. José Almeida 82% Hospital Sousa Martins
a comunicação com os profissionais. (Cascais)/Hospital (Guarda)
Já nas consultas externas, destacou-se, de Santo António (Porto)
por exemplo, o tempo de espera.
A partir daquilo que ouvimos, 69% Hospital de Famalicão
construímos uma grelha de questões 98% CUF Infante Santo
com que partimos para a fase seguinte, (Lisboa)/Hospital 73% Hospital de São
de São Bernardo (Setúbal) Sebastião (Feira)/
a do registo das experiências concretas.
/Hospital Egas Moniz
Mas como garantir o máximo de 96% Hospital Curry Cabral (Lisboa)
experiências possível, repartidas por todo (Lisboa)/ Hospital
o País? Gerámos números de telefone CONSULTAS dos Lusíadas (Lisboa) 78% Hospital de São Pedro
aleatórios, fixos e móveis, para todos EXTERNAS (Vila Real)
os indicativos existentes. E telefonámos. 95% IPO Porto/Hospital
De maio a dezembro de 2017, dos SAMS (Lisboa) 80% Hospital de Angra
do Heroísmo (Açores)
perguntámos sobre idas ao hospital
nos seis meses anteriores (12 para
internamentos), escolhemos a mais 98% CUF Infante Santo (Lisboa) 74% Hospital São Sebastião
recente e procurámos saber como tinha
sucedido. Mas também investigámos
97% IPO Porto (Feira)

outras eventuais idas ao hospital, 95% Hospital Curry Cabral 76% Hospital Egas Moniz
tanto do próprio, como de membros do (Lisboa) (Lisboa)
agregado familiar. A partir de 1723 94% Hospital dos SAMS 78% Hospital Amadora-Sintra/
entrevistas válidas, reunimos informação (Lisboa) /Hospital de Faro
consistente sobre 42 hospitais de TOTAL
todo o País, incluindo Ilhas, cinco 92% Hospital Dr. José Almeida 80% Hospital de São Pedro
(Cascais) (Vila Real)
dos quais privados. Os dados obtidos
são representativos da experiência
média em cada estabelecimento de > Resultados completos em www.deco.proteste.pt/hospitais

137 testesaúde 9
 Cuidados
centrados
no doente
NOSSO ESTUDO
Não avaliou
hospitais nem a
qualidade dos
cuidados médicos,
mas as experiências
dos doentes.
> dos utentes, cuja avaliação passa por
saúde. Pode encontrá-los em detalhe
em www.deco.proteste.pt/hospitais.
A conclusão diz-se em poucas palavras:
em termos globais, os portugueses
relataram experiências muito positivas
na sua relação com o hospital.
E, como se vê no quadro da página
anterior, este bom atendimento não
foi exclusivo dos estabelecimentos
privados. CUF Infante Santo (Lisboa),
Instituto Português de Oncologia do
Porto, Hospital Curry Cabral (Lisboa),
Hospital dos SAMS (Lisboa) e
Hospital Dr. José Almeida (Cascais)
proporcionaram as experiências mais
bem pontuadas. Contribuíram para estes
resultados, em especial, a experiência
proporcionada pelos profissionais de
saúde e as condições dos hospitais.
Contudo, os estabelecimentos com
nota mais reduzida foram, ainda assim,
bem avaliados. Todos os 42 hospitais
estudados registaram mais de 74%
na apreciação global.
Ao olharmos para as experiências
com os profissionais de saúde,
verificamos que estes podem mesmo
fazer a diferença - por vezes, os
resultados são ainda mais elevados
do que os registados pelo respetivo
hospital como um todo. Os profissionais
do Instituto Português de Oncologia
do Porto receberam uma apreciação
de 98%, graças ao apoio, à empatia
e ao envolvimento da família nos
cuidados de saúde. Pouco atrás, foram
classificados os profissionais da CUF
Infante Santo e do Hospital de Angra
do Heroísmo, com 96%, sendo que outros
oito estabelecimentos foram pontuados
acima de 90% neste critério. Descubra-os
também no nosso site.
10 testesaúde 137
Portugueses
criticam tempo
de espera,
alimentação e
ruído no hospital
Escolher o hospital
público é possível
Desde maio de 2016 que os portugueses
podem escolher o hospital onde querem
ter consultas, receber tratamentos ou ser
operados. A decisão é tomada com o
médico de família.
Através do sistema de liberdade de
escolha no Serviço Nacional de Saúde,
o utente é encaminhado para a primeira
consulta da especialidade no hospital
da sua opção.
Todos os hospitais podem ser
escolhidos, mas os abrangidos por
um regime de parceria público-privada
só atendem 10% dos utentes que não
pertençam à sua área de referência.
O encaminhamento é feito segundo
critérios como o interesse do utente,
a proximidade geográfica e os tempos
de espera para a primeira consulta
da especialidade, que é possível consultar
no portal do SNS ou na app TE.M.S.
Para as especialidades cirúrgicas, é ainda
considerado o tempo médio de resposta
para a cirurgia programada nos três meses
anteriores, no conjunto dos hospitais.
As despesas com o transporte ficam a
cargo dos próprios, a menos que se trate
de situações abrangidas pelo transporte
de doentes não-urgentes.
Lista de queixas
Numa conjuntura em que muito se
discutem as falhas do Serviço Nacional
de Saúde, como explicar os resultados
deste estudo? A questão é que a nossa
investigação não incide sobre a qualidade
dos cuidados médicos, mas esta também
não basta para caracterizar a qualidade
dos cuidados de saúde como um todo.
Incide, isso sim, sobre a experiência
individualizar determinados momentos.
Aqui, quem avalia são os utentes.
Em suma, é sobretudo de cuidados
centrados no cidadão que estamos a falar.
Logo, um cuidado médico competente,
mas destituído de atenção face ao ser
humano a que é dirigido, produzirá muito
provavelmente uma experiência pouco
ou nada satisfatória. Foi precisamente
por isso que, há quatro anos, começámos
a ouvir histórias: a fim de contribuirmos
para a mudança, ao identificarmos o que
os utentes mais valorizam no contacto
com o hospital. E, se o lado humano dos
hospitais portugueses sai genericamente
sublinhado neste novo estudo, também
é verdade que há vertentes que
continuam a desagradar aos utentes,
e explicam as classificações menos
favoráveis obtidas.
Entre as principais queixas que impendem
sobre os serviços de urgências, contam-se
a ajuda deficiente no controlo da dor ou
de outros sintomas, a menor empatia dos
enfermeiros e auxiliares, o ruído e a falta
de envolvimento do doente nas tomadas
de decisão relativas ao seu estado de
saúde. No âmbito do internamento, foram
reportadas experiências menos positivas
a propósito da espera até ser iniciado
o atendimento e do controlo da dor ou de
outros sintomas. Já internados, os utentes
reclamam, com frequência, do ruído e da
alimentação. A dificuldade em contactar
o hospital, por telefone ou e-mail, foi
ainda assinalada. A mesma dificuldade
foi referida no caso das consultas externas.
Neste contexto, os utentes criticam ainda
a alimentação no hospital e a pouca
empatia dos funcionários. E, de novo,
a facilidade de contacto com o hospital
ficou aquém do desejável.

Entrevista
Paulo Nicola
Investigador da
Faculdade de Medicina
da Universidade de Lisboa
"Queremos ajudar a
melhorar os hospitais"
O nosso estudo foi realizado com a colaboração de investigadores
da Faculdade de Medicina de Lisboa. Falámos com Paulo Nicola,
que desvendou os pormenores mais relevantes
Como escolheram
os entrevistados?
E os entrevistadores?
Através da geração de números
telefónicos de forma aleatória, chegámos
até às pessoas e convidámo-las a
participar. Recolhemos as datas e
os contextos dos vários episódios
e avaliámos os mais recentes. Estas
entrevistas mais aprofundadas podiam
ser agendadas, de modo a obtermos
a melhor taxa de participação possível.
Apesar de a entrevista ser extensa, a
adesão foi muito boa, não só por ser
um estudo importante, como também
por ser com a DECO. Deixo aqui um
agradecimento público a todos que
participaram. Os entrevistadores
foram selecionados pela experiência
em entrevistas telefónicas (por exemplo,
no âmbito de investigação académica
ou marketing), mas também incluímos
profissionais de saúde. Houve treino,
simulações e supervisão, e uma
coordenação muito competente.
Como foi construída a
avaliação de cada hospital?
Os resultados publicados correspondem
diretamente às pontuações atribuídas
pelos utentes. E, apesar de termos
dados de um número elevado de
hospitais, decidimos publicar apenas
os estabelecimentos cujo número
e a consistência das respostas permitiam
João Ribeiro
obter uma apreciação global com
precisão satisfatória. Os hospitais
com mais afluência têm, claro, maior
probabilidade de reunirem informação
suficiente para esta análise. Ainda assim,
42 hospitais, para um país como o nosso,
é um número significativo. Mas temos
mais informação, e queremos divulgá-la
e facultá-la a cada hospital, para que seja
útil no planeamento da sua atividade.
Qual a novidade deste estudo?
Um grande contributo deste estudo vem
da participação obtida aleatoriamente.
Seria diferente identificarmos pessoas à
porta dos hospitais, ou as que se dirigem
ao Gabinete do Utente ou preenchem
sozinhas um questionário. As questões
sobre a experiência de cada indivíduo,
e não sobre a sua opinião geral ou
satisfação, é também uma novidade
em Portugal. Foi muito importante
construir este estudo com o contributo
e a discussão de peritos, profissionais
de saúde, utentes e familiares. Foi
ainda vital reunir o conhecimento e a
experiência de várias instituições, como
a Faculdade de Medicina. Pode ser um
primeiro passo para avaliações regulares
da experiência dos utentes, fazendo
delas um fator relevante na avaliação dos
hospitais. Permitirá, em breve, identificar
boas práticas e ajudar os hospitais na
missão de prestar cuidados de saúde
aos portugueses.
Utente no centro dos cuidados
Os resultados de ambos os estudos
mostram que pôr o cidadão no centro
dos cuidados de saúde é um caminho
que deve continuar a ser seguido. Abordar
o doente com dignidade e humanismo
reforça a colaboração com os profissionais
de saúde e a adesão aos tratamentos.
E, nesta área, apesar dos resultados
encorajadores, continua a haver grande
potencial de melhoramentos, em especial,
na fase em que o doente tem de aguardar
até ser atendido. O controlo da dor
ou de outros sintomas nem sempre é
devidamente considerado. Não pomos
em causa que as situações urgentes
sejam abordadas com o exigido cuidado.
Mas a verdade é que uma espera muitas
vezes longa, associada ao desconforto
da doença, ainda que o caso clínico
possa não ser grave, acaba por tornar
a experiência negativa e prejudicar
a perceção global sobre o hospital.
Mais: para o objetivo de colocar o utente
no centro dos cuidados ser alcançado,
a participação do doente nas decisões,
o envolvimento da família e o apoio na
fase pós-alta têm de ser a regra, e não a
exceção. Também a comunicação com o
hospital requer maior dose de eficácia.
Em síntese, os portugueses dão um
voto de confiança aos seus hospitais,
mas mantêm uma vigilância exigente.
Esperas mais curtas e confortáveis,
menos ruído, opções alimentares
que vão ao encontro das preferências
e necessidades dos doentes, e servidas
a horas adequadas, assim como melhor
comunicação com o hospital, são áreas
prioritárias. Um recado que vai, certeiro,
para o Ministério da Saúde.
Com este estudo, identificámos boas
práticas, a par de problemas específicos
em cada instituição. O nosso objetivo é
contribuir para a mudança. Queremos,
por isso, ajudar os hospitais a retirarem
partido da nossa informação. Para que
a encarem como uma oportunidade
de melhorarem a experiência de outros
utentes. Dos utentes para os utentes.
Dossiê técnico Teresa Rodrigues
137 testesaúde 11
 Mau
uso dos
fármacos
EXPLICAÇÕES
Diagnóstico,
prescrição,
dosagem e duração
da toma errados
estão entre as
principais causas.

antibióticos
combater a resistência
Se queremos continuar a conhecer o sucesso contra as infeções,
temos – doentes e profissionais de saúde – de fazer um uso rigoroso dos antibióticos.
Porque as bactérias estão a recuperar terreno nesta luta de vida ou morte

Inês Lourinho

B
actérias. Não podemos viver com elas
nem sem elas. Graças aos primeiros
seres que surgiram no Planeta,
há biliões de anos, os níveis de dióxido
de carbono e outros gases nocivos na
atmosfera diminuíram, dando lugar ao
oxigénio, condição inegociável da vida.
Entretanto, as bactérias colonizaram
os mais variados tipos de habitats,
terrestres ou aquáticos, mesmo onde
não há oxigénio ou as temperaturas
são elevadas. Colonizaram até os seres
vivos, incluindo o organismo humano,
onde são imprescindíveis em diversas
funções. A digestão é só uma delas.
Também florescem à superfície da pele,
tendo a seu cargo, entre outras tarefas,
a de eliminar células mortas.
Mas algumas bactérias são igualmente
agentes patogénicos, isto é, causadores
de doenças. Antes de Alexander Fleming
ter descoberto a penicilina, um derivado
de fungos, não, não vivíamos num estado
de pureza primordial, num mundo ideal
sem “agentes químicos perniciosos”, a
onde é urgente regressar. Qualquer ferida
infetada ou outra situação simples poderia
ter a morte como ponto final. Qualquer
que fosse a idade. Às vezes, mesmo à
nascença. A esperança média de vida era
reduzida, a mortalidade infantil reclamava
grande percentagem dos mais frágeis
dentre nós – os registos de óbito paroquiais
do princípio do século xx são leitura
dura, mas definitivamente esclarecedora.
Por isso, sim, em conjunto com as vacinas
e o saneamento básico, os antibióticos são
um passo em frente civilizacional, que nos
permite viver mais e melhor.
Mas bactérias não são vírus, ou seja,
agentes infecciosos que necessitam
de se instalar noutras células para se
reproduzirem. Os vírus não respondem
aos antibióticos. E, quando estes fármacos
são usados no combate aos vírus ou
noutras situações desnecessárias (ver
ilustração ao lado), o que, segundo os
Os antibióticos
são eficazes
contra bactérias,
e não vírus
dados disponíveis, ocorre em um terço a
metade das situações, estão reunidas as
condições para um problema de saúde
pública grave: a resistência das bactérias.
O cenário agrava-se porque os antibióticos
também são usados para tratar animais
de consumo humano. Habituadas aos
ambientes mais hostis, as bactérias têm
revelado uma extraordinária capacidade
de adaptação, conseguindo operar
mutações que evitam ou contrariam a ação
dos antibióticos, incluindo os de largo
espetro. São, então, necessários fármacos
cada vez mais eficazes para exterminá-las.
As doenças tornam-se mais difíceis de
curar, pois o desenvolvimento de novos
fármacos é mais lento do que o processo
de mutação das bactérias. Não restando
alternativas a que as bactérias sejam
sensíveis, estas tornam-se “superbactérias”.
A fim de evitar o regresso a esse passado
mitificado de “pureza”, a Organização
Mundial de Saúde e a União Europeia
têm procurado soluções, sublinhando
a importância de uma prescrição de
antibióticos rigorosa, tanto a animais como
humanos. E apelam ainda ao abandono
da automedicação pelos doentes. >

12 testesaúde 137
Estamos a criar superbactérias: seis casos comuns
OTITE MÉDIA AGUDA
Afeta sobretudo crianças até 2 anos e deriva de inflamação,
por bactérias ou vírus, na membrana do tímpano. Choro,
irritabilidade, puxões na orelha, perda de apetite, vómitos,
diarreia e perturbações do sono, devido a dor, secreções e,
por vezes, febre, são os sintomas. Casos mais graves incluem
tonturas, perda auditiva ou meningite.
O QUE FAZER
As crianças até aos 6 meses têm sempre de ser observadas
pelo médico. Também pode contactar o serviço SNS 24
(808 24 24 24) para saber como proceder. Entre os 6 meses
e os 2 anos, se a febre não exceder 39ºC, é possível controlar
a temperatura e a dor, e esperar 48 horas. Apenas se os
sintomas persistirem os pais deverão procurar o médico,
para observação e eventual prescrição de antibióticos.
FEBRE ELEVADA
A febre é o aumento da temperatura
corporal, no geral, devido a uma
infeção. Mas o propósito desta
defesa do organismo ainda não é
inteiramente claro. Porém, se não
ultrapassar 41 a 42ºC, um limiar muito
raro, não provoca danos cerebrais.
O QUE FAZER
Em crianças saudáveis, a maioria
dos casos resulta de doenças
virais benignas. Os pais devem
preocupar-se mais com outros
sintomas e reportá-los ao médico.
Se a criança tiver mais de 2 anos,
podem esperar 24 a 48 horas até
recorrerem ao profissional de saúde.
Os antipiréticos, para baixar a febre
e eliminar a dor, são doseados
consoante o peso da criança.
E, tanto em crianças como adultos,
só o médico pode decidir a toma
de antibióticos para tratar a doença
subjacente, nunca para a febre.
SINUSITE AGUDA
Inflamação da mucosa dos seios paranasais, é considerada
aguda se durar até quatro semanas. Em regra, tem origem
viral, mas também pode ser bacteriana. Os sintomas incluem
congestão e muco nasal, dor nos maxilares superiores ou na face,
febre, cansaço, tosse, pressão nos ouvidos e dor de cabeça.
O QUE FAZER
É uma das doenças para as quais os médicos mais prescrevem
antibióticos, mesmo quando a origem é viral e estes não fazem
sentido. Uma sinusite viral, no geral, não é grave e controla-se
com analgésicos, antipiréticos, anti-histamínicos, soro
fisiológico e/ou descongestionantes nasais, se necessário.
TOSSE
No geral, resulta de uma infeção do trato respiratório
com origem viral (constipação, gripe, sinusite ou bronquite),
que dispensa antibióticos e se cura numa ou duas semanas.
Mas também pode indiciar uma situação mais grave. E, apesar
de ter função benigna (expulsar agentes irritantes das vias
respiratórias), pode ser cansativa e dolorosa, e afetar o dia-a-dia.
O QUE FAZER
Se for acompanhada de febre, mal-estar geral e dificuldade
respiratória ou se durar mais de três semanas, podem ser
necessários antibióticos: consulte o médico. Outros sinais
também não devem ser subestimados, pois podem denunciar
problemas mais graves. É o caso de falta de ar, tosse durante
ou logo após uma refeição ou que piore de dia para dia, dor
no peito, perda de sangue pela boca, diminuição de peso,
febre prolongada ou cansaço geral.
GRIPE
Doença respiratória contagiosa
causada pelos vírus influenza.
Febre, tosse, dor de garganta, nariz
obstruído ou com secreções, dores
musculares, dor de cabeça ou fadiga
e, por vezes, vómitos ou diarreia
são os sintomas. Alguns sinais são
mais preocupantes: febre alta e
persistente, dificuldade em respirar,
convulsões, rigidez no pescoço,
sensibilidade à luz, arritmia, etc.
O QUE FAZER
Quem contacta com o doente deve
lavar as mãos, desinfetar objetos
e superfícies ou usar máscara ou
cobrir a boca. O tratamento faz-se
com paracetamol, para controlar a
febre e uma dor ligeira a moderada.
Beber líquidos, para ajudar a
expulsar secreções, é outra medida.
Os antibióticos não são solução.
DOR DE GARGANTA
Também designada por faringite aguda, é sobretudo causada
por vírus e manifesta-se, entre outros, através de dor que piora
ao engolir, inchaço dos gânglios, febre, dor de cabeça, tosse,
congestão nasal, conjuntivite e cansaço.
O QUE FAZER
Como, por vezes, os sintomas da faringite viral são comuns
aos da variante originada por bactérias, a avaliação
médica é muito importante, para que não sejam prescritos
antibióticos sem utilidade e que podem agravar o problema
das resistências. O médico pode fazer uma análise rápida
(zaragatoa) para determinar a origem.
137 testesaúde 13
 Antibióticos
USO
INAPROPRIADO
Os dados
disponíveis indicam
que acontece em
um terço a metade
das situações.

>
O que não as mata
torna-as mais fortes
Em 2013, foi criado entre nós o Programa
de Prevenção e Controlo de Infeções e
de Resistências aos Antimicrobianos, que,
no seu relatório do ano passado, apontou
êxitos e preocupações. Se a resistência
aos antibióticos da maioria das bactérias
estudadas está a descer de forma
significativa, outras há, como a Klebsiella
pneumoniae, responsável, por exemplo,
pelo aparecimento de pneumonia
e infeções urinárias e hospitalares,
que se tornaram mais agressivas.
Portanto, esta é uma guerra longe de estar
ganha. E a tática passa em grande medida
pela prevenção. A higiene das mãos e
o uso de luvas, tanto pelos profissionais
de saúde como por quem cuida de
doentes, ajuda a reduzir a propagação das
bactérias. A própria Organização Mundial
de Saúde desenvolveu uma campanha
para promover a higiene das mãos,
a que Portugal aderiu em 2008.
A vigilância dos estabelecimentos de
saúde quanto à presença de bactérias
nocivas e a obtenção de dados dos
laboratórios, que o nosso país também
tem em marcha, inscrevem-se ainda
no âmbito das medidas de prevenção.
Mas, como o consumo inadequado é
um dos principais fatores que explicam
o aumento das resistências, não admira
que, na estratégia global de prevenção,
esteja também contemplada a redução
do uso, conseguida com uma prescrição
apenas nos casos que o justifiquem e
com o fim da venda sem receita pelas
farmácias e da automedicação pelos
doentes. E os dados mostram que, de
facto, desde 2017 se assiste a uma redução
no consumo de antibióticos em Portugal.
Mudar mentalidades
Um estudo recente publicado no Journal
of the American Medical Association
mostra que, apesar de a maioria das
comuns infeções respiratórias ter origem
viral, muitos doentes esperam receber
Ciclo da resistência
As bactérias e outros microrganismos patogénicos aprendem a evitar
ou a contrariar a ação dos antibióticos. E o problema tem-se agravado devido
à rápida generalização destes medicamentos face ao ritmo mais lento
a que são desenvolvidas novas substâncias mais eficazes.
1. O João toma 2. Um dia, o João adoece
antibióticos e dá entrada num hospital
para tratar um problema ou noutra unidade de
de saúde e desenvolve saúde, onde é medicado,
bactérias resistentes, desenvolvendo mais
que se alojam nos seus bactérias resistentes
intestinos
4. O João e os outros 3. As bactérias
pacientes regressam resistentes
a casa já curados. Mas no organismo
as bactérias resistentes do João propagam-se
permanecem nos respetivos a outros doentes
organismos. Nas suas e aos profissionais
relações diárias, acabam por de saúde
disseminá-las na comunidade.
Ao adoecerem, vão necessitar
de antibióticos, e o ciclo continua
a prescrição de um antibiótico e que se existe o consenso de que o diagnóstico
sentem mais confortáveis quando tal precipitado, a prescrição sem necessidade,
acontece. Por outro lado, em situações a dosagem e o tempo de toma prolongados,
em que os sintomas de doenças virais e o uso massivo de antibióticos de largo
se confundem com os de complicações espetro em hospitais, associados ao
bacterianas, os médicos podem ser comportamento dos doentes, potenciam
tentados a receitar antibióticos. Pelo sim, as resistências. Mas há esperança.
pelo não. É o caso da sinusite aguda As campanhas junto de consumidores e
e da faringite (ver página 13). médicos começam a dar frutos. Sabemos,
Do lado dos doentes, parece, pois, existir por isso, que todos podemos contribuir.
uma pressão sobre os médicos e, do lado E que estamos no caminho certo.
destes, nem sempre o diagnóstico é o mais
preciso. De facto, na comunidade científica, Dossiê técnico Anabela Jorge

14 testesaúde 137
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 Frutas
e legumes
5 DOSES
DIÁRIAS
Integram uma
alimentação
marketing
saudável. Na
época própria,
são mais nutritivos.
A aura quase sobrenatural colada a certos alimentos exóticos e apelidados de
“superalimentos” não coincide com a realidade. Nutritivos e saborosos, sem dúvida, mas
não superiores a outros com qualidades idênticas. E, nalguns casos, bem mais em conta.
Sabia que, em vitamina C, 30 gramas de bagas góji equivalem a um quarto de laranja?
E
levados a deuses no reino alimentar,
os “superalimentos” acumulam
atributos e poderes nutritivos
especiais, segundo a sabedoria propagada
por especialistas instantâneos nas
redes sociais, na internet em geral e
nalgumas publicações que se esmeram
em títulos apelativos. Elaboram-se
listas dos melhores “superalimentos”
com intermináveis benefícios e
todos, ou quase todos, os nutrientes
necessários a uma saúde de ferro. São os
antioxidantes, as vitaminas e os minerais
que os erguem ao Olimpo alimentar.
Não significa que a generalidade não
seja saudável e recomendável ou que
não contribua para a diversificação
alimentar. Mas não são a solução
milagrosa publicitada, nem justificam
uma ingestão intensiva. O preço é para
quem pode. E há outros alimentos mais
baratos que reúnem benefícios idênticos
e merecedores de iguais louvores.
Quando o marketing comanda
Ciência, medicina e lei concordam:
o conceito de “superalimento” não
tem definição. A designação é uma
obra de puro marketing, que tem mais
de lenda do que de realidade. E, à
medida que os anos passam, os nomes
16 testesaúde 137
súper
Deonilde Lourenço
debaixo do chapéu das qualidades
extraordinárias vão sofrendo alterações.
O conhecimento científico avança e a
situação altera-se. O óleo de coco, por
exemplo, perdeu o epíteto quando se
verificou que o elevado teor em gordura
saturada aconselhava a moderação.
E a popularidade nem sempre
beneficia os povos nativos. A procura
da quinoa, por exemplo, fez subir o
preço, dificultando o acesso daqueles
a um alimento de base. A riqueza
nutricional não
Chamar os alimentos pelo nome
O que é que os “superalimentos” têm?
Uma riqueza nutricional admirável.
é, por si só, um
Porém, esta, só por si, não funciona escudo protetor
contra todos
como um escudo contra todos os males,
ao contrário do que a publicidade tem
levado a acreditar. Selecionámos oito
alimentos em voga, desmistificamos as
os males
propriedades nutritivas e os efeitos na
saúde com base na prova científica, e
damos sugestões equivalentes. Mais do
que procurar soluções milagrosas,
o mais razoável é uma dieta variada,
em que se incluam cinco porções diárias
de frutas e de legumes.
Dossiê técnico Dulce Ricardo
e Susana Costa Nunes
vitamina E
1/2
abacate vitamina C
=
2 tomates magnésio 1 colher
médios de chá de
1 colher de gengibre
sobremesa de =
cacau em pó 20 gotas de
= sumo de limão
1 banana
pequena

2
Cacau
Alimento calórico
(228 kcal/100 g),

3
com elevado teor
de gordura, e fonte
de fibra. Outros
nutrientes:

1
vitaminas B2 e B3,
e minerais como
o ferro, o zinco, Gengibre
o magnésio e o
fósforo. Contém Raiz utilizada na China há milhares
ainda cafeína de anos e, na Idade Média, como
Abacate e teobromina, especiaria. Dada a pequena quantidade
estimulantes do em que é ingerido, o gengibre tem pouco
Rico em fibras e minerais, como o potássio, o sistema nervoso interesse nutricional. Mas destaca-se
magnésio, o cobre e o zinco, o abacate tem um central. O consumo o teor nas vitaminas C e B6. A Agência
bom aporte de vitaminas do grupo B e vitamina E, excessivo, para Europeia do Medicamento aprovou
entre outros componentes benéficos. Possui fibra tirar partido dos a sua utilização nos tratamentos para
solúvel e insolúvel, tem efeito saciante, previne a supostos efeitos prevenir os enjoos durante a gravidez
prisão de ventre e ajuda a controlar a diabetes. Mas é benéficos na saúde ou durante as viagens, mas é o único
também uma das frutas mais calóricas e com maior – por exemplo, efeito comprovado. Mais estudos são
teor de gordura. Os carotenoides, como a zeaxantina, que os flavonoides necessários para se poder afirmar que
ajudam a manter os olhos em bom estado, mas estão ajudam a o gengibre tem poderes antibacterianos,
tão presentes no abacate como em grande parte prevenir doenças favorece a circulação sanguínea, diminui
das frutas. O consumo deve ser limitado ou até evitado cardiovasculares a taxa de colesterol ou que ajuda a
por pessoas com insuficiência renal, por conter –, é duvidoso. prevenir constipações ou a sinusite.
elevado teor de potássio. Pode ainda provocar reações Não há estudos É mesmo desaconselhado a quem tem
alérgicas em indivíduos com alergia ao látex e, por conclusivos sobre problemas digestivos.
conter gorduras, deve ser bem doseado em dietas esta ligação.
hipocalóricas (em que há uma redução drástica Preço por quilo
na ingestão de calorias). Preço por quilo € 3,19 a € 8,30 fresco
€ 4 a € 24,90 € 15,90 a € 17,50 em cubos
Preço por quilo € 3,99 a € 7,99 em pó € 22,40 a € 95,50 em pó

137 testesaúde 17
 ferro vitamina C
5g 30 g
de espirulina de bagas de góji
= =
1,5 colher ¼
de sopa de de laranja
lentilhas

vitamina A
ómega 3
15 g
de linhaça moída
=
5
Espirulina
5g
de açaí
=
1 beterraba 7
pequena cozida
12 Alga microscópica
das águas doces
Bagas de goji
Secas, em sumo,
nozes e quentes do em pó ou em
Hemisfério Sul. cápsulas, chegam
Com grande valor à Europa vindas
nutritivo devido ao sobretudo da
teor em proteínas, China. Contêm
vitaminas, minerais vitaminas e
e pigmentos antioxidantes, mas
que agem como não se trata de um
antioxidantes. Mas medicamento.

4
os efeitos positivos É um alimento,

6
desses nutrientes não um elixir da
- na obesidade, juventude eterna,
diabetes, na ao contrário do
anemia e em que alegam os
úlceras não estão seus defensores.
Sementes de linhaça cientificamente Não há nenhuma
provados - tornam- Açaí prova científica
Em óleo ou em grão, para misturar -se insignificantes desses efeitos para
em saladas, pão e iogurtes: a fim de que face aos 5 g de Gorduras, proteínas, vitamina A e minerais: a saúde. Por isso,
o organismo beneficie das sementes uma porção. Há as bagas de açaí são riquíssimas. A gordura é não vale a pena
de linhaça, estas devem ser trituradas. quem tenha dores comparável à do azeite e do abacate. Essencial pagar um preço
O pó deve ser conservado no frigorífico, de estômago, na dieta dos indígenas da Amazónia, está mais elevado.
ao abrigo da luz, e consumido numa sonolência e associado ao emagrecimento e à melhoria do Por exemplo, um
semana, para manter a qualidade dos comichão devido tónus muscular e favorece a digestão. Contém quarto de laranja
ómega 3. Estas sementes, com lugar numa à ingestão de compostos fitoquímicos, como as antocianinas, contém a mesma
dieta alimentar equilibrada, são também espirulina. Contém às quais se atribuem propriedades quantidade de
ricas em fibras, cálcio e ferro, e têm a ainda fenilamina, antioxidantes. Faltam, porém, investigações vitamina C, e um
vantagem de não serem muito caras. nociva para que provem os efeitos referidos. Além disso, a quarto de copo
Mas podem ser substituídas por nozes quem sofre de dose de 5 g, referida nalguns rótulos, fornece de leite, ou a
e outros frutos secos. Não é recomendado fenilcetonuria, teores muito baixos de nutrientes, tornando-se, alternativa vegetal,
consumir semente de linhaça inteira alteração congénita assim, pouco interessante do ponto de vista inclui o teor em
em caso de diverticulose (divertículos do metabolismo. nutricional. cálcio de 30 g de
no cólon). bagas.
Preço por quilo Preço por quilo
Preço por quilo € 49,90 a € 76 € 109,90 a € 224,14 em pó Preço por quilo
€ 3,56 a € 7,45 em pó € 6,99 a € 14,40 em polpa € 12,90 a € 61,20

18 testesaúde 137
 Entrevista

"Maioria sem
ferro
15 g
base científica"
João Júlio Cerqueira, médico, refuta a maioria das
de sementes propriedades terapêuticas atribuídas aos chamados
“superalimentos”.
de chia
= De onde surgiu o conceito de "superalimento"?
19 Existe ou trata-se de puro marketing?
Não é fácil precisar a origem. Existem referências aos poderes
avelãs terapêuticos de alguns alimentos que datam de há milhares
de anos. O termo superalimento tem origem no início do
século xx, durante a I Guerra Mundial. Era usado como parte
de uma estratégia de marketing alimentar. Hoje, a designação
“superalimento” é apenas uma buzzword… não tem qualquer
significado intrínseco valorizável. Nem sequer há uma definição
amplamente aceite do que é um “superalimento”. O termo é
considerado apenas um instrumento de marketing. Na ciência
raramente se utiliza e, quando tal se faz, serve só para desmontar
a desinformação que circula na comunicação e nas redes sociais.

As notícias que propagam e exacerbam

os efeitos desses alimentos são falsas?
Sim. Podemos designar como notícias falsas e marketing
enganador. Os “superalimentos” são vendidos como tendo
diferentes tipos de propriedades terapêuticas, a maioria das quais
sem sustentação científica. Alguns ajudam a emagrecer, outros
têm propriedades anticancerígenas, combatem a demência

8
ou “desintoxicam o organismo”, por exemplo. É um trabalho
sinérgico entre má ciência
(ou má interpretação da
evidência existente) e técnicas
de marketing poderosas.
Entretanto, a investigação
Sementes de chia científica real sobre estes
“superalimentos” demora
Planta herbácea proveniente do México, as respetivas anos a chegar ao terreno.
sementes consomem-se sob a forma de pudim, em
preparações líquidas, como os smoothies, ou em pó, para
adicionar a saladas, cereais e iogurtes. O conteúdo em fibra Não perca a entrevista
é elevadíssimo. Recomendamos um consumo moderado. completa na próxima edição
Isto porque fibra em excesso é contraproducente: reduz da Teste Saúde.
a absorção de nutrientes, favorece a diarreia, irrita o
cólon e provoca distensão abdominal e gases. Por dia, o
máximo recomendado são 5 g, sob pena de as sementes
incharem e obstruírem o trato digestivo. São ainda ricas
em ómega 3 e 6, fósforo, magnésio, cálcio, antioxidantes,
vitaminas e minerais. Estão associadas a dietas, pelo seu
poder saciante. Pode adicionar estas sementes a uma
alimentação já equilibrada, ou optar por numerosas
alternativas: nozes, para o ómega 3, iogurte ou leite, para João Júlio
o cálcio, e carnes vermelhas ou leguminosas, para o ferro. Cerqueira
médico e autor
Preço por quilo
4See/João Silva

do blogue Scimed -
€ 10 a € 26,32 Medicina Baseada
na Evidência
137 testesaúde 19
 Panelas s
antiaderentes
NOCIVAS
COM O TEMPO
Prefira os tachos
tradicionais de

prevenção
fundo de cerâmica,
mais resistentes
ao uso.

há química
Se lhe dissermos “ftalato”, “retardador de chama” ou “composto perfluorado”, fica na me
todos os dias, e que estão em todo o lado, dos sofás aos computadores, é melho
Ricardo Nabais e

A QUÍMICA
química está em toda a parte.
Nós próprios somos um conjunto
de substâncias químicas e suas
reações, do pensamento à digestão.
Mas há substâncias que são tóxicas
e que fazem parte dos objetos mais
simples que usamos no dia-a-dia.
Ao absorvê-las, corremos riscos.
Podemos inalá-las e ingeri-las sem nos
darmos conta. As consequências vão
das erupções cutâneas à falta de ar,
passando por dores de cabeça. Quanto
maior o grau de exposição contínua
a estes compostos químicos, maior o
risco de desenvolvermos distúrbios
hormonais – com consequências para
a saúde reprodutiva, por exemplo – e
até algumas formas de cancro. Se não
podemos evitá-las, juntamo-nos
a elas, ou melhor, adaptamo-nos,
tentando manter uma margem
de segurança.
Sem chamas
Os retardadores de chama, por exemplo,
estão presentes em objetos domésticos
tão diferentes quanto cortinados, sofás
ou computadores (e noutros aparelhos
elétricos). Têm uma função básica
de segurança: como o nome indica,
impedem que estes objetos se inflamem
quando sobreaquecem, ou que resistam a
um incêndio doméstico. Mas a exposição
prolongada a um tal composto pode
enfraquecer o sistema imunitário,
desestabilizar o sistema hormonal
e pôr em risco a saúde reprodutiva.
DE SOFÁ
Está sentadinho no sofá a
ver televisão. A sala está
limpinha. Mas o que não vê é
a quantidade de retardadores
de chama bromados (BFR) incorporados em
assentos, tapetes, cortinas e eletrodomésticos…
E ainda o formaldeído, presente na cola dos
móveis de madeira aglomerada. Não tema:
areje com frequência esta divisão, lave tapetes,
cortinados, sofás, e mantenha os eletrodomésticos
e aparelhos multimédia livres do pó, usando
um aspirador com filtro HEPA (High Efficiency
Particulate Air). Prefira os produtos com o rótulo
ecológico da União Europeia.
ROUPA NOVA
Prefira roupas, lençóis
e toalhas de banho em
algodão orgânico ou linho.
Lave sempre a roupa nova
antes de a usar. Se tiver
essa opção, escolha têxteis
certificados com o Rótulo Ecológico Europeu
ou Oko-tex. Evite tecidos com tratamentos
antinódoa, antitranspirantes ou antirrugas,
pois, em geral, contêm compostos perfluorados
ou mesmo formaldeído.
STOP
PLÁSTICO
Os plásticos são
depósitos de
substâncias químicas
nocivas. Por isso,
são preferíveis os pisos de madeira,
pedra natural ou cerâmica. Se não
puder evitar a carpete, é melhor a de
fibra natural, para prevenir o contacto
com ftalatos e formaldeído.
E, mais uma vez, tenha em conta a ajuda
de um bom aspirador com filtro HEPA,
pois retém melhor as partículas de pequena
dimensão.
ANTI QUÊ?
É sempre bom ter aquela
panela ou frigideira
antiaderente... Mas,
quando envelhece e
fica danificada, pode
libertar partículas
nocivas. Os tradicionais tachos de fundo
de cerâmica, panelas em ferro fundido
ou aço inoxidável ou ainda cobre com
fundo de aço são preferíveis. Guarde
os restos, de preferência, em loiças de
vidro ou cerâmica. Se optar pelo plástico,
assegure-se de que comprou um modelo
sem bisfenol A (confira pelo rótulo).

20 testesaúde 137
s

o em casa

a entre nós
esma. Mas, se explicarmos que são substâncias nocivas com as quais temos contacto
or prestar atenção. Aqui ficam dicas para reduzir ao máximo a sua exposição
e Filipa Rendo

WC LIMPO PINTURAS Os retardadores até estão associados ao

No banho ou em frente
ao espelho, deve ter
à mão produtos com
a menor quantidade
de químicos possível.
Confira no rótulo os
“ingredientes” do champô, gel de banho,
creme hidratante, entre outros cheirosos
toques de cosmética. E verifique se tem
peróxido de hidrogénio no rótulo da
pasta de dentes. Lenços ou toalhitas
humedecidas também são de evitar, já que
podem causar irritação à pele. Evite, ainda,
os purificadores do ar. Substitua-os pela
clássica janela aberta, para o arejamento.
O mesmo é válido para o resto da casa.
CUIDADO,
CRIANÇAS
O seu filho esqueceu-
-se do peluche no meio
da sala, e enquanto
pai olha, embevecido,
para estes sinais da
primeira infância. Tenha, porém, algumas
cautelas com os brinquedos: evite os de
enchimento de poliuretano, pois devem
conter retardadores de chama, e prefira
os de algodão, poliéster e lã. Os brinquedos
de materiais de origem natural são
os melhores.
SEGURAS
A tinta para pintar
as paredes lá de
casa pode conter
compostos voláteis
prejudiciais. Também aqui deve optar por
tintas certificadas com o Rótulo Ecológico
Europeu, que têm menor quantidade de
compostos químicos prejudiciais na sua
fabricação. E os pisos? Se forem novos,
ou tiverem sido envernizados há pouco
tempo, a sugestão é a que se aplica
a outras situações: areje até o cheiro
passar.
INSETICIDAS
AO LONGE
Os inseticidas não são
saudáveis, como, de resto,
está escrito por todo o
lado nos rótulos. E com
razão. São inúmeras as substâncias nocivas
que contêm. Podemos tentar expulsar insetos
usando óleos essenciais naturais, e até alho
e pimenta. Se usar inseticidas elétricos, saia
da divisão onde estão a atuar, faça uma
ventilação rápida e só depois regresse ao
local. Não use sprays com crianças ou animais
de estimação por perto.
desenvolvimento de diabetes e de cancro.
Outra família de substâncias, os
ftalatos, está presente numa série de
objetos que nos são triviais hoje, até
em brinquedos. Servem para tornar
o plástico mais maleável e resistente.
Porém, existem contrapartidas
semelhantes ao nível da saúde, se
estivermos em contacto de forma
continuada com eles. O mesmo
acontece com a exposição a químicos
impermeabilizantes, como os compostos
perfluorados.
Crianças em risco
Já mencionámos os ftalatos. Em testes
que efetuámos, aparecem em 10%
dos brinquedos das amostras estudadas.
Isto significa o que já percebeu: porque
exploram o mundo através da boca
e do contacto manual, as crianças são
um grupo de forte risco.
Mas é importante não stressar.
Os benefícios destes químicos, que
tornam, ao mesmo tempo, os objetos
do nosso quotidiano mais seguros,
são também muitos. E é inevitável
convivermos com eles nos tempos
que correm. Por isso, deixamos
alguns conselhos para, pelo menos,
conseguirmos alguma prevenção
dos males que nos podem trazer.
E são até sugestões simples, como
o arejamento da casa, por exemplo...
Dossiê técnico Sílvia Menezes

137 testesaúde 21
 Perigo
na ingestão
MOSH E MOAH
São componentes
de óleos minerais,
como a cera
microcristalina,
que podem afetar

batons brinc
saúde.

Analisámos 19 “batons”
para criança. Em 13, detetámos
componentes de óleos minerais
SAR
em quantidades potencialmente
prejudicais para a saúde
U
Fátima Ramos

Produtos sem
óleos minerais
São seguros para crianças
a partir de tenra idade, uma
vez que não contêm óleos
minerais. Contudo, o da

B
rinquedos, batons de faz-de-conta
ou hidratantes labiais para crianças?
A distinção nem sempre é fácil.
Seja qual for a categoria teórica em que se
insiram, há a real possibilidade de os mais
pequenos aplicarem os produtos em si
próprios, morderem e ingerirem uma
quantidade considerável ou, mesmo, de
os submeterem a uma verdadeira prova
de degustação, até porque alguns exalam
aromas bastante apetitosos. Por isso, a
composição deste género de produtos
tem de ser controlada com rigor, devendo
excluir substâncias tóxicas ou suspeitas
de serem prejudiciais para a saúde.
A legislação aplicável a uns e outros -
regulamentação europeia dos cosméticos
e diretiva para a segurança dos
brinquedos - visam garantir a qualidade
e segurança dos produtos. A aplicação
de uma não exclui o respeito pela outra:
por exemplo, a maquilhagem para
aplicar em bonecas deve obedecer, em
primeira linha, à diretiva relativa aos
brinquedos, mas esta legislação define
que a maquilhagem “de brincar” também
é obrigada a respeitar a regulamentação
dos cosméticos, tanto ao nível da
Disney inclui fragrâncias
alergénicas, pelo que
não deve ser usado por
crianças com tendência
para desenvolverem alergias.
ItsImagical Natural Cosmetic Disney Princess Flavored Lip
Trio (Imaginarium).Testámos Balm Set (lojas Disney)
o bálsamo labial e o gloss
Seguro a partir
dos 6 anos
Estes batons incluem
MOSH, substância que pode
acumular-se no organismo e
causar problemas de saúde.
Contudo, os nossos cálculos
estimam que a quantidade
presente é segura para
Petit Sophie crianças a partir dos 6 anos
Batom Fanta Strawberry Coca-Cola
(O Boticário) Bálsamo Labial (Claire’s) Bálsamo Labial (Claire’s) (ou desde os 22 quilos).
>

22 testesaúde 137
car com perigo?
NÃ
O
US
AR

PS Love Your Claire’s Lip Bubble (H&M) Tonymoly Bella Strawberry

Lips Baunilha Balm Strawberry Panda´s Dream (H&M)
(Primark) (Sephora)

Disney Frozen
Conjunto de
Bálsamo para Labellino
Lábios (H&M) Raspberry Miraculous Bálsamo Unicorn Bálsamo The Body Shop
& Red Apple para os Lábios (Claire’s) Labial Cotton Candy Strawberry,
(Accessorize) Pomegranate
& Aloe Vera

Produtos com MOSH acima

dos limites de segurança
A associação europeia de fabricantes de
Hasbro MLP Disney Alice Disney Princess Bálsamo cosméticos, Cosmetics Europe, indica que os
Conjunto de in Wonderland para os Lábios (Claire’s)
Bálsamo para Baton (Primark)
produtos labiais, para crianças e adultos, não
Lábios (H&M) devem incluir mais de 5% de MOSH - no nosso
estudo, considerámos 10%, devido à margem
de erro do método.
10 produtos com MOAH Os estudos mais recentes indicam que apenas
A utilização de óleos minerais, apesar de permitida nos cosméticos, algumas destas substâncias, as que são
impõe alguma cautela quando há a possibilidade de ingestão dos produtos. constituídas por 16 a 35 carbonos (C16 a C35),
Estes óleos são substâncias derivadas do petróleo, que podem incluir podem acumular-se em órgãos, como o fígado,
hidrocarbonetos saturados de óleos minerais (MOSH) e hidrocarbonetos o baço e os gânglios linfáticos, e favorecer o
Fotografia João Ribeiro

aromáticos de óleos minerais (MOAH). Os estudos não estabelecem limites aparecimento de microganulomas (nódulos).
de segurança para os últimos: a simples presença destas substâncias, Três “batons” (em cima) não incluem MOAH,
que podem ser cancerígenas e causar mutações genéticas, torna os produtos mas têm MOSH acima dos limites seguros.
desaconselhados.

137 testesaúde 23
 Óleos
minerais
FUNÇÕES NOS
COSMÉTICOS
Os óleos minerais
têm grande poder
hidratante, regulam
a viscosidade e dão
plasticidade.
>
rotulagem, como da composição.
Em 2017, testámos 20 hidratantes
labiais para adultos, vulgo “batons do
cieiro”, e descobrimos que 14 incluíam
componentes potencialmente perigosos,
conhecidos pelas siglas MOSH, POSH
e MOAH. Desta vez, quisemos saber se
os “batons” dirigidos a crianças também
apresentam risco a este nível.
Seis produtos seguros
Comprámos 19 “batons”, em lojas
de brinquedos, moda e acessórios,
supermercados e perfumarias. Sempre que
possível, optámos por produtos com design
apelativo para os mais novos.
Verificámos em laboratório a quantidade
de MOAH e MOSH ou POSH.
Estas substâncias são hidrocarbonetos,
componentes de óleos minerais, como a
parafina líquida, que derivam do petróleo.
De seguida, e com base no que se considera
uma exposição segura aos MOSH,
fizemos os cálculos para sabermos se
os produtos testados representam perigo
para crianças de 1 a 6 anos, 6 a 8 anos, e
12 anos. Usámos o peso médio para cada
intervalo de idade, ou seja, 16, 22 e 40
quilos, respetivamente. Tivemos em conta
o uso de 57 miligramas de “batom” por dia,
estimado pela Comissão Europeia.
Dos 19 produtos analisados, três não
continham óleos minerais e, como
tal, estavam isentos de MOSH, POSH
e MOAH: um “batom” e um bálsamo
da Imaginarium e os “batons” da Disney
(ver página anterior). Outros três podem
ser usados por crianças a partir dos 6 anos
24 testesaúde 137
Susana Santos
Responsável pelo estudo
"A regulamentação
dos cosméticos
deve criar limites
para a presença
de MOSH e MOAH
em produtos
labiais"
Hidratante seguro?
Os hidratantes labiais visam atenuar
a secura. Atuam como barreira protetora
contra fatores como o vento, o frio e o
sol, impedem a saída de água e selam
as fendas, defendendo o organismo
de infeções.
A título de precaução, se desconhecer
a quantidade de MOSH e MOAH
presentes nos produtos, convém evitar
os que contenham: cera microcristalina
ou microcrystalline wax; ceresin;
hydrogenated microcrystalline wax;
hydrogenated polyisobutene; ozokerite;
paraffin ou parafina; paraffinum liquidum;
petrolatum; polybutene; polyethylene;
polyisobutene; e synthetic wax.
A recomendação estende-se a “batons”
de brincar.
e/ou com 22 quilos (quanto menor o
peso, maior o risco), uma vez que não
incluem MOAH e o teor em MOSH
não representa risco.
Para efetuarmos esta avaliação,
considerámos os resultados de estudos
científicos e as recomendações de várias
entidades de referência, como a Comissão
Europeia, a Autoridade Europeia de
Segurança Alimentar (EFSA), o observatório
suíço que aprecia estas matérias e a
associação europeia de fabricantes de
cosméticos (Cosmetics Europe), uma vez
que não estão fixados limites legais.
Saúde em risco
A regulamentação europeia dos
cosméticos permite a utilização de óleos
minerais, “se se conhecerem todos os
antecedentes de refinação e se se puder
provar que a substância a partir da qual
foram produzidos não é carcinogénica”.
Nos produtos para usar na pele sem lesões,
aqueles componentes não representam
perigo, porque quase não há absorção.
Já no caso dos que se destinam aos lábios,
a situação é diferente: quando ingeridos, os
MOAH têm potencial cancerígeno e podem
causar mutações genéticas, enquanto
os MOSH são suspeitos de favorecerem
o aparecimento de microgranulomas
(nódulos) nalguns órgãos. Os POSH,
hidrocarbonetos sintéticos saturados, têm
uma estrutura idêntica à dos MOSH, pelo
que se pensa que terão os mesmos efeitos.
Já comunicámos os resultados do nosso
estudo ao Infarmed, entidade responsável
pelo conrolo dos cosméticos. O panorama
atual é um pouco melhor do que o dos
hidratantes labiais para adultos, o que
poderá dever-se a alterações na formulação
após o nosso último teste, ou a um maior
cuidado no fabrico de produtos destinados
a crianças. Seja qual for a razão, a diferença
prova que é possível melhorar a qualidade
e a segurança destes produtos, e reforça a
necessidade de eliminar os MOAH e limitar
MOSH/POSH nos cosméticos para os lábios
(incluindo os de brincar), à semelhança
do que acontece com os alimentos.
Dossiê técnico Susana Costa Nunes
e Susana Santos
 Substâncias
enganosas
FUNÇÃO
ESTÉTICA
Corantes e
intensificadores
de sabor mascaram

aditivos
matéria-prima
de má qualidade.

desconfie dos
pratos coloridos
Quanto mais coloridos e transformados, maiores serão as probabilidades de os alimentos
conterem aditivos, muitos dos quais dispensáveis ou até duvidosos para a saúde.
Saiba identificá-los no rótulo para reduzir a sua ingestão
Cécile Rodrigues e Deonilde Lourenço

A
peritivos, bebidas alcoólicas,
charcutaria, condimentos, delícias
do mar, gelados, molhos, produtos
de confeitaria, de pastelaria e padaria,
refeições preparadas, refrigerantes,
sopas desidratadas... Os alimentos ricos
em aditivos enchem as prateleiras do
supermercado. Em regra, quanto mais
colorido, transformado ou elaborado
for um alimento, maiores serão as
probabilidades de que contenha
numerosos aditivos. Por precaução,
prefira alimentos com poucos ou
nenhuns, sobretudo quando se destinam
a crianças ou indivíduos sensíveis, como
grávidas, idosos ou pessoas alérgicas a
algumas substâncias. Em suma: evite
alimentos com muitos “E” na lista de
ingredientes. Não se deixe enganar pela
publicidade. A frase “sem corantes nem
conservantes” não significa que o produto
não inclua outros aditivos. Alguns
corantes naturais são tão nocivos quanto
certos corantes sintéticos.
Muitos aditivos dispensáveis
Existem mais de 300 aditivos autorizados
na União Europeia. A legislação
contempla uma lista com todas essas
substâncias, especificando em que
géneros alimentícios podem ser usados
e fixando doses-limite. Alguns aditivos
visam conferir uma cor mais atrativa
(corantes), melhorar ou conservar o
aspeto (agentes de textura), substituir
nutrientes para reduzir o valor
calórico (edulcorantes em vez de >
 Entrevista
"Consumidores exigem
menos 'E' nos rótulos"
Ludovic Thysebaert
Camille Perrin
Responsável pela política alimentar
da Organização Europeia
dos Consumidores (BEUC)
Os aditivos só são autorizados
se não tiverem riscos?
A legislação europeia obriga os
fabricantes a mostrarem estudos que
provem que os aditivos que pretendem
usar não apresentam riscos para o
consumidor. Tais estudos são avaliados
pela Autoridade Europeia para a
Segurança dos Alimentos (EFSA).
Esta emite um parecer com base no
qual a Comissão Europeia decide se
deve autorizar as substâncias em causa,
determinando as doses e os alimentos
em que podem ser usadas. A decisão
final cabe aos Estados-membros.
Uma reavaliação sistemática dos
aditivos autorizados está em curso.
A regulamentação parece robusta,
mas, na prática, para muitos aditivos,
os dados de toxicidade são limitados
ou até insuficientes para a EFSA emitir
um parecer. Estimar a exposição do
consumidor a determinado aditivo
é uma tarefa árdua. Os fabricantes
relatam só um pequeno número
26 testesaúde 137
de produtos nos quais um aditivo é
permitido, subestimando, muitas vezes,
as doses usadas. Mas, mesmo quando
a EFSA assinala a falta de dados no seu
parecer, só raramente se decide proibir
o uso do aditivo. O sistema de avaliação
tem de ser aperfeiçoado. A aplicação
do princípio “sem dados, sem mercado”
é claramente necessária.
A lei europeia preconiza uma
necessidade tecnológica para
o uso dos aditivos. Os corantes
não poderiam ser substituídos
por outros ingredientes?
Os consumidores exigem cada vez
menos alimentos processados,
com menos “E” no rótulo. Alguns
aditivos são usados para compensar
ingredientes de fraca qualidade.
Os corantes são cada vez mais
substituídos por extratos vegetais
concentrados, com a mesma função.
Esses não aparecem como “aditivos”
na lista de ingredientes. E não implicam
mais fruta no iogurte. Outro exemplo é
o dos nitritos no fiambre. Suspeitos de
aumentarem o risco de cancro, alguns
fabricantes têm procurado substituí-los
por plantas ricas em nitratos. Contudo,
sob o efeito de enzimas adicionadas,
estes acabam por ser transformados
em nitritos, sem que a sua presença
seja indicada no rótulo. Devemos ser
cautelosos com menções do tipo “sem
conservantes”, como nos produtos de
charcutaria, e ler a lista de ingredientes.
Alguns corantes podem causar
hiperatividade nas crianças.
Não deveriam ser proibidos?
Em 2007, um estudo da Universidade
de Southampton associou seis
corantes (E 102, E 104, E 110, E 122,
E 124 e E 129) a hiperatividade em
crianças. Desde 2010, os produtos que
os incluem devem alertar no rótulo
que “podem causar efeitos negativos
na atividade e atenção das crianças”.
Mais do que mensagens dissuasivas, o
BEUC exige a proibição destes corantes.
Vários fabricantes e distribuidores já
os removeram dos seus produtos.
Os controlos ao nível europeu
são suficientes?
Cabe aos Estados-membros
aplicarem as normas europeias em
matéria de aditivos e efetuarem os
controlos necessários para que sejam
respeitadas. Mas estes são insuficientes,
nomeadamente por falta de recursos.
Há também zonas cinzentas na
legislação, das quais os fabricantes
tiram partido. Isto é sobretudo verdade
nos aditivos autorizados para a carne
e os produtos derivados. Em 2015, o
BEUC publicou um relatório exigindo
mais controlo e clareza nos rótulos.
Os consumidores exigem mais
transparência sobre os estudos
de segurança dos alimentos.
O que tem feito o BEUC?
A Comissão Europeia propôs, em abril
de 2018, divulgar os estudos fornecidos
pela indústria à EFSA, para comprovar
a segurança das substâncias (aditivos,
pesticidas, etc.) que pretendem
vender. Um projeto de lei está a ser
analisado pelo Parlamento Europeu
e pelo Conselho. O BEUC pede mais
transparência. Para se ter confiança
na avaliação da União Europeia sobre
segurança alimentar, é essencial que
o público tenha acesso aos estudos.
O debate promete ser difícil, sobretudo
quanto ao que terá de ser publicado e
quando (algumas informações sensíveis
serão confidenciais), mas esperamos
um acordo antes das eleições europeias
deste ano: seria um sinal positivo saber
que a UE responde às preocupações
sobre segurança alimentar.

>
açúcar) ou melhorar e reforçar o sabor
(intensificadores). Outros são utilizados
para aumentar o tempo de conservação
(antioxidantes ou conservantes). Alguns
são úteis, como os nitritos, que atuam
contra bactérias que podem produzir
toxinas mortais, como o Clostridium
botulinum. Outros ainda são aceitáveis
se usados com moderação, desde que
não exista alternativa viável para atingir
o mesmo fim. Mas muitos aditivos
autorizados são inaceitáveis, por serem
dispensáveis e quase sempre enganosos.
Os corantes e os intensificadores de sabor
têm apenas funções estéticas e gustativas.
Mascaram, muitas vezes, matérias-primas
de má qualidade, induzindo em erro.
Outro exemplo: o uso de fosfatos nos
produtos de carne ou peixe. Aumentam
a retenção de água, logo, o volume,
podendo dilatar a margem de lucro
da indústria. O consumidor paga mais
por menos matéria-prima.
Evitar a todo o custo
O princípio da precaução deve ser
redobrado no caso dos grupos mais
vulneráveis aos potenciais efeitos nefastos
dos aditivos, como pessoas com alergias,
asma, urticária crónica, pólipos nasais
e intolerância ao ácido acetilsalicílico.
O mesmo se aplica a grávidas, idosos ou
crianças. Nestas, o risco de ultrapassar
a dose diária aceitável (DDA) é maior,
devido ao baixo peso corporal.
Os corantes sintéticos, os conservantes,
os antioxidantes, os agentes de textura
e os intensificadores de sabor são mais
suscetíveis de desencadearem alergias
ou intolerâncias, podendo ocasionar,
por exemplo, diarreia, náuseas, dores
abdominais, vómitos, enxaquecas,
eczema, urticária, rinite, asma ou edema
de Quincke, que se manifesta por um
inchaço dos tecidos moles, como lábios e
pálpebras. Quando afeta a laringe, requer
uma intervenção médica urgente, sob
pena de causar asfixia.
As crianças, sobretudo antes dos 3 anos,
não têm os sistemas digestivo e urinário
suficientemente desenvolvidos para
seguirem uma alimentação com aditivos.
Os alimentos para bebés obedecem a
Ao escolhermos
alimentos sem
aditivos, a indústria
tenderá a reduzir
a sua utilização
Dicas para fugir
dos aditivos
Evite alimentos muito coloridos,
transformados ou elaborados e/ou
aromatizados. Opte por alimentos pouco
processados e evite os que apresentem
muitos “E” na lista de ingredientes.
Prefira alimentos simples e procure
prepará-los em casa, em vez de utilizar
produtos acabados industrialmente.
Não abuse dos produtos
de charcutaria.
Os vinhos tintos têm, em geral, menos
sulfitos do que os brancos.
Não abuse dos edulcorantes,
como aspartame ou acessulfame.
Para descortinar os rótulos na loja,
leve a nossa lista com os aditivos
a evitar ou suscetíveis de desencadear
reações alérgicas. Consulte na app
DECO PROTESTE Revistas.
GUIA
PRÁTICO
VENENO NO SEU
PRATO (G219)
Neste guia,
abordamos
a utilidade e
os riscos dos
aditivos, entre
outras questões.
Encomende já,
com o código do
mês 19020, em
deco.proteste.
pt/guiaspraticos
condições rigorosas, mas é raro que as
crianças com mais de 1 ano continuem
a ter uma alimentação tão restrita.
As grávidas devem igualmente vigiar a
alimentação e restringir a ingestão de
aditivos suspeitos, assim como os idosos,
cujo organismo perde progressivamente
capacidades funcionais. Devem ainda
ter cuidado com os medicamentos
que também os contêm. Outros grupos
de risco: doentes com o sistema
imunitário fragilizado, pessoas com
perturbações fisiológicas, tais como a
fenilcetonúria (doença rara que implica
restrições alimentares), assim como
indivíduos com uma alimentação pouco
variada ou rica em alimentos industriais
e muito processados, como pratos
pré-confecionados.
Toda a informação no rótulo
Os aditivos são considerados ingredientes
dos produtos alimentares, devendo, por
isso, constar dos rótulos. Reconhecem-se
facilmente. Na lista de ingredientes, além
da classe a que pertencem (corante >
137 testesaúde 27
Aditivos a evitar
Corantes
E 101 Riboflavinas; i) Riboflavina, ii)
Ribloflavina-5’-fosfato ●
E 102 Tartarazina ● ●
E 104 Amarelo-de-quinoleína ● ●
E 110 Amarelo-sol FCF,
Amarelo-alaranjado S ● ●
E 120 Cochonilha, Ácido carmínico
ou Carminas ●
E 122 Azorubina, Carmosina ● ●
E 123 Amarante ● ●
E 124 Ponceau 4R, Vermelho-cochonilha A ● ●
E 127 Eritrosina ● ●
E 129 Vermelho-allura AC ● ●
E 131 Azul-patenteado V ● ●
E 132 Indigotina, Carmim-de-índigo ●
E 133 Azul-brilhante FCF ●
E 142 Verde S ● ●
E 150c Caramelo amoniacal ●
E 151 Negro-brilhante BN, Negro PN ● ●
E 153 Carvão vegetal ●
E 155 Castanho HT ●
E 160b Anato, Bixina, Norbixina ● ●
E 161g Cantaxantina ●
E 171 Dióxido de titânio ●
E 172 Óxidos e hidróxidos de ferro ●
E 173 Aumínio ●
E 174 Prata ●
E 180 Litolrubina BK 1 ● ●
Conservantes
E 200 Ácido sórbico ●
E 202 Sorbato de potássio ●
E 203 Sorbato de cálcio ●
E 210 Ácido benzoico ●
E 211 Benzoato de sódio ●
E 212 Benzoato de potássio ●
E 213 Benzoato de cálcio ●
E 214 p-hidroxibenzoato de etilo ●
E 215 Sal de sódio do p-hidroxibenzoato 10 miligramas por litro ou quilo. Por
de etilo ●
E 218 p-hidroxibenzoato de metilo ●
E 219 Sal de sódio do p-hidroxibenzoato alertar que “pode causar efeitos negativos
de metilo ●
E 220 Dióxido de enxofre ● ●
E 221 Sulfito de sódio ● ●
E 222 Hidrogenossulfito de sódio ● ●
E 223 Metabissulfito de sódio ● ●
E 224 Metabissulfito de potássio ● ●
E 226 Sulfito de cálcio ● ●
E 227 Hidrogenossulfito de cálcio ● ●
E 228 Hidrogenossulfito de potássio ● ●
E 249 Nitrito de potássio ● ●
E 250 Nitrito de sódio ● ●
E 251 Nitrato de sódio ● ●
E 252 Nitrato de potássio ● ●
E 1105 Lisozima ●
● Duvidoso. Estudos não conclusivos
ou controversos sobre a segurança.
● Alergénico. Pode causar alergias ou reações
de intolerância.
Consulte a lista completa na app
DECO PROTESTE Revistas
>
ou conservante, por exemplo), deve vir
referido o nome (como curcumina ou
ácido sórbico) ou o código atribuído pela
União Europeia, composto pela letra E
(de Europa) seguida de três ou quatro
algarismos (E 100 ou E 200) e, por vezes,
algumas letras minúsculas. Mas, se
alguns alimentos estão dispensados de
indicarem a lista de ingredientes (como
o vinho), desconhece-se que aditivos
foram eventualmente adicionados.
Uma tolerância inaceitável do legislador.
Existem advertências obrigatórias para
certos aditivos. Se o alimento contiver
mais de 10% de polióis adicionados
(um tipo de edulcorante), deve indicar
que “o seu consumo excessivo pode
ter efeitos laxativos”. Um alimento
com um ou mais edulcorantes deve
indicá-lo (“contém edulcorantes”), tal
como se incluir açúcares adicionados
e um ou mais edulcorantes. Quando
contém aspartame ou sal de aspartame
e acessulfame, é obrigatório indicá-lo
ou referir que é fonte de fenilalanina.
A utilização de sulfitos, anidrido sulfuroso
ou dióxido de enxofre também deve vir
indicada sempre que a concentração
destes conservantes seja superior a
fim, um alimento com corantes E 102,
E 104, E 110, E 122, E 124 ou E 129 deve
na atividade e atenção das crianças”.
Investigação com limites
Os produtores podem e devem reduzir
o uso de aditivos, por exemplo, alterando
a formulação dos alimentos e aplicando
tratamentos físicos de conservação
ou regras de higiene mais rigorosas.
Para introduzirem novos aditivos, os
fabricantes devem apresentar estudos
que provem a sua segurança. As análises
toxicológicas verificam, entre outros, a
toxicidade e o potencial cancerígeno,
teratogénico (que provoca malformações
congénitas) e mutagénico. Assim, à
partida, tudo indica que os consumidores
estarão protegidos. Contudo, estes
estudos apresentam limitações que
podem pôr em causa os resultados.
Na investigação científica, nada está
Um alimento
com um ou mais
edulcorantes deve
ter essa indicação
no rótulo
definitivamente demonstrado. Prova
disso é que alguns aditivos autorizados
no passado, como o corante vermelho
E 128, foram retirados da alimentação.
As experiências são realizadas em
animais de laboratório e os resultados
extrapolados para os humanos, quando
estes poderão não reagir da mesma
maneira às substâncias testadas. Além
disso, é difícil observar alguns efeitos em
animais, como dores de cabeça, náuseas
ou estados depressivos. As experiências
podem durar meses ou prolongar-se
durante a vida do animal, mas não
simulam a ingestão da substância ao
longo da vida dos humanos. Outro fator:
as experiências realizam-se com uma
substância de cada vez, não espelhando
a realidade, já que ingerimos vários
produtos, com mais de um aditivo.
Por exemplo, verificou-se que a ingestão
de alguns corantes com benzoatos podia
provocar hiperatividade nas crianças.
Faltam também estudos sobre os efeitos
dos aditivos sobre alguns ingredientes
e os compostos tóxicos dos alimentos.
Verificou-se, por exemplo, que os
benzoatos, em combinação com sumo
de fruta ou ácido ascórbico (vitamina
C), favorecem a formação de benzeno,
uma substância cancerígena. Por estes
motivos, é impossível garantir a 100% a
inocuidade dos aditivos alimentares.
Dossiê técnico Nuno Lima Dias
 Ingredientes
compostos NÃO É SÓ
VAPOR DE ÁGUA
de carbonilo O e-cigarro inclui
como formaldeído, várias substâncias
acetaldeído, acetona químicas com
e acroleína potencial impacto
negativo na saúde.
compostos
orgânicos
voláteis
benzeno
e tolueno, possíveis
por exemplo
metais efeitos do
níquel,
cobre, zinco,
aerossol
estanho disfunção das células
e chumbo, endoteliais (por
entre outros exemplo, presentes no
sangue), danos no DNA
e consequentes
nitrosaminas mutações genéticas
específicas
do tabaco

cigarros eletrónicos
o fim da
inocência
Os cigarros eletrónicos podem ajudar a deixar de fumar. Podem até ser menos nefastos
do que o tabaco tradicional. Mas não são inócuos. Os componentes químicos do aerossol
são potencialmente prejudiciais para a saúde dos utilizadores
Fátima Ramos

137 testesaúde 29
 Intolerável
VAZIO LEGAL
A lei do tabaco
não abrange
e-cigarros sem
nicotina, o que
facilita o acesso a
menores de idade.
Quer dizer adeus
ao cigarro?
Muita força de vontade, exercício
físico, alimentação equilibrada e algum
autocontrolo são chaves para o sucesso
na árdua tarefa de deixar de fumar.
Se for difícil deixar de fumar sozinho
ou com o apoio das pessoas que o
rodeiam, pode ser útil recorrer a ajuda
externa. O Serviço Nacional de Saúde
disponibiliza consultas de desabituação
tabágica em alguns centros de saúde
ou hospitais. Nestas, receberá conselhos
sobre técnicas para deixar de fumar
e apoio motivacional. Se necessário,
ser-lhe-ão também prescritos fármacos.
O ideal é começar por manifestar
a intenção de deixar de fumar e
eventuais dificuldades em consegui-lo
ao médico de família ou contactar a linha
SNS 24: 808 24 24 24.
Pode obter mais informação
e conselhos no dossiê “Deixar de
fumar com medicamentos e outras
estratégias”, em www.deco.proteste.pt.
30 testesaúde 137
C
omecemos com uma breve
explicação: os cigarros
eletrónicos – ou e-cigarros –
são dispositivos que, através de uma
pequena bateria e de compostos líquidos
recarregáveis, produzem aerossóis, num
ritual em tudo idêntico ao ato de fumar.
Apresentados, de início, como substitutos
do tabaco sem qualquer risco, estes
produtos têm sido alvo de alguns
estudos, que, apesar de não serem
conclusivos, porque o produto está
no mercado há relativamente pouco
tempo, fornecem dados a ponderar por
quem os utiliza ou está a pensar utilizar.
A Organização Mundial da Saúde (OMS)
tem recomendado alguma prudência
no recurso aos cigarros eletrónicos,
alertando para o facto de ainda não
existir evidência científica suficiente
que comprove a sua segurança, em
comparação com o fumo do tabaco
tradicional.
Uma química a evitar
Os ingredientes do líquido que dá origem
ao aerossol vão muito além da água…
há solventes, como a glicerina vegetal
e o propilenoglicol, aromas e, na maioria
dos casos, a famosa nicotina.
Muitos dos aromas presentes nos
e-cigarros são usados, de forma segura,
na alimentação. Porém, não se conhecem
bem as consequências que podem ter,
quando aquecidos e inalados. A nicotina,
essa, está bem estudada. Os seus efeitos
sobre o sistema nervoso central são
determinantes para o desenvolvimento
da dependência do tabaco: a substância
age sobre determinados recetores
no cérebro e fora dele, provocando
estimulação ou depressão, conforme
a intensidade e a frequência com que
é inalada. Por exemplo, pode estimular
o sistema nervoso central, e a pessoa fica
mais ansiosa, ou atuar sobre o sistema
cardíaco, acelerando o ritmo do coração
(taquicardia). A nicotina pode ainda
prejudicar os vasos sanguíneos, o sistema
hormonal e o metabolismo, entre outros.
É verdade que há e-cigarros sem
nicotina, mas também é certo que
continua a desconhecer-se o impacto
do restante cocktail que compõe o
aerossol. As diferentes combinações
de solventes e aromas resultam numa
grande variedade de produtos químicos,
o que dificulta o estudo dos efeitos
toxicológicos dos cigarros eletrónicos.
Entre as substâncias químicas já
identificadas, encontram-se compostos
de carbonilo (por exemplo, formaldeído,
acetaldeído, acetona e acroleína),
compostos orgânicos voláteis (benzeno
e tolueno, entre outros), nitrosaminas
do tabaco e metais pesados, como níquel,
cobre, zinco, estanho e chumbo.
Em suma, os e-cigarros não produzem
combustão, fenómeno que origina os
componentes mais prejudiciais do tabaco
tradicional, mas ambos comungam
de outras substâncias potencialmente
perigosas. E, mesmo que a concentração
e a temperatura de aquecimento sejam
inferiores nos cigarros eletrónicos, o risco
de dano na saúde não pode ser excluído.
Algumas investigações associam
o uso de cigarros eletrónicos a
tentativas bem-sucedidas de parar
de fumar, enquanto outras apontam
no sentido contrário, sugerindo
um potencial efeito negativo
no cumprimento desse objetivo.
Numa investigação recente, 657
fumadores interessados em ​​ abandonar
o tabaco foram divididos, de forma
aleatória, em três grupos: um recebeu
e-cigarros com 16 miligramas de
nicotina, outro, adesivos com 21
miligramas desta substância, e o terceiro,
e-cigarros sem nicotina. Passados seis
meses, não havia diferença significativa
no número de pessoas que deixaram
de fumar nos três grupos.
Por outro lado, é sabido que alguns
fumadores usam concomitantemente
tabaco tradicional e cigarros
eletrónicos, prática que se suspeita
ser mais arriscada do que o recurso
a apenas uma das versões.
Os novos fumadores são outra
preocupação. O cigarro eletrónico pode
ser uma rampa de lançamento para a
aquisição de hábitos tabágicos, pensando
os utilizadores que estão a consumir
apenas vapor de água.
Portugal resistente q.b.
Números do Eurobarómetro revelam
que, em 2017, cerca de 15% da população
europeia já havia experimentado os
e-cigarros, pelo menos, uma vez na vida.
Este valor está a crescer desde 2012, altura
em que apenas 5% afirmaram ter usado.
Em Portugal, os dados relativos a
2017 revelam que 5% da população
já experimentou cigarros eletrónicos,
no mínimo, uma vez. Entre os fumadores
nacionais, 3% afirmam recorrer a este tipo
de dispositivos.
Mais de metade dos entrevistados
Tabaco aquecido:
a nova moda
A indústria tabaqueira tem encontrado
novas formas de diversificar os seus
produtos, e a mais recente é o tabaco
aquecido. Estamos a falar de dispositivos
eletrónicos que aquecem o tabaco
processado, em vez de o queimar.
Como não há combustão, a pesquisa
sugere que estes produtos expõem os
utilizadores e os fumadores passivos a
níveis mais baixos de substâncias tóxicas
do que os cigarros tradicionais. Contudo,
há estudos que defendem o contrário,
pelo que também aqui é cedo para ter
evidência científica sobre potenciais
danos e benefícios de utilizações a
longo prazo, até porque a maioria
das investigações favoráveis tem sido
patrocinada pela indústria.
O alvo deste produto é sobretudo
quem procura uma alternativa aos cigarros
tradicionais com menos substâncias
nocivas - e não indivíduos que queiram
deixar de fumar.
A nicotina presente nestes produtos
atinge 70% a 84% da concentração
detetada no fumo do tabaco tradicional.
europeus (58%) considera que os cigarros
eletrónicos são prejudiciais para a saúde. GUIA
A proporção de inquiridos que atribui
efeitos negativos a estes equipamentos PRÁTICO
aumentou em quase todos os países
nos últimos anos, incluindo em Portugal.
Vazio legal incompreensível
Existem e-cigarros com e sem nicotina.
Os primeiros estão abrangidos pela
lei do tabaco (Lei n.º 63/2017), mas
os segundos ficam de fora, escapando
às restrições aplicadas aos produtos
de tabaco. Assim, por exemplo, não é
Deixar de Fumar
proibido vender e-cigarros sem nicotina
(G319)
a menores, nem utilizá-los em locais
Procura dicas
fechados, recintos desportivos ou parques
para se libertar de
infantis.
vez do hábito de
Face a esta dualidade, e dado que
fumar? O nosso
os e-cigarros com e sem nicotina são
guia prático
idênticos na aparência, as entidades
fiscalizadoras têm a tarefa dificultada:
pode ajudar.
Nenhum se alguém usar um destes equipamentos
Encomende com
o código do mês
cigarro num centro comercial, não há forma
de comprovar se inclui ou não nicotina.
19020.
pode A inexistência de regras não beneficia
ninguém. Urge, por isso, enquadrar na lei
www.deco.
ser visto os e-cigarros sem nicotina.
proteste.pt/
guiaspraticos
como No que respeita aos cigarros
eletrónicos com nicotina, só podem
saudável ser comercializados os que contiverem
até 20 miligramas daquela substância
por mililitro. Além de serem interditos
nos locais onde é proibido fumar,
estes produtos são obrigados a cumprir
outros requisitos, como a inclusão
na embalagem de advertências gerais
(por exemplo, “este produto contém
nicotina, uma substância que cria forte
dependência”) e do conselho “não é
recomendado o uso por não-fumadores”.
Produtos com concentração superior
a 20 miligramas de nicotina por mililitro
ou com propriedades alegadamente
curativas ou preventivas, que são usados
como terapia de substituição de nicotina,
terão de cumprir os requisitos exigidos
aos medicamentos para poderem ser
autorizados e comercializados. Se pensa
usar estes produtos para deixar de fumar,
convém falar com médico.
Dossiê técnico Susana Santos
137 testesaúde 31
navegadores pouco convictos

saúde online
Os portugueses inquiridos procuram informação, sobretudo, em sites governamentais e de hospitais, mas,
em média, estão mais satisfeitos com os conteúdos das organizações de consumidores e de websites científicos.
Pouco mais de metade está registada numa plataforma virtual e apenas um quinto usa apps de saúde ou de fitness
Fátima Ramos

Entre maio e junho de 2018, enviámos um questionário sobre a procura de informação WEBSITES
QUE
e serviços de saúde na internet a uma amostra da população portuguesa entre os 25 e os CONSULTAM

70
69 anos. Procedimento idêntico foi seguido pelas organizações de consumidores nossas
congéneres da Bélgica, Espanha e Itália. Quisemos saber que plataformas de saúde e aplicações
móveis são utilizadas, o que procuram os consumidores online, o nível de satisfação com as
ferramentas e as preocupações com a privacidade dos dados. Recebemos 415 respostas válidas. acedem a in
ou serviços
66% na inte
governamentais

SATISFAÇÃO
DOS UTENTES
(DE 1 A 10) 85% 6,6
informação 52%
dos que estão disponível hospitais e
clínicas
registados numa 29
cient
plataforma de saúde
7 usam sobretudo o 6,6
satisfação
global Portal SNS/ serviços
disponíveis
Preocupação com
MySNS de os dados de saúd

6,9 6,7
facilidade funcionamento
de utilização 6,7 da plataforma
85 % 47% 36%
privacidade
dos dados piratas outras entidades, entidades privadas,
pessoais informáticos como como clínicas
seguradoras ou empresas
farmacêuticas

32 testesaúde 137
 Seniores
offline
FORA DA REDE
Quatro em cada
10 dos inquiridos
a partir dos 65 anos
nunca acederam
a informação sobre
saúde na net.

ne N
a era da tecnologia, em que quase
tudo está à distância de um clique
e a telemedicina anda nas bocas do
mundo, muitos portugueses ainda preferem
os velhos métodos cara a cara ou via
telefone. O nosso estudo revela que pouco
mais de metade dos inquiridos acedeu
ou está registada em plataformas digitais
de cuidados de saúde, como o Registo de
Saúde Eletrónico, do Serviço Nacional de
Saúde, acessível através do Portal do SNS
e da aplicação MySNS. Na internet, buscam,
sobretudo, informação sobre doenças e
serviços de saúde. Os sites governamentais
e de hospitais e clínicas são os preferidos
para a pesquisa, mas uma percentagem
considerável dos inquiridos também recorre
a outras fontes, como aplicações móveis,
jornais e revistas online e sites científicos
ou de organizações de consumidores.
No que toca à qualidade da informação, os
inquiridos apreciam mais os dois últimos,
atribuindo-lhes, em média, classificações
de 7,8 e 7,9 em 10, respetivamente.
As aplicações móveis (6,9), as redes sociais
e os canais de vídeo, como o YouTube (6,8),
e os sites e blogues não-científicos (6,2) são
os que menos satisfazem. >

24%
0%
blogues e sites
não-científicos

informação
s de saúde
ternet 26%
organizações de
consumidores

SATISFAÇÃO
6,9
23%
DOS UTENTES
28 %
(DE 1 A 10)
privacidade
dos dados
redes
sociais dos que estão pessoais

9tíficos
% registados numa
plataforma
7,8 de saúde usam 7,6
m a possibilidade satisfação
global sobretudo o informação
disponível
de serem vistos por... MyCUF
7,7 7,6
funcionamento facilidade

24% 21% 2%
da plataforma
7,7 de utilização

profissionais entidades profissionais serviços

não envolvidos públicas envolvidos disponíveis
no tratamento no tratamento

137 testesaúde 33
>
Serviços digitais
As plataformas de serviços de saúde,
através das quais é possível marcar
consultas e exames médicos ou verificar
os respetivos resultados, não gozam de
grande popularidade entre os portugueses
que participaram neste estudo: apenas
54% indicaram já terem usado ou estarem
registados. O Portal do SNS, referido por
85% dos inquiridos que usam plataformas
de saúde, é líder. Em segundo plano,
a uma distância considerável, surge a
MyCUF, da rede de hospitais privados CUF,
assinalada por 23 por cento. Esta agrada
mais aos seus utilizadores do que a do
Portal do SNS (ver páginas anteriores),
o que se justifica, sobretudo, pela satisfação
global, pelo funcionamento da ferramenta
e pela informação e serviços disponíveis.
Como seria de esperar, os mais novos -
até aos 64 anos - são mais propensos
a usarem as plataformas digitais.
No geral, estas são utilizadas para marcar
consultas (76%), aceder a registos médicos
(67%) e pedir ou receber prescrições
de medicamentos (37%) e exames
(33 por cento). Há ainda quem recorra
à plataforma para contactar o médico e
outros profissionais de saúde. Porém, são
pouco mais de metade os utilizadores a
considerar que a plataforma lhes aumentou
significativamente a acessibilidade
aos serviços de saúde.
Os que se mantêm afastados deste mundo
digital fazem-no, na maioria, por opção,
já que preferem os meios tradicionais de
contacto. O desejo de manter os dados
de saúde fora da internet é outra razão,
apontada por quase um quinto destes
inquiridos. Apesar de legítima, esta ambição
será difícil de concretizar, dada a intenção
de “desmaterializar” os processos no Serviço
Nacional de Saúde: atualmente, já não se
entregam, por exemplo, receitas em papel,
nem novos boletins de vacinas. Face a
esta realidade, é preocupante que 23%
dos inquiridos nunca tenham ouvido falar
em plataformas digitais de saúde.
Pouco entusiasmo com as apps
Um quinto dos inquiridos revela usar uma
app de saúde ou de fitness, quase sempre
de forma gratuita. Os que se mantêm
34 testesaúde 137
Em 22% dos casos,
os inquiridos
que usam apps
não sabem se
partilham os dados
registados, por
exemplo, com
outros utilizadores
fora destas ferramentas dizem que o
fazem porque incluem muitos anúncios
publicitários; porque não sabem usar;
e por falta de confiança na informação
devolvida.
Em cerca de metade das experiências de
utilização, estão envolvidas as aplicações
para monitorizar exercício físico, como
contadores de passos. Embora com
menor expressão, foi também assinalada
a utilização de apps relacionadas com a
nutrição (por exemplo, para contabilizar
calorias ou controlar o peso), apps de
informação, como dicionários de doenças
ou de primeiros socorros, e apps para
monitorizar a fertilidade.
Grande parte das apps pode ser
descarregada ao nível europeu. Por isso,
de modo a obter dados mais robustos,
agrupámos os valores da satisfação dos
quatro países que participaram no estudo.
As aplicações que proporcionam um nível
de satisfação global mais elevado são as
que monitorizam a fertilidade. Em Portugal,
uma destas aplicações, a Natural Cycles,
segundo o Infarmed, está aprovada como
dispositivo médico para controlar o ciclo
menstrual, mas não pode ser entendida
como contracetivo, ao contrário do que
pretende fazer crer - pode encontrar mais
informações em www.deco.proteste.pt,
na área dos medicamentos.
As aplicações monitoras de exercício físico
e de nutrição ocupam o segundo lugar do
pódio. As primeiras registam parâmetros
como o trajeto e a distância percorrida,
Informação fiável?
Encontrar informação sobre
doenças ou serviços de saúde na net
é fácil. Difícil é perceber se o que nos
dizem tem validade científica.
A pertença a entidades de saúde
credíveis, como hospitais, agências
de medicamentos ou ministérios,
é um bom indício de fiabilidade
do site. As extensões “.edu” e
“.gov”, por exemplo, indicam que a
informação provém de universidades
ou de instituições públicas.
Os sites com vários autores e
atualizações regulares, com a
identificação dos responsáveis, e que
indiquem, de forma clara, os objetivos,
dão mais garantias de qualidade.
Importante é, também, averiguar se têm
patrocinadores e quem são. Se for uma
empresa privada, como um laboratório
farmacêutico, ative o sentido crítico:
pode haver conflito de interesses.
Ou seja, os esclarecimentos podem não
ser incorretos, mas mostrarem apenas
uma face da moeda, para incentivar
a compra de produtos ou serviços.
A linguagem emotiva, com excesso
de exclamações e promessas,
é mau indício. Tenha especial cuidado
com os blogues. Confirme sempre
a informação noutras fontes.
No caso das aplicações móveis,
terá vantagem em ver opiniões de outros
utilizadores e descarregar a versão
mais recente. Ler todas as condições
de utilização, antes de aceitá-las,
pode evitar surpresas no futuro. Preste
atenção às definições de privacidade
e, se assim o desejar, restrinja o acesso
aos seus dados. Verifique se a app é fácil
de usar. Se não o for ou não perceber o
que é pedido, corre o risco de introduzir
dados incorretos e, consequentemente,
receber informações erradas.

Apps pouco populares
As aplicações móveis de saúde ou de fitness não despertam grande
interesse aos nossos inquiridos: 73% nunca as utilizaram
87% 73%
dos casos: dos casos:
os utilizadores os utilizadores
não leram em não definiram as
profundidade suas condições
os "termos privacidade
e condições"
Quatro países do estudo
Para obtermos dados mais fiáveis, analisámos em conjunto a satisfação
dos inquiridos portugueses, belgas, espanhóis e italianos
SATISFAÇÃO
DOS 8,3
UTILIZADORES fertilidade
(DE 1 A 10)
enquanto as segundas apontam ao peso
e às calorias consumidas, entre outros.
Em 17% dos casos, os utilizadores
portugueses afirmam partilhar a informação
através da app e um pouco mais de um
quinto não sabe se faz ou não esta partilha.
Medo de assaltos aos dados
Em 85% das experiências com plataformas
dos serviços de saúde e em 67% com
apps, os inquiridos manifestaram grande
preocupação com a possibilidade de a
informação ser vista ou recolhida por
piratas informáticos. Acessibilidade dos
dados por empresas privadas, como
seguradoras, ou entidades privadas ligadas
à saúde, como clínicas ou a indústria
farmacêutica, também inquieta grande
parte dos utilizadores.
20 %
usam apps
de saúde
ou fitness
7,6 7,5
exercício nutrição
físico
Portal do SNS
Para aceder ao registo eletrónico de
saúde, basta efetuar o registo na área
do cidadão do Portal do SNS (https://
servicos.min-saude.pt/utente). Precisa
do número de utente, do e-mail ou de um
número de telemóvel, e de definir uma
palavra-passe. Não se esqueça, ainda,
de indicar quem pode aceder aos dados.
Feita a inscrição, pode marcar
consultas; descarregar prescrições;
pedir a renovação de receitas ou uma
declaração de presença; e consultar os
dados clínicos, os resultados de exames
e o boletim de vacinas.
Apesar do medo, os utilizadores afirmam
terem lido os “termos e condições”
em profundidade em apenas 15% e 13%
das experiências com plataformas e apps,
respetivamente.
Outro dado preocupante: em 28% dos casos,
os inquiridos que usaram plataformas
digitais dizem desconhecer a possibilidade
de alterar as condições de privacidade,
isto é, “quem pode ver o quê” na sua ficha.
Dos que sabem, apenas 27% já adaptaram
essas condições nas plataformas.
Consumidor protegido?
Os serviços digitais de saúde podem facilitar
a dia-a-dia aos utentes, mas implicam
alguns riscos. Para limitá-los, o utilizador
tem todo o interesse em ler com atenção
os “termos e condições” e só aceitar se lhe
parecerem razoáveis. Também importa
verificar as definições de privacidade
e adequá-las aos seus interesses.
O acesso ao Registo de Saúde Eletrónico
parece ser cada vez mais essencial, dada
a “desmaterialização” dos processos.
Mas o nosso estudo mostra que ainda há
desconhecimento relativamente à sua
existência. Cabe ao Ministério da Saúde
e respetivos serviços divulgá-lo e ajudar
os utentes a tirarem o melhor partido dele.
Os serviços têm de responder a utilizadores
com diferentes necessidades e capacidades
“técnicas”, para garantir a máxima
equidade no acesso. Os consumidores
pedem também maior investimento na
literacia digital, tanto para utentes, como
para profissionais de saúde. É necessário,
ainda, acautelar a idêntica acessibilidade,
por outras vias, a quem, por falta de
conhecimentos ou de meios técnicos,
não possa fazê-lo.
O consumidor deve ter o direito de decidir
quando, como e com quem partilha os seus
dados. As ferramentas e os serviços digitais,
de entidades públicas ou privadas, devem
ser fáceis de usar, seguros e confiáveis.
A supervisão da Comissão de Proteção de
Dados é fulcral. Em caso de problemas de
segurança ou de violação da privacidade,
deve atuar de forma rápida e eficaz.
Dossiê técnico Bruno Carvalho
e Susana Santos
137 testesaúde 35
imposto
menos IVA, melhor alimentação
Produtos como as leguminosas têm um papel importante numa alimentação equilibrada,
independentemente do modo de conservação. Mas, se demolhadas, são tributadas com o IVA
máximo. Neste, como noutros casos, exigir ao legislador a sua redução para 6% é o mínimo
Sílvia Nogal Dias e Filipa Rendo
LEGUMINOSAS ENLATADAS
Apenas as leguminosas não-demolhadas, como o grão
ou o feijão, são tributadas a 6% de IVA. Os mesmos
produtos em conserva (mais práticos para o dia-a-dia)
pagam 23 por cento.
CREMES VEGETAIS
A taxa máxima é aplicada aos cremes culinários
de soja e de arroz e aos cremes vegetais para barrar,
com menos gorduras saturadas do que as natas
e a manteiga, as quais pagam 6 por cento.
ESPECIARIAS DESIDRATADAS
Produtos que podem ser usados em substituição
do sal, como cominhos ou manjericão, cujo preço
é mais elevado, pagam 23%de IVA.
CHÁS E INFUSÕES
Apesar de as infusões de erva-cidreira ou de
camomila serem taxadas a 6%, outras, como
as de frutos vermelhos, e os chás em geral são
penalizados com a taxa mais alta (23 por cento).
ÁGUA ENGARRAFADA
A carga fiscal que incide sobre a água engarrafada é de
13%, uma opção incompreensível, sobretudo quando
os néctares de frutas são taxados a 6 por cento.
N
uma população em que mais
de metade das pessoas tem
excesso de peso e as doenças
cardiovasculares e a diabetes atingem
níveis para lá do aceitável, qualquer
incentivo a um estilo de vida saudável é
bem-vindo. E, se o consumo de produtos
com uma boa composição nutricional é
meio caminho andado para o sucesso,
a descida dos preços destes alimentos,
fruto de uma menor carga fiscal, é
uma aliada de peso.
O imposto sobre o valor acrescentado
(IVA) a que os bens alimentares estão
sujeitos, por defeito, diferencia-os
positivamente: quanto mais processados,
mais IVA pagam; quanto mais saudáveis,
mais atenuado é o imposto. Até aqui,
tudo parece fazer sentido. Mas há pedras
na engrenagem da máquina tributária:
algumas opções para uma alimentação
saudável são taxadas com o IVA máximo,
sendo discriminadas face a alimentos
equivalentes. Se não, vejamos: como
se explica que as leguminosas em
conserva sejam taxadas com 23% de
IVA, enquanto o mesmo produto, por
demolhar, beneficie de 6 por cento?
E as bebidas vegetais, como as de soja ou
de arroz, a que é aplicada a taxa mínima,
enquanto os cremes vegetais culinários
ou para barrar são penalizados com a
taxa máxima? Sobretudo quando são uma
alternativa às natas convencionais e às
manteigas, com mais gorduras saturadas,
e a estas são aplicados... 6 por cento?
Acertou. Mas mais incompreensível

ainda: à água engarrafada são aplicados
13% de IVA, ao passo que os néctares
de fruta são tributados a 6 por cento.
A falta de critério é evidente. A solução?
Uma urgente revisão da aplicação da taxa
de IVA sobre um conjunto de produtos,
necessariamente refletida no preço final.
Assim funciona o IVA
Embora as taxas de IVA sejam fixadas
pelas autoridades nacionais, fazer-lhes
alterações obriga a ter o aval de Bruxelas.
À semelhança do que acontece em
Portugal, a maioria dos Estados-membros
da União Europeia (UE) divide o IVA
dos bens alimentares em três escalões,
sendo que as taxas reduzidas só podem
incidir sobre um número limitado
de produtos e, normalmente, nunca
inferiores a 5 por cento. Ainda assim, a UE
admite taxas “super-reduzidas”. É o caso
da praticada pela vizinha Espanha, que
aplica 4% de IVA à maioria dos alimentos
básicos, como o leite e as verduras.
No caso português, a taxa reduzida é
de 6% (4% nos Açores e 5% na Madeira),
a intermédia, de 13% (9% nos Açores
e 12% na Madeira), e a máxima, de 23%
(18% nos Açores e 22% na Madeira).
A maioria dos alimentos essenciais
(frutas, legumes, laticínios, pão, carne,
pescado e cereais) é tributada a 6 por
cento. A esta lista juntam-se os alimentos
sem lactose, as bebidas vegetais e os
alimentos sem glúten. A taxa intermédia
incide sobre produtos como água
engarrafada (mineral ou gaseificada),
flocos de aveia sem adição de açúcar,
conservas de peixe e de moluscos e
vinho (no último caso, beneficia-se o
contributo para a economia nacional).
Já a taxa máxima é aplicada aos restantes
produtos alimentares, normalmente, mais
processados. Ou, pelo menos, deveria.
Apesar de tudo, há que destacar os pontos
Produtos
equivalentes são
taxados tanto a
6% como a 23 por
cento. A falta de
critério é evidente
CONSUMIDORES EXIGEM
6% de IVA
Taxa reduzida para
alimentos saudáveis
O incentivo a uma alimentação
equilibrada deve passar por uma
tributação justa dos produtos
mais saudáveis. Mas são vários os
exemplos dos que são penalizados
com a taxa máxima de IVA. Daremos
conta desta situação inaceitável e
discriminatória ao Governo e aos
grupos parlamentares, exigindo que
o acesso a um conjunto de produtos
seja facilitado através da redução
da sua carga fiscal. Vamos bater-nos
pela aplicação da taxa de 6% de
IVA a alimentos como leguminosas
em conserva, legumes cozidos,
cogumelos laminados, azeitonas,
tremoços, polpa de tomate, chá, café,
cremes vegetais, especiarias, flocos
de aveia, sopas e água engarrafada.
Mas não vamos ficar por aqui.
Não descansaremos enquanto o
alívio fiscal que reivindicamos não se
refletir no preço final destes produtos.
App DECO
Proteste
SAÚDE NO IRS
Aceda à nossa
aplicação para
saber como
declarar as
despesas de saúde
no IRS.
positivos: além de os produtos sem
glúten beneficiarem da taxa reduzida,
os portadores de doença celíaca podem
deduzir estas despesas no IRS, mediante
requerimento à Segurança Social e
apresentação de uma declaração médica.
E há novidades: os leites e as fórmulas
infantis, destinados a crianças com
alergia à proteína do leite de vaca, vão
passar a ser comparticipados, desde
que justificados com receita médica.
O menos é mais
A redução do IVA de alguns alimentos
essenciais não beneficiará apenas a
carteira dos consumidores, que destinam
mais de 14% do seu orçamento familiar
à alimentação, segundo o Instituto
Nacional de Estatística. Ao incentivar
o consumo de produtos mais saudáveis,
esta medida terá impacto na saúde
dos portugueses e na do próprio Serviço
Nacional de Saúde, cuja despesa não
para de engordar.
É certo que já há algum caminho
percorrido. O imposto especial sobre
os refrigerantes e as bebidas açucaradas,
introduzido em 2017, levou alguns
produtores a reformularem a composição
destas bebidas, reduzindo o seu teor de
açúcar. Isso permitiu-lhes transitar para
escalões com taxas mais baixas. O sistema
tributário pode funcionar como dissuasor
da aquisição de alimentos de menor
valor nutricional, sobretudo quando
as penalizações se refletem no preço, o
que nem sempre ocorre. Mas, para que
o benefício para a saúde e o bem-estar
dos consumidores seja efetivo, tem de
potenciar a transferência do consumo
para alimentos mais saudáveis. A redução
da carga fiscal é o passo natural.
Dossiê técnico Ernesto Pinto
e Susana Costa Nunes
137 testesaúde 37
em direto
leitores
Textos
Ana Santos Gomes
Prótese dentária
com ajustes
intermináveis
Quando entrou na Clínica Dentária Megasmile,
no centro comercial Dolce Vita Tejo, a nossa associada
Natália Romão, da Amadora, procurava uma nova
prótese dentária, para substituir a anterior, já muito
desgastada. Com 85 anos, era a quinta vez na sua
vida que comprava uma prótese e sabia que teria
várias provas pela frente. Mas nunca pensou que,
após quatro tentativas, a prótese continuasse sem se
ajustar à sua boca. Ainda assim, a clínica deu o produto
por finalizado e fixou a prótese. Natália não conseguia
comer e regressou várias vezes à clínica, que nunca
deixou o serviço a seu gosto.
COMENTÁRIO DA NOSSA ESPECIALISTA
Rosalina Loureiro
Não conseguir ingerir alimentos é sinal evidente de que
a prótese não está a cumprir uma das suas principais funções:
devolver a capacidade de mastigação a um cidadão com falta
de dentes.
Além disso, a nossa associada manifestou sempre o seu
desagrado face ao produto proposto, mas em todas as ocasiões
a clínica contra-argumentou com nova possibilidade de ajuste,
até Natália recusar submeter-se a nova intervenção e exigir
o dinheiro de volta. A devolução do valor total foi também
o que propusemos à Clínica Dentária Megasmile. A proposta
foi aceite e a clínica reembolsou Natália em 400 euros.
A nossa associada terá, agora, de procurar outro
estabelecimento para produzir uma prótese dentária a
seu gosto. Em situações semelhantes, insista na devolução
do dinheiro e peça o livro de reclamações.
38 testesaúde 137
João Ribeiro
Quanto açúcar cabe
numa lampreia?
Entre os muitos doces que compõem a mesa
na ceia de Natal, nunca falta a lampreia de ovos,
mas este ano dei por mim a pensar na quantidade
obviamente excessiva de calorias que estava
a ingerir. Para não fazer tantos estragos à saúde,
que porção de lampreia deve cada um comer?
Ana Santos, Viseu
COMENTÁRIO DA NOSSA ESPECIALISTA
Dulce Ricardo
As nossas contas apontam para o consumo ideal diário
de cerca de 70 gramas de lampreia de ovos, para não
comprometer a saúde alimentar. Para ter uma ideia
aproximada da quantidade de açúcar que pode estar
a consumir, estes 70 gramas contêm o equivalente a cinco
pacotes de açúcar. Mais do que isso seria excessivo face
às necessidades diárias de açúcar de um adulto, sobretudo
se a lampreia não for o único doce consumido nessa ocasião,
o que muito provavelmente acontece na noite de Natal.
Em média, 70 gramas de lampreia contêm 240 quilocalorias
(kcal). Nessa porção de doce, contam-se 27,5 gramas
de hidratos de carbono, dos quais 24,4 gramas são açúcar.
É também um alimento com alto teor de gordura (11,1
gramas na mesma porção), dos quais 4,5 gramas são gordura
saturada. Apenas o teor de sal é baixo, rondando, em média,
os 0,06 gramas nos 70 gramas.
Lembramos ainda que as lampreias comercializadas
em hipermercados podem ser sujeitas a processos
de ultracongelação, sendo dispostas à venda já descongeladas
e prontas a consumir. Por essa razão, devem ser mantidas
no frigorífico até à hora de irem para a mesa e não devem
voltar a ser congeladas. Consulte o rótulo e siga as respetivas
instruções.
 TESTE SAÚDE
DECO PROTESTE, Editores,
Lda.
Proprietária, Editora
e Redação
Av. Eng.º Arantes
e Oliveira, n.º 13, Olaias,
1900-221 Lisboa
Conselho de Gerência
Armand De Wasch,
Crescenzo Passaro,
Daniel Stons, Filipe Moura,
Ivo Mechels,

Esterilizar
Luís Silveira Rodrigues,
Vasco Colaço
Capital Social

a escova de dentes
. DECO - Associação
Portuguesa para a Defesa
do Consumidor (25%)

é desnecessário Presidente Vasco Colaço

. Euroconsumers (75%)
Presidente Daniel Stons
Country Manager
Quando comprei a escova de dentes Elgydium e Representante Legal
Clinic, reparei que a embalagem destacava o António Balhanas

João Ribeiro
Diretora e Editora
facto de ser esterilizável no micro-ondas. A marca de publicações
recomendava especificamente que a operação fosse Cláudia Maia
Registo de pessoa coletiva
realizada durante um minuto, a 600 W, com as cerdas 502 611 529
mergulhadas num copo de água. Devo seguir Registo da Editora
estas indicações? 215 705
Registo na ERC
118 048
Paulo Fernandes, Lisboa ISSN 0873-8807
Depósito legal 93633/95
Tiragem 302 000 exemplares
COMENTÁRIO DA NOSSA ESPECIALISTA

O bolo
Execução gráfica/
Susana Santos /Distribuição
Capa: iStock/Nuno Semedo;

já tem mel...
Fotografia sem crédito
Não há qualquer necessidade de esterilizar a escova de dentes. atribuído em página: 4See/
A esterilização não é sinónimo de limpeza ou de assepsia. /Fernando Piçarra, João
Ribeiro e iStock.
Esta corresponde à eliminação total da vida microbiológica
Depois de termos noticiado o caso Impressão: Sogapal,
num determinado objeto, e não há qualquer evidência científica Comércio e Indústria de
do “bolo de noz & mel” da Monte Artes Gráficas, S.A. Estrada
de que as bactérias eventualmente presentes nas escovas
Oeste, cujo rótulo exibia a presença de São Marcos,
de dentes sejam nocivas para o ser humano. n.º 27, 2735-521
de vários ingredientes, mas nenhum Agualva-Cacém.
As bactérias tendem a crescer em lugares quentes e húmidos,
era mel, a situação já foi alterada. Distribuição:
pelo que deve evitar cobrir a escova ou armazená-la em Distrinews II, SA,
Lisboa.
recipientes completamente fechados. O ideal é deixá-la secar
RESTRIÇÕES AO USO
ao ar, de forma que as cerdas não toquem em nada, e muito COMENTÁRIO DA NOSSA ESPECIALISTA
DA MARCA, DOS ARTIGOS
Sofia Mendonça
menos noutras escovas. Recomenda-se ainda a substituição E DOS CONTEÚDOS
A DECO PROTESTE proíbe
da escova de três em três meses. A empresa Monte Oeste alterou o rótulo a reprodução e a citação
e adicionou aroma de mel à lista de dos seus artigos, bem como

Mude ingredientes que compõem o seu “bolo a referência ao nome da editora

e às publicações (PROTESTE,

de escova de noz & mel”. Em nome da transparência DINHEIRO&DIREITOS, TESTE

SAÚDE, PROTESTE INVESTE
da informação dada ao consumidor,
de dentes a atitude é louvável. Mas acabou por pôr
e guias práticos) com fins
comerciais.

a cada três a nu a escassa presença do ingrediente O uso, com esse fim,

das designações Escolha

meses que dá nome ao produto e ilustra Acertada e Melhor do Teste

só é autorizado nas condições
a embalagem. Afinal, o bolo contém previstas em www.deco.
apenas 0,03% de aroma de mel, segundo proteste.pt/selos. Também
não é admitido o uso dos
o novo rótulo. É certo que a lei não exige conteúdos disponibilizados
a presença mínima de um ingrediente no site, designadamente
dos comparadores, com
para que este possa dar nome ao produto. propósitos comerciais.
Ainda assim, estranhamos que se chame Os artigos publicados nas
revistas e online podem ser
bolo de mel a um alimento que apenas reproduzidos para fins não-
contém 0,03% de... aroma a mel. -comerciais se for indicada a
fonte e a data de publicação.
Se encontrar rótulos cujo conteúdo possa Se o artigo for divulgado na
induzir o consumidor em erro, envie-nos internet, deve ainda conter
uma ligação para a página.
uma fotografia do produto e do respetivo
Estatuto editorial
rótulo para alimentacaoesaude@deco. www.deco.proteste.pt/
proteste.pt, com o assunto “rótulos”. estatuto-editorial

137 testesaúde 39
VIVA EM HARMONIA
NA SUA CASA
INCLUI INCLUI
E-BOOK E-BOOK
INCLUI
E-BOOK

VEJA COMO ENCOMENDAR NA PROTESTE DE FEVEREIRO