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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 20ª Região

Mandado de Segurança Cível


0000110-21.2020.5.20.0000

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 07/05/2020


Valor da causa: R$ 500.000,00

Partes:
IMPETRANTE: SINDUSCON SINDICATO DA INDUSTRIA DA CONSTRUCAO CIVIL NO
ESTADO DE SE
ADVOGADO: José Dantas de Santana
AUTORIDADE COATORA: Juízo da 3ª Vara do Trabalho de Aracaju
CUSTOS LEGIS: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 20ª REGIÃO
GAB. DES. JOSENILDO DOS SANTOS CARVALHO
AVENIDA DOUTOR CARLOS RODRIGUES DA CRUZ, S/N, CENTRO
ADMINISTRATIVO, CAPUCHO, ARACAJU/SE - CEP: 49081-015
Fone: (79) 21058752 - E-mail: gdjsc@trt20.jus.br
MSCiv 0000110-21.2020.5.20.0000
IMPETRANTE(S): SINDUSCON SINDICATO DA INDUSTRIA DA CONSTRUCAO
CIVIL NO ESTADO DE SE
AUTORIDADE COATORA(S): JUÍZO DA 3ª VARA DO TRABALHO DE ARACAJU

INTIMAÇÃO

Fica V. Sa. intimado para tomar ciência do seguinte documento:

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 20ª REGIÃO
Gab. Des. Josenildo dos Santos Carvalho
MSCiv 0000110-21.2020.5.20.0000
IMPETRANTE: SINDUSCON SINDICATO DA INDUSTRIA DA CONSTRUCAO
CIVIL NO ESTADO DE SE
AUTORIDADE COATORA: Juízo da 3ª Vara do Trabalho de Aracaju

Vistos, examinados etc.

SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO ESTADO DE SERGIPE –


SINDUSCON, impetra o presente Mandado de Segurança, com pedido liminar, indicando como
Autoridade Coatora o JUÍZO DA 3ª VARA DO TRABALHO DE ARACAJU, em face da Decisão
proferida pelo mesmo nos Autos da Ação Civil Pública tombada sob número 0000289-
43.2020.5.20.0003, ajuizada em conjunto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO, MINIST
ÉRIO PÚBLICO FEDERAL e MINISTÉRIO PÚBLICO DE SERGIPE, ora litisconsortes passivos,
asseverando, inicialmente, que a “questão de fundo debatida na Ação Civil Pública se concentra
exclusivamente na (im) possibilidade de se manter a atividade da construção civil no Estado de
Sergipe, mesmo diante dos Decretos Governamentais Estaduais adredemente mencionados,
os quais, diga-se de passagem, não foram revogados, nem pelo próprio Governo,e nem
pelo Poder Judiciário ou Legislativo, encontrando-se, portanto, em pleno vigor”, e que não “se trat
a, pois, das relações entre empregados e empregadores, envolvendo os direitos previstos na

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legislação obreira. A questão é uma só. A paralisação da atividade da construção civil. Apenas
isso. A discussão relativa à paralisação/obstrução de uma atividade econômica pertence ao
direito administrativo e cível. É matéria estranha ao direito do trabalho”, o que levaria, entende, a “
certeza e a conclusão de que a Justiça do Trabalho não goza da competência para processar e
julgar a Ação Civil Pública movida pelos Ministérios Públicos do Trabalho, Federal e do Estado
de Sergipe”.

Defende, ainda, referindo-se à ACP, que o “impetrado se revela como um sindicato da classe
dos empregadores da construção civil no Estado de Sergipe, que, nessa condição,
representa as empresas do setor nas questões definidas pela Constituição Federal e pela
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)”, de modo que, diz, “não detém o poder de determina
r que uma empresa da atividade da construção civil adote essa ou aquela atitude ou
comportamento, nem tampouco impedir o seu funcionamento, haja vista que não possui o poder
de polícia, como se sabe”, de modo que, conclui, “assoma para o Impetrante a sua manifesta
ilegitimidade de parte passiva, o que faz tornar inócua, destituída de valor jurídico a decisão
prolatada, uma vez que a parte indicada não é a titular do direito invocado na ação. Sendo a
parte ilegítima, como efetivamente o é, a decisão não produzirá efeito algum. A parte
ilegítima não está obrigada a cumpri-la”.

Argumenta, ainda, que a decisão do Juízo da 3ª Vara do Trabalho de Aracaju, a conceder tutela
de urgência, “interfere em área de competênciado Governo Estadual, que já regulara o
funcionamento das atividades durante esse período de isolamento
/distanciamento social, como se veem prescritas nos Decretos já editados e mencionados na
peça inaugural”.

Sustenta que, acaso “desacolhida qualquer das preliminares suscitadas anteriormente, no que
não se crê, verá esse Sodalício a identidade entre a Ação
Civil Pública originária e aqueloutra que tramita pela 1. ª Vara da Secção Judiciária do
Estado de Sergipe. Junto com esta inicial, cuidamos em colacionar cópias da inicial, da
decisão indeferitória da tutela de urgência, e, bem assim, da decisão do Desembargador do TRF
da 5. ª Região, que, mantendo a decisão da Origem, indeferida a tutela recursal”.

Por fim, argui que, diante das “tentativas dos Autores da ação originária em induzir a erro o juiz,
pois depois da malograda ação proposta perante a Justiça Federal, insurgem, desta feita, com
idêntica ação, buscandoos mesmos fins, eis que impulsionados pelos mesmos objetivos, quais
sejam, os de impedir a atividade da construção civil no Estado de Sergipe”, pretende seja
declarada a má-fé e deslealdade processual dos Autores da ACP.

Destarte, pugna o Impetrante pela concessão de medida liminar para que seja sustada a Decisão
do Juízo da 3ª Vara do Trabalho de Aracaju, em tutela de urgência, nos Autos da Ação Civil
Pública tombada sob número 0000289-43.2020.5.20.0003.

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Foram apensados a estes Autos os Mandados de Segurança MS-0000105-96.2020.5.20.000,
ajuizado pela ASEOPP – ASSOCIAÇÃO SERGIPANA DOS EMPRESÁRIOS DE OBRAS
PÚBLICAS E PRIVADAS; MS-0000106-81.2020.5.20.0000, ajuizado pela ESSENCIAL
TRANSPORTE & CONSTRUÇÕES LTDA – ME, e MS-0000107-66.2020.5.20.0000, ajuizado
pelo ESTADO DE SERGIPE, esses dois últimos redistribuídos por conexão, todos impetrados
por terceiros interessados e envolvendo a mesma matéria.

A Decisão exarada pela autoridade dita coatora assim estabeleceu:

“O MINISTÉRIO PÚBLICO, por todos os seus ramos de atuação no Estado de Sergipe, propõe a
presente Ação Civil Pública em face de SINDUSCON SINDICATO DA INDUSTRIA DA
CONSTRUCAO CIVIL NO ESTADO DE SE, com pedido de tutela de urgência, com escora nos
arts. 4º e 12 da Lei n.º 7.347/85, do artigo 84, § 3.º da Lei 8.078/90, aplicável à Ação Civil Pública
por força do disposto no artigo 90 do Código de Proteção e Defesa do Consumidor e do artigo 21
da Lei da Ação Civil Pública, e ainda dos artigos 300 e 497, parágrafo único do Código de
Processo Civil em vigor, aplicável à Ação Civil Pública por força do artigo 19 da Lei 7.347/85 c/c
o artigo 1.046 § 4.º da Lei 13.105/2015.

Relata que “o Estado de Sergipe vem editando Decretos, sem embasamento de dados
científicos, permitindo a liberação de atividades em detrimento do isolamento social.”,
ressaltando ainda ser “ (…) absolutamente relevante ter em conta que o Estado, em nenhum
momento, apresentou ao Ministério Público ou à sociedade os estudos decenário de que dispõe
(se é que dispõe) para que possa fundamentar a afirmação de que o sistema de saúde está
equipado para enfrentar a pandemia e, com base nisso, liberar atividades não essenciais que
antes estavam proibidas (indústria não essencial e parte do comércio não essencial).” .

Assevera que em função disto “as empresas da construção civil vêm desenvolvendo atividade
em desconformidade com a Constituição Federal, com as normas internacionais e com o
panorama normativo e científico da situação da pandemia COVID-19.”.

Apresenta minuciosa narrativa em relação aos dados epidemiológicos disponíveis, salientando a


forte condição de subnotificação dos casos, seja em razão da ausência de transparência, seja
em razão da ausência de realização de testes em quantitativos razoáveis ou com resultado hábil
ao acompanhamento em tempo real. Nesse sentido, afirma que “A liberação das atividades não
essenciais de construção civil ocorreu sem o cumprimento de

condicionantes mínimos: a flexibilização de medidas de distanciamento social já adotadas pelo


ente público antes de cumpridos os parâmetros técnicos estipulados pelo Ministério da Saúde, no
exercício da coordenação geral da política sanitária de contenção da epidemia, em orientação
aos entes federativos (…)”.

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Por fim, arremata que “sem uma testagem em massa da população, a fim de saber não só a real
quantidade de pessoas infectadas, mas também o número preciso de mortes por covid-19,
qualquer medida de relaxamento de isolamento social se mostra, no mínimo, irresponsável.”.

Assim, requer a concessão de tutela de urgência a fim de que o demandado abstenha-se de


“realizar atividades enquanto durar o período de quarentena (sic – distanciamento social)
determinado pelas autoridades, afastando do trabalho todas as trabalhadoras e trabalhadores,
incluindo aprendizes, estagiários, autônomos, eventuais, etc., salvo nos casos de construção e
manutenção de hospitais e unidades de saúde, de serviços policiais e do corpo de bombeiros,
além de outros serviços elencados pela legislação como essenciais, ou para a realização de
serviços urgentes que podem provocar danos estruturais, sob pena de pagamento de multa
diária de 500.000,00 (quinhentos mil reais) em caso de descumprimento.”.

Os autos vieram conclusos para apreciação do pedido.

É O RELATÓRIO. DECIDO.

A tutela de urgência é o remédio jurídico que serve para emprestar autoexecutoriedade às


decisões interlocutórias, buscando uma maior efetividade na prestação jurisdicional. Para
concessão dessa "tutela de segurança", especificamente na Ação Civil Pública, necessário se
faz, a presença dos elementos que evidenciem a relevância do fundamento da demanda e o
justificado receio de ineficácia do provimento final, requisitos previstos no artigo 84 § 3.º do
Código de Defesa do Consumidor. Aplica-se ainda o artigo 300 do CPC que exige a
demonstração da probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo. Em verdade, o segundo requisito confunde-se com o justificado receio de ineficácia do
provimento final, não sendo necessário discorrer separadamente acerca de sua existência.

Neste sentido, a opinião de Cassio Scarpinella Bueno, em Novo Código de Processo Civil
Anotado:

"A concessão da 'tutela de urgência' pressupõe: (a) probabilidade do direito e (b) perigo de

dano ou o risco ao resultado útil do processo (art. 300, caput). São expressões redacionais

do que é amplamente consagrado nas expressões latinas fumus boni iuris e periculum in mora,
respectivamente. (...) A 'tutela de urgência' pode ser concedida liminarmente, isto é, no início do
processo e sem a oitiva prévia da parte contrária, ou após justificação prévia (art. 300, § 2º). A

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justificação prévia, cabe anotar, é alternativa àqueles casos em que os pressupostos para a
concessão da tutela de urgência não são passíveis de demonstração com a própria petição
inicial (prova documental, ata notarial ou estudo técnico), sendo o caso, por exemplo, de ouvir
testemunhas ou o próprio requerente da medida, o que merece ser justificado na própria petição
em que é formulado o pedido. Nesta hipótese, o mais correto não é indeferir o pedido de tutela
de urgência, mas designar a referida audiência para colheita da prova. De acordo com o § 3º do
art. 300, 'a tutela de urgência, de natureza antecipada, não será concedida quando houver perigo
de irreversibilidade dos efeitos da decisão'. Trata-se de previsão que se assemelha ao § 2º do
art. 273 do CPC atual e do 'pressuposto negativo' para a antecipação da tutela a que se refere
aquele artigo e que estava prevista no art. 302 do Projeto da Câmara e, felizmente, sem par no
Projeto do Senado. Deve prevalecer para o § 3º do art. 300 do novo CPC a vencedora
interpretação que se firmou a respeito do § 2º do art. 273 do CPC atual, única forma de contornar
o reconhecimento de sua inconstitucionalidade substancial: a vedação da contornar o
reconhecimento de sua inconstitucionalidade substancial: a vedação da concessão da tutela de
urgência nos casos de irreversibilidade não deve prevalecer nos casos em que o dano ou o risco
que se quer evitar ou minimizar é qualitativamente mais importante para o requerente do que
para o requerido. Subsiste, pois, implícito ao sistema - porque isso decorre do 'modelo
constitucional' - o chamado 'princípio da proporcionalidade', a afastar o rigor literal desejado pela
nova regra.". (São Paulo: Saraiva, 2015. p. 219).

É fato público e notório que o país atravessa situação de calamidade pública reconhecida tanto
em âmbito Federal como no âmbito do Estado de Sergipe. No país já foram confirmados 105.222
casos de infecção com 7.288 fatalidades (https://covid.saude.gov.br/ consulta realizada em 04/05
/2020 às 18h30). No estado de Sergipe já são 772 os casos confirmados de infecção e 17 óbitos,
cujo índice de propagação avança exponencialmente. As informações levantadas junto ao
Ministério da Saúde dão conta ainda de uma taxa de incidência na população do Estado de
Sergipe da ordem de 336 casos por milhão de habitantes e mortalidade em 7%.

É dever das autoridades constituídas evitar o agravamento dos casos e a sobrecarga do sistema
de saúde, que poderá perder a capacidade de atendimento não apenas dos casos relacionados
ao Covid-19, mas em relação a outros casos graves que demandem atendimento. A medida de
urgência pleiteada neste caso, possui o efeito não apenas de impedir a contaminação dos mais
de 9.000 trabalhadores da categoria, mas, principalmente, de evitar que algum desses
trabalhadores portador assintomático do vírus venha circular reduzindo portanto a velocidade de
propagação do vírus, haja vista que atualmente estima-se (https://mrcide.github.io/covid19-short-
term-forecasts/index.html) que a taxa de propagação do vírus esteja em torno de 2,8 novos
infectados a cada doente, com o número de novos casos duplicando a cada 5 dias, em média.

Dados levantados pela Fiocruz (disponível em https://portal.fiocruz.br/noticia/ritmo-do-


crescimento-de-mortes-por-covid-19-aumenta-em-estados-como-ma-rs-e-se) apontam que o

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Estado de Sergipe é o estado da federação que apresentou o maior ritmo de crescimento no
número de mortos por COVID-19 no Brasil, passando de uma duplicação no número de
fatalidades a cada 12 dias para cada 06 dias, o que representa vertiginosa elevação. Há que se
ter em vista ainda a reduzida capacidade de absorção do sistema de saúde, haja vista a
quantidade de leitos disponíveis para internamento, o que representa grave risco à saúde pública.

O perigo de dano evidencia-se face ao princípio da prevenção, considerando a relevância e


inviolabilidade do direito à vida, à dignidade e à integridade física do trabalhador, tendo em vista
ainda que os danos causados poderão ser irreversíveis, tratando-se assim de danos irreparáveis,
evidenciando-se ainda, pelos mesmos motivos a relevância do fundamento da demanda.

No que se refere à irreversibilidade da medida, a vedação legal não é absoluta, devendo ser
apreciada em conformidade com os Princípios Constitucionais Sociais, que regem o Direito do
Trabalho, aplicando-se o enunciado 25 do Fórum Nacional de Processo do Trabalho, realizado
em Curitiba/PR, nos dias 04 e 05 de março de 2016:

“ART. 769 DA CLT E ART. 300 DO NCPC. TUTELA DE URGÊNCIA. PERIGO DE


REVERSIBILIDADE. A natureza e a relevância do direito em discussão na causa podem afastar
o requisito da inexistência de perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão, quando da
concessão de tutelas de urgência (art. 769 da CLT c/c art. 300, §3º do NCPC). Resultado:
aprovado por maioria qualificada.”

Este requisito não está presente somente no caso de concessão da medida, em razão da
possibilidade do não se poder ressarcir os danos financeiros suportados pela empresa com a
suspensão das atividades não essenciais, na hipótese de improcedência da decisão final de
mérito; mas, também, no seu indeferimento, pois a continuidade das atividades, além de
representar grave risco à saúde e à vida dos empregados pode tornar inócua a medida sanitária
pretendida com o intuito de interromper a circulação do vírus. É a chamada irreversibilidade
recíproca, conforme lição do Prof. Alexandre Freitas Câmara (in Lições de Direito Processual
Civil - Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2004, Vol I, p. 384), in verbis:

“Uma interpretação apressada da norma nos levaria a concluir que, havendo risco de que a
antecipação da tutela jurisdicional acarretasse efeitos irreversíveis, tal antecipação seria
terminantemente proibida. Esta, porém, não é a melhor exegese. Isto porque há casos ainda
mais graves do que seu deferimento. Pense-se, por exemplo, numa hipótese em que a
antecipação da tutela se faça necessária para que se realize uma transfusão de sangue, ou uma
amputação de membro. Ambos os casos revelam provimentos jurisdicionais capazes de produzir
efeitos irreversíveis. Ocorre que o indeferimento da medida, nos exemplos citados, provocaria a
morte da parte, o que é - sem sombra de dúvida – também irreversível.”

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Nestas hipóteses, estar-se-á diante de verdadeira “irreversibilidade recíproca”, caso em que se
faz possível a antecipação da tutela jurisdicional. Diante de dois interesses na iminência de
sofrerem dano irreparável, e sendo possível a tutela de apenas um deles, caberá ao juiz proteger
o interesse mais relevante, aplicando-se o princípio da proporcionalidade, o que lhe permite,
nestas hipóteses, antecipar a tutela jurisdicional (ainda que, com tal antecipação, se produzam
efeitos irreversíveis).

Neste sentido, o E STF já decidiu no julgamento do MS nº 23.452, Rel. Min. Celso de Mello:

[...] OS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS NÃO TÊM CARÁTER ABSOLUTO. Não há, no
sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantias que se revistam de caráter absoluto,
mesmo porque razões de relevante interesse público ou exigências derivadas do princípio de
convivência das liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a adoção, por parte dos
órgãos estatais, de medidas restritivas das prerrogativas individuais ou coletivas, desde que
respeitados os termos estabelecidos pela própria Constituição. O estatuto constitucional das
liberdades públicas, ao delinear o regime jurídico a que estas estão sujeitas - e considerado o
substrato ético que as informa - permite que sobre elas incidam limitações de ordem jurídica,
destinadas, de um lado, a proteger a integridade do interesse social e, de outro, a assegurar a
coexistência harmoniosa das liberdades, pois nenhum direito ou garantia pode ser exercido em
detrimento da ordem pública ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros. [...] (MS
23452, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 16/09/1999, DJ 12-05-
2000 PP-00020 EMENT VOL-01990-01 PP-00086)

A fim de que não se dê margem a dúvidas, repise-se que, na ponderação de valores, esse Juízo
opta pela preservação da saúde dos trabalhadores e a segurança sanitária da sociedade como
um todo, visando tornar efetivo o fundamento constitucional da República Federativa do Brasil
insculpido no inciso III do artigo 1º da Carta Magna, qual seja, a dignidade da pessoa humana.
Portanto, cabe ao Magistrado proteger o interesse mais relevante, com base no princípio da
proporcionalidade. Além disso, a medida se mostra efetivamente necessária, considerando que a
ausência de providência efetiva no sentido de reduzir a propagação do vírus importará na
necessidade de adoção de medidas restritivas ainda mais gravosas e prejudiciais como já vem
ocorrendo em outros Estados da Federação. No caso sub judice, ENTENDO que a suspensão
das atividades da ré é medida necessária a garantir a incolumidade física dos trabalhadores e da
sociedade em geral.

Em razão do exposto, CONCEDO a tutela de urgência, para determinar que a demandada,


por suas representadas, ABSTENHA-SE DE IMEDIATO de realizar atividades enquanto
durar o período de distanciamento social (ampliado ou seletivo) determinado pelas
autoridades, afastando do trabalho todas as trabalhadoras e trabalhadores, incluindo
aprendizes, estagiários, autônomos, eventuais, etc., salvo nos casos de construção e
manutenção de hospitais e unidades de saúde, de serviços policiais e do corpo de
bombeiros, além de outros serviços elencados pela legislação como essenciais, ou para a

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realização de serviços urgentes que podem provocar danos estruturais, sob pena de
pagamento de multa diária de 500.000,00 (quinhentos mil reais), em caso de
descumprimento, sem prejuízo da responsabilidade civil, administrativa e penal em caso
de recalcitrância do gestor responsável. Os valores serão revertidos, após consulta à
comunidade e cadastramento de órgãos e entidades, a instituições ou programas/projetos
públicos ou privados, de fins não lucrativos, que tenham objetivos filantrópicos a serem indicados
pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO, preferencialmente para a utilização na aquisição
de insumos e equipamentos para o combate à epidemia do COVID-19 no Estado de Sergipe. Noti
fique-se as partes, por Oficial de Justiça com URGÊNCIA. O Ministério Público será
notificado via sistema, observadas as prerrogativas legais, para ciência desta decisão”.

Analisa-se.

No sempre sábio ensinamento do Mestre Hely Lopes Meirelles (in "Mandado de Segurança,
Ação Popular, Ação Civil Pública, Mandado de Injunção, 'Habeas Data', Ação Direta de
Inconstitucionalidade, Ação Declaratória de Constitucionalidade e Argüição de Descumprimento
de Preceito Fundamental", 23ª Edição atualizada, 2001, Editora Malheiros, p. 73), cujas diretrizes
e bases principiológicas mantém-se atualizadas no novo código processual civil de 2015, "a
medida liminar é provimento cautelar admitido pela própria lei de mandado de segurança,
quando sejam relevantes os fundamentos da impetração e do ato impugnado puder resultar a
ineficácia da ordem judicial, se concedida a final (art. 7º, II). Para a concessão da liminar devem
concorrer os dois requisitos legais, ou seja, a relevância dos motivos em que se assenta o pedido
na inicial e a possibilidade da ocorrência de lesão irreparável ao direito do impetrante, se vier a
ser reconhecido na decisão de mérito - fumus boni iuris e periculum in mora".

Percebe-se, portanto, que a concessão da medida de urgência há de ser precedida de criteriosa


análise, sob a luz do equilíbrio e bom senso, na exata medida em que deve sopesar a
probabilidade do direito perseguido e o eventual perigo de um dano ou, ainda, risco ao resultado
útil do processo.

O Juiz do Trabalho e Professor Manoel Antônio Teixeira Filho (in "Mandado de Segurança na
Justiça do Trabalho - Individual e Coletivo", Ed. de 1993, Editora LTr, p. 206), preleciona que "a
relevância do fundamento do pedido, porém, segundo entendemos, decorre não da eventual
excelência do direito que se procura proteger e sim das conseqüências oriundas da lesão
causada ao direito pelo ato da autoridade, ou das conseqüências que advirão na hipótese de a
ameaça de violação consumar-se. Atendendo a esses elementos objetivos, estará o juiz
autorizado a exercitar o seu poder discricionário, deferindo, ou não, a liminar".

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Em outras palavras, o mesmo afirma Cristóvão Piragibe Tostes Malta (in "Prática do Processo
Trabalhista", 33ª edição, 2006, Editora Ltr, p. 655): "o deferimento da liminar, e bem assim o
indeferimento do pedido de que seja deferida a liminar entram no arbítrio do juiz, que despachará
segundo sua impressão pessoal sobre a providência adequada".

Trata-se, pois, de avaliação em que sobressaia a prevalência do bom direito frente à violação de
direito líquido e certo e ocorrência de dano irreparável pela mora.

De início, descabe falar-se em incompetência da Justiça do Trabalho para processar e julgar a


ACP 0000289-43.2020.5.20.0003, já que esta se atrela à proteção dos trabalhadores ante a
Pandemia causada pelo novo corona vírus, inserindo-se no permissivo do artigo 114, da
Constituição Federal.

Também, descabe a pretensão de ilegitimidade passiva do ora Impetrante, já que se trata de


Sindicato que congrega empresas da construção civil.

Por fim, não há que se falar na existência de continência com a ACP 0801544-
24.2020.4.05.8500, da 1ª Vara da Justiça Federal de Sergipe, ante as especificidades da ACP
0000289-43.2020.5.20.0003, envolvendo relação laboral.

A análise da controvérsia está atrelada à situação anômala vivenciada pela sociedade em face
da pandemia que assola o mundo, decorrente da Covid-19, e a preocupação das autoridades em
conseguir prover, em virtude da rápida disseminação da doença, um mínimo de estrutura médica
para socorrer os doentes, atentando-se que até o momento não se tem conhecimento de
remédio eficaz ou vacina, para se contrapor ao avanço da moléstia.

Com efeito, vivemos atualmente com uma pandemia global, causada pelo novo coronavírus
(COVID-19), doença que se proliferou pelo mundo, causando perdas de vidas humanas e
abalando a economia, com a OMS, em 30 de janeiro de 2020, declarando Emergência de Saúde
Pública de Importância Internacional (ESPII), o mais alto nível de alerta da Organização, previsto
no Regulamento Sanitário Internacional, conforme noticia o site https://nacoesunidas.org/oms-
declara-coronavirus-emergencia-de-saude-publica-internacional/. No Estado de Sergipe, o
aumento exponencial de casos do novo corona vírus foi destaque recente na imprensa nacional.

Neste sentido, a Organização Mundial de Saúde vem orientando os governos para a


necessidade do isolamento social visando o achatamento da curva de contágio e mortes
consequentes, medida essa que vem surtindo efeito quando devidamente aplicado, atentando-se
que há necessidade de se manter em funcionamento aquelas atividades econômicas que se
mostram essenciais, já que necessárias à manutenção vital da comunidade atingida.

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Certo que entendendo que a atividade econômica se reveste de extrema importância no
equilíbrio da sociedade como um todo, não menos certo é que o momento é de extrema
gravidade, sendo dever das autoridades constituídas estabelecerem mecanismos que visem
evitar a configuração de uma tragédia social pelas mortes sem a devida assistência médica.

Neste cenário, surge a discussão, ora em análise, sobre o fechamento de estabelecimentos e


serviços durante o período do isolamento causado pela pandemia. Na União, nos Estados e
Municípios surgiram Leis, Medidas Provisórias e Decretos tratando do tema, e estabelecendo,
em comum, o funcionamento de atividades e serviços considerados “essenciais”. No Estado de
Sergipe foi publicado o Decreto nº 40.567, de 24.03.2020, que em seu artigo 3º estabeleceu que
as atividades relativas ao setor industrial e de construção civil, em todo o Estado de Sergipe,
poderiam ser realizadas desde que observadas, de forma obrigatória, determinações que ali
especificou.

Na esfera da União Federal, a expressão “atividades essenciais” consta na Medida Provisória


(MP) 926, de 2020, regulada pelo Decreto nº 10.282, publicado no mesmo dia da MP. O Decreto
definiu como atividades essenciais aquelas “indispensáveis ao atendimento das necessidades
inadiáveis da comunidade, assim considerados aqueles que, se não atendidos, colocam em
perigo a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população”. Portanto, atividades ou serviços
essenciais seriam os que necessitam, de forma excepcional, manter seu funcionamento, mesmo
ante o isolamento social e a quarentena, de modo que o isolamento cede lugar a situações que
expõe a população a risco na sua segurança, saúde e sobrevivência. Perceba-se que os serviços
e atividades considerados essenciais estão diretamente ligados às necessidades básicas da
coletividade, tendo lastro na supremacia do interesse público em face do privado.

Lembre-se que o direito à vida vem em primeiro lugar na sequência de direitos individuais, sendo
pressuposto para os demais direitos. Isso significa que não faria sentido declarar a existência dos
demais direitos fundamentais se não fosse garantido o direito à vida.

Assim, na análise da essencialidade dos serviços deverá se atentar para a sua inadiabilidade, já
que um serviço poderá ser considerado essencial mas não ter características de inadiável, e
sempre atrelada ao bem maior a ser protegido, que é a vida, cuja proteção é albergada no artigo
5º, caput, da Carta Magna.

No caso específico do Estado de Sergipe, e como constante na Decisão atacada, Dados


levantados pela Fiocruz (disponível em https://portal.fiocruz.br/noticia/ritmo-do-crescimento-de-
mortes-por-covid-19-aumenta-em-estados-como-ma-rs-e-se) apontam que o Estado de Sergipe é
o estado da federação que apresentou o maior ritmo de crescimento no número de mortos por
COVID-19 no Brasil, passando de uma duplicação no número de fatalidades a cada 12 dias para
cada 06 dias, o que representa vertiginosa elevação, não se tendo conhecimento que o sistema
de saúde esteja capacitado para absorver tal crescimento de casos.

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Atente-se que o alegado desrespeito, pelo Judiciário, à independência e à harmonia dos
poderes, pelo Impetrante, não se configura, até porque nos atos normativos dos poderes
executivos há a previsão de serviços essências, cabendo ao Judiciário promover a análise de tal
pertinência ante a grave situação, aqui frisando que tal análise, como anteriormente tratado,
deverá levar em conta o binômio necessidade/inadiabilidade, e sempre atrelado ao bem maior,
que é a vida.

Registre-se, e aqui atrelado às obras de construção civil, especificamente com respeito à


Decisão hostilizada, vê-se que ali fora ressalvado os casos de construção e manutenção de
hospitais e unidades de saúde, de serviços policiais e do corpo de bombeiros, além de outros
serviços elencados pela legislação como essenciais, ou para a realização de serviços urgentes
que podem provocar danos estruturais.

Cabe realçar que o isolamento social e a quarentena, indicadas pelas autoridades sanitárias, são
medidas de emergência, com prazo determinado, como forma de evitar a propagação do Covid-
19, em respeito ao bem jurídico maior, a preservação da vida, de modo que a definição de
serviços e atividades essenciais não lhe sobrepõe, sendo que o funcionamento e abertura de
estabelecimentos, serão analisadas em função do objetivo maior, de defesa da vida humana,
sempre atentando, nesse momento, para a possibilidade de retomada da normalidade.

Destarte, por entender que a Decisão atacada se mostra, ante a grave situação por qual passa o
Estado de Sergipe, em face da Covid-19, com cunho de razoabilidade, é de se denegar, no
momento, a medida liminar perseguida, mantendo-se a Decisão do Juízo da 3ª Vara do Trabalho
de Aracaju, em tutela de urgência, nos Autos da Ação Civil Pública tombada sob
número 0000289-43.2020.5.20.0003.

Deverá ser oficiada a Secretaria de Estado da Saúde do Estado de Sergipe para informar a este
Juízo, neste momento e a cada 05 (cinco) dias, a situação do Estado relacionado à Covid-19, em
dados, seu avanço e a situação da rede hospitalar disponível para atender a demanda existente,
envolvendo leitos disponíveis em UTI – Unidade de Terapia Intensiva.

Intime-se o Impetrante do presente Mandamus, assim como os dos Mandados de Segurança a


estes Autos apensados, para tomar conhecimento do inteiro teor da presente Decisão.

Intimem-se os Litisconsortes Necessários.

Cientifique-se desta o Juízo da 3ª Vara do Trabalho de Aracaju.

Dê-se ciência à Presidência deste Egrégio TRT.

ARACAJU/SE, 09 de maio de 2020.

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JOSENILDO DOS SANTOS CARVALHO
Desembargador Federal do Trabalho

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https://pje.trt20.jus.br/pjekz/validacao/20050909273403700000005245143?instancia=2
Número do processo: 0000110-21.2020.5.20.0000
Número do documento: 20050909273403700000005245143

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