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Sumário
COU 320.01 I
I SEGUNDA PARTE
Bibliotecária: Eliane fvt S. .Jovancv.ch eRa 91'1250
ESTADO E DEMOCRACIA NA MUNDIALIZACÃO
V Mundialização, imperialismo e Estado-nação : ~161
VI. O Estado no centro da mundialização _ 179
Todos os direitos reservados.
VII. O Estado no capitalismo dependente 205
Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada
VIII. A transição para a democracia na América Latina 239
ou reproduzida sem a autorização da editora.
IX. A ingovernabilidade da democracia: crítica
P edição: outubro de 2014 a um discurso conservador 285
2" edição revista e ampliada.junho de 2019
TERCEIRA PARTE
ESTADO, SOCIEDADE CIVIL E PODER POLÍTICO
EXPRESSÃO POPULAR
X. As fronteiras entre o Estado e a sociedade civil 307
Rua Abolição, 201 - Bela Vista
XI. A sociedade civil e a questão do poder e
CEP 01319-010 - São Paulo - SP
Te!: (11) 3112-0941/3105-9500
da revolução : 325
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Bibliografia 345
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VII. O ESTADO NO
CAPITALISMO DEPENDENTE
Introdução
Nas próximas páginas buscaremos destacar as particulari-
dades do Estado no capitalismo dependente, revelar algumas
de suas características em diferentes momentos do processo
econômico/político da região, como no período da industria-
lização, com suas diferentes etapas, e a posterior instauração
do Estado de contrainsurgência ..
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!
do sistema' mundial capitalista. :Ele é caracterizado pelas subordinad~ com o capital estrangeiro ou então pelos
relacões restritas de soberania fre~te a formações econômí- investimentos diretos de capital - provocam uma redu-
co-s'ociais e regiões que apresentàm exercícios mais plenos zida expansão das classes, frações e setores das classes
em termos de soberanias - na medida em que são Estados dominantes: A debilidade na estrutura de tais classes e a
desenvolvidos, centrais e imperialistas. Este exercício desi- acumulação de contradições do sistema mundial capitalista
gual da soberania no interior do sistema mundial capitalista nas zonas periféricas e dependentes- - o que implica debili-
é uma característica estrutural, processo que se acentua dades estruturais do Estado e do sistema de dominação no
ou se atenua em diferentes períodos históricos, mas que capitalismo dependente - são compensadas pelo peso das
provoca no Estado do capitalismo dependente relações de dimensões autoritárias do Estado e do governo, mesmo sob
feições democráticas, e pela internalização no - epor parte
subsoberania.
Entre outras coisas, a dimensão subsoberana do Es- do - Estado dependente das relações de poder de Estados e
tado do capitalismo dependente implica a subordinação/ capitais centrais e imperialistas.
associação do capital e das classes dominantes locais frente A debilidade estrutural das classes dominantes e a su-
ao capital e às classes soberanas do mundo desenvolvido e bordinação dependente exige que o Estado do capitalismo
imperialista, situação que .não deve ser interpretada como dependente opere como uma relação social condensada de
um obstáculo, mas, ao contrário, como uma condição de enorme relevância. A debilidade produtiva do capitalismo
vida das classes dominantes locais, o que não exclui pos- dependente tem seu correlato no forte intervencionismo es-
síveis conflitos. tatal, como força para impulsionar os projetos hegemônicos,
Este duplo processo provoca o enfraquecimento ou a mesmo em situações em que a política econômica e o discurso
ausência nas classes dominantes do capitalismo dependente predominante pretendam apontar para o fim da intervenção
_ pelo menos em seus setores mais poderosos - de projetos estatal. A matriz Estadocêntrica é de particular importância na
autônomos de desenvolvimento e de projetos nacionais.
Seus projetos operam em condições de subordinação - e
I Teoricamenre é possível imaginar a possibilidade de que nesse processo político
associação - aos capitais desenvolvidos e imperialistas que sejam rna ntidas alianças táticas com setores burgueses hoje subordinados
dentro do bloco no poder, mas o caráter e o sentido daquele processo
predominam em diversos momentos históricos. Esta situa-
necessariamenre devem ser populares.
ção está na base do fato de que, no capitalismo dependente, 2 Lenin sintetizava esta situação com a noção de "elos débeis da cadeia
todo projeto político soberano deve necessariamente assumir imperialista".
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o ESTADO NO CAPITALISMO DEPENDENTE
Sobre este tema, ver Ruy Mauro Marini, Dialéctica de Ia dependência. México:
vastados por forças que não conhecem nem controlam -, as
autoridades estatais e o aparato de Estado ernerzern
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como um
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refúgio nos quais - e com os quais - seria possível se proteger.
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Era, 1973. (Ed. bras.: João Pedro Stedile e Roberta Traspadini (orgs.). Ruy
Mauro Marini: uida e obra. São Paulo: Expressão Popular, 2005. Fenômenos políticos como o caudilhismo e de lideran-
Sobre o tema, ver de Cada Ferreiri, Jaime Osorio e Mathias Luce (orgs.), ças populistas, tão comuns na história política regional, são
Padrão de reprodução do capital. São Paulo: Boitempo, 2012. 1
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o ESTADONOCAPITALISMO
DEPENDENTE
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servicos, favorecendo sua aproximação com os novos projetos
caracterizou o processo em sua primeira etapa, para privilegiar
de desenvolvimento e, em maior ou menor medida, com os
uma industrializaçáo seletiva e concentrada, na qual os novos
,. acordos e alianças políticas que fortalecem tais projetos.
ramos industriais passariam a ocupar um lucar central'
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Fundamentalmente, a forma e as funções do Estado de- • I:J •
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interno", em Saúl Osorio e Berenice Ramírez (coords.), Segundad o msegundad Sobre es~e pOnto, ver Adolfofigueroa, "Equidad, inversión extranjeta y
social: los riesgos de la reforma. México: Triana Editores/Unam, 1997, p. 191. competltlvIdad internacIOnal, Revista de !a Cepa!, n. 68, Santiaao azosto
de 1998. e ' '"
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.~ Mudanças na correlação de forças entre classes internacionais do trabalho, novas revoluções científico-
-tecnológicas, junto à redução dos salários, incrementos
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Severas derrotas do mundo do trabalho
Desde a década de 1970, vivenciamos uma série de pro-
cesses que expressam e aceleram a mudança na correlação de
forças em escala mundial e regional entre capital e trabalho
das jor~adas de trabalho e instabiÚdade dos empregos,
como formulas para resolver a tendência de longa duração
à queda da taxa de lucro.
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~ t mbérn pela demanda de pecas industriais diri- enfraquecimento dos governos progressistas e dos governos
expansao, e a '
zidas aos Estados Unidos. . populares. Sem desconhecer a importância desses elementos,
t:> Além dos casos mais emblemáticos de governos desse tlpO considero que não se deu suficiente peso às razões internas ~m
. c omo os encabecados
- taIS ., por Luiz Inácio Lula da Silva, no .relação ao que tais governos fizeram e deixaram de fazer no
Brasil e por Néstor é Cristina Kirchner, na Argentina -, em sentido de alimentar suas fragilidades.
rerrnos diversos uma série de outras forças e lideranças com . Para o caso dos chamados governos progressistas, e em
graus muito diferentes no aspecto progressista triunfam n~ particular para os casos do Brasil e da Argentina, um tema
Paraguai, no Uruguai, no Chile., em ~o~duras, no Pan~~a central reside no predomínio de projetos políticos que privile-
! e em EI Salvador, o que permitiu a cnaçao de um~ polmca giaram a conciliação de classes, isto é, que visavam promover
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exterior com dimensões regionais disputando maior ~u:o-
nomia frente aos Estados Unidos, com acordos comerciais e
financeiros intrarreglOnaIs
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.
programas para melhorar as condições de vida particularmente
situadas na pobreza, elevar salários, gerar empregos (com aber-
tura de novas universidades, por exemplo), e outras políticas
sociais que beneficiaram camadas da classe trabalhadora e da
1\> . Razões do esuotamento político
Não se ;ode desconhecer o papel que tiveram os Estados
pequena burguesia assalariada, ao mesmo tempo mantendo,
quando não aumentando, importantes privilégios das frações
f. e os capitais do mundo desenvolvido, aliados ao~ ~etores das e setores mais poderosos do capital, com projetos tímidos ou
! classes dominantes locais, em sua busca por debllltar, qu~~- mesmo nulos em capacidade de reter sequer uma pane de seus
I do não defenestrar, os processos políticos gestados na reglao volumosos lucros.
i !; naquele período. A destituição dos presidentes de H~nduras e
~ l' Esses projetos políricos não poderiam gerar outro efeito
do Paraguai e da presidenta do Brasil, em tempos dIferentes, senão fragilizar os governos no curto e médio prazo, devido à
não são alheias ao que foi anteriormente apontado, e o mesmo dificuldade de conciliar interesses divergentes de classe frente
vale para as manobras golpistas na Bolívia, na Venezuela e no a demandas e pressões sociais contraditórias. Esta é razão por
Equador. . . trás da perda de apoios sofrida pelos governos progressistas
Igualmente importante e muito enf~~tlza.do fOI o ~m ~o de diferentes matizes, que acabaram se agudizando quando
excepcional período econômico que a reglao viveu na pn.meua a capacidade de sustentar a conciliação se reduziu diante da
década deste século como elemento-chave para expl icar o queda na entrada de divisas captadas pelas exportações.
Se à política de conciliação se somam as denúncias por
II
' . C I' bia o Peru e o Chile, os
Processos dos quais se excluem o M eXiCO,a o om .' .. corrupçâo", é compreensível a desmohilização e distancia-
dois rimeiros pela presença de forças tradicionais ou direitísras nos governos
e o ~hile pela forte dependência comercial com os Estados Unidos ness~:
anos e por manter distância de experiências que possam lembrar os anos 11 Não se trata de que não tenha havido corrupçáo: mas a ofensiva midiárica local
Unidade Popular, apesar de que lideranças tenham chegado ao governo. e internacional para rrarar o tema mosrra que a cruzada contra a corrupção
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rnento dos setores populares quando o Congresso destituiu a sociais acabam sendo delimitadas a esses tempos e espaços, o
presidenta Dilma Rousseff no Brasil, ou frente à derrota elei- que provoca desgaste, esgotamentos e recuos.
toral das forças kirchneristas nas eleições presidenciais na Ar- Em tais condições; os setores dominantes desenvolvem
gentina. Posteriormente se geraram importantes mobilizações uma guerra de desgaste, já que a própria institucionalidade
e protestos, mas não foram capazes de ocult~r o sintomático imperante e o aparato de·.Estado consistem em travas à marcha
recuo e a desmobilização iniciais. de processos e projetos de ruptura. Ninguém pode ignorar
Os chamados governos populares, apesar de diferenças o tanto que foi realizado por aqueles governos. A pergunta-
importantes, compartilham, por sua vez, debilidades substan- -chave, porém, é: não contavam com força social suficiente
ciais da própria concepção do que tais governos consideram para tarefas maiores? Pois não alcançar metas maiores pode
representar e expressar". Existe o erro comum de assumir a ter como consequência que muito do conseguido se perca com
vitória eleitoral como conquista do poder político, ou mesmo novas autoridades no governo. É o que acontece atualmente no
como parte de um processo que vai nesta direção, e que se Equador, após o triunfo de Lenin Moreno, com seu distancia-
alcançará na medida em que se mantenham essas vitórias e mento de Rafael Correa e suas ofensivas contra as conquistas
se avance posições no aparato de Estado. Em algum momen- da chamada revolução cidadã.
to - supõe-se - se produzirá um ponto de bifurcação. E isso Atados à rota estabelecida, o desgaste político dos gover-
ocorrerá sem necessidade de romper com a institucionalidade nos populares aparece como um caminho previsível. É neste
quadro que incide a queda dos preços das exportações e os
irnperante'".
Essa ideia matriz acaba condicionando tudo, na medida em recursos dos governos, mas não é esta a razão de fundo de
que o acúmulo de força social dos dominados deve finalmente suas debilidades. .
se expressar no terreno eleitoral e nos tempos estabelecidos Com os recuos e as desmobilizações geradas na região,
pela disputa eleitoral, devendo então percorrer os canais como resultado dos problemas presentes nos governos progres-
instirucionais. Desse modo, as dinâmicas dos movimentos sistas e populares, não surpreende o avanço eleitoral e político
das forças da direita, que se aproveitaram dos espaços abertos
ou passíveis de serem tomados, da desazrezacão
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e atornizacâo
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produtiva e financeira, com seus golpes sobre o mundo do social e da vida para a ampla maioria da classe trabalhadora _
trabalho, fez com que em pouco tempo se apresentasse a cri- process~ este que ainda prossegue e que faz da precarização a
se da democracia liberal representativa, a forma de governo normalIdade, no bojo de um novo reordenamento do sistema
arnadurecida após a Segunda Guerra. As bases que tornaram mundial capitalista. .
esta forma possível foram resultado de importantes mudanças A esses elementos soma-se em todo o sistema a expansão
nos processos de reprodução do capital, do exponencial avanço da ac.umu.lação ~or meio de atividades ilegais e a mu]riplicação
1
j da produtividade e da geração de novos e diversos valores de do dinheIro sujo, possibilitando que suas fromeiras com a
uso. Nesse contexto, potencializar o consumo da classe traba- reprodução legal do capital se tornem cada vez mais difusasl5.
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O chamado Estado de Bem-Estar começava a tomar corpo.
Mas há também razões políticas sumamente relevantes
do aparato estatal até funcionários de todos os níveis.
Tudo isso alimemou uma desconfiança crescente em re-
t nesse giro civilizatório do capital no mundo desenvolvido. A lação aos funcionários que administram o aparato do Estado
I
Segunda Guerra implicou um avanço inesperado do socialismo e aos dirigentes políticos, propiciando a crise de leaitimidade
i, real em termos territoriais. Uma parte nada desprezível da Eu- do comando político, mais uma das expressões da crise da
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I ropa Oriental passou a integrar a União Soviética, ao mesmo forma de governo. A todo esse processo se soma a deterioração
tempo que na China a revolução dava um salto significativo quando não sua fratura completa, da ponte que estabelecia~
em seu poder, com a primeira explosáo atômica em 1964. os parti~os políticos como instância de representação, o que
Frente a essas ameaças, as classes dominantes da Europa tendenClalmente os converte em espaços de grupos de poder,
Ocidental e dos Estados Unidos tiveram que promover progra- de buroc~a~as e ~uncionários cada vez mais preocupados com
mas sociais e aumentar a renda de sua população trabalhadora, seus negocios feitos com recursos públicos.
sobre bases que eram compatíveis com a reprodução capitalista, . Não há uma instância sequer da democracia liberal represen-
buscando reduzir os perigos de que a classe trabalhadora fosse tativa e.do arremedo de democracia na América Latina que não
atraída pelos discursos da revolução e do socialismo. Mas esse tenha SIdo golpeada e enfraquecida, estimulando o desencanto
período chegou ao seu fim com a aguda guerra de classes que
o capital desatou nas últimas quatro ou cinco décadas em '5 Pr,oduçáO e venda de drogas e entorpecentes de todo tipo tráfico de órzáos
todo o mundo, a partir da queda da taxa de lucro e o poste- ~rafico de pessoas, ?e armament?: ?e material para fissã~ nuclear, lav:gerr:
i e dinheiro em at1v~dades imobilíárias, massivas operações fraudulentas pela
rior derrocarnenro do campo socialista, impulsionando uma
7ternet, aproprraçao de Informação nas redes sociais e sua venda: tais são
radical deterioração das condições de trabalho, da seguridade a gumas das novas atividades de acumulação de capital.
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xc:;
o Estado de segurança do grande capital com vernzz eleitoral. 16 A segurança eleiroral reforça a tendência à realização de rodo tipo de
manobras e fraudes, como a compra de VOtos, enganos cibernéticos ou
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. . teoria foi o trabalho de G .,O'Donnell P. Sc h"i mrtter e L .
ite ea , Transiciones desde un gobierno autoritario. Buenos Aires: Paidós,
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