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Resistência bacteriana no meio ambiente

e implicações na clínica hospitalar


Karin Caumo1
Mariana Duarte2
Simone Tasca Cargnin2
Vanessa Bley Ribeiro2
Tiana Tasca2
Alexandre José Macedo2,3

Resumo
O aumento da incidência de infecções microbianas resistentes a antibióticos adquiri-
das tanto na comunidade quanto nos hospitais tem chamado a atenção da comunidade
de saúde. Neste contexto, muitos estudos têm demonstrado que o próprio meio am-
biente funciona como um grande reservatório de genes de resistência a antimicrobia-
nos. A resistência a antibióticos tem sido observada em vários ambientes aquáticos in-
cluindo rios e áreas costeiras, esgoto doméstico, esgoto hospitalar, sedimentos, águas
superfíciais, lagos, oceanos e água potável, bem como em solos. Estudos mostram
que mais de 90% dos isolados bacterianos originados da água do mar são resistentes
a pelo menos um antibiótico e 20% são resistentes a pelo menos cinco. Com base
nos resultados levantados na literatura envolvendo amostras de solo e água, torna-se
evidente a relevância da detecção de genes de resistência a partir de bactérias presen-
tes na natureza, pois podem refletir parte da origem dos mecanismos de resistência
observados no ambiente hospitalar.
Palavras-chave: Resistência bacteriana. Antibióticos. Meio ambiente.

The increasing bacterial infections caused by antibiotic resistant microorganisms


acquired either in the community or at the hospitals has concerned the health staff.
In this context, many studies have demonstrated that the environment acts like a re-
servoir of antibiotic resistant genes. The antimicrobial resistance has been found in
several environments, such as river, domestic waste and hospital waste, sediments,
lakes, ocean, potable water, and soils. Studies indicate that more than 90% of bacte-
rial isolates from ocean are resistant to at least one antibiotic and 20% are resistant
to at least five. In summary, the results present in the literature with soil and water,
makes evident the relevance of resistance genes detection in bacteria found in the
nature, because it might reflect part of the origin of the resistance mechanisms found
at the hospitals.
Keywords: Bacterial resistance. Antibiotics. Environment.

1
Programa de Pós Graduação em Microbiologia Agrícola e do Meio Ambiente, UFRGS.
2
Programa de Pós Graduação em Ciências Farmacêuticas, UFRGS.
3
Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular, UFRGS. E-mail:alexandre.macedo@ufrgs.br
Artigo recebido em 06/10/2010 e aceito em 19/11/2010
minantes de resistência são detectados quase que
1 Introdução exclusivamente a partir de isolados clínicos, che-
gamos a 1% de abrangência de toda biodiversidade
O aumento da incidência de infecções micro- existente e, a partir daí, pode-se concluir que ainda
bianas resistentes a antibióticos, adquiridas tanto na há muitas fontes a serem exploradas na descoberta
comunidade quanto nos hospitais, tem chamado a de novos genes de resistência. O surgimento da me-
atenção da comunidade de saúde. Por outro lado, nas tagenômica facilitou significativamente o acesso a
últimas décadas, houve uma diminuição no núme- estas espécies desconhecidas a partir da extração
ro de antibióticos aprovados pelo FDA (figura 1) e de DNA ambiental (genoma misto), resultando em
apenas dois medicamentos com novos mecanismos um banco de dados que permitiu a identificação de
de ação chegaram ao mercado nos últimos 40 anos, clones que apresentaram atividade antimicrobiana
linezolida e daptomicina (ALANIS, 2005; VOO- a partir da técnica de clonagem em vetores (HAN-
DELSMAN, 1998). Além disso, o desenvolvimen-
18
to de técnicas moleculares também contribuiu para
16
a identificação bacteriana, através do sequencia-
14
mento do DNA ou do gene 16S rRNA, o qual é al-
12
tamente conservado e universal a todas as bactérias
10
(CLARRIDGE, 2004). Mas qual seria a relevância
8
da detecção de genes de resistência a partir de bac-
6
térias presentes na natureza (solo, água)? Muitos
4
dos antibióticos utilizados para o tratamento de
2
infecções são obtidos a partir de microrganismos
0
ambientais, evidenciando que genes de resistência
1983-1987 1988-1992 1993-1997 1998-2002 2003-2004 aos antibióticos podem ter emergido de ambien-
Figura 1 - Novos agentes antibacterianos aprovados pelo tes não-clínicos (ALONSO, 2001). Uma melhor
FDA (USA) de 1983 a 2004 compreensão do papel ecológico e da resistência
(Fonte: Afonso J. Alanis, Archives of Medical Re- aos antibióticos em ambientes não-clínicos poderia
search 36, 2005)
auxiliar na prevenção do surgimento de resistência
TURI, 2009). e no entendimento da evolução destes mecanismos
A descoberta de novos fármacos com proprie- (ALONSO, 2001; MARTINEZ, 2003). Conside-
dades antibacterianas torna-se cada vez mais rele- rando que o parentesco bacteriano bem como a
vante, à medida que o aparecimento de resistência presença de plasmídeos facilita a transferência de
aos antibióticos tem evoluído muito rapidamente, material genético de uma bactéria para outra, pare-
levando à falha terapêutica e, consequentemente, a ce bem compreensível que os genes de resistência
limitações nas opções de tratamento. Quando fa- presentes no solo possam ser transmitidos aos mi-
lamos em resistência bacteriana ou surtos de mi- crorganismos clinicamente relevantes (DAVIES,
crorganismos multirresistentes, automaticamente 1994; DANTAS, 2008).
somos levados a pensar no ambiente hospitalar, Neste contexto, o presente trabalho aborda uma
onde diariamente são isoladas inúmeras amostras breve revisão sobre a possibilidade de bactérias do
clínicas resistentes às mais diversas classes de anti- ambiente resistentes a antibióticos e sua relação à re-
bióticos. Porém muitos estudos já têm demonstra- sistência observada em patógenos responsáveis por
do que o próprio meio ambiente funciona como um importantes infecções clínicas, além dos principais
grande reservatório de genes de resistência (REI- mecanismos de resistência envolvidos neste processo.
SENFELD, 2004; D’COSTA, 2006; DANTAS, Esta pequena revisão de literatura foi realiza-
2008). Estimativas recentes apontam que 99% das da dentro das atividades da disciplina “Mecanis-
bactérias existentes não podem ser cultivadas atra- mos de Combate a Microrganismos Patogênicos”
vés de métodos convencionais a partir da utilização do Programa de Pós-graduação em Ciências Far-
de meios de cultura enriquecidos (LI; VEDERAS, macêuticas da Universidade Federal do Rio Gran-
2009). Se extrapolarmos o fato de que os deter- de do Sul, e atende uma das atividades previstas

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no Programa de NANOBIOTECNOLOGIA EDI- microrganismos patogênicos como microrganismos
TAL 04/CII-2008 – CAPES do projeto “Rede de do ambiente apresentam mecanismos de defesa e
Pesquisa e Formação em Biofuncionalização desenvolvimento de resistência contra agentes anti-
de Superfícies”. bacterianos.
No passado, o foco de atenção da comunida-
2 Mecanismos de resistência aos de médica e de pesquisadores estava no mecanismo
antibióticos, resistoma e transferência de resistência de bactérias patogênicas. Entretanto,
horizontal de genes – Revisão Geral em muitos casos, esses estudos trouxeram pouca
informação sobre a origem e fonte da resistência a
Muitos são os mecanismos pelos quais as bac- antibióticos. Uma visão ampliada da resistência a
térias desenvolvem resistência aos antibióticos, den- antibióticos incluiria genes de resistência de bac-
tre os quais podemos citar as bombas de efluxo, a térias patogênicas e não-patogênicas e até mesmo
inativação enzimática e a perda de porinas na mem- genes com o potencial de funcionarem como genes
brana plasmática (WALSH, 2000; ALEKSHUN; de resistência. Este fato envolveria todo o genoma
LEVY, 2007). pan-microbiano, que é, simplificadamente, a soma
Uma rede integrada de elementos de resistên- de todos os genomas microbianos. Foi proposto que
cia nas bactérias promove proteção contra agentes a coleção de todos os genes de resistência a antibióti-
químicos. Em bactérias gram-negativas existe um cos dos microrganismos receba o nome de resistoma
envelope celular, que está incluída uma membrana aos antibióticos (D’COSTA, 2006).
celular externa a parede celular, que é composta por Os genes de resistência de patógenos compreen-
uma bicamada de lipopolissacarídio-fosfolipídica dem somente uma pequena fração do resistoma. Genes
assimétrica e promove uma barreira física efetiva de resistência de bactérias não patogênicas incluem
para a entrada de moléculas no interior da célula aqueles genes de microrganismos produtores de anti-
bacteriana. Em bactérias gram-positivas, a ausência bióticos e genes ocultos de resistência. Também estão
da membrana externa resulta num acréscimo da sen- inclusos no resistoma os genes múltiplos que codificam
sibilidade a muitos antibióticos. proteínas com uma modesta resistência, ou capacida-
Outro mecanismo de resistência é o efluxo de de de ligação nas moléculas de antibiótico, tornando
pequenas moléculas. Muitos desses sistemas de eflu- essas moléculas inativas. Esses genes precursores de
xo não são seletivos para uma classe específica de resistência são a principal fonte externa de resistência
antibióticos, mas podem defender células bacteria- a antibióticos.
nas de vários compostos tóxicos, promovendo então O sequenciamento do genoma revelou que um
uma resistência inata a antibióticos. Existem outros grande número de genes de resistência está presente
sistemas de resistência mais específicos, como as em todas as bactérias. Por exemplo, genes que co-
enzimas que inativam antibióticos, por exemplo, as dificam proteínas de efluxo são comuns a todos os
β-lactamases e aminoglicosídeos quinases. Antibió- genomas bacterianos. Patógenos oportunistas, como
ticos como as penicilinas e cefalosporinas possuem a Pseudomonas aeruginosa, normalmente encon-
um anel β-lactâmico em sua estrutura química e as trada em vários ambientes (solo e água), apresenta
bactérias resistentes a esses antibióticos, em geral, uma coleção de bombas de efluxo (STOVER, 2000;
produzem enzimas específicas, as β-lactamases, que POOLE, 2001; PIDDOCK, 2006). Essas bombas
são capazes de degradar hidroliticamente esse anel, provavelmente permitem ao microrganismo uma
tornando o fármaco inativo (FISHER , 2005). Fi- maior flexibilidade para explorar diversos ambien-
nalmente, a modificação dos alvos é provavelmente tes e promover sua patogenicidade, além de modu-
um dos mecanismos mais específicos de resistência, lar sua diferenciação celular, como a formação de
ocorrendo assim a modificação bioquímica do alvo biofilmes. Biofilmes constituem-se em um modo de
de ligação do antibiótico. vida de microrganismos que se aderem a uma super-
Analisando esses diversos mecanismos de fície (cateteres e próteses, por exemplo) e produzem
ação é possível identificar que as células bacteria- uma matriz que os mantém aderidos, dificultando
nas têm capacidades inatas ou especializadas de se enormemente a erradicação desses microrganismos
defender contra agentes tóxicos. Além disso, tanto com a antibioticoterapia usual.

Revista Liberato, 181


Muitas bactérias (patogênicas e não patogê- cos está relacionado a ambientes aquáticos. A água
nicas) são capazes de codificar β-lactamases. Estas constitui não somente um meio de disseminação de
enzimas são estritamente reguladas e sua expressão organismos resistentes aos antibióticos entre popu-
é induzida pela exposição da bactéria ao antibiótico. lações humanas e animal, mas também a via pela
Diversas pesquisas já foram realizadas e demonstra- qual genes de resistência são introduzidos no ecos-
ram que os genes de resistência presentes em isola- sistema de bactérias naturais alterando a microbio-
dos clínicos resistentes a esta classe de antibióticos ta ambiental. A resistência a antibióticos tem sido
também foram encontrados no genoma de bactérias observada em vários ambientes aquáticos incluin-
não-patogências do ambiente (SEOANE; GARCIA, do rios e áreas costeiras, esgoto doméstico, esgoto
2000; MUKHTAR, 2001). hospitalar, sedimentos, águas superfíciais, lagos,
Como os genes de resistência passam de espé- oceanos e água potável (BAQUERO, 2008).
cie para espécie e até mesmo de gênero para gênero? A introdução (e progressiva acumulação) no
Transferência genética entre bactérias provavelmente ambiente de agentes antimicrobianos, detergen-
tem relevância em grande parte da disseminação da tes, desinfetantes e residuos de poluição industrial,
resistência. Este processo, conhecido como transfe- como metais pesados, contribuem na evolução e
rência genética horizontal, confere novas capacidades dispersão de tais organismos resistentes. Segundo
metabólicas ao indivíduo que recebe o DNA de outro Jorgensen e colaboradores (2000) há indícios de
microrganismo, permitindo sua adaptação a novos ni- que o desenvolvimento de resistência antibiótica é
chos ecológicos. favorecida por baixas concentrações de antibióti-
As bactérias trocam informações genéticas cos distribuídos no ambiente. Miranda et al (1998)
através da captação direta de DNA (transformação) investigaram a incidência de resistência microbia-
pela transdução fago-mediada, através do contato en- na em uma espécie de Aeromonas isolada de am-
tre organismos com troca de DNA (conjugação) ou bientes aquáticos, constatando que a resistência
por mobilização de DNA no genoma do organismo ocorreu com vários antibióticos testados, dentre
(transposição). Transposição inclui os bem conheci- eles, cloranfenicol, trimetropim, sulfametoxazol e
dos transposons que invertem repetidos elementos tetraciclina. Em reservatórios de água, isolados de
de inserção e outros elementos (TOLEMAN, 2006). Aeromonas apresentaram resistência a múltiplos
Sendo assim, genes de resistências podem ser captu- antibióticos (BLASCO , 2008). Estudos mostram
rados e agrupados em integrons e então serem mobi- que mais de 90% dos isolados bacterianos origi-
lizados para disseminar genes de resistência a outros nados da água do mar são resistentes a pelo menos
organismos (HALL; COLLIS, 1998). um antibiótico e 20% são resistentes a pelo menos
Em organismos ambientais não patogênicos, cinco (MARTINEZ, 2003).
plasmídeos que codificam múltiplos genes de resis- Bactérias da água podem ser exógenas para
tência a antibióticos são comuns, muitas vezes agru- o meio aquático, transitórias e, ocasionalmente,
pados com genes que são requisitados para resistên- presentes na água como resultado da presença de
cia a metais pesados (FINAN, 2001; GILMOUR, animais, vegetais ou solo superficial. Alguns traba-
2004; O’DRISCOLL, 2006). As habilidades da bac- lhos relatam que a resistência de Pseudomonas que
téria em mobilizar genes e a pressão seletiva devido vivem em ambiente aquático não depende apenas
aos antibióticos facilitam a distribuição de genes de da composição de espécies, mas também do local
resistência aos antibióticos através das populações em que elas foram isoladas, observando-se que os
microbianas. Como resultado, ocorre a expansão do isolados mais resistentes aos antibióticos foram ob-
resistoma mesmo na ausência de seleção contínua tidos junto à costa e à baía, indicando a influência
das espécies mais resistentes. de organismos não aquáticos ou poluentes (BA-
QUERO , 2008).
Além disso, tais influências podem ser encon-
3 Bactérias resistentes a antibióticos em
tradas nos mais remotos ambientes aquáticos. Bac-
ambientes aquáticos
térias psicotróficas da Antártica mostram diferentes
Uma grande parte da dispersão e evolução graus de resistência aos antibióticos e metais pesa-
de organismos bacterianos resistentes a antibióti- dos (DE SOUZA, 2006). A associação de resistên-

182 Revista Liberato,


cia a antibióticos e a resistência aos metais pesados ficação de determinantes de resistência a partir de
é muito frequente no mesmo organismo (também bactérias encontradas no solo. Dantas e colabora-
no mesmo transposon, plasmídeo ou integron), de dores (2008) analisaram 11 amostras diversas de
modo que a poluição industrial, provavelmente, solo frente à utilização de 18 diferentes antibióticos,
seleciona organismos resistentes a antibióticos e como única fonte de carbono. O estudo revelou que
metais (BAKER-AUSTIN, 2006). Os efeitos da todos os antibióticos testados permitiram o cresci-
contaminação por metais representam uma seleção mento bacteriano, sendo que 6 deles favoreceram o
de longa data, pela generalizada pressão de orga- crescimento bacteriano a partir das 11 amostras de
nismos multirresistentes. Para os organismos solo. A relevância destes resultados está no fato de
não-aquáticos, obviamente, a densidade de orga- que os antibióticos testados incluíram as principais
nismos resistentes a antibióticos varia com a proxi- classes utilizadas na clínica, como glicopeptídeos,
midade das áreas com maior consumo de antibióti- aminoglicosídeos, quinolonas e penicilinas. Neste
cos, poluição por metais, sendo mais frequente em mesmo estudo uma variedade de famílias bacteria-
períodos chuvosos (PEAK, 2007). nas foi detectada, sendo a Burkholderiales e a Pseu-
Atualmente, observa-se que o uso maciço de domonales as mais prevalentes, com 41% e 24% dos
antibióticos profiláticos na aquicultura, como na isolados, respectivamente. Bactérias pertencentes a
criação de peixes, pode levar à seleção de micror- estes dois gêneros são frequentemente isoladas no
ganismos resistentes, assim como à possibilidade laboratório clínico, apresentando resistência a múl-
de os montantes elevados de tais compostos serem tiplos antibióticos e agravando os quadros infeccio-
dispersos em habitats naturais (CABELLO, 2006). sos. Seria apenas coincidência ou existe uma trans-
Um exemplo dos efeitos da ampla contaminação posição das resistências observadas na clínica e nos
do ambiente aquático por antibióticos é a resistên- microrganismos presentes no solo? Estudos prévios
cia de isolados bacterianos às quinolonas, devido ao já haviam demonstrado o paralelismo entre deter-
gene qnr presente nos cromossomos destas bactérias minantes de resistência aos antibióticos presentes
(PEAK, 2007). Trabalhos recentes têm mostrado em microrganismos do solo e patógenos humanos
que a contaminação de águas de rio por quinolonas, (DAVIES, 1994; MARSHALL, 1998; D’COSTA,
através de plasmídeos contendo o gene qnr, pode ser- 2007), sugerindo a transmissão de mecanismos de
vir como um primeiro passo na transferência destes resistência ainda não observados na clínica.
genes para patógenos humanos (CATTOIR, 2008). Em 2006, outro grupo de pesquisadores
Muito pouco tem sido feito para elucidar o pa- revelou dados surpreendentes ao demonstrar que
pel de biofilme bacteriano em ambientes aquáticos, todas as linhagens bacterianas isoladas a partir de
bem como na resistência aos antibióticos. O fenótipo amostras de solo foram multirresistentes, quando
de resistência em biofilmes bacterianos, efetivamen- testadas na presença de 21 antibióticos em con-
te, protege os microrganismos de eventos de seleção centrações elevadas. Em média, as bactérias foram
cau-sada pela presença de antibiótico livre, que pro- resistentes a 7 ou 8 antibióticos e duas espécies fo-
vavelmente age de forma mais eficaz em bactérias ram resistentes aos 21 antibióticos testados, resul-
planctônicas (BAQUERO, 2008). tando em aproximadamente 200 diferentes perfis
Se alterações antrópicas do ambiente podem de resistência (D’COSTA, 2006), mais uma vez
enriquecer a população de microrganismos re-sis- demonstrando a diversidade genética e fenotípica
tentes e facilitar a transferência de genes de resis- existente no solo. Além disso, foi observado que
tência para patógenos humanos, a investigação de 80% dos isolados resistentes à daptomicina foram
microrganismos da água pode auxiliar no entendi- capazes de promover a inativação do fármaco, bem
mento de mecanismos de resistência a antibióticos e como, de utilizar o antibiótico para o seu próprio
estudos futuros. metabolismo. A daptomicina é um medicamento
utilizado para o combate de infecções causadas por
bactérias gram-positivas e ainda apresenta poucos
4 Bactérias resistentes a antibióticos
relatos de resistência na clínica (LIVERMORE,
no solo
2008), tornando preocupante o fato de que deter-
Numerosos estudos têm investido na identi- minantes de resistência do solo poderiam escapar e

Revista Liberato, 183


atingir as espécies clinicamente relevantes. Bacté- óticos tem evoluído muito rapidamente, e o meio
rias do gênero Streptomyces resistentes à rifampi- ambiente parece estar intimamente relacionado à
cina e aos macrolídeos foram capazes de promover transmissão destes genes do ambiente para a clínica,
a inativação do antibiótico, sendo que estes resul- sendo considerado um imenso reservatório de genes
tados nunca foram descritos em isolados clínicos de resistência. Assim, o cuidado com meio ambiente
ou permanecem desconhecidos entre patógenos é passo fundamental no processo de seleção de clo-
gram-positivos, em contraste com os mecanismos nes multiresistentes que podem chegar ao ambien-
de efluxo e modificação de alvo, frequentemente te hospitalar. Além disso, o uso indiscriminado de
observados nos microrganismos isolados clinica- antibióticos em terapias empíricas contribui para o
mente (D’COSTA , 2006). aumento da resistência e deve, consequentemente,
ser evitado pela população.
5 Conclusões
Referências bibliográficas:
Com base nos resultados levantados na lite-
ratura envolvendo amostras de solo e água, torna-se ALEKSHUN, M. N.; LEVY, B. S. Molecular
evidente a relevância da detecção de genes de re- mechanisms of antibacterial multidrug resistance.
sistência a partir de bactérias presentes na natureza, Cell. v. 128, p. 1037 - 1050, Mar. 2007.
pois podem refletir a origem dos mecanismos de re-
sistência observados no ambiente hospitalar. Alguns ALANIS, J. A. Resistance to Antibiotics: Are We
autores sugerem que a utilização de antibióticos no in the Post-Antibiotic Era? Archives of Medical
ambiente, em baixas concentrações, favorece a sele- Reserch. v. 36, p. 697 - 705, 2005.
ção de clones resistentes e, talvez, seja este o motivo ALONSO, A. ; SANCHEZ, P ; MARTINEZ, J. L.
pelo qual um grande número de bactérias seja resis- Environmental selection of antibiotic resistance genes.
tente a múltiplos antibióticos, incluindo as principais Environmental Microbiology. v. 3, p. 1 - 9, Jan. 2001.
classes de medicamentos utilizadas na clínica para o
tratamento das infecções. Ainda, a transferência de BAKER-AUSTIN, C. et al. Co-selection of an-
plasmídeos, capazes de carregar mais de um gene de tibiotic and metal resistance. Trends in
resistência associados, facilita a transmissão destes Microbiology. v. 14, p. 176 - 182, Apr. 2006.
mecanismos de resistência entre as bactérias, agra-
BAQUERO, F.; MARTÍNEZ, J. L.; CANTÓN, R.
vando ainda mais o problema.
Antibiotics and antibiotic resistance in water envi-
Em estudos com amostras de solo foi de-
ronments. Current Opinion in Biotechnology.
monstrado que as principais famílias bacterianas
v. 19, p. 260 - 265, Jun. 2008.
encontradas assemelham-se àquelas isoladas no
ambiente clínico, como a Pseudomonales e a Bur- BLASCO, M. D.; ESTEVE, C.; ALCAIDE, E. J.
ckolderiales, as quais, frequentemente, estão relacio- Multiresistant waterborne pathogens isolated from wa-
nadas a surtos de multiresistência aos antibióticos, ter reservoirs and cooling systems. Journal Applied
indicando a transposição dos mecanismos de resis- Microbiology. v. 105, p. 469 - 475, Aug. 2008.
tência. Estes resultados corroboram com estudos
anteriores que já haviam sugerido este paralelismo CABELLO, F. C. Heavy use of prophylactic anti-
entre microrganismos do solo e patógenos clinica- biotics in aquaculture: a growing problem for hu-
mente relevantes. Ainda mais curioso é o fato de mi- man and animal health and for the environment.
crorganismos presentes na água e no solo apresenta- Environmental Microbiology. v. 8, p. 1137 -
rem mecanismos de resistência ainda não detectados 1144, Jul. 2006.
na clínica, como ocorre com o gênero Streptomyces,
CATTOIR, V.. et al. Unexpected Occurrence of Plas-
chamando atenção para a possibilidade destes genes
mid-Mediated Quinolone Resistance Determinants in
migrarem do ambiente e passarem a ser responsá-
Environmental Aeromonas spp. Emergency Infect
veis pelo desenvolvimento de resistência em pató-
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genos humanos.
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