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Boas práticas

Universidades suecas em crise de confiança


Parlamento cria agência para centralizar investigações sobre má conduta científica

U
ma agência federal encarregada de diretora da Associação Sueca de Pesquisadores
investigar casos de fraude, plágio e e Professores Universitários.
manipulação de dados na Suécia deve A ideia de centralizar investigações de episódios
começar a funcionar em janeiro de 2020. de má conduta vem sendo discutida em vários
O Parlamento do país aprovou em junho a países com o objetivo de garantir um padrão
legislação que cria o novo órgão, batizado de comum de apuração de denúncias e punições.
Conselho de Má Conduta em Pesquisa. Caberá Em 2017, a Dinamarca criou um órgão nesses
a ele apurar todos os casos suspeitos envolvendo mesmos moldes, que desde então já se debruçou
pesquisas realizadas em instituições públicas sobre uma dezena de casos. No ano passado, uma
e privadas do país e divulgar os resultados das comissão parlamentar de inquérito do Reino
investigações. Se as denúncias se confirmarem, Unido propôs a criação de um comitê capaz
agências de fomento, universidades e de monitorar as investigações feitas pelas
institutos de pesquisa decidirão a aplicação universidades, ante as evidências de que uma em
de sanções específicas aos pesquisadores. cada quatro instituições não cumpre diretrizes de
Até agora, as investigações eram feitas integridade científica que vigoram há sete anos.
internamente e as instituições nem sempre tinham Países como Austrália e Canadá também dispõem
um entendimento convergente sobre o que de órgãos para acompanhar casos suspeitos,
constitui má conduta. Elas podiam eventualmente enquanto a China anunciou que irá centralizar
se aconselhar com um Comitê Central de Ética, essa tarefa no Ministério de Ciência e Tecnologia.
sem compromisso de seguir suas orientações. Tais iniciativas, idealizadas para preservar
“Em alguns casos, há alegações de que a a confiança pública no trabalho dos cientistas,
investigação não foi feita de forma justa ou encarnam uma contradição, disse à Nature
transparente. O novo sistema é um avanço”, Nicholas Steneck, especialista em integridade
disse à revista Nature Karin Åmossa, científica que foi diretor do programa de Ética

8 | setembro DE 2019
científica entre os pesquisadores e Macchiarini falsificou resultados
estudantes a ela vinculados, assim de uma cirurgia experimental,
como pela prevenção, investigação e um transplante de traqueia artificial,
punição de más condutas científicas mas o Karolinska, conhecido por
que ocorram em seu âmbito. Por outro selecionar os vencedores do Prêmio
lado, estabelece que a FAPESP é Nobel de Medicina ou Fisiologia,
corresponsável por garantir que toda inocentou o italiano em três
alegação de má conduta científica investigações seguidas, mesmo
relacionada à pesquisa por ela apoiada admitindo que ele não havia cumprido
seja adequadamente investigada e, os padrões de qualidade exigidos pela
se for o caso, sejam tomadas a seu instituição. O caso só foi reaberto
respeito as medidas punitivas e quando uma reportagem em uma
corretivas cabíveis. Por isso, o Código revista norte-americana e um
define condições mínimas que a documentário da TV sueca mostraram
investigação pela instituição deve que, além de maquiar os resultados
satisfazer para ser rigorosa, desfavoráveis dos transplantes, ele
evitando-se conflitos de interesse e também mentiu em seu currículo e
corporativismo, e justa, garantindo-se inventou proezas na vida social –
os direitos de defesa e presunção de embora fosse casado, Macchiarini
inocência. E estabelece que o relatório propôs casamento a uma jornalista
detalhado e justificado da investigação e disse a ela que o papa Francisco
de cada alegação de má conduta celebraria a cerimônia. O escândalo
deve ser encaminhado à FAPESP, derrubou três membros da direção do
que pode avalizá-lo ou não. Karolinska que se omitiram, entre os
quais o vice-reitor, Anders Hamsten.
reputação Em 2017, um novo episódio
O governo da Suécia defende mobilizou a comunidade científica
o novo sistema com o argumento sueca. Um artigo publicado um ano
de que delegar as investigações às antes na revista Science por
universidades é uma fonte potencial pesquisadores da Universidade de
de conflito de interesses. “Há Uppsala sofreu retratação depois
dificuldade em realizar apurações que uma investigação independente
imparciais, assim como se mostrou levantou evidências de que parte
problemático para instituições de dos experimentos descritos nem
ensino superior examinarem suspeitas sequer foi realizada. De autoria
e Integridade na Pesquisa da sobre seus pesquisadores enquanto dos biólogos Peter Eklöv e Oona
Universidade de Michigan, nos protegem a própria reputação”, Lönnstedt, o estudo sustentava que
Estados Unidos. “Se não se pode informou um comunicado do governo a poluição por microplásticos
confiar nas universidades para fazer publicado em seu website. De acordo no oceano causa problemas de
investigações responsáveis, por com Helene Knutsson, que propôs a crescimento à fauna marinha e a
que deveríamos confiar a elas recursos criação da agência no ano passado deixa mais vulnerável a predadores.
para pesquisa?”, indaga Steneck. quando era ministra da Pesquisa e da A dupla mentiu ao informar que
Na sua avaliação, a apuração dos Educação Superior do país, o sistema tinha aval de um comitê de ética de
casos deveria continuar a ser busca aumentar a transparência e uso de animais para fazer a pesquisa
feita internamente, ainda que se possa a segurança jurídica. “Ninguém e não foi capaz de fornecer os dados
implementar mudanças para torná-la deve duvidar da pesquisa da Suécia, originais do experimento, com a
mais eficiente, e não faz sentido assim como nenhum paciente deve desculpa de que o notebook em que
atribuir a uma agência central a arriscar-se a ser submetido a terapias estavam armazenados fora roubado.
investigação até mesmo de casos que que são resultado de fraudes”, disse. Antes da investigação independente,
produzem prejuízos menores à Embora Knutsson não mencione a Universidade de Uppsala havia
integridade científica. episódios específicos, a erosão da avaliado o caso e, assim como
A FAPESP adota um modelo confiança na capacidade das aconteceu no Karolinska, inocentara
intermediário entre o proposto pela universidades se autorregularem se a dupla de pesquisadores, agora
proibida de receber financiamento
ilustração  Elisa Carareto

Suécia e o defendido por Steneck. deve em grande medida ao escândalo


Por um lado, o Código de Boas Práticas envolvendo a passagem do cirurgião público por quatro anos.
Científicas da Fundação estabelece italiano Paolo Macchiarini pelo Um artigo publicado por Lönnstedt
que as instituições de pesquisa são as reputado Instituto Karolinska, em 2014 está sendo investigado
responsáveis principais pela promoção em Estocolmo, entre 2010 e 2016 também por suspeita de manipulação
de uma cultura de boa conduta (ver Pesquisa FAPESP nº 261). de dados. n Fabrício Marques

PESQUISA FAPESP 283 | 9


ilustração  Elisa Carareto
Suporte estatístico para revistas de psicologia

Um grupo de pesquisadores das


universidades Stanford e da
Califórnia, Davis, nos Estados
Unidos, propôs uma estratégia
complementar para prevenir
erros e vieses nas conclusões de
pesquisas do campo da psicologia:
a adoção de uma etapa na revisão
de artigos científicos dedicada
a verificar a robustez estatística
dos resultados. Em um paper
publicado na revista Advances
in Methods and Practices in
Psychological Science, o time de
autores liderado pelo psicólogo lastrear conclusões categóricas. para revisão. Segundo o grupo, a
Tom Hardwicke, do Centro Também foi observado que 44% revisão estatística não resolveria
de Inovação e Metapesquisa de dos responsáveis pelas revistas todos os problemas da pesquisa
Stanford, ressalta que o apoio consideram esse cuidado adicional em psicologia, mas, em
de um revisor especializado em desnecessário. Há exceções, como combinação com uma melhoria
estatística se tornou um padrão o periódico Psychological Science, no treinamento em estatística
em revistas da área biomédica que desde 2016 mantém seis de pesquisadores em início de
desde os anos 1970 com o objetivo especialistas em estatística para carreira, poderia ajudar a reverter
de evitar a divulgação de dados avaliar os trabalhos submetidos a crise de reprodutibilidade.
equivocados, mas ainda é um
expediente raro em periódicos de
psicologia. Segundo o grupo, esse
recurso poderia ajudar a enfrentar Astrofísica é demitida por assédio moral
o que se convencionou chamar de
“crise da reprodutibilidade” da
psicologia, uma sucessão de casos O Instituto Federal de Tecnologia A astrofísica nega a prática
de artigos científicos que caíram da Suíça em Zurique (ETHZ) de bullying, argumenta que a
em descrédito porque seus demitiu a astrofísica nascida na pressão é natural em uma
resultados não foram confirmados Itália Marcella Carollo, que desde instituição de pesquisa de classe
em experimentos subsequentes – 2017 enfrentava acusações de mundial e acusou o ETHZ
alguns por erros e outros por assédio moral contra estudantes de de discriminação de gênero,
fraudes não detectados no doutorado. É a primeira vez em uma vez que a maioria de seus
processo de revisão por pares. 164 anos de história que a colegas é do sexo masculino.
“Preocupações sérias sobre a instituição despede um professor Especialista em formação e
credibilidade da pesquisa em titular. Testemunhos de uma evolução de galáxias, a
psicologia vêm sendo levantadas e dezena de alunos e ex-alunos da pesquisadora foi uma das
entre as causas mais importantes astrofísica relataram episódios de fundadoras, em 2002, do
estão erros de interpretação e humilhação e pressão emocional Instituto de Astrofísica do ETHZ,
mau uso de métodos estatísticos”, praticados por Carollo, entre que acabou dissolvido em 2017
escreveram os autores. os quais a exigência de que quando as primeiras denúncias
Hardwicke entrevistou trabalhassem nos finais de semana, surgiram. A universidade
39 editores de publicações estivessem disponíveis para suíça reconheceu que seus
científicas de psicologia e reuniões noturnas e publicassem procedimentos para prevenir
constatou que 71% não diferenciam um número elevado de artigos o assédio moral falharam e se
a revisão por pares tradicional, científicos – como resultado, um comprometeu em promover
que avalia se os métodos são terço de seus alunos não conseguiu mudanças para evitar que casos
adequados e os resultados têm se formar. Uma investigação desse tipo se repitam, como
nexo, da revisão estatística, aquela independente convocada pelo a expansão de sua ouvidoria
capaz de identificar cálculos e ETHZ concluiu que se tratava e a garantia de que os novos
análises equivocadas ou o uso de mesmo de um caso de assédio e doutorandos tenham pelo menos
amostras pequenas demais para recomendou sua demissão. dois orientadores.

10 | setembro DE 2019

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