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Universidade Federal do Estado do rio de Janeiro (UNIRIO)

Disciplina: Tópicos Especiais em História do Brasil – 2020.1


Professora: Claudia Santos
Aluno: Bruno Barcellos de Andrade

Fichamento 1

Referência: Boehrer, Georges A.. Da Monarquia à República (História do Partido


Republicano 1870-1889). MEC, 1954, pp. 223-301.

Foram lidos os capítulos oito, nove e dez do livro de Boehrer sobre o partido
republicano e a sua atuação nos anos finais da Império. Cada um possui um objetivo
específico dentro do livro, sendo o oitavo intitulado A Plataforma do Partido: Unidade
e Divergências; o nono Questões Políticas. A Linha do Partido e o décimo Conclusão.
Todos relacionam-se um ao outro para construir as conclusões do autor apresentadas no
último capítulo.

O objetivo do capítulo oito é pensar as diretrizes ideológicas que norteavam a


atuação do Partido Republicano, o que é feito a partir da análise do Manifesto
Republicano de 1870, documento que serviu de fundamento para os posicionamentos da
instituição. Também é objetivo do capítulo mostrar que os republicanos não eram uma
massa coesa, mas havia grupos no partido com opiniões divergentes sobre o que deveria
ser a República brasileira e como chegar a ela.

O texto se inicia pela análise do Manifesto de 1870, fonte de inspiração para o


partido, de acordo com o autor, e com o qual a maiora dos republicanos se
comprometeu. Os pontos destacados por Boehrer no documento são a busca pela
república por meios pacíficos; a denúncia das péssimas condições morais, sociais,
administrativas e econômicas do país; a crítica à cultura de privilégios remanescente do
Antigo Regime que mantinha o Brasil num estado colonial; o ataque ao Poder
Moderador e as prerrogativas da Coroa, o que impedia a verdadeira representação da
nação no Estado, pois a hereditariedade monárquica era incompatível com a soberania
do povo; era feita a defesa do federalismo e o Manifesto dizia que o Brasil deveria ser
governado através de um sistema de governo que se harmonizasse com o resto do
continente americano, onde todos os países eram repúblicas, menos o Brasil.
Para o autor, o Manifesto não traz reivindicações novas, pois elas já eram
formuladas pelo Partido Liberal, e elenca princípios vagos de governo, o que permitiria
a adesão de pessoas de diferentes correntes políticas. A única distinção em relação aos
documentos dos liberais eram os ataques à monarquia. Para o autor, a sua importância
estava no fato de ter sido a primeira manifestação do partido que efetivamente venceu
na conquista de seus objetivos, sendo o principal deles a implantação da República no
Brasil.

Em seguida, o autor aprofunda a análise das principais linhas ideológicas do


partido, começando pelo republicanismo democrático. O objetivo da propaganda
republicana era mostrar que tal princípio não era o mesmo que uma monarquia
constitucional democrática e que se a Coroa fizesse as reformas pedidas no Manifesto, o
governo seria essencialmente republicano. Por republicanismo democrático, o autor se
refere à defesa da soberania do povo como base do Estado, do sufrágio como forma de
delegação do poder às autoridades, do princípio da igualdade e da divisão e
independência entre os três poderes, pedindo a extinção do poder moderador.

Boehrer analisa a proposta de constituição do Estado de São Paulo feita pela


Comissão Permanente do Partido Republicano de São Paulo em 1873, tido como um
exemplo de república relativamente bem aceito dentro dos apoiadores deste regime. Em
geral, pode-se dizer que o Partido Republicano Brasileiro tinha como exemplo a
democracia adotada pelos EUA.

O autor segue para a discussão acerca do federalismo, ideal defendido pelo


Partido Liberal, mas que se tornou a principal plataforma do Partido Republicano. A
propaganda republicana se esforçou para identificar a república ao federalismo. Os
republicanos de São Paulo foram defensores ferrenhos desta forma de organização
estatal, mas a organização de partidos provinciais que se uniriam no Partido
Republicano Nacional mostra como o federalismo era uma diretriz oficial do partido.

O terceiro ponto defendido pelo Manifesto de 1870 era a noção de chegada à


república através de reformas feitas de dentro do sistema monárquico. O importante era
deixar claro que o Partido não pregava a revolução e queria atuar dentro das regras do
sistema vigente.
O autor se esforça para deixar claro que estas eram as diretrizes oficiais do
partido, mas nem todos os republicanos concordavam com elas. A partir daí, ele vai
analisar as divergências entre os republicanos.

Com relação a como deveria ser a república, havia aqueles que defendiam uma
república ditatorial e não democrática. Estes eram especialmente alunos da Escola
Militar do Rio de Janeiro onde os ideais positivistas de Comte tiveram bastante adesão,
sobretudo graças ao professor Benjamin Constant. Mas este modelo também foi
defendido pelo grupo positivista paulista liderado por Silva Jardim e Aníbal Falcão. A
chamada Escola Positivista era minoria no Partido, mas se envolveu em grandes
discussões políticas.

De acordo com a teoria dos três estágios da civilização (teológico, metafísico e


positivista), Comte entendia que uma república liderada por um ditador capaz de efetuar
a transição para o último estágio, onde o proletário seria integrado ao Estado, a
burguesia seria destruída e garantiria a ordem e o progresso. A concentração de poderes
numa pessoa evitaria que ele tivesse obstáculos nesta empreitada e o fortaleceria contra
a investida de burgueses e aristocratas. A opinião pública seria o único freio ao poder do
ditador. Comte também defendia que seus seguidores não se envolvessem em política, o
que ajuda a explicar a pouca presença de positivistas nos quadros do Partido
Republicano.

O federalismo também não era unanimidade, de modo que havia uma discussão
entre o separatismo e a centralização. O centro desta disputa estava no temor de que o
federalismo levasse ao desmembramento do Brasil, temor que aumentou quando alguns
membros do partido republicano paulista passaram a pedir a independência da província
de São Paulo como estratégia para chegar ao federalismo. Isto criou grandes discussões
dentro do Partido Republicano Brasileiro, com alguns temendo o estado que o Brasil
ficaria se São Paulo se separasse. O partido paulista se colocou contra a ideia, mas dizia
que os membros poderiam aderir a ela individualmente. Em geral, o separatismo era
defendido por uma corrente minoritária, principalmente por aqueles vindos do Partido
Liberal, que não desfrutavam das vantagens da centralização, mas, quando assumem o
poder, em 1889, abandonam a ideia.

Os positivistas também se envolveram nessas discussões defendendo a


centralização política, o que mais se harmonizava com a proposta de uma república
ditatorial. Porém, mesmo entre os positivistas houve divergências neste ponto, pois
Boehrer mostra como os positivistas pernambucanos se opunham a uma centralização
drástica como a defendida por Aníbal Falcão, por exemplo.

Em relação à república por meios pacíficos, o autor informa que havia um


pequeno número de membros do Partido que pedia a revolução popular. Silva Jardim
era o líder deste grupo, que professava a violência popular e o positivismo ao mesmo
tempo, embora Comte e os positivistas ortodoxos fossem contra uma revolução. O
autor, porém, afirma que Jardim só começa defender a revolução nos anos finais do
Império, quando o partido já estava maior e que, em 1889, a maioria dos republicanos
acreditava no êxito de uma revolução. Porém, os líderes do partido, aqueles que
definiam as linhas de atuação da instituição, continuavam defendendo os meios
pacíficos.

Com tudo isso, entendo que o objetivo do autor foi alcançado ao final do
capítulo. Boehrer foi capaz de determinar as linhas gerais do partido e as principais
discussões dentro dele. Entendo que o principal deste capítulo foi mostrar que os
republicanos não eram um grupo homogêneo. Porém, encontrei dificuldade em entender
melhor as aspirações da Escola Positivista e as suas dissidências internas. Também acho
que o autor poderia ter trazido mais evidências de que o que aponta como diretrizes
oficiais do partido eram efetivamente endossados pela maioria dos seus membros. Digo
isso porque achei a argumentação de Boehrer contraditória quando ele começa dizendo
que os princípios do Manifesto de 1870 eram apoiados pela maioria dos republicanos,
mas, ao final do capítulo, ele diz que a maioria dos membros acreditava numa
revolução. Será que só pelo fato de os dirigentes do partido não defenderem a violência
como uma diretriz oficial, pode-se afirmar que os republicanos, em geral, tendiam a
defender os meios pacíficos? Talvez o autor pudesse ter deixado mais claro que, neste
ponto, houve uma mudança na opinião geral ao longo do tempo.

O capítulo nove tem por objetivo tratar do posicionamento do Partido


Republicano na política do Império em seus últimos anos. Para isso, Boehrer analisará a
propaganda do Partido Republicano, especialmente aquela veiculada em jornais da
época, mas também discursos de republicanos influentes, para ver como os seus
membros se inseriam nas discussões sobre a família imperial, a abolição, a Questão
Religiosa e a Questão Militar.
Os membros da família real elegidos como alvo da propaganda republicana eram
D. Pedro II, a princesa Isabel e conde d`Eu. É possível supor que a escolha foi feita
porque os três eram os membros mais próximos do poder, tendo em vista que eram o
imperador, a futura imperatriz e seu marido. Durante o Império, Pedro II foi criticado
por causa de decisões políticas tanto por conservadores quanto por librais, mas
raramente foi atacado pessoalmente. Os republicanos mantiveram esta postura, evitando
atacá-lo pessoalmente, o que o autor considera ter ocorrido minoritariamente, como nos
casos em que o imperador teve suas virtudes ironizadas com comentários mais ou
menos violentos. Nos últimos anos do Império republicanos espalharam boatos sobre a
sua saúde física e mental, desqualificando-o como líder da nação.

No caso da princesa Isabel e seu marido, porém, os ataques pessoais foram mais
intensos, especialmente nos últimos anos do Império, quando se entendia que a sucessão
estava próxima. Em geral, Isabel era atacada por seu fervor religioso, acusando-a de
representar a ingerência da Igreja no Estado brasileiro e sua personalidade dita tímida e
fraca. Seu marido era criticado por ser estrangeiro, era tido como um aproveitador,
pouco inteligente, autoritário, um militar pouco valoroso e tendo ideais retrógrados
como a crença no direito divino dos reis. Alguns diziam que a timidez de Isabel faria
com que o governante efetivo fosse seu marido, representando um risco para a liberdade
no Brasil. Também foi forte a campanha contra a sucessão, especialmente após o
adoecimento de Pedro II em 1887. Em geral, o reinado de Isabel era tido como a
continuidade dos vícios administrativos, econômicos e sociais do se Pedro II, mas havia
risco de piora.

Boehrer entende que a propaganda foi bem-sucedida. Mesmo poupando a figura


do imperador, a campanha, tida por ele como maligna, os republicanos foram capazes
de fazer o povo desacreditar na instituição monárquica.

O Partido Republicano também se envolveu nos conflitos entre o Império e a


Igreja na década de 70 do século XIX. Em geral, a opinião veiculada em jornais
republicanos era contra a união entre Estado e Igreja, alguns dogmas, algumas ordens o
Concílio do Vaticano. Quando os conflitos com a Igreja surgiram, houve apoio aos
maçons perseguidos, mas, quando perceberam que a questão era uma disputa entre
Estado e Igreja, os republicanos se encontraram num dilema, pois apoiar os maçons era
apoiar o governo e, se apoiassem a Igreja, estariam se colocando a favor de uma
instituição que não apreciavam. Permaneceram ao lado dos maçons, mas de forma mais
branda.

O Partido tinha que lidar também com os seus membros católicos, de modo que
não podiam atacar tão firmemente a Igreja para não os afastar. Para alguns, o conflito
com a Igreja poderia torná-la uma importante aliada contra o Império, mas, neste ponto,
houve divergências entre republicanos, como Boehrer mostra por diferentes jornais. A
atitude dos positivistas de respeito à Igreja, apesar de considerarem-na obsoleta,
também mostra as diferenças dentro do Partido. Ao mesmo tempo, ao tomar parte da
disputa, o Partido podia divulgar sua política religiosa, que incluía a separação entre
Igreja e Estado, a igualdade de religião, ensino secular, o casamento civil e o registro
civil de nascimentos e óbitos. No fim, o autor entende que o Partido não se utilizou
politicamente do afastamento entre o Império e a Igreja e esta não via vantagens em se
aproximar do partido.

O momento do surgimento do Partido Republicano foi de intensificação na


campanha pela abolição da escravidão. Essa discussão envolveu setores variados da
sociedade, como o exército, a Igreja, a população urbana e a própria família imperial.
Sendo a maior discussão político-social, o partido republicano não tinha como não se
envolver. O manifesto de 1870 não trata da escravidão, mas jornais republicanos no Rio
de Janeiro denunciava a escravidão como um dos motivos dos problemas do Brasil. Os
republicanos do RJ se diziam abolicionistas e entraram na discussão da Lei do Ventre
Livre, se opondo a ela por manter o filho de escrava no cativeiro por 21 anos. Este
grupo sugeria o fim da escravidão pela iniciativa de cada província ou pela emancipação
geral com indenização ou pela emancipação gradual. Os cariocas criticavam a lei de
1871 por ter criado uma quarta situação que não resolveria verdadeiramente o problema.

Na argumentação dos cariocas, é interessante notar a referência à guerra civil


que poderia ser causada pela criação de novos laços jurídicos pela Lei Rio Branco, que
teriam por consequência o desprezo das crianças pelos seus pais escravos,
desestruturando as famílias. Percebe-se que a experiência americana estava no
horizonte.

A atitude dos republicanos paulistas em relação à escravidão foi diferente pela


presença maior de senhores de escravos no partido de lá. O partido dizia que, se a
opinião nacional se opusesse à abolição, ela não deveria ser feita. E, mesmo que alguns
republicanos a defendessem, o partido não deveria entrar nesta discussão, pois era um
problema do Império e deveria ser resolvido pelos partidos monarquistas, que estavam
no poder. Em geral, eles consideravam que o problema da escravidão seria resolvido
ainda no Império, mas se acontecesse de a República ter de lidar com isso, levaria em
conta o ponto de vista da nação para isso.

O congresso do partido em 1871 reafirma esta posição isenta em relação à


escravidão e sugeria a emancipação pelas províncias, de acordo com os seus interesses,
e a indenização aos donos de escravos. Boehrer afirma que, mesmo havendo alguns
importantes abolicionistas no partido paulista, muitos sufocavam suas convicções para
obter vantagens políticas ao se aliarem a cafeicultores de Campinas. Diferente do
ocorrido no RJ, onde os republicanos abandonaram a abolição imediata sem indenização
apenas por conveniência política, na opinião de Boehrer. Tal abolição mais
conservadora acabou se tornando a diretriz oficial do partido, que passou a se opor a
qualquer projeto que não incluísse a indenização aos senhores.

Com esta escolha, o partido contou com o apoio e a influência política de ricos
senhores de escravos até 1888. Após a abolição, o partido se beneficiou com a entrada
de ex-senhores desgostosos com a decisão da Coroa de abolir a escravidão sem
indenização. Tal fato gerou algumas críticas ao partido, mas o autor entende que o
partido sofreu pouco com a atitude indecisa em relação à abolição. Apesar de algumas
deserções, os ganhos foram maiores que as perdas.

Por fim, Boehrer termina o capítulo tratando do posicionamento do partido


republicano no conflito entre Exército e Império nos anos 80 do século XIX. Segundo
Boehrer, a fundação do Partido Republicano foi consequência da queda do gabinete
Zacarias, resultado da primeira crise entre Império e Exército, no fim da Guerra do
Paraguai. Isso e o apreço pelas repúblicas francesa e americana, essencialmente civis,
tornavam lógica uma certa oposição entre o partido e os militares. Porém, os seus
dirigentes sabiam que não conseguiriam instaurar a república sem a ajuda dos militares.

Havia discussões nos primeiros anos do partido sobre a conveniência de um


Exército regular, pois alguns consideravam que isso poderia limitar a liberdade
nacional. Apesar de pontos de vista divergentes, com o tempo os republicanos passaram
a concordar acerca da necessidade de um Exército e os excessos seriam resultado da
posição que a monarquia conferia a esta instituição. Em alguns momentos, republicanos
até se queixavam da forma como a Coroa tratava a instituição. No congresso
republicano nacional, foi pedido o apoio militar, num gesto que denota uma tentativa de
aproximação.

A partir de 1887, os dirigentes do partido passaram a considerar a busca de apoio


do exército para implantar a República. Foram feitos diversos movimentos de
aproximação entre membros influentes do partido e a instituição durante os anos finais
do Império e jornais republicanos passaram a apoiar veementemente dos militares nos
conflitos com o governo, estimulando-os a se rebelarem.

A propaganda republicana era bastante bem recebida no exército especialmente


por causa da atuação de Benjamin Constant na Escola Militar do Rio de Janeiro, onde
difundiu as ideias positivistas de Comte, apoiadas com entusiasmo pelos jovens
militares. Sua posição de líder entre os estudantes desta escola o dava prestígio e
destaque dentro do exército. Foi quando Constant foi repreendido por insubordinação ao
fazer um discurso contra a monarquia quando da visita de militares chilenos que se
desencadeou o processo que levaria à proclamação da República em 15 de novembro de
1889.

Boehrer conclui o capítulo se questionando sobre a participação do partido no


golpe republicano. O autor conclui que, apesar de participações individuais de alguns
republicanos, o movimento foi essencialmente militar. Os militares poderiam ter dado o
golpe com ou sem a participação civil. Além disso, mesmo que alguns chefes
estivessem presentes, não é possível dizer que o partido como um todo estivesse
envolvido, pois grupos importantes não fizeram parte da conspiração e, com exceção de
SP, os partidos das demais províncias não sabiam da movimentação para derrubar o
governo. A abertura para que alguns republicanos estivessem presentes na proclamação
foi importante para dar aval republicano ao movimento e a tomada do poder nas
províncias pelos partidos foi um desenvolvimento natural, já que este era o único
partido que pedia uma república.

O autor é bem-sucedido em apontar os posicionamentos do partido republicano


nas principais discussões políticas do final do Império. Boehrer também faz um bom
uso das fontes com que trabalha, especialmente porque consegue identificar as
diferentes posições dentro do partido em relação a alguns assuntos. Havia os
positivistas, o grupo de SP e o grupo do Rio que nem sempre concordavam entre si ou
com a diretriz oficial dos dirigentes partidários, mostrando as complexidades do
movimento republicano. Ainda assim, surge a questão de como comprovar que as
diretrizes oficiais eram seguidas pela maioria dos republicanos, o que o autor dá a
entender em alguns momentos.

O último capítulo se destina à conclusão do livro, onde ele vai responder ao


questionamento sobre a importância do Partido Republicano e do movimento
republicano inaugurado em 1870 para a instauração da república no Brasil. O autor
considera que, apesar de a proclamação ter sido um evento essencialmente militar, como
já foi dito, o partido foi essencial para que ele fosse viável. Primeiro porque partiu dele
a orientação de um golpe militar e foi pela atuação dos membros do partido na
conspiração que foi possível convencer Deodoro, sabidamente monarquista, a liderar
um golpe contra o gabinete de Ouro Preto. Porém, como Constant teve mais influência
na conversão de Deodoro e para tornar o exército republicano, não está aí a principal
contribuição do partido.

A principal contribuição do partido está na propaganda fortemente divulgada


desde 1870. Foi a partir dela que a população se tornou, aos poucos, receptiva aos ideais
republicanos, o que indica o espaço conquistado no eleitorado das principais províncias
nos últimos anos do Império. O êxito editorial da imprensa republicana nas maiores
cidades também mostra como um número cada vez maior de pessoas se interessava pelo
que tais jornais professavam, encorajando a fundação de jornais republicanos em outras
províncias. O sistema eleitoral brasileiro e os conflitos do Império com o Exército e
com os senhores de escravos tornam difícil determinar se as adesões ao republicanismo
eram sinceras ou mero oportunismo, pois foi somente após a abolição que o partido se
torna uma minoria importante.

O autor, porém, considera não ser possível subestimar a propaganda republicana,


pois o descontentamento dos senhores poderia ser manifestado de outra forma. Além
disso, Boehrer vê na passividade da população com o fim do Império, regime com o
qual conviveram há tanto tempo, a principal prova da eficiência da propaganda
republicana. Propaganda que, por anos, atacou a monarquia como uma instituição
incompatível com a América e retrógrada, dando a ideia de que a república seria
inevitável. Foi a repetição disso, mais a crença dos altos funcionários do Império,
inclusive o imperador, que a república viria em uma questão de tempo, que tornou
possível a aceitação tão fácil do novo regime. Sendo assim, Boehrer atribui ao partido
Republicano importância por ter sido capaz de espalhar os ideais republicanos pela
população, preparando o terreno para a sua instituição.

A conclusão do livro retoma questões abordadas nos capítulos anteriores e


apresenta uma hipótese interessante para o papel do Partido Republicano no processo
que levou ao fim da monarquia e à instauração da República. No geral, tendo a crer que
Boehrer dá uma boa explicação para o que se propõe a estudar, mas acredito que lhe
faltou o embasamento de suas afirmações finais em documentos que comprovem que o
ideal republicano tinha a capilaridade à qual ele se refere. Quando Boehrer diz que a
população se tornou receptiva ao republicanismo, ele se refere aos letrados? Mas os
jornais republicanos tinham circulação comparável aos que defendiam o regime
monárquico? E a população iletrada e mais pobre? Ela tinha acesso às discussões sobre
o regime de governo? Se sim, pode-se dizer que o republicanismo estava difundido
entre este grupo? São questões que ficaram e eu acredito serem importantes para
determinar a capacidade da propaganda republicana de tornar a população da época
propensa à forma republicana de governo. Mas vale lembrar que não lemos o livro todo.
Pode ser que ele tenha apresentado respostas a estes questionamentos em outros
momentos.

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