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1
LUKÁCS, György. Lenin : Um estudo sobre a unidade de seu pensamento. Trad. Rubens Enderle. – São
Paulo: Boitempo, 2012, p.78.
Vladímir Ilitch Lenin nasceu em 22 de abril de 1870, em Ulianovsk (Rússia), e
morreu em 21 de janeiro de 1924, em Gorki Leninskive (Rússia). Foi um grande líder
revolucionário e um grande intelectual marxista que, como aponta Florestan Fernandes,
sempre buscou a ortodoxia, partindo dos textos de Marx e Engels, e também a
compreensão das raízes da formação do marxismo. Essa ortodoxia, todavia, não
significa a mera repetição de Marx ou a ‘ossificação da dialética’. Ele buscou novos
caminhos através de análises históricas concretas e elaborou, através delas, teorias
concretas. György Lukács, ao analisar a unidade do pensamento de Lênin, afirmou que
a renovação dialética e teórica serviu como luta ao irracionalismo que vigorava, então,
no imperialismo. O marxismo nunca mais fora o mesmo depois dele.
2
BORGES, Maria Angélica. “Lênin: unidade e coerência do pensar e agir”. In: LÊNIN, Vladímir Ilitch. O
Estado e a revolução: a doutrina do marxismo sobre o Estado e as tarefas do proletariado na
revolução. Trad. Edições Avante. – 1. Ed. – São Paulo : Boitempo, 2017, p.194.
apoiou a guerra imperialista. Para ele, uma revolução socialista era necessária e seria
a solução.
Nas Teses de Abril, ele retoma a crítica à guerra imperialista e afirma que só é
possível vislumbrar seu fim com o fim do capital. No entanto, ao analisar o contexto
revolucionário russo, ele critica o governo provisório na medida que ele não deixa de
atender os interesses dos capitalistas e, consequentemente, do imperialismo. Aqui, nas
Teses, se encontram os germes da semente da concepção de Estado e de transição
que aparecerão no Estado e a revolução. Ele reconhece a minoria do seu partido, mas
luta por reconhecer que todo o poder de Estado deve permanecer na mão dos sovietes
de deputados organizados (SDO). Afirma, também, que o exército permanente deve ser
substituído pelo armamento geral do povo, tese que será retomada, também, no Estado
e a revolução. Ele pensa não na “’introdução’ do socialismo como nossa tarefa imediata,
mas apenas passar imediatamente ao controle da produção social e da distribuição dos
produtos por parte dos SDO”3.
3
LÊNIN, Vladímir Ilitch. “Teses de Abril”. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich; LÊNIN, Vladímir Ilitch.
Manifesto Comunista; Teses de Abril. Trad. Daniela Jinkings. – 1ªed. – São Paulo : Boitempo, 2017,
p.72.
4
ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Trad. Leandro Konder. –
Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1984, p.191.
5
Idem.
O Estado – que nasce da sociedade, mas que se coloca acima dela – necessita,
no entanto, de um ‘destacamento especial de pessoas armadas’ para se alienar dessa
sociedade. Esse destacamento nada mais é, de acordo com Lênin, que uma força em
serviço da classe exploradora. Sem perder o chão histórico, ele mostra que essa força
se tornou monstruosa com a guerra de 1914. Como se não bastasse, o Estado se vale
de impostos e dívidas públicas para realizar a manutenção de seu poder. Isso aconteceu
no período Antigo, Feudal e o Moderno Estado não escapa à regra, tendo momentos,
inclusive, de independência em face das classes, como foram as monarquias absolutas
no XVII e XVIII e os bonapartismos. Lenin ataca a república democrática na medida que
esta existe também em função da riqueza. Ora, o que é a corrupção direta de
funcionários e alianças entre o governo e a bolsa senão uma forma de defesa da
riqueza? O sufrágio universal, do mesmo modo, não atinge as demandas dos
trabalhadores. É apenas outro instrumento de dominação das massas. Mas Lenin,
novamente partindo da leitura de Engels, mostra que o Estado não existiu em todas as
sociedades. Algumas, inclusive, se desenvolveram sem ele. O estado surge na
sociedade em que há divisão de classes e, nesse ponto, Engels defende a ideia de que
ela se torna um empecilho para produção em si. “As classes vão desaparecer, e de
maneira tão inevitável como no passado surgiram. Com o desaparecimento das classes,
desaparecerá inevitavelmente o Estado”6.
6
Ibidem, p.195-6.
7
ENGELS, Friedrich. Anti-Düring: a revolução da ciência segundo o senhor Eugen Düring. Trad. Nélio
Schneider. – São Paulo, Boitempo, 2015, pp.316-7.
burguesia (ditadura do proletariado)”8. O definhamento ocorre após a tomada dos meios
de produção. A democracia, enquanto órgão do Estado, desaparece juntamente com
ele. Engels se dirige, com essas formulações não só aos anarquistas, mas,
principalmente, contra os sociais-democratas oportunistas que defendiam um “Estado
nacional livre” em meados de 1870. “Qualquer Estado é um ‘poder repressor específico’
contra a classe oprimida. Por isso, nenhum Estado é livre nem nacional”9. Lenin
recupera, portanto, a dialeticidade do pensamento marxista acerca do definhamento do
estado.
Lenin busca, então, analisar o balanço feito por Marx imediatamente após a
Primavera dos Povos e interpretar o que ele diz a respeito do Estado. Marx mostra que
a primeira Revolução Francesa desenvolveu a centralização estatal que foi reforçada
com Napoleão. Ele mostra que a Monarquia Legítima e a Monarquia de Julho só
8
LÊNIN, Vladímir Ilitch. O Estado e a revolução: a doutrina do marxismo sobre o Estado e as tarefas do
proletariado na revolução. Trad. Edições Avante. – 1. Ed. – São Paulo : Boitempo, 2017, p.40.
9
Ibidem, p.42.
10
Ibidem, p.51.
reforçaram a divisão de trabalho e conclui que “todas as revoluções aperfeiçoaram a
máquina em vez de quebra-la”11. A direção é bem clara: é preciso quebrar a máquina
estatal. Ao analisar como se daria a substituição do Estado burguês pelo Estado
proletário, Marx realiza um balanço da experiência histórica de 1848-1851 sendo
extremamente fiel ao materialismo histórico dialético. Ele indaga, inicialmente, como
surgiu, historicamente o Estado burguês, sua evolução e as tarefas do proletariado
dentro dessa máquina. Ele nota que o Estado surgiu na época da queda do absolutismo,
sendo suas instituições mais singulares a burocracia e o exército permanente. Estes
eram, nas palavras de Lenin, parasitas no corpo da sociedade burguesa. Parasita que
se fortalece à cada tentativa de revolução.
11
MARX, Karl. O 18 de brumário de Luís Bonaparte. – Trad. Nélio Schneider. – São Paulo, Boitempo,
2011, p.140.
que é a própria maioria do povo que reprime seus opressores, já não é necessária uma
‘força especial’ para a repressão! É nesse sentido que o Estado começa a definhar”12.
Portanto, é através da elegibilidade completa e a revogação da mesma, da redução dos
vencimentos à salários de operários e a extinção do exército permanente que se constrói
o caminho do capitalismo ao socialismo.
12
LÊNIN, Vladímir Ilitch. O Estado e a revolução: a doutrina do marxismo sobre o Estado e as tarefas do
proletariado na revolução. Trad. Edições Avante. – 1. Ed. – São Paulo : Boitempo, 2017, p.66.
13
Ibidem, p.71.
14
MARX, Karl. A guerra civil na França. Trad. Rubens Enderle. – São Paulo, Boitempo, 2011. Explanação
original se encontra na página 57.
uma forma de Estado. Mas uma forma que atenda a classe proletária, sem o aparato
burocrático e militar clássico do Estado burguês. O mesmo cuidado ao falar do
definhamento do Estado é tomado por Engels quando este dirige crítica aos anarquistas
e aos sociais-democratas. Ele critica também as ideias proudhonistas de
antiautoritarismo na medida que é absurdo conceber uma revolução socialista sem
autoritarismo. Ora, uma revolução é a imposição da vontade de uma parte da população
à outra e, sem a mesma, não há como chegar ao socialismo.
Não sendo o Estado mais do que uma instituição transitória, da qual alguém se
serve na luta, na revolução, para submeter violentamente seus adversários, então
é puro absurdo falar de um Estado popular livre: enquanto o proletariado ainda faz
uso do Estado, ele o usa não no interesse da liberdade, mas para submeter seus
adversários e, a partir do momento em que se pode falar de liberdade, o Estado
deixa de existir como tal. Por isso, nossa proposta seria substituir, por toda parte, a
palavra Estado por Gemeinwesen [comunidade].15
15
ENGELS, Friedrich. “Friedrich Engels a August Bebel (março de 1875)”. In: MARX, Karl. Crítica ao
programa de Gotha. Trad. Rubens Enderle – São Paulo, Boitempo, 2012, p.56.
imaginação ou utopias, e reafirma que entre a sociedade capitalista e a sociedade
comunista, há um período de transição política. Esse período, caracterizado pela
ditadura do proletário, leva Lenin a questionar as relações da ditadura com a
democracia. Desse modo, a democracia, no seio da formação da sociedade capitalista,
nada mais é que uma democracia de uma minoria. Através da ditadura do proletariado,
há uma ampliação da democracia. No entanto, há diversas repressões aos antigos
opressores, o que leva Lenin concluir que se há violência, então não há liberdade e,
portanto, democracia. Só na sociedade comunista, assim, quando os antigos
opressores e as classes estiverem completamente extintas, haverá democracia, pois,
haverá liberdade. A democracia, nesse estágio, começa a definhar, assim como o
Estado, que se torna supérfluo.
16
LÊNIN, Vladímir Ilitch. O Estado e a revolução: a doutrina do marxismo sobre o Estado e as tarefas do
proletariado na revolução. Trad. Edições Avante. – 1. Ed. – São Paulo : Boitempo, 2017, p.118.
17
MARX, Karl. “Glosas marginais ao programa do Partido Operário Alemão”. In: MARX, Karl. Crítica ao
programa de Gotha. Trad. Rubens Enderle – São Paulo, Boitempo, 2012, p.31-32.
Lenin conclui, portanto, que a condição econômica para o definhamento do
Estado é justamente a fase comunista. Não haverá, assim, desigualdade entre o
trabalho físico e o intelectual. A expropriação dos meios de produção alavanca a
produção, no entanto, Lenin afirma ainda não poder saber qual será o ritmo dessa
expansão. Dessa forma, a diferença científica entre socialismo e comunismo que o
revolucionário russo propõe, através de suas leituras de Marx e Engels, é que o
socialismo é considerado a primeira fase sendo que é através da tomada dos meios de
produção – e, tornando-os comuns – que se caminha ao comunismo. É a partir do
momento em que a sociedade, ela mesma, administra toda sua produção sem vestígios
de Estado é que se fala em comunismo. Marx é extremamente dialético ao tratar o
comunismo algo que nasce do capitalismo e se desenvolve a partir dele.
Bibliografia:
ALI, Tariq. “Introdução”. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich; LÊNIN, Vladímir Ilitch. Manifesto do
Partido Comunista; Teses de Abril. Trad. Caco Ishak. – 1ªed. – São Paulo : Boitempo, 2017.
BORGES, Maria Angélica. “Lênin: unidade e coerência do pensar e agir”. In: LÊNIN, Vladímir Ilitch.
O Estado e a revolução: a doutrina do marxismo sobre o Estado e as tarefas do proletariado
na revolução. Trad. Edições Avante. – 1. Ed. – São Paulo : Boitempo, 2017.
ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Trad. Leandro
Konder. – Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1984.
ENGELS, Friedrich. Anti-Düring: a revolução da ciência segundo o senhor Eugen Düring. Trad.
Nélio Schneider. – São Paulo, Boitempo, 2015.
ENGELS, Friedrich. “Friedrich Engels a August Bebel (março de 1875)”. In: MARX, Karl. Crítica ao
programa de Gotha. Trad. Rubens Enderle – São Paulo, Boitempo, 2012.
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BORGES, Maria Angélica. “Lênin: unidade e coerência do pensar e agir”. In: LÊNIN, Vladímir Ilitch. O
Estado e a revolução: a doutrina do marxismo sobre o Estado e as tarefas do proletariado na
revolução. Trad. Edições Avante. – 1. Ed. – São Paulo : Boitempo, 2017, p.195.
LÊNIN, Vladímir Ilitch. O Estado e a revolução: a doutrina do marxismo sobre o Estado e as
tarefas do proletariado na revolução. Trad. Edições Avante. – 1. Ed. – São Paulo : Boitempo,
2017.
LÊNIN, Vladímir Ilitch. “Teses de Abril”. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich; LÊNIN, Vladímir Ilitch.
Manifesto Comunista; Teses de Abril. Trad. Daniela Jinkings. – 1ªed. – São Paulo : Boitempo,
2017.
LUKÁCS, György. Lenin : Um estudo sobre a unidade de seu pensamento. Trad. Rubens Enderle.
– São Paulo: Boitempo, 2012
MARX, Karl. A guerra civil na França. Trad. Rubens Enderle. – São Paulo, Boitempo, 2011.
MARX, Karl. “Glosas marginais ao programa do Partido Operário Alemão”. In: MARX, Karl. Crítica
ao programa de Gotha. Trad. Rubens Enderle – São Paulo, Boitempo, 2012.
MARX, Karl. Manifesto Comunista. Trad. Álvaro Pina; Ivana Jinkings. – São Paulo : Boitempo,
2010.
MARX, Karl. O 18 de brumário de Luís Bonaparte. – Trad. Nélio Schneider. – São Paulo,
Boitempo, 2011.