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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Depto. Ciências Sociais – Curso: História (Bacharelado)

Disciplina: Teoria III – 2º/2017 Aluno: Luiz Felipe de Oliveira – RA00182273

Resumo: a presente resenha propõe analisar o desenvolvimento do pensamento de


Ivan Ilitch Lenin sobre o Estado das Teses de Abril até O Estado e a revolução. Para tal,
será exposto trechos integrais de Marx e Engels que serviram de base para o
desenvolvimento de seu pensamento e será abordado análises de outros autores tal
qual György Lukács, Florestan Fernandes e outros. Será considerado também a ideia
de que, como afirma Antônio Carlos Mazzeo, Lenin trata do “não Estado”, ou seja, ele
tem como fim analisar as condições históricas do surgimento do Estado e sua função e
mecanismos enquanto instrumento de dominação de classe mas sempre visando o fim
do mesmo.

Das Teses de Abril ao Estado e a revolução: o (não) Estado em Lenin

Lênin foi o único que alcançou a altura teórica da concepção marxiana, a


pureza do posicionamento proletário-revolucionário diante do problema do
Estado. E, mesmo que se limitasse a isso, sua realização já seria uma
realização teórica de alto nível. Mas essa recuperação da teoria marxiana do
Estado não é, em Lenin, nem um restabelecimento filológico da doutrina
originária nem uma sistematização filosófica de seus verdadeiros princípios,
mas – como em toda parte – sua continuidade no concreto, sua concretização
no plano prático atual. Lenin reconheceu e demonstrou que a questão do
Estado havia sido posta na ordem do dia para o proletariado em luta [...].
Somente com Lenin o ‘futuro’ tornou-se presente também no plano teórico.
Mas é apenas quando a questão do Estado é reconhecida como problema
crucial do presente que o proletariado pode considerar o Estado capitalista de
modo concreto, não mais como seu entorno natural e imutável, como único
ordenamento possível da sociedade para sua existência presente.1

György Lukács, 1924

1
LUKÁCS, György. Lenin : Um estudo sobre a unidade de seu pensamento. Trad. Rubens Enderle. – São
Paulo: Boitempo, 2012, p.78.
Vladímir Ilitch Lenin nasceu em 22 de abril de 1870, em Ulianovsk (Rússia), e
morreu em 21 de janeiro de 1924, em Gorki Leninskive (Rússia). Foi um grande líder
revolucionário e um grande intelectual marxista que, como aponta Florestan Fernandes,
sempre buscou a ortodoxia, partindo dos textos de Marx e Engels, e também a
compreensão das raízes da formação do marxismo. Essa ortodoxia, todavia, não
significa a mera repetição de Marx ou a ‘ossificação da dialética’. Ele buscou novos
caminhos através de análises históricas concretas e elaborou, através delas, teorias
concretas. György Lukács, ao analisar a unidade do pensamento de Lênin, afirmou que
a renovação dialética e teórica serviu como luta ao irracionalismo que vigorava, então,
no imperialismo. O marxismo nunca mais fora o mesmo depois dele.

Florestan Fernandes afirma que, com o marxismo-leninismo há um


deslocamento do centro analítico para a reflexão política. Isso porque Lenin busca
analisar as questões concretas da política visando, com isso, a transformação da
mesma. Assim como Marx, ele buscou, através de uma lógica imanente, teorizar o real.
Ora, as categorias, para Marx não são puras abstrações, mas sim expressões da
existência concreta. Ao descrever o percurso da ‘pena do mestre’, Maria Angélica
Borges afirma que “a novidade da revelação concreta é que o sujeito investigador parte
da aparência e chega à essência, e, mediante a análise histórica da alteridade
aparência/essência, estabelece a síntese”2. Ou seja, as categorias antes abstratas se
tornam concretas e é revelado, assim, o dinheiro, o capital, o trabalho e a força de
trabalho. Ora, nesse sentido o Estado se apresenta a favor do capital exercendo a
opressão da maioria pela minoria.

Exilado da Rússia, a Revolução de Fevereiro, que derrubou o Czar,


surpreendeu-o profundamente. Tariq Ali afirma que além de estar, desde então,
afastado de suas atividades, se encontrava absorto em reflexões e meditações acerca
da Revolução. No caminho para Petrogrado, no entanto, seu conceito de Revolução
estava bem estabelecido. A ditadura do proletariado deveria substituir o Estado burguês,
sendo que tais explanações ainda serão detalhadamente analisadas nesta presente
resenha. Mas, de imediato, vale ressaltar que ele criticava a ortodoxia marxista e a
maioria dos líderes da social-democracia alemã que consideravam que as forças
produtivas deveriam estar desenvolvidas para que se fizesse a revolução. Se ainda
havia algum respeito por esses sujeitos, ele se esvaiu de vez quando o partido alemão

2
BORGES, Maria Angélica. “Lênin: unidade e coerência do pensar e agir”. In: LÊNIN, Vladímir Ilitch. O
Estado e a revolução: a doutrina do marxismo sobre o Estado e as tarefas do proletariado na
revolução. Trad. Edições Avante. – 1. Ed. – São Paulo : Boitempo, 2017, p.194.
apoiou a guerra imperialista. Para ele, uma revolução socialista era necessária e seria
a solução.

Nas Teses de Abril, ele retoma a crítica à guerra imperialista e afirma que só é
possível vislumbrar seu fim com o fim do capital. No entanto, ao analisar o contexto
revolucionário russo, ele critica o governo provisório na medida que ele não deixa de
atender os interesses dos capitalistas e, consequentemente, do imperialismo. Aqui, nas
Teses, se encontram os germes da semente da concepção de Estado e de transição
que aparecerão no Estado e a revolução. Ele reconhece a minoria do seu partido, mas
luta por reconhecer que todo o poder de Estado deve permanecer na mão dos sovietes
de deputados organizados (SDO). Afirma, também, que o exército permanente deve ser
substituído pelo armamento geral do povo, tese que será retomada, também, no Estado
e a revolução. Ele pensa não na “’introdução’ do socialismo como nossa tarefa imediata,
mas apenas passar imediatamente ao controle da produção social e da distribuição dos
produtos por parte dos SDO”3.

Em O Estado e a revolução, redigido apenas alguns meses após a publicação


das Teses, Lênin aborda os horizontes da extinção do Estado, não sem antes, contudo,
explicar as condições históricas de sua existência e sua função enquanto instrumento
da burguesia. Através de uma leitura imanente das obras de Marx, ele busca dialogar
com seus deturpadores burgueses e sociais-chauvinistas para desvelar a verdadeira
doutrina de Marx. A partir da leitura de A origem da família, da propriedade privada e do
Estado, de Engels, ele percebe que “o Estado não é, pois, de modo nenhum, um poder
que se impôs à sociedade de fora para dentro [...]. É antes um produto da sociedade
[...] [que] se enredou numa irremediável contradição com ela própria”4 e, dado as
proporções da contradição e esses antagonismos presentes, “faz-se necessário um
poder colocado aparentemente por cima da sociedade [...]. Esse poder, nascido da
sociedade, mas posto acima dela se distanciando cada vez mais, é o Estado”5. Ao
contrário dos oportunistas, que consideram o Estado como órgão de conciliação de
classes, para Engels, ele é um órgão de dominação de classe. Ainda assim, durante a
revolução de 1917, os SRs (socialistas revolucionários) e os mencheviques
continuavam impregnados com essa teoria pequeno-burguesa que reverberara,
também, em Kautsky.

3
LÊNIN, Vladímir Ilitch. “Teses de Abril”. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich; LÊNIN, Vladímir Ilitch.
Manifesto Comunista; Teses de Abril. Trad. Daniela Jinkings. – 1ªed. – São Paulo : Boitempo, 2017,
p.72.
4
ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Trad. Leandro Konder. –
Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1984, p.191.
5
Idem.
O Estado – que nasce da sociedade, mas que se coloca acima dela – necessita,
no entanto, de um ‘destacamento especial de pessoas armadas’ para se alienar dessa
sociedade. Esse destacamento nada mais é, de acordo com Lênin, que uma força em
serviço da classe exploradora. Sem perder o chão histórico, ele mostra que essa força
se tornou monstruosa com a guerra de 1914. Como se não bastasse, o Estado se vale
de impostos e dívidas públicas para realizar a manutenção de seu poder. Isso aconteceu
no período Antigo, Feudal e o Moderno Estado não escapa à regra, tendo momentos,
inclusive, de independência em face das classes, como foram as monarquias absolutas
no XVII e XVIII e os bonapartismos. Lenin ataca a república democrática na medida que
esta existe também em função da riqueza. Ora, o que é a corrupção direta de
funcionários e alianças entre o governo e a bolsa senão uma forma de defesa da
riqueza? O sufrágio universal, do mesmo modo, não atinge as demandas dos
trabalhadores. É apenas outro instrumento de dominação das massas. Mas Lenin,
novamente partindo da leitura de Engels, mostra que o Estado não existiu em todas as
sociedades. Algumas, inclusive, se desenvolveram sem ele. O estado surge na
sociedade em que há divisão de classes e, nesse ponto, Engels defende a ideia de que
ela se torna um empecilho para produção em si. “As classes vão desaparecer, e de
maneira tão inevitável como no passado surgiram. Com o desaparecimento das classes,
desaparecerá inevitavelmente o Estado”6.

No entanto, Lenin mostra que a ideia de ‘definhamento do Estado’ proposta por


Engels ou é utilizada sem reflexão, ou é simplesmente deturpada por oportunistas.
Engels, em Anti-Düring, defende a ideia de que:

O proletariado assume o poder de Estado e transforma os meios de produção


primeiro em propriedade do Estado. Desse modo, ele próprio se extingue como
proletariado, desse modo, ele extingue todas as diferenças e os antagonismos de
classes e, desse modo, ele também extingue o Estado enquanto Estado.7

A deturpação ocorre ao passo que se interpreta o definhamento do Estado como


um processo lento, gradual, sem uma revolução de fato. Engels elabora essa concepção
tomando como base a análise histórica concreta da Comuna de Paris. Lenin esclarece
que sua proposta é a extinção do Estado burguês pela revolução proletária, sendo o
definhamento um fenômeno que atingiria os restos remanescentes do Estado proletário.
É preciso, dessa forma, de uma revolução. O poder burguês, que representa a minoria,
“deve ser substituído por um ‘poder repressor específico’ do proletariado contra a

6
Ibidem, p.195-6.
7
ENGELS, Friedrich. Anti-Düring: a revolução da ciência segundo o senhor Eugen Düring. Trad. Nélio
Schneider. – São Paulo, Boitempo, 2015, pp.316-7.
burguesia (ditadura do proletariado)”8. O definhamento ocorre após a tomada dos meios
de produção. A democracia, enquanto órgão do Estado, desaparece juntamente com
ele. Engels se dirige, com essas formulações não só aos anarquistas, mas,
principalmente, contra os sociais-democratas oportunistas que defendiam um “Estado
nacional livre” em meados de 1870. “Qualquer Estado é um ‘poder repressor específico’
contra a classe oprimida. Por isso, nenhum Estado é livre nem nacional”9. Lenin
recupera, portanto, a dialeticidade do pensamento marxista acerca do definhamento do
estado.

É examinado, então, a concepção de Estado nas primeiras obras do marxismo


maduro (Miséria da filosofia e Manifesto Comunista) que foram escrita logo antes da
primavera dos povos. Na Miséria da Filosofia, Marx mostra que o antagonismo de classe
desaparecerá com a subversão da sociedade burguesa pela proletária. O poder político
desaparecerá, na medida que ele é fruto do antagonismo da sociedade burguesa. Já no
Manifesto Comunista, o proletário em sua superioridade política centralizará os meios
de produção nas mãos do Estado. O que chama atenção para Lenin é o fato de Marx
definir o Estado como proletariado organizado como classe dominante. Isso revela que
o proletariado necessita do Estado, mas um Estado em decadência. Nesse jogo
dialético, Lenin mostra que o Estado, nas mãos dos trabalhadores, é utilizado
justamente para reprimir a resistência burguesa. Ele critica a ideia de conciliação de
classes que os pequeno-burgueses defendem, na medida que ela nada mais é que uma
nova forma de submissão. Assim:

No Manifesto Comunista, faz-se o balanço geral da história, que obriga a ver no


Estado o órgão de dominação de classe e conduz à conclusão necessária de que o
proletariado não pode derrubar a burguesia sem ter conquistado antes o poder
político, sem ter alcançado a dominação política e sem ter transformado o Estado
em ‘proletariado organizado como classe dominante’, e de que esse Estado
proletário começará a definhar logo após sua vitória, porque, numa sociedade sem
contradições de classe, o Estado é desnecessário e impossível. 10

Lenin busca, então, analisar o balanço feito por Marx imediatamente após a
Primavera dos Povos e interpretar o que ele diz a respeito do Estado. Marx mostra que
a primeira Revolução Francesa desenvolveu a centralização estatal que foi reforçada
com Napoleão. Ele mostra que a Monarquia Legítima e a Monarquia de Julho só

8
LÊNIN, Vladímir Ilitch. O Estado e a revolução: a doutrina do marxismo sobre o Estado e as tarefas do
proletariado na revolução. Trad. Edições Avante. – 1. Ed. – São Paulo : Boitempo, 2017, p.40.
9
Ibidem, p.42.
10
Ibidem, p.51.
reforçaram a divisão de trabalho e conclui que “todas as revoluções aperfeiçoaram a
máquina em vez de quebra-la”11. A direção é bem clara: é preciso quebrar a máquina
estatal. Ao analisar como se daria a substituição do Estado burguês pelo Estado
proletário, Marx realiza um balanço da experiência histórica de 1848-1851 sendo
extremamente fiel ao materialismo histórico dialético. Ele indaga, inicialmente, como
surgiu, historicamente o Estado burguês, sua evolução e as tarefas do proletariado
dentro dessa máquina. Ele nota que o Estado surgiu na época da queda do absolutismo,
sendo suas instituições mais singulares a burocracia e o exército permanente. Estes
eram, nas palavras de Lenin, parasitas no corpo da sociedade burguesa. Parasita que
se fortalece à cada tentativa de revolução.

Essa última proposição é demonstrada historicamente com a Revolução de


fevereiro de 1917, em que houve uma disputa para tomada de espaços burocráticos
pelos KDs (democratas-constitucionalistas) e os SRs (socialistas revolucionários). As
reformas são adiadas e a excessiva preocupação com o aparelho burocrático instiga às
massas proletárias contestarem a ordem estabelecida. O que leva, por sua vez, o
fortalecimento do aparelho estatal. No entanto, pelo que viria substituir o Estado burguês
só apareceria após 1871, com a Comuna de Paris, revelando, assim, a fidelidade de
Marx à experiência histórica. Lenin mostra que esse fortalecimento da máquina de
Estado é evidente também em sua época, com o Imperialismo, período em que surge o
capitalismo monopolista de Estado.

Analisando a experiência da Comuna, Marx sugeriu a precondição de qualquer


revolta popular que pretenda ser efetiva, seria a destruição da máquina burocrático-
militar de Estado. Entretanto, o uso da palavra popular abriu janelas para o oportunismo.
No que Lenin esclarece que Marx visava uma revolução popular que englobasse o
proletariado, mas também o campesinato. Esses dois grupos teriam como fim o
desmonte do Estado. O que iria substituir o Estado Marx estabelece através,
novamente, de análises históricas concretas. Ele não cai em utopias. Elabora suas
teses, exerce a autocrítica e reformula elas, se necessário. Partindo, então, da
experiência da comuna, ele estabelece que o exército permanente deve ser substituído
pelo povo armado. A polícia deve, também, ser despolitizada e substituída por agentes
da comuna. Uma democracia mais completa é possível sem o exército permanente e
com a elegibilidade e revogabilidade a qualquer momento de todos os funcionários. Eis
como a Comuna substitui o Estado burguês. Lenin recorda que a repressão contra a
burguesia deve ser continua, no entanto, é a maioria reprimindo a minoria. “E, uma vez

11
MARX, Karl. O 18 de brumário de Luís Bonaparte. – Trad. Nélio Schneider. – São Paulo, Boitempo,
2011, p.140.
que é a própria maioria do povo que reprime seus opressores, já não é necessária uma
‘força especial’ para a repressão! É nesse sentido que o Estado começa a definhar”12.
Portanto, é através da elegibilidade completa e a revogação da mesma, da redução dos
vencimentos à salários de operários e a extinção do exército permanente que se constrói
o caminho do capitalismo ao socialismo.

Lenin não deixa de visar a extinção do parlamentarismo também, na medida que,


representado pelo povo dominante, ele esmagará a população. O caminho de saída, no
entanto, não é a extinção de instituições representativas, mas sim transformá-las em
instituições de trabalho:

A comuna substituiu o parlamentarismo corrupto e apodrecido da sociedade


burguesa por instituições em que a liberdade de opinião e de discussão não
degenera em engano, pois os próprios parlamentares têm de trabalhar, executar
eles próprios suas leis, comprovar eles próprios o que se consegue na vida,
responder eles próprios diretamente a seus eleitores. As instituições representativas
permanecem, mas o parlamentarismo como sistema especial, como divisão do
trabalho legislativo e executivo, como situação privilegiada para os deputados, não
existe aqui.13

A destruição do funcionalismo, assim, não se dá de um dia para o outro. Se dá


dialeticamente, se constrói um órgão de produção a partir do que já foi criado pelo
capitalismo. Os próprios trabalhadores, através de disciplina, rigor e experiência
operária, reduz o funcionalismo e conduz o definhamento do Estado. No que tange a
organização da unidade da não, Marx afirma que as funções do governo central não
pereceriam, mas seriam limitadas e desempenhadas por agentes comunais14. A
constituição comunal, portanto, organizaria a unidade da nação. Recuperando as ideias
de Marx, Lenin se coloca contra oportunistas e deturpadores como Bernstein que,
segundo o autor, atribui “federalismo” à Marx, confundindo-o com Proudhon. Marx, ao
contrário de federalista, defende o centralismo democrático.

Friedrich Engels também já leva em consideração a experiência da comuna ao


elaborar suas obras. Ao analisar a questão da moradia, ele afirma que a tomada dos
meios de produção pelo povo trabalhador, torna este o proprietário universal dos
mesmos meios durante, ao menos, o período de transição. Em outras palavras, Engels
reconhece que administração das propriedades e dos meios de produção ainda requer

12
LÊNIN, Vladímir Ilitch. O Estado e a revolução: a doutrina do marxismo sobre o Estado e as tarefas do
proletariado na revolução. Trad. Edições Avante. – 1. Ed. – São Paulo : Boitempo, 2017, p.66.
13
Ibidem, p.71.
14
MARX, Karl. A guerra civil na França. Trad. Rubens Enderle. – São Paulo, Boitempo, 2011. Explanação
original se encontra na página 57.
uma forma de Estado. Mas uma forma que atenda a classe proletária, sem o aparato
burocrático e militar clássico do Estado burguês. O mesmo cuidado ao falar do
definhamento do Estado é tomado por Engels quando este dirige crítica aos anarquistas
e aos sociais-democratas. Ele critica também as ideias proudhonistas de
antiautoritarismo na medida que é absurdo conceber uma revolução socialista sem
autoritarismo. Ora, uma revolução é a imposição da vontade de uma parte da população
à outra e, sem a mesma, não há como chegar ao socialismo.

Ao buscar maior precisão acerca da concepção de Estado de Marx e Engels


para elaborar sua tese, Lenin recorre também a correspondências enviadas por eles à
outras figuras da época. Nesse sentido, na carta à August Bebel, Engels afirma que:

Não sendo o Estado mais do que uma instituição transitória, da qual alguém se
serve na luta, na revolução, para submeter violentamente seus adversários, então
é puro absurdo falar de um Estado popular livre: enquanto o proletariado ainda faz
uso do Estado, ele o usa não no interesse da liberdade, mas para submeter seus
adversários e, a partir do momento em que se pode falar de liberdade, o Estado
deixa de existir como tal. Por isso, nossa proposta seria substituir, por toda parte, a
palavra Estado por Gemeinwesen [comunidade].15

É demonstrado, portanto, através da crítica imanente dos textos, que a Comuna


não era um Estado em si. Isso se dá na medida que a repressão é dada da maioria para
minoria com a ausência de um aparelho burocrático e militar similar ao burguês. Ele
conclui que se ela tivesse sido efetivada, o Estado teria desaparecido. Na crítica do
projeto do Programa de Erfurt, Engels, ao analisar as transformações do capitalismo
moderno, nota que ao deixar a economia sob ação dos trustes ocorre uma ausência de
planificação. Lenin mostra que Engels ao elaborar tal raciocínio compreende o que viria
ser o Imperialismo do final do XIX pro XX. Mas, quanto a questão do Estado, a crítica
ao Programa demonstra que a república democrática é a melhor via de acesso a
ditadura do proletariado. Sendo que, após a revolução proletária, o centralismo
democrático e a república unitária seria a melhor forma de organização da Comuna.
Engels converge também com Marx a respeito da elegibilidade e revogabilidade livres
de cargos na Comuna, assim como o salário universal.

O questionamento que é colocado, então, é qual a transformação que o Estado


sofrerá em uma sociedade comunista? Quais aspectos do Estado ainda permanecerão?
Lenin busca responder à essas questões de modo científico, sem cair, novamente, em

15
ENGELS, Friedrich. “Friedrich Engels a August Bebel (março de 1875)”. In: MARX, Karl. Crítica ao
programa de Gotha. Trad. Rubens Enderle – São Paulo, Boitempo, 2012, p.56.
imaginação ou utopias, e reafirma que entre a sociedade capitalista e a sociedade
comunista, há um período de transição política. Esse período, caracterizado pela
ditadura do proletário, leva Lenin a questionar as relações da ditadura com a
democracia. Desse modo, a democracia, no seio da formação da sociedade capitalista,
nada mais é que uma democracia de uma minoria. Através da ditadura do proletariado,
há uma ampliação da democracia. No entanto, há diversas repressões aos antigos
opressores, o que leva Lenin concluir que se há violência, então não há liberdade e,
portanto, democracia. Só na sociedade comunista, assim, quando os antigos
opressores e as classes estiverem completamente extintas, haverá democracia, pois,
haverá liberdade. A democracia, nesse estágio, começa a definhar, assim como o
Estado, que se torna supérfluo.

Na primeira fase da sociedade comunista, Marx afirma que há a necessidade de


planejamento do desenvolvimento da mesma. É necessário criar, a partir dos frutos do
trabalho, fundos de reserva, de ampliação de produção, de administração de escolas,
hospitais e asilos. Ele estabelece um orçamento exato das condições de vida social e
econômica socialista. Os meios de produção passam a pertencer a sociedade inteira.
No entanto, a sociedade socialista é ainda fruto do capitalismo, ou seja, ela ainda
carrega marcas da antiga sociedade – por isso, é a primeira fase da sociedade
comunista. Assim, o “igual direito” ainda é o direito burguês. Em outras palavras, é um
direito único para uma pluralidade de indivíduos. Lenin mostra que “a primeira fase do
comunismo ainda não pode, pois, realizar justiça e a igualdade: hão de subsistir
diferenças de riqueza e diferenças injustas, mas o que não poderia subsistir é a
exploração do homem pelo homem”16. A socialização dos meios de produção não
suprime a desigualdade do “igual direito” burguês. Essa desigualdade vai ser suprimida
na medida que o Estado for definhando.

Marx, portanto, afirma que:

Numa fase superior da sociedade comunista, quando tiver sido eliminada a


subordinação escravizadora dos indivíduos à divisão do trabalho e, com ela, a
oposição entre trabalho intelectual e manual; quando o trabalho tiver deixado de ser
mero meio de vida e tiver se tornado a primeira necessidade vital [...], apenas então
o estreito horizonte jurídico burguês poderá ser plenamente superado. 17

16
LÊNIN, Vladímir Ilitch. O Estado e a revolução: a doutrina do marxismo sobre o Estado e as tarefas do
proletariado na revolução. Trad. Edições Avante. – 1. Ed. – São Paulo : Boitempo, 2017, p.118.
17
MARX, Karl. “Glosas marginais ao programa do Partido Operário Alemão”. In: MARX, Karl. Crítica ao
programa de Gotha. Trad. Rubens Enderle – São Paulo, Boitempo, 2012, p.31-32.
Lenin conclui, portanto, que a condição econômica para o definhamento do
Estado é justamente a fase comunista. Não haverá, assim, desigualdade entre o
trabalho físico e o intelectual. A expropriação dos meios de produção alavanca a
produção, no entanto, Lenin afirma ainda não poder saber qual será o ritmo dessa
expansão. Dessa forma, a diferença científica entre socialismo e comunismo que o
revolucionário russo propõe, através de suas leituras de Marx e Engels, é que o
socialismo é considerado a primeira fase sendo que é através da tomada dos meios de
produção – e, tornando-os comuns – que se caminha ao comunismo. É a partir do
momento em que a sociedade, ela mesma, administra toda sua produção sem vestígios
de Estado é que se fala em comunismo. Marx é extremamente dialético ao tratar o
comunismo algo que nasce do capitalismo e se desenvolve a partir dele.

Maria Angélica Borges ao escrever sobre o Estado e a Revolução conclui que a


produção teórica marxiana e marxista “deve ser lido não como dogma, mas como
ontologia do ser social, que nos abraça e nos alimenta para novas passadas à luz das
especificidades do século”18. Florestan Fernandes aponta que a maior contribuição de
Lenin é justamente repor o marxismo como política revolucionário trazendo uma
descrição teórica e uma formulação prática da revolução proletária fugindo, assim, de
utopias e formulações fantasiosas e insustentáveis.

Bibliografia:

ALI, Tariq. “Introdução”. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich; LÊNIN, Vladímir Ilitch. Manifesto do
Partido Comunista; Teses de Abril. Trad. Caco Ishak. – 1ªed. – São Paulo : Boitempo, 2017.
BORGES, Maria Angélica. “Lênin: unidade e coerência do pensar e agir”. In: LÊNIN, Vladímir Ilitch.
O Estado e a revolução: a doutrina do marxismo sobre o Estado e as tarefas do proletariado
na revolução. Trad. Edições Avante. – 1. Ed. – São Paulo : Boitempo, 2017.
ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Trad. Leandro
Konder. – Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1984.
ENGELS, Friedrich. Anti-Düring: a revolução da ciência segundo o senhor Eugen Düring. Trad.
Nélio Schneider. – São Paulo, Boitempo, 2015.
ENGELS, Friedrich. “Friedrich Engels a August Bebel (março de 1875)”. In: MARX, Karl. Crítica ao
programa de Gotha. Trad. Rubens Enderle – São Paulo, Boitempo, 2012.

18
BORGES, Maria Angélica. “Lênin: unidade e coerência do pensar e agir”. In: LÊNIN, Vladímir Ilitch. O
Estado e a revolução: a doutrina do marxismo sobre o Estado e as tarefas do proletariado na
revolução. Trad. Edições Avante. – 1. Ed. – São Paulo : Boitempo, 2017, p.195.
LÊNIN, Vladímir Ilitch. O Estado e a revolução: a doutrina do marxismo sobre o Estado e as
tarefas do proletariado na revolução. Trad. Edições Avante. – 1. Ed. – São Paulo : Boitempo,
2017.
LÊNIN, Vladímir Ilitch. “Teses de Abril”. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich; LÊNIN, Vladímir Ilitch.
Manifesto Comunista; Teses de Abril. Trad. Daniela Jinkings. – 1ªed. – São Paulo : Boitempo,
2017.
LUKÁCS, György. Lenin : Um estudo sobre a unidade de seu pensamento. Trad. Rubens Enderle.
– São Paulo: Boitempo, 2012
MARX, Karl. A guerra civil na França. Trad. Rubens Enderle. – São Paulo, Boitempo, 2011.
MARX, Karl. “Glosas marginais ao programa do Partido Operário Alemão”. In: MARX, Karl. Crítica
ao programa de Gotha. Trad. Rubens Enderle – São Paulo, Boitempo, 2012.
MARX, Karl. Manifesto Comunista. Trad. Álvaro Pina; Ivana Jinkings. – São Paulo : Boitempo,
2010.
MARX, Karl. O 18 de brumário de Luís Bonaparte. – Trad. Nélio Schneider. – São Paulo,
Boitempo, 2011.

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