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‘Ter anticorpos não é o mesmo


que estar imune ao vírus’, diz
especialista em coronavírus
Eurico Arruda, professor titular de virologia da Faculdade de Medicina da USP em
Ribeirão Preto, é um dos poucos cientistas brasileiros a estudar esta família viral

Ana Lucia Azevedo


28/04/2020 - 04:30
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RIO - O coronavírus pode


permanecer no organismo de
Professor Eurico Arruda, junto com dois estudantes de pós-doutorado, Ronaldo Martins Junior e Marjorie Pontelli.
pessoas
Foto: Arquivoconsideradas
pessoal recuperadas
da Covid-19 por um tempo ainda
desconhecido. A afirmação é de um
dos raros especialistas em
coronavírus do Brasil, Eurico
Arruda, professor titular de
virologia da Faculdade de Medicina
da USP em Ribeirão Preto. O cientista já estudava essa família de vírus
muito antes de o Sars-Cov-2 emergir na China e espalhar doença e
morte pelo mundo. Ele adverte que apenas ter anticorpos não significa
que uma pessoa esteja imune à Covid-19. Arruda coordena o Laboratório
de Patogênese Viral e diz que a carteira de vacinação, provavelmente com
uma vacina com vírus inativado, será o passaporte de imunidade possível
contra o Sars-CoV-2.

Contágio: Cientistas detectam coronavírus no ar em ruas e prédios


próximos a hospitais

Muitos países e empresas planejam testar os funcionários


para saber se têm anticorpos e estariam imunes ao novo
coronavírus, mas a OMS alertou que não existe um
“passaporte de imunidade”. Qual a sua opinião?

A ideia de passaporte de imunidade com base em testes de anticorpos não


só é descabida por não ter base científica, quanto é perigosa. Os testes
dizem apenas que uma pessoa tem anticorpos. Mas ter anticorpos não é o
mesmo que possuir defesas e estar imune. A resposta imune é complexa,
e envolve outros componentes além de anticorpos. O ‘passaporte’ colocará
pessoas infectadas nas ruas para passar o vírus livremente.

Por que?

O anticorpo é uma cicatriz sorológica, não é um atestado de imunidade.


Ele é uma marca da exposição ao vírus presente no soro sanguíneo. A
presença de anticorpos diz que uma pessoa foi exposta ao vírus e
produziu uma resposta a isso. Mas isso não significa que ficou imune,
pois a resposta pode não ser forte ou duradoura o suficiente, e tampouco
que ela deixou de ser portadora do vírus. Claro, algumas pessoas com
anticorpos de fato terão desenvolvido defesas, anticorpos capazes de
bloquear a infecção, mas os testes sorológicos disponíveis em larga escala
não são capazes de informar isso. O teste para detectar a presença de
anticorpos neutralizantes, que não é um teste rápido, seria um indicador
mais acurado de imunidade.

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O que falta saber?

Muitas coisas. Não conhecemos a capacidade de persistência do Sars-


CoV-2, mas sabemos que outros coronavírus podem provocar
persistência.

O que é persistência?

É a capacidade de um vírus continuar “escondido” no organismo mesmo


depois de a pessoa se recuperar de uma infecção. O vírus para de se
replicar desenfreadamente e de causar doença, mas continua no corpo da
pessoa. Se as defesas dela, por algum motivo, enfraquecem, ele pode
voltar a se replicar e ser transmitido, e pode provocar sintomas.

Seria esse o caso de pacientes com Covid-19 que haviam sido


considerados recuperados e voltaram a testar positivo na
Coreia do Sul e na China?

Muito provavelmente. Uma reinfecção tão precocemente após a cura


clínica é altamente improvável. O que pode acontecer é que o sistema
imunológico debelou parcialmente o vírus, mas não o derrotou de vez.
Por alguma fraqueza, ele voltou a causar sintomas ou a se replicar, ainda
que a pessoa esteja assintomática. Uma hipótese é que isso aconteça
porque o sistema imunológico esteja ainda aprendendo a atacar o vírus e
se adaptando a um novo patógeno. Quase sempre o vírus será derrotado
mais uma vez, mas não necessariamente eliminado.

Onde? Novo secretário-executivo da Saúde diz que isolamento não deu


resultado em alguns lugares, sem citar exemplos

Isso significa que a pessoa continuará contagiosa?

Algumas pessoas, provavelmente, sim.


O que sabemos de persistência em coronavírus?

Temos fortes evidências que os chamados coronavírus endêmicos, que


causam até cerca de 15% das infecções respiratórias, fazem isso. Um
estudo que realizamos com crianças saudáveis que tiveram as amígdalas
extraídas (porque eram grandes e poderiam causar problemas) — e essa
cirurgia corretiva só pode ser feita em indivíduos livres de sintomas de
infecção respiratória aguda — mostrou que 13% de 190 estavam
infectadas por coronavírus endêmicos (HKU1, OC43, NL63 e 229E). Elas
não apresentavam qualquer sintoma. Mas os coronavírus podem se
replicar e sair das tonsilas (adenoides e as amígdalas) .

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E o que acontece?

A criança não manifesta sintomas da infecção viral, mas pode passar o


vírus adiante. As crianças têm anticorpos para os coronavírus, portanto
seriam ‘imunes’, mas no entanto podem ser ainda contagiosas. Logo, um
teste de anticorpos lhes daria “um passaporte de imunidade” falso, não
bloquearia a transmissão desses coronavírus. Isso é um perigo.
O novo coronavírus, o Sars-CoV-2, poderia fazer o mesmo?

Tenho quase certeza que sim. Em ciência trabalhamos com fatos, por isso,
essa hipótese terá que ser provada. E só poderemos fazer isso quando
pudermos obter biópsias de tonsilas de pessoas que tiveram Covid-19 e
que se submeterão a alguma cirurgia para remover tonsilas após a
pandemia. Isso por enquanto, por segurança, não é possível.

Sem sair de casa: Hospitais e serviços de saúde oferecem 'teste' online


para autoavaliação de Covid-19

Isso já foi visto com outros vírus?

Sim. Publicamos este ano um estudo numa das revistas mais importantes
da área, o Journal of Virology, mostrando que influenza H1N1 fez
persistência em crianças no Brasil. Ele consegue se esconder dentro das
principais células de defesa do organismo, os linfócitos, inclusive os do
tipo CD8, células cuja duração pode chegar a décadas. Isso é como morar
dentro do tanque de guerra do inimigo e usá-lo a seu favor. Essa variante
de H1N1 que faz isso chegou a um ponto ideal do ponto de vista do vírus.

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Por que?

Porque ele consegue continuar a existir e a se multiplicar. Não o


suficiente para causar doença na criança hospedeira, mas o necessário
para que ela o possa transmitir para outras pessoas. Não é do interesse do
vírus que o hospedeiro morra porque ele desaparecerá junto. O Sars-CoV-
2 é letal porque está se adaptando a um novo hospedeiro, ou seja, nós.

O que isso significa?

Que ele continuará entre nós. Causará muita infecção e morte nos mais
vulneráveis e depois provavelmente se adaptará a permanecer. Não irá
embora. Precisamos fazer logo uma vacina.

Então um passaporte de imunidade agora não é possível?

Não. Estamos aprendendo lições muito duras. As pessoas estão brincando


com o fogo. No Brasil estamos muito mal. O governo e as empresas falam
em retomada da economia justamente no momento mais crítico da
epidemia. O resultado será um pandemônio. Se até aqui tivemos alguma
redução de curvas de crescimento, foi graças ao distanciamento social, e
reduzi-lo dará ao coronavírus um passe livre. O vírus vai bater na porta
das casas e das empresas.
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Mas nunca teremos um verdadeiro passaporte de


imunidade?

Claro que poderemos ter. O passaporte será uma carteira de vacinação.


Teremos um passaporte quando desenvolvermos uma vacina,
provavelmente feita com vírus inativado, semelhante à que é usada para
influenza. Só uma vacina nessa linha será capaz de provocar uma resposta
imunológica, não apenas potente o suficiente para impedir o
desenvolvimento da doença, quanto duradoura.

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E estamos caminhando para uma vacina assim?

Estou otimista nesse sentido. Fiquei muito feliz com os primeiros


resultados de cientistas chineses que imunizaram macacos com uma
vacina contra a Covid-19 feita com vírus inativados. Ela é importante
porque essa é a estratégia que pode funcionar e porque usou macacos, o
modelo experimental mais próximo do ser humano. O próximo passo será
testar com voluntários.
Incomum: Grupo recruta voluntários para se infectarem de propósito
com Covid-19 em estudo de vacina

Por que a vacina precisa ser com vírus inativado e não com
pedaços de genes, uma vacina genética, por exemplo?

Há várias possibilidades de fazer uma vacina, inclusive de vírus


atenuados, ou de partes do vírus, mas vacinas inativadas são mais rápidas
de produzir, e provocam resposta de defesa poderosa. Ela contém várias
proteínas do vírus e assim faz com que células do sistema imunológico
produzam anticorpos e desenvolvam uma memória contra o coronavírus.

Mas essas vacinas são seguras?

Sim. Muito. Elas são feitas com vírus mortos. Os coronavírus são
revestidos de uma camada de lipídios, isto é, gorduras. Para fazer a
vacina, essa camada é dissolvida com detergentes — e, por favor, não
adianta tomar detergente como sugeriu o presidente Donald Trump
porque eles são tóxicos, acho que todos sabemos. O detergente rompe o
vírus, ele é despedaçado e fixado com formalina. Ele deixa de ser um
vírus, não é mais infectante. Mas as proteínas que precisamos para que
nosso sistema de defesa aprenda e se arme estão lá.
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