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Níveis de comunicação
empresarial sobre temas de interesse público
Gisela Gonçalves
Universidade da Beira Interior
gisela@ubi.pt
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Níveis de comunicação empresarial sobre temas de interesse público 3
não pode ser separada da visão de respon- tado de Mecenato uma vez que toda a produ-
sabilidade social do responsável máximo da ção artística da campanha foi encomendada
empresa. O papel do presidente é incontor- ao famoso fotógrafo François Rousseau que
nável quando se coloca a questão do porquê optou pelo cenário de uma favela no Rio de
desenvolver estratégias de responsabilidade Janeiro. Posteriormente, as fotografias origi-
social empresarial (RSE), uma vez que, por naram um livro cujos direitos de autor serão
detrás de muitas opções de gestão há uma canalizados para uma ONG a trabalhar na lo-
visão ética do mundo, alicerçada em va- cal.2
lores e princípios pessoais. É esta figura No entanto, e não pretendendo psicana-
de poder que, em ultima análise, determina lizar a Renova, qualquer empresa que fo-
se a responsabilidade do negócio é apenas mente uma imagem responsável, seja através
criar valor para os accionistas (ver Fried- de campanhas publicitárias ou no desenvol-
man, 1970), ou também criar valor para os vimento de parcerias com ONG’s, está con-
vários stakeholder (ver Freeman 1984) ou denada a levantar questões acerca da sua ver-
para a sociedade como um todo (ver Car- dadeira intenção e objectivo. Porque além
roll&Buckholtz, 2005). Sem dúvida, uma de haver alguma hipocrisia empresarial é in-
polémica interpretação que há muito se de- dubitável, como reforça o investigador por-
senrola no seio da discussão ética empresa- tuguês A. Rego (2006: 297), que nem sem-
rial. pre existe a consciência de que as acções so-
A campanha publicitária internacional da cialmente responsáveis só o são verdadeira-
Renova 2005/2006 intitulada “Amor Causa” mente se estiverem impregnadas de um ca-
permite ilustrar a questão da visão pessoal pital de sustentabilidade. O mesmo se pode
sobre RSE, como sobressai na leitura da en- dizer em relação ao incremento de Códigos
trevista do Presidente da Renova, Paulo Pe- éticos e de conduta adoptados pelas mais
reira da Silva: variadíssimas organizações. Uma “código-
mania” (Waddock 2004) que torna difícil
Eu desejo inscrever a Renova, como marca e distinguir quais os códigos que resultam de
empresa, numa perspectiva ética. O texto das motivações genuínas ou aqueles que funci-
Bem-Aventuranças é um texto universal pe- onam apenas como veículos cosméticos de
los valores humanistas que defende: respeito, imagem. Portanto, a questão que sobressai
atenção para com os outros, humildade e ale-
neste Micro nível do contexto organizacional
gria, por oposição a uma sociedade virada
é, no fundo, sobre reputação empresarial.
para o consumo (in Revista Photo, Nov.05).
Os conceitos de imagem e reputação em-
Nesta campanha, centrada em cenários presarial têm sido largamente desenvolvidos
bíblicos, a presença da marca Renova por investigadores da área da gestão, das
restringe-se ao logótipo, não havendo qual- relações públicas, da comunicação corpo-
quer referência a produtos, mas apenas a va- à proibição de afixação de publicidade exterior em
lores emocionais, de cariz fortemente religi- França.
2
oso.1 Este projecto também pode ser cono- Para mais informações sobre a campanha
consultar: http://www.amorcausa.com/ (acedido em
1 14.01.08)
O pendor religioso da campanha levou mesmo
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activos será maior a probabilidade de conse- que dizem que fazem” (Waddok, 2004: 11-
guir gerir eficazmente o relacionamento com 12). Por isso mesmo, possibilitam estraté-
esses mesmos públicos. gias publicitárias centradas em provas éti-
Qualquer organização para sobreviver tem cas e transparentes que enfatizam a imagem
necessariamente de conseguir adaptar-se às de responsabilidade empresarial (ver Gon-
expectativas dos seus diferentes stakeholder çalves, 2004).
ou “públicos primários” a operar no meso ní- A Renova, por exemplo, obteve o rótulo
vel (os “públicos secundários” serão alvo de ecológico europeu (Eco-label) 4 com a linha
reflexão no capítulo seguinte). No contexto 100% reciclado RenovaGreen, o primeiro da
da RSE os stakeholder que têm maior pro- Península Ibérica atribuído a produtos tis-
babilidade de se transformarem em públicos sue. O seu ideal ecológico é comunicado
activos são (1) os clientes ou consumidores, na publicidade, no próprio site e nas mensa-
(2) os parceiros de negócios, (3) os investi- gens institucionais, como sobressai das pa-
dores e (4) a própria concorrência. lavras do Director de Marketing da Renova:
(1) Segundo vários estudos os consumido- “Nesta ‘eco-ideia Renova’ está garantido um
res não tomam necessariamente em conside- preço competitivo para os produtos green, de
ração, nas suas decisões de compra, se o pro- forma a que o consumidor possa, de livre
duto é amigo do ambiente ou fabricado por vontade e sem condicionamento de preço,
uma empresa socialmente responsável (Au- optar por ter uma ‘atitude ambiental mais
ger et al. 2003; Mori 2000). No entanto, é responsável’. . . os consumidores poderão es-
cada vez maior o número de empresas que colher livremente ‘se querem ter uma atitude
vêem na RSE e na inovação de produtos sus- responsável para como o meio ambiente’
tentáveis vantagens competitivas, viabilizá- ou não”. (Semanário Económico, 29.06.07:
veis num nicho de negócio em claro cres- p.24).
cimento, o do “ethical consumer” (Harrison (2) Um número crescente de empresas tem
2005). O aumento de empresas e produtos vindo a desenvolver guias de conduta para
certificados de acordo com normas interna- toda a cadeia de negócio (fornecedores, reta-
cionais de responsabilidade social e ambien- lhistas, distribuidores, subcontratantes, etc.)
tal é outra evidência concreta desta tendên- subscrevendo a importância de todos os par-
cia.3 As certificações permitem avaliar em ceiros de negócio seguirem padrões éticos,
que grau as empresas “fazem realmente o sociais e ambientais comuns (Livro Verde,
3
2001: ponto 48). Em Portugal, segundo o
A Certificação de Empresas chegou a Portugal
no início da década de 90, inicialmente apenas no nal no sector dos cafés e também na comunicação da
âmbito da Qualidade. A certificação ambiental (ISO RSE. (ver Gonçalves, 2004)
14001) e a certificação social (Social Accountability - 4
A consulta ao site www.eco-label.com realizada
SA 8000) entraram no país no final dos anos 90. A em Janeiro de 2008, revelou 285 produtos à venda em
Novadelta foi a primeira empresa portuguesa a obter Portugal que ostentam o rótulo ecológico europeu, fa-
a certificação de responsabilidade social SA 8000, em bricados por 48 empresas. Apenas 14 deles são fabri-
Dezembro de 2002. Esta empresa é reconhecida in- cados em Portugal pelas seguintes empresas: “Rob-
ternacionalmente pelo seu trabalho em prol da imple- bialac”, “Dyrup” e “Hempel”, nas tintas de interior;
mentação de práticas de sustentabilidade em Timor- “Natura Pura Ibérica”, no sector têxtil e “Renova” nos
Leste, sendo considerada um case-study internacio- produtos tissue.
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gal” da RTP1, que destacou a gama ecoló- sociais e ecológicos desenvolveu-se uma
gica da Renova como a escolha acertada em análise dos principais contextos em que uma
termos ambientais e serviu de exemplo para política de responsabilidade empresarial tem
a divulgação do Rótulo Ecológico da União lugar a partir da distinção entre área contex-
Europeia.11 tual de micro nível (organizacional), meso ní-
Os mass media ocupam, de facto, um lu- vel (stakeholder externos) e macro nível (so-
gar privilegiado na discussão sobre RSE que cial e mediático). Os três níveis são repre-
é contextualizada no macro nível. O olhar sentados na Figura 1, através de linhas des-
dos mass media sobre a responsabilidade contínuas, para ilustrar a sua permeabilidade
empresarial tem sido normalmente debatido e impacto mútuo:
pela negativa, como prova a elevada notici- - Micro nível: No nível organizacional
abilidade do caso Enron/Andersen em 2002 constitui-se uma identidade organizacional
ou do desastre do Prestige na Galiza, em que é definida por uma cultura e filosofia
2003. Também no estudo “A Percepção da de responsabilidade empresarial (institucio-
responsabilidade social em Portugal” reali- nalizada no Código Ético) comum a todos
zado pela Sair da Casca em 2004, a mai- os colaboradores. Esta personalidade corpo-
oria dos jornalistas afirma que os escânda- rativa conduz a uma postura de comunica-
los são mais susceptíveis de se tornar notí- ção transparente com todos os diferentes sta-
cia do que as boas praticas empresariais na keholder internos (auditorias internas, volun-
medida em que o interesse do público se tariado empresarial) e externos (relatórios de
centra mais no lado negativo da sua actua- sustentabilidade, certificações sociais e am-
ção. No entanto, não se pode deixar de ob- bientais).
servar o aumento de notícias sobre o tema - Meso nível: A comunicação da responsa-
na imprensa portuguesa, especialmente, em bilidade empresarial com os diferentes públi-
revistas ou suplementos especializados (Im- cos externos é enfatizada através de estraté-
pactus, Exame, Marketeer, Semanário eco- gias publicitárias de âmbito comercial, espe-
nómico, e muitos outros). É indubitável que cialmente vocacionada para os consumido-
quando a imprensa coloca as boas práticas res, e de âmbito institucional, direccionada
empresariais na sua pauta editorial, além de para a sociedade em geral e por isso mesmo,
participar na construção da imagem pública transversal a todos os públicos. A comunica-
das empresas intervenientes, também contri- ção com os diferentes públicos tem o poder
bui fortemente para a formação da opinião de produzir diferentes imagens sobre produ-
pública sobre RSE. tos, marcas, e especialmente, sobre a respon-
sabilidade social e ecológica da própria em-
presa.
5 Uma conclusão responsável
- Macro nível: A parceria com organismos
Na tentativa de encontrar um enquadramento da sociedade civil, como ONG’s e associa-
para a comunicação corporativa sobre temas ções empresariais reforça a identidade orga-
11
nizacional na projecção de uma imagem de
Filme disponível em: http://www.renovaonline.
net/Renovaonline2/ro1new.php?ID=3446&lang=PT responsabilidade empresarial, endossada por
entidades externas à empresa. O campo me-
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