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CRISE NA EUROPA

EM PORTUGAL, UMA
ESCOLA PARA
“CONSERTAR” A
DEMOCRACIA
As  vedetes  da  Universidade  Nova  de  Lisboa,
principal  escola  de  negócios  (e  fiadora  dos  pacotes
econômicos)  do  país,  não  têm  dúvidas:  sua
influência  repousaria  sobre  a  objetividade  de  suas
pesquisas.  A  despeito  dessa  inclinação  à  levitação
social  e  ideológica,  os  docentes  reconhecem  a
existência de um consenso na escola
3 de abril de 2012 por: Owen Jones

(Manifestantes portugueses protestam contra o fim do Carnaval, mais uma das
medidas de austeridade do governo)

Basta  eu  pegar  meu  telefone  para  encontrar  um  membro  do  governo,  o  primeiro­
ministro  ou  até  o  presidente  da  República”,  gosta  de  se  gabar  o  professor  Ferreira
Machado,  decano  da  Universidade  Nova  de  Lisboa,  a  principal  escola  de  negócios
portuguesa. Exibindo o sorriso dos que não duvidam de que o mundo deve muito a eles,
Machado não subestima a influência de sua escola, nem a sua própria.
Em  setembro  de  2011,  uma  pesquisa  do  Financial  Timessugeria  que  talvez  ele  não
estivesse  enganado.  “No  auge  da  crise  da  dívida  soberana  de  Portugal”,  relatava  o
periódico  britânico,  “a  delegação  da  União  Europeia  [UE]  e  do  Fundo  Monetário
Internacional  [FMI]  que  tinha  se  deslocado  até  Lisboa  para  negociar  o  acordo  sobre  o
resgate do país por um valor de 78 bilhões de euros de repente desapareceu”. Em plena
campanha para as eleições legislativas, os portugueses esperavam, no entanto, conhecer
o remédio para todos os males que a Troika – a UE, o FMI e o Banco Central Europeu
(BCE)  –  se  preparava  para  prescrever.  “Na  verdade,  os  dois  alemães  e  seu  colega
dinamarquês  tinham  deixado  o  hotel  logo  cedo  para  um  café  da  manhã  discreto  na
companhia  de  conselheiros  da  Faculdade  de  Economia  da  Universidade  Nova  de
Lisboa.”1  “Eles  tinham  muita  vontade  de  conhecer  nosso  ponto  de  vista”,  confirma
Machado.

Com seus longos corredores e paredes nuas, a escola Nova parece em alguns pontos com
um  hospital  abandonado.  Mas,  como  em  qualquer  universidade,  grupos  de  estudantes
grudados  em  seus  manuais  enchem  a  grama  do  parque.  A  instituição  é  financiada  por
fundos públicos, e as taxas de matrícula chegam a 900 euros por ano. Mesmo não sendo
enorme,  a  soma  é,  ainda  assim,  substancial  num  país  onde  o  salário  mínimo  mal
ultrapassa os 485 euros por mês (em 14 meses). Os estudantes, atraídos pela colocação
da  Nova  nos  rankings  internacionais,  provêm  de  aproximadamente  trinta  países.
O  Financial  Timesclassifica  seu  mestrado  em  finanças  entre  as  trinta  melhores
formações  desse  tipo  no  mundo,  e  os  que  terminam  seu  Master  in  Business
Administration  (MBA)  europeu  podem  esperar  ganhar  quinze  vezes  o  salário  mínimo
português.2

Também professor na Nova – e então no poder –, o ministro das Finanças do governo
anterior  (socialista),  Luís  Campos  e  Cunha,  não  foi  convidado  para  a  pequena  reunião
com a Troika. Ele dá de ombros: “Eu não preciso ir a um café da manhã para ter meu
ponto  de  vista  apreciado”.  “No  fim  das  contas,  fui  eu  que  fiz  pressão  para  reduzir  o
número de dias de folga e aumentar a jornada de trabalho em meia hora. Exatamente a
solução adotada pelo governo.” Qual é sua receita? “Eu me contentei em escrever artigos
em diversos jornais e dei entrevistas.”
“A Nova é mais uma elite intelectual do que uma elite social”, insiste Machado, mesmo
se a distinção se revela às vezes vaga.3 Não apenas a universidade formou a maioria dos
dirigentes  políticos  do  país  (como  Vítor  Gaspar,  o  atual  ministro  das  Finanças),  mas
encontramos seus diplomados e professores nos conselhos de administração de grandes
empresas portuguesas: por exemplo, António Carrapatoso, ex­diretor­geral da Vodafone
Portugal, ou António de Sousa, presidente da associação bancária portuguesa e ex­CEO
da mais importante empresa financeira nacional, a Caixa Geral de Depósitos.

Aqui,  a  elite  é  como  o  país:  compacta.  Os  principais  chefes,  políticos  e  homens  de
negócios se encontram, então, há muito tempo. Segundo Luís Macedo Pinto de Sousa,
um  universitário  que  encabeça  os  serviços  de  luta  contra  a  corrupção  em  Portugal,  a
estrutura constitucional do país favorece as “trocas de favores” e a ociosidade: “Muitos
contratos atribuídos pelos ministros são dados a empresas nas quais eles vão trabalhar
em  seguida.  Nossa  Constituição  proíbe  aos  ministros  ocupar  uma  cadeira  no
Parlamento  depois  do  fim  de  seu  mandato,  o  que  não  é  o  caso  no  Reino  Unido,  por
exemplo; então eles acabam indo para o setor privado”.

A importância de uma escola como a Nova (e das ideias que ela promove) não escapou à
classe  dirigente.  Ainda  mais  com  a  concorrência  se  revelando  discreta,  para  não  dizer
inexistente.  “Há  muito  poucas  think  tanks[usinas  de  ideias]  independentes  em
Portugal”,  declara  Campos  e  Cunha.  “Por  consequência,  são  as  universidades  que
cumprem  esse  papel.”  É  assim  que,  tanto  de  direita  como  de  esquerda,  os  principais
responsáveis  políticos  do  país  se  voltam  todos  para  os  membros  do  corpo  docente  da
Nova, para obter suas luzes.

Levitação social e ideológica

As vedetes da escola não têm dúvidas: sua influência repousaria essencialmente sobre a
objetividade  de  suas  pesquisas.  Elas  gostam  então  de  se  apresentar  como  “acima  da
confusão”.  A  escola  propõe  opiniões  que  não  são  “comprometidas  emocionalmente”,
clama  Machado,  para  quem  a  Nova  oferece  “um  ponto  de  vista  informado,  mas
independente”, que “não se submete a nenhum lobby”.
A  despeito  dessa  inclinação  à  levitação  social  e  ideológica,  os  docentes  reconhecem  a
existência  de  um  consenso  no  seio  da  escola.  “No  nível  conceitual”,  observa  Machado,
“concordamos  a  respeito  da  necessidade  de  aumentar  a  produtividade,  sobre  o  livre­
comércio, a reforma do mercado de trabalho, o aumento da competitividade e o papel
do Estado. Os desacordos concernem a estratégias a curto prazo. Mas navegamos todos
na  mesma  direção.”  Quando  perguntamos  se  é  possível  encontrar,  por  exemplo,
keynesianos na Nova, ele cai na gargalhada.

Os  economistas  da  universidade  concordam  em  identificar  suas  contribuições  mais
importantes no “grupo” das medidas que condicionaram o resgate do país: flexibilização
do  mercado  de  trabalho,  cortes  nos  gastos  sociais  e  aumento  do  imposto  sobre  valor
acrescentado (IVA, uma taxa sobre o consumo). Ou seja, exatamente a fórmula que foi
aplicada na Grécia, na Irlanda, na Espanha, na Itália e que começa a trilhar seu caminho
na França. Poderia ser que a influência da Nova sobre a Troika tenha se revelado menos
decisiva  que  sua  capacidade  de  fornecer  uma  legitimidade  local  à  austeridade  que  já
tinha sido decretada em Bruxelas e Frankfurt?

O  que  quer  que  seja,  a  receita  não  convence  a  população.  Quando  as  duas  principais
federações  sindicais  lançaram  a  segunda  greve  geral  da  história  de  Portugal  depois  da
ditadura, no dia 24 de novembro de 2011, os manifestantes gritavam: “25 de abril para
sempre,  vamos  nos  libertar  do  fascismo!”,  em  referência  ao  dia  de  1974  em  que  os
oficiais  progressistas  derrubaram  o  “Estado  novo”  do  ditador  António  Salazar,
anunciando a Revolução dos Cravos.

Os ideólogos da Nova, longe de negar esse antagonismo entre democracia e austeridade,
o  assumem  sem  complexo:  “Certamente.  Certamente  mesmo.  Aí  é  que  está  meu
propósito”,  opina  o  professor  José  Neves  Adelino,  que  dirige  o  programa  de  MBA  da
Nova e tem cargos nos conselhos de administração de diversas empresas. Até agora, os
“programas  políticos  eram  concebidos  para  ganhar  a  eleição”,  diz  ele,  tomando  como
exemplo o sistema de saúde público. Mas, a seus olhos, um sistema universal e gratuito
é  simplesmente  inviável:  “Se  continuarmos  garantindo  um  sistema  de  saúde  gratuito
para todos, é simples: acrescentamos 20% a mais de dívida. E acabamos numa situação
na  qual  não  podemos  mais  garantir  o  sistema  que  defendíamos”.  Para  Machado,  “as
democracias  favorecem  amplamente  o  status  quo”.  Por  quê?  “Porque  sempre
conseguimos  identificar  quem  são  os  perdedores  das  reformas:  grupos  bem  precisos,
capazes de pressionar os dirigentes políticos. Definir quem vai ser beneficiado se revela
mais delicado: são as gerações futuras, o conjunto da comunidade.”

“Uma  das  dirigentes  da  oposição  foi  muito  criticada  quando  disse:  ‘Se  apenas
pudéssemos suspender a democracia por seis meses!’. Claro”, continua ele, “não é o que
ela  preconizava.  O  que  ela  queria  dizer  é  que  o  enfrentamento  entre  reformas  e
democracia era inevitável, e que as coisas seriam bem mais fáceis se pudéssemos colocar
a democracia entre parênteses.”

Mas  Nadim  Habib,  dirigente  de  uma  escola  de  administração  da  Nova,  mantém  a
esperança: “Para ser honesto, ao ver os jovens que têm hoje 18, 19 anos, estou otimista
pela  economia  e  pela  retomada.  É  essa  geração  que  vai  mudar  o  país.  Se  nós  não
conseguimos  influenciar  os  dirigentes  de  hoje,  as  coisas  serão  diferentes  com  os  que
virão”.  Machado  concorda:  “Mais  do  que  o  governo  atual,  prefiro  ser  ouvido  pela
próxima geração”. Serão eleitos? Ninguém sabe. Sairão da Nova? Ele não tem sombra de
dúvida.

BOX:Um projeto­teste

“Às  vezes  eu  tenho  a  impressão  de  que  Portugal  é  um  teste  para  o  que  o  resto  da
Europa vai enfrentar cedo ou tarde se quiser recuperar seu crescimento”, confia Nadim
Habib, diretor­geral de um centro de formação em administração da Universidade Nova
de  Lisboa.  Se  o  país  serve  efetivamente  de  laboratório  às  políticas  que  serão  aplicadas
em outros lugares, então as empresas europeias poderiam sofrer a transformação social
mais importante desde a queda do comunismo.

Depois da Grécia e da Irlanda, Portugal foi o terceiro Estado da União Europeia (UE) a
ser beneficiado por um plano de “resgate”. Em troca de um envelope de 78 bilhões de
euros  (provenientes  da  UE  e  do  FMI),  em  maio  de  2011  o  governo  aceitou  reduzir  o
déficit  orçamentário  de  9,1%  para  5,9%  do  Produto  Interno  Bruto  (PIB)  até  o  fim  de
2012,  e  para  3%  até  2013.  Para  alcançar  tais  objetivos,  o  ministro  das  Finanças  Vítor
Gaspar se comprometeu a cortar as despesas públicas: de 50,5% para 43,5% até 2015.
Um projeto “sem precedentes” em mais de meio século, concorda.1

A  primeira  fase  do  programa  de  privatizações  mais  radical  da  história  de  Portugal
começou  em  dezembro,  quando  o  Estado  vendeu  sua  parte  da  companhia  energética
Energias  de  Portugal  para  a  China  Three  Gorges  Corporation.  A  autoridade  dos
aeroportos,  a  companhia  aérea  nacional,  a  água,  a  rádio  nacional  e  os  transportes
públicos deveriam por sua vez ser vendidos nos próximos meses.

Enquanto  as  fronteiras  do  Estado  estão  sendo  redefinidas,  o  nível  de  vida  dos
trabalhadores com salários baixos e médios sofre uma pressão inédita. O imposto sobre
o  valor  acrescentado  (IVA)  da  eletricidade  e  do  gás  natural  passou  de  6%  a  23%.  Em
2011,  um  imposto  excepcional  sobre  o  salário,  equivalente  a  50%  de  um  mês  de
vencimentos, atingiu todos os trabalhadores. Como em outros países do sul da Europa,
os  funcionários  públicos  são  frequentemente  pagos  em  quatorze  meses;  suprimiram
dois para todos cujo salário ultrapassava mil euros mensais. Considerados globalmente,
os  empregados  do  setor  público  viram  seu  salário  diminuir  25%.2  Os  desempregados
sofreram  uma  diminuição  de  17%  de  seus  benefícios,  cujo  período  é  agora  limitado  a
dezoito  meses.  Os  assalariados  do  setor  privado  não  se  saem  melhor:  o  governo
aumentou a jornada de trabalho em meia hora, ou seja, o equivalente a quinze dias de
trabalho – não remunerados – por ano.

No início de janeiro, invocando uma redução na demanda interna – que a austeridade
enfraquece cada dia mais – maior do que a prevista, o Banco Central revisou para baixo
suas  previsões  econômicas,  anunciando  para  2012  uma  contração  de  3,1%  do
PIB.3  Quando  a  agência  de  classificação  Standard  &  Poor’s  diminuiu  a  nota  de  nove
países  europeus,  no  dia  13  de  janeiro,  Portugal  se  viu  atribuído  de  um  “alto  risco”.  A
agência justificou sua decisão nestes termos: “Estimamos que um processo de reforma
baseado apenas na austeridade fiscal corre o risco de ter um efeito inverso ao procurado,
na  medida  em  que  a  demanda  interna  afunda  em  razão  da  inquietação  crescente  dos
consumidores com relação à segurança do emprego e do valor líquido dos salários, o que
corrói as receitas fiscais nacionais”.4
Portugal  atingiu  seu  objetivo  de  déficit  orçamentário  no  fim  de  2011,  mas  somente
porque sugou 5,6 bilhões de euros em ativos dos fundos de pensão do país.5 (O. J.)

Owen  Jones  é  Autor  de  Chavs:  The  Demonization  of  the  Working  Class  [Chavs:  a
demonização da classe trabalhadora]. Londres: Verso, 2011.

1  Peter  Wise,  “Portugal:  a  degree  of  influence”  [Portugal:  um  grau  de  influência],
Financial Times, Londres, 19 set. 2011.
2  “Business  school  rankings  2011”  [Ranking  das  escolas  de  negócios  2011],  Financial
Times. Disponível em: rankings.ft.com.
3  Ler  “Où  se  cachent  les  pouvoirs”  [Onde  se  escondem  os  poderes],  Manière  de  Voir,
n.122, abr.­maio 2012.

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