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JULIANO GOMES www.romulofroes.com.

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Anotações sobre elas

1. Poderia começar essas notas pela mesma frase do texto em que apresentava o
álbum anterior de Romulo Fróes, Barulho feio: “Não é mais uma surpresa que
Romulo Fróes nos surpreenda.” Isso dado, a questão é “como”. Agora, na sexta
parte (poderíamos chamar de sexta faixa) da sua obra como cantor, temos um
álbum de violão e voz. Se por um lado esta estratégia sonora é uma espécie de
formato canônico na canção brasileira (em seus extratos mais expressivos, basta
citar Caymmi e João Gilberto, mas também nos menos), o melhor referencial
talvez seja pensá-lo dentro da obra de Romulo. 2. Essa “sexta canção” de um
disco que poderia se chamar Romulo Fróes é um golpe, uma finta no seu trajeto
que se constrói pela linha estratégica conceitual dos álbuns. 3. Por elas Sem elas
pode ser visto como o compasso de uma pausa nesse processo de intensificação
de táticas de ataque à forma da canção. 4. Mas o que é uma pausa? 5. João
Gilberto nos ensinou que a canção, ou ainda, o samba canção (matéria predileta
deste e de Romulo) é uma espécie de manejo de silêncios, de composição de
ausências. 6. Todo sentido e todo som é uma composição de buracos, de pausas,
de cavidades. 7. Em Barulho Feio, o limite do que é canção e do que não é já foi
borrado. 8. Esse sexto compasso limpa o terreno das estratégias de tratamento e
nos entrega um conjunto de canções desnudadas, somente com a roupa de baixo.
8b. Despir-se é uma astúcia. 9. Sem introduções ou digressões: a voz, as partes,
o canto, os silêncios. 9a. O universo estético plenamente constituído ao longo de
sua obra nos dá algumas pistas sobre esse trajeto. 10. O mundo que essas
canções desenham é um mundo em trânsito, um universo que se desenha e se
apaga na duração da canção. O que realmente há, é ela! 11. Mas quem são elas?
12. Em vez das estratégias tradicionais do eu-lírico cancional: “sou”, “estou”,
“amo”, “sinto”, o que se desenha aqui são essas descrições amorosamente
antiamorosas que erguem jogos de sentidos e contrários. 13. A paisagem aqui é
povoada de “não” “nada”, “sem”, “ou”, “quase”, “morrer”, “estrago”, “pedaço”,
“danado”, “me estrepo”, “me rasgo”. 14. Um mundo sem nome e cujas formas se
constroem e se destroem constantemente. 15. A tradição da música brasileira que
versa sobre o amor, ganha nas canções de Romulo, desenhos que reconfiguram o
tema sob uma dramaturgia de contrários: “Pra começar, vai acabar” em Nada
disso é pra você (Romulo Fróes / Clima); “Nasce morrendo” em Flor Vermelha
(Romulo Fróes / Nuno Ramos). 16. O amor não precisa ser exatamente narrado,
ele acontece na forma da canção: o amor se dá por essa profusão de duplicidades
conflitantes sob a matéria cancional que as une. 17. O que talvez possa parecer
seu disco mais doce, acaba por evidenciar, por sua estratégia crua e direta, a
carne desse universo denso, amoroso, conflituoso e múltiplo. 18. À esta altura é
redundante assinalar a presença da morte como matéria poética na obra de
Romulo, mas talvez possamos entender esse disco como uma morte na dimensão
do fio que seus discos compõem. 19. “O Romulo experimentador morreu”,
poderiam dizer. Mas ele nasceu morrendo, pois, se seu trabalho ilumina a história
que o alimenta e que ele ajuda a criar (é suficiente pra isso a constatação de que
neste álbum há canções que dão título para álbuns de Elza Soares e Juçara
Marçal), também afirma: toda tradição ativa sempre foi experimentação. 19a. Um
disco onde sua característica dimensão iconoclasta estivesse na superfície criaria
uma constância na linha que une seus álbuns, daí a efetividade dessa síncope
que se apresenta. 20. A ordem aqui é a instabilidade. Importa mais do que as
coisas, seu movimento. 21. Tudo é trânsito. 21a. (Cantar é perder-se pelo ar) 22.
O interesse de pensar este álbum sob a luz (ou à escuridão) da obra de Romulo, é
ratificar a dimensão coletiva de seu trabalho, no circuito de abundância que ele e
sua rara rede de colaboradores nos brindam a cada conjunto de meses. 23. A
nudez sonora é uma estratégia que liga as canções ao que está fora delas. 24.
Uma outra constelação da qual este disco também faz parte é a das cantoras que
gravaram, antes deste, tais canções. 25. De novo, um lado b, uma segunda
sessão, um movimento: uma relação. 26. Elza Soares, Juçara Marçal, Nina
Becker, Juliana Perdigão, Mariana Aydar, Manuela Rodrigues e Natália Matos,
inspiram essas gravações na medida em que estas lhes servem de contraponto.
27. Elas estão aqui, mas ausentes (antimusas). 28. “A voz ali é nós dois” como é
dito em Presente de casamento (Thiago França / Romulo Fróes). 29. Como no
amor, trata-se de poder estar junto mas separado. 30. Disfarçado de limpidez, Por
elas Sem elas, é mais um passo de adensamento do trabalho de um dos artistas
mais inventivos e imprevisíveis no campo da canção popular hoje. Uma
intensificação falsamente leve (outra lição do baiano desafinado), que traveste, ou
melhor, conjuga, violência e suavidade. Indagando ativamente, leva para frente e
para trás este caminho raro e abundante que deságua agora na vereda cuja sexta
pedra é este disco.

Juliano Gomes!

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