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Aunêncio Luís Chigohe

Morfologia nominal do Cicopi

Licenciatura em Ensino de Português com Habilitações em Línguas Bantu

Universidade Pedagógica

Beira

2019
1

Aunêncio Luís Chigohe

Morfologia nominal do Cicopi

Trabalho a ser apresentado à cadeira de


Linguística Descritiva das Línguas
Bantu II, no curso de Licenciatura em
Ensino de Português, para fins
avaliativos.

Docente:

dr. António Chipenembe

Universidade Pedagógica

Beira

2019
2

Índice
0. Introdução............................................................................................................................3
CAPÍTILO I MORFOLOGIA NOMINAL DO CICOPI............................................................4
1.1. Sobre os dados da língua Cicopi: localização e número de falantes................................4
1.1.1.Variante de referência........................................................................................................4
1.2. Morfologia.......................................................................................................................4
1.2.1. Morfemas presos e livres..............................................................................................5
1.2.2. Classificação das palavras quanto ao número de morfemas........................................6
1.2.3. Relações entre os morfemas.........................................................................................7
1.2.4. Morfemas aditivos........................................................................................................7
1.2.5. Morfemas substitutos...................................................................................................8
1.2.6. Morfemas subtractivos.................................................................................................8
1.3. Classes nominais..................................................................................................................8
1.3.1. Semântica das classes nominais......................................................................................11
1.3.2. Funções primárias dos prefixos nominais.......................................................................11
1.3.3. Função secundaria dos prefixos nominais......................................................................12
1.4. Locativização.....................................................................................................................12
1.4.1. Locativização por prefixação..........................................................................................12
1.4.2. Semântica das classes locativas......................................................................................14
1.4.3. Locativização por prefixação e por sufixação ou circunfixação.....................................14
1.4.3.1. Locativo situacional (ha)..............................................................................................15
1.4.3.2. Locativo direccional.....................................................................................................15
1.4.3.3. Locativo de interioridade.............................................................................................16
1.5. Estratégias de formação do plural......................................................................................18
1.5.1. Concordância..................................................................................................................18
1.6. Integração de empréstimo em classes nominais................................................................20
1.6.1. Categoria semântica do nome.........................................................................................20
1.6.2. Semelhança fonética do primeiro som............................................................................21
1.6.3. Classes com prefixo zero (Ø)..........................................................................................21
Conclusão..................................................................................................................................23
Referências bibliográficas.........................................................................................................24
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1. Introdução

Este trabalho é sobre a Morfologia nominal do Cicopi, onde abordaremos sobre a estrutura de
nome e algumas regras da sua formação. Cicopi é a língua falada no Sul de Moçambique,
concretamente nas províncias de Inhambane e Gaza. Trata-se, neste caso de uma das línguas
aglutinantes, ou seja, línguas de prefixo nominal. O seu objectivo geral é compreender o
funcionamento da morfologia nominal do Cicopi, olhando para as regras que regem a
combinação na formação de palavras e da sua função, mostrando também a unidade portadora
de sentido quer gramatical como lexical e especificamente identificar os prefixos nominais e
suas respectivas classes e descrever o funcionamento da morfologia nominal da língua Cicopi.
Para a efectivação do presente trabalho, recorremos ao método bibliográfico e análise de
conteúdo através do qual vamos descrever o conteúdo em referência e criticar as diferentes
concepções sobre a morfologia nominal em língua Cicopi.

Este trabalho, no seu todo, está estruturado em 2 capítulos, a saber: em primeiro lugar temos a
introdução, onde se apresentam o tema, objectivo e metodologias; o 1.º capítulo é dedicado à
Morfologia nominal do Cicopi, e, finalmente, a conclusão e as referências bibliográficas.
4

CAPÍTILO I MORFOLOGIA NOMINAL DO CICOPI

1.1. Sobre os dados da língua Cicopi: localização e número de falantes

De acordo com Ngunga e Faquir (2012:212), «a língua Cicopi é falada predominantemente


nas províncias de Inhambane, principalmente nos distritos de Zavala, Inharrime e Homoíne e
Gaza, nomeadamente nos distritos de Manjacaze, Chidenguele, Chongoene»:

Segundo os dados do Censo populacional de 2007, «o Cicopi é falado por cerca de 303.740
pessoas de cinco e mais anos de idade no país». (INE, 2010 apud ibid.).

1.1.1.Variante de referência

A língua Cicopi tem as seguintes variantes: Cindonje, falado em Inharrime; Cilenge, falado
em Chidenguele, Nhamavila e parte de Chongoene; Citonga, falado em Mavila, Quissico,
Guilundo, até ao limite com Jangamo; Cicopi, falado de Mavila até Madendere; Cilambwe,
falado junto do lago Quissico e na parte oriental de Chidenguele; Cikhambani, falado em
Homoíne, partes dos distritos de Panda, Manjacaze e Chibuto.

Embora se considere ainda necessários estudos dialectológicos aprofundados para a


verificação destes dados, como argumentam Ngunga e Faquir (2012), o Cicopi foi eleito
variante de referência para o estabelecimento de ortografia actual.

Esta língua pertence ao «grupo 60 Chopi ( S61)» (GUTHRIE 1967: 71 citado por MOISÉS et
al, 2012:289 ).

1.2. Morfologia

Para Bergstrom e Reis (2004:54), «morfologia é a parte da gramatica que analisa a estrutura
interna das palavras e os respectivos processos de formação».

Na óptica de Costa (2010:135), «morfologia é área da linguística que tem a palavra como
objecto de estudo. Estuda e analisa as formas das palavras e os processos de formação de
palavras».

Na perspectiva de Ngunga (2014:115), «morfologia é o estudo dos morfemas, as regras que


regem a sua combinação na formação de palavra, e da sua função no sintagma e na frase».
5

Vimos que os autores não se distanciam muito aquando da conceptualização da Morfologia.


Eles são unânimes em ajuizar a morfologia como sendo a área de linguística que analisa a
estrutura interna das palavras e a descrição dos processos morfológicos de formação de novas
palavras. Mas para o último autor que citamos, vai além dos outros, quanto à justificação da
clareza da Morfologia, e nós identificamo-nos com eles, porque a a morfologia não se limita
apenas na análise da estrutura interna das palavras e a descrição dos processo de formação de
novas palavras, tal como afirma Villalva (2008:17), «não se pode afirmar que a morfologia se
ocupa apenas da forma das palavras, dado que a morfologia também trata das relações que se
estabelecem entre a forma, a função e o significado das palavras».

O objecto de estudo da morfologia é o morfema, que é «a menor unidade da língua portadora


de sentido (lexical ou gramatical), na hierarquia da palavra». (NGUNGA, 2014:115). Neste
sentido, morfema é a unidade mínima significativa que tem uma forma física (fonética e
fonológica morfe) e um sentido ou função no sistema gramatical.

Exemplos:

a) mu-nhu ‟ pessoa”
b) va-nhu ‟pess oas”

Em cada um dos exemplos é possível identificar dois morfemas: um prefixo que é a marca do
singular (mu-) e do plural (va-) e o outro que é o tema nominal que é o mesmo nos dois casos.

1.2.1. Morfemas presos e livres

Por vezes diz-se que morfemas livres «são lexicais, visto residir neles a informação lexical da
palavra» (NGUNGA, 2014:116) e morfemas presos são chamados «morfemas gramaticais
porque se usam para marcar o tempo, aspecto, sujeito, objecto, número e classe» (ibid.).

Exemplo:
2
a) ci-punu ‘colher’

Neste exemplo, a informação central sobre a colher está no morfema puni, sendo o resto a
informação gramatical de classe, pessoa, numero, tempo modo, aspecto e voz contida no
morfema. Estes morfemas gramaticais também se chamam afixos.
6

1.2.2. Classificação das palavras quanto ao número de morfemas

Ngunga (2014:117) argumenta que «às vezes o morfema pode coincidir com a entidade
linguística que se identifica como palavra. Outras vezes, uma palavra pode conter mais de um
morfema».

Exemplo:
3
a) mati ‘água’

Este morfema não se decompõe, ela corresponde a um só morfema. Palavras deste tipo,
constituídas por apenas um só morfema chamam-se monomorfémicas.

As constituídas por dois morfemas são bimorfémicas.

Exemplo:
4
a) di-iso ‘vista’

As constituídas por três morfemas são trimorférmicas

Exemplo:
5
a) di-bhu-ku ‘livro’

As que têm mais de três morfemas são polimorfémicas.

Exemplo:
6
a) ni-na-dy-a ‘comerei’

Nos diferentes contextos fonológicos, o morfema pode realizar-se de diferentes maneiras. A


cada uma destas realizações chama-se alomorfos.

Exemplo: mu- em mu-tsi ‟pilador” e mw- em mwedzi ‟ lua” são realizações do mesmo
morfema da classe três cujo seu plural é mi-. Devido a vogal que ocorre na posição inicial do
tema nominal mw-edzi, o u de mu- é semi-vocalizado fazendo com que o mu- realize-se
como mw-.
7

O morfema mu- é a forma básica do morfema de que derivam as formas mw-, mʼ e nʼ. Uma
vez que cada alomorfo só ocorre onde o outro não pode ocorrer diz-se que os alomorfo estão
em distribuição complementar. Se os falantes pudessem usar um alomorfo por outro sem
produzir enunciados agramaticais, falar-se-ia de variação livre.

1.2.3. Relações entre os morfemas

Segundo Ngunga (2014:118), «os morfemas podem ser raízes, prefixos, sufixos, infixos,
suprafixos e reduplicativos dependendo da sua função e da sua realização na palavra».

 As raízes constituem o núcleo ou a parte invariável da palavra. Exemplo: mati ‘água’.


 Os prefixos são os morfemas presos que se colocam antes da raiz. Exemplo: mwedzi
‘lua’.
 Sufixos são morfemas presos que ocorrem depois da raiz. Exemplo: mezani ‟na mesa”.
 Infixos ocorrem dentro da raiz. Estes morfemas são muito raros, ou seja, não aparecem na
maioria das linguas Exemplo: sepolah ‘campo’ e segepolah ‘campos’.
 Os suprafixos são morfemas supra-segmentais que se acrescentam aos radicais ou ao
tema como é o caso do tom. Exemplo: khokho ‘caneca’ (passado remoto) e ‟não levei”
(passado recente).
 A reduplicação consiste na repetição do tema ou uma parte dele, o que gera uma
estrutura composta reduplicada. Exemplo: kupinda-pinda ‟passar frequentemente”.

O autor argumenta que «os morfemas podem ser apresentados através de três processos
morfológicos: adição, substituição e subtracção. Dai que os morfemas se possam considerar
aditivos, substitutos e subtractivos respectivamente» (NIDA, 1949:69 apud NGUNGA,
2014:119). A melhor ilustração destes tipo de operação em bantu pode ver-se através dos
processos de formação do plural que umas vezes é feita pela prefixação do morfema do plural
ao do singular, outras vezes pela substituição do morfema do singular pelo do plural e outras
ainda pela eliminação do prefixo do singular.

1.2.4. Morfemas aditivos

Alguns morfemas podem adicionar-se a palavras ou a outros morfemas na formação de novas


palavras, como acontece por vezes na formação de alguns plurais:

Exemplos:
7
8

a) tcheho ‘chifre’
b) ti-tcheho ‘chifres’

1.2.5. Morfemas substitutos

Diferente do que acontece com os morfemas aditivos, que se acrescentam à palavra do


singular, certos morfemas podem substituir outros morfemas na formação de palavra para
lhes modificar o sentido.

Exemplo:
8
a) ci-puni ‘colher’
b) si-puni ‘colheres’

1.2.6. Morfemas subtractivos

São aqueles que se eliminam na formação de outras palavras a partir de palavras já existentes.
Este é frequente em yao.

Exemplo:
9
a) lu-sulo ‘rio’
b) sulo ‘rios’

Neste exemplo, o plural forma-se através da eliminação da marca do singular.

1.3. Classes nominais

De acordo com Ngunga (2014:122), «a classe nominal é o conjunto de nomes com o mesmo
prefixo e/ou o mesmo padrão de concordância». Foi Bleek (1862,1869) apud Ngunga (opt.
cit.) quem, pela primeira vez, notou que os nomes das Línguas Bantu se organizam, de forma
sistemática, em grupos, de acordo com os seus prefixos ou com o tipo de padrão de
concordância.

O autor refere ainda que desde os primórdios da história da Humanidade a pergunta que se
coloca, relaciona-se com os critérios subjacentes à organização dos nomes em classes que, de
entre as várias tentativas de resposta, está o critério semântico, pelo facto de, por um lado, em
muitos casos, ainda persistir a ocorrência de nomes semanticamente pertencentes ao mesmo
9

grupo, por exemplo, os nomes que indicam “pessoa”e “pessoas” estão sempre nas classes 1 e
2, embora nestas classes existam nomes de outras categorias semânticas. Por outro lado,
existem outras classes onde há predominância de nomes que facilmente se podem agrupar em
conjuntos mais gerais, tais como as plantas nas classes 3 e 4 e os animais e frutas nas classes 5
e 6.

Dentro do sistema de classes, os nomes podem ser agrupados em géneros, termo que não
encerra a noção de oposição masculino/feminino, mas designa as séries constituídas de raízes
nominais idênticas, ligadas a diversos prefixos nominais.

Para Ngunga (2012:91), «no nome podem distinguir-se duas partes, a saber, um prefixo
variável em função da classe e um tema. O tema é o portador do significado lexical do nome».
Ou seja, ao radical podem afixar-se diferentes prefixos e diferentes sufixos, a mudança
semântica é apenas parcial, dai que o significado de cada palavra nova será quase
invariavelmente relacionado com uma certa realidade que permite afirmar que tal palavra
pertence à área semântica referida pela raiz. Vejam-se os seguintes exemplos:

10
a) n-sikati ‘esposa’
b) ci-sikatana ‘esposinha’
c) ci-sikati ‘à maneira de esposa’
d) wu-sikati ‘qualidade de esposa’

Nestas palavras, tirando o prefixo, o tema mantém-se. O autor afirma que «em nomes
derivados de verbos, o tema é decomponível em radical e sufixo que é a vogal final que
também varia por vezes de acordo com o prefixo nominal» (ibid.), como se pode ilustrar nos
seguintes exemplos:

11
a) ku-bhal-a ‘escrever’ cf. mu-bhali ‘escritor’
b) ci-bhalo ‘objecto que serve para escrever’
c) ma-bhalelo ‘caligrafia, letra’

Como se vê, todos os nomes à direita têm a mesma estrutura que o verbo de que derivam, à
esquerda: um prefixo e um tema que se desdobra em radical e vogal final.
10

Classe Prefixos nominais de línga Cicopi


1 mu-
2 va-
3 mu-
4 Mi-
5 li-
6 Ma-
7 ci-
8 Si-
9 N-
10 Ti(N)-
14 u-
15 Ku-
16 Ha-
17 Ku-
18 mu-

Tabela 1Classes e prefixos nominais da Lingua Cicopi (Ngunga, 2014:133)

As classes organizam-se em pares do tipo 1/2, 3/4, 5/6, 7/8, 9/10 em que os números ímpares
correspondem aos prefixos que marcam o singular e os números pares correspondem aos
prefixos do plural. Mas a partir da classe 11 essa regularidade deixa de existir, começando
pela ausência dos prefixos das classes 12 e 13 até às formas do plural das classes 11 e 14.

Há por vezes nomes cujos prefixos são do plural, mas o seu significado é do singular em
virtude de se referirem a coisas incontáveis. Tais é o caso de:

12
a) mati (classe 6) ‘água’

Portanto, apesar de ter o prefixo da classe 6, o nome acima não sé do plural. Temos neste
exemplo substâncias. Pelo que, semanticamente, além de haver nomes de incontáveis e
substâncias na classe 14, nomes desta categoria semântica também se podem encontrar em
outras classes como é o caso da classe referida acima.

Os nomes que indicam graus de parentesco tendem a ter um tipo de estrutura diferente. É
importante notar que em alguns casos (raros), a marca do singular da classe 1 é wa- e não
mu-, e o respectivo plural é vava-, e não va-, como se pode ver nos seguintes exemplos:

13 Classes (1a e 2a) Plural (classe 1, e 2)


a) wa-nsikati ‘mulher’ cf. n-sikati ‘esposa’
11

b) vava-sikati ‘mulheres’ cf. va-sikati ‘esposas’

«Este grupo de nomes merece uma classificação especial no quadro das classes nominais da
língua cicopi tanto pela natureza dos seus prefixos (wa- para singular e vava- para o plural)
como pela sua semântica» (ibid.). Repare-se que os dois nomes indicam relação de
casamento.

1.3.1. Semântica das classes nominais

Já nos referimos anteriormente que o critério semântico é subjacente à organização dos


nomes em classes em bantu, o que se explica pelo facto de, primeiro, em muitos casos ainda
persistir a ocorrência de nomes semanticamente pertencentes ao mesmo grupo. Ou seja,
mesmo haja nomes de outros grupos, há aqueles que não se podem encontrar em outras
classes. Por exemplo, os nomes que indicam ‘pessoa’ e ‘pessoas’ ou seres personificados
encontram-se sempre na classe 1 e 2, embora nestas classes se encontrem nomes de outras
categorias semânticas e, por fim, existência de outras classes onde há predominância de
nomes que facilmente se podem agrupar em conjuntos mais gerais tais como: plantas (classes
3 e 4) e animais e frutas (classes 5 e 6);

Neste quadro, apesar de estas constatações serem reais, são praticamente inexistentes as
classes em que se encontram nomes que são exclusivamente da mesma categoria semântica.
Deste modo, «responsabiliza factores fonéticos e morfológicas1 como estando na base destas
mudanças», (GUTHRIE, 1967 apud NGUNGA, 2014:114).

1.3.2. Funções primárias dos prefixos nominais

Na óptica de Ngunga (op. cit.), «função primária dos prefixos entende-se aquela que este
desempenha, regra geral, em contexto não derivado».

14
a) ci-taratu ‘estrada’
b) si-taratu ‘estradas’

Por causa de a sua concordância ser feita da mesma maneira como fazem os nomes das
classes 1 e 2 que se propôs que os nomes wansikati ‘mulher’ e wamwana ‘homem’, por um
lado, e vavasikati ‘mulheres’ e vavavana ‘homens’ fossem integrados nas classes 1a e 2a. Esta

1
O itálico nosso (existem nomes que se integram através do empréstimo linguístico)
12

solução permite o reconhecimento dos prefixos wa- e vava- como entidades diferentes de
mu- e va- e não como realizações destes. Integramos este aspecto na função primária dos
prefixos nominais.

1.3.3. Função secundaria dos prefixos nominais

Os prefixos já estudados são aqueles considerados primários, embora alguns deles, segundo
Ngunga 2014, possam ser considerados secundários em algumas línguas. De uma forma geral,
os prefixos com função secundária são aqueles que se podem afixar tanto a nomes completos
como a temas nominais e alteram a semântica nuclear do tema.

Exemplos:
15
a) ha mezani kuni nzambwa ‘na mesa há sujidade’

1.4. Locativização

Na perspectiva de Ngunga (2014:), «os prefixos locativos são basicamente secundários, e


ajudam a introduzir quilo que em algumas línguas como o português seria designado de
advérbio, pois eles indicam a localização do nome a que se afixam no tempo ou no espaço». O
autor cresce que «algumas línguas exprimem a locativização através da afixação não de
prefixo, mas de sufixos aos nomes, ou através da circunfixação ou afixação simultânea de
prefixos e sufixos». (ibid.)

1.4.1. Locativização por prefixação

Em língua Cicopi é importante referir que os locativos são realizados, em função da sua
natureza, de diferentes maneiras, a saber: locativo situacional; locativo direccional e
locativos de interioridade.

Segundo Bleek (1862, 1869) acitado por Ngunga (2012:109), «os morfemas pa-, ku- e mu-
que são marcadores das classes 16, 17 e 18 respectivamente2 são prefixos locativos nas
línguas bantu». A língua changana realiza a locativização de maneira diferente. Deste modo, o
que ficou destes três prefixos são apenas alguns rudimentos que se realizam como sufixos nos
demonstrativos e não como prefixos nominais, como se pode ver nos exemplos que se
seguem:

2
O destacado nosso.
13

16
a) dibhuku di ha cituluni ‘o livro está na cadeira’
b) ani niya kaSitoe ‘eu vou a casa do Sitoe’
c) male i pakitini

Nestes exemplos são ilustrados os três tipos de locativização. No primeiro caso temos o que
se chama de locativo situacional (ha), isto é, localização geral. No segundo caso, temos o
locativo direccional (ku-/ka-/in), No terceiro e último exemplo temos um caso em que se
trata de localização interioridade (-in).

«O facto de tudo ser localizável pelo menos em uma destas dimensões, torna a locativização,
esse fenómeno universal importante nas línguas bantu, um fenómeno secundário do ponto de
vista morfológico cuja marcação varia de língua para língua», (NGUNGA, 2012:109).

O autor sustenta a ideia de que «os afixos destas classes juntam-se a nomes primariamente
formados, não obstante o facto de o nome a que o afixo locativo tiver sido juntado assumir o
controlo da concordância através de seu próprio afixo de concordância». Vejam-se os
seguintes exemplos:

17
a) mi-xafuta ‘sp. de árvore (chafuta)’
b) di-buku ‘livro’
c) ci-taratu ‘estrada’
d) mu-nti ‘casa’

Cada uma das palavras tem um tema precedido de um prefixo: mi-, di-, ci-, mu-.

Segundo Ngunga (opt. cit.) «nestes casos mi-, di-, ci-, mu- têm função primária nestas
palavras na medida em que não fornecem aos respectivos nomes mais do que uma morfologia
básica e nem têm mais do que um significado básico».

1.4.2. Semântica das classes locativas

Na perspectiva de Ngunga (2014:136), «as classes locativas são expressas de diferentes


maneiras nas línguas bantu». Nas línguas em que os prefixos locativos não se manifestam de
maneira como são apresentados no proto-bantu, existem outras formas de apresentação de
14

expressão de circunstâncias de lugar e de tempo através de morfemas que podem ser


considerados vestígios das marcas das classes locativas.

Neste quadro, as classes locativas podem semanticamente exprimir lugar e tempo:

 Lugar: Pa-: Localização situacional geral em/por cima, em/por baixo, área aberta e
proximidade; Ku-: locativização direccional com a ideia de movimento (para, em
direcção a, rumo a) e distante (la, ali ou ca); mu-: locativização em espaço limitado,
fechado, com ideia de interioridade.
 No tempo: Pa-: localização estimada num determinado período. É usado também para
introduzir determinadas frases temporais; Ku-: localização no tempo da acção ou
estado expresso pelo verbo que pode ser considerado como transitório; mu-:
localização da acção ou estado de uma determinada unidade de tempo claramente
expressa.

Segundo Ngunga (2012:107) «quando um nome tem um certo prefixo nominal, quer dizer que
pertence àquela classe e não há mais nenhuma informação que possa estar a ser transmitida».

Os nomes distribuem-se por classes não só de acordo com os prefixos tal como se disse
anteriormente, mas de acordo com a sua categoria semântica.

1.4.3. Locativização por prefixação e por sufixação ou circunfixação

Segundo Ngunga (2014:148), «em Cicopi, tal como nas línguas chamadas locativo
prefixional, há três prefixos de classes locativas ba- (classe 16), ku- (classe 17) e mu- (classe
18)». A diferença entre esta língua e aquelas, no que diz respeito a classes locativas, reside no
comportamento sintáctico destes morfemas pois, à semelhança do que acontece em Changana,
«estas três classes têm o mesmo prefixo dependente (ku- ou ka-) que é invariável para todas
elas»(Ibid.). Como se ilustra nos exemplos seguinte:

18
a) Nyumbane kuni nzambwa ‘dentro/ o interior da casa está sujo’
b) Hahatsi ka wurathu kuni nzambwa ‘em baixo da plataforma há sujidade’

Além disso, uma simples aglutinação destes morfemas ao nome não é suficiente para a
expressão das diferentes circunstâncias.
15

1.4.3.1. Locativo situacional (ha)

O morfema ba é prefixada ao nome que indica a circunstancia de lugar ao qual se afixa


geralmente o sufixo –ni, como nos seguintes exemplos:

19
a) dibuku di ha cituluni ‘o livro está na cadeira’
b) mabuku ma ha cituluni ‘os livros estão na cadeira’
c) mimesa i hamesani ‘a faca está na mesa’

Nos exemplos acima, o locativo situacional é marcado essencialmente por dois afixos, o
morfema ba, que se realiza como prefixo, e o morfema –ni que sufixa ao nome locativo. Esta
situação de co-ocorrência de dois morfemas é diferente da que se verifica na locativização
direccional. Por isso, este facto faz com que esta língua possa ser classificada como língua de
locativo sufixal e parcialmente de locativo prefixional e sufixional, quando se trata de
locativização situacional.

1.4.3.2. Locativo direccional

Quando a frase é construída com um verbo de movimento, sendo comum o nome que designa
o lugar para onde ou de onde, não leva o prefixo locativo ka, podendo, contudo, ser ou não
sufixado por –ni.

Exemplos:
20
a) ene atsula govani ‘ele vai à lagoa’
b) ene atsula timbwini ‘ele vai à machamba’
c) ani niya cipiritane ‘eu vou ao hospital’
d) ene atsula Cidhengele ‘ele vai a Chidenguele’

Nos dois primeiros exemplos aparece o locativo realizado através de sufixo –ni que não
ocorre no último exemplo. Deste modo, isto quer dizer que alguns nomes locativos podem
não conter o morfema locativo que é obrigatório.

Se o nome que designa o lugar for próprio, a língua socorre-se de uma das possibilidades ou
não se usa nenhum afixo locativo, ou usa um dos dois afixos locativos da seguinte maneira: o
16

ka- que ocorre entre o verbo e o nome ou o –ni que se sufixa ao nome próprio. Ora vejamos
os seguintes exemplos:

21
a) vona vatoya Tete ‘eles foram para Tete’
b) ani niya Lichinga ‘eu ou a Lichinga’
c) ani niya ka Mbande ‘eu vou a casa do Mbande’
d) ani niya Mbadeni ‘eu vou à terra dos Mbandes’

As frases acima mostram que os nomes próprios que designam locais dispensam qualquer tipo
de afixo, como se pode ver nos dois primeiros exemplos. E aos dois últimos exemplos
sugerem que o prefixo e sufixo estão em distribuição complementar. O prefixo ka- usa-se
para se referir a um lugar específico, limitado (casa, por exemplo). Em contrapartida, o sufixo
–ni refre-se a um lugar mais geral. Assim, enquanto ka Mbande é a casa de Mbande,
Mbandeni é a terra dos Mbandes

1.4.3.3. Locativo de interioridade

Este locativo é expresso através do morfema –ni que se sufixa ao nome designativo de lugar.

22
a) mati ma dibhojelani ‘a água está na garrafa’
b) male yi phakitini ‘o dinheiro está no bolso’
c) sakudya si khadini ‘a comida está na panela’
Às vezes, ao invés do sufixo –ni, o morfema mu- ou seu alomorfo pode ser prefixado ao
nome, como se mostra nos seguintes exemplos:
23
a) mnge wu mucifambo ‘o pé está no sapato’
b) vanana va munyumba ‘as crianças estão dentro de casa’

Além da expressão morfológica do locativo de interioridade, o falante pode usar a palavra


ndani para designar “dentro” (para todos os nomes que têm uma parte interna), como se
mostra a seguir:

24
a) Mkondo wu ndani ka cifambo ‘o livro está dentro do sapato’
17

Assim, o vocabulário ndani liga-se ao nome através do processo de genitivização regido pelo
prefixo de concordância da classe 17, ka-, que é o prefixo universal de concordância dos
locativos na língua Cicopi.

Em Cicopi, os prefixos locativos podem co-ocorrer ou não com o sufixo –ni, ou seja, Cicopi
dispõe de quatro formas de realização da locativização: sem recurso a nenhum afixo locativo,
com recurso a afixos, seja por prefixação, seja por sufixação ou ainda por prefixação e
sufixação simultaneamente. Veja-se os seguintes exemplos:

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a) vona vatoya Tete ‘eles foram a Tete’
b) vona vatoya Cimoyo ‘eles foram para Chimoio’
c) niwiya ngu ka Ncayincayi ‘venho de Xai-xai’
d) niya kandiyango ‘vou à (casa) da minha irmã’
e) mati ma mezani ‘água está na mesa’
f) ene watsula timbweni ‘ele vai à machamba’
g) ene watsula cipiritani ‘ele vai ao hospital’
h) ani ni hacituluni ‘eu estou na cadeira’
i) mati ma n’nyumbani ‘a água está dentro da casa’
j) vanana va n’cikoleni ‘as crianças estão dentro da escola’

A expressão de tempo nesta língua é feita lexicalmente e não através de prefixos das classes
locativas. Usam-se, para o efeito, o termo inkama ‘no tempo em que, quando, etc., que se
pode alterar como loko ou mbimo, com o mesmo sentido.

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a) inkama/mbimo dingaswa, vatsute ‘quando anoiteceu, partiram’
b) loko aciwuka, anadya sakudya ‘ quando acordar, há-de comer’

1.5. Estratégias de formação do plural

Os prefixos nominais aparecem em grupos de dois indicando o singular e o plural e


coincidindo com duas classes (1/2, 3/4, 5/6, 7/8, 9/10, 11/10), sendo que o singular é
representado pelo número ímpar e o plural pelo número par. Pela sua semântica, tal como
afirma Ngunga (2012:96), «o tal vestígio ainda predominante, algumas classes não têm, em
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princípio, formas do plural ou do singular correspondentes. Estamo-nos a referir às classes 14


e 15».

Em Cicopi para passar os nomes com prefixos na forma singular, do singular para o plural,
usam-se duas estratégias:

 Acréscimo: o prefixo do plural sobrepõe-se ao prefixo do singular. Vejam-se os


seguintes exemplos:

27 Singular Plural
a) d´in’wa ‘laranja’ cf. mad’in’wa

Como se pode ver, o nome acima pertence à classe 5, pois forma o plural com acréscimo de
ma-, prefixo da classe 6. A sua passagem para o plural faz-se através de acréscimo deste
prefixo ma- em virtude de o seu prefixo do singular ser zero. Isto é, não há prefixo porque
não se vê, então a formação do plural dos nomes acima faz-se por acréscimo.

 Substituição: o prefixo do plural toma o lugar do prefixo do singular tal como


acontece nos seguintes exemplos:

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a) n-cila ‘cauda’ cf. mi-cila ‘caudas’
b) li-tiho ‘dedo’ cf. ti-tiho ‘dedos’

Neste quadro, trata-se de uma estratégia produtora.

1.5.1. Concordância

Segundo Ngunga (2012:97), «outra maneira de se determinar a pertença de um nome a uma


classe é olhar para o tipo de concordância que ele impõe a outras palavras que podem ocorrer
na mesma frase ou sintagma nominal em que esse nome é o sujeito ou o núcleo».

Através dos prefixos de concordância os adjectivos, os numerais, os possessivos, os


demonstrativos e os verbos mantêm a relação de dependência sintáctica com o nome a que se
referem.

Através da estratégia concordância, nota-se que esta é feita através de elementos que, sendo
diferentes dos prefixos nominais, aparecem sempre em parceria com estes. Nestes casos, fica
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claro que os nomes têm dois prefixos, um que faz parte da sua estrutura e outro que aparece
em palavras que concordam com esses nomes. Trata-se dos nomes das classes 1, 3, 4, 6, 9 e
10.

Exemplos:
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a) ayu mwanana wa mina wamweyo wadwala (classe 1) ‘esta minha única criança está
doente’
b) ayi mindonga ya mina yayimbidi yowa (classe 4) ‘estas minhas duas árvores estão a
cair’
c) aya mapatu ya mina amambidi madwala (classe 6) ‘estes meus dois patos estão
doentes’
d) ayi khukhu ya mina yayimweyo yadwala (classe 9) ‘esta minha única galinha crescida
está doente’
e) ati tikhukhu ta mina tatimbidi tadwala (classe 10) ‘estas minhas duas galinhas estão
doentes’

Nestes exemplos nota-se que a forma do prefixo nominal, em itálico, é diferente da forma dos
prefixos de concordância. Estes são iguais entre si, embora se note alguma diferença na
realização das vogais como resultado de processos fonológicos, o que só acontece com estas
seis classes. Nas restantes doze classes, «os nomes fazem a chamada concordância
aliterativa» (NGUNGA, 2012:99). Isto é, o prefixo de concordância é uma repetição do
prefixo nominal. Exemplos:

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a) ava vathu va mina va vambidi vadwala (classe 2) ‘estas minhas duas crianças
estão doentes’
b) aku kudya ka mina ka kumweko kopela (classe 15) ‘esta minha única boa forma
de comer está a acabar’

1.6. Integração de empréstimo em classes nominais

As diferentes línguas bantu usam diferentes estratégias de integração de empréstimos, mas as


mais comuns são três, as que a lingua Cicopi usa.
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1.6.1. Categoria semântica do nome

De uma forma geral, tal como acontece na organização dos nomes em classes, «um dos
critérios a não menosprezar no processo de integração dos empréstimos em Cicopi tal como
acontece em Changana é o semântico», (NGUNGA:2012:104). De facto, a primeira questão
que as línguas parecem colocar-se quando postas perante uma palavra de uma outra língua é o
seu significado para se saber em que categoria semântica integrá-la. Vejamos os seguintes
exemplos:

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a) (mu-) prisori (cl.1) (< professor, do Port.) ‘professor’
b) (mu-) bhedu (cl.3) (< bed, do Ing.) ‘cama’
c) (di-) bhuku (cl.5) (< book, do Ingl.) ‘livro’

Como se pode ver nestes dados, a distribuição dos nomes pelas respectivas classes tem
motivação semântica. Na língua Cicopi, os exemplos acima não têm nenhum som em posição
inicial que seja idêntico a um som inicial de um prefixo da classe 1 que sugira a sua
integração neste grupo. Mas o facto de estes nomes se referirem a seres humanos determina
que os mesmos sejam integrados na classe 1. E ainda temos nome de um objecto cuja
integração na classe deve-se a razões semânticas. A palavra dibhuku, que significa ‘livro’, um
objecto, estes pertencentes a esta categoria semântica encontram-se predominantemente na
classe 5, 7.

Uma vez integrados nas classes opostas em termos de números, os nomes facilmente se
integram no plural ou singular correspondentes dependendo do facto de o nome inicial estar
integrado no singular ou no plural respectivamente, como se pode ver nos seguintes dados:

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a) va-prisori (cl.2) (< professor, do Port.) ‘professores’


b) mibhedu (cl.4) (< bed, do Ing.) ‘camas’
c) ma-bhuku (cl.6) (< book, do Ingl.) ‘livros’

Como se vê nos exemplos acima, os nomes das classes 2 e 6 já levam obrigatoriamente os


prefixos destas classes, como sinal da integração efectiva destes nomes na língua.
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1.6.2. Semelhança fonética do primeiro som

De acordo com esta estratégia, Ngunga (2012:105) afirma que «a semelhança fonética entre o
som inicial de um nome da língua fonte e o som inicial de um prefixo nominal, muitas vezes
determina a integração de um nome numa certa classe nominal nesta última», como se pode
ver nos seguintes exemplos:

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a) cipunu (cl.7) (< spoon, do Ingl.) ‘colher’
b) cikolo (cl.7) (< escola, do Port.) ‘escola’
c) makna (cl.6) (< máquina, do Port.) ‘máquina’
Nestes exemplos, existe uma semelhança fonética dos sons iniciais das palavras da língua
Cicopi através da qual se pode decidir a sorte da integração de um nome numa classe nominal.
Para mostrar que este processo não tem nenhuma relação com a categoria semântica a que o
nome pertence, há nomes que, sendo de um número na língua Cicopi, entram para um outro
número na língua acolhedora:
34 Plural Singular
a) masan (cl.6) (< maçã, do Port.) cf. san dimwedo ‘uma maçã’

Depois da adopção do nome que passa a fazer parte do léxico, internamente, a língua atribui-
lhe a forma do singular ou do plural correspondente, conforme os casos.

1.6.3. Classes com prefixo zero (Ø)

De acordo com Ngunga (2012:106), «o processo de desenvolvimento fonético dos prefixos


nominais tem levado ao desaparecimento de uns, à fusão de uns com outros e, por vezes, ao
aparecimento de outros ainda». O desaparecimento de um prefixo nominal não implica
desaparecimento de uma classe nominal, ou seja, um prefixo nominal pode desaparecer
deixando atrás de si a classe com que estava relacionado.

Segundo Ngunga (2012:10), «em quase todas as línguas há pelo menos uma classe sem
prefixo, ou seja, uma classe de prefixo zero total (em que este é o único morfema) ou
parcialmente (em que o zero é apenas uma das realizações de um morfema)».

Exemplos:

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a) chini (classe 5) (< chain, do Ingl.) ‘corrente’


b) thawula (classe 5 (< towel, do Ingl.) ‘toalha’
c) khiya (classe 5) (< key, do Ingl.) ‘chave’
d) meza (classe 3) (< mesa, do Port.) ‘mesa’

Sabendo-se que na maior parte das línguas de onde vem os empréstimos, os nomes não são
organizados em classes, é natural que muitos nomes cujos significados não sugiram a sua
integração em classes de acordo com o seu significado, e cujos sons iniciais não ‘lembrem’
sons de algum prefixo nominal, integrem-se nas classes de prefixo zero.

Como se sabe que geralmente existe pelo menos uma classe de prefixo zero em cada língua,
as classes 3, 5 e 9, são as que mais frequentemente aparecem com prefixo zero. São estas as
que constituem acomodação dos referidos empréstimos, como se pode ver nos exemplos que
se seguem:

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a) khiya (cl.5) (< key, do Ing.) ‘chave’
b) basikeni (cl.5) (< bicycle, do Ing. ) ‘bicicleta’

Portanto, é caso para dizer que na sua maioria, os empréstimos que se integram na língua
Cicopi vão para as classes 3, 5 e 9, aquelas que têm Ø- como uma das variantes dos prefixos
mu-, di- e N-.

Deste modo, os empréstimos dão vigor à língua e garantem a sua longevidade. «Sem eles,
muitas línguas poderiam conhecer morte precoce». (NGUNGA, 20012:12).
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Conclusão

Sendo a morfologia o estudo dos morfemas, das regras que regem a combinação na formação
de palavra e da sua função no sintagma ou na frase, a morfologia nominal do Cicopi também
trata da estrutura do nome. As classes locativas servem para exprimir circunstâncias de tempo
e de lugar, e que não se aplica da mesma maneira a todas as línguas moçambicanas.

Os factores morfológicos e semânticos potenciam o modo como o sistema de classes nominais


intervém na formação dos nomes, atribuindo-lhes características específicas, definindo a que
dimensão semântica pertencem.
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Referências bibliográficas

BERGSTROM, Magnus e REIS, Neves, Prontuário Ortográfico e guia da língua portuguesa,


35ª ed., Editorial Noticias, Lisboa, 2004.

COSTA, João, Gramática Moderna da Língua Portuguesa, Escolar Editora, Lisboa, 2010.

MOISÉS, Laurinda et al, Geografia Linguística de Moçambique, Universidade Eduardo


Mondlane In: NGUNGA, Armindo e FAQUIR, Osvaldo G., Padronização da Ortografia de
Línguas Moçambicanas: Relatório do III Seminário, CEA-Maputo, 2012.

NGUNGA, Armindo, Introdução à Linguística Bantu, Imprensa Universitária, Maputo, 2014.

…………………. e FAQUIR, Osvaldo G., Padronização da Ortografia de Línguas


Moçambicanas: Relatório do III Seminário, CEA-Maputo, 2012.

NGUNGA, Armindo e SIMBINE, Madalena Cítia, Gramática Descritiva da Língua


Changana, CEA-Maputo, 2012

VILLALVA, Alina, Morfologia do Português, Universidade Aberta, Lisboa, 2008.

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