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Saiba o que os grandes filósofos estão dizendo sobre coronavírus

Um guia para navegar nos debates intelectuais do momento


Fonte:https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/04/saiba-o-que-os-grandes-filosofos-estao-dizendo-sobre-
coronavirus.shtml

Folha de São Paulo 12.abr.2020


Úrsula Passos
[RESUMO] Ameaça representada pelo coronavírus mobiliza diversas áreas do
conhecimento, da medicina à filosofia. O que dizem os filósofos contemporâneos? Há
os que apostam numa mudança de paradigma e há também os céticos, que apontam
certo misticismo em prognósticos sobre grandes transformações políticas e
econômicas. Veja a seguir um roteiro de navegação pelos debates filosóficos do
momento, travados em sites e publicações internacionais.
Desde que a epidemia do novo coronavírus surgiu num horizonte então ainda
distante, chamado Wuhan (China), configurava-se uma ameaça potencial a vidas e
modos de viver em todo o planeta.
O assunto mobiliza cientistas envolvidos nas pesquisas relativas à Covid-19 e
estudiosos e pensadores de diversas áreas, como as chamadas ciências humanas.
Refletir sobre nossas sociedades e as maneiras pelas quais enfrentamos e poderemos
sair dessa inesperada crise também tem ocupado os filósofos de nosso tempo.
A urgência do pensamento encontra na internet seu meio de veiculação ideal, que vê
surgir debates como o que opôs, de um lado, o italiano Giorgio Agamben, e, de outro,
o francês Jean-Luc Nancy e o também italiano Roberto Esposito, grandes nomes da
filosofia política contemporânea, sobre as políticas de contenção do vírus.

Pandemia de coronavírus em fotos

Muçulmanos ao redor da Kaaba sagrada na Grande Mesquita de Meca, o local mais sagrado do Islã AFP

Imagens mostram o vazio, emocional e físico, provocado por um vírus que mudou a
maneira como enxergamos o mundo

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Para ajudar o leitor a navegar por essa série de esforços do pensamento, a Ilustríssima
apresenta este guia do debate, com um resumo do que cada um desses autores diz.

O debate sobre a exceção


Giorgio Agamben
Em 26 de fevereiro, o filósofo italiano publicou um artigo chamado “A Invenção de
uma Epidemia” no site de sua editora. O texto provocou uma série de respostas no
blog coletivo italiano Antinomie em parceria com a revista European Journal of
Psychoanalysis.
Um dos maiores pensadores da atualidade, Agamben é autor de “Homo Sacer”
(editora UFMG), no qual explicita o conceito mais caro de sua filosofia, o de estado
de exceção —que se refere à situação em que, para conter um conflito ou uma
ameaça, o governo usa de sua soberania para cassar ou suspender direitos e
estabelecer um estado de guerra.
No texto, ele qualifica as medidas de contenção tomadas pelo governo italiano como
“frenéticas, irracionais e totalmente imotivadas”. A mídia e as autoridades, segundo
ele, estariam espalhando um clima de pânico que legitimaria o estado de exceção.
Para o filósofo, as medidas fazem parte de uma tendência crescente de usar o estado
de exceção como paradigma normal de exercício do poder. A epidemia não seria
mais que um pretexto para instaurar o pânico e tornar as limitações de liberdade
aceitáveis em nome do desejo de segurança.
Família na Itália passa uma semana tentando internar avô com coronavírus

Angela, neta de Giuseppe Guardabasci, após ligar para os serviços de emergência para obter atendimento
médico para seu avô Andre Liohn

Fotógrafo brasileiro registrou a dificuldade da família em país que concentra o maior


número de mortes por Covid-19

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Jean-Luc Nancy
No dia seguinte à publicação, o filósofo francês (autor de, entre outros, “Corpus”, no
qual aborda sua experiência de transplante de coração), respondeu ao colega
afirmando a gravidade da Covid-19.
O pensador, para quem a noção de comunidade é central, considerou que Agamben
falhava ao não perceber que a exceção já se tornou a regra no mundo atual, em que a
intervenção da técnica sobre todas as coisas atinge uma dimensão nunca antes vista.
Para ele, desconsiderar que o governo é apenas um executor do que é preciso ser feito
parece mais uma manobra diversionista do que uma reflexão política.
Roberto Esposito
Dois dias depois foi a vez do filósofo italiano, que também trabalha com o conceito
de estado de exceção em seus estudos sobre biopolítica, responder a seu conterrâneo.
O autor de “Categorias do Impolítico” (Autêntica) afirma ser um exagero falar em
riscos à democracia neste momento.
Esposito, porém, admite que o estabelecimento da emergência empurra a política para
procedimentos excepcionais que desfazem o equilíbrio do poder. Segundo ele, uma
crescente politização da medicina distorce as tarefas de controle social porque seus
objetivos não incluem mais indivíduos ou classes, mas segmentos de população
diferenciados por saúde, idade, sexo e até etnia.
“Parece-me”, escreve ele, “que o que acontece hoje na Itália, com a caótica e um
tanto grotesca sobreposição de prerrogativas estatais e regionais, tem mais o caráter
de uma decomposição dos poderes públicos que o de uma dramática contenção
totalitária”.
Pacientes de Covid-19 em UTI na Itália

Profissional da área médica com equipamentos de proteção e paciente de Covid-19 em UTI no hospital Oglio
Po, em Cremona, na Itália Flavio Lo Scalzo - 19.mar.2020/Reuters

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Giorgio Agamben
No dia 17 de março, o italiano voltou ao debate, mas sem mudar a postura. Segundo
ele, o pânico mostrou que a sociedade não acredita em nada além de “vidas nuas” e
que os italianos estão dispostos a sacrificar tudo para evitar ficarem doentes.
Agamben se pergunta no que as relações humanas se transformariam se nos
acostumássemos a viver assim, como se outros seres humanos fossem apenas
possíveis contaminadores. “O que é uma sociedade cujo único valor é a
sobrevivência?”, pergunta.
Os homens, acostumados a viver em permanente crise, não percebem que a vida foi
reduzida à condição biológica, perdendo suas dimensões social, política e emocional.
Uma sociedade em permanente estado de emergência, diz, não pode ser livre.
Sua preocupação é com o pós-pandemia, se, passada a emergência médica, os
experimentos que os governos conseguiram implementar se mantiverem e
continuarmos com escolas e universidades fechadas, sem encontros para debater
política e cultura, trocando mensagens virtuais e interagindo somente com máquinas.
Mortes por coronavírus na Itália

Caixões de pessoas mortas por Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, em crematório na cidade de
Serravalle Scrivia, na província de Alessandria, norte da Itália Flavio Lo Scalzo - 23.mar.2020/Reuters

Caixões se acumulam em cemitérios da Lombardia, região mais afetada pela


epidemia de Covid-19

O descrente
Alain Badiou
O filósofo francês, autor de “Em Busca do Real Perdido” (Autêntica), em que
questiona a compreensão do real apenas pela ciência e economia, escreveu no final de
março um artigo no qual se mostra descrente de uma grande mudança política após a
pandemia.
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Ele recusa a ideia de que estejamos vivendo algo inédito com o novo coronavírus,
apontando ameaças anteriores, como o HIV e a Sars. “É verdade que esses deveres
[como o de ficar em casa] são cada vez mais urgentes, mas, ao menos num exame
inicial, não requerem nenhum grande esforço analítico ou a constituição de um novo
modo de pensar”, escreve. Quanto às medidas tomadas pelos governos, são
simplesmente as necessárias nesta situação.
Para Badiou, o Sars-CoV-2 evidencia uma grande contradição contemporânea: a
economia está sob a égide do mercado global, enquanto os poderes políticos
continuam sendo essencialmente nacionais.
Cético quanto ao que alguns aventam como possibilidades políticas na atual crise, ele
percebe uma dissipação da atividade da razão que está levando a “misticismo,
fabulação, profecias e maldições” e que, no pós-pandemia, será preciso avaliar tais
perspectivas que acreditaram que algo politicamente inovador poderia surgir.

Valor das vidas


Judith Butler
A filósofa americana, responsável pelo conceito de performatividade de gênero e pela
teoria queer, autora de “Problemas de Gênero” (Civilização Brasileira), parte da
tentativa de Donald Trump de garantir apenas aos EUA uma possível vacina contra a
Covid-19 para tratar do acesso desigual à saúde no país.
Ela volta às ideias expostas no livro “Vida Precária: Os Poderes do Luto e da
Violência” (Autêntica), em que o luto aparece como elemento fundamental de um
sentimento de comunidade que se opõe ao individualismo.
Embora todas as vidas sejam precárias e o vírus possa contaminar qualquer um, a
desigualdade social e econômica permite que o vírus discrimine.
“Por que nós, como povo, ainda nos opomos à ideia de tratar todas as vidas como se
tivessem o mesmo valor?”, pergunta.

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‘Das Novas Espécies de Plantas, Glorianalia Coronavirilis’ (2020), aquarela sobre papel - Camila Rocha

Tchau Europa, olá China


Theodore Dalrymple
Dalrymple é o pseudônimo do psiquiatra e crítico cultural conservador britânico
Anthony Daniels, autor, entre outros, de “Nossa Cultura... ou o Que Restou Dela” (É
Realizações), conjunto de ensaios sobre a degradação dos valores.
Em dois textos sobre a Covid-19, ele trata do novo protagonismo da China e do fim
da Europa como liderança e modelo para o mundo, tendência exacerbada pela
pandemia.
O primeiro texto, do início de março, mostra como epidemias ou guerras fazem com
que tanto a população quanto a classe política vivam uma dialética entre
complacência e pânico, entre a análise de estatísticas e o medo do desabastecimento
que leva à corrida a supermercados.
Ali, Dalrymple comenta o fato de que, com a falta de insumos, os governos
acordaram para o perigo de deixar que a China seja a fábrica do mundo, confiando ao
país diversas partes da cadeia produtiva.
O segundo texto trata de como os europeus, para se consolarem do fato de não terem
respondido ao vírus com a mesma eficiência de países asiáticos, se apegam à ideia de
que são livres e de que não vivem sob regimes autoritários.
Cidades da China ficam vazias com avanço do coronavírus

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Ruas vazias em Wuhan, na província de Hubei, epicentro do coronavírus Emilia/Reuters

Entre as províncias com mais de 100 casos registrados estão regiões industriais,
plataformas de comércio exterior, polos agrícolas e centros financeiros

Sociedade do medo
Frank Furedi
Nascido na Hungria e professor da Universidade de Kent, na Inglaterra, o sociólogo e
autor de “Politics of Fear” (política do medo) tem escrito diversos artigos sobre a
Covid-19 na revista online Spiked.
No final de janeiro, Furedi alertava para que a reação à doença não fosse extrema,
dizendo que neste século já vimos o surgimento de outros vírus e que já começavam
as teorias da conspiração e o apontar de dedos em busca de culpados.
Em texto de meados de março, ele trata de como a pressão para que políticos ajam de
forma a aquietar a opinião pública pode impedir que as melhores decisões sejam
tomadas. Mas não são os governos, e sim as comunidades, diz ele, que asseguram que
a dor e o sofrimento sejam minimizados.
Em “Um Desastre sem Precedentes”, de 20 de março, Furedi aborda os impactos do
coronavírus, não pelo aspecto da saúde, mas pelo ângulo da reação de governos,
entidades internacionais e comunidades. “É como a sociedade responde a um desastre
que determina que legado, a longo prazo, o desastre terá”, escreve.
O modo como se responde a uma pandemia é mediado pela maneira como se percebe
a ameaça, pela sensação de segurança existencial e pela capacidade de dar significado
ao imprevisto.
Ele então enumera questões do nosso cenário cultural que influenciam a nossa
resposta: no século 21 os indivíduos deixaram de se enxergar como resilientes e
passaram a se definir por suas vulnerabilidades; existe uma grande “psicologização”
dos problemas da vida cotidiana e da existência; e uma percepção contemporânea de

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que a existência humana está ameaçada —“o termo extinção humana é usado
casualmente nas conversas cotidianas”.
Coronavírus altera rotina de católicos pelo mundo durante a Semana Santa

Homem sozinho carrega cruz enquanto percorre a Via Dolorosa em Jerusalém Ammar Awad -
10.abr.20/Reuters

Do México às Filipinas, religiosos precisam adaptar tradições por causa da pandemia


Em oposição a isso, Furedi fala da necessidade de desenvolver a coragem como valor
compartilhado —e valores compartilhados são essenciais à solidariedade.
No artigo mais recente, de 2 de abril, ele volta a tratar da sanha por achar culpados
pelo novo coronavírus. A maior parte das narrativas de culpa é, segundo ele,
influenciada por inimigos de seus autores. Setores da esquerda culparam a
austeridade e a falta de investimento no setor público, enquanto a direita
responsabilizou migrantes e estrangeiros pela situação.
Para compreender tal busca por culpados, o sociólogo enumera três fases da maneira
como a humanidade lida com catástrofes ao longo da história. Antes apontavam para
Deus e outras forças sobrenaturais; após o Iluminismo, passamos a culpar a natureza;
agora, buscamos culpados entre os seres humanos. Ainda hoje os desastres devem ter
significados por trás deles e raramente são percebidos como acidentes.

Resposta imunológica
Han Byung-chul
O filósofo sul-coreano radicado em Berlim, autor de “Sociedade do Cansaço”
(Vozes), em texto de meados de março passa em revista os modos distintos com que
Ásia e Europa enfrentaram a Covid-19 —testagem em massa e controle digital de um
lado, isolamento social de outro.
Ele aponta questões culturais que levam a tais diferenças, como a tradição
confucionista que engendra uma mentalidade autoritária, a maior obediência e menor

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relutância, mais confiança no Estado e sobreposição da coletividade sobre o
indivíduo nos países asiáticos.
Han também aborda uma mudança na ideia de soberania, que, segundo ele, está
ultrapassada como é vista na Europa. É soberano, afirma, quem dispõe de dados. E a
vigilância digital impera na Ásia.
“O capitalismo continuará com ainda mais pujança”, diz ele. E agora a China poderá
vender seu Estado policial digital com orgulho para o Ocidente. O vírus não vencerá
o capitalismo, pois, ao nos isolar e não gerar nenhum sentimento coletivo, não
mobiliza revoluções.
Drive Thru de testes de Covid-19 em Santos

Hospital particular Santa Casa, em Santos, litoral de São Paulo, promove bateria de exames rápidos de
Covid-19 em sistema drive thru Fernanda Luz/Folhapress

A solução socialista
David Harvey
O geógrafo marxista britânico, autor de “Os Limites do Capital” (Boitempo), no qual
reinterpreta Marx à luz das dinâmicas espaciais da urbanização, publicou “Políticas
Anticapitalistas em Tempos de Covid-19” em seu site, em meados de março.
Não há, segundo ele, desastres naturais, porque todos dependem, mais ou menos, da
ação humana. Os impactos econômicos e demográficos do vírus dependem de
fissuras e vulnerabilidades que já existiam no modelo econômico.
Em diversos países as autoridades regionais não tiveram acesso a recursos para a
saúde pública por conta de políticas de austeridade que subsidiaram corporações e os
ricos, escreve.
Ele contesta, ainda, a ideia de que a doença atinja igualmente a todos, pois a força de
trabalho que cuida dos doentes é racializada e feminina. A diferença também está
naqueles que podem ou não trabalhar de casa, e nos que podem ou não se isolar.

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Os trabalhadores na maior parte do mundo, segundo ele, foram ensinados a se
comportar como bons sujeitos neoliberais, mas as únicas políticas que surtirão efeitos
agora serão socialistas.

Nada deve ser como antes


Bruno Latour
O francês, sociólogo e filósofo da ciência, é autor de, entre outros, “Jamais Fomos
Modernos” (editora 34), sobre como a noção de moderno é usada no Ocidente em
oposição a outras culturas. Em texto do final de março, defende que não voltemos ao
estado anterior, de superprodução e consumismo, após a pandemia.
Segundo ele, os globalistas vão se aproveitar da crise para voltarem mais fortes,
ignorando os sinais climáticos. “É agora que devemos lutar para que, uma vez
terminada a crise provocada pela pandemia, a retomada da economia não traga de
volta o mesmo velho regime climático que temos tentado combater”, escreve.
Não se trata mais de retomar ou de transformar um sistema de produção, mas de
abandonar a produção como o único princípio de relação com o mundo. Ao final, ele
propõe um exercício ao leitor: fazer um inventário das atividades que não gostaria
que fossem retomadas e daquelas que, pelo contrário, gostaria de ampliar.

Greve global pelo clima

Greta Thunberg durante manifestação pelo clima em Nova York, em 20 de setembro de 2019 Johannes
Eisele/AFP

A nova fronteira
Paul B. Preciado

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No começo de março, o filósofo trans espanhol, autor do “Manifesto Contrassexual”
(N-1 edições), um marco dos estudos de gênero, adoeceu pela Covid-19. Logo
depois, escreveu um texto a respeito dos dias que passou alheio aos acontecimentos e
sobre como pensou que a nova realidade poderia agora ser escrita em pedra. “Valeria
a pena viver nos moldes do confinamento?”, ele se perguntava.
No dia 28, voltou ao assunto em outro artigo, no qual enfatiza a filosofia de Michel
Foucault da biopolítica, segundo a qual o corpo é o objeto central de toda política.
As diferentes epidemias, segundo ele, materializam na esfera do corpo de cada um as
obsessões que dominam a gestão política da vida e da morte das populações. Sendo
assim, o vírus atua replicando e estendendo a todos as formas dominantes de gestão
da vida e da morte que já existiam, mas em dimensões nacionais.
Estamos, em nossa época, passando de uma sociedade orgânica para uma digital, de
uma economia industrial para uma imaterial. As pessoas não são mais reguladas pela
passagem por instituições disciplinares, como escola, fábrica, casa, mas por
tecnologias biomoleculares, digitais e de transmissão de informação.
“O que está sendo testado em escala planetária por meio do gerenciamento do vírus é
uma nova maneira de entender a soberania em um contexto em que a identidade
sexual e racial está sendo desarticulada”, escreve.

Mundo em isolamento devido ao coronavírus

Militar em rua vazia do centro de La Paz, Bolívia, depois de o governo pedir que moradores permaneçam
dentro de casa como prevenção contra o coronavírus David Mercado - 19.mar.20/Reuters

Medidas de contenção da Covid-19 esvaziam lugares públicos em todos os


continentes

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Golpe no capitalismo
Slavoj Zizek
No fim de fevereiro, o esloveno, o mais pop dos filósofos, publicou um artigo no qual
define o novo coronavírus como um golpe à la “Kill Bill” no capitalismo.
O autor de livros como “Menos que Nada” (Boitempo), no qual articula Hegel e
Lacan, faz referência ao golpe mortal aplicado pela protagonista em seu inimigo ao
final do longa de Quentin Tarantino.
Para Zizek, o novo coronavírus sinaliza que uma mudança radical é necessária. A
crise econômica que se espera como consequência da pandemia mostra a urgência de
uma reorganização da economia global em que não se esteja à mercê dos mecanismos
do mercado.
Ele prepara novo livro sobre a pandemia, que já está em pré-venda. Zizek fala de um
socialismo de emergência, no qual trilhões serão gastos, violando as leis de mercado,
mas que ainda assim corre o risco de ser um “socialismo para os ricos”, ajudando
apenas a elite, como em 2008.

E mais alguns pensadores


Noam Chomsky
O linguista americano conversa com o filósofo croata Srećko Horvat em vídeo do
final de março. Ele diz que o coronavírus é preocupante, mas que estamos sob duas
maiores ameaças, uma iminente guerra nuclear e o aquecimento global, além da
ameaça de deterioração da democracia. Neste momento, os países pobres, num
mundo civilizado, deveriam estar recebendo ajuda dos países ricos para que as
pessoas não morressem de fome.
Ao superarmos a crise teremos algumas opções, de estados altamente autoritários e
brutais, com os quais o neoliberalismo ficaria feliz, à reconstrução radical da
sociedade em termos mais humanos, em que o lucro não seja o mais importante.
Naomi Klein
A escritora e ativista canadense, autora de “A Doutrina do Choque”, falou à Vice e ao
Intercept sobre o novo coronavírus. Klein diz que em momentos de crise as ideias
mais inesperadas de repente se tornam possíveis de serem executadas e defende o
chamado “green new deal”, que investe em indústrias limpas.
Peter Singer e Paola Cavalieri

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O filósofo australiano, grande voz na defesa dos animais, e a jornalista e filósofa
italiana, autora de um projeto que estende aos grandes primatas os direitos humanos,
publicaram no início de março um texto no qual traçam um panorama do possível
surgimento do Sars-Cov-2 em mercados de animais silvestres na China.
Eles defendem que não apenas leis que protejam espécies sejam instituídas, mas que
o mundo todo proíba mercados em que animais são vendidos vivos.

Úrsula Passos é jornalista da Folha e mestre em filosofia pela USP.


Ilustração de Camila Rocha, artista plástica.

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