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INTRODUÇÃO
Apesar de o crescente aumento na expectativa de vida ser visto como uma das conquistas
mais significativas do século passado é também o principal fator de risco para o
desenvolvimento de doenças associadas ao envelhecimento, principalmente as doenças
crônico-degenerativas, dentre as quais algumas formas de demência (Lopes e Bottino, 2002;
Lima, 2006).
Esta doença degenerativa do sistema nervoso central é caracterizada por perda gradual e
progressiva da memória e outras atividades cognitivas, presença de distúrbios psicóticos como
depressão, alucinações e, até mesmo, comportamentos agressivos (Bungener; Jouvent e
Dereuesne, 1996). Portadores da DA apresentam declínio da saúde física e mental, com
sintomas geralmente subjetivos, resultando em uma dificuldade de diagnóstico precoce
(Erkinjuntti et al.,1997).
A acupuntura, técnica milenar da medicina chinesa, tem despertado interesse nessa área. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece o uso da acupuntura para vários tipos de
patologias. Além disso, vários estudos têm demonstrado que a acupuntura apresenta uma
grande influência sobre os problemas emocionais e mentais, sendo recomendável o uso dessa
técnica em combinação com outras técnicas psicoterápicas (Vectore, 2005).
Dois estudos relatados na Conferência Mundial de Alzheimer no ano de 2000 apuraram que a
acupuntura decresceu a ansiedade e a depressão em pacientes com doença de Alzheimer
(Lombardo et al., 2000) e proporcionou significativa melhora clínica geral (Kao et al., 2000).
Entretanto, devido ao pequeno número de amostras, as conclusões destes estudos não são
suficientes para a afirmação dos reais benefícios da acupuntura nos portadores de DA. Apesar
disso, estes resultados suportam a hipótese de que a acupuntura é uma terapêutica viável
para o paciente de Alzheimer.
Diante do exposto, o presente trabalho foi realizado com o objetivo principal de analisar,
através de uma revisão da literatura, os principais benefícios proporcionados pela acupuntura
a pacientes portadores da doença de Alzheimer. Especificamente, buscou-se descrever os
mecanismos envolvidos com a progressão da DA e os fundamentos e aplicações da
acupuntura.
METODOLOGIA
Foi realizado um estudo de revisão da literatura, caracterizado pela pesquisa bibliográfica, nas
línguas portuguesa e inglesa, durante o período de agosto a dezembro de 2010. Para tal, foi
conduzida uma busca sistemática em periódicos (jornais e revistas), dissertações e teses em
bases de dados eletrônicas (Scielo, Lilacs, Medline). Foram definidos como critérios de
inclusão: artigos de revisão e artigos experimentais, todos com publicação referente aos
últimos 20 anos (1991- 2011). Após a leitura do título e resumo dos trabalhos, foram
selecionados os que apresentaram uma maior correlação com o objetivo do presente artigo.
DESENVOLVIMENTO
Até o momento, ainda não foi identificada a causa dessa patologia; porém, evidências
suportam a ideia de causa multifatorial, abrangendo aspectos genéticos e ambientais
(Domingues, Santos e Quintans, 2009). Na DA, ocorre perda neuronal e degeneração sináptica
intensas, principalmente nas camadas piramidais do córtex cerebral, afetando as estruturas
límbicas e os córtices associativos, porém, áreas corticais primárias permanecem
relativamente preservadas (Caramelli, 2000).
Por se tratar de uma doença progressiva, o tratamento da DA não tem como objetivo a cura,
mas sim confortar o paciente e retardar, ao máximo possível, o curso da doença (Duthie,
Edmund e Katz, 2002; Domingues, Santos e Quintans, 2009). O tratamento pode ser realizado
por meio do uso de fármacos, de acordo com o estágio da doença, e pelo uso de medidas não
farmacológicas.
Derivada dos radicais latinos acus e pungere, que significam agulha e puncionar,
respectivamente, a acupuntura visa à terapia e cura das enfermidades através da aplicação de
estímulos na pele, com a inserção de agulhas em pontos específicos chamados acupontos
(Schoen, 1993). Seu uso está relacionado com o alívio de dores agudas ou crônicas e com o
tratamento de diversas doenças (Kleihenz, 1995).
Todo ser vivo, seja ele animal ou vegetal possui uma energia primordial, chamada “Qi” que
possui dois aspectos: yin e yang. O yin é o aspecto material e interno, já o yang é a
manifestação da matéria exteriormente; o conceito yin/yang é de suma importância para o
exercício da acupuntura (Teixeira, 2007). O bom funcionamento (saúde) do ser depende do
adequado equilíbrio entre estas duas forças antagônicas, porém sua oposição acaba por criar
um equilíbrio dinâmico; quando estão em mesmo nível energético, um controla o outro,
porém quando um se sobressai em relação ao outro ocorre o desequilíbrio, ou seja, a doença.
A acupuntura refaz o equilíbrio natural (Yamamura, 2001).
É um método terapêutico muito antigo, utilizado no Oriente há mais de 5000 anos. Trata-se de
um método de prevenção e tratamento de doenças, realizado através da puntura em certos
pontos estratégicos da pele e tecidos subjacentes, em diferentes profundidades, com o uso de
agulhas ou aplicações de calor na superfície do corpo (Scognamillo-Szabó e Bechara, 2001).
No Ocidente, a acupuntura ganhou maior credibilidade, sobretudo por seu efeito no alívio da
dor, de qualquer origem. Diversos estudos têm demonstrado que a acupuntura atua
aumentando as taxas plasmáticas de substâncias opióides (Pereira, 2005). Os opióides mais
importantes são β-endorfina, metencefalina, encefalina e dimorfina, responsáveis por
proporcionar um relaxamento mais efetivo e, em alguns casos, causar sonolência e aliviar
tensões proporcionadas pelo estresse (Salazar; Rayes, 2004).
Porém, outros mecanismos fisiológicos também estão envolvidos com a analgesia por
acupuntura. Fernandes et al. (2003) explicam que durante a realização dessa técnica há
liberação de substâncias vasoativas por processo inflamatório, decorrente da inserção da
agulha, melhorando a oxigenação celular, trocas metabólicas, aumento do aporte sanguíneo e
linfático.
É uma técnica que tem se demonstrado eficiente para tratamentos de dores em geral,
ganhando espaço e aceitação no meio científico. Atualmente, a prática existe no mundo
inteiro e é crescente sua procura. Representa um método de tratamento mais natural, menos
agressivo e com menor interferência nos processos fisiológicos, além de ser relativamente
simples, rápida e eficaz na busca do equilíbrio bio-psíquico dos pacientes (Yamamura, 1995;
Vectore, 2005).
Resultados clínicos da acupuntura na Doença de Alzheimer
Apesar de a acupuntura ser utilizada por muitos séculos, ainda não foram estabelecidas
evidências científicas para a fisiologia e a eficácia no tratamento da doença de Alzheimer.
Entretanto, embora as explicações científicas rigorosas sejam raras e algumas evidências sejam
experimentais, há relatos de que a acupuntura consegue obter êxito no tratamento de muitas
classes de doenças neurodegenerativas de maneira geral.
Na sequência serão apresentados resultados de alguns estudos que obtiveram sucesso no uso
da acupuntura como método auxiliar no tratamento de portadores da DA.
Estudo realizado por Kao et al. (2000), na Universidade de Hong Kong, reuniu 8 pacientes com
diagnóstico de DA leve ou moderada. O tratamento consistiu na inserção de agulhas finas em
oito pontos de acupuntura. Os pacientes receberam um ciclo de tratamento de sete dias com
um intervalo de três, em um total de 30 dias. Os pacientes tiveram a memória, orientação,
atenção, capacidade de nomear um objeto, executar os comandos verbais e escritos, e
escrever uma frase espontânea mensurados. Kao e sua equipe concluíram que a acupuntura
proporcionou melhora significativa nas capacidades verbal e motora dos pacientes com DA.
Shaojin et al. (2000) desenvolveram um estudo para avaliar o efeito da acupuntura no sistema
nervoso central de camundongos com a doença de Alzheimer. Os resultados mostraram que a
acupuntura é capaz de melhorar a função do sistema nervoso desses animais, sendo também
capaz de reduzir o aparecimento de placas senis.
Millea e Reed (2001) conduziram um estudo randomizado, duplo cego controlado, para avaliar
o efeito da acupuntura na redução dos sintomas de agitação em pacientes com diagnóstico de
DA provável ou possível. A pesquisa foi realizada com 9 portadores de DA e os resultados
mostraram que a melhoria da agitação no grupo submetido ao tratamento com acupuntura
era consistente com os efeitos conhecidos da acupuntura no sistema nervoso central. Os
autores afirmam, entretanto, que um grande ensaio clínico randomizado é necessário para
qualquer generalização destes resultados para a área clínica.
Zhu et al. (2010) realizaram um estudo com o intuito de avaliar o efeito terapêutico da
acupuntura clínica sobre a doença de Alzheimer e seu possível mecanismo. A pesquisa foi
efetuada com 20 pacientes portadores da DA e os resultados revelaram que a acupuntura
pode melhorar consideravelmente a capacidade cognitiva desses pacientes e seu possível
mecanismo pode estar relacionado à redução da peroxidação lipídica no cérebro de pacientes
com DA.
Embora tenham sido relatados vários resultados satisfatórios do uso da acupuntura no
tratamento de portadores da DA é válido ressaltar que a maioria dos ensaios clínicos
apresentam algum tipo de deficiência metodológica. Muitos estudos foram realizados com
pequeno número de pacientes, prejudicando a aplicação de testes de significância estatística.
Em muitos casos, os critérios para a seleção inicial dos pacientes incluídos no estudo são
imprecisos ou mal definidos; em outros, os critérios para a definição do que deve ser
considerado sucesso ou falha do tratamento não foram bem estabelecidos desde o início do
estudo.
Por isso, apesar de alguns estudos demonstrarem um possível benefício terapêutico, ainda não
ficaram claros os resultados clínicos que podem ser esperados através da acupuntura nos
pacientes com DA. Para obter um fator de evidência maior, os estudos devem incorporar
metodologias mais rígidas e utilizar-se de amostras mais numerosas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Duthie Jr.; Edmund, H. M. D.; Katz, P. R. M. D. Geriatria Prática. São Paulo, Revinter, 2002.
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