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20/09/2017 Direito e Estado sob a óptica de Karl Marx | Sociologia Jurídica

O autor concebe o Estado não como curador social que tem por função obter o bem comum da
sociedade e proteger os interesses universais, como pensou Durkheim, nem também como o Estado
ético-racional, perene, sem história, superior a sociedade civil, como propunha Hegel. Ele analisa-o
relacionado à realidade política, como reflexo da sociedade civil e, portanto, como decorrente de uma
luta de classes.

O Estado, para o autor, compõe a esfera superestrutural, sendo seu surgimento necessário para
ordenar essa luta de classes, amenizando-a. Fazendo isso, ele atende aos interesses dos
proprietários4, já que a intensificação dos conflitos pode gerar uma superação da realidade e à classe
dominante interessa a permanência da situação vigente.

Assim, o Estado é a expressão legal – jurídica e policial – dos interesses de uma classe social
particular, a classe dos proprietários privados dos meios de produção ou classe dominante. Ele “não é
uma imposição divina aos homens nem é o resultado de um pacto ou contrato social, mas é a maneira
pela qual a classe dominante de uma época e de uma sociedade determinadas garante seus interesses
e sua dominação sobre o todo social”[9][9].

Para ele, o Estado é o braço repressivo da burguesia. Ele utiliza-se da coerção para garantir a ordem
infra-estrutural. As forças produtivas do modo de produção capitalista deveriam ser desenvolvidas
ao máximo até as contradições entre as classes tornarem-se insuportáveis. Nesse momento, o povo
chegaria ao poder e as decisões seriam tomadas pela própria massa popular. Dentre essas decisões,
estaria a socialização das propriedades, enquanto que o Estado e, conseqüentemente, o Direito (já que
este é produto daquele) iriam perdendo as suas funções até se extinguirem completamente. Isso
porque tais institutos não seriam mais necessários numa sociedade na qual todas as pessoas estariam
numa mesma situação diante da base material (não existiriam mais classes sociais, então não haveria
mais necessidade de algo que regulasse as contradições entre elas).

4. O DIREITO EM MARX

Já o Direito é a seara que se estabelece dentro do modelo epistemológico de Marx como fenômeno
social, ocupante da posição superestrutural, determinada dialeticamente pela economia, que
compreende a base material. Seu estudo, desse modo, há de ser feito relacionado a outras ciências
(especialmente a Economia), porquanto incorpora valores sociais. Essa tese é veementemente
contraposta por Hans Kelsen, eminente jurista austríaco, de formação positivista, que defendeu a
teoria pura do Direito, sob o fundamento de que para a construção de um conhecimento
consistentemente científico o Direito deve abstrair-se dos aspectos políticos, morais, econômicos e
históricos[10][10]. No entanto, um pensamento coerente e estruturado não admite um estudo do
Direito isolado das demais ciências, de maneira que a teoria pura do Direito de Kelsen sucumbiu,
ante a clareza com que a palavra Direito designa um acontecimento que tem conexão com outro
conjunto de fenômenos sociais que se inscrevem no contexto do exercício do poder em uma
sociedade.

Karl Marx organizou uma tese em que o Direito, como regra de conduta coercitiva, nasce da ideologia
da classe dominante, que é precisamente a classe burguesa. Assim, qualquer que seja a forma que o
direito assuma (lei, jurisprudência, costume), a essência do direito está sempre referida à vontade da
classe dominante, que nunca é a vontade do conjunto do corpo social. O Direito é percebido como
síntese de um processo dialético de conflito de interesses entre as classes sociais, que Marx
denominou de luta de classes.

Tanto as relações jurídicas quanto as formas de Estado não podem ser compreendidas nem por si
mesmas, nem pela chamada revolução geral do espírito humano, mas antes têm suas raízes nas
condições materiais de existência. Ademais, o Direito não nasce espontaneamente dessas relações,
mas é posto pela vontade. O problema que se verifica é que tal vontade é somente aquela dos que

possuem o poder estatal, ou seja, a vontade da classe dominante,


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possuem o poder estatal, ou seja, a vontade da classe dominante, sendo o Direito expresso de um
lado pela lei e, de outro, como o conteúdo determinado dessa lei. Assim, a dominação econômica de
uns poucos sobre tantos outros se legitima por intermédio de um Estado de Direito, cujo princípio
capital é a lei.

Nessa linha, na obra de Marx, verifica-se uma inquietação sobre a injustiça econômica estar
representada nas formas jurídicas e, assim, a insurgência contra o modelo liberal do Direito de
propriedade, uma vez que a liberdade no capitalismo clássico é meramente formal, e sem um amparo
da igualdade material, torna-se pó, isto é, oprime.

Sobre o núcleo do sistema jurídico, isto é, o judiciário, parafraseando o sociólogo Niklas Luhmann,
sinaliza a obra de Marx pelo menos duas críticas. Primeiro, o velho adágio de que “a justiça é cega”,
no sentido de imparcial, imune, é um contra-senso, porque se os juízes são apartidários, quando a lei
é partidária, a propaganda de neutralidade dos magistrados cai por terra, principalmente tendo em
conta que o corpo de magistrado tem origem normalmente na classe dominante. De outro lado, o
autor critica a despersonalização ou desumanização dos atos judiciais, operada pela burocracia, e que
conduzem a uma identificação da redenção do condenado por ele mesmo, e não pela aplicação do
Direito.

Nesse sentido, oportuna a lição do doutrinador Ricardo Nery Filho[11][11], para quem “Marx
‘humaniza’ o direito ao afirmar que ele é um fenômeno derivado das condições econômicas de
produção capitalista que estão na sua base e ao fazer com que ele apareça como ideologia e
superestrutura burguesas.”

Assim, o Direito e seus institutos constituem fenômenos ideológicos, parte da realidade social
capitalista, seja no processo de elaboração das leis, seja no de sua aplicação pelos magistrados. No
entanto, de proposta, os ensinamentos de Marx sobre o Direito devem ser acoplados à sua concepção
de homem enquanto produto e produtor da realidade social em que vive e, assim, promover a
superação da dogmática normativista, da lógica formal e de todo um universo rígido de normas.
Desse modo, e com a possibilidade de transformação histórica da sociedade pela mudança no Direito,
o projeto de aproximação da justiça social pode ser efetivado.

5. CONCLUSÃO

A obra de Marx é inegavelmente de suma importância para a Idade Contemporânea, seja na Filosofia,
Economia Política, na Sociologia ou no Direito. Ela não constituiu apenas um grito de dor do
proletariado, já que sua dialética econômica da história denunciou “uma guerra ininterrupta entre
homens livres e escravos, patrícios e plebeus, burgueses e operários, enfim, entre dominantes e
dominados”[12][12], mas não se restringiu a isso. Propôs uma mudança através da revolução
proletária. É então, impossível desconsiderar o pensamento de Marx em seu profundo papel
modificador e crítico da sociedade, do Estado e do Direito.

De seus ensinamentos não se pode abstrair uma teoria sistêmica sobre o Direito. Apesar disso, através
de seus escritos, evidencia-se um direito de papel decisivo na fixação das contradições do Sistema
Social Ocidental. O Direito coloca-se muito mais que um instrumento pacificador dos conflitos
sociais. Isso porque sob sua perspectiva ideológica verifica-se que o Direito representa um discurso
do Poder.

De fato, o Direito, assim como a Justiça, não é um fenômeno universal, conforme a classe dominante
insiste em afirmar. Como bem ressalta o professor Roberto Aguiar, in verbis:

“as normas jurídicas e os ordenamentos jurídicos, como todos os atos normativos editados pelo poder
de um dado Estado, traduzem de forma explícita, seja em seu conteúdo, seja pelas práticas que o
sustentam, as características, interesses, e ideologia dos grupos que legislam.”[13][13]
Assim, o Direito não pode ser entendido como um acontecimento neutro e desinteressado nas lutas
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Assim, o Direito não pode ser entendido como um acontecimento neutro e desinteressado nas lutas
de classes. Ele não é idealista, mas vinculado à práxis. Prova disso é que quando ocorre uma
revolução, a primeira mudança ocorre na esfera jurídica. Esta irá traduzir outros interesses. Afinal:
“ninguém legisla contra si mesmo”.[14][14]

Ora, as leis beneficiam muito mais os proprietários. Isso se verifica, por exemplo, quando o
Ordenamento Jurídico reprime mais os crimes contra as coisas, que aqueles contra as pessoas,
demonstrando que aquelas são mais importantes que os seres humanos. De outro lado, o judiciário,
sob o falso manto da imparcialidade, perpetua a ideologia dominante.

É preciso recolocar o homem no centro das relações sociais; conceber o Direito como fenômeno
parcial e comprometido sim, mas não com as minorias. Isto significa perceber uma ordem jurídica
respaldada nos interesses das maiorias. Tal sistema transformador há de ter uma chance muito
grande de ser justo, haja vista que configuraria uma antítese para a tese do sistema opressor em que
vivemos. Até a sua concepção, a postura do conformismo é que não deve ser adotada. Isso porque a
imagem do direito justo pode aparecer na aplicação das leis burguesas, desde que se utilize uma idéia
renovadora, envolta ao viés do uso alternativo do Direito.

1. REFERÊNCIAS

AGUIAR, Roberto A. R. O que é Justiça: uma Abordagem dialética. 5 ed. São Paulo: Alfa-ômega, 1999.

BOTTOMORE, Tom & NISBET, Robert. História da análise sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.

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CHAUÌ, Marilena. O que é ideologia? 14 ed. São Paulo: Braziliense, 1984.

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COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral. 1 ed. Vol único. São Paulo: Saraiva, 1999.

CORREA. Oscar. A concepção juridicista do estado no pensamento Marxista. In PLASTINO, Carlos


Alberto (org.). Crítica do Direito e do Estado. Rio de Janeiro: Graal, 1984, p. 147.

CUEVA, Augustin. A concepção marxista das classes sociais. In Debate e Crítica, n°03. São Paulo: Hucites,
1974, p. 83-106.

DELLA CUNHA, Djason B. A perspectiva sociológica no estudo do Direito. Revista do Curso de Direito
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Vol.2. nº2. Natal: EDUFRN, 1996. p.101 a 130.
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Martins Fontes, 1998.

LIMA, Martônio Montálverne Barreto. BELLO, Enzo (org.). Direito e Marxismo. Rio de Janeiro: Lumen
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MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Coleção a obra-prima de cada
autor.Tradução de Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2000.

______________. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes,


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