Sei sulla pagina 1di 8

Coletânea da Jurisprudência

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Décima Secção)

19 de dezembro de 2018 *

«Reenvio prejudicial — Fiscalidade — Imposto sobre o valor acrescentado (IVA) — Diretiva


2006/112/CE — Artigos 19.o, 29.o e 135.o, n.o 1, alínea l) — Transmissão de uma universalidade total ou
parcial de bens — Isenção da locação de bens imóveis — Contratos de arrendamento de um imóvel
afeto a uma exploração comercial e de aluguer dos bens móveis necessários para essa exploração —
Prestações relativas ao imóvel que deram origem à dedução do IVA — Regularização»

No processo C-17/18,

que tem por objeto um pedido de decisão prejudicial apresentado, nos termos do artigo 267.o TFUE,
pelo Tribunalul Mureş (Tribunal de Primeira Instância de Mureş, Roménia), por decisão de
20 de dezembro de 2017, que deu entrada no Tribunal de Justiça em 9 de janeiro de 2018, no
processo criminal contra

Virgil Mailat,

Delia Elena Mailat,

Apcom Select SA,

O TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Décima Secção),

composto por: F. Biltgen (relator), presidente de secção, exercendo funções de presidente da Décima
Secção, E. Levits, e M. Berger, juízes,

advogado-geral: E. Sharpston,

secretário: A. Calot Escobar,

vistos os autos,

vistas as observações apresentadas:

– em representação de V. Mailat, por L. Chiriac e O. D. Crăciun, avocați,

– em representação de D. E. Mailat, por S. Bogdan e D.-S. Chertes, avocați,

– em representação do Governo romeno, inicialmente por R. H. Radu, em seguida por C.-R. Canțăr,
O. C.-M. Florescu e E. Gane, na qualidade de agentes,

– em representação da Comissão Europeia, por A. Armenia e R. Lyal, na qualidade de agentes,

* Língua do processo: romeno.

PT
ECLI:EU:C:2018:1038 1
ACÓRDÃO DE 19. 12. 2018 — PROCESSO C-17/18
MAILAT

vista a decisão tomada, ouvida a advogada-geral, de julgar a causa sem apresentação de conclusões,

profere o presente

Acórdão

1 O pedido de decisão prejudicial tem por objeto a interpretação dos artigos 19.o, 29.o e 135.o, n.o 1,
alínea l), da Diretiva 2006/112/CE do Conselho, de 28 de novembro de 2006, relativa ao sistema
comum do imposto sobre o valor acrescentado (JO 2006, L 347, p. 1, a seguir «Diretiva IVA»).

2 Este pedido foi apresentado no âmbito de um procedimento criminal instaurado contra Virgil Mailat e
Delia Elena Mailat e contra a sociedade comercial de que eram gerentes, a Apcom Select SA, por
evasão fiscal, pelo facto de, após terem deduzido o imposto sobre o valor acrescentado (IVA)
suportado a montante sobre os trabalhos efetuados num bem imóvel afeto à sua atividade comercial,
não terem regularizado o referido IVA quando deram de arrendamento o imóvel em questão
incluindo os bens de equipamento necessários à prossecução dessa atividade.

Quadro jurídico

Direito da União

3 O artigo 19.o da Diretiva IVA tem a seguinte redação:

«Os Estados-Membros podem considerar que a transmissão, a título oneroso ou gratuito ou sob a
forma de entrada numa sociedade, de uma universalidade de bens ou de parte dela não implica uma
entrega de bens e que o beneficiário sucede ao transmitente.

Os Estados-Membros podem adotar as medidas necessárias para evitar distorções de concorrência caso
o beneficiário não se encontre totalmente sujeito ao imposto. Podem igualmente adotar todas as
medidas necessárias para evitar a possibilidade de fraude ou evasão fiscais em razão da aplicação do
presente artigo.»

4 O artigo 29.o desta diretiva prevê:

«O artigo 19.o é aplicável nas mesmas condições às prestações de serviços.»

5 Nos termos do artigo 135.o, n.o 1, alínea l), da mesma diretiva:

«Os Estados-Membros isentam as seguintes operações:

[…]

l) A locação de bens imóveis.»

2 ECLI:EU:C:2018:1038
ACÓRDÃO DE 19. 12. 2018 — PROCESSO C-17/18
MAILAT

Direito romeno

6 O artigo 149.o da Legea nr. 571/2003 privind Codul fiscal (Lei n.o 571/2003 que aprova o Código
Fiscal), de 23 de dezembro de 2003 (Monitorul Oficial al României, parte I, n.o 927, de
23 de dezembro de 2003), na versão em vigor em dezembro de 2007, dispunha:

«(1) Para efeitos do presente artigo:

[…]

d) o imposto dedutível relativo aos bens de investimento é a taxa paga ou devida relativa a qualquer
operação relacionada com a aquisição, fabrico, construção, transformação ou modernização desses
bens, com exclusão do imposto pago ou devido sobre reparação ou manutenção dos bens ou do
imposto relativo à aquisição das peças sobresselentes para reparação ou manutenção dos bens de
investimento.

[…]

(4) A regularização do imposto dedutível referida no n.o 1, alínea d), é efetuada:

a) Quando o bem de investimento for utilizado pelo sujeito passivo:


1. no todo ou em parte para fins diferentes da atividade económica;
2. para operações que não dão lugar a uma dedução do IVA;
3. para operações que dão lugar à dedução do IVA diferente da dedução feita inicialmente;

[…]»

Litígio no processo principal e questões prejudiciais

7 A Apcom Select, de que eram gerentes V. Mailat e D. E. Mailat, recebeu, no mês de maio de 2007,
trabalhos de investimento efetuados durante o período de 2006-2007 num edifício no qual explorava
um restaurante. A referida empresa beneficiou da dedução do IVA para esses trabalhos assim como
para os bens de equipamento e para os bens ligados à exploração do restaurante.

8 Em dezembro de 2007, essa sociedade celebrou ao abrigo do regime de isenção de pagamento do IVA,
com outra sociedade, um contrato de arrendamento comercial do imóvel em questão, incluindo os
bens de equipamento e os bens relacionados com a exploração do restaurante. O arrendatário
prosseguiu a exploração comercial do restaurante sob a mesma denominação. Aquando da celebração
do referido contrato, V. Mailat e D. E. Mailat não procederam à regularização do IVA deduzido
relativamente aos trabalhos efetuados e aos bens de equipamento e bens ligados à exploração do
restaurante, o que, por força da legislação nacional, estavam obrigados a fazer.

9 Foi neste contexto que V. Mailat e D. E. Mailat e também a Apcom Select foram acusados
criminalmente no órgão jurisdicional de reenvio, por iniciativa da Direção Nacional Anticorrupção,
por evasão fiscal.

10 No caso em apreço, V. Mailat e D. E. Mailat sustentam que o facto de terem, por intermédio da Apcom
Select, dado de arrendamento o imóvel em que exploravam um restaurante, incluindo os bens de
equipamento e os bens ligados à exploração do restaurante, a outra empresa comercial, constitui uma
transmissão de empresa, na aceção dos artigos 19.o e 29.o da Diretiva IVA, e que, portanto, a Apcom
Select tinha o direito de deduzir o IVA referente aos trabalhos de modernização efetuados durante o
período 2006-2007, sem ser obrigada a regularizar o IVA a favor do Estado no momento da
celebração do contrato de arrendamento.

ECLI:EU:C:2018:1038 3
ACÓRDÃO DE 19. 12. 2018 — PROCESSO C-17/18
MAILAT

11 Foi nestas circunstâncias que o Tribunalul Mureș (Tribunal de Primeira Instância de Mureș, Roménia)
decidiu suspender a instância e submeter ao Tribunal de Justiça as seguintes questões prejudiciais:

«1) A celebração de um contrato através do qual uma sociedade dá de locação a outra sociedade um
imóvel no qual anteriormente tinha exercido uma atividade específica de restauração pública, com
todos os bens de equipamento permanentes e os bens de consumo, continuando a sociedade
arrendatária essa mesma atividade de restauração pública no restaurante sob a mesma
denominação usada anteriormente, constitui uma transmissão da sociedade na aceção do
artigo 19.o e do artigo 29.o da Diretiva [IVA]?

2) Em caso de resposta negativa à primeira questão, a operação descrita representa uma prestação de
serviços que pode ser considerada uma “locação de bens imóveis” na aceção do artigo 135.o, n.o 1,
alínea l), da Diretiva IVA, ou uma prestação de serviços complexa que não pode ser qualificada de
“locação de bens imóveis”, sujeita a imposto nos termos da lei?»

Quanto às questões prejudiciais

Quanto à primeira questão

12 Com a sua primeira questão, o órgão jurisdicional de reenvio pergunta, em substância, se o conceito de
«transmissão de uma universalidade de bens ou de parte dela», na aceção do artigo 19.o da Diretiva
IVA, deve ser interpretado no sentido de que abrange a operação pela qual um imóvel utilizado como
estabelecimento comercial é arrendado, com todos os bens de equipamento e bens consumíveis afetos
a essa exploração, quando o locatário prossegue sob a mesma denominação.

13 Para responder a esta questão, importa salientar que o artigo 19.o, primeiro parágrafo, da Diretiva IVA
está redigido nos mesmos termos que o artigo 5.o, n.o 8, da Diretiva Sexta 77/388/CEE do Conselho, de
17 de maio de 1977, relativa à harmonização das legislações dos Estados-Membros respeitantes aos
impostos sobre o volume de negócios - Sistema comum do imposto sobre o valor acrescentado:
matéria coletável uniforme (JO 1977, L 145, p. 1; EE 09 F1p. 54) e que a jurisprudência do Tribunal
de Justiça sobre aquele artigo é transponível, mutatis mutandis, para o artigo 19.o, primeiro parágrafo,
da Diretiva IVA. De acordo com essa jurisprudência, o objetivo daquele artigo é facilitar as
transmissões de empresas, simplificando-as e evitando sobrecarregar a tesouraria do beneficiário
através de um encargo fiscal excessivo que, de qualquer forma, recuperará posteriormente através da
dedução do IVA pago a montante (v., neste sentido, Acórdãos de 27 de novembro de 2003, Zita
Modes, C-497/01, EU:C:2003:644, n.o 39, e de 10 de novembro de 2011, Schriever, C-444/10,
EU:C:2011:724, n.o 23).

14 Quanto ao conceito de «transmissão de uma universalidade de bens ou de parte dela», o Tribunal de


Justiça declarou que deve ser interpretado no sentido de que abrange a transmissão do
estabelecimento comercial ou de uma parte autónoma de uma empresa, incluindo elementos corpóreos
e, se for o caso, incorpóreos que, em conjunto, constituem uma empresa ou parte de uma empresa que
pode prosseguir uma atividade económica autónoma, mas de que não abrange a simples cessão de
bens, como a venda de um stock de produtos (v., neste sentido, Acórdãos de 27 de novembro de 2003,
Zita Modes, C-497/01, EU:C:2003:644, n.o 40; e de 10 de novembro de 2011, Schriever, C-444/10,
EU:C:2011:724, n.o 24).

15 Resulta desta mesma jurisprudência do Tribunal de Justiça que, para se estar perante uma transmissão
do estabelecimento ou de uma parte autónoma de uma empresa, é necessário que os elementos
transmitidos, no seu conjunto, sejam suficientes para permitir a continuação de uma atividade

4 ECLI:EU:C:2018:1038
ACÓRDÃO DE 19. 12. 2018 — PROCESSO C-17/18
MAILAT

económica autónoma e que a questão de saber se esse conjunto de elementos deve incluir bens móveis
e imóveis deve ser apreciada no contexto da natureza da atividade em causa (v., neste sentido, Acórdão
de 10 novembro de 2011, Schriever, C-444/10, EU:C:2011:724, n.os 25 e 26).

16 O Tribunal de Justiça declarou também que, no quadro da apreciação global das circunstâncias de
facto que importa efetuar para determinar se a operação em causa está compreendida no conceito de
«transmissão de uma universalidade de bens» na aceção da Diretiva IVA, deve ser dada uma
importância especial à natureza da atividade económica que se pretende continuar a exercer (v., neste
sentido, Acórdão de 10 novembro de 2011, Schriever, C-444/10, EU:C:2011:724, n.o 32).

17 Assim, no caso de a prossecução de uma atividade económica não carecer de instalações especiais ou
fixas, pode existir transmissão de uma universalidade de bens, na aceção do artigo 19.o, primeiro
parágrafo da Diretiva IVA, mesmo sem a transmissão do direito de propriedade de um imóvel (v., neste
sentido, Acórdão de 10 de novembro de 2011, Schriever, C-444/10, EU:C:2011:724, n.o 27).

18 Relativamente às atividades económicas que consistem na exploração de um conjunto incindível de


bens móveis e imóveis, o Tribunal de Justiça considerou não existir uma transmissão de uma
universalidade de bens, na aceção do artigo 19.o, primeiro parágrafo, da Diretiva IVA, quando o
cessionário não tomar posse das instalações. Concretamente, se as instalações dispuserem de
equipamentos fixos necessários ao desenvolvimento da atividade económica, esses bens imóveis devem
fazer parte dos elementos transmitidos para que se possa falar da transmissão de uma universalidade
de bens ou de parte dela, na aceção da Diretiva IVA (v., neste sentido, Acórdão de 10 de novembro de
2011, Schriever, C-444/10, EU:C:2011:724, n.o 28).

19 No que diz respeito à atividade em causa no processo principal, a saber, a exploração de um


restaurante, há que reconhecer que se trata de uma atividade que, em princípio, não pode ser exercida
sem a existência de um espaço comercial. Com efeito, excetuando a restauração ambulante, a atividade
de restauração pressupõe que o operador disponha de um local que possa servir de cozinha, que possa
albergar o equipamento, o material e as matérias-primas necessárias para a confeção das refeições. Ora,
o processo principal não tem por objeto uma atividade de restauração ambulante, mas a exploração de
um estabelecimento numa morada fixa que dispõe de uma cozinha e de uma sala de restauração.

20 Importa recordar que, mesmo que se trate de uma atividade económica que não possa ser exercida
sem a existência de instalações comerciais, para se continuar a explorar as atividades económicas
cedidas não é necessário que o proprietário do estabelecimento seja igualmente o proprietário do
imóvel em que esse estabelecimento se situa (v., neste sentido, Acórdão de 10 de novembro de 2011,
Schriever, C-444/10, EU:C:2011:724, n.o 34). Assim, o Tribunal de Justiça decidiu que, quando se
verificar que a continuação da atividade económica em causa exige que o transmissário continue a
utilizar as instalações utilizadas pelo transmitente, nada obsta, em princípio, a que essa transmissão
seja efetuada mediante a celebração de um contrato de arrendamento. (Acórdão de 10 de novembro de
2011, Schriever, C-444/10, EU:C:2011:724, n.o 36).

21 Contudo, importa precisar que o processo que deu origem ao Acórdão de 10 de novembro de 2011,
Schriever (C-444/10, EU:C:2011:724), no âmbito do qual o Tribunal de Justiça emitiu estas
considerações, dizia respeito à transmissão para um novo empresário da atividade comercial de gestão
de um stock de mercadorias e do equipamento necessário para esse efeito, tendo-se considerado que
constituíam um conjunto de bens móveis suficientes para prosseguir a referida atividade.

22 Em contrapartida, no caso em apreço, resulta do pedido de decisão prejudicial que a todos os


elementos necessários ao exercício da atividade económica em causa no processo principal apenas
foram objeto de locação e que não houve transmissão dos direitos de propriedade que lhes estão
associados.

ECLI:EU:C:2018:1038 5
ACÓRDÃO DE 19. 12. 2018 — PROCESSO C-17/18
MAILAT

23 Ora, o facto de tornar acessível o conjunto destes elementos não constitui uma transmissão de uma
universalidade de bens ou de parte dela, na aceção do artigo 19.o, primeiro parágrafo, da Diretiva IVA.

24 A fim de dar uma resposta útil ao órgão jurisdicional de reenvio convém, no entanto, salientar que
resulta das observações apresentadas ao Tribunal que um certo número de bens móveis não teriam
sido arrendados, mas vendidos ao cessionário. Cabe, em última instância, ao órgão jurisdicional
nacional determinar se esses bens permitiam, por si só, ao cessionário continuar de forma autónoma a
atividade económica em questão, ou se o bem imóvel que foi objeto do contrato de arrendamento em
causa no processo principal estava equipado com instalações necessárias à prossecução desta atividade
económica.

25 Além disso, importa acrescentar, por um lado, que, para ser abrangido pelo conceito de «transmissão
de uma universalidade de bens ou de parte dela», na aceção do artigo 19.o, primeiro parágrafo, da
Diretiva IVA, é necessário que o cessionário tenha a intenção de explorar o estabelecimento ou a
parte da empresa transmitida e não apenas liquidar imediatamente a atividade em causa e
eventualmente vender o stock (v., neste sentido, Acórdão de 27 novembro de 2003, Zita Modes,
C-497/01, EU:C:2003:644, n.o 44).

26 A este respeito, resulta da jurisprudência do Tribunal a que a intenção do adquirente pode ou, nalguns
casos, deve ser tida em consideração na apreciação global das circunstâncias de uma operação, desde
que essa intenção se baseie em elementos objetivos (Acórdão de 10 de novembro de 2011, Schriever,
C-444/10, EU:C:2011:724, n.o 38).

27 Ora, embora seja verdade que, no processo principal, é pacífico que o locatário prosseguiu durante
mais de dois anos a atividade económica autónoma exercida anteriormente pelo locador e que, como
resulta das observações apresentadas ao Tribunal de Justiça, manteve os trabalhadores, os
fornecedores e cumpriu os compromissos comerciais assumidos pelo locador no que diz respeito à
clientela, não é menos verdade que o arrendatário nunca teve condições para liquidar a atividade em
causa, uma vez que, não sendo proprietário de uma grande parte dos elementos necessários para a
exploração da referida atividade, não tinha a capacidade de dispor dos mesmos.

28 Por outro lado, se é verdade que elementos como a duração do contrato de arrendamento e as
modalidades acordadas para lhe pôr fim devem ser tidos em consideração na apreciação global da
operação da transmissão de bens na aceção do artigo 19.o, primeiro parágrafo, da Diretiva IVA, não é
menos verdade que nem a duração do contrato de arrendamento nem a possibilidade de o rescindir
mediante um pré-aviso muito curto são determinantes para concluir que o cessionário tinha a
intenção de liquidar imediatamente o estabelecimento ou parte da empresa transmitida (v., neste
sentido, Acórdão de 10 de novembro de 2011, Schriever, C-444/10, EU:C:2011:724, n.os 42 e 43). Ora,
uma vez que, no caso em apreço, como resulta do número anterior, o arrendatário da Apcom Select
não podia proceder à liquidação da atividade económica, o facto de a aplicação do artigo 19.o, primeiro
parágrafo, da Diretiva IVA não poder ser recusado unicamente com base apenas num desses motivos
(v., neste sentido, Acórdão de 10 de novembro de 2011, Schriever, C-444/10, EU:C:2011:724, n.os 42
a 44) é irrelevante para a qualificação da operação em causa no processo principal do ponto de vista
daquela disposição.

29 Entretanto, importa salientar que o facto de o artigo 19.o, primeiro parágrafo, da Diretiva IVA prever
que o beneficiário sucede ao transmitente não faz depender a aplicação daquela disposição dessa
sucessão (v, neste sentido, Acórdão de 27 de novembro de 2003, Zita Modes C-497/01,
EU:C:2003:644, n.o 43). Por conseguinte, a circunstância de o beneficiário, no caso em apreço, ter
continuado a exploração da atividade com a mesma denominação do cedente é igualmente irrelevante
para determinar se a operação em causa no processo principal releva ou não do artigo 19.o, primeiro
parágrafo, da Diretiva IVA.

6 ECLI:EU:C:2018:1038
ACÓRDÃO DE 19. 12. 2018 — PROCESSO C-17/18
MAILAT

30 Tendo em conta o que precede, há que responder à primeira questão que o conceito de «transmissão
de uma universalidade de bens ou de parte dela», na aceção do artigo 19.o da Diretiva IVA, deve ser
interpretado no sentido de que não abrange uma operação pela qual um bem imóvel utilizado como
estabelecimento comercial é arrendado, com todos os bens de equipamento e consumíveis necessários
para a sua exploração, mesmo que o locatário prossiga a atividade do locador sob a mesma
denominação.

Quanto à segunda questão

31 Com a sua segunda questão, o órgão jurisdicional de reenvio pergunta, em substância, se o artigo 135.o,
n.o 1, alínea l), da Diretiva IVA deve ser interpretado no sentido de que um contrato de locação de um
bem imóvel utilizado como estabelecimento comercial incluindo todos os bens de equipamento e
consumíveis necessários para a sua exploração constitui uma «locação de bens imóveis», na aceção
dessa disposição, ou se um tal contrato é uma prestação de serviços complexa.

32 Para responder a esta questão, há que recordar que resulta da jurisprudência do Tribunal de Justiça
que, em certas circunstâncias, várias prestações formalmente distintas, que possam ser fornecidas em
separado e, assim, dar lugar, em separado, a tributação ou a isenção, devem ser consideradas uma
operação única, sempre que não sejam independentes (Acórdão de 27 de junho de 2013, RR
Donnelley Global Turnkey Solutions Poland, C-155/12, EU:C:2013:434, n.o 20 e jurisprudência aí
referida).

33 A este respeito, o Tribunal de Justiça tem decidido no sentido de que uma prestação deve ser
considerada única quando dois ou vários elementos ou atos fornecidos pelo sujeito passivo estão tão
estreitamente ligados que formam, objetivamente, uma única prestação económica indissociável cuja
divisão revestiria caráter artificial (Acórdão de 27 de junho de 2013, RR Donnelley Global Turnkey
Solutions Poland, C-155/12, EU:C:2013:434, n.o 21 e jurisprudência aí referida).

34 Tal acontece igualmente quando uma ou várias prestações constituem uma prestação principal e a ou
as outras prestações constituem uma ou várias prestações acessórias que partilham da sorte fiscal da
prestação principal. Nomeadamente, uma prestação deve ser considerada acessória de uma prestação
principal, quando constitui para a clientela não um fim em si, mas um meio de beneficiar do serviço
principal do prestador, nas melhores condições (Acórdão de 27 de junho de 2013, RR Donnelley
Global Turnkey Solutions Poland, C-155/12, EU:C:2013:434, n.o 22 e jurisprudência aí referida).

35 Embora seja verdade que cabe ao órgão jurisdicional nacional determinar se o sujeito passivo fornece
uma prestação única num caso concreto em particular e fazer todas as apreciações de facto definitivas
quanto a isso, o Tribunal de Justiça pode, todavia, fornecer-lhe todos os elementos de interpretação
úteis para dirimir o litígio (Acórdão de 27 de junho de 2013, RR Donnelley Global Turnkey Solutions
Poland, C-155/12, EU:C:2013:434, n.o 23).

36 Assim, quanto ao conceito de «locação de bens imóveis» do artigo 135.o, n.o 1, da Diretiva IVA, há que
referir que, na falta de uma definição deste conceito na referida disposição, o Tribunal de Justiça
definiu o conceito de «locação de bens imóveis» na aceção desta disposição como o direito, conferido
pelo proprietário de um imóvel ao locatário, de ocupar esse imóvel e de excluir qualquer outra pessoa
do benefício desse direito, por um período acordado e mediante remuneração (v., designadamente,
Acórdãos de 4 de outubro de 2001, «Goed Wonen», C-326/99, EU:C:2001:506, n.o 55, e de
6 de dezembro de 2007, Walderdorff, C-451/06, EU:C:2007:761, n.o 17).

37 Aliás, segundo jurisprudência do Tribunal de Justiça, os termos utilizados para designar as isenções
previstas no artigo 135.o, n.o 1, da Diretiva IVA, incluindo o conceito de «locação de bens imóveis»,
são de interpretação estrita, dado que essas isenções constituem derrogações ao princípio geral

ECLI:EU:C:2018:1038 7
ACÓRDÃO DE 19. 12. 2018 — PROCESSO C-17/18
MAILAT

segundo o qual o IVA é cobrado sobre todas as prestações de serviços efetuadas a título oneroso por
um sujeito passivo (Acórdão de 6 de dezembro de 2007, Walderdorff, C-451/06, EU:C:2007:761, n.o 18
e jurisprudência aí referida).

38 No caso em apreço, cabe portanto examinar se a operação em causa no processo principal, isto é, a
locação de um bem imóvel que servia de exploração comercial em simultâneo com a dos bens de
equipamento e consumíveis necessários para essa exploração, deve ser considerada uma prestação
única ou várias prestações distintas e independentes que devem ser apreciadas separadamente para
efeitos de IVA.

39 A este respeito, resulta dos autos remetidos ao Tribunal de Justiça que a locação de bens móveis objeto
do contrato de locação não parece poder ser dissociada da locação do bem imóvel em causa no
processo principal. Aliás, nem se contesta que alguns desses bens móveis, como os equipamentos e
aparelhos de cozinha, estão incorporados no imóvel e devem, nesta fase, ser considerados parte
integrante do mesmo. Na medida em que os bens consumíveis que foram alugados ou, nalguns casos,
vendidos, ao mesmo tempo que o imóvel, estavam igualmente afetos à exploração do restaurante, tal
como este último, não se pode considerar que esta locação/cessão prossegue uma finalidade própria,
mas deve ser vista como um meio para beneficiar nas melhores condições do serviço principal que é a
locação do imóvel.

40 Por conseguinte, a locação do imóvel deve ser considerada a prestação principal relativamente à qual as
outras prestações, isto é, a locação de bens de equipamento e de bens consumíveis, são meramente
acessórias.

41 Atendendo a estas considerações, há que responder à segunda questão que o artigo 135.o, n.o 1,
alínea l), da Diretiva IVA deve ser interpretado no sentido de que um contrato de locação de um bem
imóvel utilizado como estabelecimento comercial e de todos os bens de equipamento e consumíveis
necessários para a sua exploração constitui uma prestação única na qual a locação do imóvel é a
prestação principal.

Quanto às despesas

42 Revestindo o processo, quanto às partes na causa principal, a natureza de incidente suscitado perante o
órgão jurisdicional de reenvio, compete a este decidir quanto às despesas. As despesas efetuadas pelas
outras partes para a apresentação de observações ao Tribunal de Justiça não são reembolsáveis.

Pelos fundamentos expostos, o Tribunal de Justiça (Décima Secção) declara:

1) O conceito de «transmissão de uma universalidade de bens ou de parte dela», na aceção do


artigo 19.o da Diretiva 2006/112/CE do Conselho, de 28 de novembro de 2006, relativa ao
sistema comum do imposto sobre o valor acrescentado, deve ser interpretado no sentido de
que não abrange uma operação pela qual um bem imóvel utilizado como estabelecimento
comercial é arrendado, com todos os bens de equipamento e consumíveis necessários para a
sua exploração, mesmo que o locatário prossiga a atividade do locador sob a mesma
denominação.

2) O artigo 135.o, n.o 1, alínea l), da Diretiva 2006/112 deve ser interpretado no sentido de que
um contrato de locação de um bem imóvel utilizado como estabelecimento comercial e de
todos os bens de equipamento e consumíveis necessários para a sua exploração constitui
uma prestação única na qual a locação do imóvel é a prestação principal.

Assinaturas

8 ECLI:EU:C:2018:1038

Potrebbero piacerti anche