Sei sulla pagina 1di 8

PROJETO DE CURSO

ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

CURSO DE EXTENSÃO

GÊNERO E DIREITO EM PERSPECTIVA FEMINISTA

1. Apresentação:

Trata-se de proposta de Curso Livre, de modalidade presencial, elaborada a partir de


demanda do Núcleo de Estudos de Violência Doméstica, Familiar e de Gênero da
Ajuris. O curso em tela parte da noção de gênero, concebido como as percepções
acerca das diferenças entre os sexos que culminam na construção de distintos
significados culturais atribuídos a mulheres e homens, aos quais são associadas
diferentes posições hierárquicas na sociedade. Assim, o gênero constitui categoria
estruturante da sociedade e, em intersecção com outras categorias (raça/etina,
geração, regionalismo, orientação sexual, classe, entre outras), é estratégico para a
compreensão das relações sociais e do sistema de poder que as transversaliza.

No bojo de tais relações, o universo do Direito não pode ser compreendido senão
em interação com essas categorias, como processos permanentemente em
construção, em razão das tensões e conflitos entre os diferentes grupos formadores
da estrutura social e dos interesses que esses grupos demandam. O processo de
construção do Direito configura, sob essa ótica, uma relação de poder, cujo objeto é
a obtenção da tutela jurídica do Estado para diversos interesses dos grupos sociais
em conflito. O exercício da jurisdição passa a ser, então, compreendido como um
poder-dever, cuja compreensão não pode ser descolada do contexto das relações,
de um campo de respostas, reações, efeitos, invenções (FOUCAULT, 1984; 1999;
CRENSHAW, 1989; SCOTT, 1995; BOURDIEU, 2010).

Rua Celeste Gobbato, 229 - Bairro Praia de BelasCEP: 90110-160 Porto Alegre/RS - Brasil
Fones: (51) 3284.9000 | (51) 9686 1541 | (51) 9885 9201- E-mail: esm@ajuris.org.br
1
Neste sentido, o Estado também é objeto de crítica ao exercer o poder de designar
critérios absolutos para determinar as fronteiras da legalidade, reconhecendo que a
lei e os ilegalismos podem ter correlações mais tênues entre si. A lei seria a tentativa
do Estado, exercendo seu poder, compilar, diferenciar e formalizar os ilegalismos.
Assim, o Direito compreenderia o gerenciamento e a normalização de ilegalismos
(FOUCAULT, 1999).

Embora não se possa compreender relações de poder unicamente pelo universo do


Direito ou do jurídico, é impossível ignorar que tal universo é transpassado por
relações de poder e por disputas de interesses, a despeito de sua pretensa
neutralidade. Esse esforço de neutralidade, inefetivo no universo do Direito, faz com
que as disputas próprias de um campo de poder sejam relegadas às sombras,
acarretando opacidade ao processo político conflitivo que o constitui.

Nesse campo, estar sob o manto protetivo do ordenamento significa ter vencido uma
disputa. Dessa forma, a tutela jurídica do Estado Democrático de Direito demanda
negociações, preponderantemente entre atores sociais cuja participação não tem a
mesma relevância na formulação de normas e leis, dada a assimetria no exercíco de
poder e na representação de seus interesses (HABERMAS, 1997). Possuir
determinados atributos e/ou pertencer a dados grupos resulta, a priori, em desfrutar
de condições de exercício de poder, possibilitando aos atores vencer as disputas
que os colocam sob a proteção do Estado, concretizada pela tutela jurídica.

O sistema jurídico pode ser entendido como instrumento de opressão, na medida em


que impõe aos oprimidos os interesses de seus opressores, mais fortes em razão de
seus atributos. Trata-se, porém, de um sistema caracterizado pela dualidade,
presente na possibilidade de resistência dos oprimidos. Alicerçada na noção de
justiça distributiva, a resistência dos oprimidos ao exercício de poder de seus
opressores se conecta a reivindicações de equidade, de equilíbrio (SAFFIOTI;
ALMEIDA, 1995; PATEMAN, 1993; DEL’PRIORE, 1993; VIANNA, 2008). Contudo,
historicamente é possível enumerar os atributos que fortalecem os atores e grupos
protegidos pelo Direito:

Rua Celeste Gobbato, 229 - Bairro Praia de BelasCEP: 90110-160 Porto Alegre/RS - Brasil
Fones: (51) 3284.9000 | (51) 9686 1541 | (51) 9885 9201- E-mail: esm@ajuris.org.br
2
O direito como instrumento de dominação fundamenta-se no interesse de
manutenção do status quo dos segmentos hegemônicos da sociedade:
ricos, brancos, homens, heterossexuais e outros. A tutela de uma hipotética
sociedade composta por indivíduos formalmente iguais em direitos é a base
do conceito de segurança jurídica. Em benefício da ordem social são
mantidas as desigualdades materiais que legitimam o exercício do poder
opressor de alguns membros da sociedade sobre outros (VIANNA, 2008, p.
120).

Ante o patamar esboçado, o presente curso tem por escopo ofertar instrumental
teórico-metodológico dos estudos das relações de gênero e poder e das teorias
feministas, contribuindo para ampliação e consolidação do conhecimento sobre o
gênero e a interseccionalidade com outras categorias estruturantes das relações
sociais.

2. Objetivo do curso:

Objetiva-se fomentar a compreensão crítica das e dos discentes, respondendo às


demandas de profissionais provenientes de instituições públicas e privadas que
têm como finalidade o desenvolvimento de programas e políticas de promoção de
igualdade, assim como a transversalização de gênero na implementação e
monitoramento de políticas públicas.

3. Docente: Cibele Cheron

Possui Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do


Rio Grande do Sul (2002), Mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2006) e Doutorado em Ciência Política
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2015).

Foi bolsista do Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD/CAPES) junto ao


Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (2018).

Até 2019, atuou como professora da Educação Básica, Técnica e Tecnológica,


Rua Celeste Gobbato, 229 - Bairro Praia de BelasCEP: 90110-160 Porto Alegre/RS - Brasil
Fones: (51) 3284.9000 | (51) 9686 1541 | (51) 9885 9201- E-mail: esm@ajuris.org.br
3
lecionando disciplinas pertinentes a Ciências Sociais e Sociais Aplicadas no Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Campus Viamão.

É consultora externa do IFRS para a Elaboração do Diagnóstico Rural e Redesenho


da Matriz de Desenvolvimento de Viamão, RS.

Atuou como mediadora judicial voluntária junto ao Centro Judicial de Solução de


Conflitos e Cidadania do Foro Regional do Partenon, em Porto Alegre, RS.

Foi Professora Assistente do Centro Universitário Ritter dos Reis, ministrando as


Disciplinas Sociologia Geral e Jurídica, Filosofia Geral e Jurídica, Teoria do Estado e
Ciência Política, Leitura Dirigida, Metodologia do Direito e Hermenêutica Jurídica,
Direitos Humanos, Ciência Política, Filosofia, Ética e Cidadania, Movimentos Sociais
em Âmbito Internacional, Direito Internacional Privado, Iniciação à Prática Jurídica,
Prática Jurídica - Interpretação e Redação de Atos Jurídicos, Prática Jurídica -
Demandas e Respostas Cíveis, Núcleo de Mediação Aplicada - Cível e Familiar.

É pesquisadora associada ao Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Mulher e


Gênero (NIEM) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Integra, no CNPq, os grupo de pesquisa "Gênero, Feminismo, Cultura Política e


Políticas Públicas", "Grupo de Estudos do Sul Global // Global South Study Group",
"Educação e Violência" e lidera o grupo "Fundamentos da Experiência Jurídica
Contemporânea: O Direito sob os aspectos dogmático, filosófico e sociológico".

Desempenha projetos de ensino, pesquisa e extensão acadêmica e comunitária.

Desenvolve principalmente os seguintes temas: conflitos e cultura da paz, cidadania,


empoderamento, capital social, participação social, reestruturação produtiva e
desigualdades, políticas públicas e inclusão social, gênero, interseccionalidades, Sul
Global.

Endereço do currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/3587159747981587


Rua Celeste Gobbato, 229 - Bairro Praia de BelasCEP: 90110-160 Porto Alegre/RS - Brasil
Fones: (51) 3284.9000 | (51) 9686 1541 | (51) 9885 9201- E-mail: esm@ajuris.org.br
4
Observação: o curso poderá contar com palestrantes convidados(as).

4. Metodologia

A escolha das estratégias de ensino-aprendizagem da presente disciplina centra-se


nas e nos alunos como figuras principais da construção ativa de conhecimentos. A
professora, dessa forma, é uma figura secundária, participando dos processos não
como a principal ferramenta de transmissão de conteúdos, mas como mediadora de
alunas e alunos protagonistas em seus aprendizados. O trabalho em sala de aula
consiste, então, na construção de um espaço de transformação, no qual as
expectativas, necessidades e potenciais de alunas e alunos sejam conhecidos e
explorados, através de trocas recíprocas nas quais a participação de todas e todos
se dá com autonomia, cooperação, solidariedade e responsabilidade.
Nesse sentido, o Estudo de Casos Concretos e o Ensino e Aprendizagem pela
Resolução de Problemas (EARP), são duas ferramentas interessantes e que podem
auxiliar de forma efetiva o processo de aprendizagem. Serão discutidos casos
concretos, reais ou hipotéticos, a fim de familiarizar as alunas e os alunos com
questões éticas e a produção do conhecimento científico.
Além disso, haverá necessidade de informação prévia acerca dos conteúdos a
serem desenvolvidos, através de leituras, videoaulas, pesquisas orientadas e outras
fontes, a fim de que as discussões sejam tecnicamente embasadas.
Os conteúdos serão desenvolvidos articulando entre teoria e prática, utilizando:
1 – Procedimentos didáticos: exposição dialogada, discussão em pequenos grupos,
leitura de textos, estudos dirigidos, estudos de casos, resolução de exercícios,
resolução de questões e resolução de problemas.
2 – Recursos: projetor multimídia, microcomputador, internet, plataforma EaD,
bibliografia, legislação, textos, lousa e demais ferramentas.

5. Carga horária do curso

28 horas/aula, distribuídas em 7 encontros presenciais de 4 horas/aula.

Rua Celeste Gobbato, 229 - Bairro Praia de BelasCEP: 90110-160 Porto Alegre/RS - Brasil
Fones: (51) 3284.9000 | (51) 9686 1541 | (51) 9885 9201- E-mail: esm@ajuris.org.br
5
6. Dias da semana e horário

A definir.

7. Estimativa de valor

Estima-se, considerando a remuneração docente e os demais custos envolvidos,


relativos à estrutura da Escola, que a realização do curso implique no valor geral de
R$10.000,00 (dez mil reais).

8. Local de realização

Escola da Magistratura do Estado do Rio Grande do Sul

9. Público-alvo

Integrantes do Núcleo de Estudos de Violência Doméstica, Familiar e de Gênero


da Ajuris; Magistradas e Magistrados; Promotoras e Promotores de Justiça;
Defensoras e Defensores Públicos; Advogadas e Advogados; Delegadas e
Delegados; Policiais Civis; Policiais Militares; Participantes da Rede de
Acolhimento à Mulher; Professoras e Professores; Graduados; Estudantes e
demais interessados pelo tema.

10. Recursos instrucionais

Recursos disponíveis na sala de aula – computador e projetor (datashow),


microfone.

Rua Celeste Gobbato, 229 - Bairro Praia de BelasCEP: 90110-160 Porto Alegre/RS - Brasil
Fones: (51) 3284.9000 | (51) 9686 1541 | (51) 9885 9201- E-mail: esm@ajuris.org.br
6
11. Material didático a ser encaminhado aos participantes:

Slides, textos, vídeos e outros recursos encaminhados às e aos estudantes por e-


mail, ou disponibilizados em sala de aula.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

AULA 1 – GÊNERO E RELAÇÕES SOCIAIS


Gênero como categoria analítica. Gênero como categoria histórica. Fundamentos
teórico-metodológicos para a análise da diferenciação/articulação das relações
sociais de gênero, raça/etnia e classe. A construção do sistema social hierarquizado
a partir do gênero e das categorias interseccionais.

AULA 2 – GÊNERO, PODER E ESTADO


Aprofundamento teórico sobre as principais correntes conceituais da problemática do
gênero e sua relação com os estudos do poder. O Contrato Social e o Contrato
Sexual. O gênero na estruturação do Estado Moderno. Gênero e a dinâmica do
poder na relação publico/privado.

AULA 3 – GÊNERO E FEMINISMOS I


Os fundamentos epistemológicos e teórico-metodológicos da crítica feminista à
teoria social. O Feminismo como Movimento Social em perspectiva histórica. Ondas
do Feminismo.

AULA 4 - GÊNERO E FEMINISMOS II


O Feminismo como teoria e os Estudos de Gênero. Polifonias e dissonâncias do
Feminismo e suas principais correntes. Feminismo e resistências no Sul Global, na
América Latina e no Brasil.

AULA 5 - TEORIA FEMINISTA DO DIREITO I


Não-neutralidade do Direito quanto ao Gênero. Críticas feministas aos sistemas
Rua Celeste Gobbato, 229 - Bairro Praia de BelasCEP: 90110-160 Porto Alegre/RS - Brasil
Fones: (51) 3284.9000 | (51) 9686 1541 | (51) 9885 9201- E-mail: esm@ajuris.org.br
7
legais e jurídicos. Direitos Humanos e Direitos Humanos das Mulheres.

AULA 6 - TEORIA FEMINISTA DO DIREITO II


Gênero e violências. Diferentes tipos e contextos de violências com relação ao
gênero. O Estado de Direito como locus da violência de gênero.

AULA 7 – EPISTEMOLOGIAS PARA PENSAR EM GÊNERO ALÉM DO


MAINSTREAM
Estudos decoloniais. Epistemologia do Sul. Epistemologia de Fronteira. Identidades
e identitarismos. Autonomia e subalternidade. Polifonias e as vozes das mulheres,
no plural.

12. Referências

BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.

CRENSHAW, Kimberle. Demarginalizing the intersection of race and sex: a black


feminist critique of antidiscrimination doctrine, feminist theory and antiracist politics.
1989.

DEL’PRIORE, Mary. Ao sul do corpo: condição feminina, maternidades e


mentalidades no Brasil Colônia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1993.

FOUCAULT, Michel. Deux essais sur le sujet et le pouvoir. In: DREYFUS, Hubert;
RABINOW, Paul. Michel Foucault: un parcours philosophiquec. Paris: Gallimard,
1984, p. 208-226.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel


Ramalhete. 20 ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre facticidade e validade, v. II. Rio de


Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.

PATEMAN, Carole. O contrato sexual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.

SAFFIOTI, Heleieth; ALMEIDA, Suely. Violência de gênero: poder e impotência. Rio


de Janeiro: Revinter, 1995.

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e


Realidade, v. 20, n. 2. Porto Alegre, jul./dez. 1995, p. 71-99.

VIANNA, Túlio Lima. Teoria Quântica do Direito: o direito como instrumento de


dominação e resistência. Prisma Jurídico, v. 7, n. 1. São Paulo, jan./jun. 2008, p.
109-129.
Rua Celeste Gobbato, 229 - Bairro Praia de BelasCEP: 90110-160 Porto Alegre/RS - Brasil
Fones: (51) 3284.9000 | (51) 9686 1541 | (51) 9885 9201- E-mail: esm@ajuris.org.br
8

Potrebbero piacerti anche