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Paixões Desenfreadas
The Tempestuous Flame
Carole Mortimer
Ninguém, a nãe ser ela mesma, tinha o direito de escolher seu marido, pensou Caroline,
furiosa, quando seu pai sugeriu o nome de Greg Fortnum, um homem que ela nem
conhecia. Como resposta, ela se mudou às escondidas para um chalé que eles tinham
nas montanhas. Só que não imaginava encontrar-se com Adré que, a convite de seu pai,
também estava hospedado no chalé. Nesse momento começou sua verdadeira aventura:
eles passaram uma semana juntos, um escondendo do outro sua verdadeira identidade e
ardendo pelo desejo de se possuírem. Quem seria André, aquele homem misterioso, de
quem ela nunca ouvira falar?
Digitalização e Revisão:
Valeria O.
Projeto Revisoras 1
Sabrina 91 - Paixões desenfreadas - Carole Mortimer
CAPÍTULO I
— Mas por que ele mesmo não procura uma esposa, papai? — explodiu Caroline.
— E por que eu?
— Porque prometi apresentá-lo a você, só por isso. Não se faça de difícil, Caroline.
Convidei-o para passar o fim de semana conosco e espero que seja, no mínimo, educada.
Depois, tenho certeza de que vai gostar dele; todas as mulheres gostam!
— O senhor quer dizer: a maioria gosta! E, se ele tem tantas admiradoras assim,
por que não se casa com uma delas? Pode ter certeza de que eu não serei nenhum
empecilho!
Olhou indignada para o homem irredutível sentado diante dela. Seu pai costumava
ter ideias malucas, mas essa, positivamente, era demais. Ninguém, em juízo perfeito,
esperaria que ela concordasse com um plano tão ridículo... a não ser ele, claro!
— Pelo amor de Deus, Caroline! Ninguém está sugerindo que você se case com
ele... ainda. Só estou pedindo que o conheça e veja se gosta dele. Por que tanto barulho
por causa de uma coisa tão simples?
— Porque conheço muito bem o senhor. Se duvidar, já planejou a festa! Mas pode
desistir, papai, porque não vou aceitar sua decisão. Além disso, que espécie de homem é
esse que encarrega outra pessoa de escolher uma esposa para ele?
Matt Rayner encontrou o olhar rebelde da filha e resolveu esquecer por uns tempos
o assunto Greg Fortnum.
— Greg é muito homem, ouviu? Mas também é muito ocupado, e precisa
urgentemente de uma esposa. Está bem! Não vou mais tocar neste assunto... por
enquanto. Mas exijo que o trate bem,quando ele vier nos visitar.
— Claro que vou tratá-lo bem! — Caroline pegou a bolsa, pronta para sair. — Só
não entendo essa amizade repentina com alguém que o senhor mesmo, muitas vezes,
acusou de arrogante e impiedoso.
— É um homem de negócios — explicou Matt. — Nos negócios, é realmente
arrogante e inflexível. Mas fora do escritório...
— É a mesma coisa — completou Caroline. — Não sou tão burra assim, papai.
Não tenho coragem nem de repetir as coisas que li sobre esse homem... E é com um
indivíduo desses que o senhor quer que sua filha se case! — exclamou, exaltada, saindo
da sala.
— Não disse que quero que se case com ele! Só acho que não seria má idéia... —
Matt foi andando atrás dela.
— Fico imaginando o que ele deve pensar de mim — interrompeu Caroline. —
Aposto como o senhor me descreveu como uma pobre moça, desesperada para arranjar
um marido. Não tente negar, porque conheço muito bem seu papo de vendedor e posso
imaginar as histórias que contou ao sr. Fortnum. Tenho até pena dele!
— Bem, já é alguma coisa...
Projeto Revisoras 2
Sabrina 91 - Paixões desenfreadas - Carole Mortimer
— Quantas vezes vou precisar repetir que não concordo com seus planos? Além
disso, vou viajar este fim de semana, e o senhor terá que entreter seu convidado sozinho.
— Caroline! Você não pode fazer isso. O que Greg vai ficar fazendo aqui um fim de
semana inteiro? — Matt passou a mão pelos cabelos prematuramente grisalhos.
— Com sua esperteza, acho que não será difícil encontrar uma solução —
comentou com um sorriso cheio de ironia, antes de sair.
Caroline deu a partida no seu carro esporte, último tipo, e afastou-se velozmente
do elegante prédio que pertencia a seu pai. Respirou aliviada, como se tivesse tirado um
peso insuportável dos ombros. Não conseguia acreditar que seu pai tivesse a capacidade
de lhe fazer uma proposta tão ridícula. Agora entendia a compreensão dele quando lhe
comunicou o fim do namoro com Anthony. Claro, ele já tinha outro pretendente em mente!
Nos últimos dois anos, Matt tinha tentado impingir a ela vários jovens respeitáveis,
mas com Greg Fortnum o caso era totalmente diferente.
Como um dos homens mais ricos do mundo, Greg podia se dar ao luxo de fazer
exigências e não se parecia em nada com os outros pretendentes que seu pai manipulava
à vontade. Não era do tipo "sim, senhor" e não se dobraria facilmente aos desejos de Matt
Rayner. Por que, então, essa insistência? Alguma razão devia haver, e Caroline ia
descobrir qual era.
Outra coisa que a intrigava era Greg Fortnum concordar com o plano. Mesmo que
fosse feio e corcunda, devia haver alguma mulher interessada nele, pois uma fortuna
como aquela não era de se desprezar. E, pelo que ouvia dizer, ele não tinha nada de
monstro. Como era mais velho, e frequentava outra turma, nunca haviam se encontrado.
Mas Caroline sabia que ele estava sempre acompanhado por mulheres lindíssimas e que,
há pouco tempo, tinha tido um caso tempestuoso com uma atriz famosa. Por que não se
casava com ela, se precisava tanto assim de uma esposa?
Na verdade, não tinha assumido nenhum compromisso para o fim de semana. Mas
decidiu que arranjaria um. Ninguém, nem mesmo seu pai, iria obrigá-la a se casar com
um homem que não amava.
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Esther quase engasgou. Matt Rayner tinha ido mesmo longe demais. Só podia
estar louco, para querer que Caroline se casasse com um dom-juan daqueles.
— Mas por quê? Por que ele não deixa que você escolha seu próprio marido?
— Porque, na opinião dele, todos os homens de quem eu gosto só estão
interessados no meu dinheiro.
— Não entendo seu pai. O último candidato dele, o Anthony, não conseguia nem
disfarçar que estava atrás de dinheiro!
— Eu sei. E papai também sabia. Mas Anthony era fácil de ser controlado e por
isso, inclusive, não fazia a menor diferença eu gostar ou não gostar dele. Papai tem tanto
pavor de que eu escolha o homem errado, que decidiu que só vou me casar com alguém
escolhido, antes, por ele. Mas Greg Fortnum, tenha paciência! — disse desanimada,
olhando fixo para o copo.
— Você tem razão — concordou Esther. — Mas não acho Greg Fortnum um tipo
que se deixe dominar por alguém.
— Pois é! — suspirou Caroline. — Aliás, deve haver alguma coisa estranha por trás
disso tudo. Dezenas de moças agarrariam com unhas e dentes a oportunidade de casar
com Greg Fortnum, se soubessem que ele está precisando de uma esposa.
— Hum... — murmurou Esther, pensativa. — Talvez elas não sejam bem o tipo de
esposa que ele procura. É possível que queira uma mulher bonita e, ao mesmo tempo,
desembaraçada e agradável socialmente. Sem modéstia, você tem que admitir que
possui essas qualidades, Caroline.
— Você está falando como papai.
— E claro que não!
— No mínimo, Greg vai querer que eu fique em casa, humilde e conformada,
enquanto ele sai com a amante. Não, obrigada, não é esse o casamento dos meus
sonhos. Não é como o seu, por exemplo.
Esther riu alto, chamando a atenção das mesas vizinhas.
— Fico contente por considerar meu casamento um exemplo, mas até John e eu
discutimos às vezes. Quanto a você ficar humildemente em casa, enquanto seu marido
caí na farra, é algo tão impossível que nem consigo imaginar. Não está pensando em se
casar com ele, está?
— Claro que não! Já disse a papai que vai ter que cuidar sozinho do hóspede dele.
Vou passar o fim de semana fora. Eu nem estava pensando nisso, mas acho que vou ter
que ir para a nossa casa de campo. Faria qualquer coisa para não dar de cara com esse
homem.
— Para a casa de campo com esse tempo? — Esther se referia à chuva torrencial
que caía lá fora. — Caroline, aquilo lá é gelado nesta época do ano. Por que não passa o
fim de semana conosco?
— Não, é melhor eu sair da cidade, assim não corro o risco de papai me achar.
Hum, este bife está uma delícia... E, depois, acendendo a lareira o chalé fica bastante
acolhedor.
— Acho que é melhor você ficar conosco. Por que não convida Nick para um
programa a quatro? John e eu descobrimos um restaurante delicioso, tenho certeza de
que você vai adorar.
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Nick, irmão de Esther, era um companheiro ótimo. Mas não passava de um grande
amigo, quase um irmão.
— Não, Esther, Obrigada, mas quero estar bem longe de papai. A sua casa seria o
primeiro lugar onde ele iria me procurar.
— Tem razão — concordou Esther. — Mas por que tanto medo de se encontrar
com o homem? Afinal, uma simples apresentação não precisa se transformar num
compromisso sério.
— Não quero dar esse prazer a papai. O melhor que tenho a fazer é me afastar,
até que ele esqueça Greg Fortnum e esse casamento.
Ficou pensando no chalé e no quarto que o pai havia transformado em estúdio.
Gostou da idéia. Lá poderia trabalhar e pensar com tranquilidade, longe de todos os
problemas.
Logo depois, chegou John, que tinha prometido levar Esther para fazer compras
naquela tarde. Caroline ficou mais um pouco com os dois e saiu. Queria chegar ainda
naquele dia.
Entrou sorrateiramente no apartamento e descobriu, aliviada, que seu pai tinha
saído. Colocou numa sacola de mão duas calças compridas e algumas malhas de lã, e
era tudo o que precisava para ficar agasalhada naquela região fria. Esther tinha razão,
não era o mês ideal para viajar para o campo, mas qualquer coisa era melhor do que
ceder aos caprichos do pai. Caroline conhecia muito bem seu poder de persuasão.
Infelizmente o chalé tinha telefone e ela não ia ficar totalmente fora do alcance de Matt.
Decidiu, então, que não atenderia nenhum chamado enquanto estivesse lá.
Deixou um bilhete, dizendo que telefonaria nos próximos dias, e que voltaria
quando Greg Fortnum já tivesse ido embora. Estava se preparando para sair, quando o
telefone tocou. Irritada, hesitou alguns instantes mas achou melhor atender. Se fosse seu
pai, fingiria que era Maggie, a governanta.
— Alô — disse com voz seca, recitando automaticamente o número do telefone.
— Boa tarde — cumprimentou uma voz quente. — Gostaria de falar com o sr.
Rayner. Ele está?
— Ele não está, no momento — respondeu Caroline. Não sabia quem era, mas a
voz, sem dúvida, era muito atraente. — O senhor quer deixar algum recado?
— Peça a ele que me telefone, quando voltar. Meu nome é Greg Fortnum, ele sabe
o número.
Caroline olhou horrorizada para o fone, como se tivesse nas mãos uma cobra
venenosa. Greg Fortnum! A última pessoa com quem ela queria falar!
— Alô? Ainda está aí?
— Claro. Estou ouvindo. Disse Greg Fortnum?
— Isso mesmo. — Ele já estava começando a ficar impaciente. — Algum
problema?
Ela quase caiu na gargalhada. Algum problema. Todos os problemas! Como podia
estar conversando tão calmamente com o homem que queria se casar com ela como
quem faz um negócio?
— Não, senhor — respondeu, educada, tentando imitar a empregada. — Direi ao
sr. Rayner que o senhor telefonou.
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— Está bem, então vamos aceitar que nós dois tivemos permissão para usar a
casa. O que vamos fazer agora?
— Eu não pretendo fazer nada. Cheguei aqui primeiro, por isso acho que quem
deve sair é você.
— Mas por que um de nós deve ir embora? A casa tem dois quartos, não é
mesmo? Considerando que vivemos hoje num mundo mais livre não acredito que você se
recuse a dividir a casa com um membro do sexo oposto.
— Não me considero assim tão livre — respondeu Caroline, corando de vergonha
e raiva. E de fato não pertencia ao meio que ele frequentava, apesar dos esforços de
alguns de seus amigos. Muitos dos homens do seu círculo de amizades até a
consideravam frígida, o que absolutamente não os impedia de tentar por todos os meios
levá-la para a cama. Certamente por causa do dinheiro de seu pai, pensava ela, sem se
dar conta de que era muito bonita e atraía muito os homens.
— Sendo amiga da srta. Rayner, isso me surpreende.
— O que quer dizer com isso? — interrompeu, furiosa.
— O que você ouviu. Pelo que dizem, aquela garota não é das mais recatadas, e já
que você convive com ela... bem, seria de admirar se fosse tão inocente quanto quer
parecer.
— Sr. Gregory! — ela explodiu, se levantando. — O que pensa ou deixa de pensar
não tem a menor importância para mim. Tenho consciência do que sou e isso me basta.
— Ótimo. — Por um instante, os olhos verdes de André revelaram respeito e
admiração, mas só por um instante. Logo, o sorriso desdenhoso voltou aos lábios dele. —
Em que quarto vou ficar?
— Se vai mesmo ficar, fique no da direita, porque já ocupei o outro.
— Se quisesse, ficaria no quarto da esquerda, mas não quero. — Ele mesmo sorriu
com a provocação. — Prefiro o da direita. Concorda?
— Faria alguma diferença, se eu não concordasse?
— Nenhuma. Sua opinião não tem a menor importância para mim. — Passou a
mão pelos cabelos negros, num gesto cansado. — E acho bom que esteja falando a
verdade, jovem. Caso contrário, vai se ver fora daqui antes de um piscar de olhos.
— E como pretende saber se estou mentindo? — Os olhos dela brilhavam de ódio.
— Sabe que existe um aparelhinho chamado telefone? — André Gregory sorriu,
zombeteiro. — Importa-se que eu o use?
— A vontade — respondeu, indiferente.
— Acho que já está na hora de lhe dizer boa-noite... ou bom-dia... — disse ele,
apanhando a mala que havia deixado no chão.
— Não vai continuar com essa encenação, vai? — Caroline se assustou com tanta
calma. — Olhe, não é assim tão tarde — tentou argumentar, desesperada. — Por que não
vai para um hotel? Existe um ótimo, na vila.
— Se é assim tão bom, por que não vai você? Não tenho a menor intenção de sair
daqui. Pelo amor de Deus, garota! — exclamou, impaciente, percebendo a ansiedade
dela. — Não estou propondo dormirmos na mesma cama. Só que compartilhemos da
mesma casa. Ou está aborrecida porque não tentei levá-la para a cama comigo?
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— Talvez outras mulheres o achem fascinante, senhor Gregory. Mas, para mim, é
simplesmente desprezível. — A raiva e o desprezo apareciam nitidamente no rosto de
Caroline, que ergueu a cabeça com dignidade. —Já que insiste em ficar aqui, acho que
vai precisar de roupas de cama. Sabe onde estão?
André Gregory examinou descaradamente as curvas do corpo dela, como se
tentasse adivinhar o que havia por baixo da roupa grossa. Caroline precisou se controlar
para não esbofeteá-lo, principalmente depois que reparou no sorriso cínico que dançava
nos lábios dele.
— Adivinhou. Não sei, mas se me der algum tempo posso descobrir sozinho. Num
lugar tão pequeno, não vai ser muito difícil.
— Acontece que as roupas de cama ficam no meu quarto. E não tenho a menor
intenção de permitir que entre lá.
— Por que não? Podia até ser divertido.
— Não para mim — Caroline cortou logo a conversa. — Venha, vou lhe mostrar o
quarto, talvez possa dormir um pouco.
— Não já, ainda vou tomar um banho. A viagem me deixou sujo e exausto.
— É sempre tão grosseiro, ou fui contemplada com um ataque de indelicadeza? —
perguntou, irónica. — Depois do susto que me deu, chegando de repente no meio da
noite... depois de me acusar de intrusa... Ainda pretende me manter acordada por mais
tempo, só para tomar um banho! E o cúmulo!
— Srta. Rawlings!, se é que é esse mesmo o seu nome, o que duvido, não me
pareceu nem um pouco assustada. Melhor seria dizer... furiosa. E vamos esclarecer as
coisas. Não a acusei de intrusa. Só disse que podia ser, o que é diferente, — Encolheu os
ombros largos. — Quanto ao banho, pretendo tomá-lo com ou sem a sua aprovação.
Lamento muito se isso a incomoda.
Caroline não perdeu tempo em responder. Ele era tão obstinado quanto ela.
Subiu a escada com determinação, consciente dos passos firmes atrás dela.
Levou-o até o quarto normalmente usado por seu pai, nas raras vezes em que vinha com
ela até o chalé. Era todo azul e branco: tapete azul, móveis brancos e papel de parede
estampado em azul, branco e preto.
— Se foi sua amiga quem decorou o quarto, teve muito bom gosto — comentou
André, satisfeito, colocando a mala sobre o criado-mudo ao lado da cama de casal.
— Foi — respondeu Caroline, que permanecia na porta, nervosa e indecisa. — Ela
tem muito senso estético.
— Por isso o estúdio?
— Exatamente. O banheiro fica no corredor. Deve estar acostumado a ter banheiro,
mas como aqui só existe um, vamos ter que compartilhá-lo.
— E se eu quiser andar por aí sem roupa? — O tom era de provocação.
— Isso é problema seu — respondeu, fria — Mas preferia que se controlasse, se
possível. Não estou acostumada a ver homens estranhos andando nus pela casa.
— Mas está acostumada com os conhecidos?
— Não seja mal-educado! Está me insultando, sr. Gregory. Se prefere, posso dizer
de outra maneira: não estou acostumada a ver nenhum homem despido. Satisfeito?
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CAPÍTULO II
Caroline acordou com os raios suaves do sol entrando pela janela. Piscou,
sonolenta, e deu uma olhada no relógio. Quase oito e meia! Se não ligasse para o pai nos
próximos quinze minutos, não o encontraria mais em casa. Correu para o banheiro, mas o
encontrou fechado.
— Está aí, sr. Gregory? — perguntou, forçando a maçaneta.
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— O que é que você acha? Que tal voltar para o seu quarto e esperar até que eu
termine de me barbear? — A voz que vinha do outro lado da porta era profunda e
envolvente.
— Já teve tempo suficiente... Estou com pressa e vou ficar aqui até você sair —
observou, teimosa.
— Está bem, fique à vontade! Mas, devo preveni-la... não me preocupei em vestir o
roupão.
Caroline corou violentamente e foi forçada a voltar para o quarto. Ele sabia
perfeitamente que ela não tinha coragem de enfrentar um homem despido.
— Está bem — admitiu a derrota. — Vou descer e esquentar água para o café... —
e telefonar para papai, quis acrescentar, mas ficou calada.
— Vejo que já está mais mansa — ele zombou.
Ela não se deu ao trabalho de responder e desceu a escada correndo, satisfeita
peta oportunidade de conversar com o pai a sós, antes que André descesse.
— Alô, papai?
— Caroline? — A voz do pai era ríspida. — É você, Caroline?
— Quem mais chama você de papai? — brincou, tentando quebrar a tensão.
— Onde você está? — perguntou, sem rodeios. Ela podia imaginar o rosto
contraído do pai, que detestava ser contrariado.
— Eu... estou no chalé — explicou, depois de um instante de hesitação.
— Você está onde? — explodiu. — Que diabos está fazendo aí nesta época do
ano? Com esse frio. como vai conseguir madeira e carvão para a lareira?
— Ainda há madeira e carvão suficientes para alguns dias. Além disso, não estou
sozinha. Há um homem aqui comigo, que pode cortar mais lenha, se necessário. — Não
conseguiu conter um sorriso, antecipando a cólera de Matt.
— Há o que aí com você? O que está fazendo aí com um homem? Como tem
coragem de me dizer, com essa calma, que está no chalé com um namorado? — A voz
dele tremia.
— Calma, papai. Não disse que é meu namorado, é apenas um homem.
— Dá no mesmo — interrompeu Matt. — Não vou permitir que..
— Papai! Quer me deixar explicar? O homem que está aqui se chama André
Gregory e diz que é seu amigo.
— Gregory? André... André! Meu Deus! — suspirou, descontrolado. — Ele chegou
muito tarde, ontem à noite?
— De madrugada; como sabe?
— Porque disse a ele que podia ficar no chalé o tempo que quisesse. Não me
passou pela cabeça que você fosse tomar uma atitude tão infantil. Volte para casa
imediatamente!
— Não! Não vou voltar! Estou na minha casa. Você não disse que o chalé é meu?
E fique sabendo que não tomei nenhuma atitude infantil — exclamou, magoada. — Você
me forçou a sair de casa, quando convidou aquele homem para passar o fim de semana
conosco.
— Greg não vem, de maneira que você pode voltar para casa sem susto.
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— Não vai? Quer dizer que toda aquela conversa de vendedor foi inútil? Ele nem
se deu ao trabalho de aparecer? — Caiu na gargalhada. — Essa é boa!
— Ainda bem que você acha. Agora, que tal vir para casa?
— Não! Vim passar o fim de semana aqui e não pretendo mudar meus planos. O
senhor tem alguma objeção?
— Todas — respondeu, impaciente. — Só que agora não tenho tempo de
enumerá-las, porque estou atrasado. Assim que chegar no escritório, telefono outra vez.
— Está bem. Mas, papai, se o sr. Gregory atender, não diga que sou sua filha.
Mande chamar Caroline.
— Escute aqui, menina, não sei o que está se passando por aí, mas exijo que
esteja de volta quando eu chegar do escritório esta tarde — ordenou, sem entender coisa
alguma. — Está me ouvindo, Caroline? Exijo que volte para casa, está entendendo?
— Estou — concordou calmamente. — Só que não vou obedecer. Tenho todo o
direito de ficar aqui.
— Caroline, se já viu André, deve ter percebido que ele não é de confiança quando
se trata de mulheres. Embora você garanta que não se impressionou com os encantos
dele, tenho certeza de que não vai demorar muito a se render, como as outras. Tenho ou
não razão?
— Não, não tem — negou categoricamente. — Ainda não conheci nenhum homem
que tivesse me impressionado assim. E pelo visto, não é o sr. Gregory que vai realizar
essa façanha. É egoísta, arrogante e... — parou ao ouvir um ruído na porta. Encostado à
parede, André olhava para ela. Há quanto tempo estaria ali, escutando a conversa?
— Não se preocupe comigo, senhorita — disse, caminhando com uma lentidão
enervante até diante da lareira, onde se sentou. —Até aqui, a conversa foi bastante
esclarecedora. Continue, não se acanhe. — E grudou nela os olhos zombeteiros.
Só então ela notou a lareira acesa. Com certeza André Gregory tinha descido antes
dela.
— Caroline? Caroline! — a voz do pai soava do outro lado, zangada. — Caroline, o
que está acontecendo aí?
— Ahnn... — Ela estava desconcertada por causa de André. — É uma pena que
sua filha não esteja, sr. Rayner! Gostaria muito de falar com ela ainda hoje. Pode pedir a
Cynthia que me telefone?
— Cynthia? Sr. Rayner? — A perplexidade de seu pai era evidente. — Que diabo
está acontecendo aí? Por que você... Ah, já sei. André entrou na sala, não é?
— Exatamente — ela concordou, aliviada. — Ficarei muito agradecida se der o
recado a ela.
— Está bem, você venceu. Telefono mais tarde para esclarecermos toda essa
confusão.
André Gregory aproximou-se e estendeu a mão para o fone.
— Gostaria de falar um instante com Matt, se não se importa.
— Claro. O sr. Gregory vai falar agora, sr. Rayner. — Passou o telefone e cruzou
os dedos, torcendo para que seu pai não a traísse.
— É uma conversa particular — disse secamente.
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— Eu, mais do que ninguém? Ah, sim, refere-se ao meu relacionamento com as
esposas dos meus amigos. Talvez, em parte, você tenha razão. Mas acontece que recebi
essas informações de fonte autorizada.
— E quais são essas fontes?
— Isso não vem ao caso — replicou, irritantemente calmo, olhando-a com
sensualidade. — E, se não sair logo do meu quarto, posso considerar sua relutância um
convite...
— Não se entusiasme, sr. Gregory! Eu não o convidaria para ir a parte alguma,
muito menos para minha cama! — Antes que ele resolvesse obrigá-la a se desculpar por
isso também, saiu depressa e se fechou no banheiro. Encostou o ouvido na porta,
tentando ouvir os movimentos dele, mas percebeu, decepcionada, que ele assobiava
alegremente. Será que nada abalava aquela calma irritante? Não se chamava Caroline se
não descobrisse o ponto fraco daquele homem e não lhe desse uma boa lição.
Quando desceu a escada, depois de se trocar, sentiu no ar o cheiro gostoso de
bacon... o seu bacon, sem dúvida alguma. Era mesmo um cara-de-pau, aquele André
Gregory!
— Olá! — cumprimentou alegre, sem demonstrar seu descontrole. — A comida dá
para mim também?
Se ele ficou surpreso com a mudança de atitude dela, não demonstrou nem de
leve. Olhou-a demoradamente, antes de continuar a fritura.
— Se quiser... — respondeu, indiferente.
— Obrigada. — Caroline apoiou o queixo nas mãos e olhou para ele cheia de
malícia, mas não foi notada. — O ar do campo me deixa faminta. A você, não?
— Acho que deixa — concordou, lacônico. — Nunca passei muito tempo no
campo, para saber. — Virou-se para ela.
— Quando vai embora?
A pergunta quase fez Caroline perder o controle, mas ela manteve a tranquilidade.
— Embora? — repetiu, como se não estivesse entendendo.
— Não vou embora — explicou, suave. — Existem dois quartos na casa, e prometo
não aborrecê-lo, se você também não me aborrecer.
— Está falando sério? — perguntou, depois de analisá-la por um instante.
— Claro — respondeu, bem-humorada. — Por que não? Podíamos nos dar muito
bem, se fizéssemos as pazes.
— Caroline, vim aqui para ter um pouco de paz e tranquilidade. Como vou
conseguir isso, com você andando por aí o dia todo com essas roupas provocantes?
— Está querendo dizer que me acha atraente, sr. Gregory?
— Não, não quis dizer isso. Mas qualquer homem se perturbaria com a sua
aparência. — Colocou diante dela um prato com bacon e ovos mexidos. — Vamos tentar
outra vez... quando vai embora?
— Pela segunda vez, não vou embora. — Atacou com en-tusiasmo o desjejum. —
Escute, sr. Gregory... André — per-cebeu uma leve surpresa nos olhos dele, e sorriu. —
Pretendo passar a maior parte do tempo no estúdio e não vou atrapalhar em nada suas
atividades. Não é uma boa idéia?
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— É uma ótima idéia, só que não concordo. Vim para cá para me livrar de...
mulheres insinuantes corno você e não para me aborrecer. Mas por que essa mudança
súbita? Até alguns minutos atrás, não via a hora de se livrar de mim.
— Estive pensando, enquanto me trocava, e cheguei à conclusão de que não há
motivo para toda essa hostilidade. O espaço é suficiente para nós dois... um não precisa
in-terferir na vida do outro, não é?
— E Matt, o que vai achar disso?
— Já contei a ele. Está surpreso? Contei sim... disse a Matt que ia ficar uns dias
aqui, e acho que você deve ter dito a mesma coisa. Ele não ficou muito satisfeito, mas
concordou. Disse que talvez apareça por aqui, uma hora dessas.
— Não tenho dúvidas de que vai aparecer. — Sorriu, sarcástico. — Sabe muito
bem como atraí-lo, não é mesmo? Ora, termine de comer, depois conversamos —
acrescentou, impaciente.
Caroline obedeceu, saboreando com prazer sua refeição. Ele que quebrasse a
cabeça para descobrir o porquê da mu-dança. Tinha vestido aquela calça comprida, tão
justa, de propósito. E deixou os longos cabelos loiros soltos, certa de que ele não deixaria
de notar. Feliz da vida, percebeu que o truque tinha dado certo. Isso mesmo, André
Gregory! Divirta-se, porque a brincadeira está só começando e você não vai demorar
muito a se render. Sim, seu pretensioso, sua hora está chegando!, jurou mentalmente.
Ela se instalou no estúdio para trabalhar. Fazia muito tempo que não vinha ao
chalé, mas sentia que ali conseguia relaxar e pintar melhor que em qualquer outro lugar.
Só que nesse dia alguma coisa bloqueava sua criatividade, e só podia ser André Gregory
e os ruídos que ele fazia lá embaixo. Estava justamente pensando nele, quando ouviu que
ele a chamava.
— Caroline! Caroline! Matt está chamando você ao telefone.
— Matt? — perguntou, correndo para a porta, quase sem fôlego.
— Ele mesmo, e parece que é urgente! — respondeu André lá da sala.
— Quer passar a ligação aqui para cima, por favor? E só apertar o botão que fica
ao lado do telefone.
— Importa-se que eu ouça?
— Claro que sim! Minha conversa com o sr. Rayner é particular.
— E ainda tem coragem de dizer que não existe nada entre vocês dois? — Sorriu
com desprezo e virou as costas para ela.
Caroline quase voou escada abaixo para lhe dar umas bofetadas, mas o toque do
telefone fez com que voltasse à realidade. Pegou o fone com as mãos trêmulas. Ia ser
mais difícil do que imaginava, manter uma aparência descontraída diante daquele homem
desconcertante.
— Alô — atendeu, ríspida.
— Algum problema, Caroline? — perguntou a voz preocupada do pai.
— O arrogante do seu amigo! Mas, nada sério... — respondeu, rindo.
— Você ainda não conhece o André. — Agora foi a vez de Matt rir. — Se pensa
que pode dobrá-lo, cuidado. Muitas mulheres tentaram, mas nenhuma conseguiu até hoje.
— Não se preocupe, papai! Não pretendo me casar com o homem, só quero é lhe
dar uma boa lição.
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— Caroline! Você não me entendeu, ou não está querendo entender? André não é
homem para esse tipo de brincadeira!
E pode me explicar por que tenho que pedir para falar com Caroline e não com
minha filha?
— Porque, no momento, para o seu amigo, eu posso ser muitas coisas, menos sua
filha.
— Que coisas?
— Sua... amante, por exemplo.
— Minha o quê?
— Sua amante. — Riu do susto dele. — Além de ser uma leviana.
— Maldito! — gritou, furioso.
— Ora, papai, coloque-se no lugar dele. Nessas circunstâncias, você não ia achar
a mesma coisa?
— Não, não ia.
— Papai!
— Bom... pode ser. Mas ele foi muito atrevido, dizendo uma coisa dessas. O que é
que ele pensa que eu sou? Um sedutor de menores?
— Você tem quase a mesma idade que Greg Fortnum e nunca achou que ele era
velho demais para mim — ela argumentou. — Mas André disse que eu não devia me en-
vergonhar por alegrar um pouco a vida de alguém... a sua.
— Canalha!
— Também acho. Por isso mesmo quero lhe dar uma boa lição. Pretendo acabar
com a empáfia daquele pretensioso.
— Caroline, talvez seja melhor...
— Não se preocupe, papai. Vou embora assim que seu amigo tiver perdido um
pouco da sua arrogância.
— Bem, já que você insiste... mas saiba que não concordo. E não se esqueça de
que você pode virar assunto do dia se essa história se espalhar.
— Ninguém vai saber, não se preocupe.
— Está bem, mas não deixe de manter contato comigo — concordou a
contragosto.
— Pode ficar tranquilo. Só que não vou telefonar muitas vezes, senão meus planos
podem falhar. Como vou seduzi-lo, se ele acha que estou envolvida com você?
— Seduzi-lo? — repetiu com voz trêmula. — Olhe, Caroline, isso não vai acabar
bem...
— Por que não? Garanto que não corro o menor risco de me apaixonar por aquele
conquistadorzinho pretensioso e arrogante. Tudo o que quero é acabar com ele.
— Boa sorte, então. — o pai riu.
Caroline olhou longamente para o fone, antes de colocá-lo no gancho. Felizmente,
seu pai não tinha sido totalmente contra o plano. Mas precisava agir com cautela, para
não colocar tudo a perder. Decidiu que aquele era o melhor momento para entrar em
ação.
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CAPÍTULO III
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— Eu. Não podemos passar o tempo todo trancados naquele chalé. Vamos
precisar descansar, de vez em quando.
— Descansar... um do outro?
— Não necessariamente. Até que achei você bem divertida. Vou esperar com
ansiedade o próximo lance.
Na volta, Caroline percebeu que estar ao lado dele a perturbava intensamente.
Assustada, afastou-se um pouco, mas não conseguiu desviar a atenção dos movimentos
seguros de André, que dirigia admiravelmente bem.
— Que lance? — perguntou, inocente.
— A próxima explosão. Você muda de humor como quem muda de roupa, por isso
não tenho dúvida de que logo vai perder a paciência e me agredir como um gatinho-do-
mato.
— Não sou geniosa.
— Mas age como se fosse.
— Está tentando me provocar, André?
— Não preciso me esforçar para isso. Parece que provoco você naturalmente —
respondeu, sorrindo por ter sido chamado pelo primeiro nome. Parou o carro bem diante
do chalé e desceu para pegar os pacotes. Ela também apanhou algumas compras e
caminhou com segurança até a despensa, passando na frente dele.
— Você parece conhecer muito bem isso aqui.
Caroline olhou-o, desconfiada, tentando descobrir se havia duplo sentido naquelas
palavras.
— É — hesitou um pouco. — Venho sempre aqui.
— Com Matt?
— E a filha dele.
— Aqui só há dois quartos — observou André. — Em qual deles fica? No de Matt
ou no da filha?
— Você é desprezível! — Os olhos dela soltaram chispas de ódio. Jogou uma lata
sobre a mesa, com força. — O sr. Rayner é um homem decente!
— Está bem, está bem! — Estendeu a mão, conciliador. — Estou cansado de
discutir com você, mas tenho o direito de tirar minhas próprias conclusões. — Chegou até
a porta da cozinha e virou-se para ela. — De minha parte, não condeno Matt.
— Obrigada! — gritou, enquanto ele se afastava, rindo. Bateu a porta, com raiva, e
começou a preparar o almoço.
— Onde estão os bifes? — André correu os olhos do prato de sanduíches para o
rosto dela.
— São para o jantar — respondeu, seca, mordendo com raiva um dos sanduíches.
— Vamos jantar à luz de velas?
— Se você quiser — respondeu, ferina. — Algum problema com os sanduíches?
— Não, estão ótimos. Quer uma cerveja? — Não, obrigada.
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Ele levantou, pegou duas latas de cerveja e instalou-se outra vez diante da lareira,
sem olhar para ela. Caroline esqueceu imediatamente o bom humor e ficou ali parada,
olhando-o com rancor, até que finalmente ele percebeu e levantou os olhos.
— Qual é o problema? — perguntou, intrigado.
— Nenhum — sacudiu a cabeça. — Só que você não é uma companhia muito
agradável.
— Não estou aqui para entreter uma adolescente vinte e quatro horas por dia.
— Seria um pouco difícil entreter uma mulher vinte e quatro horas por dia —
ironizou Caroline, ignorando a referência à sua idade. — Por que não conversa comigo?
— Até que não seria tão difícil — suspirou, impaciente. — Está bem. O que seus
pais acham de você estar vivendo com um homem?
— Não é verdade! E só tenho pai, minha mãe morreu.
— E uma pena que ele não cuide de você como devia — foi o único comentário de
André.
— Ele cuida perfeitamente bem de mim, só que já tenho idade suficiente para dirigir
minha própria vida.
— Quantos anos tem?
— Não é gentil perguntar a idade de uma mulher.
— Você disse que não é completamente mulher... ainda? Então qual é o problema
de eu saber sua idade?
— Vinte.
— Vinte? — Riu, desdenhoso.
— Não vejo nada de mais em ter vinte anos. Você também já teve essa idade.
— É... — Sorriu de leve. — E agora tenho trinta e sete. Devo parecer um
Matusalém, para um bebê como você.
— Não, gosto de homens mais velhos — disse com sinceridade.
André caiu na gargalhada.
— Carol, querida! Se não conhecesse bem você, diria que está tentando me
paquerar.
Caroline baixou os olhos e cravou as unhas no tapete. Seu nome, dito por ele
daquela maneira, lhe deu uma deliciosa sensação de intimidade, que jamais teria
esperado daquele homem.
— Talvez esteja — brincou.
— Duvido. — André ficou sério. — Não comece uma coisa que não pretende levar
até o fim Carol. Não sou um rapazinho que você pode provocar à vontade e depois
mandar passear.
— É isso que pensa de mim? Que gosto de provocar os homens? — Ficou
magoada com aquelas palavras.
— E não gosta? As vezes não pode nem me ver; depois, procura
desesperadamente minha companhia. Por mim, não se preocupe, porque não a levo a
sério. Mas não se esqueça de que outros infelizes podem levá-la.
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Serviu a refeição em silêncio, evitando tocar o corpo quente de André, cujos olhos
verdes acompanhavam com ironia todos os movimentos dela. Cada vez mais perturbada
com o perfume viril que exalava dele, concentrou toda a atenção no próprio prato.
— Para acompanhar esta refeição deliciosa — disse André, servindo-a de vinho.
— Deliciosa? Como sabe, se ainda não provou?
— Você não teria me dito que é boa cozinheira, se não fosse realmente.
— Por que acha isso?
— Conheço você melhor do que pensa. — Provou a carne suculenta. — Deliciosa!
Onde aprendeu a fazer esse molho? Está divino.
— Tínhamos aulas de culinária na escola. — Intimamente, estava satisfeita com o
elogio, mas fingiu indiferença.
— Foi lá que conheceu a filha de Matt?
— Conheço... Cynthia desde pequena. Sempre estudamos juntas.
— Mas duvido que ela saiba cozinhar como você. — Sorriu, desdenhoso. — Ela
deve ter coisas melhores para fazer que aprender a cozinhar.
— Pensei que não conhecesse Cynthia — observou Caroline, esforçando-se para
esconder a irritação.
— Quase cheguei a conhecê-la, algum tempo atrás.
— Por que "quase"? — Não entendia por que o pai nunca tinha falado nele antes,
já que pareciam ser tão amigos.
— Fiz o possível para evitar. Matt, parece ansioso demais para encontrar um
marido para a filha, o que me fez concluir que a pobrezinha não deve possuir muitos
atrativos — respondeu, rindo. — E bem possível que tenha sardas e use aparelho nos
dentes.
— Não seja ridículo!
— Está bem, desculpe. Como ela é?
— Ela... — Caroline hesitou. — É muito parecida comigo.
— Impossível. Não pode haver duas como você.
— O que quer dizer com isso?
— Boa pergunta. — Olhou-a intensamente por alguns instantes. — Você tem uma
beleza rara, uma beleza que não pode ser imitada.
— Cabelos loiros e olhos azuis não têm nada de original aqui — respondeu,
corando. Sentia-se cada vez menos à vontade, percebendo como era perigosa sua
posição, sozinha num chalé com um homem estranho. — Se não o conhecesse bem, sr.
Gregory, diria que está me paquerando — brincou, repetindo as palavras dele.
Ele praticamente a devorava com o olhar.
— Talvez esteja — respondeu, como ela tinha feito antes. Não era exatamente a
resposta que ela esperava, e, para afastar o nervosismo, levantou-se e foi examinar a
gatinha que dormia diante do fogo. Não estava conseguindo enfrentar o charme
devastador de André Gregory e temia pelas consequências daquele jantar que havia
começado tão inocentemente. Só então percebeu que uma situação como aquela jamais
poderia ser inocente e que corria perigo.
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— Acha que Susi vai ficar boa? — perguntou, tentando mudar o rumo dos
acontecimentos.
André pegou os dois copos de vinho e foi se sentar ao lado dela, perto da lareira.
Estendeu a ela o copo ainda cheio.
— Susi?
— A gatinha.
— Ah, sei. Está tentando mudar de assunto.
— Você estava levando a conversa para um terreno muito pessoal — respondeu,
seca.
— Não foi isso que a assustou. — A voz de André era suave; seu olhar, quente e
acariciante à luz das velas. — Você não se incomodou com coisas muito mais pessoais
que eu disse antes. Fica aborrecida quando eu digo que a acho atraente?
— Não é isso que me aborrece. Mesmo porque, não acredito. Acontece que você
está tentando me seduzir com esses elogios falsos.
— Seduzi-la com elogios falsos? Que bobagem! Você é linda, e acho estranho que
não tenha consciência disso. Seu cabelo é uma mistura da luz do sol e da lua ao mesmo
tempo, e nunca vi nada mais suave que sua pele. E seus olhos, então! Qualquer homem
perderia a própria alma nesses dois lagos azuis.
— Não. — Caroline cobriu os ouvidos com as mãos. — Não quero ouvi-lo.
— Por que não? — perguntou, suave.
— Porque... porque você não está sendo sincero. André colocou o copo sobre a
mesa, levantou-se e veio para perto dela, sem afastar por um só instante o olhar cheio de
paixão. Estendendo uma das mãos, tocou de leve o rosto afogueado de Caroline.
— Estou sendo sincero, Carol — murmurou com doçura. E antes que ela pudesse
dizer alguma coisa, inclinou o rosto até tocar os lábios dela, beijando-os voluptuosamente,
fazendo com que se abrissem, sem resistência. Por longos instantes ela tentou resistir
àquela paixão devastadora, mas a urgência dos lábios e das mãos dele derrubaram suas
defesas, obrigando-a a retribuir as carícias.
Os lábios de André percorriam seu pescoço, seu ombro, e Caroline tremeu quando
eles tocaram seu colo quente e macio.
— Carol — ele gemeu, acariciando suas costas e trazendo seu corpo de encontro
ao dele, para que ela sentisse a força do seu desejo. — Não me deixe continuar. Pelo
amor de Deus, não me deixe continuar!
Caroline, perdida na loucura da paixão, compreendeu que tinha sido tola em não
perceber que toda aquela agressão ia acabar nisso, inevitavelmente.
— Eu também não quero — ela sussurrou, alucinada, desabotoando
inconscientemente a camisa de seda negra de André e escorregando as mãos ávidas por
sua pele quente.
Com um gemido, André procurou de novo os lábios dela, enquanto desabotoava os
quatro botões de pérola, única proteção do colete azul. Caroline não opunha mais
qualquer resistência.
— Carol, Carol — André murmurava sem parar. Alucinado de desejo, ele beijava e
esmagava, com mãos e lábios possessivos, os seios firmes de Caroline.
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CAPÍTULO IV
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Já era tarde quando Caroline acordou. Foi uma noite agitada. Tinha se virado na
cama até alta madrugada, incapaz de dormir. Só de madrugada caiu finalmente no sono,
exausta.
Se pudesse, dormiria durante uma semana, mas os miados da gatinha a trouxeram
de volta à realidade. Virando-se na cama, encontrou o olhar triste da bichinha.
— Qual é o problema, menina? Está com fome? — Afastou as cobertas e levantou-
se.
Pegando a gatinha, desceu até a cozinha, onde preparou um desjejum para
ambas. Só quando viu o animalzinho comendo, faminto, é que percebeu como a casa
estava silenciosa. Onde estaria André? Quase em pânico, correu até a sala e, depois,
vasculhou todo o chalé, mas não o encontrou em parte alguma.
Correu até a porta para ver se o carro dele ainda estava lã. Não estava! Deus do
céu! Será que ele tinha ido embora sem se despedir? Só de pensar nisso sentiu uma
angústia estranha, e foi obrigada a admitir que se tornara excessivamente dependente
dele naqueles poucos dias.
André não podia ter ido embora, simplesmente não podia! Não depois da noite
passada. Como pôde pedir a ela que esquecesse tudo o que tinha acontecido? Jamais
poderia esquecer os beijos apaixonados e o toque possessivo das mãos dele.
Envergonhada, relembrou o abandono com que tinha se entregado às carícias dele.
Como estariam agora, se o telefone não tivesse tocado? Sem dúvida teriam passado a
noite juntos, onde quer que fosse. Mas, e agora? Onde será que ele estava?
Subiu devagar a escada, os pensamentos girando louca-mente. Se André tivesse
ido embora, certamente teria dei-xado um bilhete para ela. Talvez... bem, talvez não
tivesse partido! Talvez tivesse resolvido apenas passar o dia fora... afinal, não devia
satisfações a ela, não era dela.
Discou para o pai, com as mãos trêmulas.
— Caroline! Sabe que não gosto que telefone para o escritório.
— Desculpe, papai, só queria saber se teve notícias do André.
— Por que eu deveria ter notícias do André? Já é bem crescido para fazer o que
quiser sem me pedir permissão. Qual é o problema? Vocês não conversam um com o
outro?
— Não sei, papai. Ele desapareceu.
— Desapareceu? Como assim? Vocês brigaram?
— Não... não exatamente. — Caroline corou.
— Como assim? Ou brigaram, ou não brigaram. Ontem à noite aconteceu alguma
coisa importante?
— Não, claro que não; mas não consigo encontrá-lo em parte alguma. — Não
podia contar ao pai o que tinha acon-tecido na noite anterior. — Pensei que talvez ele
tivesse telefonado para você. — Mas que tolice estava dizendo! Por que André iria
telefonar para Matt, especialmente se achava que eles tinham um caso?
— Ora, Caroline, não está querendo que o coitado faça um relatório para você
cada vez que vá sair! Vai ver, saiu para passar o dia fora.
— Sem me dizer? — Disse isso sem querer e se arre- pendeu imediatamente.
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— Caroline, André é meu convidado e tem todo o direito de ir para onde quiser.
— Eu sei, papai, mas...
— Então, deixe o homem em paz, pelo amor de Deus! E você? Se resolvesse
passar o dia fora, comunicaria a ele?
— Não... mas eu...
— Está vendo? Então pare com isso. Aliás, você estava muito estranha no
telefone, ontem à noite. O que é que estava acontecendo quando telefonei?
— Nada — mentiu. — Tínhamos acabado de jantar e... — calou-se, envergonhada.
— E o quê? — insistiu o pai.
— E depois que você telefonou fui para a cama.
— Sozinha?
— Claro, papai! O que pensa que eu sou?
— Minha filha. — Suspirou. — Mas tenho certeza de que, se André significasse
alguma coisa para você, a ausência de uma aliança não faria a menor diferença.
— Papai!
— Pare de fingir que ficou chocada, Caroline. Já está bem crescidinha para me
aparecer de repente com um amante. Por que não André?
— Porque não gosto dele! — falou sem pensar e assustou-se com as próprias
palavras. Não era verdade, não o odiava mais. Como podia dizer que odiava um homem a
quem tinha se entregado com tanta paixão na noite anterior? Corrigiu a contragosto: —
Pelo menos, não muito. E não vou aparecer com amante nenhum!
— Acho que conheço você melhor que você mesma. É como sua mãe: terna e
generosa.
Caroline não tinha conhecido a mãe, que morreu quando ela nasceu. Mas sabia
que o pai a amara muito e por isso não tinha se casado outra vez.
— Obrigada, papai — agradeceu de coração.
— Mas também é teimosa e obstinada — prosseguiu —, como eu. Sabia que essa
mistura é muito perigosa numa mulher. Tenho pena de André. Por que não volta para
casa e o deixa em paz? Ele não deve estar se divertindo muito com você aí, tentando
seduzi-lo o tempo todo.
— Não estou tentando seduzir ninguém!
— Não mesmo?
— Claro que não. Não costumo usar essa tática. Só estou tentando ser gentil com
ele.
— Caroline!
— Mas, papai, eu... — calou-se ao ouvir um ruído na porta de trás. — Olhe, acho
que André está chegando, preciso desligar.
— Mas, Caroline...
Sem dar atenção, ela desligou o telefone e correu até a entrada. André estava lá;
encharcado, tirando a capa de chuva. Eles se olharam e ela baixou os olhos, confusa.
— Bom dia. — Ele foi frio e formal. — Está horrível lá fora!
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— Onde esteve? — Ela se preocupando feito uma boba e ele fazendo comentários
sobre o tempo! — Como se atreve a sair sem me dizer onde vai ou se vai voltar?
— Desculpe — respondeu com voz perigosamente suave —, mas não me lembro
de ter autorizado você a controlar meus movimentos.
— Mas, mas... — A frieza na voz era tanta, que Caroline chegou a tremer.
— Então não fale comigo desse jeito! Não sei que espécie de liberdade você tem
com Matt, mas não vou admitir que faça a mesma coisa comigo. Pode ser que ele goste
disso; eu não!
— Entre você e ele não há comparação...
— Graças a Deus! Caroline... Você já ia trocar de roupa ou está me fazendo outro
convite? — perguntou, sarcástico.
— Outro convite? — Ela ficou vermelha de raiva.
— Exatamente. O primeiro foi ontem à noite, não foi? O que há com você? Não
consegue passar sem homem nem por alguns dias?
— O que... quer dizer com isso?
— O óbvio. — Ele passou a mão pelo cabelo molhado. — Os homens são
indispensáveis na sua vida, não são? Eu quis dizer homens mesmo, no plural. Nunca
achei que Matt pudesse satisfazer seus apetites.
— Você é detestável!
— Por que a rejeitei? — Sorriu com desprezo. — Não seja ridícula, Caroline. Pensa
que vou me sujeitar a ser o segundo? Ou Matt está ficando velho demais e tudo o que
você quer é encontrar outro idiota que sustente seus gostos caros?
— Não, não é nada disso! — Arregalou os olhos, perplexa. — Jamais pensei numa
coisa dessas. O que eu queria era...
— Me fisgar — completou, seco. — E se isso a deixa satisfeita, fique sabendo que
não é difícil. Não consigo deixar de me sentir atraído por você.
— Partindo de você, não deixa de ser significativo...
— Tem toda razão! Só que não vai funcionar, nem agora nem nunca! Sou cético
demais com relação às mulheres para me deixar envolver pelo seu jogo.
— Quer dizer que o que aconteceu ontem não significou nada para você? Só
estava me testando?
— E se estivesse?
Caroline passou reta por ele, pretendendo ir até o quarto se trocar. Mas não
conseguiu chegar nem ao segundo degrau. Ele segurou seu braço, obrigando-a a parar.
— Tire as mãos de mim — pediu, incrivelmente calma.
— Só depois que responder minha pergunta.
— Está bem! — Virou-se e encarou-o. — Se tinha essa intenção, conseguiu: foi
terrivelmente cruel.
— Está bem, então sou cruel — concordou, dando de ombros, — E acho que vai
me achar cruel também pelo que vou dizer agora.
— O quê?
— Encontrei o dono da gata.
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Sentou-se na cama ainda por fazer, pensando, desconsolada, que jamais tinha
conhecido alguém como André Gregory e, por isso, não sabia como manejá-lo. Seu pai
estava certo. Correria perigo se insistisse em lhe dar uma lição, mas pretendia ir até o fim.
Tinha muito mais direito que ele, de estar ali; mas ele não ia saber disso tão cedo.
Passou a manhã no estúdio, recusando a gentileza de André, que se ofereceu para
preparar e levar lá seu almoço. Foi fazer ela mesma um sanduíche. Quando passou por
André, indo para a cozinha, ele a ignorou completamente. Continuou lendo o livro que
tinha nas mãos.
— Está pronta para irmos lá? — perguntou de repente.
— Estou. — E olhou imediatamente para a coisinha que dormia no seu colo.
André pegou a gatinha e colocou-a com delicadeza na caixa que Caroline tinha
preparado.
— Não precisa ir, se não quiser. Eu cuidarei bem dela.
— Eu sei. Não gosto muito de você, mas não acredito que tenha coragem de
maltratar um bichinho indefeso. De qualquer forma, eu quero ir. Você se importa?
— Não — foi a única resposta.
A fazenda não ficava longe e em poucos minutos eles estavam lá. André abriu a
porta do carro para ela e foi andando na frente até a porta da casa.
Quem abriu a porta foi uma moça alta, de cabelos longos e negros, puxados para
trás, o oposto da tradicional esposa de fazendeiro. Caroline, que esperava uma mulher
rude, de rosto lavado e vestido de flores, ficou intrigada. A mulher era indescritivelmente
bela, elegante e estava impecavelmente arrumada. Alta e segura de si, sorriu ao ver
André. Caroline correu para se juntar a eles.
— Sr. Gregory! — saudou, abrindo a porta. O interior da casa surpreendeu ainda
mais Caroline. Móveis de ma-deira clara, tapetes onde os pés afundavam e um sofá de
três lugares, forrado de couro finíssimo. Seu chalé parecia uma pobre choupana, perto
daquilo. A mulher estendeu a mão e pegou a caixa da gatinha.
— Debbie vai ficar tão contente! Não imaginam como somos gratos a vocês! —
Percebendo finalmente a presença de Caroline, apressou-se em pedir desculpas. —
Desculpe! — Sorriu. — Meu nome é Eve Gresham.
— O meu é...
— Eve! — Uma voz masculina chamou a anfitriã, antes que um homem de mais ou
menos trinta anos entrasse apressado na sala. — Ah, sr. Gregory, achei mesmo que era o
senhor.
— Desta vez ele trouxe a esposa também.
— Não — protestou Caroline. — André e eu não somos casados!
— Oh! Nós pensamos... — Ela olhou para André e de novo para Caroline. — O sr.
Gregory disse que estavam hospedados no chalé dos Rayner.
— Estamos — confirmou Caroline.
O homem corou violentamente e chegou a abrir a boca para dizer alguma coisa,
mas ficou calado.
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A curiosidade de Caroline agora estava satisfeita. Não era de admirar que André
Gregory estivesse ansioso para voltar à fazenda! Era óbvio que estava interessado na
viúva.
— É um lugar magnífico para uma criança crescer — observou Caroline, depois de
algum silêncio.
— É o que nós achamos, por isso elas continuam aqui. Se não fosse pela filha, Eve
já teria se mudado para a cidade. Mas, vamos falar um pouco de você. Veio passar férias
aqui?
— Mais ou menos.
— E o sr. Gregory?
— A mesma coisa, eu acho. — Na verdade, não sabia o que dizer, pois tudo que
sabia de André é que ele era amigo de Matt; e bastante íntimo, pois tinha sido convidado
para passar férias no chalé. Percebeu que tinha ficado muito zangada com ele e não teve
chance de conhecê-lo melhor.
— Sei. — Ele não parecia muito à vontade. — Vocês não estão... juntos?
— Não! — respondeu com firmeza, acentuando a negativa com um gesto de
cabeça.
— Nesse caso, que tal irmos jantar um dia desses? Há um ótimo restaurante a
poucos quilómetros daqui, onde fazem os melhores assados que já provei.
— As Três Ferraduras? Já estive lá com... um amigo. — Ia dizer que tinha estado
lá com o pai, mas achou melhor não. Para não cair em contradição, o melhor era contar a
todo mundo a mesma história que tinha contado para André. — Concordo com você. A
comida lá é excelente.
— Então você aceita?
— Claro, com prazer! — Ele parecia ser uma pessoa simpática. Além disso, ela
precisava se afastar um pouco das ironias de André Gregory.
— Esta noite?
— Pode ser.
— Às oito, está bem?
— Ótimo.
Quando voltaram, teve a impressão de que havia um brilho especial nos olhos de
Eve Gresham e uma expressão especial no rosto de André. Tomou seu chá, mal
conseguindo disfarçar tanta impaciência. Também não podia compreender porque estava
tão nervosa. Por que não gostou de ver Eve Gresham interessada em André? Seu pai já
não tinha dito para ela não esperar nada daquele homem, cujo poder sobre as mulheres
era tão intenso?
— Você está muito calada — comentou André no caminho de volta. — Algum
problema?
— Não, nenhum.
— Não parece! O que foi? Não gostou dos nossos vizinhos?
— Achei todos muito simpáticos.
André estendeu a mão esquerda e segurou com força o queixo de Caroline,
obrigando-a a olhar para ele.
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— Se achou todos tão simpáticos, por que tanta pressa em vir embora? —
perguntou com voz suave.
— Não estava com pressa...
— Estava sim. — Continuou segurando o queixo dela com força. — Ciúme, Carol?
Os olhos dela soltaram chispas. Tentou tirar o queixo, virando o rosto, mas falhou
redondamente. A revolta morreu de repente e ela ficou estranhamente calma. André
soltou seu queixo e correu os dedos suavemente pelos lábios dela. Era a oportunidade
que esperava: abrindo a boca, cravou os dentes no dedo dele.
Ele tirou a mão, sem demonstrar o menor sinal de dor, mas com os olhos
perigosamente contraídos.
— Sua cachorrinha! — Continuou olhando fixamente para a estrada. — Vai me
pagar!
— Promessas, promessas... — provocou-o.
— Não são promessas. — Olhou rápido para ela. — É ameaça, e vou cumpri-la.
— Estou morrendo de medo, sr. Gregory. — Mas, apesar da displicência, ela
estava mesmo um pouco assustada.
— Acho bom que esteja — sussurrou ele. — Porque não pretendo esquecer minha
ameaça.
— É o que você diz.
Sem esperar que ele abrisse a porta, saltou do carro e entrou no chalé. Tudo
parecia estranhamente silencioso sem a presença da gata, como se o único tema para as
poucas palavras gentis que trocavam fosse o animalzinho. Agora provavelmente voltariam
às agressões de antes.
— Não conte comigo para o jantar — anunciou com displicência. — Vou sair esta
noite.
— Brian Wells?
— Com ciúme, André?
— Nem um pouco. — Olhou-a de alto a baixo, como se quisesse arrancar cada
peça de sua roupa. — Por falar nisso, também vou sair.
— Acho que não preciso perguntar com quem.
— Errou. Quem iria ficar com a menina? — respondeu, provocante.
— Quer dizer que vai passar a noite na fazenda dos Wells? É! Lá vão ficar bem à
vontade...
— Você tem uma língua muito afiada, Caroline, e não está respeitando a moral da
sra. Gresham. Sei muito bem o que pensa de mim, mas não vejo razão alguma para que
seja grosseira com Eve. Ela não fez absolutamente nada para merecer suas acusações.
— Claro, nada! Só se derreteu toda para você.
— Coisa que você jamais faria, não é, Caroline? Essa sua cabecinha fria encara
tudo com muita lógica, não é? A mesma lógica com que encara o relacionamento com
Matt. Tenho certeza de que não o ama, caso contrário não teria feito o que fez comigo.
— Amo-o muitíssimo. — Encarou-o, desafiante. — E vai ser preciso mais que
desejo físico para mudar isso.
Projeto Revisoras 38
Sabrina 91 - Paixões desenfreadas - Carole Mortimer
André deu um passo em direção a ela; mas notando que se afastava, riu divertido.
— O que vejo nos seus olhos não é bem medo, é medo do que posso fazer a você.
Nas ocasiões apropriadas posso fazer um bocado de coisas, não é?
— Você é detestável! Ainda bem que vou ficar livre esta noite. Por que não vai
infligir a sua presença a outra pessoa?
— Ninguém está prendendo você aqui. — Bocejou, displicente. — Pode ir embora
quando quiser, vai até me dar muito prazer.
— Sem dúvida! Agora que já encontrou quem se impressione com a sua maldita
arrogância... Mas tenho todo o direito de ficar aqui, por isso não pretendo voltar. Agora,
com licença, preciso tomar um banho e trocar de roupa.
— À vontade. Vai me dar muito prazer.
— Idiota pretensioso! — Os olhos dela faiscaram.
— Foi só maneira de falar — respondeu com ironia.
— Sei. — Subiu correndo a escada e bateu com força a porta do quarto. Que
audácia! Como ousava falar daquela maneira!
Pobre Eve Gresham, que teria que suportar aquele pretensioso. Girou pelo quarto,
tonta, abrindo e fechando gavetas, procurando uma roupa apropriada para aquela noite.
De repente, não conseguiu mais continuar se enganando. Sentou na cama e ficou
curtindo o próprio ciúme. Estava, sim! Estava morta de ciúme da mulher que ia passar a
noite com ele. Não porque gostasse muito dele, claro! Mas porque André estaria a sós
com Eve, como estivera com ela na noite anterior.
Maldito! Também, por que ficar só pensando nele? Ia sair com Brian e se divertir
muito. Afinal, ele era jovem, simpático, e não havia a menor razão para que não se di-
vertissem juntos.
Brian era o extremo oposto de André, tanto na aparência quanto no caráter. Era
louro, corado, de olhar amistoso e não tinha nem uma pontinha da arrogância de André.
Era simples e sem complicações, exatamente o que ela estava precisando depois de um
par de dias com André.
Ficou no quarto até que ouviu os dois homens conversando lá embaixo. Deu uma
última olhada no espelho, para ver se estava mesmo mais bonita que nunca. Tinha
escolhido um vestido godê, acinturado, de manga comprida e gola alta, que, junto com a
bota de cano alto, deixava pouco do seu lindo corpo à mostra. Mas o delineava muito
bem! Que-ria mostrar a André Gregory que aguardava com ansiedade Brian Wells.
Os dois se levantaram quando ela entrou na sala. Brian estava muito atraente, com
um paletó azul-marinho, camisa também azul, de tom mais claro, e calça cinza; mas foi
André quem chamou mais a sua atenção. A camisa negra estava aberta até a cintura,
exibindo o peito bronzeado, coberto de pêlos. Caroline desviou imediatamente o olhar, ao
perceber que ele observava suas reações. Para seu maior constrangimento, ele estava de
novo sem sapatos. Será que não podia ser um pouco mais educado, sabendo que Brian
ia lá? Não custava nada se vestir mais decentemente.
— Espero não ter feito você esperar muito — dirigiu-se a Brian, sorrindo, enquanto
lançava um olhar ressentido a André.
— De jeito nenhum. — Brian retribuiu o sorriso. — Mesmo que tivesse, teria valido
a pena. Não concorda, sr. Gregory?
— Ora, Brian! Vale a pena esperar por Carol horas e horas — respondeu, suave.
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CAPÍTULO V
Projeto Revisoras 40
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— Bem, eu... — Ele se mexeu, nervoso. — Não gostei dos modos daquele homem!
Vocês dois garantem que não têm nada mas... ele é tão possessivo com você!
— Não é nada disso, Brian. Só nos conhecemos há dois dias e, para falar a
verdade, não temos nos dado muito bem.
— Não foi essa a impressão que eu tive.
— Ele disse alguma coisa?
— Insinuou que vocês eram amantes — ele confessou, desajeitado.
— Você deve ter entendido mal. — Sacudiu a cabeça com energia. — André não
diria uma coisa dessas, isso não tem o menor fundamento.
— Se você diz... — aceitou com relutância. — Vamos pedir a comida?
Aliviada, Caroline deixou o assunto morrer ali mesmo, pois o que mais desejava
era tirar aquele homem da cabeça pelo resto da noite. Estava tentada a acabar logo com
aquela mentira, dizendo quem era mas ainda não tinha ido até onde desejava. Haveria de
retribuir cada insulto, cada humilhação feita por André. Iria acabar com aquela maldita
arrogância!
Brian revelou-se um excelente companheiro, alegre, divertido, gentil, e a noite
passou voando. O churrasco estava delicioso e o vinho, bem no ponto que Caroline
gostava.
Após o jantar, foram para o bar e sentaram-se ao lado da lareira. Depois dos dias
de tensão ao lado de André, Caroline estava deliciosamente relaxada e em paz junto de
Brian. — Foi uma noite deliciosa — comentou, sorrindo.
— Para mim também. — Brian retribuiu com um sorriso tímido. — Precisamos sair
outras vezes.
— Ainda não sei até quando vou ficar no chalé — comentou Caroline.
— A presença do sr. Gregory não restringe suas atividades? — Brian tentava
expiorar o terreno.
— De jeito nenhum. — Mordeu o lábio, pensativa. — Quando vim para cá, não
pretendia ficar tanto tempo. Mas estava divertido e fui ficando.
— Depois que nos despedimos ontem, fiquei pensando e tive a impressão de que
já vi você antes. Não andou passeando pelo campo com o sr. Rayner num carro esporte
azul, no verão passado?
— É possível — admitiu com relutância, temendo que Brian tirasse conclusões
precipitadas, como André. — Eu tenho um carro esporte e estive aqui no verão.
— Tenho certeza de que era o sr. Rayner — continuou Brian. — Já nos
encontramos algumas vezes.
— Então provavelmente éramos nós. Costuma vir sempre a este restaurante? —
perguntou, ansiosa para mudar de assunto.
Depois disso passaram a conversar sobre outras coisas, num clima tão
descontraído, que Caroline se assustou quando olhou no relógio. Brian tinha sido um
companheiro pouco exigente, revelando nas atitudes tímidas sua origem camponesa.
Tendo trabalhado duramente na terra durante dez anos, agora começava a colher os
frutos da sua dedicação achando que todo o esforço tinha valido a pena.
— Para uma mulher, é uma vida dura — comentou na volta. — Não entendo como
Eve consegue estar sempre com aquela aparência tão descansada.
Projeto Revisoras 41
Sabrina 91 - Paixões desenfreadas - Carole Mortimer
Caroline também já tinha pensado nisso. Tendo que cuidar de uma filha, da casa e
do irmão, como conseguia se manter tão arrumada?
— Ela deve gostar da vida que leva — comentou. — Até certo ponto. Ainda é
jovem e gostaria de se casar outra vez, mas não existem muitos homens disponíveis por
aqui Caroline ia dizer que André era um bom partido, mas achou que Brian não ia gostar
muito. Além disso, não conseguia imaginar André casado. O lema dele parecia ser "ame-
as e deixe-as".
— Tive a impressão de que ela estava feliz — insistiu.
— Não me interprete mal, ela se sente feliz, mas é só por causa de Debbie, —
Calou-se e olhou para ela na semi-obscuridade do carro. — Quer sair comigo outra vez?
— Gostaria muito. — Já estavam diante do chalé e Caroline percebeu que a luz da
sala ainda estava acesa. Será que André tinha tido a ousadia de esperar por ela?
— Amanhã? — insistiu Brian.
— Amanhã talvez eu não possa. — Gostava dele, mas não o bastante para querer
um relacionamento sério. — Que tal depois de amanhã?
— Ótimo. Podemos ir a algum lugar tomar alguma coisa.
— Está bem — concordou. — Telefone para combinarmos.
Estava furiosa quando entrou em casa. Atirou a bolsa numa cadeira e foi direto até
André, que estava parado ao lado da lareira.
— Posso saber o que está fazendo ainda acordado?
— Tomando o uísque de Matt — respondeu com calma, mostrando o copo que
segurava. — Pensei que fosse óbvio.
— Não seja fingido! Estava me espionando!
— Para ver se haveria despedidas entusiásticas? — Caminhou pela sala,
displicente. — Acha que eu seria capaz disso?
— Não foi isso que...
— Além disso, não acho que valha a pena ficar acordado até esta hora só para ver
os beijinhos que trocou com Brian Wells — provocou, tomando um bom gole de uísque.
— Beijinhos? — perguntou, indignada.
— Brian Wells é o que se pode chamar de "cavalheiro" e não teria coragem de se
aproveitar de você. Além disso, ele não é suficientemente bom para você.
— E quem é suficientemente bom para mim? Você?
— Sem dúvida. Posso fazer de você o que quiser, mas não tenho essa intenção.
— Não terá chance, isso sim!
— Segunda chance...
— Segunda? Miserável! Você é asqueroso!
— Você fica excitante quando zangada, Carol. Não imagina quanto.
— Ora, me deixe em paz! — gritou Caroline, assustada com o brilho sensual que
viu nos olhos dele. — Não chega me espionar? Precisa ficar pondo sua virilidade à prova?
— Se alguém aqui precisa provar alguma coisa, esse alguém é você. Qual é o
problema, Carol? As atenções de Matt estão esfriando?
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Sabrina 91 - Paixões desenfreadas - Carole Mortimer
— Quer parar com essas acusações estúpidas sobre... sobre o sr. Rayner? —
explodiu, quase cedendo à tentação de dizer que era filha de Matt Rayner e acabar de
uma vez com a farsa. Mas o desejo de vingança foi mais forte. Só assim conseguiria dar
uma boa lição naquele pretensioso. — Elas não têm o menor fundamento.
— Não mesmo? — Encolheu os ombros e pegou o casaco de couro que estava
sobre uma cadeira. — Bem, se quer se enganar, pensando que o relacionamento que tem
com Matt é inocente e romântico, quem sou eu para duvidar? Acredita mesmo que isso
justifica seu comportamento diante de sua amiga? — André, que desde o começo da
conversa esteve calmo e zombeteiro, começava a se exaltar.
— Meu comportamento não precisa de justificativas, o que não acontece com o seu
— respondeu, agressiva.
— Mas sua amiga com certeza não aprova seu relacionamento com o pai dela! A
diferença de idade entre vocês duas é muito grande?
— Somos da mesma idade. Bem, já que não temos mais Susi, que era o único
tema de conversa calma entre nós, vou para a cama, porque não pretendo ficar aqui
ouvindo seus insultos. — Virou-se para sair.
— Ótimo. — A resposta veio rápida. — Acho que vou com você.
— O que pensa que eu sou? — Virou-se para ele, furiosa.
— Ainda não cheguei a uma conclusão — admitiu com um sorriso. — Mas se me
der mais tempo, vou descobrir. E o que eu quis dizer agora há pouco foi que ia para a
minha cama, não para a sua.
— Sei. — Caroline ficou confusa por ter interpretado mal as palavras dele.
— Sua opinião sobre o poder que exerce sobre os homens é um pouco exagerada
— acrescentou, passando por ela e subindo a escada de dois degraus. — Você é bonita,
reconheço, mas isso não significa que todos os homens morram de vontade de ir para a
cama com você. Pode ir dormir tranquila, que não vou invadir seu quarto no meio da noite
para satisfazer minhas paixões desenfreadas.
— Não fale comigo como se eu fosse criança!
— Então não aja como criança.—Dessa vez os olhos dele revelavam ódio
profundo. — Boa noite! — E bateu a porta do quarto com força.
— Boa noite.
Os desenhos não estavam saindo bons, embora o estúdio estivesse bem tranquilo.
Caroline não conseguia se concentrar. Só pensava em André Gregory, que surgia diante
dela a cada novo esboço que começava. Arrancou mais uma folha e atirou-a no chão,
irritada, ao lado das outras tantas que já tinha jogado fora.
Por que aquele homem não saía da sua cabeça? Baixou os olhos para a décima
segunda tentativa, mas o que viu foi o rosto dele. Jogando o lápis e o bloco no chão, foi
se esticar no sofá.
Onde estaria ele? Será que pensava nela também? Caroline duvidava. Se aquele
homem misterioso era um próspero executivo, então por que nunca tinha ouvido falar
nele? Quem seria realmente André Gregory? E por que nem seu pai nem seus amigos
jamais tinham mencionado o nome dele?
Projeto Revisoras 43
Sabrina 91 - Paixões desenfreadas - Carole Mortimer
De repente imaginou uma loucura. E se ele tivesse tentado fazer amor com ela na
noite anterior para forçá-la a ir embora? Se ela fosse mesmo amante de Matt, seria na-
tural não se arriscar com outro homem. A não ser, claro, que estivesse à procura de
novas sensações, como André tinha sugerido. E se fosse mesmo tão inocente quanto afir-
mava, não ia querer continuar, na mesma casa, com um homem que não fazia segredo
do seu desejo por ela e da sua intenção de levá-la para a cama.
Mas, apesar de tudo, ela não tinha ido embora. Tinha a vantagem de saber que era
a dona da casa e de poder mandá-lo embora quando ultrapassasse os limites. Suspirou.
Continuava sem saber onde ele estava, ou com quem estava. Talvez fosse melhor nem
saber.
— Carol! Carol!
Saltou da cadeira, agitada, ao ouvir seu nome. André! Um sorriso iluminou seu
rosto, e, de repente, se sentiu extraordinariamente feliz.
— Aqui no estúdio — gritou, abrindo a porta.
— Hum, nada mau — aprovou André, que tinha acabado de entrar e examinava um
dos desenhos pendurados na parede. — Foi Cynthia quem fez? — Sentou-se na poltrona,
sem tirar os olhos dela.
— Não. Fui eu. — Quase esquecia quem era Cynthia.
— Quer dizer que também penduraram suas pinturas aqui. — Franziu a testa. Você
é como um membro da família, não? Por que Matt não se casa logo com você?
— Ele nunca se casará comigo. — Tentou tirar o desenho da mão dele, mas não
conseguiu.
— Está muito bom — elogiou, depois de examiná-lo por alguns segundos. Os olhos
dele pareciam revelar um pouco mais de respeito. — Estudou desenho? — pergun tou,
interessado.
— Um pouco, na escola. Era a única matéria que me interessava.
— Duvido que consiga ganhar a vida como retratista, é honesta demais para isso.
As pessoas não gostam de se ver como realmente são e parece que você não mente nos
seus retratos.
— Aborreceu-se porque mostrei sua arrogância com essa poucas linhas? —
perguntou, ofendida.
— Não, seu desenho não me aborreceu. É muito bom, você me revelou
exatamente como sou.
— Também acho. Queria alguma coisa? — perguntou, suave.
— Vou pescar — ele respondeu, afastando os papéis do chão com o pé. — Vim
saber se não quer ir junto, para tomar um pouco de ar fresco. — Inclinou-se, apanhou
várias folhas amassadas, desamassou-as e estudou-as criticamente. — E, a última é
mesmo a melhor.
Caroline arrancou as folhas de sua mão e rasgou-as. — Não pedi sua opinião! —
Deu as costas para ele. — Pretende mesmo pescar nesta época do ano?
— Por que não? Os peixes estão lá o ano todo. Matt me disse que existe um lago
aqui perto.
— Existe... mas você não tem cara de pescador.
Projeto Revisoras 44
Sabrina 91 - Paixões desenfreadas - Carole Mortimer
— Não sou, mas Matt disse que eu podia usar os apetrechos dele e agora me deu
vontade. Deve ser repousante.
— Deve ser. Meu... Matt parece ter dito um bocado de coisas para você. Não
pensei que o conhecesse tão bem.
André se levantou e flexionou os braços várias vezes.
— Há muitos anos que o conheço. Só porque é a namorada dele, não é obrigada a
conhecer todos os amigos dele.
Ele teria razão, se o relacionamento dela com Matt fosse aquele. Mas, sendo quem
era, achava bastante estranho nunca ter ouvido falar daquele homem. Precisava pedir ao
pai mais informações sobre André. Aliás, era estranho que Matt ainda não tivesse
telefonado.
— Vive no exterior ou coisa parecida? Não foi aqui na Inglaterra que adquiriu esse
bronzeado. — Se morasse ou tivesse negócios no exterior, então estaria explicado.
— Passo muito tempo nos Estados Unidos e na Austrália. Tenho negócios nos dois
países. Acabei de voltar da Austrália, onde passei três meses. Está respondida a
pergunta?
— Está. — Arrumou o estúdio, rasgando e jogando no lixo todos os esboços que
havia feito dele, inclusive o último, mas evitou encará-lo.
— E você? Pelo que sei, não é uma das mulheres mais comentadas do país.
Embora ele não soubesse, ela era. As colunas sociais dos jornais estavam sempre
ligando o nome dela a vários homens, especulando qual seria o eleito de uma das
mulheres mais ricas do mundo.
— E não sou mesmo — mentiu.
— Matt também nunca me falou de você.
— Você falaria, se estivesse no lugar dele?
Percorreu-a com os olhos, conferindo cada curva do corpo delineado sensualmente
pela camiseta justa e pela calça de brim.
— Acho que falaria. Talvez Matt não queira correr o risco de perdê-la.
— Ele nunca vai me perder.
— Otimo. Afinal, vem ou não vem pescar comigo?
— Bom, como você nunca pescou antes, acho que vou também, assim posso dar
umas boas risadas se cair na água.
— Muito obrigado!
— Pensando bem, gostaria muito que acontecesse isso. — Deu um sorriso.
André também riu.
— Se eu cair, não tenha dúvidas de que você vai comigo, nem que precise sair da
água para buscá-la.
— Que falta de gentileza!
— Também acho — concordou André, brincalhão.
— Escute... — Caroline mordeu o lábio, nervosa. — Quer mesmo que eu vá junto?
Ontem à noite...
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— Não fui ver Eve Gresham, se é isso que queria saber. Para falar a verdade, não
a vi mais.
— Mas e ontem à noite?
— Ontem à noite, você tirou suas próprias conclusões. Fui jantar sozinho. Se
prestasse atenção ao que digo, se lembraria de que eu disse que não ia me encontrar
com a senhora Gresham.
— Eu pensei...
— Pensou que, só por que Eve é uma mulher bonita e gosto de mulheres bonitas,
eu ia tentar conquistá-la. As coisas não são exatamente como você pensa. Não estou di -
zendo que não acho Eve atraente, só estou dizendo que não estou interessado nela. Não
gosto de me envolver com... crianças, o que elimina você completamente — brincou.
— André!
— Calma. — Estendeu a mão em sinal de paz. — Estava só brincando, você é
muito sensível. Os dezessete anos de diferença que há entre nós não fazem a menor
diferença. Aliás, se continuar esperta como vem sendo nos últimos dias, logo, logo vai me
passar para trás.
— André! Você disse que queria começar tudo outra vez... — Não sei se será
possível. Ainda não consegui esquecer de como você se sentiu nos meus braços. Me dê
mais alguns dias e talvez eu consiga superar isso.
Caroline ficou em silêncio, pois não queria entrar em detalhes sobre aquela noite,
quando quase se entregara a ele. Desde aquele dia vinha evitando pensar na sua própria
reação, mas nem mesmo o beijo de Brian conseguiu fazê-la esquecer. Talvez por isso as
provocações de André a deixassem com tanta raiva. Afinal, ele tinha razão.
— Você precisa? — perguntou Caroline depois de um longo silêncio.
— Preciso o quê? — Estava totalmente concentrado nas borbulhas que dançavam
alegres sobre a água, à espera de um sinal que indicasse que um peixe tinha mordido a
isca.
— Superar o que aconteceu? — Evitou os olhos dele.
— Acho que sim, nem que seja por lealdade a Matt. Acaso sabe o que é lealdade?
— Sei perfeitamente. E se eu lhe dissesse... — Respirou fundo para criar coragem.
— Se eu dissesse que não há nada entre Matt e eu, o que acharia?
— Que está mentindo. Não se esqueça de que testemunhei o interesse dele por
você.
— E se eu lhe dissesse que ele quer se afastar de mim, mas é bom demais e não
tem coragem para isso?
— Aí mesmo é que teria certeza de que está mentindo — respondeu, convicto. —
Matt não é nenhum tolo, e se não quisesse continuar com você, diria isso com toda a ho -
nestidade. E, depois, por que eu devia me preocupar com isso? O que houve entre nós
não passou de um incidente não muito inocente, mas sem significado.
Caroline mordeu o lábio. Conseguiria dar uma lição naquele homem, nem que
fosse a última coisa que fizesse na vida. Ele não era tão indiferente a ela como vivia
repetindo e acabaria se convencendo disso. Iria levar tempo, mas valeria a pena.
Como ela tinha imaginado, a pescaria não entusiasmou André, cuja única façanha
foi pegar dois peixinhos pequenos. Duas horas depois já estavam de volta.
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— Parece que esse não é o meu esporte favorito. — Olhou para ela, sorrindo. —
Mas, não se preocupe, vou preparar ura almoço especial para nós. Não se pode dizer que
esse lugar seja pródigo em divertimentos. O que costuma fazer quando vem para cá?
Não... esqueça a pergunta. É óbvio que faz mais alguma coisa do que desenhar e pintar.
— Puro engano. Matt raramente vem para cá. Quem vem com frequência é a filha
dele.
— Ele não disse. Teria sido bem desagradável se a encontrasse aqui, em seu
lugar.
Chegaram ao chalé.
— Mais desagradável do que ter-me encontrado?
— Imagine o que os jornais não inventariam: "Famoso executivo vive caso de amor
com uma garota". Eu não ia gostar nem um pouco.
Muito menos ela! Não via nada de mal nesse pequeno jogo particular com André,
mas não gostaria que outras pessoas soubessem que estavam vivendo na mesma casa.
Acontece que alguém mais sabia: seu pai! Claro! Agora percebia por que Matt não tinha
insistido para que fosse embora: ia fazer chantagem para ela se casar com Greg Fort-
num! Se o escândalo viesse à tona, não causaria o menor dano à reputação do pai, mas
poderia arruinar a dela. Aquele velho diabólico!
Mas não podia condená-lo totalmente por tirar vantagem da situação, afinal tinha
exigido que ela voltasse para casa. Ela é que havia se recusado a obedecer. Mas,
pensando bem, aquela raposa velha sabia que ela não ia obedecer!
André já tinha descido e aberto a porta do carro para ela há muito tempo.
— Ei, vai ficar aí sentada o dia todo? E por que o sorriso? Ela desceu e olhou para
ele, distraída.
— Nada, estava só pensando. — Pensamentos agradáveis?
— Só pensamentos.
— Bom, vamos entrar. Prometo que vou preparar o melhor sanduíche que você já
provou em toda sua vida.
Ele cumpriu a palavra e Caroline mal conseguia andar depois de comer um
gigantesco sanduíche de carne, cebola, alface e tomate. André tentou comer dois, mas
quando ter- minou estava a ponto de explodir.
Quando o telefone tocou, imaginou logo que fosse seu pai e foi atender, mas André
chegou antes dela.
— É para você. — Estendeu-lhe o fone. — Wells.
— Brian! — O rosto dela se iluminou. — O que posso fazer por você?
— Muita coisa — comentou André, em voz alta.
— Quer parar com isso? — pediu, cobrindo o fone com a mão.
— Continue, não se preocupe comigo.
— Não pretendo me preocupar. — Deu as costas a André. — Maravilhoso, Brian. A
que horas? Às sete? Ótimo. Vejo você amanhã, então. — Despediu-se e desligou.
— Muito bem — ironizou André. — Está ficando popular!
— E você também. Fomos convidados para jantar amanhã. Aceitei por nós dois —
explicou com um sorriso doce.
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CAPÍTULO VI
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— Acho que já basta por hoje. — Caroline se sentou e deu um suspiro. — Amanhã,
quando eu estiver mais descansada, continuamos. Quer ver? — Mostrou os quatro es-
boços que tinha feito.
— Está bem. — Aproximou-se para olhar. Num dos esboços, aparecia rindo; em
outro, simplesmente sorrindo; no terceiro, sério e pensativo; no último, finalmente, com
uma expressão de profunda raiva. Ele riu ao ver o último. — Sou mesmo parecido com
isso?
— Quando está zangado, é. Dá até medo.
— Hum... — Analisou os desenhos por mais alguns instantes, sentado no braço da
cadeira e descansando o braço no ombro dela. — Não admira que alguns concorrentes
pareçam um pouco assustados quando conversam comigo. Não sabia que assustava as
pessoas.
— Eu sabia, já estive do outro lado — respondeu, procurando disfarçar a aflição
pelo contato com o corpo dele.
— Hum... — Com um gesto distraído, ele começou a acariciar o pescoço de
Caroline. — Quer que peça desculpas pelo meu comportamento de ontem à noite? —
perguntou, suave, olhando para Caroline, que mantinha a cabeça abaixada.
— Está se sentindo culpado? — Amaldiçoou-se pelo tremor da própria voz. Por que
ele não parava com aquelas carícias que provocavam sensações tão estranhas?
— Não, mas é sempre bom pedir desculpas. — Disse isso bem junto do ouvido
dela. Ela tremeu quando sentiu os lábios quentes de André no pescoço.
— Pare com isso, André — suplicou, tentando se afastar.
— Devia ter dito isso naquela outra noite — murmurou ele. — Talvez então eu
tivesse tomado consciência de você. Neste exato momento, só consigo ter consciência do
meu próprio desejo e ele me diz para continuar beijando você.
— Por favor, André, não! — Na verdade, não queria que ele parasse, estava
adorando a sensação provocada por aqueles lábios firmes e seguros, que sabiam
encontrar exata-mente as suas áreas mais sensíveis. — Pare! — repetiu
sem convicção.
— Só mais um pouquinho — sussurrou com a voz entrecortada, tirando o braço do
ombro dela para que ficassem ainda mais juntos. — Wells beijou você assim? — Tentou
abrir os lábios dela. — Ou assim? — Desabotoou a blusa dela para poder sentir melhor os
bicos rosados dos seus seios, que apareciam através do tecido transparente.
— Não... — respondeu com voz quase inaudível. — Nunca Ninguém me beijou
assim.
— Ninguém? — Tornou a procurar os lábios dela, prendendo-os e soltando-os em
seguida, afastando-se delibera-damente para ver como ela reagia.
— Ninguém — respondeu Caroline com impaciência, sem vontade de falar.
— Gosta? — Ele a beijava no pescoço, cheio de paixão.
— Gosto. — Os olhos dela imploravam os beijos daqueles lábios tão próximos.
Sabia que André tinha consciência do poder que exercia sobre ela, e que ele parecia
gostar de evidenciar a fraqueza dela. Mesmo sabendo disso, Caroline não conseguia
resistir; não conseguia ocultar o prazer que as carícias dele provocavam nela. Mais uma
vez tinham chegado a um ponto perigoso e mais uma vez ela não tinha forças para parar.
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exige que um de nós vá embora? Se você fosse minha, jamais a deixaria ao alcance de
outro homem.
— Ele exigiu que um de nós fosse embora: eu — respondeu, ofendida com a
ofensa ao seu pai. — Só que eu recusei.
— Sei que você chegou aqui primeiro, mas por que ele não veio até aqui e não a
forçou a ir embora com ele?
Ela sorriu, tentando sem sucesso visualizar o pai numa atitude de violência física.
— Matt não é o tipo de pessoa que resolve os problemas por meio da violência, e
você sabe disso. Pelo menos devia saber, se o conhece assim tão bem.
— Conheço, sim — respondeu André, sombrio. — Existem alguns detalhes nisso
tudo que me intrigam. Matt poderia esclarecê-los, se quisesse... mas parece não querer.
— Nada disso justifica sua indelicadeza com Eve Gre-sham e o irmão.
— Não fui indelicado, só estava um pouco tenso. Não gosto de cenas domésticas,
com crianças e animais. Já estava sentindo o nó matrimonial se apertando em torno do
meu pescoço.
— Agora você é que está sendo ridículo. Eles queriam apenas ser gentis. Talvez
Eve tenha sido um pouco... um pouco...
— Um pouco exagerada no seu interesse por mim — completou por ela.
— Bom... um pouco talvez — admitiu Caroline.
— Muito, na minha opinião. Sendo tão bonita e atraente, não devia se oferecer
daquela maneira. — Parou diante do chalé. — Deve haver muitos homens que
considerariam uma sorte ter uma esposa como ela.
— Mas não você — ironizou Caroline.
Já em casa, Caroline resolveu preparar uma bebida quente para eles.
— Não é preciso, prefiro um uísque — recusou André, brusco. Foi até a sala e
voltou com dois copos.
Tomou o primeiro uísque de um só gole e partiu para o segundo. Aos poucos a
tensão foi diminuindo e os músculos do corpo dele começaram a relaxar.
— Não eu — disse depois de muito tempo, voltando ao assunto dos pretendentes
de Eve. — Casamento é coisa que não me interessa. — Colocou de lado o copo vazio,
com raiva. — Eve Gresham não esconde que está à procura de um marido que a tire
deste lugar. Não gosto de me envolver com esse tipo de mulher.
— Claro que não! — Caroline sorriu com desprezo. — Gosta só das fáceis, não é?
— Não é isso, Carol — murmurou, passando as mãos pelos cabelos, num gesto de
desânimo. — Não percebeu o jogo de Eve? Se eu tivesse concordado em ficar até mais
tarde, apesar de todos os protestos, ela acabaria sugerindo que você e Brian fossem ver
os gatos. Não quis demonstrar que queria ficar a sós comigo, por isso armou toda aquela
cena.
— E você naturalmente não queria ficar a sós com ela! — O coração de Caroline
batia, acelerado, feliz porque André a tinha chamado pelo apelido. Toda vez que ele
estava zangado charnava-a de Caroline. Logo, talvez quisesse fazer as pazes.
— Não, não queria. Acha que estou errado?
— Não é problema meu.
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Sabrina 91 - Paixões desenfreadas - Carole Mortimer
— É claro que é problema seu! — Chegou tão perto dela que seus corpos quase se
tocaram. — Estamos vivendo aqui juntos e você é atraente... muito atraente, muito bonita.
E me atrai, como já sabe. Enquanto estivermos aqui, juntos, não vou conseguir pensar em
ninguém, a não ser em você. — Riu do espanto dela. — Pensou que eu fosse incapaz de
sentimentos espontâneos? Não sou, embora isso não me agrade.
— Mas você disse...
— Sim, eu disse, mas disse também que com você eu podia perder o controle da
situação, e acho que estou prestes a perder...
Abraçou-a e procurou seus lábios com selvagem intensidade. Presa nos braços
dele, incapaz de se mover, Caroline ainda tentou resistir, mas logo se entregou à loucura
daqueles lábios sensuais. Retribuiu o beijo, cedendo. Não podia mais negar que estava
apaixonada por aquele belo desconhecido, tão apaixonada que não conseguia nem
pensar com clareza. Não adiantava lutar, sabia que estava perdida.
— Oh, Carol —- murmurou junto aos lábios dela. — Por que me atrai desse jeito?
— Brincou com os lábios dela por longos e agonizantes segundos antes de pressioná-los
outra vez com paixão redobrada. — Vestiu essa roupa de propósito — sussurrou. — Sabe
que fica tentadora com ela.
Era um vestido de seda, preto, de tecido macio, que acentuava todas as formas do
seu corpo. Sabia que ficava bem com ele e não via mal algum nisso.
— Não foi de propósito — negou, sentindo intensamente os lábios que deslizavam
por seu pescoço.
— Talvez não, você fica bem com qualquer roupa. — Tinha descido o zíper do
vestido e acariciava os ombros dela. — Está disposta a enfrentar as consequências?
— Consequências? — Caroline estava perdida na torrente da própria paixão, os
sentidos inflamados pelo desejo.
— Dentro de poucos minutos vou carregá-la por aquela escada até meu quarto,
fechar a porta, colocá-la na cama e ficar com você lá até amanhã, se é que vou deixá-la
sair amanhã.
— Eu... Molhou os lábios repentinamente secos.
— Não discuta, Carol. Foi avisada ontem e teve tempo suficiente para sair, agora é
tarde. Não posso mais resistir, Carol, passei do ponto de onde ainda era possível voltar.
Nunca tinha feito amor antes e a idéia a aterrorizava... e a excitava, é verdade, mas
também a aterrorizava.
— Mas... mas Matt! Ele...
André já estava indo para a porta, segurando-a firmemente pela mão.
— Se acontecer, fica a seu critério contar a ele ou não. E, se depois quisermos
continuar, eu mesmo explico a ele o que se passou — sugeriu com tranquilidade.
— Não, eu... eu não... — Foi interrompida pelo telefone.
— Deixe, Carol. Quero você agora.
— Pode ser o telefonema que você estava esperando. — Afastou-se dele.
— Não estou esperando nenhum telefonema, aquilo foi só uma desculpa para
poder vir embora.
— Mas eu... preciso atender. — Pegou o fone. — Aqui é Caroline... Rawlings.
Projeto Revisoras 57
Sabrina 91 - Paixões desenfreadas - Carole Mortimer
— É do chalé do sr. Rayner? — Voz feminina, suave e sexy. Caroline sentiu um frio
na espinha ao entregar o fone a André. — Para você — disse sem entusiasmo. — Menti-
roso! Então não havia nenhum telefonema, não é?
Ele arrancou o fone das mãos dela, brusco.
— Olá, Sylvia. Não, não esqueci que você ia telefonar. Quem atendeu o telefone?
— Olhou para Caroline. — A moça com quem estou dividindo o chalé. Não, não é nada
disso. — Deu uma risada. — Por que está sempre pensando o pior?
Caroline ia sair da sala, quando ele a chamou.
— Onde vai? — perguntou, impaciente. Tinha a mão sobre o fone e olhava para ela
com os olhos ainda inflamados de paixão.
— Para o meu quarto, dormir. Sozinha.
— Já vou desligar, espere um pouco...
— Você é mesmo cara-de-pau! — gritou, furiosa. — Pode continuar falando com a
sua namorada e não me amole!
— Carol! — Suspirou.
Ela saiu sem responder. Que descaramento! Era muita pretensão da parte dele
pensar que ela ia esperar ele falar com uma das namoradas...
Estava na cama há mais ou menos cinco minutos quando ouviu os passos dele na
escada. Sem bater ou chamá-la, ele foi entrando, sem dar a mínima confiança para a
indignação dela. Caroline atirou o livro que estava lendo sobre o cria- do-mudo e sentou-
se, na defensiva.
— O que está fazendo aqui? — A voz soou enérgica, mas por dentro ela estava
tremendo de medo.
Ele olhou em volta, interessado, e, depois de examinar cada detalhe do quarto,
cravou os olhos nela.
— O que você acha que estou fazendo aqui? — perguntou com voz suave.
— Já disse que não quero, especialmente depois...
— Depois de uma conversa sem importância com a minha secretária. Sylvia é
minha secretária, sim, e muito competente, aliás. Sabia que ela ia telefonar qualquer dia,
mas não esperava que fosse agora à noite. Parece que tentou falar comigo o dia todo.
— Que importância tem isso agora? Aconteceu e pronto. O encanto se quebrou.
— Sua covarde! — Sorriu com desprezo. — Por que não admite que não iria
mesmo para a cama comigo e que, de qualquer jeito, arranjaria um meio de escapar?
Uma provocadora, isso é o que você é!
— Mentira! Nunca disse, nem dei a entender, que iria para a cama com você!
— Nem precisava. Nem por um momento você resistiu. Não admira que Matt não
esteja se preocupando comigo, ele sabia que eu não ia conseguir nada com você. Você
provoca os homens, enche-os de desejo e depois esfria. — Olhava para ela com
desprezo. — Não sente nada, não é, Caroline? Tem uma beleza e um corpo tentadores,
mas quando chega o mo-mento não tem nada para dar a um homem, é fria como gelo!
Caroline ouvia, boquiaberta.
— Costuma explicar sempre assim suas incapacidades Acusando a mulher?
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— Bobby parece mais feliz junto dos irmãos — observou Caroline, sorrindo para
Brian.
— Fiquei contente por você ter vindo hoje.
— Vim para me despedir. Vou embora amanhã. — Sentia realmente ter que se
afastar de Brian, tinha passado bons momentos com ele.
— Por que vai embora? — Brian agarrou-a pelos ombros. — Pensei que estivesse
de férias.
— Não é bem isso, vim só por alguns dias. Só que... bom, não está dando certo
dividir o chalé com André, não estamos nos entendendo bem.
— Sei. — Ele ficou pensativo por uns momentos, depois abriu a porta da cozinha
para ela. — Ontem à noite, tive a impressão de que estavam um pouco irritados um com o
outro.
— Um pouco não... muito. Tentei ignorá-lo, mas não consegui. — Não só não
conseguia ignorá-lo como sentia que ele estava se tornando parte de sua vida, uma parte
à qual não queria renunciar. Mas renunciaria! De volta a Londres faria o possível para tirá-
lo da sua vida, voltaria a sair com os antigos amigos e recomeçaria tudo outra vez.
— Precisa mesmo ir embora? Você podia... ficar aqui co-nosco — sugeriu Brian,
ansioso. — Eve ficaria feliz por ter companhia e eu... eu...
— Obrigada, Brian. — Tocou de leve o braço dele. — Mas não posso aceitar.
Preciso mesmo voltar a Londres, tenho alguns compromissos lá.
— Mas vai voltar aqui?
— Não sei, duvido.
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CAPÍTULO VII
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— Não gosto do que ouvi falar — corrigiu André. — Como não a conheço
pessoalmente, não posso dar uma opinião concreta. Mas tenho a impressão de que é
uma garota mimada que precisa de uma boa lição.
— E acha que é o homem certo para isso? — perguntou, sarcástica. Com efeito,
onde ele teria obtido aquelas informações?
— Por que não? Nas circunstâncias apropriadas.
— Imagino quais sejam essas circunstâncias...
— Bem, isso não importa agora. Escute, o fato de eu ser Greg Fortnum faz alguma
diferença para você?
— Claro, fica muito mais fácil ir embora. Sua reputação não é das melhores e não
gostaria de virar alvo de comentários.
— Que diferença faz o meu nome? De qualquer forma, você passou cinco dias com
um estranho, o que dá na mesma. Isso não parecia preocupá-la antes.
— Claro que me preocupava — respondeu, indignada. — Só não aceitava era ter
que ir embora por sua causa. Mas você precisava manter sua reputação, não é?
— O que quer dizer com isso?
— Todas as suas mentiras, a insinuação de que comigo podia ser diferente.., era
tudo um jogo. Aposto como diz a mesma coisa a todas as novas conquistas,
— Geralmente não preciso fazer isso. — Parecia entediado.
— Imagino! Só que desta vez não funcionou, André... Greg... Ah, droga! Não
gostava de você antes e gosto menos ainda agora. Greg Fortnum!
— André está bem, é meu nome mesmo...
— Por que me preocupar com Greg, então, não é? — ironizou.
— É o nome que meus clientes usam, mas minha família e alguns amigos
chegados ainda me chamam de André.
— Como não me incluo em nenhuma das duas categorias, de agora em diante vou
chamá-lo de Greg. — Desviou o olhar.
— Não vai ter muitas oportunidades de dizer meu nome, já que vai embora,
esqueceu?
— Cl... claro...
— Tinha esquecido?
— Momentaneamente. Afinal, não é todo dia que surge um Greg Fortnum em
minha vida... foi um choque. Não imaginava que alguém como você viesse passar férias
num lugar como este. Pensei que as Bahamas fossem mais apropriadas.
— Lá não tenho privacidade. Quando Matt sugeriu este chalé, achei que seria o
lugar ideal. Mas todo paraíso tem sua serpente...
— Não seja grosseiro!
— Desculpe — respondeu displicente.
— Vou arrumar as malas — anunciou Caroline, se levantando.
— Ninguém está segurando você.
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Depois de hesitar um pouco entre esbofeteá-lo ou sair correndo da sala, optou pela
segunda alternativa. Era mais seguro. Um homem como ele poderia devolver os bofetões.
Dez minutos depois, estava de volta com as malas. André... Greg estava lendo
diante da lareira.
— Já vou — anunciou Caroline.
— Boa viagem — disse Greg, virando a página do livro.
— Faz alguma diferença para você se minha viagem não for boa?
— Claro, tenho muito respeito pela vida humana.
— Mais nada? — insistiu.
— O que mais você queria? — Suspirou e deixou o livro de lado. — Se quer ir
embora, desejo-lhe uma boa viagem. O que mais quer que eu diga?
— Nada, eu acho. — Caroline já ia abrir a porta quando sentiu que ele tinha se
aproximado.
— Carol... — Segurou-a pelos ombros e fez com que se virasse para ele. — Quer
mesmo ir?
— Preciso ir.
— Não precisa fazer nada que não queira. Se quer ficar, fique; se quer ir, vá. Mas
não espere que eu suplique a você que fique.
— Nem esperava isso de você.
— Vá ou fique, mas, pelo amor de Deus, decida logo. — Tirou as mãos dos ombros
dela e se afastou um pouco. — Nunca vi você tão insegura para tomar uma decisão.
Desde o começo, decidiu que não gostava de mim; e acho que não fiz nada para mudar
isso.
— Não, não fez. — Ele não tinha feito nada, mas ela sim. Tinha se apaixonado por
ele!
— Então é melhor ir.
Caroline foi, acelerando furiosamente o carro antes de colocá-lo em movimento.
Como conseguiu encontrar o caminho de casa, não sabia, pois só percebeu onde estava
quando estacionou diante do apartamento.
Jã estava escuro, embora ainda fossem seis horas. Era muito cedo para encontrar
o pai em casa. Talvez fosse até melhor. Ainda estava muito nervosa e não queria
despejar toda a raiva em cima do pai assim que ele colocasse o pé na porta.
Maggie, ouvindo a porta, veio ver quem era.
— Sou eu, Maggie. A filha pródiga retorna à casa.
— Caroline! — A velha governanta ficou felicíssima. — Graças a Deus você voltou.
— Papai tem sido mais insuportável do que já é? — Pelo alívio de Maggie, Caroline
podia imaginar. Geralmente era Caroline que interferia nos desentendimentos dos dois. E,
embora o pai vivesse ameaçando mandar a governanta embora, tinha certeza de que ele
jamais faria isso. Os dois a amavam demais para viver sem ela.
Maggie sorriu. Seu rosto, apesar de envelhecido, ainda guardava os belos traços
da juventude. Maggie era a mãe que ela nunca teve, e foi para o colo dela que correu
quando viu fracassar seu primeiro caso amoroso, aos doze anos de idade. Foi também
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para ela que exibiu orgulhosa, o primeiro vestido de baile e o primeiro namorado de
verdade.
— Seu pai tem estado um pouco irritado com a sua au-sência. Disse que você
estava no chalé.
Caroline entrou no quarto e atirou a mala em cima da cama.
— É muito frio lá, nesta época. — Maggíe tremeu. — O que ficava fazendo de
divertido?
Caroline segurou a gargalhada. Divertimento era o que não tinha faltado àquele
passeio.
— Conheci um casal que vive numa fazenda vizinha. Saí com o rapaz algumas
vezes.
Maggie franziu a testa e veio ajudar Caroline.
— A esposa dele não fez objeções?
— Ela não era esposa dele. — Dessa vez, Caroline riu com vontade, divertida com
a expressão escandalizada de Maggie. — Maggie, tenha dó! Era irmã dele.
— Ah, claro. É que seu pai estava fazendo ameaças horríveis a um homem,outro
dia, e pensei...
— Devia estar se referindo ao sr. Fortnum, Maggie. Você sabe dos planos de
papai.
— Por que ele não deixa que você mesma escolha com quem quer se casar? —
Cruzou os braços. — Não pude deixar de dizer a ele o que pensava.
— Você fala demais, Maggie. — Caroline sorriu. — É por isso que discutem tanto.
— Discutimos porque ele é muito teimoso.
— E você é muito teimosa. — Era bom estar de volta à vida de sempre, bom estar
longe de Greg Fortnum.
— Pode ser, mas tenho certeza de que ele vai ficar con- tente com a sua volta. Eu
também estou muito feliz. Não
é nada divertido cozinhar para uma pessoa só, muito menos para alguém tão
enjoado como seu pai.
Sim, realmente era muito bom estar de volta. Caroline sorriu para Maggie.
— Não conte com isso, ele não vai ficar nem um pouco satisfeito em me ver de
volta.
— Não?
— Não. — Não a perdoaria por ter atrapalhado seus planos.
— Bom, se você está dizendo... — Deu uma olhada no relógio. — Ele vai chegar
logo. Vou terminar o jantar.
— Não se preocupe comigo, Maggie, não estou com muita fome. — Tinha perdido
o apetite e achava que seu pai também não ia ter muita fome depois que ouvisse o que
ela
tinha para dizer.
— Vai comer o que eu puser na sua frente — ordenou Maggie, severa. — Aqui não
servimos refeições ligeiras.
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Caroline desejava poder esquecer o assunto com a facilidade do pai, mas não
conseguia. Não conseguia esquecer André. E nem pensava nele como Greg. Para ela,
seria sempre André.
Nos seis dias que se seguiram, tentou desesperadamente esquecê-lo, indo a festas
e saindo para fazer compras. Há quatro dias da sua chegada, já não aguentava de
saudade e tudo que queria era voltar para o chalé. A maquilagem já não conseguia
esconder a palidez do seu rosto, nem as olheiras profundas.
— Pela sua aparência, Caroline, está precisando urgentemente de umas férias —
dizia Esther, preocupada com a amiga.
— Acabei de voltar de umas férias — respondeu Caroline, tomando um gole de
café.
— Que pelo jeito não ajudaram muito. Parece cansada e desinteressada de tudo.
Por que não pede a seu pai que a mande passar uns tempos nas Bahamas? Você precisa
de sol.
— Preciso do André! — gritou Caroline, derrubando a xícara.
— André? — Caroline tinha se recusado a falar dos dias que passou no chalé, mas
Esther sentia que a amiga estava com problemas sérios.
— André Gregory Fortnum! — explodiu Caroline, cuja raiva não tinha diminuído.
— Greg Fortnum?
— Isso mesmo.
— E daí?
— Estive com ele no chalé. — Não conseguia mais esconder a verdade da amiga.
— No chalé?
— Foi tudo culpa de papai — continuou, zangada. — Ele exigiu que eu voltasse
para casa, porque sabia que eu faria exatamente o contrário. E durante todo o tempo
soube que eu estava lá com aquele odioso Greg Fortnum. Nunca vou perdoá-lo!
— Explique desde o começo, Caroline — interrompeu Esther, com delicadeza. —
Não estou entendendo nada.
Ouviu com paciência a explicação nem sempre muito clara de Caroline e, no final,
tinha os olhos arregalados.
— Então ficou todo o tempo com Greg Fortnum?
— Não o chame assim! — Contraiu-se, como se aquele nome a ferisse. — O nome
dele é André.
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— O que sente por ele agora? — Esther tentou não parecer muito interessada na
resposta.
— O que acha que posso sentir por ele? — gemeu Caroline.
— Você sabe minha opinião sobre Greg Fortnum. Eu não queria nem conhecê-lo. É
um devasso, um completo devasso!
— E André?
— André... — Depois do espanto, Caroline deu de ombros.
— Eles são a mesma pessoa.
— Não para você. — Esther sorriu. — Seja razoável, Caroline. Sei que é difícil,
mas tente! Se não conhecesse a reputação dele por intermédio de outras pessoas, o que
pensaria de André? Todo seu conhecimento dele, afinal, se baseia na opinião de outras
pessoas.
— Ora, nada...
— Então... — raciocinou Esther, satisfeita.
— Mas papai vive dizendo que ele é impiedoso.
— Claro que é, todos os homens de negócios são. Seu pai também, mas isso não
impede que você o ame.
— Não amo An... Greg Fortnum!
— Eu sei. Mas... e André?
Caroline parou de fingir e admitiu a derrota.
— Tem razão, eu o amo... gosto muito dele. É tão diferente dos outros! Mas
discutimos quase o tempo todo. E não foram discussões agradáveis, não.
— Isso é natural, já que ambos têm personalidade forte.
— Isso ele tem. — Sorriu, triste. — Mas também é muito atraente.
— Já vi fotografias dele.
— Quem dera que eu tivesse visto também! Evitaria todo esse sofrimento. Teria
vindo embora assim que o visse. E pensar que só fiquei lá para dar uma lição àquele
maldito! Não sei quem lhe deu as informações, mas tem uma péssima impressão de mim.
— Você também tem uma péssima impressão dele, portanto... Acho que vocês
conseguiram as informações no mesmo lugar. Foi por causa da opinião que ele tinha de
você, que trocou de sobrenome?
— Foi. — Caroline mordeu um biscoito, distraída. — Não disse a ele quem eu era.
Achei que não valia a pena.
— Pois eu acho que era muito importante. Ora, Caroline! — repreendeu-a. — Não
percebe que ele desprezava você, porque imaginava que fosse outro seu relacionamento
com Matt? E depois, eu não acredito que era só isso que ele sentia por você. — Riu.
Caroline lembrou das confidências que tinha feito à amiga e corou.
— Não... acho que não. Mas não ia dar certo, Esther. Você sabe minha opinião
sobre o amor e o casamento! Não admito ter um caso com alguém, não importa o quanto
ele seja atraente. Quero um casamento normal e feliz como o seu. Foi por isso que nunca
tive nenhum desses casos superficiais que a maioria das pessoas acha tão divertidos.
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— Tem certeza de que ele só queria ter um caso com você? Pelo que me contou,
ele parecia achar você... irresistível.
— A atração era mútua, e ele praticamente disse que se uma mulher não estivesse
disposta a lhe dar tudo, então não queria nada.
— Não acredito.
— Foi exatamente o que ele disse, Esther — insistiu Caroline.
— Exatamente?
— Bom... quase. A diferença foi pequena. Portanto, aqui estou eu de volta a
Londres e detestando cada minuto.
— Por que não volta ao chalé e conversa francamente com ele?
— Acho que não temos mais nada a dizer. Já dissemos até demais.
— Não é melhor tentar do que ficar aqui sofrendo?
— Não posso, eu acabaria fazendo o que não quero. Você não sabe como ele é
persuasivo... Eu me derretia nas mãos dele, cada vez que me beijava. É tão... tão
arrasador!
— Acredito — disse Esther. — Percebi pelas fotos e até já cheguei a me
entusiasmar um pouco por ele.
— Acho que John não gostaria de saber disso. Eu... Alguém entrou
inesperadamente na sala e a expressão
indignada de Esther iluminou-se ao ver o irmão.
— Nick! O que está fazendo aqui?
— Que bela recepção! — brincou, antes de dar um beijo em cada uma. — Minhas
duas mulheres favoritas.
Sem querer, Caroline riu daquela tirada espontânea. Com vinte e sete anos, Nick
Hall não escondia seu amor pela vida e por tudo que ela tinha para oferecer. Era relativa -
mente alto, tinha cabelos escuros e pele morena, e se vestia impecavelmente.
— O que está fazendo aqui a esta hora? — perguntou sua irmã, curiosa.
— Mas que abelhuda, não é mesmo, Caroline? — Não se perturbou com a
curiosidade da irmã. — Meu cunhado John me deu a tarde de folga.
— Isso quer dizer que você inventou um pretexto qualquer para sair, e ele não teve
coragem de negar, como sempre. — Franziu a testa, reprovando-o. — Quer dizer também
que ele vai voltar tarde para casa — acrescentou, zangada. O marido e o irmão de Esther
dividiam o escritório, mas John conseguia um número muito maior de clientes do que
Nick.
— Acalme-se, irmãzinha. — Acariciou-a no rosto. — John mandou dizer que estará
em casa às cinco e meia, como sempre.
— Ele sabia que você vinha aqui?
— Claro que sabia. — Nick se serviu de café e bolacha. — Não estava muito
ocupado, e como sabia que Caroline vinha aqui hoje, resolvi dar uma chegadinha. Há
séculos que não nos vemos. — Sorriu para Caroline.
— Não exagere, Nick. Nós nos encontramos na festa de Hazel outro dia.
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— Não é assim que gosto de me encontrar com você. Por que não jantamos juntos
para conversar um pouco?
— Eu acho que não...
— Seria bom para você, Caroline — interrompeu Esther.
— John e eu conhecemos um ótimo restaurante outro dia...
— Obrigado, Esther — o irmão interrompeu-a, seco. — Caroline e eu podemos
decidir sozinhos. Já pensei num restaurante que vai agradar a ela.
— Não mesmo, Nick. — Sacudiu a cabeça. — Não vou ser boa companhia e não
quero estragar sua noite.
— Você não vai estragar minha noite. Sou a pessoa indicada para animá-la, se
está deprimida — insistiu.
Os quatro já tinham passado ótimos momentos juntos, embora ultimamente não se
vissem muito. Nick era um ótimo amigo, por isso não queria inflígir-lhe uma noite
desagradável.
— Não se ofenda, Nick. Não sei se estarei na cidade amanhã.
— Afinal, por que tinha dito aquilo? Não tinha a menor intenção de viajar... pelo
menos não tinha, até alguns minutos atrás. O inconsciente parecia ter tomado a decisão
por ela. E por que não? Por que negar que queria ver André de novo?
— Não pode viajar outro dia? — O rosto de Nick revelava desapontamento. — Há
tanto tempo que quero ver você.
— Está me vendo agora, seu bobo. — Riu do interesse dele. — Não vou para casa
agora.
Conversaram por mais duas horas e, depois, Caroline se despediu, recusando o
convite para jantar com eles. Agora que tinha decidido voltar ao chalé, não via a hora de
partir. André não tinha pedido a ela que fosse embora, ela que quis ir. Portanto, não havia
por que não voltar.
Teve problemas para aclamar a própria consciência, E se André insistisse em ir
para a cama com ela, teria forças para resistir? Agora, já duvidava. Afinal, tinha acabado
de dizer a Esther que não ia voltar ao chalé e já tinha mudado de idéia. E isso vinha
acontecendo nos últimos seis dias; mudava de idéia a todo momento, sem saber jamais o
que queria realmente.
Até a hora do jantar, já tinha mudado de idéia umas doze vezes. Percebeu o olhar
curioso do pai e deu um sorriso feliz, o que só contribuiu para aumentar a preocupação
dele. — Qual é o problema, Caroline?
— Problema? — Ela fez força para parecer surpresa. — Que problema?
— É o que quero saber. — Suspirou. — Não tente desconversar, quero uma
resposta direta.
— Não sei do que está falando — fingiu. — Estou ótima.
— É mesmo? — Sorriu com ironia. — É por isso que não tem comido nada e passa
as noites em claro?
— Tenho dormido e comido muito bem. — Ficou vermelha com a mentira.
— Claro, você sempre comeu como um passarinho e sempre se satisfez com duas
ou três horas de sono, não é? Vamos, Caroline! Está falando com seu pai, não com
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Maggie ou Esther, que acreditariam nas suas desculpas. Conheço você muito bem e não
sou cego, não está em seu estado normal desde que voltou do chalé.
— Não invente coisas. — Evitou o olhar dele. — É o tempo que está me deixando
deprimida.
— Em outra ocasião, acreditaria em você. Mas agora não. O problema é com Greg,
não é? Alguma coisa aconteceu no chalé e você está com medo de me contar.
— Claro que não! Não fiz nada de que possa me envergonhar, nada! — Os olhos
dela brilharam, zangados. — Vim embora assim que soube quem ele era.
— Quem ou o que ele é não tem nada a ver com o que você sente por ele. O que
sente por ele, Caroline? Diga a verdade.
— O que posso sentir por ele? — Empurrava a comida pelo prato, sem conseguir
comer. — Ele é Greg Fortnum, um canalha e totalmente imoral.
— E daí? — Matt riu. — Isso não impede que as mulheres se apaixonem por ele.
— A mim impede.
— Está me enganando e está se enganando também. Gosta dele muito mais do
que quer admitir.
— Não gosto!
— Gosta sim, Caroline. Seja sincera para...
— Está bem — disse ela com firmeza.
— Ótimo. Gosto de Greg, mas não vou permitir que se aproveite da minha filha. Eu
o aceitaria como genro, mas qualquer outro relacionamento está fora de questão.
— Casamento também está. — A conversa estava começando a ficar embaraçosa.
— O que acharia se eu voltasse ao chalé por uns dois dias? — Mal conseguia respirar,
aguardando a resposta.
— O mesmo que da outra vez. — Encolheu os ombros, — Lá faz frio demais nesta
época do ano. Fora isso, não faço objeções.
— E André?
— O que tem André?
— Não se importa que eu fique com ele?
— Não vai ficar, ele não está mais lá há muito tempo. Viajou para a Europa e
depois vai para os Estados Unidos. Telefonou agradecendo pelo chalé e pelas
amenidades... acho que incluiu você nas amenidades — acrescentou, sombrio.
CAPÍTULO VIII
A noite com Nick não foi exatamente um sucesso, como ela previa. Como podia rir
e se divertir, sabendo que, para o homem que amava, era apenas uma amenidade? Foi
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um choque para Caroline descobrir que André não estava mais no país. Se continuasse
hospedado no chalé, sempre haveria a possibilidade de ir até lá ao encontro dele. Mas
agora as esperanças estavam todas mortas.
Seguiu Nick até a mesa, depois de dançarem toda uma seleção,
— Isto aqui está lotado hoje.
— Tem razão. — Nick correu os olhos pela multidão que lotava a boate. — Fez
uma careta de desagrado. — Se soubesse que tinha se transformado num lugar tão
movimentado, não teria trazido você aqui.
— Não tem importância. — Tocou de leve a mão dele. — Adorei o restaurante. —
Era um restaurante italiano, muito especial.
— Está muito quieta esta noite, Caroline — comentou Nick, tomando um gole de
champanhe.
— Não, estou ótima. — Na verdade, estava um pouco melhor.
— Ora, Carol, conheço você e...
— Não me chame de Carol! — Quase se descontrolou e seus olhos brilharam de
raiva. — Não me chame de Carol, Nick — repetiu, mais calma. — Nunca me chamou
assim antes e não gosto do apelido.
— É mesmo? — Ele a observava atentamente. — Pois me pareceu o contrário.
— Não comece um interrogatório!
— Agora tenho certeza de que alguma coisa está errada com você. — Nick deu
uma risada. — Não minta, quem mais a chama de Carol?
— Ninguém. — Desviou o rosto.
— Está bem, quem costumava chamá-la?
— Por favor, Nick. — Apertou a cabeça entre as mãos. — Estou com dor de
cabeça, será que podemos ir?
— Seu eu prometer não tocar mais no assunto você fica mais um pouco?
— Não, estou com dor de cabeça mesmo, Nick.
— Está bem, então vamos. — Levantou-se e fez um sinal ao garçom para trazer o
casaco de Caroline,
— Desculpe se estraguei sua noite — disse Caroline, já no carro. — Eu o preveni
antes.
— É. — Sorriu. — Quem é o homem?
— Você prometeu que não ia tocar mais no assunto.
— Só se você tivesse ficado um pouco mais... lembra-se? Não fuja do assunto, sou
quase seu irmão. Qual é o problema?
— Parece que várias pessoas resolveram me dizer isso nos últimos dias. — Sorriu
com tristeza.
— Minha irmãzinha? — desconfiou. — Interrompi alguma conversa importante de
vocês, naquele dia? Pelos olhares que ela me lançou, acho que cheguei num momento
bastante impróprio.
— E possível — admitiu Caroline.
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Sabrina 91 - Paixões desenfreadas - Carole Mortimer
Depois da noite desastrosa com Nick, decidiu não sair enquanto não recuperasse o
autocontrole. O que havia acontecido à confiante Caroline Rayner, que até duas semanas
atrás não se deixaria afetar por homem algum? O que tinha acontecido à Caroline, fria e
racional, que sempre enfrentava os problemas de cabeça erguida? Tinha se recolhido
Projeto Revisoras 73
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para uma concha, dentro dela mesma. Mas iria lutar contra aquela angústia que a
dominava. Sentia uma pontada no coração cada vez que pensava em André. Tinha se
apaixonado pela primeira vez na vida e não ia ser fácil esquecer esse amor.
Passava horas no estúdio, trabalhando no retrato de André. Estava ficando bom e
ela precisava reconhecer que era o melhor que já tinha feito. Ainda guardava na memória
o tom exato da pele e dos olhos dele e vivia perseguida pelos traços fortes daquele rosto
irônico.
Mais uma vez Caroline cobriu a tela com um pano e deu as costas àqueles olhos
verdes que pareciam penetrá-la. Maldito Greg Fortnum! Iria tirá-lo da cabeça, nem que
levasse a vida inteira.
Ela estava sentada na sala, vendo televisão, quando seu pai chegou do escritório.
Estava mais atrasado que normalmente, mas Caroline não fez nenhum comentário e
continuou olhando para a tevê, que na verdade não a interessava nem um pouco.
— Boa noite, Caroline. Não se preocupa mais nem com pequenos hábitos de
educação?
— Boa noite, papai — respondeu, obediente, sem ao menos levantar a cabeça.
Ele bateu a porta com força e ela levantou a cabeça, assustada. O rosto dele
estava contraído.
— Até que enfim consegui que me olhasse, embora quase tenha destruído a porta!
Não acha que já é tempo de voltar ao reino dos vivos? Já estou ficando cansado de olhar
para a sua carranca.
— Desculpe — murmurou Caroline, levantando. — Vou para o meu quarto.
— Vai sentar e me ouvir! — explodiu o pai. Percebeu, satisfeito, que ela obedecia.
— Já jantou? — perguntou, notando que a roupa da filha estava mais larga na cintura.
— Não estava com fome.
— Você nunca mais teve fome. Exijo que pare com isso, Caroline. Tem andado
pela casa como um fantasma o dia todo. Não saí mais, não vê ninguém, deixou
totalmente de lado a vida social. Já basta, não quero que isso continue.
— É mesmo? — Não havia o menor interesse na voz dela, seus olhos tinham
perdido o brilho de antes.
— É — respondeu com firmeza. — Agora vai jantar co-migo e depois vamos sair.
— Sair? — espantou-se.
— Sair.
— Onde é que vamos?
— Babs vai dar uma festa esta noite.
— Você não gosta dessas festas.
— Sei — concordou, impaciente. — Mas, se é a única forma de tirá-la de casa, eu
vou. Além disso, gosto de Babs.
— Ela também gosta de você.
— Nada de bancar o cupido esta noite, Caroline! — Matt suspirou. — Desde os
seis anos de idade, quando percebeu que não tinha mãe, como todas as outras meninas,
vem tentando encontrar uma mulher para mim. Não preciso de mulher e acho que já é um
Projeto Revisoras 74
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pouco tarde para pensar em mãe para você. Embora no momento você pareça estar
precisando de uma!
— O que quer dizer? — Ficou sem jeito e afastou o cabelo que caía sobre a testa,
desarrumado.
— Olhe para o seu estado! — Se serviu de uma dose de uísque. — Não se cuida
mais e há séculos não a vejo bem vestida e maquilada. Veja esse cabelo, parece uma
vassoura!
— Está sujo.
— Então lave-o! Vamos, Caroline, mexa-se. Temos que sair no máximo dentro de
uma hora, e não pretendo levá-la a parte alguma com essa cara.
— Não quero ir, estou muito bem aqui.
— Não me interessa se está bem ou não, você vai comigo! Vá lavar —a cabeça e
depois venha jantar.
— Mas, papai, eu...
— Vá, Caroline! Já estou perdendo a paciência com você. Vai sair esta noite e não
tem discussão. Agora mexa-se.
Caroline subiu. Conhecia muito bem o pai e sabia que não valia a pena discutir
com ele quando estava de mau humor. E talvez ele tivesse razão. Analisou o próprio rosto
no espelho: parecia um fantasma. O cabelo não via água e escova há muitos dias e o
rosto precisava de uma boa limpeza e de um hidratante.
Por que estava se destruindo daquele jeito? Está certo amava André, mas não era
com essa aparência que ia conquistá-lo, se é que algum dia ia vê-lo outra vez. Nunca
tinha se encontrado com ele nas reuniões que costumava frequentar, por que iria
encontrá-lo agora?
O pai abriu a porta do banheiro e encontrou-a parada na frente do espelho.
— Ande logo, Caroline. Não adianta fazer hora, porque vai comigo de qualquer
jeito, nem que precise esperá-la até meia-noite.
— Não serei boa companhia, papai.
— Pode ficar sentada num canto a noite toda, se quiser. Mas vai comigo.
— Está bem, papai — suspirou, resignada.
— Não há... — hesitou um pouco. — Não há nada que queira me dizer, não é?
— O quê, por exemplo?
— Bem... não está doente... ou coisa parecida? — Parecia não ter coragem de
encará-la.
— Doente? — A princípio não entendeu, mas depois percebeu que ele estava
querendo saber se estava grávida. — Não, não estou doente...
— Desculpe, mas eu tinha que perguntar — Matt se desculpou, confuso. — Pensei
que você estivesse com medo de me contar, afinal, não é assunto para uma moça discutir
com o pai.
— Não aconteceu nada, papai — ela garantiu.
— Então até já. — Ele sorriu, aliviado.
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Uma hora mais tarde, estava mais parecida com a antiga Caroline. Os cabelos, já
limpos, caíam em ondas suaves sobre os ombros e em torno do rosto. Usava um vestido
preto de chifon, sem alças, que caía muito bem sobre sua pele bronzeada. A perda de
peso tinha acentuado seu busto, dando-lhe um ar ainda mais sensual.
— Você está linda, boneca — murmurou o pai, quando já iam entrando na casa de
Babs, num dos bairros mais elegantes de Londres.
— Vou melhorar, papai, não precisa se preocupar. — Sem dúvida alguma, estava
se sentindo melhor, e estava grata ao pai por isso. — Toda moça sempre tem uma paixão
não correspondida na vida.
— Mas, no seu caso, foi culpa minha. Podia ter evitado todo esse sofrimento se
tivesse dito a você quem era André. Fui arrogante e egoísta, pensando que tudo sairia
conforme os meus planos e que vocês gostariam um do outro.
— Vamos esquecer isso, papai. — Virou-se para ajeitar a gravata dele. — Vamos
enfrentar a multidão.
Riu da expressão dele, que geralmente se recusava a ir a essas festas.
Provavelmente não encontraria muitos amigos ali, pensou Caroline, já que a festa era
promovida por Babs Lerner, mulher quase da idade do pai. Caroline gostava muito dela e
há tempos já tinha perdido a esperança de tê-la como madrasta.
Foi ainda dando risada do mau humor do pai que se viu frente a frente com André.
Um André diferente, vestido de maneira mais formal, com um terno creme e camisa mar -
rom. Daí a um instante ele também a viu e pareceu querer
atravessá-la com o olhar.
O sorriso morreu nos lábios de Caroline, que empalideceu sob a maquilagem. E
pensar que acreditava que jamais iria vê-lo outra vez! Agarrou o braço do pai,
desesperada, percebendo a ligeira inclinação de cabeça com que ele cumprimentou o
amigo.
— Sabia que ele estaria aqui? — gaguejou, zangada, desviando os olhos do rosto
zombeteiro de André.
— Como é que eu podia saber?
— Sabia, não tente negar — repetiu, vendo que o rosto do pai estava ligeiramente
corado. — Não consegue esconder de mim quando está mentindo, você agora está na
defensiva.
— Pode ser que esteja na defensiva, mas porque sou inocente — insistiu, sorrindo
para as pessoas que passavam.
— Não é nem um pouco inocente — afirmou com segurança.
— Como pôde me fazer uma coisa dessas? — perguntou com a voz entrecortada.
— E depois de me pedir desculpas!
— Não faça cena, Caroline. — Pegou dois copos de um garçom que passava e
estendeu um a Caroline, — Beba um pouco de champanhe para acalmar os nervos. Vou
procurar a anfitriã para cumprimentá-la.
— Mas... — Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, se viu sozinha e à mercê
dos próprios pensamentos. Ficou gelada só de pensar que, a qualquer momento, podia
dar de cara com André. Que crueldade!
Antes mesmo de vê-lo, sentiu a presença dele como uma corrente elétrica. —
Caroline.
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Observou-os sair, tão perdida na própria tristeza que nem notou a aproximação do
pai.
— Qual é o problema. — perguntou ele preocupado.
— André foi embora — explicou com voz apagada.
— Pensei que isso fosse alegrá-la.
— Falou comigo antes de sair. — Sentiu um calafrio, embora o ambiente estivesse
bem aquecido. — Estava com Lisa Young.
— Humm... Eles são amigos há algum tempo. — Segurou-a pelo braço. — Venha
cumprimentar Babs, ela perguntou por você.
— Quero... quero ir embora.
— Não precisa! André não está mais aqui.
— Eu... eu...
— Vamos ficar, Caroline. Pensei que tivesse lhe ensinado boas maneiras. Você
ainda nem cumprimentou a dona da casa — insistiu, zangado.
— Por favor, papai!
— Lembre-se de onde está Caroline — ele advertiu. — Lembre-se de quem é.
— Está bem — suspirou. — Você ganhou. Onde está Babs? Matt sorriu, triunfante.
O choque que ela tinha sofrido
ao ver André já estava se desvanecendo, e talvez agora tudo voltasse ao normal.
Aquele encontro tinha sido necessário para obrigá-la a reagir. Embora Matt não tivesse
certeza da presença de André, tinha bons motivos para acreditar que ele estaria na festa.
Um conjunto tocava na outra sala e, depois de cumprimentar Babs, Caroline
aceitou um convite para dançar. Conhecia o rapaz e já haviam se encontrado umas duas
vezes. Embora sem muita vontade, dançou com ele e com mais alguns. Aceitou o convite
de um rapaz desconhecido, mas logo se arrependeu, percebendo que ele tinha bebido
demais. Ele a segurava com força e passava a mão úmida pelas costas nuas de Caroline,
que, por mais força que fizesse, não conseguia afastá-lo. Tinha a força de doze homens,
e Caroline já estava ficando desesperada quando alguém o arrancou dos braços dela com
violência.
Levantou os olhos e viu André, visivelmente irritado. Mas a raiva e o desprezo que
lia no rosto dele não importavam. Tudo que interessava a Caroline era que André estava
de volta, e sozinho!
CAPÍTULO IX
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— Não sabia que estava invadindo seu território, Greg, meu velho — gaguejou
Dan, assustado com a fúria do outro. — Pensei que seu caso fosse Lisa.
— Agora já sabe que não é — murmurou André por entre os dentes. — Vá logo
tomar seu café.
Caroline esperou que o rapaz se afastasse e virou-se para André.
— Precisava humilhá-lo daquele jeito? — perguntou, indignada.
André a segurou com força pelo braço e conduziu-a para longe dos olhares
curiosos que tinham se voltado para eles durante a discussão. Felizmente seu pai não
estava por perto, ele não teria gostado nem um pouco do episódio.
— Se não estivéssemos num lugar público, teria feito bem mais que humilhá-lo.
Como é que você permite que ele tome tais liberdades? E Matt, onde está que não toma
uma atitude?
— Está por aí, conversando com Babs — respondeu, displicente, observando
disfarçadamente o rosto de André, contraído de raiva.
— Pois devia vigiar melhor o que é dele. E você, como pode permitir que aquele
rapazinho passe as mãos pelas suas costas daquela maneira?
— Ele estava muito bêbado, mas tenho certeza de que vai se desculpar da próxima
vez que nos encontrarmos.
Ele correu o olhar pelo corpo sensual de Caroline, enfu-recendo-se ainda mais.
— E esse maldito vestido. Não é de admirar que metade dos homens desta festa
estejam com os olhos pregados em você.
— Só a metade? — perguntou, provocante. Como resposta a mão dele apertou
com força o braço dela.
— Você devia ser presa — murmurou no ouvido dela.—
Presa num lugar onde só eu pudesse vê-la. — Arrastou-a em direção à porta. —
Vamos embora.
— Não posso — protestou Caroline. — Vim com... Matt. — Aquele não era o local
nem o momento apropriado para contar que era filha de Matt. — Não posso sair sem dizer
a ele onde vou... ou com quem vou.
— Carol! — No olhar dele Caroline percebeu um brilho de paixão. — Quero ficar a
sós com você — insistiu.
— Preciso dizer a Matt que vou embora, caso contrário ele ficará preocupado.
— Está bem, está bem — concordou, impaciente. — Então vamos logo, para
podermos sair daqui de uma vez.
— Não sei se devo ir, André. — Parou outra vez, — Seu estado de espírito não
parece dos melhores.
— Estado de espírito?
— Está zangado e aborrecido com alguma coisa e não quero servir de bode
expiatório. O que foi que aconteceu? Lisa Young chamou sua atenção por conversar
comigo?
— Do que está falando, Caroline? O que é que Lisa tem com isso?
— Tudo, eu acho. — Não conseguia conter o ciúme. — Não é sua namorada?
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— Era — respondeu, seco. — Não vou explicar nada no meio dessa multidão. Lá
está Matt. — Fez um sinal com a cabeça em direção à sala de estar.
Quando encontraram Matt, Caroline já aceitava resignada à idéia de ir com ele,
pois sabia que André não era homem de desistir diante dos obstáculos.
— Matt — chamou. Os olhos do pai se arregalaram de espanto ao ver os dois
juntos, — Matt. Caroline vai embora comigo.
— Agora? Caroline, o que acha disso? — perguntou, tecendo que a filha estivesse
indo contra a vontade.
— Bem, eu... — Olhou para o rosto firme de André duvidando.
— Ela vai comigo, Matt — insistiu André, decidido.
— Caroline é perfeitamente capaz de decidir — respondeu Matt, lançando um olhar
frio a André.
Caroline olhou de um para outro, sem saber o que decidir. Queria ir com André,
mas ao mesmo tempo tinha medo.
— Eu...
— Não é obrigada a ir, Caroline — observou o pai, solícito. — Veio comigo e pode
voltar comigo.
Naquele momento Caroline chegou à conclusão mais importante da sua jovem
existência. Durante toda a vida tinha dependido do pai, e, apesar das brigas e discussões,
era para ele que corria sempre que precisava de apoio. Essa dependência não podia
continuar para sempre. Precisava começar a tomar suas próprias decisões e aquela era
uma boa ocasião.
— Vou com André — anunciou.
— Está bem — concordou o pai. — Se é o que quer, não faço objeções.
— Obrigado! — André não parecia nem um pouco satisfeito com a atitude de Matt.
Quando soubesse que Matt era pai de Caroline, talvez entendesse melhor.
Sorriu para o pai, constrangida, antes de ser praticamente arrastada para fora.
Durante o caminho até o apartamento, Caroline rezou para que a raiva de André ameni-
zasse, caso contrário teria que enfrentar maus bocados quando lhe contasse a verdade,
como planejava.
— Quer café? — perguntou Caroline, já em casa.
— Lindo apartamento — comentou André, que examinava tudo com atenção. —
Pago por Matt, sem dúvida — afirmou, irónico.
— André, Matt...
— Não vim aqui para falar de Matt.
— Mas...
— Não me interessa, Caroline!
— Mas é importante! Ele...
— Pelo amor de Deus, Caroline! — explodiu. — Não percebe que este não é o
momento para falar disso? Seu relacionamento com Matt não me interessa.
— Mas é o nosso relacionamento que é importante — insistiu, desesperada. —
Matt não é...
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— Contanto que ele fique bom, não importa o que precisaremos fazer. — Tentou
sorrir.
— Quando digo que nada mais vai ser como antes, falo sério, Caroline. Seu pai
precisa de repouso completo, longe de preocupações.
— Vou cuidar disso — prometeu ela. — Posso ver papai agora?
David obrigou-a a se sentar.
— Sente aí e escute o que vou dizer. Como seu pai está dormindo, mais dois
minutos não farão diferença. Quero que entenda a seriedade da situação, Matt...
— Eu entendo, tio David — garantiu com voz entrecortada, — Estava com ele
quando aconteceu, lembra-se.
— Sei disso. — Sentou-se ao lado dela e segurou uma das suas mãos, com
carinho. — Deve ter sido terrível para você, mas quero que saiba que podia ter acontecido
a qualquer momento. Já tinha prevenido Matt de que precisava diminuir o ritmo, mas ele
estava sempre tão ocupado, tinha tantos compromissos. Agora está numa cama de
hospital, conforme eu tinha previsto.
—Já havia prevenido papai? — Arregalou os olhos, surpresa.
— Várias vezes, nos últimos anos. — Suspirou. — Mas ele não tinha tempo para
me ouvir. — Balançou a cabeça.
Caroline sentiu um calafrio na espinha. Olhou para David, incrédula.
— Quer dizer... — não teve forças para continuar. — Quer dizer que papai sabia
que tinha problemas no coração?
— Sabia, Caroline — confirmou, delicado. — Ele sabia que, se não trabalhasse
menos ou passasse o controle das empresas Rayner para outra pessoa, isso aconteceria,
cedo ou tarde. Apostou na sorte... e perdeu.
O choque era quase insuportável. Matt sabia que estava doente, mas tinha
continuado a viver normalmente, e nem tinha dito nada a ela, sua própria filha!
— Não posso acreditar.
— Acredite, Caroline. Matt agora não tem escolha, a empresa vai ter que continuar
sem ele. Ele não pode voltar à vida de antes.
— Ele não precisa trabalhar, tem mais dinheiro do que você imagina.
— Não é pelo dinheiro que ele insistia em continuar. A empresa é dele, não podia
suportar a idéia de vê-la nas mãos de outra pessoa, com idéias diferentes das dele. Pode
imaginar o que ele sentiria se visse o trabalho de toda sua vida ruir em pedaços? E
perfeitamente possível que isso aconteça, se a direção da empresa não for entregue a
uma pessoa competente.
— Mas John Buck, o assistente dele, podia perfeitamente levar as empresas
adiante. Sob a orientação dele, é claro.
— Só por algum tempo, jamais como solução permanente. Matt não vai poder
continuar orientando Buck. — Calou-se. — Bem, Caroline, acho que já falei muito por
hoje. Deve estar ansiosa para ver Matt.
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Nas semanas seguintes, o choque provocado pela doença do pai e por ter sido a
última a saber perseguiram Caroline sem descanso. Ele tinha ficado na unidade de
terapia intensiva vários dias, só podendo ser transferido para um quarto particular depois
de muito esforço médico.
A pedido do próprio Matt, a notícia sobre sua doença tinha ficado em segredo, pois
com uma divulgação indevida seus negócios poderiam sofrer um colapso. Mesmo assim,
os amigos mais chegados foram informados, e entre eles, André.
Foi um choque para Caroline, ao abrir os diversos telegramas, descobrir um de
André. Tinha sido enviado da Amé-rica e os votos de pronto restabelecimento pareciam
sinceros.
Tinha evitado pensar nele, nas últimas semanas, tentando em vão tirar da memória
o último encontro que tinham tido. Se por um lado a interrupção do pai tinha sido
providencial, evitando que ela fizesse algo de que viesse a se arrepender mais tarde, por
outro, ele só estava naquela situação por causa da cena que havia presenciado. Tio
David tinha insistido muito em afirmar que a causa do ataque foram as preocupações
acumuladas durante meses, mas isso não contribuiu em nada para aliviar a consciência
de Caroline.
— Caroline! — A voz forte do pai interrompeu seus pensamentos. Depois de muitos
dias entre a vida e a morte, o rosto dele finalmente vinha perdendo aquele tom acinzen-
tado que tanto a assustava.
— O que é, papai? — Sorriu e caminhou até o lado dele. A tensão dos últimos
tempos também tinha afetado Caroline, que estava mais magra, muito pálida e nervosa.
Ele bateu na cama, indicando a ela que se sentasse ao seu lado.
— Acho que já é tempo de termos uma conversa, Caroline — começou, sério.
— Conversa? — Desviou os olhos. — Mas não fizemos outra coisa nas últimas
semanas! Hoje é seu primeiro dia em casa, podíamos fazer alguma coisa melhor do que
conversar.
Matt olhou com ironia para a cama bem arrumada.
— Acho que no momento não tenho outra alternativa senão conversar. E, embora
tenhamos conversado muito no hospital, não tocamos no assunto que mais nos preocupa.
— Não sei do que está falando, papai. — Caroline tentou dar uma risada
descontraída. — Já falamos de todos os assuntos possíveis.
— Eu sei. — Acariciou a mão dela. — Foi muito boazinha, vindo me visitar todos os
dias.
— Não seja bobo! — Olhou-o, escandalizada. — Você é meu pai, minha obrigação
é ficar a seu lado. Além disso — acrescentou, brincando —, eu não tinha nada para fazer.
— Muito obrigado! — Ele riu. — Mas sei que isso não é verdade. Tenho certeza de
que Esther tem feito o possível para levá-la a vários lugares, enquanto estou aqui.
— Porque você pediu a ela que fizesse isso — respondeu sorrindo. — Sei muito
bem que você telefonou a Esther e pediu que saísse comigo.
— Felizmente você é esperta. — Suspirou. — É, pedi a ela que fizesse companhia
a você, Caroline. Está tão pálida ultimamente. Às vezes, quando me visitava, parecia que
quem devia estar na cama era você. Por isso, que tal conversarmos?
Caroline levantou-se e foi até a enorme janela que dava para o rio.
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CAPÍTULO X
Caroline saiu com Esther, John e Nick, coisa que não fazia há muito tempo. O
clube estava lotado, como sempre, mas Nick não teve dificuldade em conseguir uma
mesa, dizendo que era amigo do gerente. E parecia mesmo, pelo tratamento preferencial
que receberam.
Adorou a noite e dançou quase todas as músicas, liberando as tensões
acumuladas nas últimas semanas. Foi muito solicitada pelos dois homens, já que Esther
preferiu ficar sentada.
— Algum problema? — perguntou Caroline a Esther, num instante em que ficaram
a sós.
— Está tudo ótimo. — Esther sorriu, alegre. — Perdoe John se ele se mostrar mais
atirado que o normal, hoje. Acabei de comunicar a ele que vai ser pai.
— É mesmo, Esther? Que maravilha!
Os quatro fizeram tantos brindes ao bebê durante a noite, que Caroline estava
tonta quando chegou em casa. Estava totalmente despreparada para a visão que a
aguardava.
— André! — Deu um passo atrás, encostando na porta fechada.
Estava atraente como sempre, embora mais bronzeado devido ao sol da América.
Uma camisa de malha, justa, moldava seus ombros largos.
— Boa noite, Caroline — cumprimentou, formal. Caroline respirou fundo, jogou o
abrigo e a bolsa na mesa
e foi indo na direção dele.
— Quando chegou? — perguntou Caroline, ajeitando o cabelo diante do espelho.
— Umas duas horas depois que você saiu para se encontrar com seus amigos —
observou, irónico.
— E por que ainda está aqui? — A pergunta foi agressiva, revelando que estava
chocada com o encontro inesperado. Não estaria livre dele em parte alguma?
— Não para vê-la, pode ter certeza — respondeu, igualmente agressivo. — Matt
acaba de dormir. Vim buscar meu casaco e já ia sair.
— Fique tranquilo. Não acho que viria roubar a prataria da família — respondeu
Caroline, sarcástica. — Greg Fort-num não precisa da prataria dos outros.
— Pelo amor de Deus, por que essa implicância com o meu nome?
— Implicância? Não é implicância nenhuma. Você mentiu, me enganou
deliberadamente.
— Está bem, eu menti. Mas foi só para ter um pouco de paz e sossego. — Passou
a mão pelos cabelos, agitado. — Não consigo entender como Matt ainda mantém você
aqui, depois de nos encontrar juntos! Eu teria posto você na rua, se estivesse no lugar
dele.
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— Durante todo o tempo você sabia quem eu era — acusou-a, cheio de desprezo.
— Pode parar de fingir, agora. Não vai impressionar ninguém com essa farsa. Não quero
vê-la nunca mais.
— Por favor...
— Adeus, srta. Rayner.
Caroline parecia muito mais saudável. As longas semanas de descanso sob o sol
de Barbados fizeram muito bem a ela, que exibia um bronzeado maravilhoso e, embora
ainda estivesse um pouco magra, já não tinha mais olheiras.
O maior responsável pela mudança, de fato, tinha sido seu pai, que devolveu a ela
a confiança perdida nas mãos impiedosas de André. Tinha até conseguido livrá-la da
culpa por seu ataque cardíaco, garantindo que o responsável era ele mesmo, que não
tinha ligado às recomendações do médico.
Tinham ido para Barbados e levado Maggie. Pelo visto, estava "aposentado", pois
sua saúde jamais seria a mesma e o melhor que pôde fazer foi passar adiante os
negócios.
Caroline teve que ir até Londres buscar o possível comprador e trazê-lo até
Barbados. Tinham recebido várias propostas e aquela parecia a mais conveniente.
Mesmo porque o comprador parecia disposto a manter o quadro de funcionários. A
princípio, ela tinha se recusado, não vendo necessidade de ir pessoalmente ao encontro
daquele homem. Mas Matt tinha argumentado que, naquele tipo de negócio, o toque
pessoal era muito importante. Acabou concordando. E depois, queria mesmo fazer
algumas compras.
O apartamento parecia curiosamente vazio, sem a presença de Maggie e do pai.
Fazia dois dias que Caroline estava em Londres e ia se encontrar com o possível
comprador no aeroporto, para seguirem juntos até Barbados. Matt lhe deu um guarda-
roupa completo em troca do aborrecimento, mas ainda assim ela preferia ter ficado em
Barbados. Não tinha visto André e preferia que as coisas continuassem assim.
Suspirou e desviou o olhar de sua imagem no espelho. Pensar em André ainda era
estranhamente doloroso para Caroline. Seus sentimentos continuavam os mesmos, e se
odiava por ainda pensar num homem que nem sequer queria vê-la.
Deu uma olhada no relógio. Estava quase na hora de ir ao encontro do senhor
Andrews. Nunca tinha visto o homem, mas Matt garantiu que ele a reconheceria, e
brincou dizendo que um rosto bonito como o dela não poderia deixar de ser notado.
Caroline era a própria imagem da autoconfiança, sentada na sala de espera do aeroporto.
Usava um conjunto de lã, pois o clima da Inglaterra ainda não justificava uma roupa de
verão, como costumava usar em Barbados.
— Está pronta para partir, Caroline. — perguntou uma voz familiar.
Pálida de espanto, ela se virou para olhar para ele. Quan- do ouviu aquela voz,
pensou que estivesse imaginando coi- sas. Mas, não... era mesmo André quem estava
junto dela! Não tinha mudado nada, desde a última vez. Estava só um pouco mais magro.
De resto, continuava o mesmo, com o mesmo sorriso irônico e o mesmo brilho provocante
nos olhos. Impecável em seu terno cinza-escuro, aparentava realmente ser o bem-
sucedido homem de negócios que era.
— André... — murmurou Caroline, incrédula.
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Olhou para ele, furiosa, sabendo por experiência própria que não conseguiria
vencer aquela teimosia. Quando finalmente chegaram ao chalé, Caroline estava fervendo
de raiva. Raiva do pai, raiva de André e, principalmente, raiva dela mesma, por ter
permitido que André fizesse aquilo com ela. Não teria ido a parte alguma com ele, se ele
não fosse tão dominador, tão petulante, tão...
— Chegamos, Caroline — comunicou André. Desceu e foi abrir a porta para ela.
Ela o seguiu automaticamente até dentro do chalé. Eram quase nove horas da
noite, mas ainda estava claro lá fora. André examinou a sala com satisfação.
— Não mudou nada — comentou, satisfeito.
— Esperava que tivesse mudado?
— Não tinha certeza. — Encolheu os ombros. — Faz quase seis meses que
estivemos aqui.
— Não parece que foi há tanto tempo. — Ergueu o queixo, orgulhosa. — E agora,
se já terminamos a visita ao passado, vamos voltar. Preciso pegar um avião para
Barbados.
— Você não vai a parte alguma. Não antes de termos uma conversa séria, como
dois adultos racionais, o que não parece ser nada fácil para nós.
— Eu diria que é impossível.
— Se ao menos você não se irritasse com tanta facilidade...
— Me irritar? Eu? Já esqueceu que nas duas últimas vezes que nos encontramos
foi o senhor quem perdeu a paciência?
— Com boas razões — observou André, ríspido.
— Boas razões coisa nenhuma! A culpa foi da sua maldita arrogância.
— Sua linguagem não me parece muito feminina, Caroline — observou, a voz
perigosamente suave.
— Está parecendo meu pai!
— Não é de admirar, estou me sentindo como ele, agora. Você precisa de umas
boas palmadas, Caroline.
— Que tal explicar essa história de sr. Andrews agora?
— Qualquer dia... — murmurou, displicente. — Santo Deus, como você é cabeça-
dura! — Passou a mão nos cabelos. — Usei esse nome porque seu pai e eu pensamos
que você não iria me encontrar se soubesse quem eu era.
— Pois pensaram certo. Então está interessado nas empresas de papai?
— Isso mesmo.
— E daí? Não precisa da minha aprovação. Aliás, não precisa da minha aprovação
para nada.
— Preciso sim, Carol, preciso muito de você. — Aproximou-se dela e suavizou a
voz.
Olhou para ele, surpresa, percebendo finalmente o motivo daquele encontro.
— Meu Deus! Pensei que só meu pai pudesse ser tão frio e calculista. Mas você
também é um bastardo de primeira classe!
— Do que é que está falando agora, Caroline?
Projeto Revisoras 92
Sabrina 91 - Paixões desenfreadas - Carole Mortimer
— Decidiu aceitar a oferta tentadora de papai, não? E por que não? Afinal, você é
um homem de negócios... Por que se dar ao trabalho de comprar uma coisa que pode
ganhar de presente? Basta casar com a filha mimada do amigo. Bem, só tem um pequeno
senão nesse plano... eu. Não concordo. Entendeu?
— Acha mesmo que eu me casaria com você só para pôr as mãos nas empresas
de Matt? — Os olhos dele brilhavam de raiva.
— Por que não? Papai é antiquado; é casamento ou nada. Se nos casarmos, ele
vai entregar as empresas a você numa bandeja de prata.
— Comprei as empresas de Matt dois meses atrás — disse André, calmamente. —
Paguei um preço justo e fiz do seu pai um dos membros da diretoria.
— Você... comprou? — Caroline mal podia acreditar no que ouvia.
— Comprei. Não acha que deve me pedir desculpas?
— Não sei... não sei mais nada. O que é que eu estou fazendo aqui? Por que me
trouxe aqui?
— Já disse. Preciso de você.
— Mas já tem a companhia de papai e da última vez que nos encontramos disse
que não queria me ver de novo..
— Você sabe por que disse aquilo. Você é uma Rayner e precisei de tempo para
me acostumar com isso. Ainda mais depois das coisas que lhe disse.. — Sorriu. — Acho
que, finalmente, aceito você como filha de Matt.
— E...
— Mantive contato com ele todos esses meses, tratando da transação. Tivemos
longas conversas a seu respeito.
— É?
— Quer parar de dizer "é"? Seu pai me contou que você fez um retrato meu, bem
razoável.
— Fiz, mas rasguei. — Num acesso de raiva, ela tinha destruído o retrato que
levou tanto tempo para terminar.
— Por quê? — Ele olhava como se tivesse sido agredido fisicamente.
— Eu não o queria mais.
— Entendo.
— Entende mesmo? — A última coisa que desejava era que ele soubesse que o
amava.
— Acho que sim. Você me odeia... e talvez tenha razão, depois das coisas que eu
disse, das acusações que eu lhe fiz. Mas quero que saiba por que a tratei daquele jeito;
por que a provoquei até você não conseguir olhar mais para mim. Desde a primeira vez
que vi você, senti uma atração irresistível, mas não queria aceitar.
— Você pensou que eu fosse a empregada — relembrou-o.
— A empregada mais linda que eu já tinha visto até aquele dia. Desejei você desde
o primeiro instante. Quando disse que havia alguém na minha vida, esse alguém era
você. Desejei-a muito. Mas então aconteceu uma coisa que abalou as estruturas do meu
mundo tão seguro. — Fez uma pausa, como se achasse difícil prosseguir.
Projeto Revisoras 93
Sabrina 91 - Paixões desenfreadas - Carole Mortimer
Se Caroline não o conhecesse tão bem, diria que o confiante André estava
inseguro. Impossível!, devia ser imaginação. Ele era sempre tão seguro, tão confiante...
— O que foi que aconteceu? — perguntou, mais por obrigação que por curiosidade
em ouvir a resposta.
— Eu me apaixonei por você — confessou, humilde. Ele falou num tom tão suave
que ela chegou a duvidar
do que estava ouvindo.
— O que foi que disse?
— Acho que me ouviu, Carol. — Os olhos verdes brilhavam de irritação.
— Mas... não acredito! — Ficou de costas para que ele não visse as lágrimas que
brilhavam em seus olhos. — Está querendo é me atormentar. O que quer de mim? Uma
declaração de amor, para poder atirá-la na minha cara? Não vai ter o que deseja, garanto.
— Santo Deus, como você me odeia, Caroline! Mas não tem importância. Sei que
sente atração por mim e aceito apenas isso, se não pode me dar mais. Amo você, Carol.
— Aproximou-se dela,.um brilho de paixão nos olhos. — Quero desesperadamente que
seja minha esposa.
— Quer casar comigo?— gaguejou, sem acreditar no que ouvia.
Ele estava tão perto dela que seus corpos se tocavam.
— Quero me casar com você! Acho que vou enlouquecer se não tiver você logo. —
Inclinou a cabeça e beijou-a no pescoço, apaixonadamente.
— Não precisa casar comigo para ter o que quer. — Sentiu outra vez que seu
corpo se rendia ao contato das mãos e dos lábios dele.
— Nada menos do que a vida toda pode me satisfazer. Quero que seja a mãe dos
meus filhos, quero muito, muitíssimo. Não vamos falar mais, Carol, quero amar você,
sentir você, sentir seus lábios.
Caroline não resistiu quando André a abraçou com força e deixou seu corpo colar
no dele, num total abandono, e abriu os lábios para receber aquele beijo enlouquecedor,
desejado há tanto tempo. Sentia que pertencia a André e que sempre pertenceria, pois a
vida sem ele não valia a pena ser vivida.
André tirou o casaco, sem largá-la, e foi, lentamente encaminhando-a até o sofá.
Os dois se deitaram, abraçados e André abandonou os lábios dela para beijar seu queixo
seu pescoço, enquanto sua mão desabotoava habilmente a blusa de Caroline e voltava,
depois, para acariciar seus seios firmes. Caroline tremia inteira.
— Meu Deus, meu Deus — gemeu André, se controlando para não possuí-la
naquele mesmo instante. — Como eu a amo Carol. Sei que não acredita em mim, mas
me sinto tão vulnerável perto de você! Sempre tive medo de me sentir assim, mas acabo
de descobrir que é maravilhoso. Não sei se um casamento pode dar certo, quando se
baseia apenas no amor de uma das partes. Mas vou tentar enquanto tiver forças, se você
me aceitar. — Aqueles olhos tão sarcásticos agora imploravam.
— André, eu...
— Não me rejeite, Carol, não vou suportar. Estou em suas mãos; vai me ferir, vai
me ferir profundamente. Não faça isso, amor. — De repente, o rosto dele era uma
máscara de desespero. — Não vou deixar que se afaste de mim. Se me rejeitar, juro que
vou segui-la por toda parte, até que tenha piedade e me aceite.
Projeto Revisoras 94
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Então ele a amava mesmo! André, o homem arrogante e impiedoso, sempre acima
desses sentimentos, estava realmente apaixonado por ela. E queria se casar a qualquer
preço. O mínimo que podia fazer diante de um amor tão intenso era confessar que
também o amava e que desejava ser dele, com ou sem casamento.
— Sou sua, André. Agora, se quiser. Não precisa se casar comigo, sou toda sua.
— Não pode se oferecer assim — protestou, incrédulo. — Eu quero me casar com
você!
— E eu estou dizendo que não precisa chegar a esse extremo, que me entrego a
você espontaneamente, sem exigir que se junte a mim por toda a vida. — Sorriu, feliz.
— Quero que seja minha para toda a vida. Amar você significa querer você ao meu
lado para sempre, dividindo todos os momentos bons e maus. Não sou tolo, e sei que
teremos maus momentos. Nós dois somos muito teimosos! Mas é casamento ou nada —
exigiu, inflexível. — Não podemos ter as duas coisas? — brincou Caroline, suave. — As
duas?
— É! Casar e... fazer amor, agora?
— Você quer mesmo?
— Quero, André. Também amo você! Amo tanto que os últimos seis meses foram
um inferno para mim. Não imagina como me sinto! — A voz de Caroline tremia de
emoção.
Foi como se uma luz tivesse se acendido naqueles olhos cor de esmeralda, e ele
deu um suspiro de alívio.
— Então você me ama de verdade?
A resposta de Caroline foi abraçá-lo e entregar os lábios a ele num jeito
apaixonado. Depois do primeiro momento de surpresa, André retribuiu o beijo
ardorosamente e suas mãos quentes e possessivas percorreram o corpo de Caroline até
ela gemer de prazer. Depois, ele se afastou um pouco, amortecido pelo desejo, e apoiou
a cabeça entre os seios dela.
— Minha — murmurou. — Toda minha. Vamos voltar a Londres amanhã para
providenciar uma licença — decidiu. — Dentro de quatro dias estaremos casados.
— Casados... — repetiu Caroline, feliz.
— Sim — respondeu ele, à maneira do antigo André, que ela preferia. — E depois
vamos voltar e ficar aqui umas duas semanas, só nós dois, antes de irmos encontrar seu
pai. Concorda?
— Claro!
— Não vou permitir que saia de perto de mim, dia e noite. Quero você ao meu lado
todos os minutos do dia, mesmo depois que estivermos casados. Se não puder me
acompanhar nas viagens de negócios, então eu também não vou. Nos seis meses em
que estivemos separados descobri que a vida sem você não tem sentido. — Olhou para o
corpo sedutor que tinha nos braços.
— Agora você acredita que não armei nenhum plano para obrigá-lo a se casar
comigo?
— Acredito. Matt me explicou algumas coisas. Agi como um idiota.
— E eu como uma garotinha mimada, pretensiosa a ponto de achar que era a
pessoa adequada para lhe dar uma lição.
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FIM
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