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Abstract: Analyzes what changes occur in the organization process of archival collections from
the systemic perspective increase together with the Principle of Provenance, which currently
governs the Archival procedures. Four sub-sections compose the text: an introduction that
covers issues on logical and methodological order with a view that enables a look at
Archivology inserting it in the context of science. Afterwards, it is done a historical-conceptual
cut on the emergence of the Principle of Provenance and simultaneously inserting the systemic
perspective as a critical mechanism that allows a more comprehensive understanding. The
research steps for writing this paper was grounded on an extensive literature and documental
base and was developed in collaboration with researchers from several universities aiming to
the systemic organization of knowledge in Archivology. It is concluded that the scientific aspect
of the Archivology passes by the review of its theoretical statements. A Systemic perspective as
a way of organizing information in Archivology is a plausible possibility of establishing the
necessary interrelationships with other areas of knowledge and that there are no apparent
contradictions between the Principle of Provenance and the inclusion of the systemic
perspective in Archivology.
Keywords: Principle of Provenance. Archival Science. System. Problem of Demarcation.
1 INTRODUÇÃO
Uma das questões fundamentais enfrentadas por um novo campo de conhecimento é a
avaliação de se saber se está, o referido campo, destinado a ser uma ciência (tal como a
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Física) 46, ou uma ciência e, ao mesmo tempo, uma técnica (que é o caso do Direito, da
Medicina e também das várias engenharias), ou se é apenas um conjunto de técnicas (como é
o caso de Comércio Exterior, Radialismo, Gastronomia, Produção Cultural, etc.) ou mesmo se
esta se encontra no campo da Arte (como é o caso da pintura, que apesar de possuir
sistematicidade e até mesmo ser passível de investigação não é uma ciência) 47. Não ser
ciência não implica em não ser importante para a condição do humano; é apenas uma
classificação associada a certos usos e critérios. A Música e a Gastronomia, por exemplo,
mesmo não sendo ciências, fazem da vida humana algo mais sublime.
A avaliação sobre um campo de conhecimento ser ciência (ou não) deve cumprir
minimamente o que se denomina de critério da demarcação. Karl Popper colocou o
Problema da Demarcação como o problema de estabelecer um conjunto de critérios hábeis
para distinguir “as ciências empíricas, de uma parte, e a Matemática e a Lógica, bem como os
sistemas metafísicos, de outra.” (POPPER, 1993, p.35). Ainda na Lógica da Pesquisa
Científica, Popper (1993, p.31) enfatiza que a tarefa dos pesquisadores de uma dada ciência é
construir teorias e colocar, então, as teses dessa teoria à prova; isto é, que as teses possam ser
sujeitas, por critérios de testabilidade, ao que denominou de “possibilidade de falsificação”
ou sujeitas à “falseabilidade”. Teses que não sejam sujeitas à falseabilidade (aquelas que são
sempre verdadeiras, por exemplo, às subjunções ou bijunções de caráter tautológico) não
poderiam caracterizar um campo de conhecimento como científico.
Segundo Vieira (2004, p.20): “Diz-se que um enunciado molecular é uma tautologia
se, depois de verificadas todas as possíveis valorizações de seus enunciados primos, o
enunciado molecular for verdadeiro em todos os casos”. Nesse sentido, de ser um enunciado
uma tautologia, a única testabilidade possível é a lógica (não é empírica, como nos quer
indicar Popper em seu “critério de falseabilidade” aposto na Lógica da Pesquisa Científica).
Se o enunciado molecular em teste for de Lógica ou de Matemática, então tais campos do
saber ainda serão aceitos pelo critério de cientificidade por serem sistemas de representação
científicos (que Popper prefere denominar ciências não empíricas). Por outro lado, se os
enunciados moleculares desse campo forem tautologias (e não se encaixarem como
gramáticas, “linguagens” ou sistemas de representação, tais como a Lógica ou a
Matemática) 48 ou se, seus enunciados-tese não sejam passíveis de critérios de falsificação, isto
46
Que é entendida como a “ciência referência” ou mesmo “ciência mãe”.
47
Ainda que a História da Pintura possa ser um subcampo da ciência da História.
48
Quine (1972) foi o primeiro a perceber que se poderia perceber a Lógica como uma espécie de
gramática.
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é, quando sempre haveria uma fuga da falseabilidade do teste empírico por solução ad hoc49
da teoria ou previsão em teste, então tal campo de saber não seria científico.
Portanto, se aceitas as considerações de Popper (1933, p.31) que a tarefa do cientista é
contribuir para o desenvolvimento de teorias, então devemos ter em mente que as teorias
necessitam de princípios, conceitos, axiomas, mecanismos de argumentação e finalmente de
“enunciados teses” (ou previsões) sujeitos a falseabilidade.
Nesse sentido, Stiglitz e Walsh (2003, p.17) nos apontam: “As previsões de uma teoria
têm a forma: se aumentarmos um imposto num mercado concorrencial, então a produção
diminuirá e os preços aumentarão”; portanto, uma subjunção, tal como antes os já havíamos
apontado50, além do fato que é muito clara a verificação da possibilidade de falseabilidade,
tanto do antecedente/hipótese quanto da conclusão que se segue desta, quanto também da
subjunção (tese ou previsão como denominam Stiglitz e Walsh na citação) como um todo.
Ressalte-se que este artigo foi desenvolvido a partir da investigação do problema de
compatibilização do Princípio de Proveniência com propostas de inclusão do sistemismo em
teorias arquivísticas; tais como, lançadas pelo Professor Armando Malheiro da Silva e seus
colaboradores de pesquisa (SILVA, et. al., 1999).
Assim, o presente trabalho traz a lume, tanto de forma sistemática, como através de
uma breve revisão histórica, o desabrochar de um dos princípios mais utilizados na Ciência
Arquivística: o Princípio da Proveniência; ou, como também é conhecido o Princípio de
Respeito aos Fundos em Arquivística. Tal esforço de pesquisa, em se perseguir os
fundamentos teóricos da Arquivística fica plenamente justificado ao cotejarmos tal esforço e
objetivo de pesquisa com as teses de Popper anteriormente elencadas. A pesquisa para
realização do presente artigo teve ampla base bibliográfica e documental, mas focou-se na
parte mais estritamente de arquivística principalmente nos textos de Michel Duchein, sendo
desenvolvida em processo colaborativo por pesquisadores de diferentes universidades
brasileiras.
49
“Solução ad hoc” é uma adição de hipótese(s) ou premissa(s) estranha(s) a uma teoria
(incorporadas essas à última hora) para tentar salvar a teoria de ser demonstrada como falsa.
50
Havíamos apontado que os enunciados tese (ou previsões como denominam Stiglitz e Walsh)
poderiam ser subjunções (que muitos conhecem pela denominação de implicação) ou bijunções,
sendo esta última um enunciado que é subjunção nos dois sentidos (forma tipo “p ↔ q”).
642
51
O “processo revolucionário” está aqui sendo entendido como aquele que tem como marco inicial
a “Queda da Bastilha” e que se estende até, e inclusive, o “Período do Terror” (agosto de 1792 até
27 de julho de 1794).
52
É importante destacar que o Princípio de Procedência, como apresenta Martín-Pozuelo Campillos
(1996) não foi resultado de um único momento, nem produzido num único local, pois já havia
sido proposto e utilizado em outros países e em outros períodos, antes da famosa circular de
Natalis de Wally.
53
Se, por um lado, a Revolução Francesa criou uma espécie de caos ao reunir e misturar os
documentos de diferentes entidades, por outro lado, os revolucionários decidiram abrir o acesso
público dos acervos a todos os cidadãos, dando, desta forma, o primeiro passo ao que poderíamos
alegoricamente denominar de “democracia informacional.”
643
54
A aplicação do Princípio de Proveniência já era utilizada em alguns arquivos pela Europa de
maneira empírica antes da sua enunciação por Natalis de Wailly, ou mesmo antes da aceitação
geral deste como um dos princípios norteadores da Arquivística.
55
Este texto foi traduzido e publicado no Brasil pela revista da Associação dos Arquivistas
Brasileiros em 1986 com o título: O respeito de fundos em Arquivística: princípios teóricos e
problemas práticos.
56
Entre estes autores podemos destacar: Belloto (1991), Rousseau; Couture (1998), Heredia Herrera
(1993), Albuquerque; Souto (2013), entre outros.
57
Naquela oportunidade, a aplicação do referido princípio assumido se deu de maneira estanque;
isto é, não foi aplicada em toda sua gênese, que vai do respeito do princípio desde sua entidade
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à dinâmica organizacional das instituições que forma seus arquivos, não tinham ainda sido
testadas58. A dinâmica das instituições é apresentada e a formação dos fundos arquivísticos é
então problematizada a partir de cinco questionamentos levantados por Duchein.
Neste texto, o Duchein aponta que (1986, p.14) “o respeito aos fundos vem sendo
considerado, desde a segunda metade do século XIX, como o princípio fundamental da
Arquivística”, por ter sido este preceito que conseguiu constatar a necessidade de manter os
documentos de arquivo unidos organicamente e que é a sua própria razão de ser, dando-lhe
assim o estatuto de base teórico-prática da Arquivística. Para ele, qualquer trabalho
arquivístico fora deste âmbito é arbitrário, subjetivo e sem rigor, correndo-se o risco de não
saber onde encontrar um documento (DUCHEIN, 1986, p.16).
O referido princípio fortalece a ideia de individualização dos arquivos produzidos
pelas mais diversas instituições, tendo em vista que o documento de arquivo funciona como
parte de um conjunto e sua existência só se justifica, compreendendo com exatidão quem o
produziu, sem misturas de documentos de outras proveniências. Assim, para o arquivista e
demais estudiosos, a correta organização e integridade (externa e interna) de um arquivo deve
representar a maneira lógica do funcionamento dos organismos que produziram os
documentos e suas inter-relações, facilitando o entendimento das funções e atividades
pertinentes a estas instituições dentro de uma contextualidade própria.
Na terceira parte do texto Duchein apresenta suas propostas para melhor adaptar a
realidade encontrada nas instituições e a proveniência dos acervos, tendo em consideração que
havia inúmeros problemas impostos pelas dificuldades nas praxis resultantes da aplicação da
teoria dos fundos ou dos princípios de proveniência e da ordem interna, incluindo-se também
o que o autor pontua de “ambiguidade do próprio termo”. Tais problemas são definidos em
cinco pontos essenciais que veremos na sequência.
O primeiro problema seria “a definição de fundo em relação à hierarquia dos
organismos produtores”. Isto é, este problema lançado por Duchein diz respeito à
complexidade dos vínculos de subordinação entre instituições (são as ocorrências de
subdivisões ou formação de filiais) e a estruturação dos fundos arquivísticos. Neste caso, são
produtora até sua destinação final. Ali o foi somente para separar o acervo “confuso” que já se
encontrava produzido.
58
A aplicabilidade do Princípio de Proveniência passa a ser verificado a partir do momento em que
a ideia do que vem a ser arquivo amplia-se, ou seja, quando os documentos que formam o arquivo
são produzidos e não apenas quando, perdido o interesse a instituição produtora, sendo
transferidos para um setor de arquivo. Sobre este ponto ver o texto Arquivística general de
Heredia Herrera (1993, p.98).
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os arquivos das subdivisões tomados como fundos distintos ou pertencentes aos fundos das
instituições a qual estão vinculados? Este é um problema prático enfrentado pelos arquivistas
das mais variadas instituições, sejam elas públicas ou privadas, e podem-se multiplicar
situações no domínio complexo das hierarquias.
Para responder a esta questão Duchein propõe a possibilidade de duas diferentes
soluções: maximalista ou minimalista. A primeira define um fundo único a partir da maior
unidade orgânica, do qual todos estão vinculados, mas não formam fundos arquivísticos. A
segunda possibilidade, ao contrário, permite que as unidades orgânicas vinculadas possam
formar distintos fundos arquivísticos. Porém, para identificar esta capacidade, as organizações
devem observar:
i) possuir uma existência jurídica resultante de lei, decreto, resolução, etc.;
ii) ter atribuições precisas definidas por norma;
iii) ter subordinação conhecida firmada por lei;
iv) ter uma chefia com poder de decisão no seu respectivo nível hierárquico;
v) ter uma organização interna fixada.
Duchein destaca o cuidado que se deve ter ao escolher uma ou outra das soluções
propostas, pois podem incorrer na formação de fundos documentais muito extensos
(maximalista) ou uma pulverização muito grande que obrigaria a criação de seções de
arquivos (minimalista). Além disso, o autor nos alerta para um elemento de extrema
importância (DUCHEIN, 1986, p.21): “parece-nos inevitável introduzir na Arquivística uma
nova noção: a de uma hierarquia de fundos correspondendo à hierarquia dos organismos,
acarretando a subordinação de fundos em relação a outros.” Este aspecto demonstra a
necessidade de inter-relação entre fundos que não foi pontuada na formulação do princípio.
O segundo problema versa sobre as variações de competência dos organismos
produtores de arquivo e suas repercussões no plano arquivístico. Essas variações devem ser
cotejadas regularmente pelos profissionais de arquivo, pois estas instituições modificam-se no
decorrer do tempo, sendo que tal problema foi analisado por Duchein (1986) da seguinte
forma:
i) casos de supressão de competências;
ii) casos de criação de competências;
iii) casos de transferências de competências e;
iv) casos de competências temporárias.
As variações de competências são ocorrências comuns tanto em instituições públicas
como organizações privadas para se adequar a realidade apresentada: criação de setor(es)
646
59
Esta obra publicada em 1898 foi de grande importância para a comunidade arquivística por tratar
de problemas fundamentais para esta área do conhecimento, principalmente no que toca a
organização interna dos fundos. Este livro teve grande alcance por ter sido traduzido para
diversos idiomas, tornando-se “marco na evolução da Arquivística, por ter aberto uma nova era
para a afirmação da disciplina [...] marca o predomínio da vertente teórica” (SILVA, et al., 1999,
p.115).
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Tanto num caso como no outro Duchein pontua ser bem-vindo o Princípio de Ordem
Interna, porém, destaca que a classificação/ordenação (confusão latente nesta parte do texto)
deve privilegiar os aspectos arquivísticos (compatíveis com o Princípio do Respeito aos
Fundos), que não prejudique a pesquisa, que tenha sido posta em prática e que seja
conservada por um longo período. Portanto, se não for possível seguir estes critérios, então
(DUCHEIN, 1986, p.30): “devemos renunciar à classificação dada pelo organismo produtor e
proceder como se o fundo não tivesse recebido qualquer classificação antes de chegar às mãos
do arquivista”.
60
Texto original de Terry Cook (2001, p.17): “to be able to research, recognize and articulate all
these radical changes in society and then deal conceptually with their impact on archival theory,
methodology and practice”.
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Schmidt (2012, p. 24) apresenta, de maneira didática, as perspectivas defendidas e os autores que
as defende, sem, entretanto, entrar nas diferenças que existem entre eles. Aqui exporemos apenas
os principais, sendo: Arquivologia como técnica: Manuel Romero Tallafigo. Como disciplina
técnica: Aurélio Tanodi. Como disciplina em desenvolvimento Theo Thomassen. Como
disciplina científica: Heloísa Liberalli Bellotto, Terry Cook, Carol Couture. Como ciência:
Antonia Heredia Herrera, Armando Malheiro da Silva e Fernanda Ribeiro.
649
62
Dopp (1970) denomina que tais axiomáticas são “sistemas” de Lógica. Aqui optamos pela
terminologia “formatos” utilizado tal como em Vieira (2004).
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buscar a compreensão por isomorfismos e de entender que todos os enunciados de uma são
também dedutíveis dos enunciados da outra63.
Vencida esta escaramuça metodológica-isomórfica, aponta-nos Schmidt (2012) que a
perspectiva sistêmica nasce de discussões acadêmicas preocupadas com a inserção de uma
fundamentação teórico-metodológica, valorizando o “saber” ao “mero fazer” arquivístico. Isto
é, tendo em vista que o “fazer” sempre foi muito mais valorizado em comparação com o
“saber”, haveria uma re-balanceamento entre o “fazer” e o “saber”; naturalmente que o
empírico como elemento de testabilidade (tal como em Popper, 1993) não perderá seu
primado; entretanto, não seria o “mero fazer” o mote da Arquivologia como ciência, e sim o
cumprimento dos critérios metodológico-organizacionais a que estão sujeitas as demais
ciências (construção de teorias, construção de modelos e enunciados de previsão – quiçá
controle – e testabilidade dessas por cotejamento com o empírico). Para não perdermos o
significado do que seria inserir realmente uma perspectiva sistêmica, vejamos o que nos
ensina Bertlanffy (1977):
O que pode ser obscurecido nesses desenvolvimentos – por mais importantes
que sejam – é o fato de que a teoria dos sistemas consiste numa ampla
concepção que transcende de muito os problemas e exigências tecnológicas,
é uma reorientação que se tornou necessária na ciência em geral e na gama
de disciplinas que vão da física e da biologia às ciências sociais e do
comportamento e à filosofia. É uma concepção operatória, com graus
variáveis de sucesso e exatidão, em diversos terrenos, e anuncia uma nova
compreensão do mundo, de considerável impacto (BERTLANFFY, 1977,
p.7-8).
Assim, apesar de haver alguns equívocos naqueles que queiram ver somente
facilidades em inserir na Arquivologia uma perspectiva sistêmica, devemos ressaltar e apontar
o próprio entendimento do “pai da Teoria Geral dos Sistemas”, isto é, os “ônus
investigativos” que dessa inserção de perspectiva sistêmica vão advir:
Conforme dissemos, há vários enfoques para tratar desses problemas.
Usamos intencionalmente a expressão um tanto vaga “enfoques” porque este
são logicamente não homogêneos, representam diferentes modelos
conceituais, técnicas matemáticas, pontos de vista gerais, etc., concordando
porém na qualidade de serem “teorias dos sistemas”. Deixando de lado os
enfoques da pesquisa aplicada dos sistemas, tais como os sistemas de
engenharia a pesquisa operacional, a programação linear e não linear, etc., os
enfoques mais importantes são os seguintes (para uma boa compilação veja-
se DRISHEL, 1968.)
63
Eventualmente dois formatos teóricos diferentes possuem alguns axiomas semelhantes, ainda que
difiram parcialmente; mas todos os enunciados de um determinado formato são verdadeiros no
outro formato. Diferentemente no que acontece com duas teorias diferentes. Na Geometria de
Lobachevsky não é verdade que “a soma dos ângulos internos de um triângulo seja de 180º (cento
e oitenta graus)”, tal como é provado como enunciado verdadeiro na Geometria Euclideana.
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64
A Sociedade Brasileira de Computação (SBC), por exemplo, recomenda nos currículos da área a
inserção de Lógica (disponível em: <http://bcc.ime.usp.br/principal/documentos/sbc2005.pdf>.
Acesso em: 06 jul. 2014). Vieira, um dos autores de Lógica citados no texto, lecionou por anos
em curso de graduação na área de Ciência da Informação e, portanto, parte da experiência aposta
em seu texto de 2004 é oriundo da experiência obtida no magistério de cursos ligados à Ciência
da Informação.
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O texto original de Krakauer (2011, p.2): “I believe we are entering a period of transcience, where
it is becoming necessary that training in areas with fundamental mathematical, computational,
and logical principles should be emancipated from a single class of historically contingent case
studies. For example, statistical physics will continue to be every bit as useful in understanding
social phenomena as it traditionally has been in studying properties of condensed matter”.
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Perspectiva Sistêmica como possibilidade de organização de um saber científico com base na
observação das várias subteorias já consolidadas em Teoria Geral dos Sistemas (verificação de
possibilidade de isomorfismos), tal como as subteorias apontadas em transcrição anterior do
presente texto (BERTLANFFY, 1977, p.38-43).
655
engenharias, na Ciência da Computação, na Economia, etc. Por outro lado, devemos alertar
que não serão analogias vagas, entendidas aqui uma analogia sem haver cotejamento com
outras construções teóricas, ou modelos, já consolidados que nos serão úteis e, nesse sentido,
o próprio Bertalnffy (1977) nos alerta:
Parece, portanto, que uma teoria geral dos sistemas seria um instrumento útil
capaz de fornecer modelos a serem usados em diferentes campos e
transferidos de uns para outros, salvaguardando ao mesmo tempo do perigo
das analogias vagas, que muitas vezes prejudicaram os progressos nesses
campos (BERTALANFFY, 1977, p.57).
Diante do exposto, infere-se que havendo adoção de práticas interdisciplinares, da
inclusão da perspectiva sistêmica e da observação acurada de outras estruturas isomórficas,
então haverá uma aceleração na direção da Ciência Arquivística.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A introdução da perspectiva sistêmica em Arquivologia, em regra, não nos obriga
necessariamente a assumir qualquer enunciado científico que torne o novo sistema teórico da
Arquivística, sob a perspectiva sistêmica, inconsistente. Assim, plenamente possível à
permanência do Princípio da Proveniência junto à forma sistêmica. A perspectiva sistêmica é
um conjunto de modos (tal como nos alertou Bertalanffy sobre a variedade de possiblidades
de teorias como: teoria clássica dos sistemas, computação e simulação, teoria dos
compartimentos, teoria dos gráficos, a teoria das redes, etc.) de organização de conhecimentos
onde seu “objeto é a formulação de princípios válidos para os ‘sistemas’ em geral, qualquer que
seja a natureza dos elementos que os compõem e as relações ou forças existentes entre eles”
(BERTALANFFY, 1977, p.61). Ainda nesse sentido, o próprio Bertalnffy nos corrobora que
(BERTALANFFY, 1977, p. 61) “em forma elaborada seria uma disciplina lógico-matemática,
em si mesma puramente formal, mas aplicável às várias ciências empíricas”. Desta forma,
entendemos que o cotejamento com o modelo lógico do Método Hipotético-Dedutivo67 seja o
caminho natural para tal entronização de uma perspectiva sistêmica em Arquivologia 68.
Fundamental é pontuar que nesses desenvolvimentos que virão, tal como estamos aqui
antevendo, devemos reconhecer a enorme contribuição de nomes como Silva (1999), Belotto
(2006), Duchein (1986), Albuquerque (2013), Rosseau; Couture (1998), Rodrigues (2011),
67
Tal como exibido em Vieira (2004).
68
Vários cursos de Biblioteconomia já possuem Lógica como disciplina obrigatória, pecando
apenas em manter departamentos de Filosofia ministrando-as sem, portanto, haver cotejamento
com os formatos mais modernos da Lógica Crisp e reportando-se a até mesmo a “formas
Aristotélicas” para seu ensino.
657
Heredia Herrera (1993), Cook (2001), Martín-Pozuelo Campillos (1996), etc. (aos quais se
somam vários outros não nominados aqui, e por tal omissão nos desculpamos), que vem
desenvolvendo a Arquivologia tanto como ciência quanto como técnica 69 e que devemos
render as devidas homenagens pelas valiosas contribuições ao campo.
Assim sendo, conclui-se que a construção de uma teoria tipo sistêmica70 para a
Arquivologia permitirá uma melhor organização e construção do conhecimento arquivístico
enquanto ciência e técnica. Nesta organização e construção, se admitirmos como premissa a
realização de isomorfismos com outros campos do saber científico (tal como é usual na
perspectiva sistêmica) será, consequentemente, baseada na eleição de princípios e axiomas, na
construção de conceitos e no desenvolvimento de outros mecanismos teórico-metodológicos71
que permitam a referida organização dos documentos arquivísticos para a recuperação,
armazenamento e disponibilização da informação e, ao menos por enquanto (dado que não se
verificou, em regra, qualquer contradição aparente com a adoção do sistemismo tal como
exposta por Bertalanffy), possuirá ainda em seu primado o Princípio da Proveniência como
princípio norteador e basilar desta ciência em formação.
A estruturação de uma disciplina como área do conhecimento científico e como
profissão é bem mais factível na medida em que estejam consolidadas teoria, metodologia,
prática, teminologia, legislação e formação profissional. Portanto, o caminho a percorrer, ao
nosso entendimento, é investirmos como comunidade acadêmica de Ciência da Informação e,
em particular, como pesquisadores da Arquivologia, no aperfeiçoamento de nossa visão
sistêmica e na prática intensa de realizarmos análises isomórficas com outros campos do
saber. Tal investimento interdisciplinar e, ousamos dizer, com vistas à transciência, é algo que
outros pesquisadores já avistaram e que percebemos ser o caminho natural desta jovem
Ciência da Informação.
REFERÊNCIAS
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Miguel Ángel (Coord.). Bibliotecología, Archivística, Documentación: intradisciplina,
interdisciplina o transdisciplinaridad. Mexico: UNAM, Centro Universitario de
Investigaciones Bibliotecológicas, 2011.
69
Como também acontece em Medicina, Direito, nas várias engenharias, inclusive na Engenharia de
Produção (de Métodos) e na Engenharia de Sistemas, entre outros campos do saber científico,
mas que também, ao mesmo tempo, são técnicas.
70
Pois pode ocorrer, com a introdução do sistemismo, o surgimento de mais de uma teoria como
ocorre em outros campos do conhecimento científico.
71
Nesses mecanismos incluem-se critérios próprios (do campo específico de Arquivologia)
associados à validação ou refutação nos procedimentos de testabilidade.
658
ALBUQUERQUE, Ana Cristina de; SOUTO, Diana Vilas Boas. Acerca do princípio da
proveniência: apontamentos conceituais. In: Ágora, v. 23, p.14-44, 2013. Disponível em:
<http://agora.emnuvens.com.br/ra/article/view/425/pdf_8>. Acesso em: 6 jun. 2014.
ORTEGA Y GASSET, José. Misión del bibliotecario. Madrid: Revista de Occidente, 1967.
POPPER, Karl R. A Lógica da pesquisa científica. São Paulo, Ed. Cultrix, 1993.
POPPER, Karl R. Conjecturas e refutações. Brasília: UnB, 1972.
QUINE, Willard Van Orman. Filosofia da Lógica. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.
RODRIGUES, Ana Célia. Identificação arquivística: subsídios para a construção teórica da
metodologia na perspectiva da tradição brasileira. In: Tendências da Pesquisa Brasileira em
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ROUSSEAU, Jean-Yves; COUTURE, Carol. Os Fundamentos da Disciplina Arquivística.
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SILVA, Armando Malheiro da; RIBEIRO, Fernanda; RAMOS, Júlio; REAL, Manuel Luís.
Arquivística Teoria e prática de uma Ciência da Informação. Porto: Edições
Afrontamento, 1999.