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Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, v. 29, n. 1, p.

57-64, (2007)
www.sbfisica.org.br

Violação da simetria de Lorentz


(Lorentz symmetry violation)

H. Belich1 , T. Costa-Soares2 , M.A. Santos1 e M.T.D. Orlando1


1
Universidade Federal do Espı́rito Santo, Departamento de Fı́sica e Quı́mica, Vitória, ES, Brasil
2
Centro Brasileiro de Pesquisas Fı́sicas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Recebido em 27/6/2006; Aceito em 18/8/2006

Recentemente, com o advento da teoria das cordas, existe um consenso de que uma simetria fundamental
da relatividade, a simetria de Lorentz, deve ser quebrada na escala de energia do modelo padrão da fı́sica de
partı́culas. Esta quebra de simetria de Lorentz ocorre pela presença de campos vetoriais e tensoriais de fundo re-
sultantes de processos de transição de fase, que causam uma anisotropia no espaço-tempo. Deve-se observar que
a violação ocorre apenas quando realizamos uma transformação de referencial ativa de Lorentz, o que acarretou
uma nova nomenclatura para as mudanças de coordenadas no espaço-tempo: as transformações de observador
e partı́cula. O objetivo deste trabalho é torna claro estas transformações, e através de dois exemplos simples,
explorar a quebra da simetria de Lorentz pela presença de um campo de fundo.
Palavras-chave: violação espontânea de simetria.

Since the formulation of the String Theory, we adopt that a fundamental symmetry of relativity should be
broken at the energy scale bellow the Standard Model of Particle Physics. The symmetry breaking is implemen-
ted by the appearance of vector and tensor background that is reminiscent of a phase transition mechanism in
high energy; the space-time became anisotropic by the presence of a background. We point out that the Lorentz
symmetry breaking occurs only in a active Lorentz frame transformation, giving rise a new nomenclature for
coordinate transformation in space-time: the observer and particle transformation. The main goal of this work
is to clarify these transformations by a two examples in turn to explore the Lorentz symmetry breaking by a
background vector field.
Keywords: sponteneous symmetry breaking.

1. Introdução comprimi-la (como mostra a Fig. 1). Não podemos


predizer em que direção a vareta irá dobrar, então di-
A grande revolução cientı́fica e tecnológica ocorrida no zemos que esta quebra da simetria de rotação ocorre de
século XX tem suas bases fortemente apoiadas sobre forma espontânea.
dois pilares: a teoria quântica e a teoria da relativi-
dade. Para o fı́sico dos dias atuais este fato se reflete
basicamente na relação de familiaridade com as duas
constantes mais populares dos últimos tempos: c, e .
Talvez isto seja o suficiente para explicar a espécie de
desconforto causado por uma expressão como “quebra
de simetria de Lorentz”. O principal objetivo deste tra-
balho é exatamente tentar eliminar tal desconforto. Ou
seja, queremos explicar, de forma tão simples quanto
possı́vel, como e em que contexto tal expressão possui
algum significado.
Figura 1 - Ilustração da quebra espontânea da simetria
Para começar, precisamos entender um pouco do
que venha a ser um mecanismo conhecido como que- Um outro exemplo, menos intuitivo relacionado com
bra espontânea de simetria. Uma visão intuitiva deste a quebra de isotropia espacial é a transição de fase do
processo é a quebra de simetria espacial quando toma- ferromagnetismo no modelo de Ising, temos, antes da
mos uma vareta em pé e pressionamos no sentido de transição uma cadeia linear de spins com movimento
1 E-mail: belichjr@gmail.com.
Copyright by the Sociedade Brasileira de Fı́sica. Printed in Brazil.
58 Belich et al.

térmico e sem correlação. À medida que o sistema rem massa [1].


é resfriado os spins começam a ficar correlacionados A quebra espontânea de simetria aparece também
e se orientam em uma determinada direção, gerando, no contexto da Teoria de Cordas. Esta teoria atribui di-
como campo de fundo, um campo magnético. Desta mensão a partı́culas pontuais; portanto, uma partı́cula
forma ocorre uma quebra de isotropia espacial, pois movendo-se no espaço-tempo, ao invés de desenvolver
este campo de fundo seleciona, espontaneamente, uma uma trajetória linear, descreve uma folha, a chamada
direção preferencial. superfı́cie de mundo. Os modos normais de vibração
A questão que se levanta aqui, da quebra de sime- desta folha recuperariam as informações de descrição
tria de Lorentz, ou equivalentemente, de alteração da das partı́culas. Uma outra novidade desta teoria é
velocidade limite de propagação, contraria frontalmente lançar mão de uma idéia surgida no inı́cio das propo-
um dos pilares da teoria mais bem sucedida da fı́sica stas de modelos cosmológicos: as teorias de Kaluza-
atual, a relatividade restrita. Partindo do pressuposto Klein. Partindo inicialmente de uma teoria em di-
de que a velocidade de propagação de uma onda eletro- mensões mais altas, à medida que vamos reduzindo
magnética deve ser a mesma independente do sistema as dimensões, chegamos a uma teoria que explique os
de refência que se adote, Einstein conseguiu dar uma fenômenos que ocorrem no espaço-tempo ordinário qua-
interpretação revolucionária às transformações de Lo- dridimensional [2].
rentz, provocando mudanças dos conceitos de espaço e A idéia da ocorrência da quebra espontânea de si-
de tempo, recolocando-os sob um novo pano de fundo metria no contexto da teoria das cordas e do modelo
onde a fı́sica se desenvolve: o espaço-tempo. padrão Estendido foi lançada por Kostelesky e Samuel
A simetria de Lorentz, aliada ao desenvolvimento da [3] em 1989, e, aos poucos, foi ganhando adesão na co-
mecânica quântica, fornece a guia para a formulação de munidade, como procedimento mais usual para se in-
uma teoria que possa descrever o comportamento das troduzir a quebra da simetria de Lorentz. No trabalho
partı́culas elementares. Surge, então, a teoria quântica citado, os autores avaliam que ao modelo padrão da
de campos, que descreve as partı́culas como excitações fı́sica de partı́culas devem ser incorparadas estas idéias.
localizadas de um campo que está imerso no espaço- Entretanto, não são apenas questionamentos
tempo. O campo seria um grande “colchão de molas” teóricos que podem motivar a proposta da quebra da
onde as excitações se propagariam. A maturação de- simetria de Lorerz. Na década passada, por obser-
stas idéias levou à formulação do modelo padrão, que vações astronômicas do espectro de estrelas [6] , sur-
descreve, de maneira unificada, as forças que regem as giram evidências de que a constante de estrutura fina
partı́culas elementares (eletomagnéticas, nucleares for-  
e2
tes e nucleares fracas), deixando de lado a força gravi- α = c , uma medida da intensidade da interação ele-
tacional. Uma das conhecidas dificuldades em se tratar tromagnética entre fótons e elétrons, esteja lentamente
a força gravitacional, de maneira resumida, reside no variando [4]. Como α relaciona a carga elétrica e, a
fato de não se ter massas que se repelem e, por isto, não constante de Planck , e a velocidade de propagação
se consegue a blindagem desta força. Einstein quando da Luz no vácuo c, qual seria a ”constante ” que po-
criou sua teoria da gravitação tentou também, sem su- deria variar? Sem dúvida a alteração de qualquer uma
cesso, incluir o eletromagnetismo. delas provocaria grandes mudanças nas propriedades da
Da tentativa de se incorporar a teoria da relativi- matéria.
dade geral, concebida para descrever a força gravitacio- Outro exemplo vem da observação de Raios
nal no cenário estabelecido pelo modelo padrão, apa- Cósmicos além do limite (GZK)- Greisen-Zatsepin-
rece naturalmente a quebra da simetria de Lorentz. É Kuzmin (EGZK  4.1019 eV [7], [8]), o que levanta
de se esperar que, em altas energias, tenhamos uma dúvidas sobre o conhecimento das leis que regem o
teoria unificada decrevendo a Natureza de maneira tempo de vida dessas partı́culas que compõem estes
simétrica. O modelo padrão com gravidade descreveria raios. Seria esperado que estas partı́culas decairiam
uma fı́sica em que a energia envolvida seria da ordem antes de chegar à Terra. Uma possı́vel explicação é que
de 1019 GeV(a massa de Planck, considerando c = 1). estes raios desenvolvam uma velocidade superior à da
Dentre as possibilidades de violação da simetria de luz para conseguir atingir o sistema solar.
Lorentz, consolidou-se, ao longo da década passada, Na próxima seção vamos elucidar de que maneira
uma proposta de quebra desta simetria por um campo ocorre esta violação de simetria por um campo de fundo
de fundo. Esta idéia ganhou uma atenção especial de- tomando como exemplo um elétron se movendo em um
vido ao fato de que, em um processo de transição de campo elétrico uniforme gerado por um capacitor de
fase, é natural que apareça um campo (escalar) de fundo placas paralelas. Chamamos um campo qualquer de
não-nulo resultante quando o sistema fı́sico atinge o campo de fundo quando não temos acesso às fontes des-
estado de mı́nima energia. Este mecanismo é conhecido tes campos. Veremos, através da trajetória balı́stica
como quebra espontânea da simetria, e este processo do elétron em um campo uniforme, que a equivalência
de transição de fase, no contexto do modelo padrão, na descrição do movimento do elétron por uma trans-
vem explicar como as partı́culas fundamentais adqui- formação ativa e passiva de Lorentz é quebrada.
Violação da simetria de Lorentz 59

2. A violação espontânea da simetria de Vamos nos deter neste caso particular de transformação
Lorentz de Lorentz para elucidar a diferença entre dois pontos
de vista.
A busca de uma teoria que descreva a fı́sica de uma As transformações de sistemas de referência que re-
maneira unificada não se origina de um desejo mera- lacionam referenciais inerciais podem ser realizadas de
mente estético, mas da certeza de que esta construção duas maneiras [11]:
nos faz compreender mais profundamente os processos 1 - Ponto de vista passivo- quando deixamos os
naturais, e abre possibilidades nunca antes pensadas. pontos pertencentes ao espaço-tempo intactos e rela-
A procura de uma simetria fundamental que descreva cionamos as bases de dois sistemas de referenciais iner-
o Universo quente primordial, e à medida que este se ciais.
esfria apareçam novos cenários por quebra espontânea 2 - Ponto de vista ativo- ao invés de mudarmos nosso
de simetria de Lorentz, tem se estabelecido fortemente sistema de referência, deixamos nossa base fixa e quem
desde que este mecanismo foi proposto. Vamos nos ater se movimenta são os pontos do espaço-tempo.
à descrição conceitual de como esta quebra ocorre. Para Elucidaremos as diferenças destes dois pontos de
isto vamos começar descrevendo a simetria de Lorentz. vista com transformações de Lorentz que envolve so-
Para formular a teoria da relatividade restrita Eins- mente dimensões espaciais: as rotações.
tein se baseou em dois princı́pios:
1 - As leis da fı́sica são idênticas em qualquer refe-
rencial inercial. 2.1. Rotação passiva
2 - A velocidade da luz no vácuo é a mesma em Nesse ı́tem, descreveremos as transformações de Lo-
qualquer sistema de referência inercial. rentz do ponto de vista passivo. Usando uma rotação
Então, com base nesses princı́pios, podemos esperar no plano xy como exemplo, vamos descrever um mesmo
que qualquer referecial inercial veja a luz se propagando ponto P em dois sistemas de referência. Conforme ve-
esfericamente com velocidade c. Tomando dois referen- mos na figura, temos a coordenada de um ponto P, re-
ciais inercias que no instante inicial t = 0 coincidam de lacionando a descrição das coordenadas no referencial
posição e se afastem com velocidade v, temos então a o (x, y), com as coordenadas no referencial o (x ’, y’),
luz se propagando vista por dois referenciais o e o [10] rodado de um ângulo φ
    
c2 t2 − x2 − y 2 − z 2 = 0, (1) x cos φ sin φ x
= (6)
c2 t2 − x2 − y 2 − z 2 = 0. y − sin φ cos φ y

Estabelecemos a igualdade, ondedefinimos a matriz


 de trasnformação passiva por
cos φ sin φ
P= .
− sin φ cos φ
c2 t2 − x2 − y 2 − z 2 = c2 t2 − x2 − y 2 − z 2 . (2)
Uma possı́vel relação que satisfaz a igualdade acima é Y P
 v  Y’
ct = γ ct − x ,
c

y = y, (3) f
x = γ (x − vt) ,
R

. X’
f
z = z,
1 .
γ =  . (4) sf nf .
2 x co y si
1 − vc2
f
Estas transformações que envolvem mudanças em 0
0 x X
coordenadas espaciais e temporais são conhecidas como
“boost” (empurrões) de Lorentz. Uma outra trans- Figura 2 - Como se chegar à matriz de rotação passiva
formação de Lorentz que relaciona apenas coordenadas
A versão infinitesimal é (levando em conta apenas a
espaciais, as rotações, também satisfazem a Eq. (2).
primeira ordem)
Tomemos como exemplo a relação abaixo
    
t = t, x 1 δφ x
= . (7)
y = −x sin φ + y cos φ, y −δφ 1 y
x = x cos φ + y sin φ, Transferindo a matriz identidade para o outro lado
z = z. (5) da igualdade temos
60 Belich et al.

em um ponto P imerso em um campo de fundo. Trans-


       ferindo o cenário de nossa discussão para observadores
δx x − x 0 1 x que estão no interior de um capacitor de placas parale-
= = δφ (8)
δy y − y −1 0 y las, com campoelétrico E na direção z, como mostra
a figura, vamos descrever uma rotação do elétron de
2.2. Rotação ativa π
2 radianos, com o vetor posição inicial R = (0, a, 0),
Em uma descrição ativa de rotação, o espaço, como perpendicular ao campo (Fig. 4). Podemos representar
um todo, gira em relação a uma base de coordenadas esta rotação de duas maneiras:
de um único sistema de referência inercial o. Portanto Passiva: relaciona o observador inicial o com um ou-
tomando como referência o ponto P (x, y) na figura, tro, o , girado de φ = + π2 radianos (Fig. 4). Nesse caso
observamos um giro até o ponto P ’, transladado de φR os dois observadores irão concordar que o vetor posição
      R é perpendicular ao campo de fundo (R ⊥ E).
x cos φ − sin φ x
= (9)
y sin φ cos φ y
onde definimos a matriz
 de rotação ativa por
cos φ − sin φ
A= .
sin φ cos φ
eixo y

P’
R

Figura 4 - Rotação passiva de ângulo φ em presença de um campo


de fundo.
f
Ativa: mantendo o mesmo referencial o realizamos
uma rotação no elétron de − π2 , e para nossa surpresa
vemos o vetor posição R = (0, 0, −a) agora paralelo ao
0
0 X’
campo de fundo (R  E) (Fig. 5).
X eixo x

Figura 3 - Como se chegar à matriz de rotação ativa.

A versão infinitesimal é (novamente até a primeira


ordem)

      
δx x − x 0 −1 x
= = δφ . (10)
δy y − y 1 0 y

Os dois tipos de transformações descrevem a rotação


de maneira equivalente: no caso passivo temos dois re-
ferenciais diferindo de um ângulo φ descrevendo um
mesmo ponto P. No caso ativo, temos um único referen-
cial descrevendo a rotação através do deslocamento de
Figura 5 - Rotação passiva de ângulo −φ em presença de um
P. Portanto, se colocamos um elétron no ponto P po- campo de fundo.
demos descrever a rotação desta partı́cula de duas ma-
neiras equivalentes, ou seja, se realizamos uma rotação Observe que realizando estas duas descrições, chega-
passiva de um ângulo φ, ou ativa de um ângulo −φ, mos a duas situações distintas. Portanto a presença de
obtemos a mesma matriz de rotação. um campo de fundo quebra a equivalência destas duas
descrições. Por conta disto, na década passada, surgi-
ram duas novas denominações para as transformacões
2.3. Transformação de Lorentz de observador
de Lorentz: i) Transformação de Lorentz de observador
e de partı́cula
- para designar a transformação passiva em presença
Na seção anterior fizemos uma discussão utilizando de um campo de fundo; ii) Transformação de Lorentz
como exemplo o tipo mais simples de transformação de de partı́cula - para designar a transformação ativa, na
Lorentz: as rotações. Vamos, agora, colocar um elétron partı́cula, em presença de um campo de fundo.
Violação da simetria de Lorentz 61

2.3.1. Transformações de observador 2.3.2. Transformações de partı́cula

Vamos tratar agora das transformações de Lorentz Agora mantemos nossa base de referência e aplicamos
que envolvem coordenadas temporais, os “boosts” (em- um “boost” (empurrão) no elétron. As coordenadas
purrões) de Lorentz. Para simplificar a discussão va- do elétron, para descrever uma mudança equivalente à
mos utilizar uma coordenada espacial, e uma tempo- mudança de observador, obedecem à transformação
ral. Da mesma forma, quando efetuamos uma rotação
passiva relacionando duas bases vetorias diferindo por
uma rotação de ângulo φ, de maneira análoga relacio-  v 
namos duas bases de sistemas de referencias inerciais ct = γ ct + x ,
c
como abaixo y = y,
x = γ (x + vt) ,
 v 
ct = γ ct − x , z = z, (16)
c
y = y, e temos,
x = γ (x − vt) ,
z = z (11)       
δt t − t 0 δα x
= = . (17)
Podemos representar esta transformação de forma a se δx x − x δα 0 y
parecer com uma rotação. Chamando tanh α = vc a
relação acima fica
2.4. Transformação nos campos. O elétron em
um campo elétrico uniforme
ct = cosh α ct − sinh α x,
y = y, Quando temos um campo eletromagnético de fundo,

como ele se transforma frente a estas duas trans-
x = − sinh α ct + cosh α x, (12) formações de Lorentz? Primeiramente vamos tratar da
z = z, transformação de observador. Tomando dois referen-
1 ciais, S e S ’, inerciais que se afastam com velocidade v,
 = cosh α,
v2 dividimos os campos em componentes perpendicular e
1− c2 paralelo a v [12]. Os campos se transformam como
v
sinh α = γ. (13)
c

Note que, identificando ct = y, ct = y  , e α = iφ, E = E;


recuperamos a forma da Eq. (6). Com esta analogia B = B;
pretendemos aproveitar o comportamento do campo de 
E⊥ = γ (E + v × B)⊥ ;
fundo perante os dois tipos de rotação para caracterizar  
 v×E
o comportamento do campo de fundo. Rigorosamente, B⊥ = γ B− (18)
esta comparação é errônea pois as rotações são trans- c2 ⊥
formações ortogonais, e quando fazemos α = iφ, estas
tranformação deixam de preservar distância2 .
Fazendo α → δα, sendo δα um ângulo infinitesimal,
temos
    
ct 1 −δα ct
= , (14)
x −δα 1 x
e

   
cδt c (t − t)
= =
δx x − x
  
0 −δα ct Figura 6 - Dois sistemas de referência: S (em repouso em relação
. (15)
−δα 0 x ao capacitor) e S’ (com velocidade v em relação ao capacitor).
2 Para o entendimento adequado desta questão, deve-se entender que os “boosts” de Lorentz são não-compactos. Entretanto, tal

discussão foge aos objetivos deste trabalho. Remetemos à Ref. [17] para o leitor interessado em aprofundar este ponto.
62 Belich et al.

2.4.1. Transformação de observador em um eletromagnético diferente. Isto ocorre porque o campo


campo elétrico uniforme eletromagnético segue uma lei de transformação ten-
sorial perante as transformações de observador. Este
Utilizando como campo de fundo um campo elétrico
comportamento é chamado de covariância de Lorentz.
uniforme vamos ver como a expressão dos campos
Já a transformação de partı́cula atua somente nos
modificam-se por transformação de observador. Vamos
pontos do espaço-tempo, portanto somente o elétron se
colocar os nossos referenciais inerciais S e S’ imersos em
desloca com velocidade −v. As placas do capacitor fi-
um campo elétrico gerado por um capacitor, movendo-
cam paradas, portanto o campo elétrico de fundo não
se paralelamente às placas, portanto perpendicular ao
se modifica. Conclui-se, assim, que o campo elétrico
campo elétrico de fundo, como mostra a Fig. 6 (sendo
tem um comportamento de um campo escalar (22).
que S está em repouso em relação as placas do ca-
pacitor). Como o campo magnético B de partida é
nulo nossa transformação nos campos fica simples. Va- 2.4.3. O movimento do elétron
mos supor que o nosso movimento é perpendicular ao Vamos estudar o movimento de um elétron com velo-
campo elétrico uniforme E. Então nossa transformação cidade inicial u movendo-se paralelamente às placas do
nos campos fica capacitor. A força que o elétron sente é dada pela ex-
pressão
E
E =  , (19) F = e(E + u × B). (23)
v2
1− c2
O observador S verá o elétron em queda livre sendo
− v×E acelerado somente pelo campo elétrico (B = 0). Se as
B
2
=  c .
2 velocidades envolvidas são comparáveis a c um elétron
1 − vc2
de massa m sujeito a uma força constante F
Portanto, temos um novo campo elétrico E e dp
magnético B totalmente transversos a velocidade. F = , =⇒  p = F t, (24)
dt
Então, quando nos movemos perpendicularmente a sendo p a variação de momento relativı́stico. Já que o
um campo elétrico estático uniforme, veremos um momento relativı́stico inicial na vertical é nulo (p = 0,
novo campo elétrico E reduzido, e aparece um campo t = 0) temos

magnético B = − v×E
c2 .
muy
p= 
u 2 = F t. (25)
2.4.2. Empurrão sobre a partı́cula 1 − cy
Quando realizamos um empurrão (“boost” instantâ- Extraindo uy da expressão acima
neo) de Lorentz sobre o elétron não estamos movendo
F
as placas do capacitor, portanto o campo elétrico assu- t
uy =  m
, (26)
me as caracterı́sticas de um campo de fundo que não Ft 2
1 + mc
está variando, ou seja
para obtermos o valor do espaço percorrido na vertical
E  (x ) = E(x). (20) fazemos
Então este campo, ou melhor, esta componente do

campo, apresenta um comportamento de um campo es- F t t 
y(t) = 
F t 2 dt =
calar quando realizamos um empurrão sobre o elétron m 0
1 + mc
 
δE(x) = E  (x) − E(x) = −δxµ ∂µ E(x). (21)  2
mc2  Ft
1+ − 1 . (27)
Com base na expressão 15 podemos estimar o valor F mc
de δxµ e a expressão da variação funcional δE(x)
Note que ao invés, de obtermos uma parábola (caso
   não relativı́stico), esta equação descreve uma hipérbole
 0 −δα ∂t E
δE(x) = − ct x c = [13]. Tomando
 o limite não relativı́stico (mc  F t),
−δα 0 ∂x E
F t 2
F t 2
δαx temos 1 + mc  1 + 12 mc , e ficamos com
∂t E + δαct∂x E. (22)
c F 2
y(t) = t . (28)
A transformação de observador do campo elétrico 2m
fez com que um campo magnético transverso surgisse. Já o observador S’, em movimento, verá o elétron
Portanto o campo elétrico se transformou em um campo submetido a uma força
Violação da simetria de Lorentz 63

de coordenadas são chamadas de transformações de


E
F = e(  ), (29) Lorentz de observador. Podemos também considerar
v2
1− c2
transformações que relacionam duas partı́culas com di-
ferentes velocidades sem mudar de referencial - as trans-
e formações de partı́cula fazem este trabalho.
Vimos que, no caso de partı́culas livres (campo de
muy   fundo nulo), estas transformações são chamadas de pas-
p = 
uy 2 = F t , (30)
siva (observador) e ativa (partı́cula) e se relacionam de
1− c
 maneira inversa.
 v2 A presença do campo de fundo torna estas duas
t = 1− t. (31) transformações não mais descrevendo uma situação
c2
fı́sica equivalente. Para exemplificar esta diferença
Com isto, o movimento da partı́cula fica descrito por entre as duas transformações analisamos o movimento
balı́stico de um elétron em presença de um campo de
 
   2 fundo eletrostático uniforme. Através da transformação
mc2  F t

y (t) = 1+ − 1 , (32) de observador o campo elétrico apresenta um compor-
F mc tamento covariante, portanto preservando a simetria de
 covariância de Lorentz. Para baixas energias vimos que
v2 os dois observadores inerciais concordam com o movi-
y  (t) = 1 − 2 y(t). (33)
c mento parabólico do elétron.
Sob transformação de partı́cula o campo de fundo
Da mesma forma, para o alcance do elétron (x(t)), te-
fica inalterado e o eletron sofre um “boost” instantâneo
mos
e diminui seu alcance. Este comportamente de um
 campo escalar quebra a simetria de covariância de Lo-
 v2
x (t) = 1 − 2 x(t). (34) rentz. Portanto, é neste sentido que a simetria de Lo-
c
rentz é quebrada por um campo de fundo.
Na aproximação de baixas velocidades S e S’ con- Na literatura recente a proposta de quebra de si-
cordam com a mesma medição do alcance do elétron metria de Lorentz é realisada por um quadrivetor (pµ
A = x (t) = x(t). Sob o ponto de vista da trans- ou v µ ) proveniente da quebra espontânea de uma sime-
formação de partı́cula o campo de fundo fica inalterado tria interna [3, 14], [15, 16]. De maneira equivalente, as
e aplicamos um “boost” na partı́cula de -v. Desta componentes deste quadrivetor, sob transformação de
forma o obsevador S verá o eletron cair em queda li- partı́cula, tem um comportamento escalar. Sob trans-
vre apresentando como alcance A = (u − v) .tq (Sendo formação de observador este quadrivetor tem um com-
tq o tempo de queda), Fig. 7. No caso anterior tinha- portamento covariante de Lorentz.
mos o elétron se movendo com velocidade u, portanto
o alcance no caso da transformação de observador é
maior. 4. Agradecimentos
Os autores agradecem a J.A. Helaÿel-Neto pelo leitura
e cometários deste trabalho.

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