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ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA E FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA: A

APLICAÇÃO DE UMA SEQUÊNCIA DE ENSINO POR INVESTIGAÇÃO1.

Verbênia Almeida Santos2


Meiline Nunes Barbosa3
Adeilton Dias Alves 4

RESUMO

O presente artigo é um relato de experiência educativa em sala de aula desenvolvida com uma
turma de sétimo ano do ensino fundamental de uma escola Municipal. O objetivo do trabalho
foi analisar como o Ensino por investigação pode possibilitar uma formação científica para a
cidadania a partir, de uma investigação sobre os impactos do açúcar para a saúde e meio
ambiente. Trata-se de um estudo que relaciona Ciências, tecnologias, meio ambiente e
sociedade através da aplicação de uma Sequência de Ensino por Investigação (SEI). Nesse
sentido, buscar-se-á referencial teórico nos estudos de Sasseron e Carvalho (2008, 2015),
Lorenzetti; Delizoicov (2001), Chassot (2003) entre outros, para aprofundar os estudos sobre
o Ensino por investigação. Para isso, foi urgente a inserção de uma Educação Científica nas
aulas, na tentativa de fazer com que os educandos reflitam sobre o que consomem e quais os
impactos desses alimentos para suas vidas.

Palavras-chave: Alfabetização Científica, Ensino Investigação, Formação para cidadania

1
Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-graduação em Formação de Professores da
Educação Básica Mestrado Profissional – PPGE da Universidade Estadual de Santa Cruz.
2
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC, discente do Programa de Pós-
Graduação Latu Sensu em Educação Científica e Cidadania, no âmbito do Instituto Federal Baiano,
Campus Uruçuca, discente do Programa de Pós-graduação em Formação de Professores da Educação
Básica Mestrado Profissional - PPGE

3
Graduada em Educação Física, pela Faculdade Montenegro, discente do Programa de Pós-Graduação Latu
Sensu em Educação Científica e Cidadania, no âmbito do Instituto Federal Baiano, Campus Uruçuca.
4
Doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, docente do
Programa de Pós-Graduação Latu Sensu em Educação Científica e Cidadania, no âmbito do Instituto Federal
Baiano, Campus Uruçuca.
INTRODUÇÃO

É um grande desafio planejar uma sequência didática tendo a Alfabetização Científica


como objetivo. Tentar discutir conteúdos de ciências e fazer interlocuções com outras áreas
do conhecimento é uma possibilidade de introduzir os alunos nas diversas linguagens das
ciências para que sejam capazes de atuar no mundo, tomar decisões e produzir conhecimentos
significativos.
Diante disso, o trabalho apresentado nesse artigo, foi realizado com uma turma de
sétimo ano do ensino fundamental do Centro Integrado Cristo Redentor, na cidade de São
José da Vitória com objetivo de possibilitar uma educação científica para alunos através do
ensino por investigação. Assim, o problema aqui investigado é: os alunos de sétimo ano do
ensino fundamental conseguem desenvolver habilidades de Investigação Científica? As
questões que irão nortear esse estudo são: Como os adolescentes desenvolvem conceitos a
partir de atividades de investigação? Como o EI pode contribuir para desenvolver habilidades
de leitura, escrita, interpertação e argumentação?
Para isso a questão problematizadora apresentada aos alunos foi: Quais os impactos do
consumo excessivo do açúcar para a saúde das pessoas? A escolha do tema justifica-se pela
importância de pensar e discutir com os alunos os hábitos alimentares socialmente
construídos, a quantidade de doces e produtos ultraprocessados ingeridos diariamente, atuação
da indústria do açúcar e seu poder econômico que é muito grande e o estimulo das
publicidades de maneira geral, ao consumo desse componente sem abordar os problemas de
saúde.
É importante destacar que após apresentar aos estudantes o problema, eles foram
instigados a pensar e construir argumentos para levantar possíveis hipóteses. Feito isso foi
registrado nos diários de bordo tais hipóteses para depois de um processo investigativos serem
comparadas com respostas encontradas.
Nesse sentido, é notório que os impactos do consumo do açúcar no organismo, tornou-
se ao longo dos anos uma preocupação mundial por conta das doenças crônicas relacionadas à
ingestão desse componente. Assim, o desenvolvimento de ações educativas que
conscientizem os consumidores para que estes façam escolhas mais saudável é fundamental.
A escola, a família e a sociedade têm o papel de discutir essas questões de forma crítica
mostrando que o conhecimento científico acontece também nas práticas sociais do cidadão.

2
OBJETIVO GERAL

Desenvolver uma sequência didática de Ensino investigativo com alunos do sétimo


ano do ensino fundamental II no intuito de promover discussões orais e escritas para o
envolvimento dos adolescentes com processos de investigação científica.

OBJETIVOS ESPECIFICOS

- Problematizar a questão da má alimentação


- Discutir com os alunos os principais problemas relacionados à má alimentação;
- Analisar as discussões orais estabelecidas em sala de aula;
- Analisar os textos produzidos pelos alunos;
- Propor uma socilização do conhecimento entre alunos e comunidade.

REVISÃO DE LITERATURA E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Vivemos em uma sociedade onde a tendência é comer alimentos industrializados que


facilitam a vida das pessoas. Contudo, atualmente a má alimentação tornou-se uma
preocupação mundial de saúde pública. É nesse sentido que surge a necessidade de discutir
com os alunos da educação básica sobre a alimentação e questionar se costumam observar os
rótulos e embalagens dos produtos a fim de promover uma discussão partindo de um
problema social, estabelecendo relações entre o que se aprende em sala de aula e suas vidas
cotidianas
Nessa perspectiva, as reflexões de Sasseron e Carvalho (2011), depois de fazer uma
revisão bibliográfica sobre Alfabetização Científica, apontam que há uma preocupação em
colocar a AC como objetivo principal do ensino de ciência em toda a formação básica. O que
as autoras discutem é a necessidade de formar alunos para atuar na sociedade científica e
tecnológica dos nossos dias, isso significa que os alunos precisam desenvolver habilidades
relacionadas ao conhecimento científico como: analisar, argumentar, avaliar, classificar,
investigar, levantar hipóteses, trabalhar em grupo, entre outras.
Desse modo, o educador tem um papel fundamental na provocação de discussões
relacionadas às ciências, tecnologia, sociedade e meio ambiente. Nessa linha de pensamento,
Chassot, afirma que a questão primordial para o desenvolvimento do sujeito autônomo e
crítico é priorizar temas de interesse da comunidade, fazendo uma ponte entre conhecimento
científico e suas implicações sociais. Segundo o estudioso, a Ciência é “uma linguagem para

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facilitar nossa leitura de mundo” (Chassot, 1993, p.37). A esse respeito o autor na obra
Alfabetização Científica questões e desafios da educação, propõe:

Poderíamos considerar a alfabetização cientifica como um conjunto de


conhecimentos que facilitariam aos homens e mulheres fazer uma leitura do
mundo onde vivem. Amplio mais a importância ou as exigências de uma
alfabetização cientifica. Assim como exige-se que os alfabetizados em
língua materna sejam cidadão e cidadãs críticos, seria desejável que os
alfabetizados cientificamente não apenas tivessem facilitada a leitura do
mundo em que vivem,mas entendessem as necessidades de transformá-los, e
transformá-los para melhor ( Chassot, 2013, p. 62).

Corroborando com Chassot, Lorenzetti e Delizoicov (2001), no artigo Alfabetização


Científica no contexto das séries inicias, afirmam que o ensino de ciências não tem por
objetivo formar apenas cientistas, mas preparar o aluno para discutir sobre assuntos, conceitos
científicos e que consigam aplicar em suas vivências, “constituindo um meio para o indivíduo
ampliar seu universo de conhecimentos, a sua cultura, como cidadão inserido na sociedade”
(2011, p.43). O que os autores desejam é um EC mais aberto que leve a uma leitura de
mundo.

MATERIAL E MÉTODO

O trabalho foi desenvolvido por meio da pesquisa qualitativa, visto que esta possibilita
o estudo dos motivos, desafios, perspectivas, crenças, valores e atitudes dos sujeitos
envolvidos. A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas,
sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social e de uma organização
(GOLDENBERG, 1999). A realização do trabalho aconteceu por meio de uma sequência de
ensino investigativo, que de acordo Carvalho (2011) apresenta algumas características como,
por exemplo, a participação ativa do estudante; a importância da interação aluno aluno; o
papel do professor como elaborador de questões; a criação de um ambiente encorajador; o
ensino a partir do conhecimento que o aluno traz para a sala de aula; o conteúdo (problema)
como algo significativo para o aluno; a relação Ciência-Tecnologia Sociedade e a passagem
da linguagem cotidiana para a científica (Carvalho, 2011).
A aplicação da sequência de ensino investigativo aconteceu em uma turma de alunos
do sétimo ano, composta por vinte alunos numa faixa etária de idade entre 13 e 14 anos, de
uma escola municipal. Vários instrumentos foram utilizados para análise de dados: gravação
em áudio de falas dos alunos e depois transcrições, textos individuais e coletivos e observação
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dos trabalhos em grupo. A coleta de dados teve a duração de 10 aulas (cada uma de 50
minutos), realizada em uma observação participante no período de cinco dias, divididas em
cinco oficinas:
Primeira Oficina: Apresentando o problema como objetivo de problematizar a
alimentação da turma partindo da quantidade de casca de bala e embalagens espalhados pela
sala. Iniciaram-se com apresentação na aula de Filosofia de um texto e charges sobre
Consumo e consumismo seguido de leitura, interpretação e discussão. Logo após, foi
apresentado aos alunos uma problematização a partir da quantidade de casca de balas e
embalagens de produtos industrializados no lixo da escola: Quais os impactos do consumo do
açúcar para a saúde e meio ambiente? Além disso, realizou-se uma atividade para trabalhar a
escrita onde os alunos deveriam conceituar o que é o açúcar, com a intenção de levá-los a
construir argumentos, levantar hipóteses, apresentar conhecimentos prévios. No final da aula
a professora propôs que cada aluno anotasse em um diário de bordo tudo que acontecesse
durante as oficinas.
Segunda Oficina: Realizando atividades e discussão do problema com objetivo de
interpretar os rótulos dos alimentos, apontarem as principais doenças causadas pelo açúcar e
buscar em fontes diversas (livros, revistas, internet) informações para ampliar o
conhecimento. Formação de grupos de trabalho para buscar informações sobre o assunto.
Depois foi feita a discussão do problema a partir da busca de informações (oralmente). Assim
como também apresentação do artigo da Organização Mundial de Saúde que trata da
quantidade recomendável de açúcar ingerida diariamente. Foi solicitado aos alunos que
registrassem um dia de sua alimentação para criação de tabelas representando as cinco
refeições diárias, analisando nos produtos processados a quantidade de açúcar informado nos
rótulos. O próximo passo foi à discussão do problema utilizando dois questionamentos: Como
coletaram os dados da própria alimentação e quais as conclusões que chegaram com
resultados? Por fim transformar esses resultados em gráficos na aula de matemática para
tratamento da informação.
Terceira oficina: Enxergando o problema tendo como objetivo identificar a presença
de açúcares em alimentos, refletir sobre a relação consumidor x fabricantes. Trabalho com
rótulos e embalagens e uso de uma balança para experimento, calculando a quantidade de
açúcar de alimentos processados diversos. Discutir os resultados das leituras das tabelas
nutricionais sobre a quantidade de açúcar de cada alimento ultra processado. Leitura de texto

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sobre doenças provocadas pelo consumo excessivo desse componente. Proposta de entrevista
com pessoas que tenham diabetes e a elaboração de perguntas em grupo.
Quarta oficina: Discussão do problema. Teve como objetivo identificar a presença de
açúcares em alimentos, refletir sobre a relação consumidor x fabricantes e interpretar alguns
dados no exame de sangue. Começou com os alunos construindo explicações (Como? Por
quê?) sobre as entrevistas realizadas. Análise de um exame de sangue e levantaram hipóteses
sobre.
Quinta oficina: Registro, apresentação e avaliação do trabalho com objetivo de
preparar os alunos para opinar sobre o cardápio da merenda escolar, além de pensar
criticamente a respeito das escolhas; apresentar a comunidade a investigação realizada e os
resultados das discussões em sala de aula. Conhecendo e discutindo sobre o cardápio da
merenda escolar. Organização de um lanche saudável sem açúcar (interação entre estudantes e
merendeiras). Criação de um livro de receitas saudáveis. Exposição da investigação oral e
escrita (pelos alunos) na Feira de Conhecimento da Escola. Por fim, individualmente cada
aluno apresentou seu diário de bordo com suas avaliações e aprendizagens.

RESULTADOS E DISCUSSÕES: PROCESSO DE EXPERIÊNCIA NA SALA DE


AULA

Para definir os critérios a serem analisados retomaremos o objetivo principal desse


trabalho que foi desenvolver uma sequência didática de Ensino investigativo com alunos do
sétimo ano do ensino fundamental II com intuito de promover discussões orais e escritas para
envolvimento dos adolescentes com processos de investigação científica. Assim, a análise da
sequência didática proposta acima foi feita com base nas observações e anotações da
professora participante, nos textos escritos, trabalhos em grupo e nos áudios gravados. Os
elementos investigados durante essa análise estão relacionados aos eixos estruturantes e
indicadores da Alfabetização Científica proposto por Sasseron (2015). Nesse sentido cabe
aqui descrever esses eixos:
Quadro 1- Classificação e descrição dos três eixos da Alfabetização Científica de acordo
com Sasseron (2008)
1-Compreensão básica de termos, Possibilidade de trabalhar com os alunos a construção do
conhecimentos científicos conhecimento científico para que seja possível aplicá-los em
fundamentais. situações diversas em seus dia a dia.
2-Compreensão da natureza das Concebe a ciência como conhecimento em constante transformação
ciências e dos fatores éticos e políticos que vão sendo construída por meio de processos e aquisição e
que circundam sua pratica. análise de dados, sínteses, decodificação de resultados que originam
os sabres;
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3- Entendimento das relações Identificação de que essas esferas se encontram entrelaçadas,
existentes entre ciência, tecnologia, permitindo uma visão mais completa e atualizada da ciência,
meio ambiente e sociedade. vislumbrando relações que impactam a produção de conhecimento e
são por ela impactadas, desvelando, uma vez mais, a complexidade
existente nas relações que envolvem o homem e a natureza
Fonte: Sasseron (2008).

Como já foi apontado o primeiro Eixo está assim descrito Compreensão básica de
termos, conhecimentos científicos fundamentais dessa forma, identificamos na sequencia de
ensino proposta, momentos que são discutidos e apresentados conceitos e termos científicos.
Na primeira aula onde foi apresentado um texto e charges sobre Consumo e consumismo
conceitos científicos foram discutidos na sala de aula ao abordar temas como devastação das
florestas, poluição, degradação, sustentabilidades, entre outros. Além disso, a atividade partiu
de uma pergunta: quais os impactos do consumo excessivo do açúcar para nossas vidas? Essa
pergunta é considerada como uma abordagem investigativa e buscou-se escolher esse tema
levando em consideração ser adequado para a idade e série dos alunos além de ser relevante,
nesse sentido, os conceitos discutidos a partir da problematização inicial promovem a relação
do conhecimento com a vida prática dos adolescentes, uma vez que ao discutir os danos a
saúde, discute-se também como esse componente contribui para a degradação ambiental e em
que medida somos manipulados a não perceber essa situação.
Na segunda aula foi proposta uma atividade onde os alunos deveriam conceituar o que
é o açúcar? Com a intenção de levar os alunos a construir argumentos, levantar hipóteses,
apresentar conhecimentos prévios, também contempla esse primeiro eixo na medida em que a
proposta é fazer com que o aluno argumente e escreva viabilizando diversas oportunidades de
explorar termos e conceitos. Segue um quadro de transcrições de textos escritos de alguns
alunos:
Quadro 2- Transcrição de texto de alunos conceituando o componente AÇÙCAR
Alunos Conceitos
R.S “O açúcar é um produto extraído da cana de açúcar, e usado para dar um gosto doce aos
alimentos. Misturado com água ele se transforma em calmante, é muito usado na cozinha
e muitas doenças são causadas por causa dele.”
G.M “O açúcar é um produto que usamos para adotar muitas coisas como balas, sucos, café e
etc. O açúcar é produzido através da cana de açúcar e depois de retirado o líquido vai
para fábrica e lá passa por vários processos, eles colocam químicas para ficar branco, e
depois vão para os comércios para assim chegar as nossas casas. Os produtos são cheios
de açúcar e depois que usamos poluímos o meio ambiente jogando o lixo atoa (à toa),
como aqui na escola.”
P.A “O açúcar é uma substância que vicia as pessoas, e o uso moderado não faz mal à saúde o
problema é que as pessoas ficam viciadas e querem consumir mais e mais,
principalmente os produtos que passam na televisão.”
Fonte: dados da pesquisa
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Percebe-se que nas três conceituações os alunos utilizaram conhecimentos prévios e
trabalharam conceitos e termos científicos básicos, além de ficar evidente que a temática faz
relação com a vida dos alunos abriu espaço para outras discussões como, por exemplo, por
que o açúcar e água são usados como calmante? Qual destino das embalagens? Para onde vai
nosso lixo?
O segundo eixo trata da Compreensão da natureza das ciências e dos fatores éticos e
políticos que circundam sua vida prática, em diversos momentos o espírito investigativo e
questionador do aluno foi instigado. Na terceira aula foram formados grupos cooperativos
para buscar informações sobre: tipos de açúcar, processo de fabricação, nomenclaturas
utilizadas nas embalagens dos alimentos ultraprocessados e doenças relacionadas ao consumo.
Ao socializar o problema a partir da busca de informações (oralmente), percebeu-se que os
alunos se comunicaram, discutiram ideia, fizeram relações históricas e geográficas,
analisaram criticamente a pouca informação em alguns rótulos.
Também na quarta e quinta aula podemos notar uma relação com o segundo eixo, ao
apresentar o artigo da OMS que trata da quantidade recomendável de açúcar ingerida
diariamente possibilitou que o aluno tivesse informação que podem ser útil em sua vida
cotidiana. Foi proposto que os alunos anotassem um dia de sua alimentação e criaram tabelas
representando as cinco refeições diárias analisando nos produtos processados a quantidade de
açúcar informado nos rótulos. Para a discussão do problema foi lançado aos alunos dois
questionamentos: Como coletaram os dados da própria alimentação? E quais as conclusões
que chegaram com resultados? O quadro três, mostra como a aluna P.A, 13 anos fez a sua
coleta:

Figura 1- Episódio de aprendizagem que demonstra índices de análises por parte da


aluna.

Fonte: dados da pesquisa

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Fica evidenciado no quadro 3 que a aluna além de recorrer aos rótulos dos alimentos
ela também fez inferências matemáticas. A professora questionou sobre como fizeram para
resolver o problema e incentivou a construção de respostas pelos próprios alunos. Vale a pena
citar as respostas de alguns alunos ao serem indagados sobre a que conclusão chegaram
depois dessa atividade:
“Eu estou consumindo açúcar dez vezes a mais do que é correto” T.A
“É difícil encontrar alimentos que não tenham açúcar”C.S14 anos
“Quando a gente vai fazer a conta no final é que percebemos que é muito”G.B 14
anos
“Eu nunca tinha prestado atenção, agora fico procurando no rótulo a quantidade
de açúcar e olhando no meu caderno os nomes diferentes que os fabricantes usam
para substituir pela palavra açúcar” L.S, 13 anos
“Eu acho que se eu não parar de chupar tanta bala vou ficar com diabetes igual a
minha mãe.”E.S, 13 anos
“O açúcar é encontrado em quase todos os alimentos, o que eu achei pior foi o
Todinho que tem a quantidade de açúcar muito grande de 23g é quase a mesma
quantidade que a saúde recomenda”T.D, 13 anos

Primeiro temos aqui uma clara evidência que diversas investigações foram
desenvolvidas a partir dessa atividade, que possibilitou questionamentos, levantamento de
hipóteses e possivelmente contribuiu para pensar nas tomadas de decisões. Além disso, ouve
um diálogo com outras disciplinas como a matemática (tratamento da informação) uma vez
que, os adolescentes construíram gráficos e tabelas para explicar sua alimentação diárias e
fizeram análises, discutiram questões que levaram a pensar de maneira lógica. O segundo eixo
ainda faz relação com as aulas seguintes, ao propor trabalho com rótulos e embalagens e uso
de uma balança para experimento calculando a quantidade de açúcar dos alimentos
processados permitiu-se uma construção científica, a investigação de uma situação de
interesse da sociedade.
O terceiro eixo versa sobre o Entendimento das relações existentes entre ciência,
tecnologia, meio ambiente e sociedade pode ser percebido no momento em que foram feitas
leituras de textos sobre doenças provocadas pelo consumo excessivo do componente em
questão e a partir daí os alunos foram entrevistar pessoas da comunidade. As perguntas foram
elaboradas pelos alunos em grupo, depois foram socializadas e, por fim, selecionadas. Segue
as perguntas finais estabelecidas pelos próprios alunos em momentos de diálogo e tomadas de
decisão: Qual seu nome? Qual sua idade?Quando descobriu que tinha a doença? Qual exame
foi feito para diagnosticar? Tinha sintomas físicos? Você mudou a alimentação depois que
descobriu a doença? Agora você faz tratamento? Como se sente depois do tratamento? Toma
algum tipo de remédio? Qual?

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É notório que levar os adolescentes a campo para realização das entrevistas
desencadeou outras problemáticas como: o aparecimento do Diabetes na infância, formas
alternativas para o tratamento, a coleta de sangue como o exame mais comum para
diagnosticar a doença, os tipos de diabetes, pessoas da mesma família com a doença, dietas da
moda e mudanças de hábitos alimentares, entre outros.
Desse modo, os alunos apresentaram situações que evidenciam a relação das Ciências
com a sociedade meio ambiente e tecnologia. Além disso, as duas últimas aulas foram de
socialização do conhecimento adquirido com a comunidade, ao discutir sobre o cardápio da
merenda escolar (interação entre estudantes e merendeiras) criaram receitas saudáveis
juntamente com a professora de Língua Portuguesa. Além disso, orientaram a comunidade
através de ações conscientizadoras e esclarecedoras a respeito dessa necessidade de pensar
sobre que tipo de alimentação temos, como podemos fazer escolhas saudáveis e como
podemos pensar em um ambiente mais sustentável.
Analisaremos a partir de agora como esses indicadores apareceram nas atividades
desenvolvidas em cada oficina. Entretanto buscaremos primeiramente identificar os
indicadores propostos por Sasseron (2008).
Quadro 3. Indicadores de Alfabetização Científica propostos por Sasseron e Carvalho
(2008).
Indicador Descrição
Seriação de Informações Está ligada ao estabelecimento de bases para a ação investigativa. Não prevê,
necessariamente, uma ordem que deva ser estabelecida para as informações:
pode ser uma lista ou uma relação dos dados trabalhados ou com os quais se
vá trabalhar.
Organização de Informações Surge quando se procura preparar os dados existentes sobre o problema
investigado. Este indicador pode ser encontrado durante o arranjo das
informações novas ou já elencadas anteriormente e ocorre tanto no início da
proposição de um tema quanto na retomada de uma questão, quando ideias
são relembradas.
Classificação de Informações Aparece quando se buscam estabelecer características para os dados obtidos.
Por vezes, ao se classificar as informações, elas podem ser apresentadas
conforme uma hierarquia, mas o aparecimento desta hierarquia não é
condição sinequa non para a classificação de informações. Caracteriza-se por
ser um indicador voltado para a ordenação dos elementos com os quais se
trabalha.
Raciocínio Lógico Compreende o modo como as ideias são desenvolvidas e apresentadas.
Relaciona-se, pois, diretamente com a forma como o pensamento é exposto.
Raciocínio Proporcional Assim como o raciocínio lógico, É o que dá conta de mostrar o modo que se
estrutura o pensamento, além de se referir também à maneira como as
variáveis têm relações entre si, ilustrando a interdependência que pode existir
entre elas
Levantamento de Hipóteses Aponta instantes em que são alçadas suposições acerca de certo tema. Esse
levantamento de hipóteses pode surgir tanto como uma afirmação quanto sob
a forma de uma pergunta (atitude muito usada entre os cientistas quando se
defrontam com um problema).
Teste de Hipóteses Trata-se das etapas em que as suposições anteriormente levantadas são

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colocadas à prova. Pode ocorrer tanto diante da manipulação direta de objetos
quanto no nível das ideias, quando o teste é feito por meio de atividades de
pensamento baseadas em conhecimentos anteriores
Justificativa Aparece quando, em uma afirmação qualquer proferida, lança-se mão de uma
garantia para o que é proposto. Isso faz com que a afirmação ganhe aval,
tornando-a mais segura
Previsão Este indicador é explicitado quando se afirma uma ação e/ou fenômeno que
sucede associado a certos acontecimentos
Explicação Surge quando se buscam relacionar informações e hipóteses já levantadas.
Normalmente a explicação é acompanhada de uma justificativa e de uma
previsão, mas é possível encontrar explicações que não recebem essas
garantias. Mostram-se, pois, explicações ainda em fase de construção que
certamente receberão maior autenticidade ao longo das discussões.

Fonte: Sasseron e Carvalho (2008)

Fica evidenciado no Quadro 4 que nas cinco oficinas propostas foram contemplados
todos os indicadores da AC numa proposta de SEI. Na primeira oficina onde o problema da
investigação foi apresentado, podemos notar que os alunos usaram o levantamento de
hipóteses no instantes que fizeram suposições acerca do tema proposto, esse levantamento
surgiu sob a forma de uma pergunta (Quais os impactos do açúcar para a saúde das
pessoas?).Outro indicador presente nessa mesma oficina foi à previsão, na medida em que os
alunos levantaram hipóteses sobre o problema associando a certos acontecimentos como:
doenças, hábitos alimentares não saudáveis.
Já na segunda oficina onde foi discutido o problema temos os indicadores da seriação,
organização e classificação das informações, os alunos fizeram relação dos dados que iam
trabalhar, buscando informações novas relembrando conceitos e ideias da aula anteriores
buscaram estabelecer características para dados obtidos (Como coletaram os dados da própria
alimentação, quais as conclusões que chegaram com resultados das análises?)
A terceira oficina por sua vez, Enxergando o problema, foi trabalhado os raciocínios
lógicos e proporcional. O trabalho com a leitura de rótulos possibilitou o desenvolvimento das
ideias e a estruturação do pensamento. Para a elaboração das entrevistas aos diabéticos os
alunos precisaram usar o teste de hipóteses, a partir de conhecimentos anteriores puderam
criar perguntas e fazer inferências na hora de escolher as perguntas mais pertinentes. Além do
indicador justificativa, onde foi usado o artigo da OMS para dar garantia para as informações
tornando-a mais segura.
Vale ressaltar que na quarta oficina onde houve a discussão do problema os
indicadores que apareceram formam a tese de hipóteses onde suposições anteriormente
levantadas (o exame de sangue é suficiente e necessário para diagnosticar diabetes; criança

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pode desenvolver a doença;) e colocadas à prova. Por fim a quinta oficina que além de

apresentar todos os outros indicadores descritos anteriormente, apresentou também a


explicação oralmente e na argumentação escrita, pois os alunos buscaram relacionar
informações e hipóteses já levantadas. Apesar de aqui serem apontados apenas alguns
indicadores relacionando-os a algumas atividades, é importante deixar claro que no ato
pedagógico desenvolvido estão em jogo ao mesmo tempo vários destes indicadores
fornecidos por Sasseron e Carvalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, é possível perceber que o ensino por investigação contribui para
formar cidadão critico capaz de se apropriar da ciência. Nesse sentido, o EI pressupõe que as
aulas de ciências sejam repensadas e possam desenvolver habilidades de Alfabetização
Científica e interlocuções com outras disciplinas com propósito de formar cidadãos capazes,
de tomar decisões acercas de problemas relacionados as Ciências e a suas vidas práticas, bem
como incitar a curiosidade pelo desconhecido, a criatividade e a ter iniciativa.
Nesse trabalho com uma turma do sétimo ano podemos notar que os assuntos
trabalhados foram relacionaram ciências, tecnologia, meio ambiente e sociedade. Assim como
também a SEI se deu em um movimento interdisciplinar envolvendo as disciplinas de
Filosofia, matemática e Língua Portuguesa. Os alunos, através da sequência didática de
Ensino investigativo, vivenciaram momentos de discussões orais e escritas o que promoveu o
envolvimento dos adolescentes com processos de investigação científica. Além disso, a partir
da problematização da má alimentação conseguiram contemplar todos os indicadores da
alfabetização cientifica.
É preciso considerar que ao longo desse estudo observou-se que os adolescentes são
capazes de desenvolver conceitos científicos, opinar sobre assuntos relacionados às ciências e
suas tecnologias e investigar problemas partindo da prática social, o que possibilitou
vivências de sujeitos alfabetizados cientificamente. Além disso, a interlocução com outras
disciplinas fez com que os alunos fizessem relações lógicas matemáticas, permitiu a expressão
verbal uma vez que em diversos momentos escreveram textos e reescreveram, desenvolveu a
argumentação escrita e oral além do desenvolvimento crítico.
Portanto, a Educação Científica é considerada “o conjunto de conhecimentos que
facilitariam aos homens e mulheres fazer uma leitura do mundo onde vivem” (Chassot, 2000,
p. 19) e por isso, tornou-se uma necessidade para o cidadão, que em seu cotidiano necessitam
discutir e opinar sobre assuntos referentes às Ciências, resolver problemas, levantar hipóteses
e construir possibilidades de tornar-se sujeitos emancipados, críticos e com leitura de mundo
ampliada.

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REFERÊNCIAS

CARVALHO, A. M. P. Ensino e aprendizagem de Ciências: referenciais teóricos e dados


empíricos das sequências de ensino investigativas- (SEI). In: LONGHINI, M. D. (Org.). O
Uno e o Diverso na Educação. Uberlândia: EDUFU, 2011, 253-266.

CHASSOT, Attico. Alfabetização Científica: questões e desafios para a educação. 4. ed. Ijuí:
Editora UNIJUÍ, 2013, p. 62.

GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências


Sociais. Rio de Janeiro: Record, 1999.

LORENZETTI, Leonir; DELIZOICOV, Demétrio. Alfabetização Científica no contexto das


séries iniciais. Ensaio – Pesquisa em educação em Ciências, v. 03, n.01, Belo Horizonte,2011.
p 43.

SASSERON, L. H.; CARVALHO, A. M. P. D. Construindo argumentação na sala de aula: a


presença do ciclo argumentativo, os indicadores de alfabetização científica e o padrão de
Toulmin. Ciência & Educação. Bauru, v. 17, n. 1, 97-114, 2011.

SASSERON, L. H.; CARVALHO, A. M. P. Almejando a Alfabetização Científica no Ensino


Fundamental: a proposição e a procura de indicadores do processo. Investigações em Ensino
de Ciências. Porto Alegre, v.13, n. 3, 333-352, 2008.

SASSERON, Lúcia Helena; CARVALHO, Ana Maria Pessoa. Alfabetização Científica: uma
revisão bibliográfica. Investigações em Ensino de Ciências. p. 59-77, 2011.

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