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Stélio Gauanene António Simão

VIOLAÇÃO DOS DIREITOS AMBIENTAIS: O caso da Serra Vumba

Licenciatura em Direito com Habilitação em Direito de Energia e Recursos Naturais

Universidade Punguè
Tete
2019
2

Stélio Gauanene António Simão

VIOLAÇÃO DOS DIREITOS AMBIENTAIS: O caso da Serra Vumba

Monografia a ser apresentada no Departamento de Ciências Sociais e


Filosóficas, na Extensão de Tete, com o fito de obter o grau académico de
Licenciatura em Direito com Habilitação em Direito de Energia e
Recursos Naturais.

Supervisor
doutor: Crispim Judião

Universidade Punguè
Tete
2019
3

Índice
Lista de tabelas ................................................................................................................................ 5
Lista de abreviaturas ........................................................................................................................ 6
Declaração ....................................................................................................................................... 7
Dedicatória....................................................................................................................................... 8
Agradecimento................................................................................................................................. 9
Resumo .......................................................................................................................................... 10
Abstract .......................................................................................................................................... 11
CAPÍTULO: INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
1.1. Contextualização ............................................................................................................. 12
1.2. Objectivos do investigação ............................................................................................. 13
1.2.1. Geral ........................................................................................................................ 13
1.2.2. Específicos ............................................................................................................... 13
1.3. Problema de investigação ............................................................................................... 13
1.4. Hipóteses da investigação ............................................................................................... 13
1.5. Justificativa do estudo ..................................................................................................... 14
1.5.1. Origem do tema ....................................................................................................... 14
1.5.2. Explicação do tema ................................................................................................. 14
1.6. Metodologia de pesquisa ................................................................................................ 15
II. CAPÍTULO: REVISÃO LITERÁRIA .................................................................................. 16
2.1. Conceitos básicos ............................................................................................................ 16
2.1.1. Recursos minerais .................................................................................................... 16
2.1.1.1. Exploração de recursos minerais ......................................................................... 16
2.1.2. Ambiente ................................................................................................................. 16
2.1.3. Direito do Ambiente ................................................................................................ 17
2.1.4. Origem do Direito do Ambiente .............................................................................. 17
2.1.5. Origem o Direito Internacional do Ambiente .......................................................... 17
2.1.6. Natureza Jurídica do Direito do Ambiente .............................................................. 18
2.1.7. Espécies de direitos ambientais ............................................................................... 18
2.1.8. Panorama histórico da descoberta dos minerais em Moçambique .......................... 20
2.1.9. Respeito pelo ambiente ............................................................................................ 21
4

2.1.10. Mecanismos legais para a salvaguarda dos Direitos ambientais ............................. 24


III. CAPÍTULO: LOCAL DE PESQUISA .............................................................................. 27
3.1. Localização da área de Estudo ........................................................................................ 27
IV. CAPÍTULO: APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E ANALISE CRITICA DO
MATERIAL .................................................................................................................................. 28
4.1. Apresentação dos resultados ........................................................................................... 28
4.1.1. Perfil dos potenciais entrevistados no âmbito da realização do presente estudo..... 28
4.1.2. Factores que originaram à violação dos Direitos ambientais relativos a água fluvial,
flora aquática e fauna, na Serra Vumba, Província de Manica .............................................. 31
4.1.3. Responsabilidade na violação dos Direitos ambientais relativos a água fluvial, flora
aquática e fauna na serra Vumba, na província de Manica .................................................... 33
4.1.4. Importância do conhecimento técnico ligadas a matéria do Direito ambiental
relativo, a água fluvial, flora aquática e fauna na serra Vumba, Província de Manica .......... 34
4.2. Discussão dos resultados ................................................................................................ 34
V. CAPITULO: CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ........................................................ 38
5.1. Conclusão........................................................................................................................ 38
5.2. Recomendações .............................................................................................................. 39
5.3. Referência legislativa ...................................................................................................... 40
5.4. Referências bibliográficas............................................................................................... 40
APÊNDICE 1: Figuras dos resultados das variáveis da descrição do perfil do entrevistado ....... 42
APÊNDICE 2: Guião de Entrevista relativa a violação dos Direitos Ambientais na Serra Vumba,
distrito de Manica .......................................................................................................................... 43
5

Lista de tabelas
Ilustração 1 - mapa da provincia de Manica .................................................................................. 27
Ilustração 2 - Curso de água contaminado em consequência da exploração de ouro, levada a cabo
pela empresa ÁFRICA OURO, na Serra Vumba, distrito de Manica-Moçambique ..................... 30
Ilustração 3 - Furo de água tradicional, usado pela comunidade local para a satisfação das suas
necessidades básicas, na Serra Vumba, distrito de Manica. .......................................................... 30
Ilustração 4 – Desvio e contaminação de curso de água para alimentar a lavagem do ouro, na
Serra Vumba, distrito de Manica-Moçambique ............................................................................ 31
Ilustração 5 - responsabilidade na violação dos Direitos ambientais relativo, a água fluvial, flora
aquática e fauna na Serra Vumba .................................................................................................. 32
Ilustração 6 - responsável pela violação do Direito ambiental relativo, a água fluvial, flora
aquática e fauna na Serra Vumba, província de Manica. .............................................................. 33
Ilustração 7 - Opinião dos entrevistados no que concerne a possibilidade da falta de
conhecimento da matéria referente ao Direito ambiental relativo, a água fluvial. flora aquática e
fauna, influencia positivamente na sua violação ........................................................................... 34
Ilustração 9 - Nacionais entrevistados ........................................................................................... 42
Ilustração 10 - Distribuição por sexo dos entrevistados ................................................................ 42
Ilustração 11 - Nível de escolaridade dos entrevistados ................................................................ 42
6

Lista de abreviaturas

CC Código Civil

CP Código penal

CRM Constituição da República de Moçambique

EIA Estudo de impacto ambiental

LA Lei do Ambiente

LM Lei de Minas

MICOA Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental

MP Ministério Público

MITADER Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural

MIREME Ministério dos Recursos Minerais e Energia

MOPH Ministério das Obras Publicas e Habitação

Pág. Página

RAPAM Regulamento Ambiental para Actividade Mineira

RLM Regulamento da Lei de Minas

RSPAIA Regulamento Sobre o Processo de Avaliação de Impacto Ambiental


7

Declaração
Declaro que está monografia é resultado da minha investigação pessoal e das orientações do meu
supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente citadas no
texto, nas notas e na referência bibliográfica.

Declaro ainda que, este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção
de qualquer grau académico.

Tete aos 22 de Outubro de 2019

________________________________________________________

(Stélio Gauanene António simão)


8

Dedicatória
O trabalho que aqui se segue é dedicado a minha família no geral, pelo apoio prestado ao longo
da formação e do modo especial, a minha “mãe/pai” Isabel Maria Manuel Chicote, meu pai
biológico Buleza Gauanene António Simão “que a sua alma descanse na paz do senhor” e aos
meus irmãos Pablo Gauanene António Simão, Emerson Gauanene António Simão e Esménia
Evaristo Afonso, pelo amor, carinho, paciência, ensinamentos e confiança a mim prestados.
9

Agradecimento
Numa primeira fase, agradecer a Deus “nosso pai todo poderoso, criador do céu e da terra” pela
saúde, sabedoria, força de vontade e oportunidade que me outorgou para que este sonho se
tornasse realidade na minha vida.

Ao dr. Crispim Judião, por sinal meu supervisor, pela competência e paciência que teve ao tomar
parte na realização da presente monografia.

De seguida manifestar o meu especial apreço ao corpo docente do curso de Licenciatura em


Direito com Habilitação em Direito de Energia e recursos Naturais, em particular ao Mestre Luís
Xavier Chuquela, as doutoras: Margarida Horta e Ana Inês Piquitai e aos doutores: Moisés
Machaieie, José Júlio Ndzucule Matshimbe, Crispim Judião e António Mazive pela inspiração,
incentivo, disponibilidade e acompanhamento durante os 5 anos de formação. Engrandecer, de
forma extensiva, os meus colegas da turma de Direito do ano 2015, em particular a minha
“colega/mãe” Teresa Francisco da Silva Sengo e Roberto Victor Sigaúque, pelo estímulo, afecto
e conhecimentos transmitidos durante o percurso todo até chegar a está fase (o que não foi fácil).

Sinto-me particularmente grato aos meus prezados familiares e em especial a minha “mãe/pai”
Isabel Maria Manuel Chicote, aos meus irmãos Pablo Gauanene António Simão, Emerson
Gauanene António Simão e Esménia Evaristo Afonso, a minha tia Maria Luísa Lopes Agibo,
meu tio Micheque Rodomo Sofrino pelos ensinamentos, apoio moral e material que puderam
proporcionar, e acima de tudo por terem acreditado nas minhas capacidades de vencer está etapa
do meu percurso académico.

Ao pessoal responsável da biblioteca da Universidade Católica de Moçambique, por terem


permitido a minha entrada naquele departamento para consulta dos manuais de Direito lá
existentes. O meu grande obrigado pela força, apoio e compreensão de todos que directa e
indirectamente, tornaram possível a concretização deste trabalho académico.

Muito obrigado!
10

Resumo
O trabalho de pesquisa que aqui se desenrola analisa, de forma minuciosa, a violação dos Direitos
ambientais relativos a água fluvial, flora aquática e fauna, na Serra Vumba, província de Manica,
pela empresa mineira ÁFRICA OURO. Com a concretização do mesmo, pretende-se perceber a
existência ou não da violação dos direitos ambientais supracitados, na Serra Vumba, pela
empresa já citada. Para o efeito, a metodologia de investigação preconizada, constitui na
abordagem quantitativa e qualitativa. No entanto, foram escolhidas para o estudo, um total de 60
pessoas, 30 da comunidade local (residentes na Serra Vumba, onde a actividade de exploração do
ouro está a ser desenvolvida), 20 do distrito de Manica (com exclusão da Serra Vumba) e 10 da
capital provincial de Manica (Chimoio). No que diz respeito a recolha de dados, recorreu-se a
entrevistas estruturadas.
O estudo conclui que, existem, sim, graves violações no que tange aos Direitos ambientais
relativos a água fluvial, flora aquática e fauna, na Serra Vumba, no distrito de Manica, província
de Manica, violação esta, oriunda de actividades de exploração de ouro, levada a cabo pela
mineradora chinesa denominada AFRICA OURO.
Vários cursos de águas fluviais estão contaminados, cursos estes que são de usos comuns,
colocando em causa a subsistência da comunidade local e das espécies florestais e faunísticas
aquáticas. Quanto a comunidade local, está, estava dependente dos cursos de águas contaminados
para as suas necessidades diárias, com a contaminação, tem recorrido a pequenos empresários,
localizados a mais ao menos 7 quilómetros, que por meios próprios fizeram furos para poderem
abastecer suas famílias, passando a população a pagar 5 meticais por botija (20 litros) quando lá
vão obter o precioso liquido, não obstante, alguns tem recorrido a furos tradicionais e precários
para a satisfação das suas necessidades diárias.
Face ao exposto, recomenda-se com urgência, que, a empresa responsável pela contaminação das
águas seja responsabilizada pelos danos causados; que seja efectivada a educação ambiental
prevista na LA; que sejam efectuadas fiscalizações constantes dos recursos naturais citados no
decurso do trabalho; que sejam criados quadros legais e institucionais da flora e fauna aquática e
incentivar a empresa AFRICA OURO, de modo a explorar o ouro de forma sustentável,
respeitando sempre os direitos dos terceiros.

Palavras-chaves: direitos, ambientais, água, flora, fauna, aquática, violação.


11

Abstract
Environmental aspects related to river water, aquatic plants and animals, in Serra Vumba, Manica
province, by the mining company AFRICA OURO. With the realization of this, it is intended to
realize the existence or not of the violation of the abovementioned environmental rights, in Serra
Vumba, by the company already mentioned. For this purpose, the recommended research
methodology is the quantitative and qualitative approach. However, a total of 60 people were
selected for the study, 30 of the local community (residents of Serra Vumba, where gold
exploration activity is being developed), 20 of the district of Manica (excluding Serra Vumba)
and 10 of the provincial capital of Manica (Chimoio). With regard to data collection, structured
interviews were used.

The study concludes that there are serious violations of environmental rights relating to river
water, aquatic plants and animals in Serra Vumba, in the Manica district of Manica province, a
violation of this law, which originates from gold exploration activities, carried out by the Chinese
miner called AFRICA OURO.

Several courses of surface water and groundwater are contaminated; courses that are of common
use, putting in question the subsistence of the local community and the forest species and aquatic
animals. As for the local community, it was dependent on the cusses of contaminated water for
their daily needs, with the contamination, it has appealed to small businessmen, located at least 7
kilometers, who by their own means have drilled holes to supply their families, passing the
population to pay 5 metical per bottle (20 liters) when they will get the precious liquid,
nevertheless, some have used traditional and precarious holes to meet their daily needs.

In view of the above, it is urgently recommended that the company responsible for water
contamination be held liable for the damages caused; that the environmental education provided
for in the LA is carried out; that the monitoring of the natural resources mentioned in the course
of work be intensified; that legal and institutional frameworks of the aquatic plants and animals
be created and to encourage the company AFRICA OURO, in order to exploit gold in a
sustainable way, always respecting the rights of third parties.

Keywords: rights, environmental, water, plants, animals, aquatic, breach.


12

CAPÍTULO: INTRODUÇÃO
O capítulo em questão apresenta a contextualização, os objectivos, o problema de estudo, as

hipóteses, as justificativas bem como a metodologia de pesquisa usada no trabalho em questão.

1.1. Contextualização
O trabalho de pesquisa em alusão subordina-se ao tema: VIOLAÇÃO DOS DIREITOS
AMBIENTAIS: O caso da Serra Vumba. Dentro do mesmo, pretende-se abordar acerca da
violação dos direitos ambientais relativos a água fluvial, flora aquática e fauna, na Serra Vumba,
província de Manica, pela empresa mineira ÁFRICA OURO, desde o ano 2018 até o segundo
semestre do ano 2019.

O Direito do Ambiente ou Ambiental como alguns autores o designam, é definido como sendo
um conjunto de normas jurídicas, cuja finalidade prende-se na regulação das relações entre o
Homem e o meio ambiente, com vista a conservação dos recursos que a natureza nos
proporciona, manutenção dos equilíbrios ecológicos, salvaguardando desta forma o património
universal.

Em Moçambique, o direito ao ambiente ainda é colocado em causa mesmo com a sua


salvaguarda constitucional prevista no n.1 do artigo 90. Exemplo disso é o caso que nos
propomos a abordar, ou seja, o caso da Serra Vumba.

Reconhecendo a necessidade de apoiar o desenvolvimento de um sector extractivo sustentável, o


Governo de Moçambique tem estado a operar reformas administrativas, legais e política, no
sentido de melhorar a exclusividade e a sustentabilidade do sector e melhor alinhá-lo com as
metas globais de desenvolvimento socioeconómico e ambiental do país como um todo. Mas os
resultados ainda não são satisfatórios.

Na Serra Vumba existem empresas que se dedicam na exploração do Ouro, exploração esta feita
de forma inapropriada e na ignorância do quadro legal relativo ao meio ambiente, causando danos
significativos ao meio ambiente e consequentemente afectando negativamente a vida da
comunidade que habita naquele espaço geográfico. Cursos de águas estão contaminados, espécies
de animais e vegetações mortas e outras já nem existem por conta da contaminação das águas
que contribuíam para sua sobrevivência.
13

1.2. Objectivos do investigação

1.2.1. Geral
✓ No cômputo geral, o presente trabalho de pesquisa visa Analisar a violação dos Direitos
ambientais relativos a água fluvial, flora aquática e fauna, perpetrada pela empresa
mineira denominada AFRICA OURO, na província de Manica, em particular na Serra
Vumba.

1.2.2. Específicos
✓ Demonstrar a existência de violação dos Direitos ambientais relativos a água fluvial, flora
aquática e fauna por parte da empresa acima referenciada;
✓ Identificar os factores que originaram à violação dos Direitos ambientais supracitados;
✓ E por ultimo, identificar os mecanismos legais para salvaguardar os Direitos ambientais
colocados em causa em consequência da exploração do ouro, tendo em conta o caso em
apreço.

1.3. Problema de investigação


No dia 28 de Abril do ano em curso, a STV NOTÍCIAS, no seu programa “jornal da noite”, por
volta das 20 horas, veiculou a informação que dava conta da exploração desorganizada de ouro
na Serra Vumba, província de Manica. Fomos à Serra Vumba, e por via da observação directa, de
facto constatamos vários imbróglios relativos ao direito ambiental, designadamente:

✓ A actividade de exploração do minério do tipo ouro colocava em causa os direitos cujo


proveito é da comunidade local e da empresa ÁGUA VUMBA;
✓ Vários cursos de água cujo proveito era da comunidade local encontravam-se turvas e
empapas, colocando desta feita em causa o direito ao ambiente equilibrado previsto no
n.1 do artigo 90 da CRM, e por consequência disso alguns direitos fundamental (saúde e
vida) também eram colocados em causa.

1.4. Hipóteses da investigação


✓ A problemática da violação dos Direitos ambientais relativos a água fluvial, flora aquática
e fauna, oriundas de actividades de exploração dos recursos naturais brota da ineficiência
administrativa, ou seja, à fraca fiscalização dos órgãos competentes;
14

✓ A problemática da violação dos Direitos ambientais relativos a água fluvial, flora aquática
e fauna, oriundas de actividades de exploração dos recursos naturais tem como fonte a
corrupção no processo administrativo ligado a matéria, aliada a falta de punição como
mecanismo de prevenção;
✓ A problemática da violação dos Direitos ambientais relativos a água fluvial, flora aquática
e fauna, oriundas de actividades de exploração dos recursos naturais brota da ignorância e
lacuna do quadro legal relativamente aos direitos ambientais.

1.5. Justificativa do estudo

1.5.1. Origem do tema


A ideia de fazer um estudo minucioso em relação ao tema em questão surge de uma mera
curiosidade, e pelo facto de já estar no final do curso. Ou seja, tive privilegio de acompanhar o
noticiário, como anteriormente fiz menção, quis perceber o fundo da situação, aproveitando a
oportunidade que estou no final do curso, de modo a perceber melhor as questões levantadas na
informação veiculada, com especial enfoque para o Direito ambiental, relativo a água fluvial,
flora aquática e fauna.

1.5.2. Explicação do tema


Moçambique é um pais rico no que concerne aos recursos naturais de grande importância
económica, por este motivo tem atraído atenção de vários empresários estrangeiros que
pretendem investir na exploração destes recursos. Mas, a exploração destes recursos não deve
colocar em causa os direitos alheios, por este motivo, a lei comporta viárias normas que devem
ser seguidas aquando da exploração dos mesmos.

Quando se trata de exploração de recursos naturais, a grande questão que se coloca é a


sustentabilidade do ambiente, ou seja, a exploração em causa não deve colocar em causa os
direitos ambientais. Mas não é o que vemos, actualmente.

Vários são os casos reportados, dando conta dos conflitos existentes entre as empresas
exploradoras dos recursos naturais e a população. Um deles é o caso em questão. Recentemente,
a STV NOTÍCIAS, reportou um caso de conflitos na Serra Vumba, província de Manica, em
causa está a exploração desordenada de ouro, colocando em causa os Direitos ambientais
relativos a água fluvial, flora aquática e fauna, que coabitam na Serra Vumba.
15

1.6. Metodologia de pesquisa


A metodologia privilegiada para a realização deste trabalho de pesquisa foi a consulta
bibliográfica, e abordagem qualitativa, predominantemente quantitativa, baseado no estudo de
caso. Como explica Cruz (2009), a abordagem quantitativa considera que tudo pode ser
quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-los e
analisa-los, requerer o uso de recursos e de técnicas estatísticas. E a qualitativa é o método mais
adequado para o estudo que visa descrever, explicar e avaliar situações constatados no campo,
assim avança Gil (1991).
A escolha destas abordagens, cinge-se no facto destas possibilitarem a melhor retirada possível
dos saberes almejados, o que não seria possível mediante o emprego duma só abordagem.
A escolha deste método deve-se ao facto deste facilitar a compreensão de um determinado
fenómeno social, pela análise particularizada do mesmo num determinado contexto.
16

II. CAPÍTULO: REVISÃO LITERÁRIA


O presente capítulo, apresenta os principais conceitos usados no trabalho de pesquisa em alusão,
designadamente: recursos minerais, exploração de recursos mineiras, ambiente, Direito do
Ambiente. Não obstante, abordaremos também no mesmo acerca da origem do Direito
Ambiental, Direito Internacional do Ambiente, as principais espécies do Direito Ambiental, o
panorama histórico da descoberta dos minerais em Moçambique e do respeito pelo ambiente,
assim como os mecanismos legais para a salvaguarda dos direitos ambientais violados ou
ameaçados.

2.1. Conceitos básicos


2.1.1. Recursos minerais
No que concerne a noção do que sejam recursos minerais, a LM, no seu glossário vem elucidar-
nos que: consideram-se recursos minerais qualquer substância sólida, liquida ou gasosa
formada na crusta terrestre por fenómeno geológico ou a ele ligado.

2.1.1.1.Exploração de recursos minerais


O conceito de exploração mineira, nos é dado a partir do glossário da LM, estabelecendo, que:
está consiste, nas operações e trabalhos relativos a prospecção e pesquisa, extracção, tratamento e
processamento de recursos minerais, bem como a utilização técnica e económica, assim como
todas actividades essenciais ou relacionadas com o desenvolvimento e comercialização dos
produtos mineiros.

2.1.2. Ambiente
Falar de noção legal, estaríamos aqui a falar do conscrito que nos é facultado a partir da lei, nesta
senda de ideia, a noção legal do ambiente, nos é facultada pela lei especial (LA), no seu n.º 2 do
artigo 1, estabelecendo o seguinte:
Ambiente é o meio em que o Homem e os seres vivem e interagem entre si
e com o próprio meio e inclui: o ar, a luz, a terra e a água; os ecossistemas,
a biodiversidade as relações ecológicas; toda a matéria orgânica e
inorgânica; todas as condições sócio-culturais e económicas que afectam a
vida das comunidades.
17

2.1.3. Direito do Ambiente


De acordo com José Pereira Reis apud Carlos Manuel Serra et al (2008, pág. 104), o Direito do
Ambiente é definido como sendo um sistema de normas jurídicas que, tem como principal
objectivo regular as relações entre o homem e o meio ambiente, prosseguindo os objectivos de
conservação da natureza, manutenção dos equilíbrios ecológicos, salvaguardando o património
genérico, protegendo os recursos naturais e combatendo as variadas formas de poluição.

2.1.4. Origem do Direito do Ambiente


Antigamente, o ambiente não inquietava o Homem, o que significa que era usado de forma
abusiva e insustentável, e este não era objecto de regulamentação legal, ou seja, não existiam
normas que regulavam o seu uso e aproveitamento, e se existiam eram escassas. Mas isso com
andar do tempo mudou.
O homem tomou a consciência de que não é mais senhor absoluto da natureza.
Bem pelo contrario, deve-lhe respeito total, sob pena de colocar em risco a
própria subsistência humana e a de todos os seres vivos, oque pressupõem a
assunção de um comportamento radicalmente oposto a actual relação com o
ambiente, optando-se por uma exploração sustentável e equilibrada dos diversos
componentes ambientais. (CARLOS SERRA et al, 2003, p.71).
Ainda explica o autor supra citado que, na senda da consciencialização que o homem passou a
deter em relação ao ambiente, surgiu o Direito do Ambiente, que é um ramo de Direito autónomo
e especifico que regula a forma de exploração das componente ambientais quer no plano nacional
assim como internacional, ou seja, para além da criação do Direito do Ambiente, também foi
criado o Direito Internacional do Ambiente.

2.1.5. Origem o Direito Internacional do Ambiente


O Direito Ambiental Internacional pode ser traduzido em um conjunto de normas
que criam direitos e deveres para os vários atores internacionais (não apenas para
os Estados), numa perspectiva ambiental, atribuindo igualmente
responsabilidades e papéis que devem ser observados por todos no plano
internacional, visando à melhoria da qualidade de vida para as presentes e futuras
gerações. (SIDNEY GUERRA, 2006, cit. Pág. 441).
18

O Direito Internacional Ambiental brota de um processo de expansão do direito internacional


moderno, que não trata apenas de fronteiras, como o Direito internacional clássico, mas também
de problemas comuns que transcende as fronteiras dos Estados, processo típico de um período de
globalização jurídica1.
O florescimento do Direito Internacional Ambiental, está intrinsecamente ligado aos problemas
que se manifestam no mundo, designadamente: o desaparecimento de espécies da fauna e da
flora, a perda de solos férteis pela erosão e pela desertificação, o aquecimento da atmosfera e as
mudanças climáticas, a diminuição da camada de ozónio, a chuva ácida, o acúmulo crescente de
lixo e resíduos industriais, o colapso na quantidade e na qualidade da água, o esgotamento dos
recursos naturais, os grandes acidentes nucleares, com efeitos imediatos entre outros.
A consolidação do Direito Internacional Ambiental ocorre a partir da primeira grande
Conferência Internacional sobre Meio Ambiente em Estocolmo na Suécia em 1972.
A Conferência de Estocolmo não conseguiu alcançar uma solução que correspondesse os anseios
dos Estados “desenvolvidos” e “em desenvolvimento”, mas ainda sim foi um grande marco no
desenvolvimento do Direito Internacional Ambiental.

2.1.6. Natureza Jurídica do Direito do Ambiente


No que concerne a natureza jurídica do Direito Ambiental, os autores são unânimes em afirmar,
que, este ramo de Direito é difuso, ou da terceira geração, tendo em conta, que, os interesses por
ele defendidos, não pertencem a categoria de interesse público (Direito Público) e muito menos
de interesse privado (Direito Privado). Daí a designação interesses difusos, cuja protecção não
cabe e apenas um titular exclusivo, mas toda a colectividade e a cada um dos seus membro. Eis a
razão que, a alínea f) do artigo 45 conjugado com n.1 do artigo 90, todos da CRM, estabelece
que, todo o cidadão tem o dever de defender e conservar o meio ambiente.

2.1.7. Espécies de direitos ambientais


Autores como Carlos Manuel Serra e Fernando Cunha, preferem chamar Subespécie de direito do
ambiente a espécies de Direito do Ambiente. Ainda de acordo com os autores a supracitados,
constituem subespécies de Direito do Ambiente:
✓ O Direito da Protecção e Conservação da Natureza;

1
CASTRO, Carlos Roberto Siqueira. A constituição aberta e os direitos fundamentais: ensaios sobre o
constitucionalismo pós-moderno e comunitário. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 698
19

✓ O Direito das Águas;


✓ O Direito do Património Cultural;
✓ E o Direito dos Resíduos.

2.1.7.1. Direito da protecção e conservação da natureza


De acordo como Carlos Manuel Serra et al (2008, pág. 106), o Direito da Protecção e
Conservação da Natureza, é um Direito Especial do Ambiente ou se preferir, Direito Ambiental
Especial. Defendem os autores que, todos os problemas ligados a protecção das florestas, fauna
bravia assim como o seu ecossistema e habitats não podem de forma alguma ser perspectivados e
analisados fora da problemática ambiental. As florestas assim como a fauna bravia, constituem
componentes ambientais naturais como podemos notar a partir do n.2 do artigo 1° da LA.

2.1.7.2. Direito das Águas


Segundo o rácio do Carlos Manuel Serra et al (2008, pág. 109), inserção do Direito das Águas no
Direito do Ambiente nem se discute, a pesar de haver uma divisão sectorial entre ambos, a água
integra a componente ambiental, assim podemos concluir olhando para o preceituado na alínea a)
do n.2 do artigo 1 da LA. Ou seja, de acordo com a disposição legal supracitada, o ambiente
consiste no meio em que o Homem e outros seres estão inseridos, e interagem entre si e com o
próprio meio, e inclui a água e outras componentes.

2.1.7.3. Direito do Património Cultural


Bem, o Direito do Património Cultural, é a terceira subespécie do Direito Ambiental, como
explica Carlos Manuel Serra et al (2008, pág. 111 e 112), entre ambos existem uma intrínseca
relação no que concerne aos seus conceitos, ou seja, traduzem-se em na existência de uma
dimensão cultural, na perspectiva ambiental, bem como de uma dimensão ambiental na
perspectiva cultural.

2.1.7.4. Direito dos resíduos.


De acordo com o raciocínio de Carlos Manuel Serra et al (2008, pág. 114 e 115), falar de direito
dos resíduos, este não assenta no uso e aproveitamento de determinado componente ambiental,
que carece de protecção ou conservação, mas sim, na problemática da gestão de várias categorias
de resíduos oriundos de multiplicidade e diversidade das actividades levadas a cabo pelo Homem.
20

2.1.8. Panorama histórico da descoberta dos minerais em Moçambique


Para compreender melhor a exploração dos recursos minerais, com especial atenção ao ouro, em
Moçambique, é imperioso que voltemos no tempo.
Como explica Salvador Agostinho Sumbane (2008, cit. Pág. 46-47) a fixação de estrangeiros em
África data desde o século VI, com a chegada dos primeiros mercadores árabes, que se instalaram
na faixa oriental do continente africano. A partir deste período, os mercadores árabes foram-se
fixando ao longo da costa, tendo os mesmos, fundado várias feitorias e entrepostos comerciais,
onde realizavam o seu comércio com africanos. Os mercadores árabes estavam mais interessados
no ouro e o marfim, como moeda de troca, davam aos africanos tecidos, missangas, artigos de
loiça entre outros objecto do género.
No século XV, a expansão europeia no mundo conduziu os primeiros europeus para o continente
africano. No entanto, desde este período, e durante quatro séculos, os europeus foram-se fixando
de forma estratégica ao longo da costa, dedicando-se exclusivamente ao comércio com as
comunidades locais. Os europeus transportavam da África o ouro, marfim e escravos, em troca
davam armas de fogo, bebidas, tecidos e outros produtos manufacturados pela indústria europeia.
A penetração mercantil portuguesa em Moçambique verificou-se no final do séc. XV, tendo
como principal motivo a procurado precioso minério (ouro), destinado à aquisição das especiarias
asiáticas.

De acordo com explicação de Carlos Mussa (2008, cit. Pág.49), inicialmente, os portugueses
estabeleceram-se no litoral, tendo edificado as fortalezas de Sofala em 1505, Ilha de Moçambique
no ano 1507. Só mais tarde através de processos de conquistas militares apoiadas pelas
actividades missionárias e de comerciantes, penetraram para o interior onde estabelecerem
algumas feitorias, como as de Sena em1530 e Quelimane em1544.

O propósito, já não era o simples controlo do escoamento do ouro, mas sim de


dominar o acesso às zonas produtoras do ouro. Está fase da penetração mercantil
é designada de fase de ouro. As outras duas últimas por fase de marfim e de
escravos na medida em que os produtos mais procurados pelo mercantilismo eram
exactamente o marfim e os escravos respectivamente2.

2
Disponível em: http://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Mocambique/Historia-de-Mocambique/Penetracao-
Colonial acesso no dia 10 de Junho de 2019, pelas 20h:43 minutos.
21

O escoamento do ouro acabou sendo efectivado através do sistema de Prazos do vale do Zambeze
que teriam constituído a primeira forma de colonização portuguesa em Moçambique, colocado
em prática a partir do início do século XVII, numa tentativa da coroa portuguesa ocupar de forma
definitiva os seus territórios coloniais como explica Carlos Mussa (2008, cit. pág. 52).

Os prazos funcionavam aparentemente como feudos de mercadores portugueses que tinham


ocupado uma porção de terra alienada de forma gratuita, onerosa ou conquistada.
A conferência de Berlim em 1884-1885, foi o marco inicial e muito pertinente na relação entre
Europa e África, no século XIX.

Com o advento da conferência de Berlim, Portugal foi obrigado a ocupar de forma efectiva o
território moçambicano. Mas com a falta de capacidade militar e financeira portuguesa, a
alternativa encontrada foi o arrendamento da soberania e poderes de várias extensões territoriais a
companhias majestáticas e arrendatárias.

Companhia de Moçambique e a Companhia do Niassa são os exemplos típicos das companhias


majestáticas. Companhia da Zambézia, Boror, Luabo, sociedade do Madal, Empresa agrícola do
Lugela e a Sena Sugar Estates perfazem o exemplo das de companhias arrendatárias.
O sistema de companhias foi usado no Norte do rio Save, estás dedicavam-se principalmente a
uma economia de plantações e um pouco do tráfego de mão-de-obra para alguns países vizinhos.
O Sul do Rio Save (províncias de Inhambane, Gaza e Maputo) ficaram sob administração directa
do Estado colonial.
Nesta região do País foi desenvolvida basicamente uma economia de serviços
assente na exportação da mão-de-obra para as minas sul-africanas e no
transporte ferro-portuário via porto de Maputo. Está divisão económica regional
explica a razão da actual simetria de desenvolvimento entre o norte e o sul do
país3.

2.1.9. Respeito pelo ambiente


Como vimos anteriormente, quando debruçávamos da origem do Direito do Ambiente, a questão
relativa ao ambiente não preocupava o Homem. O uso do mesmo era realizado ao belo prazer do

3
Disponível em: http://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Mocambique/Historia-de-Mocambique/Penetracao-
Colonial acesso no dia 10 de Junho de 2019, pelas 20h:43 minutos.
22

Homem, abusando-o sem se importar com sua sustentabilidade. Os recursos oferecidos pela
natureza eram tidos como inesgotáveis. Com o andar do tempo o Homem foi percebendo que os
recursos naturais não eram inesgotáveis, isto é, que ele não era senhor absoluto da natureza, e
que, se quisesse sustentabilizar o ambiente, medidas deviam ser tomadas no sentido de
racionalizar o uso do mesmo.
No entanto, várias medidas foram tomadas. Em Moçambique, uma das medidas adoptadas pelo
governo, foi a aprovação de politicas governamentais de modo à assegurar o desenvolvimento
sustentável do pais, através de um compromisso aceitável e realístico entre o progresso sócio
económico e a protecção do ambiente. Vide o ponto 2.2 da Resolução n.º 5/95, de 3 de Agosto.
Como exemplo das políticas ambientais aprovadas pelo governo podemos aqui citar as seguintes:

✓ Resolução n.º 5/95, de 3 de Agosto;


✓ Resolução n.º 4/2010, de 13 de Abril (aprova o programa quinquenal do governo para o
ano 2010-2014) entre outras politicas que vessam sobre o ambientais de forma minuciosa
tais como:
✓ Resolução n.º 46/2007, de 21 de Agosto, que aprova a política nacional de Águas;
✓ Resolução n.º 10/2009 de 4 de Julho. Esta confere particular importância ao
desenvolvimento de novas fontes de energia e renováveis, entre outras.
Não obstante, também foram criados quadros legais e institucionais sobre o ambiente.

2.1.9.1. Quadro legal sobre o ambiente


✓ CRM, 2004, na nova redacção, dada pela Lei n.º 1/2018, de 12 de Junho.
✓ Lei do Ambiente, aprovado pela Lei n. 20/97 de 1 de Outubro;
✓ Regulamento sobre o Processo de Avaliação do Impacto Ambiental, aprovado pelo
Decreto n. 54/2015, de 31de Outubro, revogando desta forma o Decreto n. 45/2004, de 29
de Setembro;
✓ Regulamento sobre a gestão de resíduos sólidos e urbanos, aprovado pelo Decreto n.
94/2014, de 31 de Dezembro;
✓ Lei n. 16/2014, de 20 de Junho (estabelece as normas e princípios básicos sobre a
protecção , conservação, restauração e utilização sustentável da diversidade biológicas nas
áreas de conservação, bem como o enquadramento de uma administração integrada, para
o desenvolvimento sustentável do pais);
23

✓ Lei n. 35/2014, de 31 de Dezembro, aprova o Código penal


✓ Decreto n. 25/2011, de 15 de Junho, aprova o regulamento sobre o Processo de Auditoria
Ambiental e revoga o decreto n. 32/2003, de 12 de Agosto;
✓ Decreto n. 26/2004, de 20 de Agosto, aprova o Regulamento Ambiental para Actividade
Mineira;
✓ Lei de águas, aprovado pela Lei n. 16/91, de 3 de Agosto;
✓ Lei de Florestas e Fauna Bravia (Lei nº 10/99, datada de 7 de Julho) Esta lei define zonas
de protecção, tais como parques nacionais, reservas nacionais e zonas de uso e zonas de
valor histórico e cultural;
✓ Lei das Pescas, aprovada pela Lei nº 3/1990, de 26 de Setembro;
✓ Regulamento da Lei de Florestas e Fauna Bravia, aprovado pelo Decreto nº 12/2002, de 6
de Junho;
✓ Regulamento sobre os Padrões de Qualidade Ambiental e de Emissão de Efluentes
aprovado pelo Decreto nº 18/2004, de 2 de Junho;
✓ Regulamento para a Prevenção da Poluição e Protecção do Ambiente Marinho e Costeiro
aprovado pelo Decreto nº 45/2006, de 30 de Novembro;
✓ Recursos Aquáticos- Regulamento sobre a Qualidade da Água para o Consumo Humano
aprovado pelo Diploma Ministerial n. 180/2004.

2.1.9.2. Quadro institucional sobre o meio ambiente4


No tocante ao quadro institucional do ambiente em Moçambique, em antes porém elucidar que, o
Ministério que tutela o ambiente em Moçambique é o MITADER, criado pelo Decreto
Presidencial n. 1/2015, de 16 de Janeiro, sucedendo desta forma ao MICOA, criado pelo Decreto
Presidencial n. 2/94, de 21 de Dezembro.

O MITADER é o órgão central do aparelho do Estado que, de acordo com os princípios,


objectivos e tarefa definidas pelos governo, comanda, planifica, coordena, controla e assegura a
execução das políticas nos domínios de administração e gestão de terra, florestas e fauna bravia,

4
Note que, existe um Ministério que zela pelo meio ambiente na sua generalidade (MITADER) e existem alguns
Ministérios que zelam pelo ambiente na sua especificidade é o caso da água. Apesar de se tratar de um tipo de
ambiente, o seu zelo comete ao MOPH e não ao MITADER.
24

ambiente, áreas de conservação e desenvolvimento rural. Vide artigo 1 da Resolução n.6/2015, de


26 de Junho.
Cronograma ilustrando o quadro institucional da Ambiente, floresta e fauna bravia

MITADER

Área de Florestas Área de Conservação e


Área do Ambiente gestão de fauna bravia

Direcção Nacional
de Florestas Administração Nacional
Agencia Nacional de
Controlo de de Áreas de Conservação
Qualidade Ambiental

Inspecção da Terra, Autarquias locais


Ambiente e
Desenvolvimento
Rural
Municípios Povoações
Fundo do
Direcção Nacional do Ambiente
Ambiente

Instituto Médio de
planeamento Físico e
Ambiente

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados ilustrados no portal e no estatuto orgânico do MITADER

2.1.10. Mecanismos legais para a salvaguarda dos Direitos ambientais


Todo cidadão, sentindo que seus direitos legalmente estabelecidos estão sendo colocados em
causa, tem o direito de impugnar os actos que atentem a estes direitos. Está impugnação pode ser
feita junto dos tribunais. Vide o artigo 69 conjugado com artigo 70 todos da CRM, e artigo 21 da
LM.
25

A lei prevê vários mecanismos legais (processuais e não processuais) para salvaguardar os
direitos ambientais (violados ou ameaçados, ou seja, antes mesmos deles serem violadas), por
exemplo:
✓ A acção popular nos termos do artigo 48° da Lei n. 7/2014, de 28 de Fevereiro,
conjugado com alínea b) do n.2 do artigo 81° da CRM.
✓ A Intimação para um comportamento como meio processual para obrigar a empresa
concessionária a abster-se da conduta adoptada ou adoptar uma conduta para evitar (a
violação dos direitos ambientais) nos termos dos artigos 144° – 149° da Lei n. 7/2014, de
28 de Fevereiro5.
A acção popular, apesar de ser um mecanismo legalmente estabelecido na CRM e na Lei n.
7/2014, de 28 de Fevereiro (este ultimo pertencente ao direito adjectivo) para a reivindicação dos
direitos colectivos, a sua tramitação ainda encontra um vazio legal, na medida que, o direito
adjectivo, ou seja, a Lei n. 7/2014, de 28 de Fevereiro nada diz acerca dos: pressupostos,
tramitação subsequente do processo, conteúdo da decisão, caducidade entre outros aspectos
processuais relevantes para efectivação do mesmo.
No que se refere a Intimação para um comportamento como meio processual, é o meio
processual que mais se adequa para e reivindicação dos direitos ambientais. Ou seja, com o
mesmo os lesados vão pedir ao tribunal administrativo, que este obrigue o causador dos danos
ambientais abstenha-se da conduta que da azo a violação dos direitos ambientais ou adopte
medidas no sentido de evitar tais violações.
Não obstante, temos também as acções penais. Quanto as acções penais ou criminais, como
vimos anteriormente na senda da natureza jurídica do Direito do Ambiente, este é difuso ou
colectivo. Os crimes contra o ambiente, são considerados crimes públicos, porque ofendem a
colectividade e não a penas aos particulares, assim sendo, o impulso processual cabe ao MP com
algumas restrições nos termos do artigo 1 do Decreto-Lei n. 35.007, de 13 de Outubro de 1945,

5
A intimação para um comportamento é um meio processual usado na jurisdição administrativa, cuja interposição
do mesmo junto ao tribunal, não necessita de conhecimentos técnicos por parte dos sujeitos activos. É um
mecanismo simples, cuja materialização do pedido tem sido eficaz, mas por falta de conhecimento deste meio
processual, as comunidades locais, que muitas vezes são sujeitos a violação dos direitos ambientais, não fazem o uso
deste.
Em Moçambique é um direito fundamental o acesso aos tribunais ( vide o artigo 62° conjugado com artigo 70° todos
da CRM), mas poucas vezes os cidadãos afectados pela violação dos direitos ambientais fazem uso deste direito.
26

mas todos somos obrigados a participar, as infracção cometidas contra o ambiente nos termos do
artigo 23 da LM.

A falta de impulso processual não impede que os lesados intervenham no processo. Estes podem
sim intervir no processo, bastando constituírem-se em assistentes nos termos do n.2 do artigo 4
do Decreto-Lei n. 35.007, de 13 de Outubro de 1945.
27

III. CAPÍTULO: LOCAL DE PESQUISA


No presente capítulo, é exposto de forma minuciosa o local do estudo.
3.1. Localização da área de Estudo
A Serra Vumba ou Montanhas Bvumba como é por muitos conhecida, fazem parte das terras
Altas Orientais do Zimbabué e do distrito de Manica (Moçambique). Esculpidas em granito
antigo de quase 2600 milhões de anos, as Montanhas Bvumba estão localizadas na fronteira entre
o Zimbabué e Moçambique, a quase 25 km de Mutare (Zimbabué) e a 70 Km da cidade de
Chimoio e cerca de 2.5 km do distrito de Manica, província do mesmo nome, em Moçambique6.
Caracteriza-se pela neblina matinal na área, isto, deve-se ao seu nome Bvumba, sendo o mesmo,
derivado do Shona para neblina. O clima é fresco e agradável, por tanto, muitos dos melhores
hotéis do Zimbabué estão localizados nas Montanhas Vumba. A área também possui muitas
plantações de café7.

Ilustração 1 - mapa da provincia de Manica

6
Disponível in: http://www.tembalodges.co.uk/zimbabwe/vumbamountainshotels.html acesso no dia 10 de Junho de
2019, pelas 09h:55 minutos.
28

Fonte: http://barue.manica.gov.mz

IV. CAPÍTULO: APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E ANALISE CRITICA DO


MATERIAL
No capítulo em questão, são apresentados e discutidos os resultados da pesquisa. As
apresentações e discussões são norteadas com base nos objectivos preconizados no início da
pesquisa.

4.1. Apresentação dos resultados

4.1.1. Perfil dos potenciais entrevistados no âmbito da realização do presente estudo


No âmbito da descrição do perfil dos potências entrevistados, mencionados no presente estudo,
foram tomadas em consideração as seguintes variáveis: nacionalidade, sexo e nível de
escolaridade (vide a I secção do apêndice 2).

No tocante à análise dos dados colhidos, nota-se que: 65% dos entrevistados tem a nacionalidade
moçambicana, 30% zimbabwena e 5% tem a nacionalidade malawiana (vide ilustração 2 do
apêndice 1) quanto ao sexo, temos: 75% dos entrevistados são do sexo masculino e 25% do sexo
feminino (vide ilustração 3 do apêndice 1) e quanto ao nível de escolaridade, dos entrevistados,
15% tem nível básico, 35% nível secundário, 20% nível superior, 15% ensino técnico e 15% tem
outros níveis (15% não frequentaram a escola) (vide ilustração 4, do apêndice 1).

Deslocamo-nos a Serra Vumba, que cita no distrito de Manica, província de Manica. Na senda
da deslocação, constatamos:

✓ A existência de uma empresa mineira chinesa designada AFRICA OURO, empresa esta
que se dedica a exploração de minério do tipo ouro, sob regime de concessão mineira
desde o ano 2018. Para efeitos de lavagem do ouro extraído durante a actividade, a
empresa socorre-se das águas do rio que passa pela Serra Vumba, que, naquele processo
de lavagem, turva toda ela até ao ponto de ficarem empapadas, contaminando, desta
forma, aquelas águas8 (vide ilustração 2 e 3);

8
De acordo com o artigo 51 da Lei de Águas, considera-se contaminação da água, a acção ou efeito de introdução de
matérias, formas de energias ou na criação de condições que, de forma directa ou indirecta, impliquem uma alteração
prejudicial da qualidade da água em relação aos usos posteriores ou a da sua função ecológica.
29

✓ A existência de vários cursos de águas desviados e contaminados para alimentar a


lavagem do mineiro do tipo ouro depois de extraídos ( vide ilustração 4);
✓ A existência de animais mortos (caranguejos, sapos, tartarugas e peixes) e vegetação
amarelada e avermelhada (lentilhas da água, conhecida por callitriche stagnalis;
carvalhas, conhecida por potamogeton crispus; lótus branca, conhecida por nymphaea
alba; lótus, conhecida por nelumbo nucifera; aguapé, conhecida por eichhornia; chapéu-
de-couro, conhecida por echinodorus macrophyllum; taboa, conhecida por typha
domingensis; caniço-de-água, conhecida por phragmites; mururé carrapatinho, conhecida
por salvinia Auriculata; e alfaces d’água, conhecida por pistia stratiotes) ao longo do
curso das águas acima mencionadas;

Em contacto com a população local, e pela observação directa, constamos que:

✓ Habitualmente estes, se socorriam de animais de caça naquela povoação de modo a


garantir a sua alimentação e sobrevivência, mas no momento eles já não tem a
possibilidade de apanhar os animais via armadilha, porque estes já não bebem daquelas
águas, migraram para outros locais porque lá, as condições dos cursos das águas não lhes
são favoráveis;
✓ A população local, para efeitos de sobrevivência com recurso a água, socorre-se dos
pequenos empresários, localizados a mais ao menos 7 quilómetros, que por meios
próprios fizeram furos para poderem abastecer suas famílias, passando a população a
pagar 5 meticais por botija (20 litros) quando lá vão obter o precioso liquido;
✓ As pessoas que não tem recursos financeiros para obter a água dos pequenos
empresários, recorrem a furos precários feitos por meios próprios para fazer fase as suas
necessidades (domésticas, pessoais e familiares do utentes, incluindo o abeberamento de
gados e a rega de machambas em pequena escala), perigando saúde e, consequentemente,
suas vidas (vide ilustração 3);
✓ Ainda de acordo com relatos avançados pela população local, a exploração do ouro por
parte da empresa acima citada, é caracterizada por sucessivos conflitos envolvendo está e
a comunidade local;
✓ Em contacto com as autoridades administrativas da província com competência em
relação a matéria de impacto ambiental, e pela observação dos processos, verificamos
30

que, todo o processo para efeitos atribuição de licença ambiental observou todas as
formalidades estabelecidas na lei, mas no que tange a fiscalização dos mesmo,
constatamos que a fiscalização é inexistente.

Ilustração 2 - Curso de água contaminado em consequência da exploração de ouro, levada a cabo


pela empresa ÁFRICA OURO, na Serra Vumba, distrito de Manica-Moçambique

Fonte: imagens captadas pelo autor

Ilustração 3 - Furo de água tradicional, usado pela comunidade local para a satisfação das suas
necessidades básicas, na Serra Vumba, distrito de Manica.
31

Fonte: imagens captadas pelo autor.


Ilustração 4 – Desvio e contaminação de curso de água para alimentar a lavagem do ouro, na Serra
Vumba, distrito de Manica-Moçambique

Fonte: imagem captada pelo autor

4.1.2. Factores que originaram à violação dos Direitos ambientais relativos a água
fluvial, flora aquática e fauna, na Serra Vumba, Província de Manica

De acordo com aquilo que foram as respostas facultadas pelos entrevistados, 31% deles acredita
que, no que concerne aos factores que influenciam de forma positiva para a violação dos Direitos
ambientais relativos a água fluvial, flora aquática e fauna na Serra Vumba, é a corrupção no
processo administrativo, 41% acreditam que a ineficiência administrativa tem contribuído de
forma significativa para as violações supra indicadas, 8% crêem que por detrás da violação dos
Direitos Ambientais supra indicados, está a falta de assistência jurídica, mas 15% entrevistados
acreditam que, o que tem influenciado a violação dos Direitos ambientais expostos, é o
desconhecimento da meteria ligada ao Direitos ambientais relativos a água fluvial, flora aquática
e fauna e 5% dos entrevistados não souberam responder. Vide ilustração (5) abaixo.
32

Ilustração 5 - responsabilidade na violação dos Direitos ambientais relativo, a água fluvial, flora
aquática e fauna na Serra Vumba

Corrupção no processo
5%
8% administrativo
31%
15% Ineficiência adminitrativa

Desconhecimento da máteria
pela comunidade
Falta de advocacia
41%
Não sabem dizer

Fonte: elaborado pelo autor, tendo como base os dados da pesquisa

Os entrevistados que escolheram as opções a), b), c) e d) justificaram as suas escolhas da seguinte
maneira:

✓ Na tramitação dos processos para a titularização mineira também designada licença


sectorial e para atribuição da licença ambiental. Muita das vezes, em troca de alguns
benefícios patrimoniais, os funcionários encarregados de tramitar esses processos fazes
vista grossa a varias irregularidades graves. (corrupção no processo administrativo);
✓ A falta de vontade/incompetência dos órgão administrativos incumbidos de fiscalizar as
actividades mineiras naquela área geográfica tem influenciado de forma positiva para a
violação dos direitos ambientais a cima expostos.(ineficiência administrativa);
✓ O MITADER tem a competência de fiscalizar as actividades levadas a cabo pela empresa
mineira AFRICA OURO, mas esta não o faz, deixando a empresa supracitada explorar o
ouro ao seu belo prazer, não se importando com as questões ambientais, muito menos os
direitos da comunidade local (ineficiência administrativa);
✓ Se a comunidade local dominasse os conteúdos ligado ao Direito ambiental relativo, a
água fluvial, flora aquática e fauna, seria mais fácil e simples defender tais direitos e
evitar a sua violação. (desconhecimento da matéria pela comunidade local);
✓ A comunidade local não é dotada de conhecimento técnico jurídico, oque de alguma
forma acaba limitando o acesso a justiça, se ela tivesse assistência jurídica, fariam valer
33

em juízo os seus direitos ambientais da água, flora e fauna aquática. (falta de assistência
jurídica).

4.1.3. Responsabilidade na violação dos Direitos ambientais relativos a água fluvial,


flora aquática e fauna na serra Vumba, na província de Manica
Questionados de quem é a culpa pela violação Direitos ambientais relativos a água fluvial, flora
aquática e fauna, na Serra Vumba, na província de Manica, os entrevistados responderam da
seguinte maneira: 50% dos entrevistados imputam a culpa ao governo local, 28% culpam a
empresa mineradora que exerce as suas actividades naquela área geográfica (ÁFRICA OURO),
15% dos entrevistados imputam a culpa a própria comunidade local e 7% dos entrevistados não
souberam responder (vide a ilustração a baixo).

Ilustração 6 - responsável pela violação do Direito ambiental relativo, a água fluvial, flora aquática e
fauna na Serra Vumba, província de Manica.

50%
50%
40%
28%
30%
20%
15% Series1
7%
10%
0%
Comuniade Empresa O governo Não sabem
local África Ouro dizer

Fonte: elaborado pelo autor, com base nos dados obtidos na entrevista

Os entrevistados que, responderam sim justificaram suas respostas da seguinte maneira:

✓ A comunidade local não tem domínio das matérias ligadas aos Direitos Ambientais
relativos, a Água fluvial, Flora aquática e Fauna, isso abre espaço para oportunismo da
empresa AFRICA OURO, com auxilio de alguns entes públicos afectos ao MITADER;
✓ A comunidade local não tem domínio das matérias ligadas aos Direitos Ambientais
relativos, a Água fluvial, Flora aquática e Fauna, oque dificulta a reivindicação e defesa
dos mesmos;
34

✓ Com a falta de conhecimentos ligados aos Direitos Ambientais relativos, a Água fluvial,
Flora aquática e Fauna, a comunidade local encontra dificuldades em reivindica-los.

4.1.4. Importância do conhecimento técnico ligadas a matéria do Direito ambiental


relativo, a água fluvial, flora aquática e fauna na serra Vumba, Província de
Manica
Em alguns casos a falta de conhecimento técnico de um dada matéria tutelada pelo Direito tem
influência positiva na violação de tal Direito. Questionados se o mesmo acontece no Direito
ambiental relativo, a água fluvial, flora aquática e fauna, os de entrevistados apresentaram as
seguintes respostas: 65% responderam que sim, 23% responderam que não e 15% não souberam
responder a este quesito (vide ilustração 7).

Ilustração 7 - Opinião dos entrevistados no que concerne a possibilidade da falta de conhecimento


da matéria referente ao Direito ambiental relativo, a água fluvial. flora aquática e fauna, influencia
positivamente na sua violação

15%

23%
Sim
65% Não
não sabe dizer

Fonte: Elaborado pelo autor, tendo como base os dados da pesquisa

4.2. Discussão dos resultados

✓ Como bem dissemos, relativamente ao capítulo de apresentação dos resultados da nossa


pesquisa, constatamos que, as águas que se encontram na Serra Vumba, no distrito de
Manica, encontram-se contaminadas ao ponto de estarem empapadas, em função disso,
verifica-se, que, nem os humanos que ali habitam, nem os animais selvagens assim como
os aquáticos, não tem condições para poder dela aproveitar para beber, ocorre que, para
que, tanto os animais, os vegetais bem como os humanos poderem sobreviver dependem
35

deste recurso que envolve a sua própria vida, aliás, é do ditame constitucional, mormente
do previsto no n.º 1 do artigo 90 na redacção da Lei n.º 1/2018, de 12 de Junho, que todo
cidadão tem o direito de viver num ambiente equilibrado. A turvação desta água, que
contagia a vida dos animais tanto, dos vegetais, quanto dos humanos na Serra Vumba, no
distrito de Manica, constitui uma grave violação ao direito ambiental reconhecido a todo
cidadão moçambicano que se encontra na Serra Vumba;
✓ Também constatamos que, quem está a violar este direito, é a empresa AFRICA OURO.
A empresa citada é que está a desenvolver a actividade de exploração mineira na Serra
Vumba, distrito de Manica, que, quanto a lavagem do minério ali extraído, socorre-se das
águas que correm na Serra Vumba, ora, a acção desta empresa é que cria o turvamento
das águas, afectando a qualidade da água, perigando deste modo a vida da comunidade
local, dos animais selvagens e aquáticos, bem como da vegetação aquática ali existente, o
que determina está empresa como autora desta infracção (violação dos direitos ambientais
relativo, a água fluvial, flora aquática e fauna) nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo
65 da Lei de águas, conjugado com artigo 20 do RAPAM, cuja responsabilização pode
ser, criminal tendo em conta a gravidade da violação nos termos do n.º 1 do artigo 354 do
CP; civil nos termos do n.º 2 do artigo 65 da Lei de águas e uma possível revogação do
título mineiro, suspendendo de imediato as operações mineiras levadas a cabo pela
empresa AFRICA OURO nos termos do n.º 2 do artigo 26 do RAPAM;
✓ Constatamos também a existência de animais do tipo caranguejo, sapo, tartaruga e peixes
mortos, assim como vegetações aquáticas do tipo lentilhas da água, conhecida por
callitriche stagnalis; carvalhas, conhecida por potamogeton crispus; lótus branca,
conhecida por nymphaea alba; lótus, conhecida por nelumbo nucifera; aguapé, conhecida
por eichhornia; chapéu-de-couro, conhecida por echinodorus macrophyllum; taboa,
conhecida por typha domingensis; caniço-de-água, conhecida por phragmites; mururé
carrapatinho, conhecida por salvinia Auriculata; e alfaces d’água, conhecida por pistia
stratiotes, amareladas e avermelhadas ao longo dos cursos das águas contaminados. As
constatações aqui referenciadas, são consequências das acções levadas a cabo pela
empresa AFRICA OURO (contaminação dos cursos de água), está empresa deve também
ser chamada a reconstituir a situação que existiria se a referida contaminação não se
36

tivesse verificado, para que a situação volte de imediato a normalidade naquela região.
Vide o n°. 3 do artigo 15 da RAPAM.
Em Moçambique não existe um regime jurídico específico que regula o Direito ambiental
relativo, a flora e fauna aquática, este facto tem contribuído de forma positiva para o
perecimento da flora assim como da fauna aquática;
✓ Constatamos ainda, que, a população local, tem percorrido vários quilómetros para efeitos
de sobrevivência com recurso a água, passando a pagar 5 meticais por botija (20 litros)
quando lá vão obter o precioso liquido. E as pessoas que não tem recursos financeiros
para obter a água dos pequenos empresários, recorrem a furos precários feitos por meios
próprios para fazer fase as suas necessidades, perigando saúde e, consequentemente, suas
vidas. Ter direito ambiental é ter direito a água, para dele beber e usar para suas
necessidades (domésticas, pessoais e familiares do utentes, incluindo o abeberamento de
gados e a rega de machambas em pequena escala). Estás pessoas em consequência desta
violação, não tem como obter deste recurso para a sua sobrevivência, recorrendo desta
forma a recursos impróprios para garantir a sua sobrevivência (a natureza deu, mas o
homem por ambição tomou);
✓ De acordo também com os resultados por nós constatados, o estágio de violação do direito
ambiental relativo ao direito da água fluvial, flora aquática e fauna, resulta da inacção e
ignorância do quadro legal relativo aos direitos ambientais por parte do MITADER e
MOPH. Está inacção e ignorância do quadro legal é o resultado da falta de inspecção ou
fiscalização. Por tanto, relativamente a todo processo administrativo da licença de
exploração mineira não constatamos nenhuma inconveniência, na medida que, de acordo
com os documentos colocados a nossa disposição, todo o processo para atribuição de
licença para exploração do minério em causa, estão em conformidade com o previsto na
lei. É da competência do MITADER, que, no exercício desta actividade, nos termos do
ponto iii) da alínea c) do artigo 3 da Resolução n.º 6/2015, de 26 de Junho, vulgarmente
conhecida como Estatuto Orgânico do MITADER, está actividade seja fiscalizada quanto
a sua garantia da qualidade. Ocorre que na Serra Vumba isto não tem se verificado, dando
como consequência o que nós estamos verificamos. No entanto, face a esta situação é
necessário a implementação da fiscalização e monitoria do uso da água para lavagem do
ouro na Serra Vumba, no distrito de Manica;
37

✓ No tocante ao ponto referente ao sujeito responsável pela violação Direitos Ambientais


relativos, a Água fluvial, Flora aquática e Fauna na Serra Vumba, distrito de Manica, fica
claro que o infractor é a empresa AFRICA OURO, tendo em conta que a contaminação
dos cursos de água devem-se exactamente a lavagem do ouro depois de extraído, lavagem
esta feita pela empresa já citada. Este facto é facultado pelo governo, em especial a
Direcção Provincial da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, por não exercer o seu
dever de fiscalização e monitorização da actividade levada a cabo pela empresa AFRICA
OURO, ignorando desta feita o previsto no ponto iii) da alínea c) do artigo 3 do seu
estatuto orgânico;
✓ Relativamente ao ponto referente a importância do conhecimento técnico ligadas a
matéria do Direitos ambiental relativo, a água fluvial, Flora aquática e fauna, na Serra
Vumba, Província de Manica, está claro que, este facto influencia positivamente na
violação dos Direitos ambientais acima referenciados. A comunidade local deve ser
motivada a exercer o seu direito de reivindicar os seus Direitos ambientais violados.
Aliás, nos termos do artigo 69 coadjuvado com artigo 70 todos da CRM na redacção da
Lei n.º 1/2018, de 12 de Junho, todo cidadão tem a faculdade de impugnar os actos que
atentem contra seus direitos legalmente estabelecidos, esta impugnação pode ser feita nos
tribunais.
Existem vários mecanismos legais para a salvaguarda dos Direitos ambientais acima
referenciados (vide o ponto 2.1.10, do Capitulo II, cuja epigrafe lê-se Mecanismos legais
para a salvaguarda dos Direitos ambientais), tudo isso torna-se complicado efectivar sem
o conhecimento destas matérias.
38

V. CAPITULO: CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

5.1. Conclusão
De acordo com a demonstração feita no capítulo referente aos resultados e discussão, conclui-se o
seguinte:
Na província de Manica, distrito de Manica, no povoado da Serra Vumba, há grave violação do
Direito ambiental relativo a água fluvial, flora aquática e fauna. Primeiro temos a contaminação
das águas fluviais. A contaminação da água fluviais coloca em causa sucessivamente os direitos
ambientais da flora aquática e fauna.
Está violação é preconizada pela empresa mineira AFRICA OURO, em função desta violação,
está empresa deve ser sancionada nos termos do n°.1 do artigo 354 do CP, coadjuvado com o n°.
2 do artigo 65 da Lei de Águas, e tendo em conta a gravidade das violações, revogado o seu titulo
mineiro e ordenada a suspensão imediata das operações mineiras por eles lavada a cabo nos
termos do n.2 do artigo 26 do RAPAM.
Foram causas da violação dos Direitos acima mencionados a inacção e a ignorância da lei por
parte das autoridades administrativas mormente: a direcção provincial dos recursos minerais e
energia, a direcção provincial da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural todos de Manica.
No que se refere aos direitos ambientais da água, em Moçambique existe um regime jurídico
específico, o que de certa forma contribui para a reivindicação de tais direitos em caso de
violação ou potencial ameaça, ao passo que, no que tange a direito ambientais da flora aquática e
fauna aquática, não exististe um regime jurídico especifico.
A inacção administrativa está aliada a corrupção nos processos administrativos, na medida que, a
partir do momento em que o funcionário ou agente do Estado (funcionários afectos a direcção
provincial da terra, ambiente e Desenvolvimento rural de Manica) aceita o suborno, a eficiência
administrativa automaticamente é colocada em causa. A falta de conhecimento das matérias
ligadas aos Direitos ambientais da água fluvial, flora aquática e fauna, por parte da comunidade
local e a falta de advocacia e a inacção do MP também contribuem de forma significativa para a
da violação dos Direitos ambientais acima expostos.
39

5.2. Recomendações
Em face dos problemas por nos constatados e face das discussões por nós feita ao longo do
trabalho de pesquisa em alusão propomos que:

✓ Para a Direcção provincial da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural de Manica, a


efectivação ou promoção da educação ambiental preconizado no artigo 20 da LA a
comunidade local;
A efectivação e intensificação das fiscalizações e monitoria das actividade de exploração
do ouro na Serra Vumba, província de Manica, levada a cabo pela empresa mineira
AFRICA OURO, nos termos do ponto iii), da alínea c) do artigo 3 do estatuto orgânico do
MITADER;
✓ Ao MIREME, a revogação do titulo mineiro concedido a empresa AFRICA OURO, e a
suspensão imediata das operações mineiras levadas a cebo pela empresa já citada, tendo
em conta a gravidade das violações ambientais constatadas, nos termos do n°. 2 do artigo
26 do RIPAM;
✓ A Procuradoria provincial de Manica, a tomar o impulso processual que lhe é conferido
por lei, no sentido de investigar o possível envolvimento dos funcionários afecto a
Direcção provincial da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural de Manica em actos
de corrupção;
✓ Ainda para a Procuradoria provincial de Manica, a propositura de uma acção judicial para
a responsabilização criminal e obrigação de reposição da qualidade das águas
contaminada e pelos danos ambientais causados pela empresa AFRICA OURO;
✓ Para a comunidade local, que faça o uso dos mecanismos legais (acção popular e
intimação a empresa AFRICA OURO para abster-se da conduta adoptada) colocados a
sua disposição, para a defesa dos seus Direitos ambientais violados;
✓ Ao Conselho de Ministros, a criação de quadros legal e institucional da flora e fauna
aquática.
40

5.3. Referência legislativa


Código Civil Moçambicano, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47 344

Constituição da República de 2004, na nova redacção, aprovada pela Lei n.º 1/2018, de 12 de
Junho.

Lei n.º 20/97, de 1 de Outubro, aprova a Lei do Ambiente

Lei n.º 20/2014, de 18 de Agosto, aprova a Lei de Minas

Lei n. 16/91, de 3 de Agosto, aprova a Lei de águas

Lei n.º 7/2014, de 28 de Fevereiro, aprova a Lei dos procedimentos atinentes ao processo
Administrativo Contencioso.

Lei n. 35/2014, de 31 de Dezembro (aprova a Lei de revisão do código penal)

Decreto n.º 31/2015, de 31 de Dezembro, aprova o Regulamento da Lei de Minas

Decreto n.º 26/2004, de 20 de Agosto, aprova o Regulamento Ambiental para actividade mineira

Decreto n.º 54/2015, de 31de Outubro, aprova o Regulamento Sobre o Processo de Avaliação de
Impacto Ambiental, e revoga o Decreto n. 45/2004, de 29 de Setembro

Decreto-Lei n.º 35.007, de 13 de Outubro de 1945

Resolução n.º 5/95, de 3 de Agosto, aprova a Política Nacional do Ambiente

Resolução n.º 6/2015, de 26 de Junho, aprova do Estatuto Orgânico do MITADER

5.4. Referências bibliográficas


BATA. José Teresa. Contributo da Educação Ambiental para o Desenvolvimento do Turismo
Sustentável em Macaneta, Maputo, Novembro 2015.

CASTRO, Carlos Roberto Siqueira. A constituição aberta e os direitos fundamentais: ensaios


sobre o constitucionalismo pós-moderno e comunitário. Rio de Janeiro: Forense, 2003.
41

GUERRA, Sidney. Globalização na sociedade de risco e o princípio da não indiferença em


matéria ambiental. In: ______. Globalização: desafios e implicações para o Direito
Internacional contemporâneo (Org.). Ijuí: Ed. da Unijuí, 2006.

http://www.tembalodges.co.uk/zimbabwe/vumbamountainshotels.html acesso no dia 10 de Junho


de 2019, pelas 09h:55 minutos.

https://www.google.com/maps/place/Montanhas+Bvumba/@-
19.0833328,32.7412452,2868m/data=!3m2!1e3!4b1!4m5!3m4!1s0x192cb8e84674716b:0x8e1cd
165b0625f80!8m2!3d-19.0833333!4d32.75 acesso no dia 10 de Junho de 2019, pelas 11h: 09
minutos.

http://barue.manica.gov.mz acesso no dia 03 de Julho de 2019, pelas 12h: 09 minutos

http://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Mocambique/Historia-de-Mocambique/Penetracao-
Colonial acesso no dia 10 de Junho de 2019, pelas 20h:43 minutos.

MUSSA. Carlos. H12, História 12.ª classe, Textos Editores, Lda. Moçambique, Maputo-2008

SERRA, Carlos Manuel & CUNHA, Fernando. MANUAL DE DIREITO DO AMBIENTE, 2ª


edição revista e actualizada, ministério da justiça, centro de formação jurídica e judiciaria,
Maputo-2008.

SERRA, Carlos Manuel & CUNHA, Fernando. MANUAL DE DIREITO DO AMBIENTE, Centro
de Formação Jurídica e Judiciária, Maputo, Novembro de 2003.

SUMBANE, Salvador Agostinho. H11. História 11.ª Classe, Textos Editores, Lda. Moçambique,
Maputo-2008.
42

APÊNDICE 1: Figuras dos resultados das variáveis da descrição do perfil do entrevistado

Ilustração 8 - Nacionais entrevistados

80% 65%
moçambicana
60%
zimbabweana
40% 30%
malawina
20% 5%

0%
moçambicana zimbabweana malawina

Ilustração 9 - Distribuição por sexo dos entrevistados

80%

60%
Masculino
75%
40%
Feminino
20% 25%

0%
Masculino Feminino

Ilustração 10 - Nível de escolaridade dos entrevistados

35%
35%
30%
25% 20%
20% 15% 15% 15%
15%
10%
5%
0%
Básico Secundário Superior Ensino técnico Outros

Fonte: Elaborado pelo autor tendo como base os dados da pesquisa


43

APÊNDICE 2: Guião de Entrevista relativa a violação dos Direitos Ambientais na Serra


Vumba, distrito de Manica

Pesquisa: Violação dos Direitos ambientais relativos a água fluvial, flora aquática e
fauna, na Serra Vumba, Província de Manica, pela Empresa Mineira
ÁFRICA OURO, no ano 2018 até aos dias de hoje

Meu nome é Stélio Gauanene António Simão, estudante, cursando licenciatura em Direito,
com Habilitação em Direito de Energia e Recursos Naturais, na Universidade Punguè,
Extensão de Tete. Estou a realizar um estudo sobre a Violação dos Direitos ambientais
relativos a água fluvial, flora aquática e fauna, na Serra Vumba, Província de Manica, pela
Empresa Mineira ÁFRICA OURO, no ano 2018 até aos dias de hoje, como trabalho de
conclusão do curso. O estudo visa Analisar a violação dos Direitos ambientais relativos a
água fluvial, flora aquática e fauna, perpetrada pela empresa mineira denominada AFRICA
OURO, na província de Manica, em especial na Serra Vumba.

A sua contribuição é de elevada pertinência para a realização do estudo em apreço, espero que
possa ajudar, respondendo com serenidade as questões desta entrevista, comprometendo-me a
manter em discrição os dados pessoais do entrevistado.

Guião de Entrevista para as pessoas directamente afectadas pela violação dos Direitos
ambientais relativos a água fluvial, flora aquática e fauna

I. Secção: informação geral do entrevistado


1. Nome do entrevistado (opcional):_______________________________
2. Nacionalidade:_____________________________
3. Sexo: a. Masculino b. Feminino
4. Nível de escolaridade:

a. Ensino básico b. Ensino secundário c. Ensino técnico d. Ensino superior

e. Outro (qual é)______________________________________


44

II. Secção: Violação dos Direitos ambientais relativos a água fluvial, flora aquática e
fauna, na Serra Vumba, Província de Manica, pela Empresa Mineira ÁFRICA
OURO
5. Quais os factores que originam à violação dos Direitos ambientais relativos a água
fluvial, flora aquática e fauna, na Serra Vumba, Província de Manica?

a. Corrupção no processo administrativo c. Desconhecimento da matéria pela


comunidade local comunidade local

b. Ineficiência administrativa d. Falta de advocacia e. Não sabe dizer

se a resposta for a), b) c) ou d), de que forma?

R_____________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________

III. Quem é o responsável pela Violação dos Direitos ambientais relativos a água fluvial,
flora aquática e fauna, na Serra Vumba, Província de Manica?

a. Comunidade local c. Governo

b. Empresa ÁFRICA OURO d. Não sabem dizer

IV. Secção: Importância do conhecimento técnico ligados a matéria dos Direitos


ambientais relativos a água fluvial, flora aquática e fauna, na Serra Vumba,
Província de Manica
V. Acha que o conhecimento das matérias ligadas aos dos Direitos ambientais relativos
a água fluvial, flora aquática e fauna podem contribuir para combater a violação
desses direitos?

a. Sim b. Não c. Não sabe dizer

Se a resposta for sim, de que forma?


R:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

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