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Salvador e a invasão
holandesa de 1624-1625
Copyright © 2013 Ricardo Behrens
Direitos adquiridos para a publicação em
formato eletrônico pela Editora Pontocom
Ricardo Behrens
ISBN: 978-85-66048-22-3
Agradecimentos 7
Introdução 9
Já entraram, os inimigos já entraram! 9
A literatura sobre o tema 16
As fontes 18
A estrutura do trabalho 19
1. Salvador, uma “aldeia aberta” 23
1.1. Salvador, uma “cidade fortaleza”? 25
1.2. Administração e conflitos 55
2. Da resistência ao contra-ataque: uma ocupação sitiada 79
2.1. Salvador, a “Terra Batávica” 81
2.2. No refúgio 104
2.3. Enfrentamentos entre colonos locais e holandeses 121
3. Da retomada à reorganização 139
3.1. A retomada da Bahia 139
3.2. Administrando o caos 176
Considerações finais 201
Fontes e bibliografia 205
Agradecimentos
2 Tudo o que foi narrado até aqui está baseado em dois documentos holande-
ses: Aldemburgk, Johann Gregor. Relação da conquista e perda da cidade de
Salvador pelos holandeses em 1624-1625. Salvador: (s.n.), 1961; Relatório
dos Delegados dos Diretores da Companhia das Índias Ocidentais, entregue
à Assembléia dos Altos e Poderosos Senhores Estados Gerais à 31 de agosto
de 1624. In: Documentos Holandeses, 1º Vol. Serviço de Documentação. Rio
de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1945.
3 Referimo-nos à nau Holandia, que trazia a bordo Van Dort, o general da es-
quadra que vinha atacar a Bahia. Tendo se afastado do restante da armada na
ilha de São Vicente (arquipélago de Cabo Verde), Van Dort teria chegado à
Bahia com quase um mês de antecedência e se pôs a aguardar seus compan-
heiros em Boipeba. Quando, afinal, decidiu seguir para Salvador, a cidade já
era “terra batávica” havia três dias. Cf. ALDEMBURGK, 1961, p. 165, 174.
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As fontes
A estrutura do trabalho
7 De acordo com esse sistema, a coroa doava lotes de terra a pessoas próxi-
mas ao trono, a indivíduos reconhecidos por feitos militares, entre
outros. O donatário (indivíduo que recebia as terras), possuía direito so-
bre a venda do pau-brasil, a vintena da pescaria e a redízima das rendas
da coroa, mas a ele era vetado a venda da terra. À Coroa cabiam os lu-
cros maiores: dizimo de todos os produtos pagos em espécie, monopólio
das drogas e pedras preciosas, etc. Diversos autores entendem que as
capitanias fracassaram diante da falta de investimentos estatais. Mais
informações sobre o sistema de capitanias, ver, entre outros: PRADO,
1997, p .96-107; RUY, 1949, cap. I; ALENCASTRO, 2000, cap. I.
Salvador e a invasão holandesa de 1624-1625 27
8 Cargo existente desde 1532, cujas funções eram, dentre outras coisas: fis-
calizar o abastecimento de víveres para a localidade, processar as penas
pecuniárias impostas pela Câmara aos moradores, fiscalizar as obras,
zelar pela limpeza da cidade, etc. Cf. SALGADO, 1985, p. 134-5.
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Instituição Despesa
Igreja 5:443$640
Fazenda 1:059$600
Entretenidas 270$000
Tenças 143$000
Total 18:740$240
Fonte: Moreno, 1955
status era algo desejado por todos, a posição ocupada pelas au-
toridades em procissões e solenidades passou a ser alvo de cons-
tantes conflitos.
A 12 de julho de 1609, o governador Diogo de Menezes
escreveu ao rei relatando o comportamento do mesmo bispo
Barradas numa procissão do Corpo de Cristo que teria aconte-
cido em Olinda. Segundo o governador, Barradas o “injuriou”
na frente de todo o povo, e fazendo isto atingia ao rei, pois que
ele, Diogo de Menezes, era o representante de Sua Majestade.
De acordo com a carta, o bispo não obedecia aos lugares que as
autoridades deveriam ocupar na procissão. Rezava o costume
que à frente das procissões iria a bandeira da câmara, depois,
juntos, o bispo e o governador, seguidos pelos oficiais da câma-
ra. Naquele ano, o bispo iniciara a cerimônia antes do horário
combinado, sem a presença do governador, dificultando o acesso
deste ao lugar que deveria ocupar. Para agravar ainda mais a
situação, devido à chuva que caiu naquele dia, a procissão foi
realizada no interior da igreja. Nesse ambiente circunscrito,
bispo e governador passaram das provocações para um embate
verbal. Ali, defronte de todo o povo, os representantes maiores
da Igreja e do Estado ofereceram ao público uma mostra de
como se relacionavam. Com a palavra, Diogo de Menezes:
Enfim, parece que o que existe por trás dessa fama de trai-
dores que pesa sobre os cristãos novos é fruto da necessidade
de um bode expiatório que eximisse de culpa a administração
espanhola. Mais relevante do que uma possível colaboração dos
cristãos novos com os invasores é o evidente conhecimento
prévio que os holandeses possuíam da região. Se observarmos
com atenção a estratégia dos holandeses ao atacarem Salvador,
posicionando uma parte das embarcações em frente da cidade
para desviar a atenção dos habitantes, enquanto parte das tro-
pas desembarcavam pela Vila Velha, guiados por Dierick Rui-
ters, notamos o quão útil foi a estadia deste para o sucesso das
operações militares holandesas, cuja estratégia parecia estar
respaldada no relato do zelandês acerca dos caminhos que le-
vavam à cidade.
Diante do que foi exposto, notamos que dois argumentos
são apontados como decisivos para o êxito do ataque holandês:
a intervenção do bispo e a suposta traição dos cristãos novos.
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Por outro lado, tentei demonstrar o quão frágeis são essas ex-
plicações, entendendo que a questão central está localizada na
debilidade do sistema defensivo da capital colonial, comple-
mentada, obviamente, pelos resultados desastrosos provenien-
tes dos conflitos administrativos que acabavam por tornar a
colônia um verdadeiro caos. Assim, as rivalidades entre as au-
toridades constituídas contribuíram imensamente para uma
ausência de estratégia defensiva, o que por si só, era tarefa nada
fácil em função da carência de recursos. As fortificações obso-
letas, os homens despreparados, as tensões internacionais das
guerras hispano-holandesas e os conflitos entre as autoridades
foram os elementos que se uniram para desacreditar a “cidade
fortaleza”. Em resultado, a população de Salvador, acostumada
a se defender dos ataques de piratas e corsários, foi tomada pelo
pânico diante da eminência de ataque de uma frota composta
por vinte quatro embarcações holandesas, em 1624.
2. Da resistência ao contra-ataque:
uma ocupação sitiada
fez alusão aos seus nomes – como, aliás, nenhum outro relato o
fez –, de maneira que, comparando as referencias contidas nos
relatos de Laet, Salvador e Aldemburgk, só foi possível listar a
carga de onze navios, como se observa na tabela abaixo.
também era uma forma de atenuar esse problema, uma vez que
havia a possibilidade de que os navios que adentravam o porto
estivessem carregados com diversos produtos, inclusive alimen-
tos destinados à sobrevivência da tripulação e/ou à comerciali-
zação. Porém, é necessário atentar para um certo exagero por
parte de Aldemburgk, pois, as motivações para o apresamento
das embarcações estavam baseadas, prioritariamente, na garan-
tia do lucro originado por mercadorias de grande valor.
A ocupação da cidade com certeza desarticulou a comer-
cialização de alimentos de maneira geral, pois Salvador era o
mercado privilegiado. Quem possuía roças nos arredores da ci-
dade, cujos produtos eram destinados a abastecê-la, deveria
agora se preocupar em abastecer os habitantes refugiados. Para
os invasores, a situação era ainda mais complicada, haja vista
que o bispo D. Marcos, agora governador, havia proibido com
pena de morte qualquer aproximação com os holandeses (VIEI-
RA, 1955, p. 165). Entretanto, a resolução dos problemas holan-
deses com a alimentação das tropas passava pela colaboração
daqueles que aderiram aos invasores e, portanto colaboravam
no dia-a-dia. Vejamos o que nos informa Aldemburgk sobre
essa possibilidade:
2.2. No refúgio
O relato acima deixa claro mais uma vez que os dados re-
ferentes a essa fuga precisam ser relativizados, pois não me pa-
rece real setenta pessoas dividirem uma casa planejada para abri-
gar quatro pessoas, mesmo com todas as implicações que o
momento requeria. Acredito que os refugiados tomaram vários
destinos como engenhos e fazendas no Recôncavo, porém, os
relatos luso-espanhóis deram maior ênfase à aldeia acima refe-
rida, consagrando-a como a grande acolhedora dos refugiados
graças à sua utilização como local de articulação da liderança
da resistência.34
37 De acordo com Maria Hilda Baqueiro Paraíso, o local descrito por Viei-
ra funcionou como aldeamento jesuítico no Século XVI, tendo sido
desativado nesse mesmo século, permaneceu como propriedade jesuítica
que utilizaram o local para retiros, férias dos estudantes e repouso dos
padres. Segundo a autora os inacianos só abandonaram o local no Século
XVIII, quando foram expulsos da Bahia. Cf. PARAÍSO, 2003.
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39 Sobre os debates que ocorreram por ocasião do aniversário dos 350 anos
da posse do bispo, ver Freguesia da Conceição da Praia, 1623-1973.
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teraria o que foi dito pelos holandeses. Por fim, vejamos o que
Tamoyo de Vargas escreveu a respeito:
46 Nenhum dos relatos a que tive acesso especifica o nome de cada uma das
quatro vilas, sabemos apenas se tratar de vilas castelhanas. Ver
VARGAS, 1947, p. 100.
Salvador e a invasão holandesa de 1624-1625 153
Esq. das Quatro Villas 06 1.845 154 10.000 820 172 194
Fonte: Guzman.
Ricardo Behrens
Salvador e a invasão holandesa de 1624-1625 155
57 Vale ressaltar que ainda hoje essa idéia é corrente em escolas, nos pontos
turísticos da cidade e em boa parte da literatura sobre a formação da
cidade do Salvador.
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Fontes impressas
Fontes manuscritas
IDENTIFICAÇÃO DOCUMENTO
LOCAL, DATA
Doc.161/cx.2/cd.1 Informação de Gaspar de Souza.
?, 1618
Doc.321/cx.3/cd.1 Lembrança das coisas que pede Ma
tias de Albuquerque.
Lisboa, 02/09/1624
Doc.325/cx.3/cd.1 Provisão sobre a ordem que se há
de ter nas coisas do provimento que
leva a armada de socorro do Brasil.
Lisboa, 15/10/1625
Doc.329/cx.3/cd.1 Requerimento do Almirante D.
Francisco de Almeida.
?, 16/10/1624
Doc.333/cx.3/cd.1 Parecer sobre o salitre e pólvora
para o socorro do Brasil.
Lisboa, 29/10/1624
Doc.335/cx.3/cd.1 Informação sobre as companhias
que vão ao Brasil.
Lisboa, 26/10/1624
Doc.336/cx.3/cd.1 Informação sobre os terços que vão
ao Brasil.
Lisboa, 26/10/1625
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Bibliografia