Cooperação Brasil-África para o desenvolvimento: caracterização,
tendências e desafios Lidia Cabral
O Brasil tradicionalmente concentrou suas relações comerciais e
diplomáticas na América do Sul. No entanto, nos últimos anos, verificou-se uma maior aproximação com os países africanos. As ligações históricas e culturais facilitam as relações entre o Brasil e a África. Dois países se destacam: Moçambique, como sendo o maior receptor de cooperação, e Angola, como principal destino dos investimentos privados brasileiros. O Brasil vem se firmando como provedor de cooperação para o desenvolvimento, e não mais apenas como receptor de recursos dos países ricos. Essa mudança foi observada sobretudo durante o governo Lula. As autoridades brasileiras chamam a cooperação para o desenvolvimento de cooperação Sul-Sul e alguns de seus principais pilares são o respeito à soberania, a solidariedade entre os povos e a não-interferência em assuntos internos. Um desafio da política externa brasileira para a África é a segmentação institucional: uma série de atores é responsável pelas relações com o continente, o que acaba por enfraquecer a coordenação da ABC (Agência Brasileira de Cooperação). A definição usada pelo texto é a de que cooperação é “a totalidade de recursos investidos pelo governo federal brasileiro, totalmente a fundo perdido, no governo de outros países, em nacionais de outros países em território brasileiro, ou em organizações internacionais, com o propósito de contribuir para o desenvolvimento internacional, entendido como o fortalecimento das capacidades de organizações internacionais e de grupos ou populações de outros países para a melhoria das suas condições socioeconômicas”. A autora destaca quatro tipos de cooperação: assistência humanitária, bolsas de estudo, contribuições para organismos internacionais e bancos regionais e cooperação técnica. A cooperação técnica marca a cooperação brasileira, já que é a que tem maior visibilidade. Os programas brasileiros de cooperação técnica envolvem a transferência de conhecimento, de práticas e de tecnologias relativas a diversas áreas visando a capacitação de indivíduos e instituições. Essa modalidade de cooperação se foca em três temas, agricultura, saúde e educação. Ocorreram três mudanças no que diz respeito à cooperação brasileira. A primeira é a de que ações pontuais passaram a ser projetos de maior volume. A segunda é a de que novas modalidades de cooperação surgiram. E a terceira é a de que houve uma significativa expansão da cooperação trilateral. A cooperação econômica e financeira abrange três modalidades: perdão da dívida, crédito às exportações e doações em dinheiro. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é um importante instrumento para este tipo de cooperação. Sua principal função é a de fazer empréstimos para a inserção internacional das multinacionais brasileiras. A África tem especial papel no panorama das relações diplomáticas e econômicas do Brasil. O peso comercial da África na pauta de exportações brasileiras tem crescido e as empresas privadas brasileiras têm investido cada vez mais no continente. O continente africano é atualmente o maior receptor da cooperação técnica brasileira. Além disso, muitos movimentos sociais brasileiros têm estabelecido relações com seus equivalentes africanos. A autora destaca quatro pontos nas relações de cooperação entre Brasil e África que merecem ser melhor estudados. O primeiro diz respeito à maior necessidade de transparência e de mensuração de resultados. O segundo concerne à necessidade de se estabelecer um mapa institucional mais claro, apesar da coordenação da ABC. O terceiro ponto a ser estudado é a definição de políticas e compromissos mais claros. Por fim, o quarto elemento de destaque é possibilidade ou não de adaptação de experiências e instituições brasileiras à realidade africana, uma vez que alguns críticos afirmam que se superestima as semelhanças entre África e Brasil.