Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Resumo
A Comunidade Quilombola de Mata Cavalo, localizada no município de Nossa Senhora do
Livramento, em Mato Grosso, há mais de um século luta pela legitimação de sua identidade e
conquista definitiva do seu território. Em 2015, foi realizado na Escola Estadual Tereza Conceição
de Arruda um processo formativo em Educação Ambiental e Escolas Sustentáveis, que resultou,
entre outros projetos, na construção da Casa da Cultura da Comunidade Quilombola de Mata
Cavalo, legitimando os costumes tradicionais e a arquitetura sustentável. Este trabalho tem o
objetivo de refletir a formação continuada nesta escola, em especial sobre a relação escola-cultura
na construção da Casa da Cultura. Tendo como metodologia a pesquisa participante, esse trabalho
registra os processos formativos e seus resultados, tais como o fortalecimento dos laços entre
escola e comunidade, a formação política, cidadã e táticas de resistência.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Cultura; Comunidade Quilombola de Mata Cavalo.
Introdução
Quilombo é uma palavra que se originou dos povos de língua bandu, trazidos da
África para serem escravizados no Brasil. O quilombo africano, em seu amadurecimento,
recrutava homens de linhagens estrangeiras aos seus grupos de origem, submetidos a um
ritual de iniciação para adquirirem qualidades de grandes guerreiros, para a integração e
unificação. O quilombo africano é um modelo de organização transcultural que abriga
diversas etnias, assim como o quilombo brasileiro, que se abriu aos oprimidos (negros,
índios e brancos), reconstruído para se opor à estrutura escravocrata, se organizando para
fugir das senzalas e plantações, também resistindo aos modelos ideológicos excludentes
(MUNANGA, 1996).
Os quilombos no Brasil vêm, ao longo do tempo, se distanciando do conceito
proveniente dos africanos bandos: definidos enquanto focos de resistência ao escravismo
colonial promoveram a organização e a luta pela posse das terras e legitimação de direitos
dos (as) negros (as) que foram escravizados (as), sofrendo injustiças e discriminações que
perduram até hoje. Os quilombos atuais não se referem somente ao passado, enquanto
remanescentes de escravos: representam novos sujeitos, demandam ações e políticas de
reconhecimento, ainda lutam pela posse definitiva de suas terras.
Encontro de Pesquisa em Educação da Região Centro Oeste – Reunião Científica Regional da
ANPEd: Projeto Nacional de Educação: desafios éticos, políticos e culturais, 13., 2016. Brasília.
Anais… Brasília: Universidade de Brasília, ANPEd, 2016.
Ao invés de serem respeitados enquanto comunidades tradicionais em suas
necessidades de preservação de historicidade, trajetórias de organização, referências
simbólicas e convívio coletivo para o usufruto da terra, na maioria das vezes, dentro de
uma falsa noção de “democracia social”, os quilombolas são marginalizados,
estigmatizados e se tornam meras ferramentas de consumo (LEITE, 2000).
O local de nossos estudos é a Comunidade Quilombola de Mata Cavalo, no
município de Nossa Senhora do Livramento, Mato Grosso, onde as principais atividades
econômicas são a pecuária, a agricultura de subsistência, suinocultura e ainda a
remanescente extração de ouro, que trouxe uma série de impactos ambientais, como o
assoreamento do solo, erosões profundas e morte de rios devido ao uso contínuo de
mercúrio nas águas (BARROS, 2007).
A comunidade quilombola de Mata Cavalo adquiriu suas terras por doações ou
compra pelos antigos ex-escravos, perseguidos, humilhados, presos e expulsos de suas
casas e sítios por fazendeiros. Necessidades como moradia, coleta de lixo, postos de saúde
são deficientes e ausentes, muitas vezes pelo descaso do poder público (SIMIONE, 2008).
Há mais de 100 anos Mata Cavalo sofre consequências do racismo ambiental e
discriminação racial. Ainda assim, esse grupo possui uma cultura singular, com artesanato,
culinária, aspectos espirituais legitimados nos terreiros, nas festas de santo e na dança do
congo. Há que se reconhecer essa riqueza cultural para a formação de nosso país.
Muitas lutas ganham força e resistência nos espaços das poucas escolas
quilombolas de Mata Cavalo, onde ocorrem mobilizações, formações políticas, festas,
rezas e reivindicações. Em torno do espaço escolar institucionalizado, outras educações
foram construídas por meio de histórias e elementos legítimos deste grupo, fomentando a
aprendizagem, a participação coletiva e sentido crítico da escola (SENRA, 2009).
A articulação entre a escola e a cultura quilombola representa uma riqueza de
saberes, fazeres, e também de conflitos. É necessário que as interconexões entre a
epistemologia e as vivências populares possam dialogar e se tornarem instrumentos de
reflexão e resistência pelos direitos desta comunidade.
No entanto, a luta contra as desigualdades sociais não é suficiente para possibilitar
diálogos entre os diversos grupos que coexistem em um espaço de dimensões cada vez
mais globais sob as perspectivas social, étnica e cultural. É necessário buscar a
coexistência democrática entre as diferenças culturais (GABRIEL, 2016).
Metodologia
Referências
BARROS, Edir Pina de. Laudo Pericial Histórico-antropológico. Mato Grosso: Justiça
Federal, 2007.
GABRIEL, Carmen Teresa. Escola e Cultura: uma articulação inevitável e conflituosa. In:
CANDAU, Vera Maria (Org). Reinventar a escola. 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, p. 17-45.
OLIVEIRA, Rosiska Darcy de. OLIVEIRA, Miguel Darcy de. Pesquisa Social e Ação
Educativa: conhecer a realidade para poder transformá-la. In: BRANDÃO, Carlos
Rodrigues. (Org.). Pesquisa Participante. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1982. p.17-34.