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A CASA DA CULTURA DA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE MATA

CAVALO: DIÁLOGOS ENTRE A ESCOLA, A COMUNIDADE E A


UNIVERSIDADE

CRISTIANE CAROLINA DE ALMEIDA SOARES

Resumo
A Comunidade Quilombola de Mata Cavalo, localizada no município de Nossa Senhora do
Livramento, em Mato Grosso, há mais de um século luta pela legitimação de sua identidade e
conquista definitiva do seu território. Em 2015, foi realizado na Escola Estadual Tereza Conceição
de Arruda um processo formativo em Educação Ambiental e Escolas Sustentáveis, que resultou,
entre outros projetos, na construção da Casa da Cultura da Comunidade Quilombola de Mata
Cavalo, legitimando os costumes tradicionais e a arquitetura sustentável. Este trabalho tem o
objetivo de refletir a formação continuada nesta escola, em especial sobre a relação escola-cultura
na construção da Casa da Cultura. Tendo como metodologia a pesquisa participante, esse trabalho
registra os processos formativos e seus resultados, tais como o fortalecimento dos laços entre
escola e comunidade, a formação política, cidadã e táticas de resistência.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Cultura; Comunidade Quilombola de Mata Cavalo.

Introdução

Quilombo é uma palavra que se originou dos povos de língua bandu, trazidos da
África para serem escravizados no Brasil. O quilombo africano, em seu amadurecimento,
recrutava homens de linhagens estrangeiras aos seus grupos de origem, submetidos a um
ritual de iniciação para adquirirem qualidades de grandes guerreiros, para a integração e
unificação. O quilombo africano é um modelo de organização transcultural que abriga
diversas etnias, assim como o quilombo brasileiro, que se abriu aos oprimidos (negros,
índios e brancos), reconstruído para se opor à estrutura escravocrata, se organizando para
fugir das senzalas e plantações, também resistindo aos modelos ideológicos excludentes
(MUNANGA, 1996).
Os quilombos no Brasil vêm, ao longo do tempo, se distanciando do conceito
proveniente dos africanos bandos: definidos enquanto focos de resistência ao escravismo
colonial promoveram a organização e a luta pela posse das terras e legitimação de direitos
dos (as) negros (as) que foram escravizados (as), sofrendo injustiças e discriminações que
perduram até hoje. Os quilombos atuais não se referem somente ao passado, enquanto
remanescentes de escravos: representam novos sujeitos, demandam ações e políticas de
reconhecimento, ainda lutam pela posse definitiva de suas terras.
Encontro de Pesquisa em Educação da Região Centro Oeste – Reunião Científica Regional da
ANPEd: Projeto Nacional de Educação: desafios éticos, políticos e culturais, 13., 2016. Brasília.
Anais… Brasília: Universidade de Brasília, ANPEd, 2016.
Ao invés de serem respeitados enquanto comunidades tradicionais em suas
necessidades de preservação de historicidade, trajetórias de organização, referências
simbólicas e convívio coletivo para o usufruto da terra, na maioria das vezes, dentro de
uma falsa noção de “democracia social”, os quilombolas são marginalizados,
estigmatizados e se tornam meras ferramentas de consumo (LEITE, 2000).
O local de nossos estudos é a Comunidade Quilombola de Mata Cavalo, no
município de Nossa Senhora do Livramento, Mato Grosso, onde as principais atividades
econômicas são a pecuária, a agricultura de subsistência, suinocultura e ainda a
remanescente extração de ouro, que trouxe uma série de impactos ambientais, como o
assoreamento do solo, erosões profundas e morte de rios devido ao uso contínuo de
mercúrio nas águas (BARROS, 2007).
A comunidade quilombola de Mata Cavalo adquiriu suas terras por doações ou
compra pelos antigos ex-escravos, perseguidos, humilhados, presos e expulsos de suas
casas e sítios por fazendeiros. Necessidades como moradia, coleta de lixo, postos de saúde
são deficientes e ausentes, muitas vezes pelo descaso do poder público (SIMIONE, 2008).
Há mais de 100 anos Mata Cavalo sofre consequências do racismo ambiental e
discriminação racial. Ainda assim, esse grupo possui uma cultura singular, com artesanato,
culinária, aspectos espirituais legitimados nos terreiros, nas festas de santo e na dança do
congo. Há que se reconhecer essa riqueza cultural para a formação de nosso país.
Muitas lutas ganham força e resistência nos espaços das poucas escolas
quilombolas de Mata Cavalo, onde ocorrem mobilizações, formações políticas, festas,
rezas e reivindicações. Em torno do espaço escolar institucionalizado, outras educações
foram construídas por meio de histórias e elementos legítimos deste grupo, fomentando a
aprendizagem, a participação coletiva e sentido crítico da escola (SENRA, 2009).
A articulação entre a escola e a cultura quilombola representa uma riqueza de
saberes, fazeres, e também de conflitos. É necessário que as interconexões entre a
epistemologia e as vivências populares possam dialogar e se tornarem instrumentos de
reflexão e resistência pelos direitos desta comunidade.
No entanto, a luta contra as desigualdades sociais não é suficiente para possibilitar
diálogos entre os diversos grupos que coexistem em um espaço de dimensões cada vez
mais globais sob as perspectivas social, étnica e cultural. É necessário buscar a
coexistência democrática entre as diferenças culturais (GABRIEL, 2016).

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ANPEd: Projeto Nacional de Educação: desafios éticos, políticos e culturais, 13., 2016. Brasília.
Anais… Brasília: Universidade de Brasília, ANPEd, 2016.
Em 2012, foi inaugurada a Escola Estadual Professora Tereza Conceição Arruda,
onde foi realizado, em 2015, um processo formativo em Educação Ambiental ligado à
proposta de Escolas Sustentáveis com atividades semanais envolvendo professores,
estudantes, servidores, pais e comunidade. Um dos resultados foi a elaboração do Projeto
Ambiental Escolar Comunitário (PAEC) em que a comunidade decidiu construir um
espaço educador sustentável denominado Casa da Cultura Quilombola de Mata Cavalo.
Este trabalho tem o objetivo de refletir sobre os processos de formação continuada
em Educação Ambiental na Escola Estadual Tereza Conceição de Arruda, na Comunidade
Quilombola de Mata Cavalo, em especial sobre a relação escola-cultura na construção da
Casa da Cultura Quilombola.

Metodologia

Nosso aporte metodológico é a pesquisa participante. Para registro das atividades,


realizamos a observação participante dos processos formativos. Além de conhecer a
realidade da comunidade, esta metodologia propõe a compreensão da consciência e a
iniciativa do grupo, estudando a realidade vivida por eles e verificando como se percebem
dentro de sua realidade. Foi uma construção coletiva, mediada entre educadores,
educandos e comunidade, partindo da realidade concreta do cotidiano, buscando uma
dimensão histórica, para compreender a realidade social (OLIVEIRA, OLIVEIRA, 1982).
Esta metodologia possibilitou diálogos e alianças entre o grupo pesquisador e a
comunidade, atendendo aos preceitos de educação ambiental, cultura e educação popular,
com a construção do saber partilhado, abrangente e sensível.

A construção da Casa da Cultura Quilombola

A construção da Casa da Cultura envolveu estudantes e funcionários da escola, a


comunidade, estudantes (graduação e pós-graduação) do grupo pesquisador da
universidade e o financiamento da organização não governamental World Wide Found for
Nature (WWF-Brasil) e buscou aspectos de sustentabilidade, ancestralidade,
reestabelecendo a relação da comunidade com a cultura local e a natureza. A estrutura foi
feita de barrote (pau a pique) como o costume dos ancestrais quilombolas. O chão batido é

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ANPEd: Projeto Nacional de Educação: desafios éticos, políticos e culturais, 13., 2016. Brasília.
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de cupim. Na busca de conforto térmico, há cobertura de telhado verde de grama e um
pequeno sistema de captação de água por uma cisterna. O interior da casa possui artefatos
tradicionais, artesanatos produzidos pela comunidade, fotografias e registros da identidade,
dos saberes e das tradições. As paredes da casa foram construídas de maneira tradicional,
com a intenção pedagógica de ensinar os mais jovens e valorizar o conhecimento popular.
A realização de um sonho coletivo por meio da Casa da Cultura valoriza a riqueza
cultural da comunidade quilombola, conduzindo um mergulho na compreensão dos modos
de vida, situando-os em seus espaços histórico-sociais e construindo seus significados,
tendo como fio condutor a educação ambiental e os aspectos culturais, incentivando o
protagonismo e a formação política.
A construção da Casa da Cultura Quilombola representa profundas significações
na Escola Estadual Tereza Conceição de Arruda, que já se caracterizava como um espaço
de dimensão política, conferindo visibilidade ao quilombo, onde a formação acontece por
meio das rodas de diálogos, fortalecendo laços entre escola e comunidade, reforçando a
luta e táticas de resistência por meio dos processos formativos, que são a base dos Projetos
Ambientais Educadores Comunitários (PAEC). Os resultados propõem um currículo
escolar permeado pela cultura popular, com aspectos da vida comunitária quilombola como
importante conteúdo escolar.
A prática que perpassa entre o planejar e o fazer conduz a educação além da teoria
e dos muros da escola (FREIRE, 2011). Um espaço educador sustentável transcende o
tempo e o espaço, interliga o passado, presente e futuro da comunidade quilombola.
A Casa da Cultura Quilombola também se constitui como um ambiente educador
que rompe a desconexão entre a cultura escolar e a cultura popular se distanciando dos
padrões formais, estimulando práticas vivenciais. As trocas/diálogos de saberes entre
escola-comunidade integram os saberes quilombolas, interligando gerações, valorizando
vivências, aprendizagens e singularidades.
Desta forma, a Casa de Cultura constituiu-se também como um espaço educador
sustentável: o processo de construção coletiva e permanente, pois leva projetos de
educação ambiental e escolas sustentáveis para dentro da comunidade, onde as pesquisas,
experiências e projetos fortalecem a troca entre conhecimentos científicos (arquitetura
sustentável) e populares (costumes tradicionais) (TRAJBER, SATO, 2010).

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Anais… Brasília: Universidade de Brasília, ANPEd, 2016.
Conclusão

Por meio desta pesquisa foi possível compreender as significações da Casa da


Cultura Quilombola no contexto da escola e comunidade de Mata Cavalo. Um projeto que
reforçou o diálogo entre escola e a comunidade; que fortaleceu a formação política e
cidadã dos sujeitos envolvidos, reforçando a luta quilombola, suas táticas de resistência,
possibilitando as trocas/diálogos de saberes entre escola e comunidade, promovendo um
diálogo entre gerações e uma aliança fecunda entre o saber científico e o saber popular.

Referências

BARROS, Edir Pina de. Laudo Pericial Histórico-antropológico. Mato Grosso: Justiça
Federal, 2007.

GABRIEL, Carmen Teresa. Escola e Cultura: uma articulação inevitável e conflituosa. In:
CANDAU, Vera Maria (Org). Reinventar a escola. 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, p. 17-45.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43.


ed., São Paulo: Paz e Terra, 2011.

LEITE, Ilka Boaventura. Os quilombos no Brasil: questões conceituais e normativas.


Etnográfica, Florianópolis, n. 2, 2000. Disponível em:
http://ceas.iscte.pt/etnografica/docs/vol_04/N2/Vol_iv_N2_333-354.pdf. Acesso em: 20
mai. 2016.

MUNANGA, Kabengele. Origem e histórico do quilombo na África. Revista USP, 1996.


Disponível em: <http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i28p56-63>. Acesso em: 03
setembro. 2016.

OLIVEIRA, Rosiska Darcy de. OLIVEIRA, Miguel Darcy de. Pesquisa Social e Ação
Educativa: conhecer a realidade para poder transformá-la. In: BRANDÃO, Carlos
Rodrigues. (Org.). Pesquisa Participante. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1982. p.17-34.

SENRA, Ronaldo Eustáquio Feitoza. Por uma Contrapedagogia Libertadora no


Ambiente do Quilombo Mata Cavalo. Cuiabá, MT, 2009. Dissertação de Mestrado,
Universidade Federal de Mato Grosso. Disponível em:
http://gpeaufmt.blogspot.com.br/p/banco-de-tese.html#uds-search-results>. Acesso em: 10
ago. 2016.

SIMIONE, Roberta Moraes. Território de Mata Cavalo: Identidades em movimento na


Educação Ambiental. Cuiabá, MT, 2008. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal

Encontro de Pesquisa em Educação da Região Centro Oeste – Reunião Científica Regional da


ANPEd: Projeto Nacional de Educação: desafios éticos, políticos e culturais, 13., 2016. Brasília.
Anais… Brasília: Universidade de Brasília, ANPEd, 2016.
de Mato Grosso. Disponível em: < http://gpeaufmt.blogspot.com.br/p/banco-de-tese.html>.
Acesso em: 14 ago. 2016.

TRAJBER, R.; SATO, M. Escolas Sustentáveis: Incubadoras de Transformações nas


Comunidades. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. Rio Grande do Sul, v. especial,
setembro de 2010. Disponível em:
<https://www.seer.furg.br/remea/article/view/3396/2054>. Acesso em: 08 set. 2016.

Encontro de Pesquisa em Educação da Região Centro Oeste – Reunião Científica Regional da


ANPEd: Projeto Nacional de Educação: desafios éticos, políticos e culturais, 13., 2016. Brasília.
Anais… Brasília: Universidade de Brasília, ANPEd, 2016.

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