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A forma como o ser humano se articula com aquilo que poderíamos chamar de
realidade é tema fundamental da psicanálise, assim como o é em toda área do
pensamento mais nobre, do âmbito místico - religioso ao científico - filosófico.
São infindáveis as propostas de se situar frente à realidade, que se utilizam de
inúmeros expedientes nessa tarefa, no entanto, estabelecer como realidade
aquilo que se consegue somente através do conhecimento dirigido as
características objetivas, limita a experiência a superficialidade das coisas. A
partir de estudos como os de Immanuel Kant (1724 – 1804), em sua A Crítica
da Razão Pura (primeira edição em 1781), todo e qualquer reconhecimento da
realidade só terá sentido levando em conta o modo como o sujeito formou o
aparato de instrumentos para esse reconhecimento, e não apenas as
características disso que está externo a ele.
Sendo que muitas vezes o sujeito passa grande parte, ou mesmo a vida toda
sem ser capaz de desenvolver muita habilidade no reconhecimento da
realidade. A imaturidade emocional normalmente persiste quando o sujeito
consegue certa permanência no que chamaríamos de zona de conforto, onde
apesar de limitadamente nociva, traz comodidade e uma suposta segurança.
Isso acontece quase sempre resguardado por outro que deve ter algum
beneficio em garantir a constância dessa situação.
Numa configuração emocional onde a capacidade de reconhecimento da
realidade ainda não se encontra desenvolvida num nível mínimo necessário, o
que rege a forma como o sujeito percebe, se relaciona e se articula com o
mundo está baseada nas ilusões e tão somente nelas.
Quando Wilfred Ruprecht Bion (1897 — 1979) faz essa afirmação ele expande
o acordo que se possa ter com a própria realidade numa comunhão realmente
possível com a verdade, onde “A realidade só pode ser "sida": requer-se um
verbo "ser" transitivo, para usá-lo na relação com o termo "realidade".” (Bion,
1965).
Portanto, muito mais importante do que buscar saber é se preparar para tolerar
a ignorância; justamente o que pode nos fazer eternos aprendizes.
W. R. Bion, TRANSFORMAÇÕES: mudança do aprendizado ao crescimento. (Transformations: change from learning
to growth, 1965), Rio de Janeiro, Imago, 1991.
KANT, I. Crítica da razão pura - Os pensadores - Vol. I. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
SCHOPENHAUER, Arthur. O MUNDO COMO VONTADE E COMO REPRESENTAÇÃO. Tradução Heraldo Barbuy.
Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1819/2012.