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QUANTO AO RECONHECIMENTO DA REALIDADE

A forma como o ser humano se articula com aquilo que poderíamos chamar de
realidade é tema fundamental da psicanálise, assim como o é em toda área do
pensamento mais nobre, do âmbito místico - religioso ao científico - filosófico.
São infindáveis as propostas de se situar frente à realidade, que se utilizam de
inúmeros expedientes nessa tarefa, no entanto, estabelecer como realidade
aquilo que se consegue somente através do conhecimento dirigido as
características objetivas, limita a experiência a superficialidade das coisas. A
partir de estudos como os de Immanuel Kant (1724 – 1804), em sua A Crítica
da Razão Pura (primeira edição em 1781), todo e qualquer reconhecimento da
realidade só terá sentido levando em conta o modo como o sujeito formou o
aparato de instrumentos para esse reconhecimento, e não apenas as
características disso que está externo a ele.

“Para nós é completamente desconhecida qual possa ser a natureza das


coisas em si, independentes de toda receptividade da nossa sensibilidade. Não
conhecemos delas senão a maneira que temos de percebê-las; maneira que
nos é peculiar; mas que tão pouco deve ser necessariamente a de todo ser,
ainda que seja a de todos os homens.” (Kant, 1781).

Por conseguinte, quando cogitamos sobre o nível de percepção e


reconhecimento da realidade, tratamos de uma capacidade e essa capacidade
está subordinada ao nível de maturação emocional. Dessa maneira, não existe
escolha quanto a reconhecer ou não os elementos da realidade. Ou se está
maduro o bastante para isso, ou essa capacidade ainda não se encontra
desenvolvida o suficiente.

Portanto, exigir que alguém reconheça a realidade configura-se num absurdo,


assim como não faz sentido criticar aquele que está iludido.
Condenar incapacidades é incoerência. A saber, esse nível de maturidade não
coincide com a idade cronológica.

Sendo que muitas vezes o sujeito passa grande parte, ou mesmo a vida toda
sem ser capaz de desenvolver muita habilidade no reconhecimento da
realidade. A imaturidade emocional normalmente persiste quando o sujeito
consegue certa permanência no que chamaríamos de zona de conforto, onde
apesar de limitadamente nociva, traz comodidade e uma suposta segurança.

Isso acontece quase sempre resguardado por outro que deve ter algum
beneficio em garantir a constância dessa situação.
Numa configuração emocional onde a capacidade de reconhecimento da
realidade ainda não se encontra desenvolvida num nível mínimo necessário, o
que rege a forma como o sujeito percebe, se relaciona e se articula com o
mundo está baseada nas ilusões e tão somente nelas.

Tentativas de desfazer ou destruir ilusões são sempre muito perigosas, já que


muitas vezes o sujeito pode estar, pelo menos naquele momento da vida, se
mantendo firme em sua caminhada por conta de suas ilusões, e destruí-las
acarretaria num comprometimento na motivação para se viver.
Quando a vida estiver sendo apoiada nos pilares da ilusão é prudente que
sejam substituídos gradativamente, caso contrário tudo pode desmoronar.
Ora, se o reconhecimento da realidade não depende da escolha, mas sim da
capacidade do sujeito, muito menos dependerá da escolha do outro.
A tentativa de se intervir no intuito de expandir a capacidade do outro quanto
ao reconhecimento da realidade não passa de mais uma ilusão.

Ninguém muda ninguém. A transformação parte de dentro. Isso se dará


conforme experiências que combinem desconforto e acolhimento. Quando as
ilusões em que o sujeito esteja mantendo sua vida começarem a ruir, gerando
assim insegurança, aí então o acolhimento do outro passa a ser fundamental
no processo de transformação.

O conceito de reconhecimento tratado aqui não quer dizer entendimento, ou


compreensão. Não acredito que seja possível conhecer a verdade, não creio
que seja possível compreender a realidade. Penso que na melhor das
hipóteses seja possível estar de acordo com ela e então passa a ser provável
se responsabilizar por isso e assim passar a ser real.

Quando proponho reconhecer estou tratando da experiência de “perceber que


existe” e assim passar a respeitar, o que nada tem a ver com “ter conhecimento
sobre”. O respeito não pode depender do entendimento. O entendimento está
subordinado à vontade, onde a dificuldade em tolerar desconfortos obstrui a
capacidade de entender.

Arthur Schopenhauer (1788-1860) nos alertou sobre a onipotência da vontade


(1819) que é soberana, faminta e insaciável, sendo que “a atuação cega da
Vontade e a ação iluminada pelo conhecimento invadem uma o domínio da
outra”. (SCHOPENHAUER, 1819). Se por ventura o entendimento choca-se
com a vontade, a compreensão cede e a vontade prevalece. Sendo assim, a
relação que é possível se estabelecer com a realidade não se encontra no
domínio do saber, pois o suposto saber estará sempre contaminado do desejo
na idealização da realidade, distante do que realmente é.

Logo, o “saber sobre” é sempre ilusão, pelo menos em alguma medida. O


sujeito, normalmente compreende somente aquilo que lhe é conveniente.
“Não se trata de saber a respeito da realidade, nem da capacitação humana
para sabê-lo. A convicção de se saber ou vir a saber, a respeito da realidade é
falaz por não ser ela algo de que se possa saber.” (Bion, 1965).

Quando Wilfred Ruprecht Bion (1897 — 1979) faz essa afirmação ele expande
o acordo que se possa ter com a própria realidade numa comunhão realmente
possível com a verdade, onde “A realidade só pode ser "sida": requer-se um
verbo "ser" transitivo, para usá-lo na relação com o termo "realidade".” (Bion,
1965).

Aquilo que de maneira suposta se sabe é referente ao que está armazenado


nos compartimentos da memória e se o “saber sobre”, que em forma de dados
foi armazenado, já sofrera uma contaminação pelo desejo, o resgate desse
suposto saber sofrerá outro comprometimento já que a memória é seletiva
conforme o desconforto que possa provocar.

Portanto, muito mais importante do que buscar saber é se preparar para tolerar
a ignorância; justamente o que pode nos fazer eternos aprendizes.
W. R. Bion, TRANSFORMAÇÕES: mudança do aprendizado ao crescimento. (Transformations: change from learning
to growth, 1965), Rio de Janeiro, Imago, 1991.

KANT, I. Crítica da razão pura - Os pensadores - Vol. I. São Paulo: Nova Cultural, 1987.

SCHOPENHAUER, Arthur. O MUNDO COMO VONTADE E COMO REPRESENTAÇÃO. Tradução Heraldo Barbuy.
Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1819/2012.

Prof. Renato Dias Martino – Psicoterapeuta e Escritor


Alameda Franca n° 80, Jardim Rosena, São José Do Rio Preto – SP
Fone: 17- 991910375 - prof.renatodiasmartino@gmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/

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