Exmo. Dr. Abraham Weintraub, DD. Ministro da Educação do Brasil
Na tentativa de auxiliar com alternativas viáveis ao desenvolvimento
efetivo do ano letivo em tempos de coronavírus e, considerando a inexistência de vacina provável para aplicação e imunização ainda em 2020, de modo que a permanência do vírus entre nós é real, aliada à falta de tratamento eficaz que neutralize o alto contágio, ouso sugerir a adoção das medidas a seguir, em relação ao Ensino Fundamental e Médio, com base nas diretrizes previstas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei 9.394/1996.
I – Sugestões:
a) o retorno às aulas presenciais, em lotação máxima de 50% (ou
menos), em escala de revezamento, com a utilização obrigatória de máscaras de proteção entre os alunos durante a circulação, e distanciamento maior entre classes (o que o percentual máximo permitirá), apenas em relação a disciplinas cuja presença do professor é indispensável para a compreensão do conteúdo, como Matemática e Língua Portuguesa (talvez em séries mais avançadas também química e física). É inconteste que disciplinas como Matemática a presença do professor é indispensável para a compreensão e assimilação do conteúdo. Essas disciplinas tem um condão teórico-prático que se difere do perfil teórico de outras disciplinas.
b) adoção do ensino a distância nas demais disciplinas, com
regime de avaliação através de provas e trabalhos virtuais até o final do ano.
c) redução de média mínima para aprovação em disciplinas com ensino
a distância, se for necessário, visto que não se pode exigir em tempo excepcional a resposta regular que seria exigível com alunos e professores presentes em sala de aula, principalmente quando se trata de crianças e adolescentes, sem, por óbvio, maturidade completa para o ensino nessa modalidade.
d) organização de um calendário de reforço de conteúdos, se for
necessário, para 2021, paralelo ao calendário regular, em relação a deficiências que possam restar no tocante às disciplinas ministradas a distância em 2020, o que não será necessário quanto às ministradas presencialmente em sistema de revezamento, uma vez que, é evidente que o professor em sala de aula, com metade, ou menos, de alunos em sala, terá condições ainda mais eficazes de explicar o conteúdo – de modo que os alunos sairão, provavelmente, muito mais fortes em Português e Matemática do que sairiam com as disciplinas ministradas em salas cheias.
II – Regramento:
A Lei de Diretrizes e Bases de Educação permite a execução das
Sugestões acima, como se vê dos seguintes dispositivos:
“Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove)
anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: (...) § 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais. (...)” destaquei
“Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base
Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber: (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) (...) § 11. Para efeito de cumprimento das exigências curriculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão reconhecer competências e firmar convênios com instituições de educação a distância com notório reconhecimento, mediante as seguintes formas de comprovação: (...)” destaquei
Outrossim, o Decreto 9.057/2017, que dispõe sobre as Diretrizes e
Bases da Educação nacional autoriza os Estados e Municípios a permitir a realização do ensino a distância:
“Art. 8º Compete às autoridades dos sistemas de ensino estaduais,
municipais e distrital, no âmbito da unidade federativa, autorizar os cursos e o funcionamento de instituições de educação na modalidade a distância nos seguintes níveis e modalidades: I - ensino fundamental, nos termos do § 4º do art. 32 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 ; II - ensino médio, nos termos do § 11 do art. 36 da Lei nº 9.394, de 1996 ; III - educação profissional técnica de nível médio; IV - educação de jovens e adultos; e V - educação especial.”
E, embora o art. 9º não seja claro quanto à tipificar situações como as
vividas em função da pandemia, é evidente que as características de alto contágio do vírus, aliadas à possibilidade de transmissão pelas crianças aos seus familiares, no que se incluem avós e pessoas em situação de risco, pode-se aplicar perfeitamente o inciso I, se interpretado de modo sistemático ao conceito de situação de emergência hoje por todos experimentado, mormente considerando que já há autorização para tanto em nível federal:
“Art. 9º A oferta de ensino fundamental na modalidade a distância em
situações emergenciais, previstas no § 4º do art. 32 da Lei nº 9.394, de 1996 , se refere a pessoas que: I - estejam impedidas, por motivo de saúde, de acompanhar o ensino presencial; (...)”
Ante o exposto, submeto à avaliação dos senhor, reconhecendo que
não é o ideal, mas o momento em que vivemos não permite a realização do ideal, que seria a possibilidade do retorno às escolas com a vivência presencial de todas as disciplinas. Trata-se aqui de um esboço inicial, na tentativa de auxiliar. No mais, coloco-me à disposição para esclarecer algum ponto que não tenha ficado claro, ou para aprofundar, ou esmiuçar, outro que considerem necessário.
Att.,
Profª Me. Patrícia Trunfo,
Advogada da União – Professora de Cursos de Pós-Graduação em Direito.