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vira dan 0 espago em movimento é, 20 mesmo tempo, 0 ‘spago da ginga e a ginga do espago. A ginga do ‘espago esta diretamente relacionada & ginga corpo- ral. Percorer a5 ruelas e hecas das faveas & uma experiencia de percepedo espacial singular, nica; a partir das primeiras quebradas se descobre um ritmo de andar diferente, uma ginga sensual, que 0 proprio percurso impéc. A ginga seria @ melhor representacio da experiéncia de se peteorrer 0s rmeandros de uma Favela, desse espago gingado, que 0 oposto mesmo da expetiéncia urbana mo- demrista,sobretudo das ruas etas ¢ mondtoras das cdades formats projetadas racionalmente [A ginga também tem sua origem diretamente ligada 30 mar, 80 movi- ‘mento das marés. Nas paafitas da Maré, muitas vezes se sala de casa de Darco. 0s pescadores, antes uma grande parte da populagéo, savor rminimas embareagdes de madeira, que chegavam a “estacionar” por batxo das habitagdes durante a fase de maré alta, Estas embarcagées ‘cram guiadas pelo uso das “gingas” Ginga é 0 termo originalmente mti- Tizado tanto para o “remo que se usa 8 papa de embarcagao para movi- rmenté-a altemadamente por bomborda e por boreste” quanto para ‘vata que, fineada ao fundo, movimenta uma embarcagio em guas {60 | Paola Bernstein Jacanes 1asas” Por extensio, passou-se a chamar de ginga um certo balango do corpo ‘em movimenta, Ginga também passou a estar relacionada aa samba, 20 movi- mento de mexer os quadris, requebrat, rebolar; 3 capoeira, quando o ‘capocirista faz um movimento para enganar 0 adversério: e também a0 fute- bol, principalmente nos movimentos de dre. Mas origina mente se remava ‘cam ginga. A ginga estava relacionada a0 movimento das aguas do mar, 30 Dbalango das ondas, a0 vai-e-vern das marés. Mareado € aquele que fica andan do cambaleante por causa do movimento do mar; para se equibrar em uma embarcagao, também & preciso saber gingar. ‘A gings do corpo acompanha a ginga do espago da fave, c & através dos percursos coidianos que podemos apreendé-ta. Quando se ginga, a experiencia fisca de percarer os becos ¢ ruclas das favelas& repetida; esse espaco confuso, labirintco, dificil de ser apreendido, encontra, assim, sua melhor representacio.. 0 sujeito mareado se parece com aquele com labirintite, ou mesmo bébado. | dleservoltura do andar dos favelados bébadas de cachaga que vo das biroscas para seus barracos ¢ impressionante. Paece que o emaranhado das velas segue ‘ cambaleat da sua embriaguer, Trata-se de uma cena frequent, que demons tra bem a perda de orientacio, de referencia espacial ou desequifbio do beba- 4 e do prépria espaco, 0 espago em movimento das favelas, oespago mareado, como um espago da vertigem. O espaco gingado seria, ent, 0 espago brio: «2 embriaquez do espaco se reencontraria no emaranhado das faveas. Os kos de orientagio perdidas na ebriedade seriam também ai reencontrados. Quem esta embriagado nio se perde, pois o proprio espago Je estaria bébado. ‘A embriaguea & uma condigio fisioldgica, uma sensagdo Isso implica um corpo {que sente, um estado fisico particular. Em lugar de simplesmente andar, & pre ‘so saber gingar e, por fim, dangar. 0 espago da vertigem seria, portanto, 0 ‘espago que & dangado: ou 0 acompanhamos, ou caimas no vazio. A relagio €entte 0 corpo, 0 espago € 0 ato de percoré-lo ica mats evidente. akon ne oo ine Forgus, Ro de eo, One, 201 [A ginga & 0 andar mareado que vira uma dance, que est dretamente ligada 205 gestos cotidianos mais banais, como percomer a pé os diferentes espagos em movimento. A favela no € 0 Unico espaco gingado que provoca a ginga do corpo. Na malor parte das vezes em que se fala de matandeos e na sua ginga propria, cles percomtem espagos também gingades e, em alguns casos, antigos espagos histércos, colomiaise labirinticos, quase sempre em marras, como a Lapa, no Rio de Janeiro, ov 0 Pelournho, em Salvador. A relasio entre a ginga 4o espago e do corpo, através de gestos cotidianos, também pode ser vsta na capoeira ou no futebol. Vrias rodas de capocira de mestres importantes acon tecem cm terrenos completamente desnivelados, ou na arcia das praias, Em vel também & comum ver-se campos de peladas inclinados, 0 time de cima contra o de baixo,« &s vezes se joga Futebol nas Ines, em cima das habitagdes. Muitos de nossos grandes eraques comegaram a jogar asim: depots que pas saram para 0 campo plano, 0 drible gingado ficou fie, natural Percorrer no cotiiano 0s espacas mareados, gingadas, implica o aprendiza~ do indiveto da ginga, ¢ conseqitentemente, da danga. Um ritmo proprio surge dos percursos, uma nova temporalidade surge do préprio caminhar. A ginga e a danca parecem dilulr 0s espagos,transformando o espaco em movimento, pals {emporalizam 0 espago. A arte do tempo, 2 misica, © a arte do espago, a anquitetura, se casam na dang, ate do movimento. 0 espace gingado das fave- 1a €, como jé vimos, um espago em movimento, Antes de ser Forma, 0 espago ‘em movimento € um estado sensorial. Antes de ser espago, um caminho a ser percorrido. Em lugar de andar, € preciso também se aprender a dana, € com ita ginga ‘A comparagio do espago gingado da favela com o mito do labitinto & inevitével, tanto por este ser um rito de passagem ~ como a passagem da Infincia para a adolescéncia dos cidados-dancantes do Corpo de Danga da Maré -, quanto pela relagio direta com a dange, Em muitas civlizagaes, 0 labirinto € o simbolo das dificeis provagbes pelas quals se deve passar para penetrar num navo mundo ou num novo estado de esprito. Muitas vezes este rita se acompanha da idéia de renascimento, resultado da passagem pelo Tabirinto, da idéia de que é precio moner pata naseer de novo. Atravessar 0 (Quando o paso viradanca | 61 62 | Paola Berenstcin Jacques Tabirinto = travessia que muites vezes € comparada & do deserto ~ seré uma prova determinante para um novo comeco. Para poder penetrar no lbitinto, percoré-lo, faz-se necessiri saber, com 0s pass, seguir 2 misica dos seus meando, como Tese. "Mos existe uma grande diferenca entre a favela€o labirintemitio grego pro- {Jetado por Dédalo, © aquiteto: @favela no tem uma planta prévia, ela no foi ddesenhade, projetada, 0 lairinto-favelaé muito mais complexo, pols no & feo, acabadlo, etd em constante tansformacio. A analogia com o mito pode ser leva- dda a0 extrema se pensarmos nas inevitveis pipas sobre as faveas como home- nagens a learo (fho de Dédalo que more a0 fugir do labirinto voando}. AS pipas, segundo a lends das favelas, faziam sins aos taficantes (hoje eles uti- lizam fogos € principalmente radios), os quais sto considerados Minotauros escondidos no labitinto-favela e sBo cagads pelos poicas, que se véem como “Teseu, Na favela-lbirinto, © mito, como a prépria Favela, se vefae continua mente, jovens $80 scrificados, como os atenienses, © 05 moradores-Aviadnes continvam tecendo, sem a ajuda dos arquitetos-Dédalos, essa grande construgto coletiva no planificada. 0 mito do labirinto também est ligado & dana: Testu, apés matar © Minotauro, comemora sua vitéria dangando una coreografa que ‘mitave, pelos movimentos do compo, a sinuosidade do labitin:o de Creta ‘A complexidade do labirinto & temporal; quem se perde € aquele que acaba de sungir, que desaparece tio depressa quanto surgiu. Eo aspecto desconhecido do futuro que cia a estranheza; 0 estranho também & o estrangeio, 0 que nao se damina, 0 que se desconhece. Conhecer um labirnto, assim como conhecer uina favela,exige nele penetra, nce se perder, para se descobrir as armadilhas do camino. Em cada escolha, a divida: a rua pode serum beco sem sada, ou a prépria saida. Nao se sabe quando é © bom caminho; na reaidade, hndo hi um bom caminho. A incerteza do caminho é intrinseco a0 espaso labirintco, 0 perewrso & 0 proprio movimento do espaco. Para desatar @ com Plexidade do percurso,€ preciso uma auséncia de objetivo, O estado labirintco € 0 estado de quem vaga, um estado enético, em constante deriva. O percurso = 20 contério do que ocorre em um itinerétio ji planejado ~ impse 9 spon bitidede para vagar. Vagando a0 acaso, a divide desaparece, S30 0s que duvi= ddam os que mats se perder 0 espago em movimento € 0 proprio percurso, seus diferentes taletos, a repeticfo diferente dos caminhos. O retomar diferente & da ardem do desco- nhecido, da surpresa. O mistério do pereurso reside nesses caminhos que retor= nam sempre diferentes. E por isso que nenhum mapa definitive desses spaces que esto sempre em movimento pode ser tragado. A experiéncia desses espagos Se faz pelos passos, em tentativa diversas; sem marcas precsos, como cegos no espaco. preciso avancar sempre tateando, passo a pass. E quando © passo via danga que o espago em movimento pode ser apreen- ido, A compreensio desse tipo de espago se faz através do corpo, através da singa, uma vez que o préprio espago é gingado, Esses espagos geralmente con- ‘rariam todas as normas e padtdes ususis da arquitetura € do urbanismo tradi- ‘Quando 0 pass vrs dongs | 62 64 | Paola Berenstcn Jaques Clonal. As proporgbese técnicas ds construgbes so quase 0 oposto do que se cmsina nos manusis da boa argitetura. Multa vezes so ees “equvocos” rae tivos que geram a riqueza € a dversidade dos espagos. E mais: esss com- pesigdes, que podem parecer completamente estapafirdias 2 oar do tenico, responséves tanto pela ginga do espago quanto pela g nga corporal decor rents, Pode parece asurdo, mas so o5 “eos, prinipalmente de dimensiona- mento, que exgem do corpo o aprendizade da ginga, ov sa, quanto mas di «ile chela de obstéculos o caminho a ser percortido, mas corpo €exigido em rmovimentos diferentes, qe a principio ndo sto habits are aqueles scostu- radas 205 espagosplanos¢reilineos, sem supress -Arelago entre espagoe corpo fica bem mais evidente:c compo € um volume no espago e 0s mavimentos corporis dependem dretamente da espacaidade. Ea prdtica urbana dos spagos gingados, 0 ato de percon-osa pe, queestaria na origem da prpia ginga do corpo. Subir e descr 0 om, percomer becos estes ¢tortuoses, descr lads esconeyadis, pasar por ponte instves subir cscadasextremnamente ingerses, ees so alguns percusas cotidianos da Imaora dos moradores desses espagos Sua pric cotdina va ineitavelmente se refer na disponbildadefsc, corpora, dessas pessoas Como eles costu- ‘mam dizer:“E uma questo de hibito, nem cansa mal ‘A exigoidade dos espagos também provoca um maior centato corporal ente aqueles que 05 perconem, um tipo de corpo-a-corpo, ¢s ve2es & preciso desiar dos outros movimentando-se os quads e ombvos. 0 emaranhado dos caminhos também é feqimte, principalmente nos pequenos eco que cortam 2 vielas, A proximidade aca todo tipo de misturae também possbilita to-

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