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IRINEU

FILALETO
   

IRINEU FILALETO
ENTRADA ABERTA AO PALÁCIO FECHADO DO REI - EXPERIENCIAS - MEDULA DA ALQUIMIA -
COMENTÁRIO DA VISÃO DE SIR GEORGE RIPLEY - PRINCÍPIOS: PARA DIRIGIR AS OPERAÇÕES NA OBRA
HERMÉTICA - O SEGREDO DO ELIXIR DA IMORTALIDADE CHAMADO ALKAEST OU IGNIS AQUA -
ELUCIDANDO A PRÁTICA

ENTRADA ABERTA AO PALÁCIO FECHADO DO REI


APRESENTAÇÃO
PREFÁCIO DO AUTOR
DA NECESSIDADE DO MERCÚRIO DOS SÁBIOS PARA A OBRA DO ELIXIR
DOS PRINCÍPIOS QUE COMPÕEM O MERCÚRIO DOS SÁBIOS
DO AÇO DOS SÁBIOS
DO ÍMÃ DOS SÁBIOS
O CHAOS DOS SÁBIOS
O AR DOS SÁBIOS
DA PRIMEIRA OPERAÇÃO DA PREPARAÇÃO DO MERECÚRIO FILOSÓFICO PELAS ÁGUIAS VOLÁTEIS.
DO TRABALHO E DOS CUIDADOS DA PRIMEIRA PREPARAÇÃO
DO ENXOFRE QUE SE ENCONTRA NO MERCÚRIO FILOSÓFICO
DA INVENÇÃO DO PERFEITO MAGISTÉRIO
DA MANEIRA DE REALIZAR O PERFEITO MAGISTÉRIO EM GERAL
DO EMPREGO DE UM ENXOFRE MADURO NA OBRA DO ELIXIR
DAS CIRCUNSTANCIAS QUE SE PRODUZEM E QUE SÃO REQUERIDAS PARA A OBRA EM GERAL
DA PURGAÇÃO ACIDENTAL DO MERCURIO E DO OURO
DO AMÁLGAMA DO MERCÚRIO E DO OURO E DO PESO ADEQUADO DE UM E DE OUTRO
DAS PROPORÇÕES DO VASO , DE SUA FORMA, DE SUA MATÉRIA E A MANEIRA DE FECHÁ-LO.
DO ATANOR OU FORNO FILOSÓFICO
DO PROGRESSO DA OBRA DURANTE OS QUARENTA PRIMEIROS DIAS
DA CHEGADA DO NEGROR NA OBRA DO SOL E DA LUA
DA COMBUSTÃO DAS FLORES E DO MEIO DE EVITÁ-LA
O REGIME DE SATURNO, O QUE É, E POR QUE É ASSIM CHAMADO
DOS DIFERENTES REGIMES DESTA OBRA.
DO PRIMEIRO REGIME DA OBRA, QUE É O DO MERCÚRIO
DO SEGUNDO REGIME DA OBRA, QUE É DE SATURNO
DO REGIME DE JÚPITER
DO REGIME DA LUA
DO REGIME DE VÊNUS
DO REGIME DE MARTE
DO REGIME DO SOL
A FERMENTAÇÃO DA PEDRA
A EMBEBIÇÃO DA PEDRA
A MULTIPLICAÇÃO DA PEDRA
DA MANEIRA DE REALIZAR A PROJEÇÃO
DOS MÚLTIPLOS USOS DESTA ARTE

EXPERIENCIAS
SEGREDO DO ARSÊNICO FILOSÓFICO
SEGREDO PARA PREPARAR O MERCÚRIO COM SEU ARSÊNICO E RETIRAR-LHE AS FEZES
DEPURAÇÃO DO MERCÚRIO DOS' SÁBIOS
OUTRA PURGAÇÃO EXCELENTE
SEGREDO DA JUSTA PREPARAÇÃO DO MERCÚRIO DOS SÁBIOS
SEGREDO DO MERCÚRIO DOS SÁBIOS
OUTRA PURGAÇÃO MUITO BOA

 
   

TRIPLA PROVA DE EXCELÊNCIA DO MERCÚRIO PREPARADO


OUTRA, E SEGUNDA PROVA.
EXTRAÇÃO DE ENXOFRE DO MERCÚRIO, PELO MEIO DA SEPARAÇÃO
SEGREDO PARA TIRAR O OURO MÁGICO DESTA
MODO DE TIRAR O OURO POTÁVEL DESTE ENXOFRE AURÍFICO
CONJUNÇÃO GROSSEIRA DO MÊNSTRUO COM SEU ENXOFRE PARA FORMAR A PRODUÇÃO
DO FOGO DA NATUREZA
ELABORAÇÃO DA MISTURA POR UM TRABALHO MANUAL
IMPOSIÇÃO DO FETO NO OVO FILOSÓFICO
E ÚLTIMO. REGIME DO FOGO

MEDULA DA ALQUIMIA

COMENTÁRIO DA VISÃO DE SIR GEORGE RIPLEY


VI QUE UM SAPO AVERMELHADO...
... BEBIA O SUCO DE UVAS...
... COM TANTA PRESSA...
... QUE, CHEIO TRANSBORDANDO DO CALDO, LHE EXPLODIRAM AS TRIPAS.
DEPOIS DISTO, DO SEU CORPO ENVENENADO ESCAPOU O VENENO LETAL,
E OS SEUS MEMBROS COMEÇARAM A INCHAR, SE SENTIA TÃO DOÍDO E TÃO MAL.
EMPAPADO EM SUOR ENVENENADO, SE DIRIGIU À SUA SECRETA MADRIGUEIRA,
E EXALANDO UM CHEIRO PESTILENTO BRANQUEOU AS PAREDES DA COVA.
DEPOIS DE UM TEMPO, COMEÇOU A APARECER UMA NEBLINA DE COR DOURADA,
CUJAS GOTAS PINTAVAM O CHÃO DE VERMELHO AO CAIR DO ALTO
E QUANDO AO SAPO COMEÇOU A LHE FALTAR O ALENTO VITAL,
NEGRO COMO O CARVÃO FICOU O MORIBUNDO ANIMAL.
E DESTA FORMA, SE AFOGOU DENTRO DO VENENO QUE PELAS SUAS VEIAS FLUÍA.
ASSIM ESTEVE, APODRECENDO, DURANTE OITENTA E QUATRO DIAS.
EU DESEJAVA EXPERIMENTAR PARA EXTRAIR AQUELE VENENO,
COM O VENENO OBTIDO UM REMÉDIO FABRIQUEI,
GLÓRIA AO QUE NOS PROPORCIONA ESTES SECRETOS MÉTODOS,
PRINCÍPIOS: PARA DIRIGIR AS OPERAÇÕES NA OBRA HERMÉTICA

O SEGREDO DO ELIXIR DA IMORTALIDADE CHAMADO ALKAEST Ó IGNIS AQUA


ELUCIDANDO A PRÁTICA

 
   

IRINEU FILALETO
ENTRADA ABERTA AO PALÁCIO FECHADO DO REI

APRESENTAÇÃO

Protegido pelo nome de Adepto, Filaleto (amigo da verdade ou , num


jogo de palavras, amigo do esquecimento) admoestava ao longo do
prefácio de sua obra (dita extremamente clara sobre a Arte Real) sobre' a
necessidade de se ter o cuidado, que o estado obtido pelo adeptado
obrigava a ter, necessário com o comum dos mortais: 'Mas os hábeis são
ardilosos, sutis, perspicazes e seguramente são penetrantes como Argus;
alguns são curiosos, outros maquiavélicos, que buscam mui profundamente
na vida, nos costumes e nas ações dos homens e de quem, pelo menos, se
as relações são íntimas, é muito difícil se ocultar-.

E tudo isto decorre de um fato claramente exposto em outra


passagem da mesma obra: "E juro, de boa-fé, que se o regime fosse
somente exposto à luz do dia, os próprios tolos troçariam da Arte".

Refere-se Filaleto precisamente ao mais importante deste livro que


apresentamos: o conhecimento dos regimes secretos do fogo. Esta
informação fundamental para a arte conhecida também sob a designação
de Filosofia do Fogo, juntamente com o saber da matéria prima seriam
suficientes para a obtenção da Pedra Filosofal e do Elixir da Longa Vida

Contudo, que o leitor se ponha em guarda: nosso autor não é Mo claro


e idoso quanto se pretende. Alguns trechos de seu livro são
propositadamente obscuros a fim de evitar que o arcano seja
completamente te desvelado e venha a cair na posse daqueles que muito
mau uso dele poderiam fazer. Neste sentido é suficiente, para se ter urna
idéia dos - pelo menos - péssimas conseqüências que adviriam de tal
propalação do saber iniciático, ler o curioso livro de Lovecraft - 0 Estranho
caso de Charles Dexter Ward.

Como recomendação final ao leitor, gostaríamos de sugerir-lhe o livro


 
   

extremamente claro de Eugéne Cânseliet - L'Alchimie expliquée sur ses


textes classiques, Jean-Jacques Pauvert, Paris, 1972 - em que os
ensinamentos de Filaleto, entre outros, são cuidadosamente discutidos.
Ainda, para os que se dispõem a ler em Português, são muitíssimo
importantes dois outros livros desta mesma coleção: 0 Triunfo Hermético,
de Limojon de Saínt-Didier e A Grande Arte, de Dom Pernety.

Márcio Pugliesi

PREFÁCIO DO AUTOR

I-
Tendo penetrado, eu, Filaleto, Filósofo anônimo, os arcanos os da
medicina, da química e da física, decidi redigir este pequeno tratado, no
ano 1645 da Redenção do mundo e o trigésimo terceiro de minha idade, a
fim de resgatar o que devo aos Filhos da Arte e para estender a mão aos
que estão desencaminhados pelos labirintos do erro. Assim, parecerá aos
Adeptos que sou seu par e irmão; quanto àqueles que foram seduzidos
pelos vãos discursos dos sofistas, verão e receberão a luz, graças à qual
retomarão à rota mais segura. E pressagio, em verdade, que numerosos
dentre eles serão esclarecidos por meus trabalhos.
II-

Não se trata de fábulas, mas de experiências reais que vi, fiz e


conheci: o Adepto o inferirá facilmente lendo estas páginas. Por isso,
escrevendo-as pelo bem de meu próximo, basta-me declarar que jamais
ninguém falou desta arte tão claramente quanto eu; certamente, minha
pena hesitou freqüentemente em escrever tudo, desejoso que estava de
esconder a verdade sob zelosa máscara; mas Deus me constrangia, e não
pude resistir-lhe, a ele, único que conhece os corações, e a quem se
remete a glória no ciclo do Tempo. Donde creio que muitos, nesta última
era do mundo, terão a felicidade de possuir este segredo; pois escrevi com
franqueza, não impedindo ao noviço sinceramente curioso de apreender
nenhuma dúvida sem urna resposta plenamente satisfatória.

III-

 
   

E já sei que muitos, assim corno eu, detêm este segredo; persuado-
me que há muitos mais ainda, com os quais entrarei muito proximamente,
por assim dizer, em íntima e cotidiana comunicação Que a santa Vontade
de Deus faça o que lhe aprouver, reconheço-me indigno de operar tais
maravilhas: adoro, entretanto, nelas, a santa Vontade de Deus, a quem
todas as criaturas devem estar submetidas, pois que é em função dela
somente que ele as criou e as mantém criadas.

CAPÍTULO PRIMEIRO
DA NECESSIDADE DO MERCÚRIO DOS SÁBIOS PARA A OBRA DO
ELIXIR

I
Quem quer que deseje possuir esse Tosão de ouro, deve saber que
nosso pó aurífero, que chamamos de nossa pedra, é o Ouro, simplesmente
alçado ao mais alto grau de pureza e fixidez sutil a que puder ser levado,
tanto por sua natureza, quanto pela arte de hábil operador. Este ouro assim
essencificado não é o do vulgo: chamamo-lo "nosso ouro"; ele é o grau
supremo de perfeição da natureza e da arte. Poderia, a este respeito, citar
todos os filósofos, mas não necessito de testemunhas, pois que sou eu
mesmo Adepto, e que escrevo com mais clareza do que qualquer outro
anterior. Crer-me-á quem quiser, desaprovar-me-á quem puder; que se me
censure, mesmo, se o deseja; só se chegará a uma profunda ignorância.
Os espíritos demasiadamente sutis, afirmo-o, sonham com quimeras,
porém, o pesquisador assíduo encontrará a verdade seguindo a via simples
da natureza.

II
O ouro é então o único, exclusivo e verdadeiro princípio a partir do
qual se pode produzir ouro. No entanto, o nosso ouro que é necessário à
nossa obra é de duas naturezas. Uma levada à maturidade, fixa, é o Latão
Rubro, cujo coração, ou núcleo, é um fogo puro. ë por isso que seu corpo
se defende no fogo, que é onde recebe a purificação, sem nada ceder à
violência deste, nem sofrer. Esse ouro, em nossa obra, exerce o papel de
macho. Une-o a nosso ouro branco mais cru (nosso segundo ouro, menos
cozido que o precedente), tendo o lugar de semente feminina, com o qual

 
   

se conjuga e onde deposita seu esperma; e unem-se um ao outro por liame


indissolúvel, de onde se faz o nosso Hermafrodita, que tem a potência dos
dois sexos. Assim, o ouro corporal é morto antes de ser unido à sua noiva,
com o qual o enxofre coagulante que, no ouro, é extrovertido, torna-se
introvertido. Então, a altura é oculta, e a profundidade, manifestada.
Também o fixo se faz volátil por um tempo, afim de possuir em seqüência,
um estado mais nobre por sua herança, graças ao que obterá
poderosíssima fixidez.

III
Vê-se que todo o segredo consiste no Mercúrio, do que o filósofo diz:
"No Mercúrio se encontra tudo o que procuram os sábios". E Geber declara
a seu respeito: "Louvado seja o Altíssimo, que criou nosso Mercúrio e
concedeu-lhe natureza que domina o Todo. Decerto, efetivamente, se não
existisse, os Alquimistas poderiam se glorificar à vontade, ma s a Obra
Alquímica seria vã". Evidencia-se que esse Mercúrio não é o vulgar, mas
aquele dos Sábios, pois todo Mercúrio vulgar é macho, quer dizer, corporal,
específico, morto, ao passo que o nosso é espiritual, feminino, vivo e
vivificante.

IV
Atenta, pois, a tudo o que disser do Mercúrio, porque, segundo o
Filósofo, "Nosso Mercúrio é o Sal dos Sábios, e quem quer que trabalhasse
sem ele assemelhar-se-ia ao arqueiro que quisesse, sem corda, lançar
flechas". Não se pode, entretanto, encontrá-lo em nenhum lugar sobre a
terra. O Filho tampouco é por nós conformado, nem criado, mas extraído
daquelas coisas que o encerram, com a cooperação da natureza, de
maneira admirável, e graças a arte sutil.

CAPÍTULO II
DOS PRINCÍPIOS QUE COMPÕEM O MERCÚRIO DOS SÁBIOS

I
O objetivo daqueles que se aplicam a esta arte é purgar o Mercúrio de
diferentes maneiras: uns o sublimam pela adjunção de sais, e o limpam de
impurezas diversas, outros vivificam-no unicamente por si mesmo, e
afirmam ter , pela repetição dessas operações, fabricado o Mercúrio dos
Filósofos; mas enganam-se, porque não trabalham pela natureza, que só é

 
   

aperfeiçoada em sua natureza. Que saibam então que nossa água,


composta de numerosos elementos, é no entanto, coisa única feita de
diversas substancias coaguladas a partir de única essência. Eis o que é
requerido para a preparação de nossa água( em nossa água, com efeito,
encontra-se nosso dragão ígneo): primeiramente, o fogo que se encontra
em todas as coisas, secundariamente, o licor de Satúrnia vegetal;
terciariamente, o liame do Mercúrio.

II
O fogo é aquele de um enxofre mineral. Porem, não é propriamente
mineral e, menos ainda, metálico; mas sem participar destas duas
substancias, tem o meio entre o mineral e o metal. Chaos ou espírito: com
efeito, nosso dragão ígneo, que de tudo triunfa, pode ser penetrado pelo
odor da Satúrnia vegetal, e seu sangue se coagula com o suco da Satúrnia
num só admirável corpo; entretanto, não é corpo, pois que é totalmente
volátil, nem espírito, porque ao fogo, assemelha-se a metal fundido. É
então, verdadeiramente, um Chaos, que ocupa o lugar de Mãe de todos os
metais; pois sei daqui extrair todas as coisas, mesmo o Sol e a Lua, sem o
auxilio do elixir transmutatório, o que pode ser atestado por quem o viu,
tanto quanto eu. Chama-se a este Chaos o nosso Arsênico, nosso Ar,
nossa Lua, nosso Imã, nosso Aço, mas sempre sobre diversos aspectos,
porque nossa matéria passa por diferentes estados, antes do mênstruo de
nossa prostituta seja extraído o Diadema Real.

III
A prendei, então, quem são os companheiros de Cadmo e qual a
serpente que os devorou, e qual é o carvalho oco onde Cadmo pregou a
serpente. Sabeis quais são as pombas de Diana, vitoriosa do Leão,
domesticando-o, este Leão verde, digo-o, que é verdadeiramente o Dragão
Babilônio, a tudo destruindo por seu veneno. Enfim, sabei o que é o
caduceu de Mercúrio, com a qual ele opera maravilhas, e quais são estas
Ninfas que ele instruiu com seus encantamentos. Apreendei tudo isso, se
quereis atingir o objetivo de vossos desejos.

CAPÍTULO III
DO AÇO DOS SÁBIOS

I

 
   

Os sábios Magos transmitiram a seus sucessores numerosos


ensinamentos a respeito de seu Aço, atribuindo-lhe considerável
importância. Por isso entre os Alquimistas houve grande controvérsia em
saber o que se devia entender pelo nome de Aço. Cada um interpretou à
sua maneira. O autor da "Nova Luz" dele falou sinceramente, mas de forma
obscura.

II
O ciúme não me levando a esconder aos investigadores de nossa
Arte, eu, o descreverei verazmente. Nosso Aço é a verdadeira chave de
nossa Obra, sem a qual o Fogo da lâmpada não pode ser iluminado por
nenhum artifício: é a mina de ouro, o espírito puro entre todos, por
excelência, um fogo infernal, secreto em seu gênero, extremamente volátil,
o milagre do Mundo, a reunião harmônica das virtudes dos seres superiores
nos seres inferiores. É por isso que o Todo Poderoso marcou-o com este
signo notável pelo qual a natividade foi anunciada no Oriente. Os Sábios
viram-no no Oriente e contemplaram-no, maravilhados, e reconheceram
que um Rei sereníssimo acabava de nascer no mundo.

III
E tu, que vires tua estrela, segue-a, até seu Berço: aí verás belo
infante, separando-o de suas impurezas. Honra esse rebento real, abre teu
tesouro para oferecer-lhe ouro; e, após sua morte, ele te dará da sua carne
e de seu sangue, medicina suprema para os três reinos da terra.

CAPÍTULO IV
DO ÍMÃ DOS SÁBIOS

I
Assim como o aço é atraído para o ímã, e o ímã se volta
espontaneamente para o aço, igualmente o Ímã dos Sábios atrai seu Aço.
Sendo o Aço, como vos ensinei, a mina de ouro, devemos também
considerar nosso imã como verdadeira mina de nosso Aço.

II
Por outra, declaro que nosso Ímã tem um centro oculto, onde jaz
abundância de sal. Este sal é um mênstruo na esfera da Lua e pode
calcinar o ouro. Este núcleo, por uma tendência original, volta-se

 
   

naturalmente para o pólo, onde a virtude de nosso Aço é exaltada


gradativamente. No pólo, se encontra o coração do Mercúrio, que é
verdadeiro fogo, onde está o repouso de meu Senhor. Navegando sobre
este vasto mar, para abordar a uma e outra das Índias, governa sua rota
pelo aspecto da estrela do Norte que nosso Ímã te fará aparecer.

III
O Sábio se rejubilará, mas o insensato fará pouco caso disto, e não se
instruirá com a sabedoria, nem mesmo quando tiver visto o Polo central
voltado para fora e marcado pelo signo reconhecível do Todo Poderoso.
Tem a cabeça tão empedernida que veriam prodígios e milagres sem por
isso abandonar seus falsos arrazoados e entrar no bom caminho.

CAPÍTULO V
O CHAOS DOS SÁBIOS

I
Que o filho dos filósofos escute os Sábios, unânimes em concluir que
esta obra deve ser comparada à criação do Universo. Pois, no princípio,
Deus criou o céu e a terra, e a terra era vazia e deserta, e as trevas
cobriam o abismo, e o espírito de Deus era levado sobre as superfícies das
águas. Então Deus disse: "Faça-se a Luz!" e a Luz se fez.

II
Estas palavras bastarão ao filho da Arte. É preciso, de certo, que o
céu seja unido `a terra sobre o leito da amizade e do amor; destarte poderá
ele reinar honradamente sobre toda vida universal. A terra é corpo grave, a
matriz dos minerais, porque ela os conserva em si mesma, secretamente,
levando para a luz as árvores e os animais. O céu é o espaço onde as
grandes luminárias, com os astros, executam suas revoluções e, através
dos ares, comunica sua força as seres inferiores; mas no princípio, todos os
corpos confundidos formaram o Chaos.

III
Eis, desvelei-vos sincera e santamente a verdade; com efeito, nosso Chaos
é como uma terra mineral, tendo em vista sua própria coagulação, e,
entretanto, é um ar volátil no interior do qual se encontra o Céu dos
Filósofos, em seu centro, núcleo este verdadeiramente astral, irradiando
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por seu esplendor, a terra, até sua superfície. E qual é o Mago sábio o
bastante para inferir do que acabo de dizer que um novo rei nasceu, mestre
de todas as coisas, que resgatará seus irmãos, da impureza original, que
deve morrer e ser exaltado a fim de dar sua carne e seu sangue para a vida
do mundo?

IV
Ó Deus cheio de bondade, como tuas obras são admiráveis! Tu fizeste
isto, e surge a nossos olhos como milagre. Rendo-te graças, Pai, Senhor
do céu e da terra, por teres ocultado estas maravilhas aos sábios e aos
prudentes, para desvelá-las aos pequeninos.

CAPÍTULO VI
O AR DOS SÁBIOS

I
O espaço, ou o firmamento, é chamado de AR nas Santas escrituras.
Nosso Chaos é também chamado de AR, e isto não deixa de ser um
segredo notável, pois como o ar firmamental, nosso ar é o separador das
águas. Nossa Obra é pois realmente um sistema harmônico no mundo
maior. Com efeito, as águas que estão sob o firmamento são-nos visíveis, a
nós que vivemos sobre a terra; mas as águas superiores escapam a
nossos olhares, em razão de sua distancia. Da mesma forma, em nosso
microcosmo, há águas minerais sadias do núcleo, que aparecem, mas
aquelas que estão encerradas no interior nos são invisíveis, e, não
obstante, existem de fato.

II
São estas as águas de que fala o autor da "Nova Luz": elas existem,
mas aparecem somente quando o artista o julga conveniente. Assim como
o ar faz uma separação entre as águas, também nosso AR impede que as
águas excêntricas penetrem ate aquelas que estão no centro. Pois se elas
aí chegassem, e se misturassem, logo se uniriam inseparavelmente.

III
Direi então que o enxofre externo, vaporoso, comburente, adere
tenazmente ao nosso Chaos, à tirania do qual ele não tem forças para
resistir, se bem que, puro, ergue-se do fogo sob a aparência de um pó
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seco. Mas se sabe irrigar esta terra árida com uma água de seu próprio
gênero, alargarás os poros desta terra, e este gatuno externo será expelido
para fora juntamente com as operações da desordem, a água será purgada
pela adição de um verdadeiro enxofre de seus excrementos leprosos e de
seu humor hidrópico supérfluo; e terás em tua posse a fonte do Conde
Trévisan, cujas águas são propriamente dedicadas à virgem Diana.

IV
Este ladrão é um birbante, armado de arsenical malignidade, que o
rapaz alado abomina, e foge. E se bem que a água central seja sua noiva,
ele não ousa mostrar o amor mais ardente que experimente por ela, por
causa das emboscadas do biltre cujas artimanhas são quase inevitáveis.
Que Diana aqui favoreça, que saiba domar as bestas selvagens e cujas
duas pombas ( que foram encontradas voando sem asas nos bosques da
Ninfa Vênus) temperem com suas plumas a malignidade do ar; para que o
jovem entre facilmente pelos poros, logo abale as águas polares
superiores, que não foram comovidas pelos maus odores, e suscite negra
nuvem: aí verterás as águas, até que apareça a brancura da Lua. As trevas
que estavam sobre a face do abismo serão dissipadas pelo espírito
movendo-se sobre as águas.

V
Daí, pela ordem de Deus, aparecerá a luz. Separa sete vezes esta luz,
das trevas, e esta criação filosófica do Mercúrio será perfeita; o sétimo dia
será para ti um sabbat de repouso. Deste tempo, até o fim da passagem do
ano, poderás esperar a geração do filho do Sol sobrenatural que virá ao
mundo ao fim dos séculos para libertar seus irmãos de toda a impureza.

CAPÍTULO VII
DA PRIMEIRA OPERAÇÃO DA PREPARAÇÃO DO MERECÚRIO
FILOSÓFICO PELAS ÁGUIAS VOLÁTEIS.

I
Sabe, meu irmão, que a exata preparação das Águias dos Filósofos é
considerada como o primeiro grau da perfeição, o que só se deixa conhecer
por mente hábil. Não crê, realmente, que esta ciência tenha chegado a
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algum de nos por acaso, ou por imaginação fortuita, como o pensa


nesciamente a massa dos ignorantes: a busca da verdade custou-nos
longo e pesado labor, numerosas noites sem sono, muitos penares e
suores. Portanto tu, estudioso aprendiz, sê fortemente persuadido que, sem
esforço nem trabalho, a nada chegarás na primeira operação. Quanto à
segunda, é apenas a natureza que opera, sem que seja necessária tua
mão, senão para aplicar, externamente, um fogo moderado.

II
Compreende, pois, irmão, o que querem dizer os Sábios quando
escrevem que devem levar suas águia a devorar o leão; quanto menos
águias há, mais a batalha é rude e mais tardia a vitória; mas a operação é
perfeitamente executada com um numero de sete ou nove Águias. O
Mercúrio Filosófico é o pássaro de Hermes, que é chamado ora de Ganso,
ora Faisão, ora este, ora aquele.

III
Quando os magos falam de suas Águias, delas falam no plural e
contam-nas entre três e dez. Mas não querem dizer com isso que se deva
ajuntar a um peso dado de terra, tantas medidas d’água quanto forem as
águias, mas deve-se compreender que falam do peso interno ou da força
do fogo, quer dizer, sem duvida que se deve tomar água tantas vezes
sutilizadas quantas águia contam; esta atuação é feita por sublimação.
Assim, cada sublimação do Mercúrio Filosófico corresponde a uma águia, e
a sétima sublimação exaltará teu Mercúrio a ponto de formar um banho mui
conveniente para teu Rei.

IV
Para desfazer a dificuldade, lê atentamente o que segue: toma quatro
partes de nosso Dragão Ígneo, que esconde em seu ventre o Aço mágico,
e nove partes de nosso ímã: mistura-os juntos com o auxílio do tórrido
Vulcano, de modo que formem uma água mineral onde sobrenadará uma
escuma que deve ser rejeitada, deixa a crosta e toma o núcleo, purga-o
três vezes pelo fogo e o sal, o que será feito facilmente se Saturno
contemplou sua própria beleza no Espelho de Marte.

V
Daí nascerá o Camaleão, quer dizer, nosso Chaos, onde estão
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escondidos todos os segredos, não em ato , mas em potência. É esse o


infante Hermafrodita; envenenado desde o berço pela mordida do cão
enraivecido de Corascena, por causa de uma hidrofobia permanente, ou
medo da água, que o torna louco e insensato; e agora que a água é o
elemento natural mais próximo dele, ele a abomina e foge dela. Ó Destinos!

VI
Não obstante, encontram-se na floresta de Diana, duas pombas que
suavizam sua raiva insensata ( se as aplica com arte da Ninfa Vênus ).
então para impedir que esta hidrofobia o retome, mergulhe-o nas águas, e
que ele pereça. Neste momento, o Cão Negro Enraivecido, sufocado,
incapaz de suportar as águas, subirá quase até a sua superfície; persegue-
o à forca de chuva e golpes, e faz com que fuja para bem longe; assim
desaparecerão as trevas.

VII
Quando a Lua brilhar plenamente, dará asas à Águia, que voará,
deixando mortas atras de si as pombas de Diana, que se não sendo mortas
no primeiro encontro, de nada podem servir. Reitera sete vezes esta
operação, e enfim encontrarás o repouso, tendo simplesmente que fazer
cozer; é a mais perfeita tranqüilidade, jogo de crianças e trabalho de
mulheres.

CAPÍTULO VIII
DO TRABALHO E DOS CUIDADOS DA PRIMEIRA PREPARAÇÃO

I
Alguns ignorantes, que brincam de químicos, imaginam que a obra
inteira, do começo ao fim, é apenas pura recreação, onde só se encontra o
deleite, e decretam que a dificuldade está fora deste lavor; que gozem
desta opinião, tranqüilamente; na obra que estimam ser tão fácil, só
recolhem ventos, graças as suas operações ociosas. Quanto a mim, sei por
experiência própria que, uma vez adquirida a benção divina e um bom
começo, só se pode Ter sucesso com muito penar, engenhosidade e
assiduidade

II
E, certamente, não há trabalho tão fácil que se possa considerar que
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seja divertimento ou adivinhas, e que leve ao objetivo tão procurado. Ao


contrario, como diz Hermes, não se deve poupar nenhum esforço, quer
intelectual, quer físico. Senão , o que predisse o Sábio em suas parábolas,
verificar-se-a: o desejo do preguiçoso fá-lo-á perecer. Também não se deve
surpreender que tantas pessoas se intrometem com a alquimia tenham-se
reduzido à indigência, pois que fogem do trabalho, sem recear as
despesas.

III
Mas eu, que conheço a operação, por tê-la praticado cuidadosamente,
sei com certeza que não há trabalho mais enfadonho que nossa primeira
preparação. Por isso que Morien advertiu seriamente o Rei Calid que
muitos sábios queixam-se do cansaço que lhes causava esta operação. E
não gostaria que isso fosse tomado metaforicamente, pois não considero
os fatos tais como aparecem no inicio da obra sobrenatural, mas tais como
se encontram desde o começo. Tornar a massa bem disposta, diz o poeta,
é o trabalho, é a obra. E acrescenta: "Um, (Jasão) de um pico conhecido
(mostra-te) o tosão de ouro... O outro, (Hércules), (ensina-te) que fardo
deves suportar e com que trabalho submeter esta massa espessa e este
enorme peso..." Ë o que faz dizer ao celebre autor do "Segredo Hermético",
que o primeiro trabalho é um trabalho de Hércules.

IV
Encontram-se, de fato, em nosso princípio, numerosos elementos
heterogêneos supérfluos impossíveis de levar à pureza (aquela que
convém à nossa obra) e que se deve então completamente eliminar, o que
não se pode fazer, ignorando a Teoria de nossos segredos, graças à qual
ensinamos o meio de tirar do sangue menstrual desta prostituta o Diadema
Real. E quando se conhece esse meio, resta ainda, um grande trabalho,
tão pesado que, como diz o Filosofo, muitos, assustados pelas dificuldades,
abandonam sua obra inacabada.

V
Não crê, no entanto, que uma mulher não possa empreender esse
trabalho se ele o considera seriamente, e não como jogo. Mas uma vez
preparado o Mercúrio, que Bernardo Trévisan chama a sua fonte, encontra-
se enfim o repouso que, segundo o Filosofo, é bem mais desejável que
todos os outros louvores.
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CAPÍTULO IX
O PODER DE NOSSO MERCÚRIO SOBRE TODOS OS METAIS

I
Nosso Mercúrio é essa serpente que devorou os companheiros de
Cadmo, o que nada tem de surpreendente, pois que anteriormente devorou
o próprio Cadmo, se bem que mais forte que eles. Ao fim, porem, Cadmo a
trespassará desde que pela força de seu sopro saiba coagulá-la.

II
Saberei pois que nosso Mercúrio comanda todos os corpos metálicos
e pode resolvê-los em sua mais próxima matéria mercurial separando seus
enxofres; e sabe que o Mercúrio de uma, duas ou três águias comanda
Saturno, Júpiter e Vênus; de três a sete águias, comanda a Lua; enfim,
comanda o Sol, quando se tem de sete a dez.

III
Concluo dizendo que esse Mercúrio é mais próximo do primeiro ente
metálico do que qualquer outro Mercúrio; por isso penetra radicalmente os
Corpos Metálicos e manifesta suas profundezas secretas.

CAPÍTULO X
DO ENXOFRE QUE SE ENCONTRA NO MERCÚRIO FILOSÓFICO

I
O mais extraordinário de tudo é que em nosso Mercúrio encontra-se
um enxofre não somente atual, mas ativo e verdadeiro, e que entretanto,
conserva todas as propriedades e a forma do Mercúrio. Ë pois necessário
que esta forma lhe tenha sido dada por nossa preparação: esta forma é
enxofre metálico, e este enxofre é um fogo que putrefaz o sol composto ou
decomposto.

II
Este fogo sulfuroso é a semente espiritual que nossa Virgem
(permanecendo imaculada) não deixou de receber, porque a virgindade
pode suportar um amor espiritual sem ser corrompida, como a experiência
o mostra e como o disse o autor do "Segredo Hermético". É graças a este
16 

 
   

enxofre que nosso Mercúrio é Hermafrodita, quer dizer, que a partir do


mesmo grau visível de digestão ele contem ao mesmo tempo um princípio
ativo e um princípio passivo. E se é unido com o Sol, abranda-o,
liqüefazendo-o e dissolvendo-o pelo calor temperado que exige o
composto; pelo mesmo fogo ele coagula a si mesmo, e sua coagulação
produz o Sol e a Lua, à vontade do artista.

III
Isto parecer-te-á, quiçá , incrível, mas é real que o Mercúrio
Homogêneo, puro e limpo, acrescido de enxofre interno por nosso artifício,
coagula a si mesmo, sob a única ação de um calor externo adequado. Esta
coagulação se faz em forma de creme de leite como terra sutil
sobrenadando as águas. Mas quando se une ao Sol, não somente ele não
se coagula, mas sendo assim composto, a cada dia assume um aspecto
mais mole até que, o corpo estando bem dissolvido, os espíritos começam
a se coagular, assumindo nigérrima cor e desprendendo odor
extremamente fétido.

IV
Vê-se, destarte, que esse enxofre espiritual metálico é realmente o
primeiro motor, que faz girar a roda e virar o eixo circularmente. Este
Mercúrio é, em verdade, ouro volátil, não ainda suficientemente digerido,
mas bastante puro: é por isso que, por simples e única digestão,
transforma-se em Sol. Mas se o conjuga ao Sol já perfeito, ele não se
coagula; mas dissolve o ouro corporal, e após essa dissolução permanece
com ele sob a mesma forma; porem, a morte deve necessariamente
preceder a união perfeita, a fim de que após a morte sejam unidos não
simplesmente numa perfeição uma só vez perfeita, mas mais de mil vezes
perfeita.

CAPÍTULO XI
DA INVENÇÃO DO PERFEITO MAGISTÉRIO

I
Eis a maneira pela qual os Sábios de outrora, que adquiriram o
conhecimento desta ciência sem o auxílio de livros, foram levados a possui-
la, com a permissão de Deus. Com efeito, não chego a persuadir-me que
ninguém a tenha tido por revelação imediata, exceto talvez Salomão,
17 

 
   

questão que prefiro não abordar. Mas mesmo tendo-a adquirido assim,
nada impediria que a tivesse obtido pela pesquisa, quando simplesmente
pedira a sabedoria, que Deus concedeu, para que com ela possuísse a
riqueza e a paz. Nenhuma pessoa sensata poderia negar que aquele que
sondou a natureza das plantas e das arvores, do cedro do Líbano até o
hissopo e a parietária, não tenha semelhantemente penetrado a natureza
mineral, estudo não menos agradável.

II
Mas, retornando a nosso assunto, digo que há lugar para crer que os
primeiros Adeptos, dentre os quais coloco Hermes, a terem possuído o
Magistério, como falavam-lhes os livros, não procuraram de início a maior
perfeição, mas contentaram-se em exaltar os metais imperfeitos à
dignidade Real; e como deram-se conta que todos os corpos metálicos
tinham uma origem mercurial, e que o Mercúrio era totalmente semelhante,
quanto ao peso e à homogeneidade, ao mais perfeito dos metais, que é o
ouro, esforçando-se por levá-lo ao cozimento à maturidade do ouro; mas
nenhum fogo permitiu-lhes lá chegar.

III
Por isso pensaram que, para obter o fogo necessário ao sucesso, o
calor exterior deveria ser acompanhado de um calor interno. Então
procuraram este calor em diversas coisas. Inicialmente, extraíram dos
minerais menores, por destilação, águas extremamente quentes, com as
quais corroeram o Mercúrio; mas por mais artifícios que empregassem, não
puderam assim fazer com que o Mercúrio mudasse suas qualidades
intrínsecas, porque todas essas águas corrosivas eram apenas agentes
externos, como o fogo, se bem que diversamente; e aqueles mênstruos,
como os chamavam, não permaneciam com o corpo dissolvido.

IV
Pela mesma razão, rejeitaram todos os sais, salvo um, o ente
primordial de todos os sais, que dissolve qualquer metal que seja e coagula
o Mercúrio da mesma maneira; mas isso só se faz por via violenta; eis
porque um agente desta espécie é novamente separado dos corpos que
dissolveu, nada perdendo de seu peso nem de suas qualidades. Também
observaram os sábios, finalmente, que no Mercúrio havia condensações
aquosas e impurezas terrosas que, profundamente incrustadas, impediam
18 

 
   

que ele fosse digerido, e que não poderiam ser eliminadas, senão
destruindo todo o composto. Digo que aprenderam a fixar a Mercúrio
quando puderam se desembaraçar destas escórias. Ele Contem em si
mesmo, de fato, um enxofre fermentativo, cujo menor grão bastaria para
coagular o corpo de todo o Mercúrio, desde que se lhe retirassem suas
impurezas e coágulos. Experimentaram então diferentes métodos de
purgação, mas em vão, porque esta operação exige uma destruição, e
depois uma regeneração, para as quais um agente intermediário é preciso.

V
Aprenderam, enfim, que o Mercúrio havia sido destinado a ser um
metal nas entranhas da terra, e que para chegar a isto, conservava um
movimento continuo tanto quanto o lugar e outros caracteres exteriores
permanecessem bem dispostos. Mas, se por acaso se produzisse qualquer
perturbação, este fruto ainda verde caía por si mesmo, de forma que,
privado de movimento, parecia privado de vida, pois é impossível retornar
imediatamente da falta à posse.

VI
É um enxofre passivo o que se encontra no Mercúrio, enquanto que
deveria ser ativo; deve-se então introduzir outra vida, de mesma natureza,
que desperta a vida latente no Mercúrio: "assim a vida recebe a vida". Ele é
finalmente transformado basicamente, e rejeita espontaneamente de seu
Centro as impurezas e as escorias, como disto falamos suficientemente nos
capítulos precedentes. Ora, esta vida só se encontra no enxofre metálico,
que os magos procuraram em Vênus, e nas substancias semelhantes, mas
em vão.

VII
Enfim, interessam-se por um filho de Saturno, e experimentaram sua
ação sobre o ouro; e como tinha a força de desembaraçar o ouro maduro
de suas impurezas, foram levados pelo argumento do maior ao menor, a
crer que teria o mesmo efeito sobre o Mercúrio; mas a experiência mostrou-
lhes que ele conservava suas próprias escórias. Então, recordaram-se da
bem conhecida máxima: sê puro, tu que desejas purificar a outrem.
Convenceram-se de que era impossível, apesar de seus esforços, purgá-lo
inteiramente, porque não continha nenhum enxofre metálico; encerrava
porem, em abundância, o sal mais puro da natureza.
19 

 
   

VIII
Descobriram que no Mercúrio havia muito pouco enxofre, e que era
somente passivo; não encontraram enxofre atual nesta posteridade de
Saturno, mas somente enxofre potencial. Por isso que ela faz aliança com
um enxofre arsenical ardente, sem o qual enlouqueceria e só poderia
subsistir sob forma coagulada; no entanto ela é estúpida aponto de preferir
coabitar com o inimigo, que a mantém rigidamente aprisionada, e se
prostituir, do que renunciar a ele a aparecer sob uma forma mercurial.

IX
Então, procurando mais ainda este enxofre ativo, os magos o
encontraram profundamente escondido na casa de Áries. O filho de
Saturno acolheu-o com avidez, sendo ele mesmo matéria metálica
puríssima, muito branda e próxima do estado primeiro dos metais,
completamente desprovida de enxofre atual, mas capaz de receber o
enxofre. Por essa razão, ele o atrai como um ímã, o absorve e oculta em
suas entranhas. E o Todo Poderoso , para perfazer esta obra, imprime-lhe
seu selo real. Então rejubilaram-se os magos, não somente por Ter
encontrado o enxofre, mas por vê-lo preparado.

X
Tentaram dele se servir para purgar o Mercúrio, mas sem sucesso,
porque ainda havia, absorvido neste filho de Saturno, uma malignidade
arsenical misturada a este enxofre; e se bem que muito pouco, tendo em
vista a grande quantidade que o enxofre detinha em sua natureza mineral,
impedia a união daquele enxofre com o Mercúrio. Por esta causa, tentaram
temperar esta malignidade do ar com as pombas de Diana, e tiveram êxito.
Então , misturaram a vida com a vida, umectaram a seca pela a liquida,
subtilizaram a passiva pela ativa, e vivificaram a morte, pela vida. O céu
permaneceu nublado por um pouco; mas depois das abundantes chuvas,
reencontrou sua serenidade.

XI
Daqui surgiu um Mercúrio Hermafrodita. Puseram-no sobre o fogo e
coagularam em pouco tempo; em sua coagulação, encontraram o Sol e a
Lua.

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XII
Por fim , esses sábios, para si mesmos, observaram que o Mercúrio
assim purificado e não ainda coagulado não mais era metal, mas era
bastante volátil para não deixar nenhum deposito no fundo do vaso, em sua
destilação. Por isso chamaram-no seu Sol ainda não amadurecido, e sua
Lua viva.

XIII
Consideraram igualmente que sendo o ente primordial do ouro, mas
ainda volátil, poderia tornar-se o campo em que o Sol, uma vez semeado,
cresceria em virtude. Por isso é que aí puseram o Sol; e para sua grande
surpresa, o que no Mercúrio era fixo tornou-se volátil, o corpo duro
abrandou-se, e o que era coagulado se encontrou dissolvido, para surpresa
da própria natureza.

XIV
Foi o que os levou a conjugar estes dois corpos; encerraram-nos num
vidro, o qual puseram sobre o fogo, e prosseguiram a obra, como a
natureza o exigia, durante um longo período. Assim, foi vivificado o morto e
morreu o vivo, o corpo se putrefez, o espírito exaltou-se, glorioso, e a alma
foi exaltada numa quintessência, medicina soberana para animais, metais e
vegetais.

CAPÍTULO XII
DA MANEIRA DE REALIZAR O PERFEITO MAGISTÉRIO EM GERAL.

I
Devemos oferecer a Deus eternas ações de graças por nos Ter
mostrado esses arcanos da natureza, que ocultou aos olhos da maioria.
Desvelarei, pois, fiel gratuitamente aos outros pesquisadores o que me foi
gratuitamente concedido por aquele doador. Sabe, por conseguinte, que
em nossa operação não há maior segredo que a coobacão das naturezas,
uma sobre a outra, até com a ajuda de um corpo cru se extraia de um corpo
digerido, uma virtude muito digerida.

II
Para requer-se, primeiramente, a aquisição exata das matérias que
entram na obra, sua preparação e sua adaptação; secundariamente, uma
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boa disposição dos elementos exteriores; terciariamente, após esta


preparação, um bom regime; quaternariamente, devem-se conhecer
antecipadamente as cores que aparecem no decurso da obra, para não agir
às cegas; quinariamente, paciência, para que a obra não seja regida com
pressa, ou precipitação. Falaremos de tudo isso por ordem, com fraterna
sinceridade.

CAPÍTULO XIII
DO EMPREGO DE UM ENXOFRE MADURO NA OBRA DO ELIXIR

I
Já falei da necessidade do Mercúrio, e mostrei, a propósito do
Mercúrio, numerosos segredos que, antes de mim, estavam sem
significação no mundo, porque quase todos os livros de química estão
cheios de enigmas obscuros, ou operações sofisticadas, ou ainda de um
acúmulo de palavras intrincadas. Eu não agi similarmente, submetendo,
para tanto, minha vontade para à divina que, neste ultimo período do
mundo, parece-me desejosa de desvelar estes segredos. Por isso receio
menos que possa aviltar-me a Arte, e desapareça. Tal não pode suceder,
pois a real sabedoria guarda-se a si mesma e ternamente com sua honra.

II
Apraza a Deus, porém, que o ouro e a prata, os grandes ídolos que o
mundo inteiro até hoje tem adorado, fossem tão comuns quanto o estrume!
Então nós, que praticamos esta Arte, não nos aplicaríamos zelosamente
em nos esconder, nós, que já nos cremos cumulados com a maldição de
Caim, chorando e gemendo; parece que somos afastados da vista do
Senhor, e da doce sociedade de nossos amigos de que fruíamos sem
receio, outrora. Somos atormentados como se fossemos assediados pelas
fúrias, e em nenhum lugar podemos julgar-nos em segurança, por muito
tempo, chegando a gemer e muito repetindo a lamentação de Caim ao
Senhor; "Quem quer que me encontre, matar-me-á".

III
Não tendo ousado cuidar de nossa família, erramos, vagabundos, de
nação em nação, sem encontrar nenhuma moradia garantida; e se bem que
tudo possuamos, devemos com pouco nos contentar; em que a felicidade
encontraríamos, se não na contemplação, com que a alma experimenta
22 

 
   

grande satisfação? Muitos, estranhos a esta arte, crêem que se a


possuíssem, isto e aquilo fariam: foi o que pensamos, no passado, mas,
tornados prudentes pelos perigos, escolhemos método mais secreto. Quem
quer que tenha uma vez escapado à morte iminente, tomar-se-á, crede-me,
mais sábio para o resto da vida. Há um provérbio que diz que as mulheres
dos celibatários e os filhos das virgens estão sempre bem vestidos e
alimentados.

IV
Encontrei o mundo num estado tão corrompido, que não se encontra
uma só pessoa, dentre aqueles que se atribuem o aspecto da honestidade,
ou apregoem seu amor pelo bem publico, cujo anelo pessoal não seja um
interesse sórdido e indigno. E nenhum mortal pode fazer algo, nem mesmo
na solidão, nem mesmo obras de misericórdia, sem por sua vida em perigo.
Experimentei recentemente, no estrangeiro, o seguinte: havia dado remédio
a doentes afligidos por misérias corporais e abandonados por todos; e por
milagre , recobraram a saúde; logo se começou a falar do Elixir dos Sábios,
a um tal ponto que sofri, diversas vezes grandes incômodos, obrigado a
alterar as vestimentas, raspar a cabeça e usar uma peruca, adotar nome
falso, e evadir-me noturnamente, sem o quê, teria caído nas mãos dos
perversos que me estendiam ciladas ( por causa de uma simples suspeita,
unida à sua execrável sede pelo ouro) . Poderia contar copias de historias
deste gênero, que pareceriam risíveis a muitos.

V
Dirão, com efeito: "Se possuísse esses segredos, conduzir-me-ia bem
diversamente". Que saibam, no entanto, quão penoso é às pessoas nobres
conviver com imbecis. Mas as outras pessoas de intelecto sutil são finas,
penetrantes, perspicazes, têm olhos de Argos; alguns são curiosos, outros,
maquiavélicos, procuram perscrutar profundamente a vida, os costumes e
as ações dos homens; em todo caso, são pessoas com quem, desde que
somos seus amigos, é muito difícil dissimular.

VI
Se tivesse ocasião de falar com algum daqueles que pensam isso de
si mesmos ( que fariam tal ou tal coisa, se possuísse a pedra), e se eu lhes
dissesse: "És amigo de um Adepto", logo se poriam a refletir e me
responderiam: "Impossível, eu o teria percebido; vivo tão familiarmente com
23 

 
   

ele que o teria notado". Tu que pensas aquilo de ti mesmo, crês que os
outros não tem perspicácia igual à tua, para verem quem és?

VII
Pois é preciso bem viver com as pessoas, sob pena de passar por um
Cínico ou um outro Diógenes. Se te associas à plebe, é indigno, mas se
freqüentas a sociedade das pessoas cultas, deves estar sempre em
guarda, para que não te descubram com a mesma facilidade que crês
possuir para reconhecer em uma outra pessoa um Adepto ( pois que
ignoras um segredo que todos conhecem), sob pretexto de que tens com
ele uma certa familiaridade. Terás até dificuldade em te dares conta de que
se alimentam suspeitas de ti, o que é grave inconveniente, pois a menor
conjectura bastará para que te armem ciladas.

VIII
Tão grande a maldade dos homens, que conheci certas pessoas que
foram estranguladas ou enforcadas apenas pela suspeita ( de que
possuíam a Pedra Filosofal), quando de fato eram estranhas à nossa arte.
Bastaria que pessoas desesperadas tivessem ouvido dizer que tal pessoa
tinha a reputação de ser hábil nesta ciência. Seria fastidioso enumerar tudo
o que eu mesmo vivi, o que vi e ouvi sobre isso, tanto mais nesta era do
mundo que em todas as precedentes. A alquimia serve de pretexto a todos,
de modo que, se fazes a mínima coisa em segredo, não podes dar três
passos sem te traíres.

IX
Estas precauções excitarão o ardor de alguns para examinar mais de
perto a tua conduta, e falarão de dinheiro falso. E o que mais não dirão?
Mas, se pelo contrario, ages um pouco mais abertamente, descoberto será
que fazes coisas insólitas, quer em Medicina, quer em Alquimia; se possuis
grande soma de ouro e prata que desejes vender, logo se perguntará de
onde provém esta quantidade de ouro fino e prata puríssima, que só podem
ser encontrados na Berbéria ou em Guiné, e sob forma de pó
extremamente tênue; ao passo que o teu, de título mais elevado, estará sob
forma de lingotes. Isto não deixará de causar muita murmuração.

X
Os mercadores não são tão tolos, mesmo se, como crianças, brincam
24 

 
   

contigo, dizendo que compram de olhos fechados, que nada vêem e que se
pode vir com toda a confiança; se vais até eles, num piscar de olhos te
denunciarão o bastante para te lançar em grande embaraço. A prata que
produzimos graças a nossa ciência é tão fina que não pode ser proveniente
de nenhum país. A melhor , que vem da Espanha, não vale mais que a
esterlina inglesa, e ainda se apresenta sob a forma de peças assaz
grosseiras, que são contrabandeadas, malgrado a interdição das leis dos
reinados. Se então pões à venda grande quantidade de prata pura, já te
traíste; segundo as leis da Inglaterra, Holanda e de quase todos os
Estados, que prevêem que toda alteração do titulo do ouro e da prata que
não seja para atender à banca do ourives, é passível de pena capital, se
não é exercitada por profissional registrado.

XI
Eu mesmo experimentei tais coisas, quando tentei vender nada mais
que seiscentas libras de prata finíssima, no estrangeiro, disfarçado de
mercador, pois não ousei fazer uma liga, pois que cada nação, tendo seu
titulo particular para a prata e para o ouro, os ourives o conhecem bem: a
tal ponto, que se tivesse dito que provinha de alhures, logo pediriam
provas, e fariam apreender o vendedor. Aqueles a quem o apresentei, logo
me disseram ser prata fabricada pela arte. Perguntei-lhes como o
afirmavam, e responderam-me simplesmente que eu não os ensinaria a
distinguir a prata vinda da Inglaterra, Espanha, ou alhures, e que aquela
que eu lhes apresentava não era deste tipo. Este discurso fez com que eu
me evadisse furtivamente, abandonando minha prata e seu valor, sem
reclamar mais nada.

XII
Se, não obstantes, finges que essa grande quantidade de ouro, e
sobretudo prata, foi trazida do estrangeiro, lembra que uma tal coisa ano
seria feita sem ser conhecida. O patrão do navio dirá que não transportou
uma tal massa de prata, e que não poderia ser carregada no barco, com o
desconhecimento geral. E aqueles que souberem desta historia, que terão
vindo para negociar, rirão, dizendo não ser verossímil que se possa
conseguir tamanha quantidade em ouro e prata e embarcá-la, sendo as
interdições tão estritas e as medidas preventivas tão severas. Este caso
logo fará barulho não só em seu país, mas também nos reinos vizinhos.
Instruído pelos perigos corridos, decidi permanecer oculto, e comunicar-te
25 

 
   

esta arte, curioso de ver o que farás para o bem público, quando fores um
Adepto.

XIII
Tendo ensinado mais acima da necessidade do Mercúrio em nossa
obra, adverti a propósito do Mercúrio, sobre particularidades que ninguém
dentre os Antigos havia mostrado antes de mim; assim digo que, por outro
lado, deve-se procurar o enxofre sem o qual o Mercúrio não poderá sofrer a
congelação necessária à obra sobrenatural.

XIV
O enxofre, nesta obra, faz o papel de macho, e quem quer que aborde
sem ele a arte transmutatória, nunca terá sucesso, afirmando todos os
Sábios que não se pode fazer nenhuma tintura sem seu latão ou seu
bronze, sendo este, sem dúvida, o Ouro, a que assim chamam. O famoso
Sendivogius disse a esse propósito: "O sábio reconhece nossa pedra até
no excremento, enquanto que o ignorante não crê que ela exista nem
mesmo no ouro". É no ouro, o Ouro dos Sábios, que se encontra a tintura
aurífica; se bem que seja um corpo perfeitamente digerido, entretanto, se
reencrua num só corpo, nosso Mercúrio, e de Mercúrio ele recebe a
multiplicação de sua semente, menos em quantidade que em qualidade.

XV
E se bem que muitos Sábios pareçam sofisticamente negá-lo, tudo é
realmente como afirmei. Pretendem, por exemplo, que o ouro vulgar seja
morto, enquanto que o seu seja vivo; igualmente, o grão de trigo está
morto, quer dizer, que sua atividade germinal foi suprimida, e permaneceria
eternamente se fosse conservado num ar ambiente seco; mas lançado à
terra, logo retoma sua vida fermentativa, incha, abranda-se e germina.

XVI
O mesmo ocorre com nosso ouro: está morto, quer dizer, sua força
vivificante está selada sob a escoria corporal; no que se assemelha ao
grão, com diferenças, porem, em proporção à grande distancia que separa
o grão vegetal do ouro metálico. E assim como este grão que permanece
imutável, enquanto está ao ar seco, é destruído pelo fogo e vivificado
somente na água, também o ouro, que é incorruptível malgrado qualquer
ataque e dura eternamente, é redutível apenas em nossa água, e então
26 

 
   

vive, e torna-se nosso ouro.

XVII
Quando o trigo é semeado no campo pelo lavrador, ele muda de nome
e toma o de semente, em lugar de frumento , que leva enquanto é
guardado no celeiro para fazer o pão e outros alimentos desse gênero,
tanto quanto para a semeadura. Assim o ouro, enquanto está sob a forma
de anéis, vasos ou dinheiro, é vulgar; mas desde que esteja misturado à
nossa água, ele é filosófico. No primeiro estado, diz-se que está morto,
porque permaneceria imutável até o fim do mundo; no segundo, diz-se que
está vivo, porque está em potência; esta potência pode em alguns dias ser
convertida em ato; neste momento, o ouro não é mais ouro, mas o Chaos
dos Sábios.

XVIII
Os Filósofos têm então razão dizendo que o ouro filosófico é diferente
do ouro vulgar; e esta diferença reside na composição. Diz-se, realmente,
que um homem está morto quando ouviu sua sentença de morte; também
se diz que o ouro está vivo quando mistura-se a uma tal composição,
submetido a um tal fogo, no qual deve receber necessária e rapidamente a
vida vegetativa e mostrar, alguns dias mais tarde, os efeitos de sua vida
nascente.

XIX
Assim, os mesmos Sábios que dizem que seu ouro é vivo, ordenam-
te, que faças pesquisas na arte, de vivificar o morto. Se conheces o método
e após ter preparado a prata, executas a mistura conforme as regras, teu
ouro não tardará a se tornar vivo: mas, nesta vivificação, teu mênstruo vivo
morrerá. Por isso os Magos aconselham vivificar o morto e mortificar o vivo;
mas, é antes sua água, que eles chamam viva, e dizem que o tempo da
morte do primeiro principio e do renascimento do segundo têm a mesma
duração simultânea.

XX
Donde se vê que se deve tomar o nosso ouro quando está morto e
sua água, quando se está viva; mas fazendo-se um composto que se coze
por um breve momento, a semente do ouro torna-se viva, enquanto que
morre o Mercúrio vivo, que dizer, que o espírito é coagulado pelo corpo
27 

 
   

dissolvido; e um e outro se putrefazem ao mesmo tempo em forma de


lama, até que todos os membros do composto sejam dispersos em Átomos.
Eis pois em que consiste a natureza de nosso Magistério.

XXI
O mistério que guardamos com tantos cuidados é a preparação do
Mercúrio propriamente dita. Não se pode encontrá-lo sobre a terra já pronto
para o nosso uso, e isso por razões particulares conhecidas pelos Adeptos.
Com o Mercúrio, amalgamamos perfeitamente este ouro puro, purgado ao
extremo grau de pureza, reduzido a limalha ou lamelas, encerramo-lo num
recipiente de vidro e o fazemos cozer em fogo contínuo: o ouro é dissolvido
pela virtude de nossa água; e retorna à sua matéria mais próxima, na qual
a vida do ouro aprisionada é libertada, e ele recebe a vida do Mercúrio
dissolvente, que é, em relação ao ouro, o que é a boa terra para o grão de
trigo.

XXII
O ouro dissolvido neste Mercúrio se putrefaz, e é assim que deve ser
obrigatoriamente, por necessidade da natureza. Pois após a podridão da
morte renasce o corpo novo, da mesma essência que o primeiro, mas de
substancia mais nobre, que recebe proporcionalmente diferentes graus de
virtude segundo as quatro qualidades dos elementos. Tal é a ordem de
nossa obra. Tal é toda nossa Filosofia.

XXIII
Por isso dizemos que nada há de secreto em nossa obra, à exceção
apenas do Mercúrio, cujo Magistério consiste em prepará-lo
convenientemente, extrair o Sol nele escondido, e casá-lo com o ouro, em
justa proporção; e em reger o fogo como o Mercúrio exigir; porque o ouro
por si mesmo não teme o fogo, e quanto mais é unido ao Mercúrio, mais
isto o torna capaz de resistir a este fogo; a dificuldade desta obra é então
acomodar o regime de calor à tolerância do Mercúrio.

XXIV
Mas se não se preparou seu Mercúrio segundo as regras, mesmo se
lhe se une o ouro, este ouro permanecerá vulgar, pois que está unido a um
agente extravagante, no qual ele não se transforma mais do que se tivesse
sido deixado no cofre; e nenhum regime de fogo fará desaparecer sua
28 

 
   

natureza corporal, se não há nenhum agente vivo para acompanhá-lo.

XXV
Nosso Mercúrio é uma alma viva e vivificante, e eis por que nosso
ouro é espermático, como o trigo semeado é uma semente, enquanto que o
mesmo trigo encerrado num celeiro permanece simples frumento, morto.
Mesmo se o enterra numa caixa( ou, como o praticam os habitantes das
Índias, Ocidentais que põem suas colheitas no interior de uma fossa na
terra, ao abrigo de todo vapor d’água), se ele não recebe o vapor úmido da
terra, está morto, quer dizer, fica improdutivo e bem longe de vegetar.

XXVI
Sei que muitos condenarão esta doutrina, e dirão: "Este homem afirma
que o ouro vulgar é o suporte material da pedra, com o Mercúrio corrente;
mas sabemos que é o contrário". Vamos, senhores filósofos, olhai em
vossos bolsos: vós, que tantas coisas sabeis, aí encontrareis a pedra? Eu a
possuo, sem tê-la recebido de ninguém (se não de meu Deus) nem tê-la
roubado: eu a tenho, e a fiz, guardo-a diariamente comigo, freqüentemente
trabalhei-a com minhas próprias mãos. Escrevo o que sei, mas isto não é
para vós.

XXVII
Tratai pois vossas águas pluviais, vossos rocios de maio, vossos sais,
tagarelai a torto e a direito, louvai vosso esperma mais poderoso até que o
diabo; cobri-me de injurias; estais seguros de que vossa linguagem
insultante me desola! Assevero que o ouro apenas, e o Mercúrio, são
nossas matérias. Sei o que escrevo, e DEUS que perscruta os corações,
sabe que eu escrevo a verdade.

XXVIII
E não tem cabimento acusar-me de ciúmes , escrevendo eu com a
pluma audaciosa, em estilo incomum, em honra de DEUS, para utilidade de
meu próximo e para condenar o mundo e as riquezas; pois já o Artista Elias
nasceu, e se dizem maravilhas da Cidade de Deus. Ouso mesmo
assegurar Que possuo mais riquezas do que todo o Universo conhecido;
mas as emboscadas dos maldosos não me permitem delas servir-me.

XXIX
29 

 
   

É com razão que desprezo e detesto essa idolatria do ouro e da prata,


com os quais tudo tem preço, e que só servem à pompa e à vaidade do
mundo. Que infâmia, que vão pensamento nos leva a crer que, se oculto
meus segredos, é por ciúme? Enganai-vos: asseguro estar profundamente
entristecido por ser um vagabundo errante por toda a terra, como se o
Senhor me expulsasse de sua vista.

XXX
Mas, é inútil falar: o que vi, toquei e trabalhei, o que detenho, possuo e
conheço, é apenas a compaixão que experimento pelos pesquisadores que
me leva a esta desvelação; e também a indignação com o ouro, a prata e
as pedras preciosas, não enquanto criaturas de Deus, pois assim são
honráveis, e os respeito, mas porque os Israelitas, conjuntamente com o
resto do mundo, os idolatram. Por isso, como o veado de ouro, desejo que
sejam reduzidos a pó.

XXXI
Espero e aguardo que em poucos anos a prata será como esterco e
que esse sustentáculo da besta do Anticristo se esboroe em ruínas. O povo
está enlouquecido, e as nações insensatas tomam como Deus a esse peso
inútil. Em que isso é compatível com nossa redenção próxima, tão
longamente aguardada? Quando as praças da Nova Jerusalém se cobrirão
de ouro, quando suas portas cintilarão com pérolas finas, e com as mais
preciosas pedras, e quando a Arvore da Vida plantada no meio do Paraíso
dará suas folhas para a saúde do gênero humano?

XXXII
Eu sei, eu sei, meus escritos serão estimados por muitos como o ouro
mais fino, e o ouro e a prata, graças a meu trabalho, também assumirão tão
pouco valor quanto o esterco. Crede-me, jovens aprendizes, e vós, seus
pais, o tempo está às nossas portas( e não digo isso sob o império da vã
ilusão, mas vejo-o, em espírito) em que nós, os Adeptos, retornaremos dos
quatro cantos da terra, em que não recearemos as emboscadas
engendradas contra a nossa vida, e em que daremos graças a Deus nosso
Senhor. Meu coração murmura-me maravilhas inauditas, minha alma exulta
idéia da felicidade de todo o Israel de Deus.

XXXIII
30 

 
   

Anuncio tudo isso ao mundo como pregoeiro público, a fim de não


morrer inútil ao mundo. Que meu livro seja o precursor de Elias, a fim de
que ele prepare a via real do Senhor. Praza aos céus que as almas nobres
do mundo inteiro conheçam esta arte! Então, a abundância extrema do
ouro, da prata e das pedras preciosas seriam causa de sua depreciação, e
seria apreciada somente a ciência que os produz. Então, por fim, a virtude,
toda nua, porque é amável por si mesma, seria honrada.

XXXIV
Conheço muitas pessoas que possuem a Arte, e detém suas
verdadeiras chaves: todas desejam o silêncio mais rigoroso a seu respeito.
Quanto a mim, a esperança que tenho em meu Deus faz-me pensar
diversamente, razão pela qual escrevi este livro, desconhecido pelos
Adeptos meus irmãos (com os quais estou em contato cotidiano).

XXXV
Deus concedeu o repouso a meu coração, dando-me fé
inquebrantável, e não duvido que, usando meu talento, servirei meu senhor,
a quem o devo, e a todo o meu próximo, e sobretudo, Israel; sei que
ninguém pode fazê-lo frutificar tanto quanto eu mesmo, e prevejo que
centenas de espíritos serão, talvez, iluminados por meus escritos.

XXXVI
Conseqüentemente, não consultei a carne, nem o sangue, escrevendo
esta obra, tampouco procurei o assentimento de meus irmãos. Deus faça,
para a glória de seu nome, que eu chegue ao objetivo que espero. Então,
todos os Adeptos que me conhecem se rejubilarão com a publicação
destes escritos.

CAPÍTULO XIV
DAS CIRCUNSTANCIAS QUE SE PRODUZEM E QUE SÃO
REQUERIDAS PARA A OBRA EM GERAL.

I
Destaquei da arte química todos os erros vulgares e, após ter refutado
os sofismas e os sonhos exóticos dos sonhadores, ensinei que a Arte deve
Ter como princípios o Ouro e o Mercúrio; mostrei que o Sol é o ouro, sem
31 

 
   

duvida nem ambigüidade, e que isto não deve ser tomado metaforicamente,
mas num verdadeiro sentimento filosófico; e declarei sem o menor equivoco
que o Mercúrio é o azougue.

II
Demonstrei que o primeiro é perfeito por natureza, e que pode ser
comprado; mas que o segundo deve ser fabricado pela Arte e que é uma
chave. Acumulei razões tão claras e evidentes, que, ao menos que queira
fechar os olhos para não ver o Sol, é impossível nada descobrir. Afirmei, e
repito-o, não Ter afirmado isso pela fé que tenho nos escritos alheios: vi e
reconheço o que sinceramente relatei; fabriquei, vi e possuo a pedra, o
grande Elixir.

III
E não tenho ciúmes deste conhecimento; ao contrario, desejo que tu o
consigas por meus escritos. Por outra , faço saber que a preparação do
Mercúrio Filosófico é mui delicada; sua principal dificuldade é encontrar as
Pombas de Diana, que estão envolvidas nos abraços eternos de Vênus, e
que somente um verdadeiro Filósofo pode ver. Apenas este conhecimento
é a perfeição da Teoria; enobrece o Filosofo que o detém, fazendo-o ver
todos os nossos segredos; tal é o nó górdio que aquele se iniciando na arte
jamais saberá desfazer se o dedo de Deus lá não estiver para guiá-lo; e é
tão difícil, que é necessário se beneficiar de particular graça de Deus para
chegar a seu exato conhecimento.

IV
Dei tantos pormenores, o que ninguém fizera antes, sobre a
fabricação desta água, que nada mais saberei dizer, senão dar a receita. O
que, aliás, já fiz, mas sem designar os elementos sob seus próprios nomes.
Resta-me descrever-te o uso e a prática, que te ensinarão facilmente a
distinguir as qualidades ou defeitos do Mercúrio, assim poderás modificá-lo
e corrigi-lo à tua vontade. Quando possuíres o Mercúrio animado e o Ouro,
falta a purgação acidental de um e de outro; depois, as bodas; em terceiro
lugar, o regime.

CAPÍTULO XV
DA PURGAÇÃO ACIDENTAL DO MERCURIO E DO OURO.

32 

 
   

I
O ouro perfeito se tira das entranhas da terra; lá, é encontrado em
fragmentos ou sob a forma de areia. Se podes tê-lo intacto, é muito puro;
senão, purga-o quer com o antimônio, quer com o cimento real, que
fazendo-o ferver em água forte; e, após tê-lo reduzido em grãos e em
limalha, funde-o; está pronto.

II
Nosso ouro produzido pela natureza, perfeito para nosso uso, que
encontrei e do qual servi-me, a custo um artista em cem mil o conhece,
exceto se tiver um conhecimento muito aprofundado do reino mineral; mas,
também, este ouro se encontra numa matéria que todos podem achar; mas
está misturado a muitos elementos supérfluos, nós o fazemos passar por
numerosas provas e combinações, até que todas as escórias sejam
eliminadas, e que só reste dele o que é puro, com, entretanto, alguns
elementos heterogêneos; mas não o fundimos, senão sua frágil alma
pereceria, e seria tão morto quanto o ouro vulgar; mas lava-o na água que
tudo consome (exceto nossa matéria) ; então nosso corpo torna-se como
um bico de corvo.

III
O Mercúrio, este, necessita uma purgação interna e essencial, que
consiste na adição gradual de um verdadeiro enxofre, conforme o números
das Águias: é então radicalmente purgado; este enxofre nada mais é senão
nosso Ouro. Se sabes dissociá-los sem violência, depois exaltar um e outro
separadamente, e de novo conjugá-los, obterás deles uma concepção que
dará um filho mais nobre que qualquer substancia sublunar.

IV
É Diana quem pode perfazer esta obra, se é envolvida nos invioláveis
abraços de Vênus. Roga ao Todo Poderoso de te descobrir este mistério,
que expliquei literalmente em meus capítulos precedentes, onde este
segredo foi claramente tratado; não há uma palavra ou um ponto supérfluo,
e nenhum que falte.

V
Mas, além desta purgação essencial, falta ao Mercúrio uma purgação
acidental para lavar as fezes exteriores que a operação de nosso
33 

 
   

verdadeiro enxofre rejeitou do centro à superfície. Este trabalho não é


absolutamente necessário, porem acelera a obra, e eis porque é
convenientemente fazê-lo.

VI
Toma então teu Mercúrio, que preparaste com número adequado de
Águias, e sublima-o três vezes com o sal comum e pelas escorias de Marte,
moendo-o ao mesmo tempo no vinagre e um pouco de sal amoníaco, ate
que o Mercúrio desapareça. Então desseca-o e destila-o na retorta de
vidro, com um fogo gradualmente aumentando, ate que todo o Mercúrio
seja exaltado. Repete três vezes, ou mais, esta operação, depois faz ferver
o Mercúrio no espírito de vinagre durante uma hora numa cucúrbita ou um
vidro de fundo amplo e colo estreito, agitando-o fortemente de tempos em
tempos. Decanta agora o vinagre, e leva a acetosidade com água de fonte
vertida repetidamente. Enfim, faz secar o Mercúrio, e admirarás seu brilho.
VII Para poupar-lhe a sublimação, podes lavá-lo com urina, ou com vinagre
e sal, depois destilá-lo ao menos quatro vezes, após ter esgotado todas as
Águias, sem adição, limpando a cada vez a retorta de aço com cinza e
água: enfim, ferve-o no vinagre destilado durante meio dia, agitando-o
fortemente de tempos em tempos. Retira o vinagre que se escurece, e
recoloca-o; enfim, lava-o com água quente. Pode redestilando o espírito de
vinagre, liberá-lo de seu negror: manterá a mesma virtude. VIII Tudo isso
serve para retirar a impureza exterior, que não adere ao centro, mas é um
pouco mais obstinada na superfície; eis como será vista: toma o Mercúrio
preparado com sete ou nove Águias; mistura-o com ouro puríssimo; faz o
amalgama sobre papel limpo, e verás que suja o papel com um negror mui
sombrio. Eliminarás esta impureza pela destilação de que já falei, pela
ebulição e pela agitação. Esta preparação faz adiantar consideravelmente a
obra, acelerando-a.

CAPÍTULO XVI
DO AMÁLGAMA DO MERCÚRIO E DO OURO E DO PESO ADEQUADO
DE UM E DE OUTRO.

I
Tudo isso sendo preparado segundo as regras, toma uma parte de
ouro purgado, em lamínulas ou limalha fina, e duas partes de Mercúrio;
coloca-os num almofariz de mármore que terás previamente aquecido, por
34 

 
   

exemplo, mergulhando-o em água fervente (ele seca ao ser retirado, mas


conserva longamente o calor) ; mói tua composição com um pilão de
marfim, de vidro, de pedra ou de ferro ( o que não é muito bom), ou de
madeira; os de vidro e os de pedra são os melhores. Eu tenho o hábito de
servir-me de um pilão de coral branco.

II
Mói fortemente o composto, até que seja impalpável, mói com tanto
cuidado quanto o dos pintores ao prepararem suas cores; se está tão
maleável quanto manteiga, nem muito quente, nem muito frio, na condição
que, colocado sobre um plano inclinado, não deixe escoar o Mercúrio como
a água hidrópica subcutânea, então a consistência esta boa; se está muito
seco, adicionarás exatamente o que lhe falta para obter esta consistência

III
A lei desta mistura é que a matéria seja bem mole e flexível , e que se
possam fazer dela pequenas bolas, como manteiga, que é muito macia e
cede à pressão do dedo mas que as mulheres, quando a lavam, podem
moldar em bolinhas. Observa como este exemplo é correto, porque a
manteiga, se é inclinada, não deixa escapar algo mais líquido que toda a
massa: assim é nossa mistura.

IV
A natureza intrínseca do Mercúrio deve estar nesta proporção: que
haja duas ou três partes do Mercúrio para uma do corpo, ou ainda, que haja
três partes do corpo para quatro do espírito, ou duas por três; e segundo a
proporção do Mercúrio, o amalgama será mais ou menos firme; mas
recorda-te sempre que é preciso coagulá-lo em pequenas bolas, e que
estas, separadas, se endurecem de tal maneira que o Mercúrio não
aparece mais brilhante na parte inferior que na superior. Nota que se deixas
repousar o amalgama, ele se endurece sozinho.

V
Deve-se julgar a consistência da composição, agitando-a; se ela tem a
consistência da manteiga, se deixa moldar em bolinhas, e, colocadas com
cuidado sobre papel limpo, endurecem em repouso, sem serem mais
líquidas no centro que na superfície, então a proporção é correta.

35 

 
   

VI
Isto feito, toma espírito de vinagre, e nele dissolve um terço de seu
próprio peso de sal amoníaco. Põe neste licor, antes de seu amalgama, o
Mercúrio e o Sol, num vidro de pescoço comprido; depois, deixa ferver
fortemente durante um quarto de hora; retira então tua mistura do vidro, e
põe de lado o licor; aquece um almofariz e tritura forte e cuidadosamente
como já vimos, a composição, depois, retira todo o seu negror com água
quente. Recoloca-a no mesmo licor, ferve-a de novo no mesmo vidro, tritura
de novo fortemente, e lava-a.

VII
Recomeça esta operação até que te seja muito difícil retirara qualquer
cor do amalgama; então ele será tão claro quanto a mais pura prata e da
brancura fulgurante do melhor polimento. Examina bem a temperatura da
composição e cuida que ela esteja exatamente de acordo com as regras
que dei; senão lava-a a corretas proporções e procede como indiquei mais
acima. É um trabalho difícil, mas vê-lo-ás recompensado pelos sinais que
aparecerão na obra.

VIII
Enfim, ferve teu composto na água pura, procedendo as diversas
decantações, até que toda a salinidade e acrimônia tenham sido retiradas.
Então, retira a água e faz secar o amalgama, o que será bem rápido. Para
estar bem certo (muita água estraga a obra, pois o vapor pode partir vosso
vaso, mesmo se for grande), revolve-o coma ponta de uma faca sobre um
papel limpo, deslocando-o até que tudo esteja perfeitamente seco. Procede
então como vou indicar-te.

CAPÍTULO XVII
DAS PROPORÇÕES DO VASO, DE SUA FORMA, DE SUA MATÉRIA E A
MANEIRA DE FECHÁ-LO.

I
Toma um vidro oval e arredondado, bastante grande para conter em
sua esfera uma onça de água destilada no máximo, e não menos, se
possível: deve-se tentar se aproximar bastante desta medida. O vidro deve
ter um pescoço de um palmo ou dez dedos de altura, ser bem claro e
espesso; quanto mais espesso for, melhor será, desde que possas
36 

 
   

distinguir as ações que se desencadearão dentro dele. Ele não deve ser
mais espesso num ponto que no outro.

II
Coloca neste vidro uma meia onça de ouro com uma onça de
Mercúrio; e se adicionas o triplo de Mercúrio, todo o composto não deve
exceder duas onças: tal é a proporção requerida. Se o vidro não é espesso,
não conseguirá resistir ao fogo, porque os ventos que são formados no
vaso por nosso Embrião, quebra-lo-ão. Deve-se selar o vidro no alto com
muito cuidado e prudência, que não haja a menor fenda, nem o menor
orifício, senão a obra perecerá.

III
Assim vês que a obra, em seus princípios materiais, não ultrapassa o
preço de três ducados ou três florins de ouro; mesmo a fabricação de uma
libra de nossa água só custa duas coroas. Certamente reconheço que são
necessários alguns instrumentos, mas não são muito caros, e se
possuísses meu aparelho de destilação, não precisarias desses vidros que
se partem facilmente.

IV
Encontram-se , mesmo assim, pessoas que imaginam que toda a
despesa pouco excede um ducado; pode-se responder-lhes que isso prova
que jamais realizaram praticamente a obra até o fim. Pois há outras coisas
necessárias à obra, e que custam dinheiro. Mas aqueles, apoiando-se nos
filósofos, pretendem que tudo o que é caro em nossa obra é enganoso.
Respondo-lhes: o que é a nossa obra? Fazer a pedra? Sim, é a obra final,
mas a verdadeira obra é encontrar a umidade na qual o ouro se liquefaz
como o gelo na água tépida: encontrar isso é nossa obra.

V
Muitos se empenham em procurar o Mercúrio do Sol, outros, o
Mercúrio da Lua; mas em vão. Pois nesta obra é enganoso tudo o que
custa caro. Afirmo que é possível, com um florim, comprar tanto do
princípio material de nossa água quanto o necessário para animar duas
libras inteiras de Mercúrio, a fim de com ele fazer o real Mercúrio dos
Sábios, que com tanto ardor se procura. Com ele fazemos um Sol que,
assim que é perfeito, tem mais valor para o artista do que tivesse sido
37 

 
   

comprado ao preço do ouro mais puro, pois resiste também a toda prova, e
é o melhor dentre todos para a nossa obra.

VI
Aliás os vasos de vidro ou de terra, os carvões, os vasos e os
instrumentos de ferro não se dão por nada. Que os Sofistas cessem de vez
seus murmúrios, suas falácias despudoradas, que a tanto seduzem. Sem
nosso corpo perfeito, nossa descendência de Vênus e de Diana, que é o
ouro puro, não se pode obter tintura permanente. E nossa pedra, por um
lado, quanto ao seu nascimento, é vil, imatura e volátil; por outro, é perfeita,
preciosa, e fixa: as espécies do corpo e do espírito são do Sol e a Lua, o
ouro e o Mercúrio.

CAPÍTULO XVIII
DO ATANOR OU FORNO FILOSÓFICO

I
Falou-se do Mercúrio, de sua preparação, e de sua virtude; do enxofre
igualmente, de sua necessidade e de seu emprego em nossa obra. Indiquei
como se deveria prepará-los e ensinei como misturá-los juntos. Também
muito falei do vaso onde deveriam ser selados. Mas previno-te que tudo
isso se deve compreender com uma pitada de sal, receando que, tudo
tomado literalmente, não ocorra te enganares freqüentemente.

II
Expliquei, efetivamente, com inusitada clareza essas sutilezas
filosóficas; mas se não suspeitaste das numerosas metáforas contidas nos
precedente capítulos, não recolherás outra colheita senão a da perda de
tempo, da despesa e da fatiga. Por exemplo, quando disse sem nenhuma
ambigüidade que um dos princípios era o Mercúrio e o outro o Sol, que um
se vendia comumente, e que o outro deveria ser fabricado por nossa arte,
se não sabes qual é o ultimo, ignoras o sujeito de nossos segredos; mas
podes, em seu lugar, trabalhar com o Sol vulgar; cuidando para bem
compreender o que digo, porque nosso Sol é um ouro de qualidade que
resiste a todo exame, e por isso pode ser vendido (uma vez reduzido a
metal) sem escrúpulo.

III
38 

 
   

Nosso Ouro não poderia, no entanto, ser comprado, a qualquer preço


que seja, mesmo que por ele quisesses dar uma coroa ou um reino, pois é
"um dom de Deus". Nosso Ouro não podemos obter em sua perfeição ( ao
menos comumente) porque, para que seja o nosso, é necessária a nossa
arte. Podes também, procurando bem, encontrar nosso Sol e a Lua vulgar.
Pois nosso Ouro é a matéria mais próxima de nossa pedra, o Sol e a Lua
vulgares são dela matéria próxima, e todos os outros metais, matéria
afastada, e até mesmo estranha.

IV
Eu mesmo procurei e encontrei-o no Sol e na Lua vulgares, mas fazer
a pedra a partir de nossa matéria é trabalho bem mais fácil que extrair
nossa verdadeira matéria de não importa qual metal vulgar. Nosso Ouro ,
realmente, é um Chaos cuja alma não é afugentada pelo fogo, enquanto
que o ouro vulgar é um corpo cuja alma deve, para estar ao abrigo da força
tirânica do fogo, se refugiar num lugar bem fortificado. É o que faz dizer aos
Filósofos que o fogo de Vulcano é a morte artificial dos metais porque todos
aqueles que sofreram a fusão, nela perderam a vida. Então, se sabes
praticar habilmente esta fusão, quer de seu corpo imperfeito, quer do
Dragão ígneo, não precisas qualquer outra chave para nossos arcanos.

V
Mas se procuras nosso Sol numa substancia intermediária entre o
perfeito e o imperfeito, podes encontrá-lo; dissolve então o corpo do Sol
vulgar, o que é um trabalho de Hércules e que é chamado nossa primeira
preparação, pela qual é afastado o encantamento que atava este corpo e o
impedia de exercer seu papel de macho. Se segues a primeira via, deves
empregar um fogo muito suave, do começo ao fim; mas seguindo a
Segunda, deves implorar o socorro do tórrido Vulcano, isto é, precisas
aplicar o mesmo fogo que nos administramos na multiplicação, quando o
Sol corporal ou a Lua vulgar servem de fermento ao Elixir para perfazê-lo.
Isto será para ti verdadeiro labirinto, donde só sairás se agires com
sabedoria.

VI
Qualquer que seja o procedimento que sigas, seja com o Sol vulgar,
quer com o nosso, deverás operar com um calor igual e contínuo. Sabe
também que teu Mercúrio, nas duas obras, se bem que sejam radicalmente
39 

 
   

um, é diferente em sua preparação; e tua pedra, com o nosso ouro, é


completada dois ou três meses antes que nossa matéria primeira tenha
sido extraída do Sol e da Lua vulgares; e o elixir de um será o primeiro grau
de sua perfeição e de virtude muito maior que da outra, na terceira rotação
da roda.

VII
Ademais, se trabalhas com nosso Sol, farás a cibação , e embebição e
a fermentação, que farão crescer sua força ao infinito; na outra obra,
precisas antes iluminá-la e inseri-lo como o "Grande Rosário" o explica
abundantemente.

VIII
Enfim, se trabalha com nosso Ouro, podes calcinar, putrefazer e
purificar por um fogo de natureza muito suave, interno, com a ajuda exterior
de um banho vaporoso como o do esterco. Mas se trabalhas com o Sol
vulgar, é preciso por sublimação e ebulição adaptar certas matérias, e
depois uni-la ao leite da Virgem. Mas por qualquer caminho que sigas, não
poderás chegar a nada sem fogo. Não é pois em vão que o verídico
Hermes estabeleceu, ao lado do Sol que faz o papel de pai e da Lua, a
mãe, o fogo, como o terceiro governador de tudo. Mas isto deve ser
compreendido em relação ao forno verdadeiramente secreto, que nenhum
olho vulgar jamais viu.

IX
Há, não obstante, outro forno, que chamamos o forno comum, que é
nosso Henrique, O Lento (Henricus Lentus) , feito de tijolos ou de argila ou
de laminas de ferro e bronze bem unidas com argila: chamamos este forno
de Athanor, cuja forma, uma torre com um ninho, agrada-me bastante. Esta
torre deve Ter aproximadamente dois pés, ou pouco mais , de altura; nove
polegadas, ou um palmo comum, de diâmetro interno, entre as lâminas,
aproximadamente duas polegadas de espessura, em baixo, de cada lado; a
parte baixa contendo o fogo, feita de argila, será mais espessa que a parte
superior, mas as concordâncias devem ser lisas, e espessuras diminuindo
insensivelmente; deve Ter uma altura de sete a oito polegadas.

X
Acima do solo, ou dos alicerces, uma pequena porta, para retirar as
40 

 
   

cinzas, de três ou quatro polegadas de altura, ou pouco mais; que aí se


coloque uma pequena grelha, com uma pedra que se adaptará um pouco
acima da grelha, à altura de uma polegada, haverá dois buracos para
permitir acesso ao ninho, completamente fechado alhures e soldado ao
flanco da torre. Os buracos terão um diâmetro aproximado de uma
polegada, o ninho uma capacidade de três a quatro ovos de vidro, mas não
mais. A torre e o ninho não devem comportar a menor fissura; o ninho não
pode estar abaixo da plataforma, mas o fogo pode tocar diretamente a
plataforma e sair por dois, três ou quatro buracos. O ninho deve Ter uma
tampa com uma pequena janela, na qual possa caber um vidro de
aproximadamente um pé de altura, ou então que se coloque no topo.

XI
Estando tudo destarte assim disposto, colocar o forno num lugar
iluminado; introduzir carvões pelo alto, inicialmente, carvões ardentes,
depois outros, enfim, para que nenhum acesso se abra para o ar, fechar o
topo com a tampa, que se consolidará com cinzas peneiradas. Num tal
forno poderás levar a bom termo a obra, do começo ao fim.

XII
Mas, se és curioso, podes descobrir outros meios para administrar o
fogo adequado. Mas dispõe o Athanor de modo que, sem deslocar o vidro,
possas aplicar a teu talante não importa que grau de calor, desde o calor da
febre até o de um pequeno revérbero, ou o fogo de um rubro sombrio, a fim
de que, mesmo neste grau muito elevado, o fogo possa durar por si mesmo
durante ao menos oito ou dez horas, sem que tenhas de adicionar carvão;
uma queima mais rápida exigiria demasiado trabalho depois. Agora, abre-
se para ti a primeira porta.

XIII
Mas, quando estiveres de posse da pedra, preferirás tornar este forno
portátil ( como eu mesmo fiz), porque pode ser deslocado facilmente, e as
outras operações não são tão difíceis nem tão complicadas; exigem muito
pouco tempo, e não há necessidade de um grande forno que seria de
transporte dificultoso, mesmo se, com o hábito,, possas construi-lo mais
depressa, e alimentar com carvões, com menos fumaça, durante o espaço
de talvez uma semana, no máximo duas ou três, durante o tempo de
multiplicação.
41 

 
   

CAPÍTULO XIX
DO PROGRESSO DA OBRA DURANTE OS QUARENTA PRIMEIROS
DIAS

I
Nosso Mercúrio e nosso Sol, uma vez preparados, encerra-os em
nosso vaso e rege-os com nosso fogo; e em quarenta dias verás toda a
matéria convertida numa sombra, ou em átomos, sem nenhum motor ou
movimento visíveis, nem calor perceptível ao tato, exceto por estar a
matéria quente.

II
Mas se o mistério de nosso Sol e de nosso Mercúrio te continua
oculto, não prossegue o trabalho; seria para ti apenas despesa inútil. No
entanto, se ainda não conheces em toda a extensão o processo da
invenção de nosso Ouro, mas se adquiriste a ciência de nosso Mercúrio,
sabendo após qual preparação ele deve ser unido ao corpo perfeito, que é
grande mistério, então toma uma parte de Sol vulgar bem purificado, e três
partes de nosso Mercúrio já iluminado; com eles, faz uma mistura, como se
disse mais acima, e coloca-os sobre o fogo, dando-lhes calor bastante para
fazê-lo ferver e suar; que circule sem descontinuidade, dia e noite, durante
noventa dias e outras tantas noites, e verás que este Mercúrio terá
separado e de novo reunido todos os elementos do Sol vulgar; depois, faz
ferver ainda cinqüenta dias, e verás durante esta operação teu Sol vulgar
transformado em nosso Sol, que é medicina de primeira ordem.

III
Será então, o nosso enxofre a surgir; mas ainda não oferecerá tintura.
E crê-me, esta é a via que seguiram muitos Filósofos, e encontraram a
verdade; é um método muito trabalhoso, feito para os ricos e poderosos da
terra, porque, uma vez obtido o enxofre, não pensa já Ter a pedra, mas
apenas a sua verdadeira matéria, coisa imperfeita que podes procurar e
encontrar em uma semana por nossa Via, via fácil e rara, que Deus
reservou para seus pobres desdenhados e seus santos desprezados.

IV
Decidi falar-vos demoradamente deste método, se bem que ao
42 

 
   

começar o livro, tivesse resolvido escondê-lo sob profundo silencio. É o


maior Sofisma de todos os Adeptos: uns falam do ouro e da prata vulgares,
e falam com justeza; outros negam a mesma coisa, e dizem também a
verdade. Movido pela caridade, estender-te-ei mão segura e interpelo todos
os Adeptos e os acuso de ciúme. Eu também decidira seguir o caminho do
ciúme, mas Deus desviou-me de meu desígnio: que por isto seja
eternamente louvado!

V
Digo então que ambas as vias são verdadeiras, porque ao fim, são a
mesma via, se bem que no começo sejam diferentes. Pois todo o nosso
segredo se encontra em nosso Mercúrio e nosso Sol. Nosso Mercúrio é
nossa via, e sem ele nada se fará; igualmente, nosso Sol não é o ouro do
vulgo, porém, no ouro vulgar se encontra nosso Sol, se não, como os
metais seriam homogêneos?

VI
Se, pois, conheces o método para iluminar nosso Mercúrio como
necessário, poderás uni-lo ao ouro vulgar em vez de nosso Sol ( nota
porém que a preparação do Mercúrio deve ser diferente segundo o ouro
utilizado). Com o regime conveniente, obterás nosso Sol após cento e
cinqüenta dias: com efeito, ele provém naturalmente do Mercúrio.

VII
Se os elementos do ouro vulgar são dispensados por nosso Mercúrio
e são novamente reunidos, a mistura inteira , graças à ação do fogo, se
tornará nosso Ouro; unido em seguida ao Mercúrio que preparamos e que
chamamos nosso leite da Virgem, este ouro cozido seguramente te dará
todos os sinais descritos pelos Filósofos, na condição de que o fogo seja
aquele que indicaram.

VIII
Mas, se nossa decocção de ouro vulgar ( por mais puro que seja)
unes o mesmo Mercúrio que usualmente se junta ao nosso Ouro, se bem
que, para falar genericamente, são oriundos da mesma fonte, e se lhe
aplicas o mesmo regime de calor que os Sábios dizem em seus livros ter
aplicado a nossa pedra, estás indubitavelmente no caminho do erro: é o
grande labirinto onde caem quase todos os iniciantes, porque todos os
43 

 
   

Filósofos, em seus livros, falam de duas vias, que são realmente a mesma
fundamentalmente, mas uma é mais direta que a outra.

IX
Aqueles que falam do Sol vulgar, como o faço às vezes neste
pequeno tratado, e como o fizeram Artephius, Flamel, Ripley e muitos
outros, devem ser assim entendidos: que o Sol filosófico deve ser feito do
Sol vulgar e de nosso Mercúrio, e que este Sol, por uma liquefação
reiterada, dará um enxofre e um Mercúrio fixo, incombustível e fornecendo
uma tintura à toda a prova.

X
Semelhante, e consoante esta maneira de compreender, nossa pedra
existe em todos os metais e minerais, porque se pode, por exemplo, extrair
destes o Sol vulgar, donde se tira facilmente nosso Sol próximo: quero dizer
que nosso Sol se encontra em todos os metais vulgares, mas que está
mais próximo no ouro e na prata. É por isso, diz Flamel, que alguns
trabalham em Júpiter, outros em Saturno; mas quanto a mim, trabalhei com
o Sol e encontrei-o nele.

XI
Há, porem, no reino metálico algo de origem maravilhosa, na qual
nosso Sol está mais próximo que no Sol e na Lua vulgares, se o procuras a
hora de seu nascimento; isso funde em nosso Mercúrio, como o gelo na
água morna, mas isso se assemelha de certa forma ao ouro. Isto não
aparece na manifestação do Sol vulgar, mas, pela revelação do que está
escondido em nosso Mercúrio, esta mesma coisa pode ser encontrada
após uma digestão de cento e cinqüenta dias neste Mercúrio; eis aí nosso
ouro, procurado pela via mais longa, e ainda não tão forte quanto o que a
natureza nos deu.

XII
Pela terceira rotação da roda, encontrarás o mesmo nos dois, com a
diferença de que no primeiro o encontrarás em sete meses, ao passo que
precisarás um ano e meio, senão dois, para encontrá-lo no segundo.
Conheço as duas vias, mas aconselho a primeira como a mais fácil para
todas as pessoas engenhosas; mas indiquei a mais penosa para não atrair
sobre minha cabeça o anátema de todos os Sábios.
44 

 
   

XIII
Sabe então que esta é a única dificuldade que se experimenta com a
leitura dos livros dos homens mais sinceros: provém de que todos dão
variantes a propósito de um só regime. E quando falam de uma operação,
prescrevem o regime de outra; fiquei longamente embaraçado, antes de me
desembaraçar das malhas desta rede. Assim, declaro que o calor deve ser
em nossa obra o mais suave possível para a natureza, se bem
compreendestes isto.

XIV
Se trabalhas com o Sol vulgar , esta obra não é propriamente nossa
Obra, mas a ela leva diretamente, a seu tempo. É preciso, no entanto, uma
cocção muito forte e um fogo proporcionado; depois deve-se prosseguir
com um fogo muito suave, com o nosso Athanor de torre, que acho
realmente digno de elogios.

XV
Portanto, se trabalhaste com o Sol, vulgar, cuida de realizar o
casamento de Diana e de Vênus no começo das núpcias de teu Mercúrio;
depois coloca-os no ninho, e, com o fogo adequado, verás o quadro
colorido da Grande Obra, a saber: o negro, a cauda de pavão, o branco, o
citrino e o vermelho. Recomeça então esta operação com o Mercúrio, que
se chama o leite da Virgem, dando-lhe o fogo do banho de rocio, e no
máximo o de areia temperada com as cinzas; e verás não somente o negro,
mas o negro mais negro que o negro, e toda a escuridão, bem como o
branco e o rubro perfeito, e isto por um suave proceder. Deus, com efeito,
não estava no fogo, nem no vento, mas sua voz chamou por Elias.

XVI
Se conheces a arte, tira nosso Sol de nosso Mercúrio: então todos os
segredos emergirão duma só imagem, o que, acredita-me, é coisa mais
perfeita que toda perfeição do mundo, segundo o Filosofo que disse: "Se
podes levar a bom termo a obra a partir unicamente do Mercúrio, terás
encontrado a obra mais preciosa de todas". Nesta obra, nada há de
supérfluo; tudo , graças ao Deus vivo, se transforma em pureza, porque a
ação se faz sobre um só sujeito.

45 

 
   

XVII
Se é que começas o trabalho pela obra do Sol vulgar, então a ação e
a paixão se farão em duas coisas, do que só se deve tomar a substancia
média e rejeitar as impurezas. Se meditares profundamente sobre o que
acabo de dizer em algumas palavras, possuirás a alavanca que ergue
todas as contradições aparentes dos filósofos. Por isso que Ripley ensina a
fazer girara roda três vezes, no "Capítulo da Calcinação", onde fala
expressamente do Sol vulgar; sua tripla doutrina das proporções concorda
com estas proporções, aonde, aliás, é muito misterioso, porque estas três
proporções servem a três operações.

XVIII
Há uma secretíssima operação, se bem que puramente natural, que
se faz em nosso Mercúrio com nosso Sol, e é a esta obra que se devem
atribuir todos os sinais descritos pelos sábios. Esta obra não se realiza com
o fogo, nem com as mãos, mas somente com um calor interior: o calor
exterior apenas repele o frio e vence seus sintomas.

XIX
Há uma segunda operação, no Sol vulgar e nosso Mercúrio, que se
faz com um fogo ardente, durante muito tempo em que um e outro
cozinham, por intermédio de Vênus, até que a pura substancia de um e de
outro seja expressa, o que é o suco da Lunária. É recolhido, após se ter
retirado as impurezas. Não é ainda a pedra, mas o nosso verdadeiro
enxofre, que se deve cozer mais ainda com nosso Mercúrio, que é seu
próprio sangue, até que se torne uma pedra de fogo, muito penetrante e
tintorial.

XX
Há, por fim, terceira operação , mista, que se faz misturando ouro
vulgar e nosso Mercúrio, em peso conveniente, e adicionando um fermento
de nosso enxofre em quantidade suficiente. Então se cumprem todos os
milagres do mundo, e se realiza um Elixir capaz de dar a seu possuidor as
riquezas e a saúde.

XXI
Procura pois, com todas as tuas forças, nosso enxofre. Encontraras,
crê, em nosso Mercúrio, se os destinos te chamam (Si te fata vocant) . Se
46 

 
   

não, procura nosso Sol e nossa Lua no Sol vulgar, com o calor e o tempo
que convém; mas esta via é plena de espinhos, e empenhei-me diante de
Deus e a equidade, em nunca dizer claramente, em palavras nuas, dos dois
regimes, distinguindo-os. Mas faço o juramento de que, quanto ao resto,
desvelei toda a verdade.

XXII
Toma então o Mercúrio que descrevi, e junta-o ao Sol, seu grande
amigo; e após sete meses, ou nove, ou dez, no máximo, de nosso regime
de calor, obterás certamente o que desejas. Mas ao cabo de cinco meses
verás nossa Lua cheia. E são estes os verdadeiros termos necessários
para conseguir esses enxofres cuja cocção reiterada te dará nossa pedra e
as tinturas, com a graça de Deus, a quem toda a glória e toda a honra
sejam dedicadas eternamente.

CAPÍTULO XX
DA CHEGADA DO NEGROR NA OBRA DO SOL E DA LUA

I
Se trabalhaste o Sol e Lua para neles procurar nosso enxofre,
examina se tua matéria está inchada como a massa de pão, fervente como
a água, ou antes, como piche fundido. Porque nosso Sol e nosso Mercúrio
têm uma imagem emblemática na obra do Sol vulgar com nosso Mercúrio.
Com teu forno aceso com fogo vivo, espera vinte dias, tempo durante a
qual observarás diversas cores; pelo fim da Quarta semana, ou menos, se
o calor foi bem contínuo, verás um verdor agradável que não desaparecerá
antes de dez dias aproximadamente.

II
Então regozija-te, porque certamente, em breve, verás tudo negro
como carvão, e todos os membros de teu composto serão reduzidos a
átomos. Esta operação, de fato, nada mais é que a resolução do fixo no
não fixo, a fim de que um e outro, conjugados a seguir, não sejam mais que
uma única matéria, em parte espiritual, e em parte corporal. Por isso o
Filósofo diz: "Toma um cão de Corascena, e uma pequena cadela da
Armênia, acasala-os, e engendrar-te-ão um filho da cor do céu". Porque
estas naturezas, após uma breve decocção, se transforma num caldo
semelhante à escuma do mar ou uma bruma espessa tinta de cor lívida.
47 

 
   

III
E juro-te pela fé prometida que nada escondi, exceto o regime; mas se
és um sábio, deduzirás mui facilmente qual, das minhas palavras. Se então
queres conhecê-lo bem, toma a pedra que falei acima, conduz a operação
como sabes, e resultarão as seguintes coisas notáveis: primeiramente,
desde que a pedra tenha sentido o fogo que lhe é adequado, o enxofre e o
Mercúrio escoarão juntos sobre o fogo, como a cera; o enxofre queimará e
mudará de cor a cada dia; o Mercúrio, por sua vez, permanecerá
incombustível, sendo por algum tempo tingido com as cores do enxofre,
mas não será impregnado, e lavará completamente o latão de todas as
suas impurezas. Envia o céu sobre a terra tantas as vezes quantas
necessárias, até que aterra tenha recebido natureza celeste. Ó santa
natureza, que sozinha cumpres o que é impossível a qualquer homem!

IV
Podes estar certo de que a fêmea sofreu os abraços do macho
quando tiveres visto em teu vidro as naturezas se misturarem, como um
sangue coagulado e queimado. Espera então dezessete dias após a
primeira dessecação de tua matéria, quando as duas naturezas se
transformam num caldo grosso; circularão juntas, tal como bruma espessa
ou escuma do Mar, como se disse, cuja cor será muito obscura. Então crê
firmemente que a progênie real foi concebida, porque, a partir deste
momento, observarás no fogo, e sobre as paredes do vaso, vapores
verdes, amarelos, negros e azuis. São ventos, freqüentes durante a
formação de nosso embrião, e deve-se retê-los com cuidado, para que não
se escapem, e que se reduza a obra a nada.

V
Atenta também para o odor, que por acaso se exale por qualquer
fissura , pois a força da pedra sofreria dano considerável; por isso o
Filósofo ordena conservar zelosamente o vaso com seu fechamento; e
previno-te que não se deve interromper o obra, nem mover o vaso sem
abri-lo, nem cessar o cozimento em nenhum instante; mas continua a cozer
até que vejas o humor consumido, o que se produzirá ao fim de trinta dias;
então, alegra-te, e asseguro estares no bom caminho.

VI
48 

 
   

Vela sobre tua obra, porque talvez duas semanas após este momento,
verás toda atua terra seca e extraordinariamente negra. Então, ocorre a
morte do composto: os ventos cessam e todas as coisas se abandonam ao
repouso. Será o grande eclipse do Sol e da Lua durante a qual nenhuma
das luminárias iluminará a terra e desaparecerá o mar. Então será perfeito
o nosso Chaos: ao comando de Deus nascerão todos os milagres do
mundo, na ordem que lhes é própria.

CAPÍTULO XXI
DA COMBUSTÃO DAS FLORES E DO MEIO DE EVITÁ-LA

I
Não é erro leve, mas é cometido facilmente, a combustão das flores
antes que as naturezas ainda frágeis sejam complemente extraídas das
profundezas em que se encontram. Este erro deve ser particularmente
evitado, após a terceira semana. Realmente, no início há uma tal
quantidade de humor que, se conduzes a obra com um fogo mais forte do
que o necessário. O vaso frágil não suportará a abundância dos ventos e
se partirá logo, a menos que por acaso, teu vaso seja muito grande; mas
então, o humor será de tal modo disperso, que não retornará sobre seu
corpo, ao menos não o suficiente para restaurá-lo.

II
Mas assim que a terra tiver começado a reter uma parte de sua água,
e como agora não há mais quase vapores, o fogo poderá ser aumentado
sem nenhum inconveniente ara o vaso; mas a obra será estragada, e
mostrará uma cor de papoula silvestre, e ao fim, todo o composto se
tornará um pó seco, inutilmente rubificado. Julgarás, por este justo sinal,
que o fogo foi muito forte, a ponto de ter sido contrário à verdadeira
conjunção.

III
Sabe que nossa obra exige uma verdadeira mutação das naturezas,
que só pode ser feita se união de uma e outra for total. Mas elas só podem
se unir sob a forma da água. Pois não há união dos corpos, mas um
choque, longe de que possa haver união de um corpo e de um espírito
graças às partículas mínimas; mas os espíritos poderão bem unir-se entre
eles. Por isso é necessária a água homogênea dos metais, à qual se
49 

 
   

prepara o caminho por uma calcinação prévia.

IV
Logo, esta dessecação não é verdadeiramente dessecação, mas a
redução a átomos sutilíssimos, graças ao crivo da natureza, da água
misturada à terra; a água exige esta redução, para que aterra receba o
fermento transmutativo da água. Mas com o calor mais violento que
convém, esta natureza espiritual, tendo sido como que mortalmente
golpeada com um malho, o ativo se torna passivo e o espiritual, corporal,
quer dizer, um precipitado rubro inútil; enquanto que o calor conveniente
proporcionaria cor negra como a do corvo, por certo, triste cor, mas
altamente desejável.

V
Vê-se entretanto, no começo da verdadeira obra, uma cor vermelha
muito pronunciada; mas provém duma abundância conveniente de humor,
e mostra que o céu e a terra estão unidos e conceberam o fogo natural; por
isso todo o interior do vidro será tingido de cor dourado; mas esta cor não
durará, e logo nascerá o verde, deve-se agora esperar um pouco o negro,
mas sendo paciente, verá teus votos cumpridos; apressa-te lentamente,
continua porém a aplicar um fogo forte e, entre Sila e Caribe, como piloto
experimentado, dirige teu navio, se desejas recolher as riquezas de uma e
outra das Índias.

VI
De tempos em tempos, verás como que ilhotas, espigas, ramalhetes
de diversas cores aparecendo sobre as águas e sobre os flancos do vaso;
dissolver-se-ão rapidamente e outros surgirão. A terra, de fato, ávida de
germinação, produz sempre algo: pensarás, às vezes, perceber no vidro
pássaros, animais, répteis, e cores agradáveis de se ver, mas efêmeras.

VII
Continua-se ininterruptamente o fogo conveniente e todos estes
fenômenos terminarão antes do qüinquagésimo dia num pó de nigérrima
cor. Senão, o erro se deverá a teu Mercúrio, ou a teu regime, ou à
disposição de tua matéria, a menos que, por acaso, tenhas deslocado ou
agitado fortemente o vidro, o que pode dilatar o prazo da obra, ou até
mesmo, perdê-la.
50 

 
   

CAPÍTULO XXII
O REGIME DE SATURNO, O QUE É, E POR QUE É ASSIM CHAMADO.

I
Todos os Magos que escreveram sobre este trabalho filosófico falaram
da obra e do regime de Saturno; muitos compreenderam-no parcialmente e
foram lançados em diversos erros, alguns, por causa de seus preconceitos,
outros, por cauda da excessiva confiança nesses escritos; trabalharam com
o chumbo, mas com pouco sucesso. Sabe, não obstante, que nosso
chumbo é mais precioso que qualquer ouro; é o limo onde a alma do ouro
está unida com o Mercúrio para gerar em seguida Adão e Eva, sua esposa.

II
Por isso ele, o maior, humilhou-se a ponto de assumir o último lugar; é
preciso que espere a redenção de todos os seus irmãos em seu sangue.
Assim a tumba em que nosso rei está enterrado é chamada Saturno em
nossa obra, e a chave da obra de transmutação. Feliz aquele que pode
saudar este planeta de lento caminhar! Roga a Deus, meu irmão, que ele te
julgue digno desta bênção, porque ela depende não daquele que a busca,
ou deseja, mas unicamente do Pai das Luzes.

CAPÍTULO XXIII
DOS DIFERENTES REGIMES DESTA OBRA.

I
Estejas certo, tu, aprendiz estudioso, de que toda a obra da pedra só o
regime é oculto, do qual o filósofo disse a verdade, daquele que tiver seu
conhecimento científico, de que será honrado pelos princípios e os
poderosos da terra. E juro-te, com toda a sinceridade, que apenas isto
fosse claramente exposto, mesmo os imbecis mofariam da Arte.

II
Pois, uma vez conhecido, tudo é apenas trabalho de mulheres, jogo
de crianças: basta fazer cozer. Causa de os Sábios terem com grande
artifício escondido este segredo, e estejas certo de que também o fiz, se
bem que tenha parecido falar d grau do calor; mas, como propus e mesmo
prometi escrever com franqueza neste pequeno tratado, devo ao menos
51 

 
   

algo fazer para não decepcionar a esperança e o trabalho dos leitores


estudiosos.

III
Sabe, pois, que nosso regime é único e linear em toda a obra: trata-se
de cozinhar e digerir. Porém, este regime único contém muitos outros em si
mesmo, que os invejosos esconderam sobre variegados nomes e
descreveram como operações diferentes. Eu me manifestarei mais
claramente o candor que prometi, o que chamarias uma lhaneza inusitada
de minha parte sobre este assunto.

CAPÍTULO XXIV
DO PRIMEIRO REGIME DA OBRA, QUE É O DO MERCÚRIO.

I
Logo de inicio falar-te-ei do regime do Mercúrio, segredo jamais
tratado por nenhum Sábio; começaram, por exemplo, pela Segunda obra,
quer dizer, o regime de Saturno, e não mostraram ao principiante nenhuma
luz antes do sinal essencial do negror. Sobre este ponto silenciou o bom
conde Bernard Trévisan, que ensina em suas parábolas que o Rei, quando
vem à fonte, tendo deixado afastados todos os estrangeiros, entra só no
banho, vestido com um hábito dourado, que retira e envia a Saturno, do
qual recebe um hábito de seda negra. Mas ele não diz quanto tempo passa
antes de deixar este hábito de ouro e emudece sobre todo o regime de
talvez quarenta, ou mesmo por vezes, cinqüenta dias; e durante esse
tempo, privados de guia, os infelizes principiantes entregam a experiências
temerárias. Claro, depois da chegada do negror até o fim da obra, o artista
é a cada dia confortado pelos novos sinais que aparecem, mas reconheço
ser embaraçoso errar durante cinqüenta dias sem guia, sem dedicação e
sem garantia.

II
Digo que todo o intervalo de tempo desde a primeira ignição até o
negror é o regime do Mercúrio; do Mercúrio filosófico, que opera só durante
todo este tempo, seu companheiro permanecendo morto até o momento
propício. E isto, ninguém revelou antes de mim.

III
52 

 
   

Assim, uma vez os materiais conjugados, que são nosso Sol e nosso
Mercúrio, não crê, como os alquimistas vulgares que o pôr do sol logo
chegará. Certamente que não. Esperei muitíssimo antes que houvesse a
paz entre a água e o fogo, o que os ciumentos brevemente indicaram
quando chamaram, na primeira obra, sua matéria de "REBIS", quer dizer,
uma coisa composta de duas substancias, segundo o poeta:

"Rebis é coisa única, composta de duas,


Ambas formando coisa una,
Dissolve-se para que em Sol ou Luna
Os Espermas sejam mudados, princípios das duas."

IV
Estejas bem certo de que, se bem que nosso Mercúrio devora o Sol,
não é da maneira que pensam os Químicos Filosofistas. Porque, mesmo se
o unes ao nosso Mercúrio, após uma espera de um ano recuperarás o Sol
intacto e em plena posse de sua virtude primeva, se não o fizeste cozinhar
ao grau conveniente de calor. Quem o contrario afirmar, Filósofo não pode
ser.

V
Aqueles no caminho do erro crêem que dissolver os corpos é uma
operação tão fácil que imaginam que o ouro imerso no Mercúrio dos Sábios
deve ser devorado num piscar de olhos, compreendendo mal a passagem
do conde Bernard Trévisan, onde fala de seu livro de ouro mergulhado na
fonte e que ele não pode recuperar. Mas aqueles que penaram com a
dissolução dos corpos podem atestar a verdadeira dificuldade desta
operação. Eu mesmo, por Ter sido freqüentemente testemunha ocular,
certifico que é preciso grande sutileza para controlar o fogo, após a
preparação da matéria, de modo a dissolver os corpos sem queimar suas
tinturas.

VI
Em conseqüência, atenta para a minha doutrina. Toma o corpo que te
indiquei e coloca-o na água de nosso mar, e cozinha-o ao fogo contínuo
conveniente até que subam o rocio e as nuvens e que recaiam em
gotículas, dia e noite, sem interrupção. E sabe que por esta circulação o
Mercúrio sobe em sua natureza primeira, ate que, muito depois, o corpo
53 

 
   

comece a reter um pouco d’água: e assim comunicam-se mutuamente suas


qualidades

VII
Mas, como nem toda a água sobe pela sublimação e permanecendo
sempre uma parte com o corpo no fundo do vaso, o corpo é continuamente
fervido e filtrado nesta água, ao passo que as gotas que recaem penetram
a massa residual; e a água é tornada mais sutil por esta circulação continua
e , enfim, extrai suavemente, delicadamente, a alma do Sol.

VII
Assim por intermédio desta alma, o espírito é reconciliado com o corpo
e a união de um e outro é realizada na cor negra, ao fim de no máximo,
cinqüenta dias. Esta operação chama-se regime do Mercúrio, porque
circula elevando-se, enquanto nele se embebe o corpo do Sol, embaixo: e
este corpo, na operação, é passível até a aparição das cores; sobrevem
discretamente após mais ou menos vinte dias de ebulição conveniente e
contínua; por conseguinte, estas cores se reforçam, e multiplicam, variando
até a perfeição no negror nigérrimo, que o qüinquagésimo dia te dará, se
tiveres sorte

CAPÍTULO XXV
DO SEGUNDO REGIME DA OBRA, QUE É DE SATURNO

I
Terminado o regime de Mercúrio, cuja obra é despojar o rei de sua
vestimentas de ouro, de fatigar o leão por muitos combates e atormentá-lo
até a última lassidão, então aparece o regime de Saturno. Realmente,
DEUS quer, para levar a bom termo a obra encetada, e é a lei deste
espetáculo, que saída de um regime seja a entrada de outro, a morte de
um, o nascimento de outro; apenas tenha Mercúrio terminado seu reinado,
entra seu sucessor, Saturno, que ocupa o nível mais alto, depois daquele.
O leão morrendo, nasce o corvo.

II
Este regime é igualmente linear no que concerne à cor, o negro
nigérrimo. Mas, não se vê fumaça, nem vento, nem nenhum sintoma de
vida, mas ora o composto está seco, ora assemelha-se ao piche fundido. Ó
54 

 
   

triste espetáculo, imagem da morte eterna, mas que mensageiro agradável


ao artista! Pois não é uma negrura ordinária, mas brilhante, mais que o
negro mais intenso. E assim que vires a matéria, no fundo do vidro, inflar-se
como a massa de pão, jubila-te: é que o espírito vivificante aí está
encerrado, e, quando achar conveniente, o Todo Poderoso dará a vida a
esses cadáveres.

III
Tu ao menos toma cuidado com o fogo, que deves aqui conduzir com
julgamento são, e juro-te pela fé empenhada, que se, à força de aumentá-
lo, fazes neste regime sublimar algo, perderás toda a obra, inevitavelmente.
Contenta-se, com o bom Trévisan, em seres mantido na prisão durante
quarenta dias e quarenta noites, e permite à tua frágil matéria permanecer
no fundo, que é o ninho de sua concepção; estejas certo que após o
período determinado pelo Todo Poderoso para esta operação, o espírito
renascerá glorioso e glorificará seu corpo; subirá, asseguro, e circulará,
sem violência; elevar-se-á do centro para os céus, e descerá dos céus para
aterra, recolhendo a força do que está no alto e do que está embaixo.

CAPÍTULO XXVI
DO REGIME DE JÚPITER

I
Ao negro Saturno sucede Júpiter, que é de outra cor. Pois após a
putrefação necessária e a concepção feita no fundo do vaso, pela vontade
de DEUS, verás novamente as cores cambiantes, e uma sublimação
circulante. Este regime não é longo, não dura mais que três semanas.
Durante este tempo, aparecerão todas as cores imagináveis, que não
podem ser notadas precisamente. As chuvas, ao longo destes dias, se
multiplicarão; e ao fim, após tudo isto, uma brancura muito bela de se ver,
em forma de estrias ou cabelos, se mostrará sobre as paredes do vaso.

II
Então rejubila-te, pois cumpriste ditosamente o regime de Júpiter . A
prudência, neste regime, deve ser extrema.
Para os filhotes dos corvos, quando tiverem deixado o ninho, não retornem
a ele.
Igualmente, para não verter a água com tão pouca moderação, que a terra
55 

 
   

que reste seja abandonada, seca e inútil, no fundo do vaso. Terceiramente,


para não irrigar a terra excessivamente, a ponto de sufocá-la. Todos estes
erros, evita-lo-ás com bom regime de calor exterior.

CAPÍTULO XXVII
DO REGIME DA LUA

I
O regime de Júpiter estando completamente terminado, ao fim do
quarto mês verás aparecer o sinal da Lua crescente; e isto, sabe, porque o
regime de Júpiter foi inteiramente consagrado a purificar o latão. O que
purifica é alvíssimo em sua natureza, mas o corpo que ele deve limpar é de
um negro extremamente escuro. Durante este trânsito do negro para a
brancura, distingue-se todas as cores intermediárias; e quando elas
desaparecem tudo torna-se branco, um branco que não é perfeito desde o
primeiro dia, mas passa gradativamente do branco ao alvíssimo.

II
E sabe que neste regime tudo se torna à visão, tão líquido quanto o
azougue, e é o que chama a sigilação da mãe no interior do ventre do
infante que ele engendrou; ver-se-ão neste regime cores variadas, belas,
momentâneas e desaparecendo rapidamente, mas mais próximas do
branco do que do negro, assim como no regime de Júpiter elas
participavam mais do negro que do branco. E sabe que o regime da Lua
será terminado em três semanas.

III
Mas, antes que termine, o composto se revestirá de mil formas. Pois
crescendo os rios antes da coagulação cem vezes por dia; às vezes se
assemelhará a olhos de peixe, por vezes imitará a forma de uma árvore de
prata mui fina com ramos e folhas. Numa palavra, ficarás a cada momento
estupefato de admiração com o que vires.

IV
E finalmente, terás grãos muito brancos, tão finos quanto átomos do
Sol, e mais belos do que qualquer coisa já vista por olho humano. Damos
graças eternas a nosso DEUS, que produziu esta obra. Realmente, é a
verdadeira e perfeita tintura ao branco, se bem que de primeira ordem
56 

 
   

somente, e, por conseguinte, de medíocre virtude em relação à virtude


admirável que adquirirá pela repetição da preparação.

CAPÍTULO XXVIII
DO REGIME DE VÊNUS

I
O mais surpreendente de tudo é que nossa pedra, inteiramente
perfeita e capaz de dar uma tintura perfeita, humilha-se mais uma vez, e
prepara, sem que se lhe dê a mão , uma nova volatilidade. Mas, se a retiras
de seu vaso, a mesma pedra, encerrada num outro, se resfria, e em vão
tentarias levá-la mais adiante. Não posso, e nenhum filósofo antigo, dar-te
razão demonstrativa, senão que tal é a vontade de Deus.

II
Ao menos neste regime cuida de teu fogo, porque a lei da pedra
perfeita é que ela seja fusível: por isso, se intensificas um pouco o fogo, a
matéria se vitrificará e aderirá, fundida, às paredes do vaso, e não mais
poderás progredir. E é essa a vitrificação contra a qual os filósofos tomam
tantas precauções, e que, antes e depois que a obra ao branco seja
perfeita, ocorre ordinariamente aos imprudentes: corre-se este risco desde
o meio do regime da Lua até ao sétimo ou décimo dia do regime de Vênus.

III
Deve-se muito pouco aumentar o fogo, para que o composto não se
vitrifique, quer dizer, que não se liquefaça passivamente como o vidro;
enquanto que com um calor suave liquefar-se-á sozinho, inchará, e pela
vontade de DEUS será dotado de um Espírito que se exaltará e trará
consigo a pedra; e dará novas cores, de início, o verde de Vênus, que
durará bastante, só desaparecendo totalmente ao fim de vinte dias; em
seguida, o azul, e uma cor lívida, depois, ao fim do regime de Vênus, um
púrpura pálido e suave.

IV
Cuida, no decurso desta operação, de não irritar demasiado o espírito,
porque ele é mais corporal do que antes, e se o deixar voar para o alto do
vaso, dificilmente, descerá por si só; é preciso observar a mesma
precaução do regime da Lua. Quando o espírito começar a se espessar,
57 

 
   

então será tratado com delicadeza, sem violência, por medo de que, se
fugir para o alto do vaso, tudo o que esteja no fundo seja queimado, ou ao
menos, se vitrifique, o que destruiria a obra.

V
Quando tiverdes o verdor, sabe que há nele virtude germinativa. Então
desconfia que um calor excessivo possa degenerar o verde em negro, e
controla o fogo com prudência. Este regime será cumprido após quarenta
dias.

CAPÍTULO XXIX
DO REGIME DE MARTE

I
O regime de Vênus terminado, cuja cor é sobretudo verde,
avermelhando-se um pouco com púrpura obscuro, por vezes lívido; durante
este tempo cresceram, na árvore filosófica, ramos de diversas cores, com
ramos e folhas; vem em seguida o regime de Marte, que mostra mais
freqüentemente uma cor amarelada, um amarelo diluído com marrom, e
que exibe gloriosamente as cores efêmeras de Íris e do Pavão.

II
Então, o estado do composto torna-se mais seco, e a matéria toma
formas variadas e fantasmagóricas. É a cor de Jacinto que mais
usualmente aparece, com um pouco de alaranjado. É aqui que a mãe
selada no ventre de seu filho surge e se purifica, e esta pureza, aonde se
banha o composto é tal, que a afasta da podridão. Mas as cores que se
servem de base a todo este regime são suaves; ocorrem, porém de tempos
em tempos, e muito agradáveis de se ver.

III
Sabe que nossa terra virgem sofreu seu último trabalho, para ver
semear e amadurecer nela o fruto do Sol; continua então o calor
conveniente, e estará seguro de ver, pelo trigésimo dia deste regime,
aparecer uma cor citrina que, duas semanas após sua primeira
manifestação, impregnará quase todo composto.

CAPÍTULO XXX
58 

 
   

DO REGIME DO SOL

I
Aproximas-te do fim de tua obra, e quase acabaste teu trabalho. Já
tudo aparece como o mais puro ouro, e o leite da Virgem, com o qual
embebes esta matéria, amarela cada vez mais. Oferece a Deus, doador de
todos os bens, graças eternas, por ter conduzido a obra até aqui, e pede-
lhe dirigir teu julgamento, para que teu zelo não te faça estragar a obra, já
tão perto da perfeição.

II
Considera, pois que esperaste quase sete meses, e seria insensato
reduzir tudo a nada numa só pequena hora. Quanto mais te aproximas da
perfeição mais deves ser prudente. E se procedeste com as precauções
necessárias, eis os sinais que observarás:

Inicialmente, notará sobre o corpo uma espécie de suor cítrico, depois


vapores citrinos que, o corpo se abatendo, se tingirão de violeta, e, de
tempos em tempos, de púrpura obscuro.

Após a espera de quatorze ou quinze dias neste regime do Sol, verás


tua matéria, em maior parte, tornar-se úmida e pesada, o que não a
impedirá de ser carregada no ventre do vento.

Enfim, pelo vigésimo sétimo dia deste regime, ele começará a se


dessecar; então, se liquefará, depois se congelará, e novamente se
liquefará, cem vezes por dia, até que se comece a se tornar granulosa; e
parecerá completamente dissociada em pequenos grãos; depois se
concentrará de novo, e a cada dia se revestirá de formas fantasmagóricas,
sempre renovadas. Isto durará aproximadamente duas semanas.

III
Mas, finalmente, pela vontade de Deus, tua matéria irradiará uma luz
que dificilmente podes conceber. Espera agora pelo fim próximo, que verás
ao fim de três dias, quando a matéria formar grãos como átomos do Sol, e
de uma cor tão intensamente rubra, que ao lado do vermelho mais
brilhante, ela parecerá enegrecer como um sangue puríssimo coagulado; e
jamais terias crido que a arte pudesse criar maravilha semelhante a este
59 

 
   

elixir. Tão extraordinária é esta criatura, que ela não tem par em toda a
natureza, nela nada se encontrando que sequer lhe assemelhe.

CAPÍTULO XXXI
A FERMENTAÇÃO DA PEDRA

I
Recorda-te que já encontraste um enxofre rubro e incombustível, que
não pode ser aperfeiçoado mais por si mesmo, com qualquer fogo que seja;
e atenta bastante, omiti dizer no capítulo precedente, no regime do Sol
citrino, antes da vinda do filho sobrenatural vestido de púrpura tirina, não
vitrifica tua matéria por uma ignição muito violenta; porque então se tornaria
insolúvel, e em conseqüência, não se congelaria em belíssimos átomos,
muito rubros. Sê, pois, muito prudente, para não te privar, por tua culpa, de
um tal tesouro.

II
Não crê, porém, ver aqui o fim de teus trabalhos; precisas ainda
continuar para Ter deste enxofre, a após novo giro da roda, o Elixir. Toma
então três partes do Sol puríssimo e uma parte deste enxofre ígneo (podes
tomar quatro partes do Sol puríssimo e uma parte deste enxofre, mas a
primeira proporção é melhor). Faz fundir o Sol em um crisol próprio, e,
quando estiver fundido, introduz teu enxofre, mas com precaução, para que
não seja prejudicado pela fumaça dos carvões.

III
Faz de sorte que tudo esteja em boa fusão, depois verte numa
lingoteira, e obterás massa friável de belíssimo vermelho, muito intenso,
mas apenas translúcido. Toma uma parte desta massa reduzida em pó fino,
duas partes de teu Mercúrio Filosófico, mistura-os bem, e coloca-os num
vidro, depois, rege o fogo como antes; e em dois meses verás passar todos
os regimes de que falei, pela ordem. É verdadeira fermentação, que podes
recomeçar, se julgares conveniente.

CAPÍTULO XXXII
A EMBEBIÇÃO DA PEDRA

I
60 

 
   

Sei que muitos autores, a propósito desta obra, tomam a fermentação


como o agente interior invisível a que chamam fermento, cuja virtude fugaz
condensa os espíritos tênues sem que seja necessário agir; e quanto ao
nosso proceder da fermentação, chama-o cibação como pão e o leite; tal é
o sentimento de Ripley.

II
Mas, não acostumei a citar outros, tampouco jurar por seus escritos, e
sobre um assunto que conheço tão bem quanto eles, e guardei minha
liberdade de opinião.

III
Existe pois uma outra operação pela qual a pedra cresce, mais em
qualidade que em quantidade. Trata-se de tomar teu enxofre perfeito, quer
seja branco, quer vermelho, e adicionar a três partes deste enxofre uma
quarta parte de água; e após algum negror e uma cocção de seis ou sete
dias, esta água que acabas de juntar se condensará, como teu enxofre

IV
Adiciona agora uma outra parte d’água, não em relação a todo o
composto, que já coagulou uma Quarta parte quando da primeira
embebição, mas em relação à primeira quantidade de enxofre que
empregaste. Quando estiver dessecada, adiciona ainda uma outra quarta
parte, que coagularás com o fogo requerido; introduz agora duas partes
d’água em relação às três partes de teu enxofre que tomaste e pesaste
antes da primeira embebição; faz embeber e congelar três vezes nesta
proporção.

V
Enfim, para a sétima embebição, toma cinco partes de água em
relação ao enxofre empregado inicialmente; coloca-os em teu vaso e sela-
o; e com fogo semelhante ao primeiro, faz de modo que todo o composto
passe pelos três regimes que descrevemos, o que durará um mês no
máximo. Então terás a verdadeira pedra de terceira ordem, da qual uma só
parte projetada sobre dez mil as tingirá perfeitamente.

CAPÍTULO XXXIII
A MULTIPLICAÇÃO DA PEDRA
61 

 
   

I
Para isso fazer, basta tomar a pedra perfeita e unir-lhe uma parte com três
partes, ou quatro, no máximo, do Mercúrio da primeira obra, depois reger o
fogo convenientemente durante sete dias, o vaso estando estritamente
fechado: todos os regimes passarão, para teu prazer, e a pedra obterá uma
virtude mil vezes maior do que antes de sua multiplicação

II
E se tentas ainda mais uma vez a operação, percorrerás em três dias todos
os regimes, e a medicina terá para ti uma força mil vezes maior ainda.

III
E se ainda desejas recomeçar, bastar-te-á um dia natural para fazer passar
a obra por todos os regimes com suas cores; uma só hora mesmo bastaria,
se tentasses ainda mais uma vez a experiência; mas então não mais serias
capaz de reconhecer a virtude da pedra; e se porventura recomeçasses
uma Quinta vez a multiplicação, esta virtude seria tal que a mente não
poderia concebê-la.
Recorda-te então de render eternamente graças a Deus, pois tens em tua
posse o tesouro de toda a natureza.

CAPÍTULO XXXIV
DA MANEIRA DE REALIZAR A PROJEÇÃO

I
Toma tua pedra perfeita, como foi dito, quer da branca, quer da vermelha, e
pela quantidade da medicina, toma quatro partes de cada uma das duas
luminárias; fazei-as fundir num crisol limpo, colocando aí tua pedra,
segundo a espécie do luminar fundido, branco ou rubro; depois faz escoar a
mistura num recipiente, e obterás uma massa mui friável; toma uma parte
desta mistura e dez partes de Mercúrio bem purificado; aquece o Mercúrio
até que comece a crepitar; põe com ele tua mistura, que o penetrará num
piscar de olhos; funde-o a um fogo mais vivo, e toda a mistura formará
medicina de ordem inferior.

II
Toma agora uma parte desta matéria e projeta-a sobre qualquer metal
62 

 
   

fundido e purgado, em tão grande quantidade que tua pedra poderá tingi-lo;
e obterás ouro e prata mais puros que a natureza jamais poderia
proporcionar.

III
É, porém, preferível fazer a projeção gradativamente, até que haja mais
tintura: porque projetando uma pequena quantidade de pedra sobre uma tal
massa de metal, a menos que se trate de Mercúrio, ocorre um desperdício
considerável de medicina, por causa das escórias que aderem aos metais
impuros. Por isso quanto mais os metais são purgados antes da projeção,
melhor o sucesso do trabalho com o fogo.

CAPÍTULO XXXV
DOS MÚLTIPLOS USOS DESTA ARTE

I
Aquele que possui perfeitamente esta arte, graças à benção de Deus, que
pode desejar neste mundo, exceto poder, ao abrigo de todo o engano e
malignidade dos homens, servir a Deus sem distrações? Que vaidade seria
procurar uma irradiação vulgar por uma magnificência totalmente exterior?
Aliás, não é o que têm no coração aqueles que possuem esta ciência,
antes o desprezam e o negligenciam.

II
Ao bem-aventurado que DEUS gratificou com este talento são prometidos
outros prazeres bem mais desejáveis que a admiração popular.

1.- Em primeiro lugar, se vivesse mil anos, e que tivesse de alimentar a


cada dia um milhão de homens, nada lhe faltaria, porque poderia multiplicar
a pedra a seu bel-prazer, tanto em qualidade, quanto em quantidade. De tal
forma que este homem, se fosse um Adepto, poderia, se o desejasse,
converter todos os metais imperfeitos do mundo em ouro ou prata
verdadeiros.
2.- Em segundo lugar, poderá, pela mesma arte, fabricar pedras preciosas
e gemas mais belas que todas que se poderiam, sem esta arte, encontrar
na natureza.
3.- Em terceiro e último lugar, possui medicina universal, capaz tanto de
prolongar a vida quanto curar todas as doenças. De modo que só Adepto,
63 

 
   

se o é realmente, está em condições de devolver a saúde a todos os


doentes de todo o mundo.

III
Deve-se, pois, louvar incessantemente o reino eterno, imortal e único Todo-
Poderoso por seus dons inefáveis e seus tesouros inestimáveis.

IV
E aconselho àquele que goza deste talento, servir-se dele para a honra de
DEUS e a utilidade de seu próximo, afim de não parecer ingrato para com o
Criador, que lhe confiou este Dom precioso, nem se ver condenado no
último dia.

V
Esta obra foi começada no ano de 1645 e por mim terminada, que desvelei
e desvelo estes arcanos, mas desejando vir em auxílio como amigo, e
irmão, àqueles que se interessam sinceramente por esta arte oculta. Assino
pelo nome de IRINEU FILALETO, inglês de nascimento, habitante
COSMOPOLITA.

EXPERIÊNCIAS
IRINEO FILALETO

Sobre a preparação do mercúrio dos sábios para a pedra, pelo régulo


de marte, ou ferro, com o antimônio e estrelado, e pela lua, ou prata.
Tiradas do manuscrito de um filósofo americano dito Irineu Filaleto inglês
de nascimento, habitante cosmopolita.

I. - SEGREDO DO ARSÊNICO FILOSÓFICO.

Tomei uma parte do Dragão ígneo, e duas partes do corpo magnético;


preparei-os juntos por um fogo de roda, e pela quinta preparação,
aproximadamente oito onças de verdadeiro Arsênico filosófico foram feitas.

II - SEGREDO PARA PREPARAR O MERCÚRIO COM SEU ARSÊNICO E


RETIRAR-LHE AS FEZES
64 

 
   

Meu método foi tomar uma parte de ótimo Arsênico filosófico, que
casei com duas partes da Virgem Diana, e uni-os em um só corpo, que
triturei e reduzi em partes mínimas; com isto preparei meu Mercúrio,
trabalhando todo o conjunto no calor exigido, até que estivessem muito
bem trabalhados; em seguida, purguei a composição com o sal de urina
para fazer-lhe cair as fezes, e as recolhi separadamente.

III. -DEPURAÇÃO DO MERCÚRIO DOS' SÁBIOS.

Destilai três ou quatro vezes o Mercúrio preparado, e que ainda tem


alguma impureza externa, num alambique que lhe seja adequado, com uma
cucúrbita calibrada, e depois lavai-o com sal de urina até que se clarifique,
e que não deixe rastro, ao escorrer.

IV. - OUTRA PURGAÇÃO EXCELENTE.

Tornai dez onças de sal decrepitado, e outro tanto de escórias de


Marte, ou ferro; com uma onça e meia de Mercúrio preparado; triturai num
almofariz de mármore o sal e as escórias, reduzi-os a partículas mínimas
então, introduzi o Mercúrio; triturai ainda o todo com vinagre até que
estejam tão bem misturados, que não se os distinga-, colocai o todo num
vaso filosófico de vidro e destilai num alambique também de vidro, por
intermediação do ninho, que lhe serve de arena, até que todo o Mercúrio
ascenda por sublimação, puro, claro e resplandecente; reiterai três vezes
esta operação e tereis o Mercúrio muito bem preparado para o Magistério.

V. - SEGREDO DA JUSTA PREPARAÇÃO DO MERCÚRIO DOS SÁBIOS.

Cada preparação do Mercúrio com seu arsênico é uma águia assim


que as plumas da águia forem purgadas da negritude do corvo, fazei de
modo que a águia voe até sete vezes, quer dizer, que a sublimação se faça
estas tantas vezes; então a águia, ou a sublimação, está bem preparada e
disposta para erguer-se até à décima vez naturalmente.

VI - SEGREDO DO MERCÚRIO DOS SÁBIOS.


65 

 
   

Tomei o Mercúrio requerido e misturei-o com seu verdadeiro arsênico.


A quantidade do Mercúrio foi de quatro onças, mais ou menos, e aligeirei a
consistência da mistura; purguei-o de maneira conveniente, depois, destilei-
o, o que me deu o corpo da Lua; o que me fez conhecer que havia feito
minha preparação segundo a Arte, e muito bem.

Em seguida, adicionei a seu peso arsenical o antigo Mercúrio, com


tanto peso quanto o necessário para que este mesmo Mercúrio tornasse a
composição fluida e ligeira, e tendo sido as trevas dissipadas, mesmo até
que a Obra tivesse quase adquirido a brancura da Lua.

Então, tornei uma meia onça de arsênico, do qual realizei o


casamento requerido. Ajuntei isto com o Mercúrio, com isto fazendo uma
matéria disposta em forma de argila de modelar, porém, um pouco mais
leve.

Purguei-o subseqüentemente segundo o uso conveniente. Esta


purgação exigiu bastante trabalho; o que fiz longamente pelo sal de urina.
que achei muito bom vara esta obra.

VII - OUTRA PURGAÇÃO MUITO BOA.

A melhor via que encontrei para purgar a composição foi pelo vinagre
e sal puro marinho; assim em doze horas pude preparar unia águia, ou
sublimação.

1. - Fiz voar urna águia. Diana a permaneceu no fundo do ovo filosófico,


corri um pouco de cobre.

2. - Tentei fazer voar urna outra águia e após ter feito rejeitar as
superfluidades, ainda fiz urna sublimação, e de novo as pombas de Diana
permaneceram corri urna tintura de cobre.

3. - Casei a águia, fazendo juntar a sublimação com o composto, e ainda


purguei afastando as superfluidades, até que aparecesse alguma brancura;
então fiz voar uma outra águia, ou sublimação, e urna grande parte de
cobre permaneceu corri as pombas de Diana, depois fiz voar a águia duas
66 

 
   

vezes separadamente para operar toda a extração do corpo total.

4. - Casei a águia fazendo recair a sublimação sobre a confecção e


adicionando-lhe cada vez mais, e pelos graus de seu humor, ou umidade
radical; e destarte e consistência foi consumada em muito bom regime; a
hidropisia que havia reinado em cada uma das três primeiras águias ou
sublimações, cessou inteiramente.

Tal foi a boa via que encontrei para preparar o Mercúrio dos
Sábios.

Em seguida, coloco num crisol, e dispondo o fomo, a massa


amalgamada e casada segundo a Arte; faço de modo, porém, que -não
haja sublimação durante uma meia-hora; então eu a retiro do crisol e a
trituro habilmente; depois remeto-a ao crisol e ao forno, e após um quarto
de hora aproximadamente, retiro-a ainda e a trituro, e então sirvo-me de um
almofariz aquecido.

Neste labor, o amálgama começa a lançar muito pó branco; recoloco-o


no crisol e sobre o fogo, como da primeira vez, e durante um tempo
conveniente, de modo que não se sublime, mas quanto mais forte é o fogo,
tanto melhor.

Continuo a trabalhar aquecendo e triturando assim a massa, até que,


quase toda, ela pareça pó; depois, purifico-a, e o que nela há de fezes se
separa facilmente; então, o amálgama se toma à parte; após o que, lavo-o
e purifico ainda pelo sal, reenvio-o ao fogo, trituro-o como fiz antes. Repito
este proceder até que não mais subsistam fezes e impurezas.

VIII - TRIPLA PROVA DE EXCELÊNCIA DO MERCÚRIO PREPARADO.

Tomai vosso Mercúrio preparado com seu arsênico, pelo lavor de


sete, oito, nove ou dez sublimações, vertei-o no ovo filosófico. lutai-o bem
com o luto de Sapiência colocando-o no forno em seu ninho. que
permaneça num calor de sublimação, de modo que suba e desça neste ovo
de vidro, até que se coagule um pouco mais espesso que a manteiga;
continuai assim até uma perfeita coagulação, até que, digo, se alcance a
brancura da Lua.
67 

 
   

IX - OUTRA, E SEGUNDA PROVA.

Se o Mercúrio, agitando-se um vaso de vidro que o contenha, se


converte naturalmente com o sal de urina em pó branco impalpável, de
modo que não apareça mais sob a forma mercurial, e que por
conseqüência também naturalmente torne a consistência ao seco e quente,
como um mercúrio ligeiro e volátil, isto basta; porem é melhor, se o faz
passar neste estado em glóbulos imperceptíveis pela águia da fonte dos
Filósofos: pois se o corpo reside em grãos, ele não será, no entanto,
convertido e separado em partículas ligeiras.

X. - OUTRA, E TERCEIRA

Destilai o Mercúrio num alambique de vidro, por meio duma cucúrbita


também de vidro; nada deixando após si, então a água mineral é boa.

XI. - EXTRAÇÃO DE ENXOFRE DO MERCÚRIO, PELO MEIO DA


SEPARAÇÃO.

Tornai todo o vosso composto de alma, espírito e corpos misturados,


cujo corpo foi coagulado por meio da digestão e a virtude do espírito volátil,
e separai o Mercúrio de seu enxofre por meio do destilatório próprio de
vidro; então tereis a Lua branca fixa que resiste à água forte, quer dizer, a
Prata filosófica, que é mais pesada que a Prata vulgar.

XII. - SEGREDO PARA TIRAR O OURO MÁGICO DESTA

Pelo calor do fogo, tirareis o Enxofre amarelo que é o Ouro, daquele


Enxofre branco que é a Prata. É uma operação manual que ajuda à
natureza, e este Ouro é o chumbo rubro dos Filósofos.

XIII. - MODO DE TIRAR O OURO POTÁVEL DESTE ENXOFRE


AURÍFICO.

Convertereis este Enxofre amarelo em óleo vermelho como sangue,


fazendo-o circular segundo a Arte com o mênstruo volátil, que é o Mercúrio
68 

 
   

filosófico; assim é que tereis admirável panacéia.

XIV. - CONJUNÇÃO GROSSEIRA DO MÊNSTRUO COM SEU ENXOFRE


PARA FORMAR A PRODUÇÃO DO FOGO DA NATUREZA.

Tomai Mercúrio preparado, purgado e bem tirado pelo lavor de sete,


oito, nove, ou dez águias, no máximo; misturai-o com o Enxofre vermelho
chamado Latão preparado, quer dizer, são precisas duas ou três partes no
máximo de água filosófica para uma parte de Enxofre puro, purgado e
triturado.

XV. - ELABORAÇÃO DA MISTURA POR UM TRABALHO MANUAL.

Moei e triturai esta mistura sobre um mármore em partículas


finíssimas, rarefeitas e sutis; em seguida, lavai-a com o vinagre e o sal
Amoníaco, até que tenha depositado todas as suas fezes negras; então,
lavareis toda sua acerbidade salina e sua acrimônia na água da Fonte
filosófica: fonte da Salmácia, fonte de Juvência, piscina probática; depois
fá-lo-eis secar sobre um cartão limpo, sobre este vertendo-o aqui e ali,
agitando-o com -a ponta de uma faca, até a fixidez perfeita.

XVI. - IMPOSIÇÃO DO FETO NO OVO FILOSÓFICO.

Agora, colocareis vossa mistura bem seca num ovo filosófico de vidro,
o qual será muito branco e transparente, do tamanho dum ovo de galinha.
Que vossa matéria não exceda mais de duas onças neste ovo, que selareis
hermeticamente; por isso, pesai-o antes de aí introduzir a matéria e
repesai-o depois de tê-la introduzido, para conhecer e regular seu peso.
Sabei que vossa mistura originalmente é urna água seca que não molha as
mãos: nisto há grande segredo.

XVII. - E ÚLTIMO. REGIME DO FOGO.

Tende um fomo construído de maneira que nele possais conservar um


fogo imortal I, quer dizer, um calor contínuo sem interrupção, desde o
começo da Obra até o fim; cuidareis de nele entreter um calor do primeiro
grau na entrada do ninho. Neste fomo, o rocio de nosso composto deve
elevar-se e circular por si mesmo, quer dizer, por sua própria virtude,
69 

 
   

continuadamente, dia e noite, sem nenhuma interferência, e operar


naturalmente todas as maravilhas da Obra. Neste fogo, o corpo morrerá e o
espírito será renovado; enfim, nascerá uma alma nova que será glorificada
e unida a um corpo imortal e incorruptível; desta arte será feito um novo
Céu.

70 

 
   

A MEDULA DA ALQUIMIA
IRINEO FILALETO

1. Da Arte Dourada, tão estimada por muitos, temos provado, e ensinado por
exemplos, que não era fábula como muitos estimavam, era real; agora nossa
musa ao fim é levada a ordem para revelar sua devida prática, para que possam
conseguir a prata e o ouro.
2. E como fundamento do que pretendemos considera bem e calibra com bom
juízo, a razão de nosso trabalho, ou de outro modo gastará teu dinheiro em vão e
sua obra não sufragará das inúteis cargas que possa consumir, não conseguindo
delas senão fedor e humo.
3. A pedra que buscas, dissemos e todavia afirmamos, é somente o ouro levado a
uma perfeição tão alta quanto é possível a tal, porém é um corpo firme e
compacto, sem problemas, pela direção da arte e a operação da natureza, se
converte em um espírito que nunca se desvanece.
4. Esta pedra não pode ser confeccionada somente pelo engenho da natureza. Por
que? É seguro que o ouro não tem a intenção de levar-se tão longe, e assim
permanecerá sempre constante em sua forma.
5. Aquele que queira conseguir esta essência, deve fazer pela arte, que o ouro se
converta em pó. E que depois seja abrandado em água mineral, e logo circulada
com um fogo devido, até que a umidade seja esgotada pela secura , e seja depois
fixado segundo o desejo de seu coração. Embeba-o então e volte a congelar, e
sela a criança no útero de sua mãe. Alimenta-o até que lhe chegue a fortaleza que
o torna capaz de superar seus tenazes opositores, ao qual, fermentado, deve
sofrer sua sentença da negrura repetida que se desenvolverá, porém, que as
naturezas se apodreçam e morram, da qual esteja seguro irá revivificar. Sublima,
exalta e depois a terra a faça voltar, permitindo que permaneça no calor até que o
grito seja transformado em regozijo
6. Coloca então o Rei sobre seu assento real, que brilha como a chama cintilante.
É a esta pedra oculta que chamamos de nosso enxofre. Multiplique-a até que
chegues ao elixir que chamamos de espírito, que como o juiz no dia da sentença
julga a fogo toda a terrestreidade que adere aos metais imperfeitos, a substancia
perfeita que aqui há. Poré assim é nosso sujeito. Devemos pois encontrar um
71 

 
   

agente que possa abrir esse sujeito, o qual, se sabes procurar em seu próprio
gênero, não necessitará empregar muito dinheiro para prepará-lo pois é de
matéria vil, e seu exterior asqueroso é muito sujo.
7. Disto falam poucos autores, e os que o fazem obscurecem esta chave, porque
muitos deles mentem.
8. Eu, porém, amado leitor, o mostrarei com sinceridade o que nunca nenhum
homem o concebeu maior.
9. Atente pois primeiro a este mistério que existe em nosso agente ígneo. Creia-
me esta não é uma obra a ser conseguida por um cuja ingenuidade é cega, nem
tampouco por aquele que desdenha o trabalho, pois a ociosidade é um
impedimento para esta arte. Porém se tem uma maneira dócil e é industrioso,
então me escuta:
10. A substância que tomamos primeiro é um mineral familiar ao mercúrio, que
cozinha na terra um enxofre cru, vil a vista, porém glorioso interiormente, é filho
de Saturno, que mais necessita?
11. Concebe-o corretamente, pois esta é nossa primeira porta. É de cor zibelina,
com veias prateadas, que aparecem entremescladas no corpo, cujo matiz
cintilante mancha o enxofre. É de todo volátil e nada fixo, porém tomado em sua
crueza nativa purga toda a superfluidade do sol. É venenoso em sua natureza, e
mesmo assim abusado por muitos de um modo medicinal. Se lhe soltam os
elementos pela arte, o interior resplandece como o dia, o qual flui no fogo como
um metal, e nenhum metal é mais frágil. Este é nosso dragão do qual o deus da
guerra atacou com armadura do mais forte ferro, porém tudo em vão, pois, uma
estrela não vista antes mostrou que Cadmo quando sentiu esta força não pode
suportar tão grande poder, e dividiu sua alma de seu corpo.
12. Ó, força poderosa! Os sábios contemplaram isto, e vendo-o se assombraram.
A este chamaram de leão verde, a que conjuraram com feitiços, confiando domar
com o tempo sua fúria. O deixaram depredar os associados de Cadmo, e
encontraram por seu poder que alcançou o dia. A briga concluiu. Olha, uma
estrela da manhã se fez aparecer da terra, separadas as carcaças, não estavam
longe, porém lhes apareceu um manancial fluente. E deram a beber a besta deste
mesmo manancial, e viram então algo que consideraram estranho. Pois quando a
besta se acercou deste manancial, como que assustadas as águas se retiraram, a
ajuda de Vulcano não valeu de nada. Então apareceram as pombas de Diana com
72 

 
   

enfeites brilhantes. O ar foi aclamado com suas asas puras e prateadas, e nelas o
dragão abraçado, perdeu seu veneno. Então a água voltou com nuvens e engoliu
a besta a qual a bebeu, até que seu corpo explodiu. Sua pele se tornou como
carvão, e logo a fonte fedeu com um odor impuro que lhe deu nosso dragão, ele
morreu, a água provou ser uma tumba para ele.
13. Com a ajuda de Vulcano este dragão ressuscitou e do céu recebeu uma alma.
Ambos estão reconciliados, para o que te esforçaste, e suas almas unidas
abandonaram seus corpos, este é o verdadeiro banho da ninfa, nosso leão verde,
cujo semelhante nunca foi visto antes.
14. Porém para não manter-te mais em suspense, te mostrarei plenamente estas
alegorias, desatando seus nós cujo sentido obscuro pode deixar perplexo o leitor.
Sabe pois agora, que nosso filho de Saturno deve ser unido a uma forma de
mercúrio metálico. Porque ? É o enxofre e somente ele nosso agente requerido
por nossa pedra. Porém o enxofre comum não serve para nossa pedra. Está
morto, porém deseja ser aguçado pelo sal da natureza, e o enxofre verdadeiro,
pois é seu único cônjuge.
15. Se encontra que o sal do broto de Saturno é puro, e pode penetrar até o centro
dos metais, este sal abunda em qualidades que o fazem adequado para entrar no
corpo do sol, dividindo seu elementos e permanecendo com ele depois que é
dissolvido. Procura este enxofre na casa de Áries, este é o fogo mágico dos
sábios para aquecer o banho do Rei, que prepararás em uma semana. Este fogo
permanece extremamente fechado. Abra-o, o que pode fazer em uma hora e lava-
o depois com uma chuva prateada.
16. É estranho ver um metal robusto e fixo que sabe suportar o golpe atordoador
de Vulcano e que não se abrandará no fogo nem se mesclará em fluxo com metal
algum, que porém seja feito retrogradar por nossa nova arte, quanto poder possui
este pujante mineral
17. Esta obra Real é selada pelo todo poderoso, para ensinar ao prudente que
aqui nasce a criança real, a qual os justos buscam diligentemente, e que são
acertados por esta estrela. Porém, os néscios buscam nossos segredos em coisas
sórdidas, sem seu gênero, o que os leva a ruína. Esta substância é estrelada e está
totalmente inclinada a fugir do fogo: é completamente espiritual, razão pela qual
se a demandas ( para satisfazer sua mente ), toma isto: a alma de um ao outro é
um imã, a isto nós chamamos de o beijo do velho Saturno. Este é nosso aço,
nosso hermafrodita, esta é nossa lua, chamada assim por seu brilho, este é nosso
73 

 
   

ouro imaturo, pois a vista é um corpo frágil, domado por Vulcano, cuja alma, se
podes mesclá-la com mercúrio, nenhum segredo pode permanecer escondido de
ti.
18. Não necessito citar nenhum autor, pois hei visto e levado a cabo este mistério
com minhas mãos, com a natureza estive em freqüente conselho, e feito suave o
corpo mais sólido, e um corpo grosseiro o tenho convertido em uma terra fixa
que não desaparece. Porém eu lhe digo : Eu estou só? Não, muitos mais declaram
o mesmo, e seus nós eu os desato aqui.
19. Artefio o nomeia, mas não chega descobrir outro segredo; Por que? É, ele
diz, ser procurado por Deus, a menos que seja ensinado por um sábio mestre.
Este é um enigma que há muito mal explicado para os estudantes desta arte;
porque os autores dizem que nossa pedra é vil, e continuação preciosa. Vileza
que é lançada livremente pelo caminho sim, está em lugares asquerosos, e que
nós deveríamos tomar como verdadeiro fundamento de nossa arte.
20. Ninguém pode viver sem ela, e é aplicada para usa proibidos, todas as quais
denotam, unicamente a Marte, ao qual corresponde tudo isso. Na frota de navios
no oceano, e nós não podemos comerciar sem ele; sem ele nós não vemos
nenhum navio e nem casa alguma. Como ele nós aramos nossa terra, nós
colhemos nosso grão, nós cortamos nossa carne e nossos vestidos, com ele nós
fervemos nós. O uso dele é tão grande que eu não empilharei exemplos;
freqüentemente está condenado sobre o solo. Por ele se calçam os cavalos,
velhos cravos rebitados, cujo encontro apenas merece pena. O que pode ser e
digo ser A Casa de Marte, o robusto Áries é conhecido, nele o que todos os
artistas te encarregam de começar seu trabalho, O que pode ser mais plano? Não
pode ter ninguém tão bobo assim que não conceba que há nesta palavras um
significado oculto no texto, significado que nunca foi explicado melhor.
21. Belus na Turba ordena juntar o lutador com aquele que não concorda em
lutar. O Deus da guerra é o Marte; nomeie a ele em união a Saturno, que se
encanta na paz, cujo Reino não necessito relatar, é tão conhecido por todos (seu
apelido é Dourado).
22. Observa a segunda figura que é localizado no verdadeiro Rosário dos
Filósofos. O Rei e a Rainha com túnicas agraciados de um modo sumamente
real; sustentando entre eles nossa verdadeira lunária, que têm oito flores, mas
sem raiz; entre eles um pássaro, e debaixo dos pés o Sol e a Lua. O Rei sustenta
uma flor, a Rainha a outra, e um terço (no pico) sustenta o pássaro; o pássaro
74 

 
   

leva uma estrela na linha que fala de nossos segredos. O pássaro alado denota ao
mercúrio, unido com a terra estrelada que ambos velam.
23. Os velhos sábios, bem mais nos instruem ao olho por figuras , que ao ouvido
por palavras plenas; algumas são tão plenas que qualquer bobo pode deduzir o
significado neles escondidos, Tão claro está.
24. Isto, eu, um filho da arte, lhe tenho dito para ajudar, completamente em outra
parte, e tão plenamente como um sol.
25. A ela remeto o leitor estudioso, e prosseguirei em meu pretendido curso de
ensinar nossa água, que tão poucos atinam, pela qual extrai-se a semente do sol
tão sagrada. Aprende esta água com toda sua diligência, porque ela é o
fundamento de nossa quintessência. Sabes pois que os metais tem todos uma
matéria, a qual não é senão o mercúrio. Este fundamente deu a principio uma
entrada a transmutação, e uma possibilidade. Aqui concluímos que nossa água
sumamente secreta, tem a mesma matéria que o mercúrio vulgar. E se o mercúrio
cru pode converter-se em ouro, e todos os cinco metais imperfeitos, que por
razão de sua crueza se queimam no fogo, isto ocorre, como ensinam todos os
sábios, porque todos participam do mercúrio, e são transmudáveis por sua
própria conta. E se nosso mercúrio que chamamos de nossa água viva, não é
senão ouro imaturo, então qualquer coisa que seja convertida em ouro pela arte,
deve Ter a mesma natureza, que possa ser convertida pela arte em nosso
mercúrio, para cuja confecção se ensina a arte.
26. Assim pois, o chumbo, o estanho, e o cobre foram revertidos a um mercúrio
real, a arte poderia fazer que aparecesse estas águas, tão transformada é sua
forma que realmente, qualquer, ou cada uma de todas as suas águas foram
chamadas como nosso mercúrio.
27. Por que? Que há necessidade disto, quando a natureza há produzido uma
água e a há submetido a mão de todo artista, na qual pode ser induzida pela arte a
uma forma que pode facilmente governar nossos segredos.
28. Atente pois, que mercúrio requer nosso mais secreto mênstruo, pois
asseguramos que em peso ambos são iguais, também em cor, ambos igualmente
fluídos, ambos metálicos, ambos voláteis ao fogo, porém no nosso buscamos um
enxofre que falta nas minas, este enxofre purifica a matéria, e a faz ígnea, porém
a deixa como água. Pois a água é a matriz que, carecendo de calor, é de todo
inábil para a verdadeira geração, nem será reduzido nosso corpo a suor para
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emitir sua semente, senão em uma estação de fogo circulante, mesclado pela arte
com o mercúrio ( que participa do enxofre ).
29. Porque todos os metais, embora alguns possam ser misturados com o
mercúrio, eles não entram um no outro , mais do que vemos, e eles partem um do
outro pelo o calor, e você perceberá que o seu centro nunca foi penetrado, nem os
encontrará alterados um pelo outro
30. Este enxofre deve ser de força magnética, e por tanto da substancia do ouro
(porém imaturo ), portanto são de uma só origem, tanto quanto sua matéria,
quanto em sua forma, uma deve ser volátil e fugitiva e a outra fixa, desatando a
primeira da outra.
31. Não há na terra senão um só corpo, ao qual o mercúrio esteja tão aliado,
como para prepará-lo para nossa pedra secreta, ocultando o corpo sólido em seu
ventre. É como se diz o retorno de Saturno, conhecido por todos os magos, e por
mim mostrado. Porque todos os metais, embora alguns possam ser mesclados
com o mercúrio, eles não entra um no outro, mas para a vista eles vão de um para
o outro pelo calor, e perceberá que seu centro nunca foi alterado, nem encontrará
um alterado pelo outro. Se busca a razão, toma esta resposta: que o enxofre que
reside nos metais, estão selados ( se é perfeito), ou participa de fezes terrenas, e
de cruezas que aborrece o mercúrio, que não se unirá a eles, porém a vista
pareçam mesclados.
32. E se separar primeiro estas fezes obterás um mercúrio fluído e um enxofre
cru, o qual endureceria a umidade por congelação, também encontrará um sal
alumínio, porém este é de um gênero muito remoto ao do ouro.
33. Porém nosso estimadíssimo mineral exceto por seus desperdícios crus, que
são todos separáveis, contém um mercúrio puro, o qual restaurará a vida dos
corpos mortos, de modo que sejam capazes de propagar sua própria espécie,
como todas as coisas, gerando seu semelhante.
34. Porém não contém em si enxofre algum, salvo um enxofre ardente pelo qual
é congelado, porém é frágil, quebradiço e negro com veias brilhantes. O enxofre
não é metálico de modo algum, e se diferencia pouco do vulgar, e quanto ao seu
aspecto externo, se o prepara corretamente como mostra a arte. Separa as fezes,
aparece nu na forma como um metal (porém pode ser pulverizado a golpes) no
qual se encerra uma alma terna, que se eleva como humo, em um fogo pequeno,
como o mercúrio ligeiramente congelado, que se manifesta assim ao fogo. Isto
76 

 
   

lhe dá a penetração de nossa água, e faz com que seu corpo entre até suas raízes,
reduzindo-os a sua primeira matéria, invertendo tudo desde seu centro oculto.
35. Isto requer que se tenha um verdadeiro enxofre que encontramos na casa de
Áries. Somente por este mineral se consegue que Marte, pela destreza do artista,
e também com ajuda de Vulcano, seja retrogradado a um mineral, como se tem
sido ensinado por muitos, esta é nossa verdadeira Vênus, amada por Marte,
esposa do coxo Vulcano, porém reprovada por este ato.
36. Faz pois, primeiro que esse mineral abrace a marte, de modo que ambos
lancem fora sua terrestreidade, a substância metálica, em pouco tempo, brilhará
como o céu, e de teu êxito encontrara por certo como sinal isto: Um selo
impresso como uma estrela. Este é o selo real, esta é a marca que põe o todo
poderoso sobre seus estranhos sujeitos. Este é o fogo celestial do qual uma
chispa, uma vez acendida, causa nos corpos tal transformação que a negrura
lustra na hora, como uma pedra preciosa cintilante e coroa a nosso jovem rei com
um diadema.
37. Soma Vênus a este em uma proporção de vida, pois sua beleza é admirada
por Marte, e se sabe que ela mantém um grande amor com ele, e que está pronta
inclinada ao movimento, estando aliada ao ouro, e também a Marte, também a
brilhante Diana, conciliando o amor e o verdadeiro deleite, Vulcano crescerá em
ciúmes, e estenderá sua rede para capturar a sua esposa e Marte em seu ato.
Doído de sentir sua cabeça adornada com cornos, e confiando em frustrar este
concerto, mostra a ambos amantes atrapalhados em sua rede, na qual ambos
estão envolvidos.
38. Não lhe pareça isto uma fábula. Observa primeiro como Cadmo é devorado
por nossa besta feroz, na qual, depois de atravessar valentemente, merece o nome
de campeão, pois sobrepassa em poder esta serpente, lança contra um carvalho
mortal aquela que todos temiam.
39. Observa esta estrela que é solar sem dúvida, e isto pode ser provado pois o
ouro se une com o filho de Saturno, purgada suas fezes. Tudo o que é perfeito cai
ao fundo, e sendo vertido, depois da fusão, mostra quando se esfria, uma estrela,
igual a que faz Marte.
40. Porém Vênus dá uma substância metálica, tão só desprezível , unida com
Marte, envoltos como em uma rede, e é belo contemplar, o qual misteriosos
poetas de visão aguda, hão descrito em linguagem oculta, e porém mais
77 

 
   

claramente para os sábios.


41. Assim quando a alma de Saturno de Marte, são misturadas tão somente por
nossa arte e a ajuda de Vulcano, ambas são iguais de vôo, e suas partes não são
divisíveis, até que a alma de Marte é fixada, então abandona a Saturno, e nos
ensaios se encontra um ouro perfeitíssimo, cuja tintura é boa e verdadeira. Porém
isto deve conseguir-se pela mediação de Vênus, ou de outro modo não serão
separados por nenhuma manha do homem, nem os reverterá a pó, não obstante,
unidos se reduziram, porém somente com a associação com Vênus, Diana faz
deles uma separação.
42. Alguns usam as pombas de Diana para preparar a água, trabalho que é
tedioso, e para atiná-la corretamente, um raro artista pode errar duas vezes de
cada uma, o outro modo que é sumamente secreto, só o recomendamos a todos
os que intentam ser artistas. Que o vapor mais sutil que a água, seja circulado
tanto e tão freqüentemente, que as almas de ambos (abandonando a matéria
grosseira), se unam e voem juntas até a colina, onde não as deixe permanecer
tanto tempo que se congelem, pois então trabalhas erradamente.
43. Do filho de Saturno sejam tomadas duas partes, de Cadmo uma. E assegura-
te de purificar estes pela ajuda de Vulcano tanto tempo, até que livre de fezes, a
parte metálica seja pura, isto se fará em quatro reiterações. A estrela te ensinará
as operações perfeitas.
44. Faz a Enéias igual a sua amante, purgando-os artisticamente até que a rede de
Vulcano encerre a ambos, a qual toma então e observa que com a água sejam
bem molhados, com calor e, até que perfuradas as almas de ambos seja
glorificadas.
45. Este é o rocio celestial que deve ser nutrido tanto e tão freqüentemente como
o requeira a natureza. Três vezes ao menos, e até sete, seja conduzido por panelas
e chamas, como requererá a razão. Tenha cuidado porém de não por em fuga a
natureza terna, então teu fogo será correto.
46. Sabe também por certo que o mercúrio, que deve começar a obra, deve ser
líquido, e branco, não o seque com um fogo excessivo a umidade deste pó
(vermelho a vista), pois assim se corrompe seu esperma feminino, e perderás teu
desejado resultado. Nem busque converter o mercúrio em uma goma clara e
transparente, ou em azeite, ou em ungüento, pois então perdida a proporção, não
pode levar a verdadeira dissolução, senão que deve encomendar teu desesperado
78 

 
   

trabalho a outra estação tão diferente, pois procede sem uma razão verdadeira.
47. Busca pois tão somente somar um espírito do qual carece o mercúrio comum,
e depois sublima o grosseiro até o firmamento, separando os desperdícios pela
arte, e quando ajam passados sete vezes completas, esposá-lo com o ouro, de
modo que tenham um ao outro.
48. Assim é preparada a verdadeira donzela pelo artesanato e a ajuda na natureza,
a qual separada das fezes de converte em um broto celestial, que abranda o
solido corpo do ouro, no qual, separado em átomos negros, se apodrece e se
corrompe, e depois revive e voa de novo.
49. Se eu descobrisse aqui todos os segredos que estão contidos na fabricação de
nossa água, seria desdenhado por todos os verdadeiros artistas, pois somente são
comunicados aqueles a quem Deus se digna ensinar-lhes, o resto deve vagar em
uma bruma, e aninhar no erro. Porém aquele que inquiri estudiosamente, para
encontrar com penas e orações esta verdade oculta, e a quem a ambição não
excite seu desejo, senão que busque o conhecimento com uma mente limpa,
esteja seguro que alcançará este mistério, pois ninguém nunca escreveu a arte tão
claramente.

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COMENTÁRIO DA VISÃO DE SIR GEORGE RIPLEY POR


IRINEU FILALETO, INGLÊS, COSMOPOLITA

IRINEU FILALETO

Este texto, publicado por primeira vez em Londres no ano 1677, é um exemplo belo e muito
ilustrativo da escritura alquímica. Ripley, um Adepto do século XV, incluiu a sua "Visão" num livro,
The Twelve Gates. 0 ilustre e misterioso Filaleto comentou dito livro numa série de tratados,
recolhidos sob * título de Ripley Revived. Filaleto goza da admiração de todos os alquimistas e sua
identidade foi tema de muitas especulações. A sua “Entrada Aberta ao Palácio Fechado do Rei” é
um clássico, tanto na cultura inglesa como na latina ou na francesa.

A VISÃO DE
SIR GEORGE RIPLEY
Cônego de Bridlington.

Certa noite, quando com o meu Livro ocupado me achava A visão que aqui
relato apareceu perante a minha vista cansada: Vi que um Sapo Avermelhado
bebia o suco de Uvas com tanta pressa Que, cheio transbordando do Caldo, lhe
explodiram as Tripas. Depois disto, do seu Corpo envenenado escapou o Veneno
letal, E os seus membros começaram a inchar, se sentia tão Doido e tão Mal.
Empapado em suor Envenenado, se dirigiu à sua secreta Madrigueira, E exalando
um Cheiro pestilento branqueou as paredes da Cova. Depois de um tempo,
começou a aparecer uma Neblina de cor Dourada, Cujas gotas pintavam o chão de
vermelho ao cair do alto e quando ao Sapo começou a lhe faltar o alento vital
Negro como o Carvão ficou o moribundo Animal. E desta forma, se afogou dentro
do Veneno que pelas suas veias fluia. Assim esteve, apodrecendo, durante Oitenta e
Quatro dias. Eu desejava Experimentar para extrair aquele Veneno, De modo que
coloquei o Cadáver sobre um Fogo muito lento. Uma vez feito isso, oh, Prodígio
para a vista que não pode ser narrado! Apareceram Cores estranhas por todo o
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Cadáver do Sapo: Tornou-se branco quando as cores desapareceram de lá; Logo,


após se tingir de vermelho, ficou para sempre assim. Com o Veneno obtido um
Remédio fabriquei, Que destrói o Veneno e salva o Envenenado. Glória ao que nos
proporciona estes secretos Métodos, A 0 Domínios e Honra, Adoremos e
Louvemos. Amém.
Esta visão está escrita em forma de Parábola ou Enigma, e é que os Sábios
Filósofos Antigos freqüentemente expunham os seus segredos deste modo. Todos
os homens gozam desta Liberdade de utilizar expressões Enigmáticas para decifrar
o que é realmente misterioso. Grande parte dos ensinamentos dos Antigos Egípcios
estão escritos em linguagem Hieroglífica, e muitos Pais desta Ciência empregaram
também este método, embora na maioria dos casos utilizaram as descrições
Cabalísticas ou Místicas, sendo esta um exemplo disso. Mas voltemos ao tema que
nos ocupa.
Vi que um Sapo Avermelhado...
Aqui temos a descrição de um Sapo na qual se encerra todo o segredo dos
Filósofos. 0 Sapo é o ouro; recebe este nome porque é um Corpo Terrenal e
especialmente pelo veneno negro e pestilento que surge nos primeiros dias da fase
preparatória desta operação, durante o reinado de Saturno, antes que apareça a cor
branca. Por conseguinte, é chamado Sapo Avermelhado.
Nisto, todos os Escritores mostram um total acordo, ao afirmar que a nossa
pedra não é mais do que o Ouro digerido que alcançou o grau mais alto graças à
ajuda da Natureza e da Arte. Como disse outro Filósofo, o primeiro trabalho
consiste em sublimar o Mercúrio, colocando à continuação os corpos limpos no
Mercúrio limpo. Poderia proporcionar muitos testemunhos, já que todos os
escritores seguem esta linha. 0 que é que acontece com esses ingeniosos Filósofos
que ao parecer negam tudo isto para confundir os ingênuos? Não nos corresponde
buscar a reconciliação - embora poderíamos fazê-lo -, já que muitos deles
escreveram guiados pela inveja e com a intenção de nos enganar. Todos escreveram
da forma mais misteriosa que puderam fazê-lo, a fim de escurecer a verdade,
inclusive no melhor dos casos, não eram mais do que homens que descreviam as
coisas de acordo com as suas Crenças filosóficas e que não escreviam de uma forma
81 

 
   

completamente transparente porque acreditavam que ao fazê-lo a Arte resultaria


demasiado fácil e seria condenada para sempre. Mas, que necessidade temos de
palavras? Sabemos a Verdade e sabemos, mediante um Sistema de Símbolos
secretos, distinguir os verdadeiros Escritores dos Sofistas; e não necessitamos
Argumentos, já que nós mesmos somos testemunhas e sabemos que não existe mais
do que uma verdade, que não existe mais do que um caminho, o mesmo caminho
que pisaram todos os que dominaram esta Arte. Não podem nos enganar nem
seríamos capazes de enganar a outros.
... bebia o suco de Uvas...
Segundo o Filósofo, o Sapo bebe o suco das Uvas. 0 corpo, afirma, não é mais
nobre que o Ouro, nem tampouco a água é de mais valor que o vinho. Os filósofos
chamam esta água de Aqua Ardens, e também Acetum Acerri, mas o mais normal é
que digam que é o seu Mercúrio. Não analisarei esta denominação, mas lhes garanto
que não significa outra coisa que Mercúrio, o mesmo Mercúrio sobre o que escrevi
no meu pequeno Tratado em latim, “Entrada Aberta ao Palácio Fechado do Rei”,
no que revelei toda a Verdade, sem revestimentos, completamente nua; e se não o
fiz com excessiva claridade, tenho a certeza de que o fiz com claridade suficiente.
Não o repetirei aqui; remeto o Leitor ao mencionado livro.
Conta-nos que o Sapo bebeu este suco de Uvas; não se refere unicamente à
Conjunção vulgar, que faz com que o corpo se converta em Pasta; isto se realiza
com facilidade se a Água está à temperatura da Massa ou Levedura, já que existe
uma grande afinidade entre a Água e o Corpo. Como diz o Filósofo, esta Água é
boa e agradável para os metais. Mas há mais, a água encharca Imediatamente o
nosso Corpo e circula pela sua superfície; como afirma o Filósofo, o suor, ao voltar
ao Corpo, o transpassa maravilhosamente. Assim, o Corpo absorve a Água ou Suco
de Uvas, embora em menor medida que quando se misturam pela primeira vez; isto
acontece especialmente quando, pela decocção, a Água se infiltra até as partes mais
profundas, fazendo que o Corpo mude de Forma. Esta é a Água que desgarra os
Corpos e que os faz não serem Corpos mas Espíritos que voam, como da Fumaça, o
Vento ou o Vapor, como explica detalhadamente Artephius.

82 

 
   

A operação é de curta duração, ao contrário das operações Subterrâneas da


Natureza, que necessitam muito tempo para serem realizadas. É por isto que muitos
Filósofos afirmam que são realizadas num curto espaço de tempo; no entanto,
outros muitos, e não sem razão, de se queixaram da larga duração desta cocção.
E, da mesma forma, o próprio Artephius, que afirmava que este fogo da Água
do nosso Mercúrio demora muito pouco tempo em realizá-la se se encontra numa
superfície aberta, enquanto que a natureza demora mil anos, diz em outro momento
que a tintura não aparece de uma forma imediata mas que o faz lentamente, hora
após hora, dia após dia, até que, após um longo tempo, a decocção acaba. Conforme
as palavras do Filósofo, que cozinhe, cozinhe e cozinhe, e que a nossa, longa
decocção não seja demasiado aborrecida.
... com tanta pressa...
Dizer que o Sapo bebeu o suco de Uvas com tanta pressa implica que o
trabalho deve ser realizado no tempo real da Natureza, que é, efetivamente, um
período muito longo de tempo, pelo menos o que requerem todas as decocções. Isto
é o parecer do Artista que se encarrega do fogo dia após dia; no entanto, deve
esperar o fruto com Paciência, deve esperar até que o céu tenha lançado sobre a
Terra a primeira e a última Chuva. Mas não te desesperes, e espera até o final,
porque então uma abundante Colheita será a generosa recompensa a todos os teus
esforços.
... Que, cheio transbordando do Caldo, lhe explodiram as Tripas.
Na Visão, nos informam à continuação que ao cabo de um tempo o Sapo
(cheio transbordando de caldo) arrebentou. Este caldo é o mesmo que preparou a
bela Medeia e que verteu sobre as duas Serpentes que vigiavam as Maçã Douradas
que cresciam no Jardim secreto das Virgens Hespérides.
E é que o Vinagre dos Filósofos, ao circular pela superfície do Corpo,
engendra uma substância similar a um Caldo sangrento que faz que as Cores do
Arco íris apareçam sobre o Leão que ascende e descende; finalmente, as Águias
devoram o Leão. E todos juntos, já mortos, Carcaça e Cadáveres, se convertem num

83 

 
   

Sapo venenoso que se arrasta pela Terra e num Corvo que nada no meio do Mar
Morto.
0 suco de Uvas, é pois, o nosso Mercúrio, extraído do Camaleão ou Ar de
nossa Magnésia física e da Siderita Mágica, após circular sobre a nossa verdadeira
Terra Lemnia se mistura toscamente com ela, se une a ela e se coloca sobre o fogo
para ser digerido; continua encharcando o Corpo, por dentro e por fora, chegando
até as partes mais profundas e fazendo que o oculto se manifeste através do ascenso
e descenso contínuos, até que tudo se converte num Caldo. Este Caldo é uma
substância rala de diferentes qualidades, entre Água e Corpo. Finalmente, o Corpo
explode e se converte num pó semelhante aos Átomos do Sol, completamente negro
e de qualidade viscosa.
Depois disto, do seu Corpo envenenado escapou o veneno letal,
Esta Redução do Corpo faz esta água se torne tão venenosa que, como
testemunham os Filósofos, não exista verdadeiramente em todo o Mundo um
Veneno com um cheiro tão pestilento. Portanto, diz-se que do seu corpo
envenenado escapou o veneno letal; as exalações se comparam com a fumaça
venenosa dos Dragões, à qual se refere Flamel no seu Sumário. Mas o Filósofo
comenta nos seus Hieróglifos dos dois Dragões não percebe o seu fedor a não ser
que se rompam os Recipientes; simplesmente o intui ao observar as cores da
podridão das Confecções.
E verdadeiramente é maravilhoso pensar (alguns filhos da Arte são
testemunhas visuais) que o Corpo de Ouro, fixado e completamente digerido, se
apodreça e se converta em algo putrefato, como se fosse um cadáver, coisa que se
consegue graças à admirável Virtude Divina da Água dissolvente, que não pode ser
comprada com Dinheiro. Todas estas operações, que se alongam muito por se
apresentarem de formas muito variadas, se resumem em uma: matar o vivo e
ressuscitar o morto.
E os seus membros começaram a inchar, se sentia tão Doído e tão Mal.
Esta fumaça venenosa das exalações, ao voltar ao Corpo, provoca o seu
inchaço, como diz o Filósofo. 0 Corpo que está nesta Água se infla, se incha e
84 

 
   

apodrece, como um Grão de Trigo, assumindo ao mesmo tempo a natureza viva e a


vegetal. E é por isto que os Filósofos chamam esta Água de sua Levedura, porque
como a Levedura faz que a Massa se inche, esta Água fermenta o corpo, fazendo
que se inche; também recebe o nome de veneno, porque como o veneno, causa a
inchação ao atuar repetidamente sobre o nosso corpo.
Esta operação é contínua, começa quando a matéria começa a reagir e dura até
que ocorre a putrefação total. 0 Sapo continua exalando (deveria mais bem ser
chamado Leão) até que começa a se dar por vencido e então, quando o Corpo
começa a assumir ligeiramente a Natureza da Água e a Água a do Corpo, é
comparado com os dois Dragões, um alado e o outro sem asas; finalmente, quando
aparece essa Terra pestilenta que Hermes chama a sua Terra Foliata ou Terra de
Folhas, é denominado mais corretamente Sapo da Terra, desde o momento da
primeira excitação até a putrefação final. As exalações são Brancas durante a
primeira fase, passando depois a ser Amareladas, Azuladas e Negruscas (por causa
da virulência da matéria). As exalações vão-se condensando, formando pequenas
veias e gotejando continuamente; penetram as gotas no Corpo com uma facilidade
assombrosa e quantas mais penetram mais se inflama e se incha até que acaba
apodrecendo completamente.
Empapado em suor Envenenado, se dirigiu à sua secreta Madrigueira,
Os dois versos seguintes não são mais que uma descrição mais Ampla do
trabalho, da volatilização, que consiste na ascensão e descenso, ou seja, na
circundação da matéria pelo interior do Recipiente. O Recipiente é chamado aqui de
Madrigueira secreta; o mesmo autor o chama em outros escritos de pequeno Barril
de cristal. Trata-se de um Receptáculo de forma ovalada. Está fabricado com Cristal
Branco de grande pureza e é do tamanho de um Ovo de Galinha; dentro dele se
verte uma onça, ou seja, oito dracmas do preparado, que é a quantidade adequada
para preparar a mistura. A continuação o gargalo do Recipiente é fechado com um
Carimbo de Hermes; como possui uns seis dedos de altura e é estreito e fino, se
fecha de uma forma Artificial, fundindo-o para que os Espíritos não possam escapar
nem o Ar possa entrar. Por isto recebe o nome de Madrigueira secreta.

85 

 
   

Também recebe este nome pelo caráter secreto das Cinzas ou da Areia sobre
as quais se coloca o Recipiente ao introduzi-lo no Forno de Atenor Filosófico. As
portas do forno devem ficar hermeticamente fechadas. O Forno dispõe de uma
Janela que pode ser aberta ligeiramente sempre que a ocasião o requeira ou resulte
conveniente; a abertura também pode ser coberta com um Cristal, e desta forma o
Artista poderá contemplar o processo. Para distinguir as cores necessitará da ajuda
de uma lâmpada.
E exalando um Cheiro pestilento branqueou as paredes da Cova.
Depois de colocar secretamente o Recipiente, o Ninho e o Forno, o Artista
deve, em primeiro lugar, estar disposto a permanecer encerrado durante um longo
tempo; assim o afirma Bernard Trevisan. A Parte Côncava deste lugar secreto ficará
tão branqueada pelas fumaças que ascendem que o Artista realizará o seu trabalho
guiando-se mais pelos olhos da sua mente - a sua sabedoria e a sua lógica - que
pelos do seu Corpo; porque os Espíritos, levantando-se em forma de fumaça ou de
Vento, ficarão aderidos à Parte Côncava do Recipiente, que se encontra situado
sobre a Areia ou as Cinzas. Lá, pouco a pouco, irão formando-se gotas que
escorregarão para abaixo, encharcando o Corpo e reduzindo a parte fixa tanto
quanto seja possível. E assim, o Corpo por causa da Água e a Água por causa do
Corpo, alterarão as suas cores.
Depois de um tempo, começou a aparecer uma Neblina de cor Dourada,
Este processo continuará até que pareça que o Recipiente está banhado em
Ouro; porque as exalações são de cor Amarela, que é o símbolo da verdadeira
Copulação do Homem e da Mulher. Antes que surja esta cor Amarela irá
escurecendo-se a Branca Brilhantez das fumaças, aparecendo uma mistura de Cores
Escuras, apagadas e Azuladas.
Esta fase não é muito longa; as diferentes etapas podem ser observadas antes
que decorram quarenta dias, já que durante esse tempo as Cores dão sinais de
Corrupção e Geração graças à Natureza impetuosa e demolidora das nossas Águas
pônticas e à resistência do nosso Corpo. Na Luta, o Corpo é derrotado e morre, e ao
morrer faz com que surjam ditas Cores; isto significa que as Águias conseguiram
dominar o Leão e também que o Leão as contagiou ligeiramente, pois começaram a
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comer o seu Cadáver. Os Sábios Artistas dão a esta Operação o nome de Extração e
Separação de Naturezas, já que a Tintura começa a se separar do Corpo. Também a
chamam Redução à primeira matéria, ou seja, ao Esperma ou à Semente, que
devido à sua dupla Natureza é comparada com os dois Dragões. Não aprofundarei
mais nesta Visão; limitar-me-ei a explicar resumidamente o que brevemente foi
exposto.
Cujas gotas pintavam o chão de vermelho ao cair do alto.
Estas cores do Mercúrio pintam adequadamente o Corpo fixo que se assenta
sobre o fundo, e os Corpos procedentes das exalações se Pintam de cor
avermelhada. Referindo-se a isto, Flamel afirma que estas duas Naturezas ou
Dragões se mordem cruelmente; uma vez que se agarram já não se soltam até que,
por causa das suas babas Venenosas e dos seus ataques mortais, ficam
completamente ensangüentadas. Depois, cozinhando-se no seu próprio Veneno, se
convertem numa Quinta-Essência.
E quando ao Sapo começou a lhe faltar o alento vital,
Antes de se renovarem, estas Naturezas têm primeiro que atravessar um
Eclipse de Lua e outro de Sol, assim como também a escuridão do Purgatório, que é
a Porta da Escuridão-, depois de fazê-lo, a luz do Purgatório as renovará.
Esta fase recebe a denominação Alegórica de Morte, porque embora um
homem resista valentemente aos ataques violentos que possam turbar a sua vida, se
os seus Inimigos são muitos e muito fortes não poderá enfrentá-los, começará a
perder a força e a coragem e a Palidez, Arauto da Morte, aparecerá nos seus lábios.
Assim também o nosso Corpo ou Homem, o Sol, resiste durante um longo tempo
como um grande Campeão, até que é ferido e, com todo o corpo coberto de sangue,
morre; ao morrer, começa a aparecer a negrura, que, como antanho os Corvos,
pressagia a morte do Homem. Esta Reiteração ou Rotação das Influências do Céu,
junto com o Calor que o resseca e a Umidade que o encharca na sua veloz caída,
acaba fazendo finalmente que morra e se corrompa de uma forma natural, como o
resto das coisas.

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Em seguida, começa a faltar alento ao Corpo do Sapo, ou seja, se acabam as


fumaças. Como ascendem e descendem tantas vezes, os Espíritos começam a se
fixarem convertendo-se em Pó e repousando no fundo do Recipiente. O processo da
Putrefação começa imediatamente e os Espíritos permanecem no fundo durante um
tempo, sem ascender.
Portanto, controla bem o Fogo, não seja que os teus Espíritos, completamente
exaltados, acendam tanto que a Terra se apodere deles sem deixá-los voltar. Esta
Operação consiste, como afirma Morien, em extrair a água da Terra e em devolvê-
la, fazendo-o tantas vezes e durante tanto tempo como seja necessário para que a
Terra apodreça.
Negro como o Carvão ficou o moribundo Animal.
Aqui acaba o Combate, porque nesta Terra de Folhas todos os elementos se
reconciliam e finalmente reina a Paz. As diferenças Naturais se abraçam, sem ter
outra forma que a do Pó impalpável e sem ter outra cor que a do negro mais negro.
A partir deste momento as Naturezas se unem, fervendo e cozinhando-se todas
juntas como se fossem Breu derretido e intercambiando as suas formas. Tem
cuidado, para que não obtenhas, em lugar de um Pó Negro como o que mais como o
do Bico do Corvo- um inservível Precipitado seco e meio vermelho; este
Precipitado de cor laranja indica, sem dúvida, que se produziu a Combustão das
Flores ou Virtude da Semente Vegetativa. Eu mesmo dei este tropeço e por isso lhes
advirto.
E desta forma, se afogou dentro do Veneno que pelas suas veias fluía.
Considerando o que anteriormente foi exposto e o fidedigno Testemunho de
todos os Filósofos, parece ser Certo que este trabalho não é demasiado oprimente,
mas que, pelo contrário a Mestria se alcança de uma forma completamente natural.
Porque, uma vez que o verdadeiro corpo se Empasta com a verdadeira Levedura, se
calcina e se dissolve, convertendo-se em uma Água negra que às vezes muda de
cor; isto indica que a Tintura está expandindo-se, que os Espíritos estão
Coagulando-se e convertendo-se em um Pó negro, tão Negro como a Fumaça. Este

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é o Período de Escuridão inferior, que é o Final da Eclipse, uma fase de Contrição


que começa pouco depois que apareçam os tons Amarelados, Azulados, etc.
Assim esteve, apodrecendo, durante Oitenta e Quatro dias.
A Calcinação se inicia com estas Variações de Cor que demoram em aparecer,
se o Processo foi levado a cabo de forma satisfatória, uns quarenta e dois dias; uns
cinqüenta como máximo. Depois tem lugar a Corrupção e a Putrefação e tudo
adquire um aspecto parecido ao da porcaria que surge de ferver Sangue ou derreter
Breu. No entanto, a cor Negra, pelo menos de uma forma Superficial, começa a
aparecer aos quarenta dias de ter sido removida a matéria. Sempre que o Processo
tenha sido correto e o Fogo adequado; como muito, pode demorar cinqüenta dias.
Ao dizer que se afoga no seu próprio Veneno e se cozinha no seu próprio Caldo, o
autor se refere ao Negrume total, à lúgubre Escuridão da Podridão absoluta que, de
acordo com ele, dura oitenta e quatro dias. Os Escritores não se põem de acordo na
duração deste período de tempo, mas no que sim coincidem todos é em afirmar que
para que o processo chegue ao seu Fim tem que decorrer muito tempo. De acordo
com um deles, <<esta cor Negra, tão Negra como nenhuma outra tem uma longa
duração e não desaparece até que passem pelo menos cinco meses>>. De acordo
com outro, <<quando o Rei entra no seu Banho tira a Túnica e a dá a Saturno, quem
por sua vez lhe dá uma Camisa Negra que ele terá em seu poder durante quarenta e
dois dias>>. E de fato, decorrerão quarenta e dois dias antes que se coloque esta
Camisa Negra em lugar da sua Túnica Dourada; o que acontece é que tudo o que se
refere às suas Qualidades solares se destrói, e, deixando de ser Fixo, Citrino,
Terrenal e Sólido, se converte numa Substância Volátil, Negra, Espiritual, Aquosa e
Fleumática. A Putrefação não começa até que não desapareçam as primeiras
Formas, pois o fato de que um Corpo possa recuperar a sua Natureza anterior
implica que ainda não está bem moído e umedecido. Portanto, moa-o e umedeça-o
até que vejas que os Corpos deixam de ser Corpos e se convertem em Fumaça e
Vento; observarás que, após circular durante um período de tempo equivalente a
uma estação, se assentam e apodrecem.
Então, no Oeste, Saturno regerá a Terra Ocidental, Retentiva e Outonal;
depois irá para o expulsivo Norte, onde Mercúrio rege a Água e onde a Matéria é
Aquosa, Flemática e Invernal. Os que dividem a Operação em duas partes, o
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Reinado de Saturno e o de seu sucessor, Júpiter, adscrevem a Saturno toda a parte


da Putrefação e a Júpiter o período de variedade cromática. Depois de Júpiter, que
só reina durante uns vinte ou vinte e dois dias, vem a Lua, a terceira Pessoa,
brilhante e bela, que reina durante pelo menos vinte dias, algumas vezes durante
vinte e dois. Ao realizar o Cômputo, o melhor é contar desde o dia quarenta ou
cinqüenta -partindo do início da formação da Pedra- até o dia quatorze ou dezesseis
do Reinado de Júpiter. Durante este período, ao lavar o Latão continua aparecendo a
cor Negra, embora misturada com outras Cores mais alegres. A soma destes dias é o
tempo que, conforme calcula o Autor, demora em se realizar a Putrefação; ou seja,
oitenta e quatro dias. Tendo em conta todo o período de Negrume, como faz
Augurellus, transcorrerão quatro vezes onze dias com as suas respectivas noites, o
que nos dá um total de quarenta e quatro dias. Conforme outro Filósofo <<durante
os primeiros Cinqüenta Dias aparece o verdadeiro Corvo, depois, aos Setenta
Dias, a Pomba Branca, e 'depois, aos Noventa Dias, a Cor de Tírio>>.
Eu desejava Experimentar para extrair aquele Veneno,
De modo que coloquei o Cadáver sobre um Fogo muito lento.
Uma vez feito isso, oh, Prodígio para a vista que não pode ser narrado!
Apareceram Cores estranhas por todo o Cadáver do Sapo
Tornou-se branco quando as cores desapareceram de lá;
Logo, após se tingir de vermelho, ficou para sempre assim.
Darei a minha própria Opinião: Mistura bem as duas Naturezas, e se as
matérias, tanto o Corpo como a Água, são puras, a Temperatura interior do Banho é
a correta, e o Fogo externo o adequado - não demasiado violento para que as
Matérias possam circular bem, a Natureza Espiritual sobre a Corporal, depois que
passem quarenta e seis ou cinqüenta dias poderás ver aparecer o princípio do
completo Negrume; depois que passem outros cinqüenta e seis dias,, verás a Cauda
do Pavão Real e as Cores do Arco-íris, e quando decorram outros vinte e dois ou
vinte e quatro dias poderás ver a Lua perfeita, o Branco mais Branco, que, ao longo
de vinte dias, ou vinte e dois ao sumo, irá tornando-se cada vez mais brilhante.
Depois disto, após aumentar ligeiramente o volume do Fogo, verás o Reinado de
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Vênus, que durará quarenta ou quarenta e dois dias. A continuação virá o Reinado
de Marte, que durará outros quarenta e dois dias. depois seguirá o Reinado do Sol
Flavus durante quarenta ou quarenta e dois dias e, finalmente, aparecerá, de modo
repentino, a Cor Tíria, o Vermelho Brilhante, o Vermelhão ardente, o Vermelho da
Amapola da Roca.
Com o Veneno obtido um Remédio fabriquei,
Que destrói o Veneno e salva o Envenenado.
Assim, mediante a Decocção simplesmente, estas Naturezas mudam e se
modificam maravilhosamente, até se converterem nessa bendita Tintura que obriga
a sair todo o Veneno; apesar de que antes da Preparação fosse ela mesma um
Veneno letal, se converte agora no Bálsamo da Natureza, expulsando todas as
Doenças e cortando de um Golpe tudo aquilo que seja prejudicial para o frágil
Corpo Humano, o que é verdadeiramente maravilhoso.
Glória ao que nos proporciona estes secretos Métodos,
Ao Domínios e Honra, Adoremos e Louvemos. Amém.
Agora bem, DEUS é o único que pode dispensar estes gloriosos Mistérios. Fui
para ti uma fiel Testemunha da Natureza e sei que tudo o que escrevo é certo e que
todos os Filhos da Arte saberão pelos meus escritos que sou, como eles, um
Herdeiro dessa Habilidade Divina. Para que me entendam os Ignorantes escrevi da
forma mais clara que pude e tivesse escrito mais se o Criador de todas as coisas me
tivesse dado maior Autoridade. Para Ele e unicamente para Ele é toda a Honra, o
Poder e a Glória; para Ele, que criou todas as coisas e que concede o dom da
sabedoria a quem considera os seus Servos, retirando-o conforme a sua vontade;
para Ele é todo a Honra e a Adoração. E tu, Irmão, que gozas desta preciosa
Bendição Divina, utiliza toda a tua força para lhe servir, porque tudo é merecido por
quem criou todas as coisas e para cuja glória todas as coisas são e foram criadas.
Fim da Visão de Sir George Ripley,
Cônego de Bridlington.

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PRINCÍPIOS: PARA DIRIGIR AS OPERAÇÕES NA


OBRA HERMÉTICA
IRINEU FILALETO

Texto extraído de: Guillaume Salmon. "Biblothèque des Philosophes Chimiques". Paris. 1740. [Translated by
José Luis Rodríguez Guerrero.] E para o português por José Oswaldo Santana Júnior

Não empreenda jamais a Grande Obra seguindo as regras que sejam sugeridas
pelos ignorantes e os livros dos sofistas, e não se aparte nem no mínimo deste
princípio: O objeto de vossas aspirações é o Ouro ou a Prata, o ouro ou a prata
devem ser os únicos objetivos que necessitarás perseguir por meditação de nossa
fonte mercurial preparada para banhá-los, o qual requer toda sua laboriosidade.

Não faças eco de quem argumenta que nosso Ouro não é o ouro ordinário, que
não é o ouro físico.O ouro ordinário está morto, isso é certo; porém, tal como nós o
preparamos, revive, como um grão de trigo morto que renasce na terra. Ao cabo de
seis semanas, o ouro que está morto recobra a vida em nossa Obra, se faz vivo e
espermático, porque se o há cultivado na terra apropriada, quero dizer, em nosso
composto. Assim pois, podemos chamá-lo, com razão de nosso Ouro, pois nós o
associamos a um agente que sem dúvida lhe devolve a vida, assim mesmo,
empregando uma denominação contrária, podemos denominar homem morto ou rei
da morte, porque o sujeito morrerá pronto, mas no entanto está vivo todavia.

Separe o Ouro, que é o corpo e representa o papel de macho em nossa Obra;


necessitareis, todavia outro esperma, que é o espírito ou alma ou a fêmea. Este
esperma é o mercúrio fluido, semelhante por sua forma ao azougue comum, porém
mais limpo e puro. Muitos empregam no lugar do mercúrio diversos licores e águas,
que denominam mercúrio Filosófico. Não se deixe seduzir por seus formosos
discursos, não empreenda tais trabalhos, porque tudo será inútil, é impossível colher
o que não se semeou, só se recolhe o fruto quando se semeou a semente, portanto,
se semear vosso corpo, que é o ouro, em uma terra onde haja um mercúrio não
metálico nem par igual aos metais, em lugar de um elixir metálico, só obterá de
vossa operação uma cal árida, sem virtude alguma.

Nosso mercúrio parece ser uma substância similar ao azougue ordinário,


porem difere por sua textura, pois possui uma forma celeste e ígnea e uma virtude
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excelsa, qualidades que recebe de nossa Arte, dedicada a sua preparação.

O segredo desta preparação consiste em escolher um mineral que tenha certa


semelhança com o ouro e o mercúrio. É preciso impregná-lo com o ouro volátil que
se encontra sobre a região lunar (lumbar?) de Marte, se deve purificar o mercúrio
com este elemento sete vezes pelo menos. Uma vez feito isto se prepara o mercúrio
para o banho do Rey, quer dizer do ouro.

Com o requerido tratamento – entre sete e dez vezes – o Mercúrio se purifica de


forma crescente e se faz cada vez mais ativo, porque nosso enxofre autentico o
liquefaz em cada preparação; porem se o submetemos a um número excessivo de
preparações ou sublimações, se faria demasiado ígneo, e em vez de dissolver o
corpo, coagularia a si mesmo, se coagular-se a si mesmo o ouro não se fundiria nem
se dissolveria.

Após a liquefação ou vitalização desse Mercúrio, há de destilá-lo duas ou três vezes


em uma retorta de vidro, porque possivelmente caiam alguns átomos do corpo no
momento de sua preparação, ato seguido se deve lavar com vinagre e sal amoníaco,
então será quando está pronto para nossa Obra, o qual deve entender aqui de uma
forma metafórica.

Eleja sempre para esta obra um ouro puro e sem mescla, se não for assim quando o
comprar purifica-o, você mesmo pelos métodos ordinários. Uma vez concluída esta
operação reduza-o a pó com uma lima ou outra ferramenta, ou converta-o em
laminas sutis, se o preferir pode calciná-lo com corrosivos o procedimento é o de
menos, só importa que a pulverização seja muito sutil.

Vamos agora a mistura: Toma uma onça ou duas desse corpo já preparado, e
duas ou três onças, a maioria de Mercúrio vitalizado, que se obtêm como já
indiquei, mistura a ambos os ingredientes em um almofariz de mármore
previamente aquecido com água fervendo ou algo similar, amasse-os e triture-os até
que formem um conjunto homogêneo. Adicione seguidamente vinagre e sal para
conseguir a pureza perfeita, depois o lave com água morna e o seque muito bem.

Mesmo que este procedimento lhe pareça enigmático, posso assegurar que o
estou falando com absoluta sinceridade; todos nós nos servimos deste caminho que
mostro aqui; e todos os filósofos antigos hão se servido deste meio, que é o único.
Nosso sofisma está somente nas duas classes de fogo empregado em nossa Obra.

O Fogo secreto interno é um instrumento de Deus, e suas qualidades são


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imperceptíveis para os homens. Aqui falamos freqüentemente deste fogo, embora


pareça que nos estamos referindo ao calor externo, esta é de origem dos freqüentes
erros que em que tropeçam os falsos filósofos e os imprudentes. Dito fogo é nosso
fogo graduado, já que o calor externo é quase linear, ou seja, uniforme e igual em
todo o processo, este não sofre nenhuma alteração durante a Obra do vermelho ao
branco se excetuam os sete primeiro dias em que o rebaixamos para conservar a
pureza da obra, porém o filósofo experimentado não necessita de tais advertências.

Com respeito ao fogo externo, se gradua com sensibilidade de hora em hora, e


o reanima cada dia, como resultado da cocção, as cores se alternam, e amadurecem
o composto. Acabo de fazer um nó muito difícil e intrincado; procura conservar esta
idéia em sua memória para não deixar-se enganar na seqüência.

Necessitarás prover-vos de um recipiente ou vazo de vidro, sem o qual não


poderá terminar vossa tarefa. Deve ter forma ovalada ou esférica e capacidade
suficiente para vosso composto, quer dizer, sua capacidade deve ser duas vezes
superior a matéria que se proponha a colocar nele. Nós o chamamos ovo filosófico,
o vidro deve ser espesso, muito transparente e limpo. Quando colocar ali sua
matéria, fecha a boca hermeticamente, não deve ter nenhuma abertura, pois do
contrário, mesmo que seja muito pequena se evaporaria o espírito sutil e se
frustraria a obra.

Para comprovar se seu recipiente esta fechado de uma forma hermética, faça o
seguinte experimento, cuja infabilidade é indiscutível: quando o recipiente esfriar,
coloca-o nos lábios no lugar onde o fechou e aspira com força, se houver alguma
abertura, absorverá o ar armazenado dentro do vaso, quando retirar a boca da
abertura da vasilha, o ar penetrará outra vez por esse orifício de tal forma que vosso
ouvido perceberá claramente um sibilo, esta prova experimental não falha nunca.

Também necessitará de forno – o qual os sábios denominam de “Atanor” –


com o qual poderá realizar toda a sua tarefa. O que precisara nos seus primeiros
trabalhos deverá estar disposto de tal forma que proveja um calor vermelho escuro –
ou algo menor, a sua vontade e se mantenha pelo menos durante doze horas com
absoluta uniformidade em seu mais alto grau de calor. Se possuir um forno
semelhante procura ater-se as estas cinco condições:

A Primeira: Que a capacidade de seu forno não deve ser superior a necessária
para conter se vaso e com um espaço vazio circular de uma polegada mais ou
menos para que o fogo procedente da ventilação da chaminé possa circular ao redor
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do recipiente.

A Segunda: Que vosso forno deve conter somente um recipiente, vaso ou


ovo, e a distância das brasas do o vaso por todos os lados deve ser de
aproximadamente uma polegada. E recorda sempre das palavras do filósofo: “Um
só recipiente, uma só matéria, um só forno”.
Este vaso deve ser colocado de tal forma que se encontre exatamente sobre
a abertura de ventilação por onde chega o fogo; aqui só deve haver uma abertura
com um diâmetro de duas polegadas aproximadamente, por cujo conduto se
canalizará uma língua de fogo ascendente e inclinada que tocará a parte alta do
recipiente rodeará seu fundo e o manterá continuamente como é devido.
A Terceira: que se seu vaso fosse demasiado grande, não poderias aquecer o
recipiente com a exatidão e continuidade requeridas, já que seu forno deve ter uma
capacidade três ou quatro vezes superior a seu diâmetro.

A Quarta: que se sua chaminé não é de seis polegadas aproximadamente no


segmento do fogo, jamais obterá a proporção necessária nem o ponto justo de calor,
se rebaixar essa medida e fazer flamejar demasiadamente vosso fogo, este será
excessivamente débil.

A Quinta: que a parte dianteira de seu forno deverá ter exatamente um só


orifício, de uma amplitude necessária para introduzir o carvão filosófico – quer
dizer, uma polegada mais ou menos -, de tal maneira que se projete o calor de
baixo para cima com maior força.
Assim dispostas as coisas, coloca neste forno o ovo onde se encontra a sua
matéria, dá-lhe o calor que exige a natureza, quer dizer, suave, não demasiado
violento, e eleva-o até onde a natureza cesse de atuar.

Não ignore que a natureza há deixado vossa matéria no reino mineral, e


embora hajamos estabelecido comparações entre vegetais e animais, é preciso que
conceba uma relação pertinente no reino onde está situada a matéria que quereis
trabalhar, por exemplo, se comparo a procriação de um homem com a germinação
de uma planta, não creia que em meu juízo o calor próprio de um seja também
adequado para o outro, pois nós estamos seguros de que na terra onde crescem os
vegetais há um calor que percebem as plantas, inclusive desde o começo da
primavera; no entanto um ovo não poderia se abrir com esse calor, e um homem
longe de percebê-lo se veria surpreendido por um grande atrevimento. Como nossa
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tarefa se desenvolve a toda luz no reino mineral. Você deve conhecer o calor que
necessita e distinguir com precisão o débil do violento.

Agora somente lhe convém recordar que a natureza os tem deixado no reino
mineral, senão que necessita trabalhar também o ouro e o mercúrio, os quais são
incombustíveis; que o Mercúrio é fluido e pode romper os recipientes que o
contenham se o fogo é demasiado violento. Que é incombustível e, portanto, o fogo
não pode alterá-lo, no entanto faz falta retê-o com o esperma masculino em um
mesmo recipiente de vidro o qual seria impossível se o fogo fosse demasiado vivo,
e então o verias ante a impossibilidade de executar vossa obra
Assim, pois, o grau de calor requerido é necessário para fundir o chumbo e o
estanho, e inclusive algo mais forte, porém não mais do que possam resistir os
recipientes sem romper-se, em outras palavras, o calor temperado. Como vê aqui se
demonstra que se deve iniciar o grau de calor com aquele que é próprio do reino
aonde a natureza os há deixado.

Todo o desenvolvimento desta obra que implica uma coobação da lua sobre o
solo está em ascender como nuvens e cair como chuva, por isso os aconselho que o
sublimeis em vapores contínuos para a pedra tome ar e possa viver.

Porém isso não basta se queremos obter uma tintura permanente; é preciso que
a água de nosso lago ferva com as brasas da arvore de Hermes. Eu os aconselho que
a façam ferver dia e noite sem cessar, para que a natureza celeste possa acender e a
natureza terrestre possa descender nos trabalhos de nosso mar tempestuoso. Se esta
operação de ferver não se desenvolve com exatidão jamais poderemos denominar o
carro de nossa obra, senão de digestão, porque quando os espíritos circulam sós em
silêncio e o composto que encontra abaixo não se move nem no mínimo por efeito
da ebulição então a denominação apropriada é digestão.

Não se precipite com a esperança de fazer a colheita – quero dizer a Obra –


antes de amadurecer, pelo contrário, deve trabalhar com absoluta confiança durante
um período de cinqüenta dias no máximo, e então vereis o pico do corvo como um
bom augúrio.

Segundo Afirma o filósofo, muitos imaginam que nossa solução é sumamente


sensível, porém quem a tem ensaiado ou experimentado sabe bem quantas
dificuldades encontra. Por exemplo, se semear um grão de trigo, o encontrará
inchado três dias depois, porém se o arrancar da terra, se secará e retomará a seu
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estado inicial, embora, haja sido acomodado em uma matriz conveniente e a terra
seja seu próprio elemento, porém, lhe haverá faltado o tempo necessário para a
vegetação. As sementes duras necessitam de um tempo mais longo na terra para
germinar, tal como a nozes e as ciruelas e outras frutas, cada espécie tem um tempo
próprio, e quando se espera este tempo prescrito para sua ação, sem acelerações
prematuras, se terá a prova incontestável de que a operação será natural e frutífera.

Acaso crê que o ouro, o corpo mais sólido do mundo, pode mudar de forma
em tão pouco tempo? É preciso manter-se em expectativa até o quadragésimo dia,
quando se deve ver o início do enegrecimento. Tão pronto como o observará,
considerando que seu corpo se destrói (desmonta), quer dizer, cai reduzido a uma
alma vivente, e seu espírito morre, ou seja, se coagula com o corpo, porém, se não
chega a esse enegrecimento, o ouro e o mercúrio conservarão sua forma e sua
natureza.
Cuida de que não se apague seu fogo nem um só instante, porque uma vez se
esfrie a matéria se perderá sem remição a Obra.
Tudo quanto acabamos de dizer significa que nossa obra se reduz a fazer
ferver nosso composto no primeiro grau de umidade e calor, que se encontra em
nosso reino metálico onde o vapor interno circula ao redor da matéria, nessa
umidade morrerão e ressuscitarão um ao outro.
Alimenta, pois, vosso fogo até a aparição das cores, e então vereis, ao fim o
branco. Quando este se fizer visível, o que ocorrerá até o final do quinto mês, estará
já certa formação da pedra branca, então poderá celebrar, porque o rei, vencedor da
morte, aparecerá no oriente envolto em glória, e seu sinal será um círculo citrino.
Atiça com animo o fogo até que as cores reapareçam, e então contemplareis
um formoso vermelhão e a dormideira silvestre. Glorifica a Deus e mostra-se
agradecido.
Por último, embora vossa pedra seja perfeita, faça-a ferver, ou melhor, cozer
uma vez mais na mesma água, com a mesma proporção e o mesmo regime, somente
procura que vosso fogo seja mais débil, por este meio aumentarás sua quantidade e
suas virtudes tanto quanto o desejar, e poderá reiterar uma vez mais e outra, esta
operação se o considerar necessário.
Que Deus Pai das Luzes, Senhor e soberano, Autor de toda a vida e de todo o
bem, o conceda a graça de mostrar essa regeneração da luz para entrar da terra vital,
na terra prometida a seus fieis, e a participar um dia da vida eterna. Assim Seja!
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O SEGREDO DO ELIXIR DA IMORTALIDADE


CHAMADO ALKAEST Ó IGNIS AQUA
IRINEU FILALETO

Comunicado a seu amigo, um filho da Arte e atualmente um Filósofo em forma de


perguntas e Respostas
O Segredo do Licor Alkahest
Pergunta: Que é Alkaest?
Resposta: É um menstrum Católico e Universal, e em uma palavra, pode ser
chamado uma Água Ardente (ignis-Aqua), um ens simples e imortal. Penetrante,
que reduz todas as coisas a sua substância líquida original, e a cujo poder nada pode
resistir, posto que atua, sem reação alguma por aprte do paciente. Não lhe falta nada
porque está equilibrado e por ele se pode subjugar, e sem dificuldades, depois de
haver dissolvido todas as demais coisas, sua natureza original permanece inalterada,
e depois de mil operações, conservará as mesmas virtudes que possuía ao princípio.
Pergunta: De que matéria é feito?
Resposta: É um sal nobre corrente, preparado com preciosa arte até satisfazer os
desejos do artista engenhoso. Assim pois, não é nenhum sal corpóreo convertido
em líquido por simples solução, senão um espírito salino ao qual o calor não pode
fazer coagular por evaporação da umidade, está formado de uma substância
espiritual uniforme, volátil por um suave calor sem deixar nenhum resíduo. Assim
pois, este espírito não é acido nem alcalino, senão um sal.
P: Qual é seu igual?
R: Se conhecer uma, podereis conhecer sem dificuldade a outra; busca portanto,
porque os deuses hão feito das Artes a recompensa da engenhosidade.
P: Qual é a segunda substância ou matéria do Alkaest?
R: Hei dito que é um sal, um fogo rodeou o sal a águam envolveu o fogo, sem
dificuldades o queimou, porque assim está feito o fogo dos filósofos do qual falam:
o vulgo queima com fogo, nós com a água.
P: Qual é o sal mais nobre?
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R: Se deseja aprender isto, desça dentro de si mesmo, porque, como o sal a seu
Vulcano, a levais convosco, se sois capaz de discerni-la.
P: Qual é ? Diga-me eu lhe rogo.
R: O sangue do homem fora do corpo, ou a urina humana, porque este é um
excremento separado do sangue em sua maior parte. Cada um dá um sal volátil e
um fixo se sabe como coletá-lo e elaborá-lo, terás o mais precioso balsamo da vida.
P: São as propriedades da urina humana mais nobres que as de outras bestas?
R: Em muitos aspectos, pois que embora seja um excremento, seu sal não tem rival
em toda natureza universal.
P: Quais são suas partes?
R: Uma volátil e uma mais fixa, porém podem ser alteradas de diversas maneiras
segundo a variedade que se recebe.
P: Há algo na urina que seja diferente de sua mais intima e específica natureza
urinácea?
R: Sim, a saber, uma fleuma aquosa, e sal marinho que assimilamos com a carne.
Este permanece inteiro e sem digerir na urina, por separação pode ser retirado, e
deixa de existir depois de um tempo conveniente se não se ingere a quantidade
suficiente na carne.
P: De onde vem esse fleuma, ou umidade aquosa insípida?
R: Na maior parte das diversas bebidas,e ademais cada coisa tem seu próprio
fleuma.
P: Explica-me mais claramente.
R: Deve saber que a urina, que consiste em parte de um humor excremental do
sangue, do que se separa o fermento úrico pelo odor, é conduzido pelas bebidas até
a bexiga, em parte por sua virtude separativa, e desde ali penetra mais
profundamente sem ser alterada sua salinidade, a não ser que a salinidade do sangue
e da urina sejam iguais. Assim pois, separe o sal contido na urina, todo o demais é
uma fleuma inaproveitável.
P: Como é que parece haver tanta fleuma na urina.

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R: Se supões assim, em primeiro lugar pelo sabor, sem segundo lugar pelo peso, e
em terceiro lugar por suas propriedade.
P: Sede vosso próprio intérprete.
R: O sal da urina contem tudo o que é propriamente essencial da urina, seu odor, é
muito penetrante e o sabor difere segundo a variedade que haja sido receitada
(ingerida?), assim que algumas vezes é também sal com salinidade úrica.
P: Que haveis observado em relação a seu peso?
R: Hei observado muitas coisas: que três onças de urina, ou um poço mais extraídas
de um homem são, pesariam um pouco mais de oitenta gotas de água mineral. Delas
hei visto destilar-se um licor de igual peso que dita água, porque é evidente que a
maioria do sal caiu aparte.
P: Que haveis observado sobre sua virtude?
R: A congelação da urina pelo frio é um argumento a favor da existência de fleuma
nela, posto que o sal da urina não se congela se está um pouco mesclado com algum
líquido, embora seja com água.
P: Sem dificuldades esta mesma fleuma, cuidadosamente separada por destilação,
retém a natureza da urina, como pode perceber por seu odor e sabor.
R: O Admito, embora muito pouco se possa discernir pelo sabor, tampouco
poderias perceber mas, já fora mediante aos odor e o sabor, que o que poderias
perceber do sal de urina dissolvido em água pura.
P: Que nos há ensinado a ciência do fogo em relação a urina.
R: Me há ensinado a fazer volátil o sal de urina.
P: Logo, que é o que cai?
R: Um pó espesso negro e malcheiroso
P: É o espírito completamente uniforme?
R: Assim Aparece a vista, ao olfato e ao sabor, e sem duvidas contem qualidades
diretamente opostas entre si.
P: Quais são?
R: Segundo sua virtude inata, por causa de uma se coagula e por outra se dissolve.
100 

 
   

P: Que mais?
R: Na coagulação da urina se descobre seu espírito etílico.
P: Existe tal espírito na urina?
R: Por suposição, realmente existe em toda urina, inclusive na do mais são dos
homens, e pela Arte se pode preparar uma grande quantidade.
P: Que eficácia tem este espírito?
R: Uma que é de lamentar, e que realmente pode mobilizar nossa compaixão pela
umanidade.
P: Porque?
R: Daqui o Dulech (?), seu mais encarniçado inimigo tem sua origem.
P: Dareis um exemplo disto?
R: O Farei. Toma urina e disolva um uma quantidade conveniente de salitre.
Deixado durante um mês depois do qual a destilarás. Emanará um espírito que
queimará a língua como se fosse um carvão em brasa viva. Verta novamente este
espírito e destila repetidamente quatro ou cinco vezes, extraindo cada vez no mais
da metade, assim o espírito se encontrará mais penetrante, embora não até sua
última agudeza. O calor que se desprendia na primeira destilação do licor se modera
depois sensivelmente, e se desvanece . No segundo espírito, o que a princípio era
muito agudo se percebe mais suave, tanto pelo olfato como pelo gosto.
P: Que haveis observado com respeito ao primeiro espírito?
R: Se se revolve um pouco, aparecem veias azeitosas resvalando aqui e ali,
exatamente igual ao espírito etílico quando se destila e desce pelo colo do
alambique formando linhas que parecem veias.
P: A que tipo de putrefação deve submeter a urina para que possa obter-se dela tal
espírito?
R: Deve estar em um recipiente ligeiramente fechado ou simplesmente coberto e
submetido a um calor tão escasso que apenas seja perceptível. Pode estar mais
quente algumas vezes ou mais frio outras, sem que em nenhum caso o calor ou o
frio excedam um devido ponto.
P: Como pode ser mais claro este espírito alcoólico?
101 

 
   

R: Com uma putrefação como a causada por um fermento que estimule a ebulição.
Isto não ocorreria senão ao cabo de muito tempo se a urina se guardasse em um
recipiente de madeira e em um lugar que não fosse quente e nem tão pouco frio,
como por exemplo, atrás de um forno de inverno, onde, guardado ali até que o
fermento emergisse por si meso na urina e produzisse bolhas, poderia extrair dela
uma aguardente que seria um pouco etílico.
P: Há algum outro espírito na urina?
R: O há, posto que a urina putrefada com o calor suave durante aproximadamente
duas semanas emite um espírito coagulante, que produzirá uma bem retificada
“Aqua Vitae”.
P: Como se prepara este espírito que forma o Dulech (coagulação) de si mesmo
com uma clara estalagmite aquosa, e que também o dissolve?
R: A urina, putrefada durante um mês e meio sob um calor mais ou menos igual ao
calor do esterco de cavalo, os dará, no recipiente adequado, este estalagmite de
acordo com os vossos desejos.
P: Todos os espíritos coagulam o espírito de vinho?
R: Não muito menos. Este segundo espírito carece desta propriedade.
P: Que contem a urina, assim obtida, aparte dos espíritos mensionados?
R: Seu mais fixo sal de urina, e acidentalmente, sal marinho.
P: No alambique e submetido a um suave calor, pode este sal mais fixo ser
convertido em um licor?
R: Pode, porém se requer arte e engenhosidade.
P: Onde está a fleuma?
R: No sal, posto que na preparação da putrefação, o sal, sendo putrefado na fleuma,
ascende junto com ela.
P: Podem ser separadas?
R: Podem, porém não por todo artista.
P: Que faz este espírito ao chegar este momento?
R: Prova-o e vos surpreendereis do que vereis na solução dos corpos.
102 

 
   

P: Não é isto o Alkahest?


R: Dito licor não pode ter uma composição que não compartilhe das propriedades
do sangue humano, e se observam indícios dela na urina.
P: Assim, pois o alkahest se esconde na urina e também no sangue?
R: A natureza nos dá ambas: o sangue e a urina; e da natureza destas cocções nos
dá um sal circulatório que roda no interior do sal de Paracelso.
P: O explicaria brevemente?
R: Somarei isto: o sal do sangue deve ser transmutado pelo fermento urináceo de
modo que possa perder sua última vida, conservar sua vida media e reter sua
salinidade.
P: Que propósito em isto?
R: De por manifesto as excelências do sangue do homem por cima de qualquer
outro sangue. Estas são transmitidas a urina ( depois que o licor excrementoso seja
separado dela), pelo que a urina humana sobre-passa a todas as demais é a causa de
suas magníficas propriedades.
P: Porque soma a urina?
R: Deveis saber que para transmutar as coisas é necessário um fermento corruptivo,
e a este respeito, não há outro sal com a força do sal de urina.
P: Pode-se obter a fleuma aparte do sal?
R: Se poderia, se a urina não fosse primeiro putrefada.
P: Quanta quantidade de água se calcula que é fleuma?
R: Umas nove partes de dez, destiladas de urina recente, devem ser rejeitadas. A
décima parte (sempre extraída em forma de licor) deve guardar-se. Pode extrair-se o
sal de urina seca, que cai no fundo, com água e um fogo suave ( que cause
sublimação), com tanta quantidade de água como a metade da quantidade de urina
de onde provenha este resíduo. Deixado que transfira por decantação o que seja que
está embebido na água, coado ou purgado por dissolução, e filtrado através de um
cristal. Verta água doce e repita esse procedimento até que o sal apareça puro.
Então mescla este sal enormemente moendo-o com vosso último espírito e faça uma
coobação.

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BENDITO SEJA O NOME DO SENHOR - AMEM

104 

 
   

ELUCIDANDO A PRÁTICA
Londres 1654 IRINEU FILALETO

Tradução de Paulo Cruz.  

O Primeiro Livro
A Alquimia - que alguns chamam de Arte Dourada - trata-se não de uma
fábula, como muitos quereriam, mas de uma verdadeira Ciência, como ficou por
nós provado e por exemplos demonstrado na parte anterior deste tratado, Ciência
esta cuja prática passaremos a elucidar nesta Segunda Parte, através da qual será
possível obter grande provisão de prata e ouro. E para uma boa compreensão das
nossas intenções considera corretamente, e com justeza pesa bem a razão da nossa
Obra, caso contrário é mais certo que percas o teu tempo e dinheiro em vão,
encontrando apenas esforço e despesa, tal como muitos já o fizeram.

De maneira que a Pedra que procuras, como já o dissemos e voltamos a


afirmar é apenas ouro levado à máxima perfeição possível; pois embora se trate de
um corpo firme e compacto é no entanto, através do engenho da Arte e operação da
Natureza transformado num Espírito tingente que nunca se esgota que a Natureza,
por si nunca teria conseguido produzir pois o ouro em si não possui o poder de se
elevar a tal grau de perfeição antes se mantendo eternamente na sua constância.

Aquele que se presta a encontrar tal Essência deverá então, através da Arte,
transformar o seu ouro em pó e fazer com que se converta numa água mineral, que
então circulará com um bom fogo até que quando toda a umidade se seque esta seja
fixada; a qual será com freqüência embebida e fixada de modo a que o infante
quede selado no ventre da sua mãe, e sendo alimentado até que se fortaleça e se
torne suficientemente capaz de resistir aos seus robustos oponentes: então
fermentando, deve por longo tempo residir em repetida negrura até que a Natureza
apodreça e morra, que deves logo revificar, sublimar e exaltar, e de novo retornar à
terra onde o deves deixar no calor o tempo necessário para que a negritude se
transforme na mais pura brancura; o Rei, sendo então colocado sobre o seu Selo
Real, brilhará como a chama faiscante e a pedra escondida a que chamamos
enxofre. Isto tu deves multiplicar até que se transforme no elixir espiritual; que será
então como juiz no Dia do Juízo Final, condenando ao fogo toda a escória que
aderir à mais pura substância nos metais imperfeitos.

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Donde que, sendo o nosso Sujeito o ouro, teremos que procurar o agente
adequado para o abrir, o qual, se souberes procurar a variedade mais adequada,
pouco trabalho terás a preparar; este será vil à vista e grandemente desprezado pelo
seu aspecto exterior. Deste assunto poucos autores tratam e os que o fazem
obscurecem esta chave o mais que podem, mas eu, querido leitor, serei de uma
sinceridade como nunca viste; garanto-te no entanto que este não é trabalho para
mentes opacas nem para aquele que desdenha trabalhar, pois a ociosidade é um
verdadeiro obstáculo para esta Arte; mas se possuis uma mente tranqüila e és
trabalhador presta bem atenção ao que irei declarar, e que trata primeiramente
daquilo que jaz escondido no nosso Agente ígneo.

A substância que tomamos primeiro em mãos é um mineral semelhante ao


Mercúrio que coze na Terra um enxofre cru. Este é chamado de Filho de Saturno,
parece de facto vil à vista mas o seu interior é glorioso. É cor de sabre, com veios
prateados misturados com o corpo cuja linha cintilante mancha o enxofre inato; é
todo volátil e não fixo, no entanto, quando tomado na sua crueza nativa purgou o
Sol de toda a sua superfluidade. A sua natureza é venenosa e muitos abusaram dele
medicinalmente. Se pela Arte soltamos os seus elementos o seu interior aparece
resplandecente, o qual então flui no fogo como um metal, embora nada exista de
natureza metálica assim tão frágil.
Este é o nosso Dragão, que o Deus da guerra assaltou com uma armadura do
aço mais robusto, mas em vão, pois logo uma Estrela nunca vista apareceu, de
modo que quando Cadmus primeiramente sentiu esta força não conseguiu agüentar
um tal poder, mas do seu corpo a sua Alma se separou. Oh força poderosa! Pois
quando os Sábios a avistaram grandemente se surpreenderam e assim a chamaram o
seu Leão Verde, cuja fúria com encantos esperaram com o tempo domar. Pelo que,
deixando-o presa dos sócios de Cadmus, verificaram que pelo seu poder os derrotou
e tendo a luta terminado, olhai, uma Estrela matutina foi vista a sair da Terra e após
as carcaças terem sido removidas logo apareceu uma fonte corrente, onde se disse
que a Besta saciou a sede até que o seu ventre estoirou. Mas pareceu-lhes deveras
estranho que logo que este Dragão se tivesse aproximado da Fonte, as Águas se
retirassem como que assustadas, pese embora o esforço de Vulcano em reconciliá-
las. Então apareceram as Pombas de Diana com adornos ofuscantes, com cujas asas
prateadas o ar se acalmou, no qual o Dragão dobrado para dentro perdeu a sua
picadura. Então as Águas como uma inundação logo voltaram e engoliram a Besta,
cuja cor se tornou negra como o carvão, e nisto o nosso Dragão fez com que a fonte
exalasse um cheiro fétido onde ele morreu e que lhe serviu de sepultura. Mas com a
ajuda de Vulcano este Dragão voltou à vida e recebeu dos Céus uma Alma, pelo
106 

 
   

que ambos se reconciliaram, aqueles que antes eram inimigos, sendo as suas almas
agora unidas, deixaram os seus corpos e transformaram-se no verdadeiro banho das
ninfas, e no nosso Leão Verde, pelo que nunca nada assim tinha sido visto antes.

Mas para não te manter mais em suspenso, iremos agora explicar claramente o
significado destas alegorias, desatando estes nós cujo sentido obscuro poderá deixar
perplexo o leitor.

Pelo que agora observa que o nosso Filho de Saturno deve ser unido a uma
forma metálica e mercurial, pois é apenas azougue o agente que a nossa obra
requer, mas o azougue comum não serve para a nossa Pedra; estando morto, presta-
se no entanto a ser animado pelo sal da Natureza e verdadeiro enxofre que é o seu
único conjugue. Este sal, que se encontra no rebento de Saturno e é puro
interiormente, tem o poder de penetrar o centro dos metais, e tem em abundância as
qualidades necessárias para entrar no corpo do Sol, o qual divide em elementos e no
qual reside após a dissolução. O Enxofre deves procurá-lo na casa de Áries, é este o
fogo mágico dos sábios para aquecer o banho do Rei (que deves preparar numa
semana). Este fogo está estreitamente escondido, mas podes revelá-lo numa hora e
depois lavá-lo em chuva prateada.

Parecia deveras estranho que um metal suficientemente robusto e fixo para


suportar o golpe atordoante de Vulcano e que não se abrandará em nenhum calor
nem se misturará em fluxo com nenhum metal seja no entanto pela nossa Arte
retrogradado neste penetrante licor mineral. Este trabalho real foi selado pelo Todo-
Poderoso para ensinar os prudentes que o Infante Real é aqui nascido, a quem eles
diligentemente procuram sendo pela Estrela guiados, mas os tolos procuram os
nossos segredos em coisas sórdidas e sem sentido e o que encontram é apenas a
própria ruína.

Esta substância tem uma natureza estrelada e completamente espiritual, sendo


totalmente inclinada a fugir do fogo; a razão é que a alma de cada um é como um
íman para o outro, e a isto nós chamamos a urina do velho Saturno. Este é o nosso
aço, o nosso verdadeiro hermafrodita, a nossa Lua, assim chamada pelo seu brilho:
este é o nosso ouro imaturo, que à vista é um corpo frágil e quebradiço, mas é
domado por Vulcano e cuja alma se sabes misturar com Mercúrio nenhum segredo
te será ocultado.
Não tenho necessidade de citar qualquer autor, pois eu vi e com as minhas
mãos trabalhei este mistério, e por constantemente seguir a sabedoria da Natureza
107 

 
   

fui levado a tornar brando o corpo mais sólido e do corpo mais grosseiro fazer uma
Terra tingente e fixa, que nunca se desvanecerá. E não sou o único que o diz, pois
muitos outros o fizeram, cujos segredos aqui vos revelo. Artephius nomeou-o, mas
o outro segredo não o revelou, antes disse que este deveria ser pedido a Deus, a não
ser que o ensinasse um sábio Mestre.

Este é o enigma que tanto tem deixado perplexos os estudantes desta Arte.
Assim Zeumon na Turba p.18, Ars Aurif: Vol.2, disse: A nossa Pedra é vil e no
entanto é combinada com o mais precioso. É aquilo que é deitado à rua, nos
caminhos, nas estrumeiras e nos lugares impuros que é a matéria que deveremos
tomar como verdadeiro fundamento da nossa Arte. Ninguém pode viver sem ela, e
há quem a aplique em usos sórdidos, o que demonstra que apenas com Marte ela
pode ser associada. Em barcos ela flutua sobre os oceanos, e sem ela não há barco
ou casa que possa ser construído, ou mercadoria que possa ser transportada; com ela
aramos a nossa terra, ceifamos o nosso milho, vestimos, fervemos e cortamos a
nossa carne, e com ela são ferrados os cavalos. Muitos mais usos ela tem os quais
seria fastidioso enumerar e, no entanto, encontramo-la freqüentemente num estado
contemplativo sobre a terra, em velhos pregos sem cabeça, que pouco valem o
achado, e que por isso como vil é estimado.

Para mais, Áries é conhecido da casa do robusto Marte, pelo qual todos os
artistas dizem que deves começar a tua obra, o que pode ser mais claro?
Dificilmente pode existir alguém tão ignorante que julgue que estas palavras
ocultam ainda um outro significado, pois nunca até agora isto tinha sido tão
claramente explicado. Belus na Turba, p.27, Ars Aurif: Vol.2, insta-nos a combinar
o lutador com aquele que não deseja lutar; pelo qual a Marte o Deus da Guerra ele
atribui Saturno em união, que se deliciava na paz e cujo reino não é necessário
revelar uma vez que é de todos tão conhecido.

Repara na segunda figura do Rosarium Philosophorum Irne, p.212, Ars Aurif,


Vol.2, na qual o Rei e a Rainha em vestes reais seguram entre ambos a nossa
verdadeira Lunária que contém oito flores e no entanto não tem raiz. Entre ambos
há um pássaro. Sob os seus pés o Sol e a Lua. O Rei tem na mão uma flor e a
Rainha outra e o pássaro segura com o bico numa terceira, tendo também na cauda
uma estrela que representa o nosso grande segredo, pois o pássaro alado representa
Mercúrio combinado com a Terra Estrelada até que ambos se tornem voláteis e
alados.

108 

 
   

Assim parece que os antigos Sábios escolheram antes instruir o olho por
imagens do que o ouvido por palavras. No entanto alguns dos seus discursos são tão
simples que qualquer palerma poderá perceber o sentido que eles contêm, e para o
mesmo propósito, sendo eu um filho da Arte, tenho na Cabala Sapientum a mesma
explicação, para a qual remeto o leitor aplicado. Prosseguirei agora com o objectivo
deste curso mostrando como obter esta Água, que tão poucos encontram, de onde
retiramos a mais secreta semente do Sol, pelo que aplica-te diligentemente em
aprender a obter esta Água, pois ela é o fundamento da nossa Quintessência.

Sabe então que todos os metais têm apenas uma matéria, que não é senão o
Mercúrio; que como fundamento possibilitou primeiro a transmutação e por isto nós
concluímos que a nossa muito secreta Água tem a mesma matéria que o vulgar
Mercúrio. E se o Mercúrio bruto e todos os cinco metais imperfeitos se podem
transformar em ouro, (sendo neste processo, e devido à sua crueza consumidos pelo
fogo), a razão é então como todos os Sábios ensinam que todos os metais contêm
em si o Mercúrio e todos são por conseguinte igualmente transmutáveis. Se o nosso
Mercúrio, ao qual chamamos a nossa Água viva, for outro que não o ouro imaturo,
então qualquer metal que seja pela Arte convertível em ouro deverá conter em si
essa natureza, da mesma forma que pela Arte é feita o nosso Azougue.

Assim, se o chumbo, estanho ou cobre fossem convertidos num verdadeiro


Mercúrio, então poderia a Arte causar essas Águas, pois seriam já tão diferentes na
forma que qualquer um deles se poderia enquadrar no nosso Mercúrio Filosófico.
Mas para que precisaríamos disso se a natureza produz já uma Água ao alcance do
artista, na qual através da Arte uma forma pode ser induzida de modo a comandar
os nossos segredos? Atenta então bem para o que deverá ser o nosso Mercúrio que
deseja ser o nosso mais secreto Menstruum, pois nós garantimos que ambos são
Metálicos de peso e cor semelhante, e que ambos são fluídicos e voláteis sob o fogo
mas, no nosso, deverá existir um Enxofre que não encontras no das minas, e este
Enxofre purifica a matéria, torna-a ígnea e no entanto não deixa de ser uma Água.
Pois a Água, que é o ventre, não tendo calor é totalmente inútil para a verdadeira
geração, nem o nosso corpo será reduzido a um humor, nem produzirá a sua
semente, enquanto não estiver sob a circulação do fogo, combinado pela Arte com
um mercúrio que tenha em si Enxofre.

Este Enxofre deverá ter uma força, ou virtude, magnética, pelo que deverá ser
ouro verdadeiro, embora imaturo, como também da mesma origem tanto a matéria
como a forma, apenas com esta diferença, que é que enquanto o outro é fixo este
109 

 
   

deve ser volátil e alado, tendo o poder de abrir e soltar o primeiro. E só há um corpo
na Terra suficientemente próximo do Mercúrio para o poder preparar para a nossa
pedra secreta e para poder esconder o corpo sólido no seu ventre e este, como disse
anteriormente, é o rebento de Saturno sobejamente conhecido por todos os magos, e
que eu aqui te mostrei.

E embora alguns metais possam ser fixados com Azougue não penetram uns
nos outros mais que à vista, e pelo calor podem facilmente ser separados, pois verás
que eles nunca penetram o centro, nem são por isso melhorados. A razão é que o
Enxofre que se encontra nos metais perfeitos encontra-se selado, ou nos outros
partilha das fezes terrestres e impurezas que o Mercúrio abomina e com as quais
nunca se unirá embora pareça à vista com eles se misturar. Se separares estas fezes
encontrarás Mercúrio fluídico e um Enxofre cru que endureceram a umidade pela
congelação bem como um Sal aluminoso mas todos eles são de natureza demasiado
distante do ouro.

Mas o mineral que tanto estimamos, exceto as suas escórias (que são
totalmente separáveis) contém um Mercúrio mais puro, que fará reviver os Corpos
mortos de forma a que estes possam como todas as outras coisas gerar a sua
espécie. Mas em si não contém nenhum Enxofre, embora, sendo quebradiço e negro
com veios brilhantes esteja congelado num Enxofre ardente. Este Enxofre não tem
nada de metálico, mas se corretamente separado segundo a Arte, as escórias sendo
removidas, aparece uma noz de aspecto metálico (que poderás moer em pó) na qual
se encontra fechada uma alma terna que se mostra como fumo sob um fogo suave,
semelhante ao Azougue, levemente congelado, e que o fogo de fato evapora.

É isto que dá penetração à nossa Água e lhe permite penetrar até ao centro dos
corpos, invertendo-os completamente e reduzindo-os à sua verdadeira matéria
primeira e isto deseja ser reunido com um verdadeiro Enxofre, que deverá ser
procurado na casa de Aries. Através deste mineral apenas e com a habilidade do
artista, é Marte retrogradado num mineral; como por muitos foi já ensaiado. Esta é a
nossa verdadeira Venus, a esposa do coxo Vulcano, e que é amada por Marte.

Primeiramente então faz com que Marte abrace este mineral, de forma que
ambos se libertem das suas características terrenas, e em pouco tempo a substância
metálica deverá brilhar como os céus, e como prova do teu sucesso deverás
seguramente nela encontrar a impressão do selo de um rei estrelado. Este é o selo
real, a marca que o Todo-Poderoso afixa neste estranho corpo. Este é o fogo
110 

 
   

celestial, no qual ao fazer despertar uma centelha, grandes mudanças ocorrerão nos
corpos, de tal modo que a negritude é feita brilhar como uma gema cintilante, com a
qual como um diadema o nosso jovem rei é coroado. A isto adiciona Venus na
proporção adequada, cuja beleza é admirada por Marte e que é conhecida por lhe ter
grande amor e desejo de com ele se unir, assim que logo é inclinada ao movimento,
sendo ela afim do ouro, Marte e da brilhante Diana, com quem ele concilia o amor e
a verdadeira união.
Mas Vulcano ficará cada vez mais ciumento e é com desgosto que o coxo cornudo
sente os cornos adornarem-lhe a cabeça, e na esperança de os destruir atira a sua
rede sobre os amantes apanhando a esposa e Marte durante o ato, exibindo-os desta
forma aprisionados.

No entanto, que isto não seja tomado como mera Fábula. Primeiro observa
como Cadmus é devorado pela nossa besta feroz a quem Cadmus depois de a ter
intrepidamente perfurado fez merecer nome de campeão, pois esta Serpente (de
poder inquestionável) ele com a sua lança mortal trespassou contra um carvalho,
perante o qual todos sentiram temor. Observa também a Estrela, que na realidade é
Solar, como se pode provar, pois o ouro unido intimamente com o filho de Saturno
cujas fezes foram purgadas quando tudo o que era perfeito se abateu no fundo,
depois de fundido e vertido, ao arrefecer nos mostra uma Estrela, assim como faz
Marte. Mas Venus fornece uma substância metálica que só por si é desprezível, mas
que ao ser unida com Marte, como que dobrados numa rede, aparece como
agradável à vista, como descreveram os poetas misteriosos de vista apurada, de
forma velada mas no entanto suficientemente clara para o Sábio.

De forma que a alma de Saturno, e Marte, são através da nossa Arte e com a
ajuda de Vulcano intimamente misturados, mas ambos são semelhantes e voláteis,
não sendo divisíveis até que a alma de Marte seja fixada e então deixe Saturno, e
então um ensaio revelará o mais puro ouro, e uma tintura da mais pura e verdadeira.
Mas esta mediação deve ser feita através de Vénus, caso contrário nenhum artifício
humano seria capaz de os separar, nem os poderia reduzir a pó. No entanto após a
sua união serão reduzidos apenas pela associação de Venus, da qual Diana produz
neles a separação.

Alguns para preparar esta Água usam as Pombas de Diana, o que é um


trabalho tedioso em que por cada vez que o artista acerta há sempre duas em que
falha: mas a outra forma (que é a mais secreta) nós recomendamos a todos os que
desejam ser verdadeiros artistas.
111 

 
   

Pelo que deverás assegurar que o vapor mais subtil da Água seja longa e
repetidamente circulado, até que as almas de cada (deixando a matéria grosseira) se
unam e voem juntas para o alto; onde não as deves deixar residir durante muito
tempo, para que não congelem, pois de contrário laboras em erro.

Assim tira do Filho do velho Saturno duas partes, de Cadmus uma parte e
estas purifica com a ajuda de Vulcano até que (sendo liberta das suas fezes) a parte
Metálica seja a mais pura; o que deves fazer em quatro reiterações, cujas operações
perfeitas te serão ensinadas pela Estrela.

Faz com que AEneis (?) seja igual ao seu amado, purgando-os com arte até
que a rede de Vulcano os envolva a ambos, pelo que deves então molhá-los bem
com a água e mantê-los em calor e umidade até se tornem perfurados e a suas
Almas sejam ambas glorificadas. Este é o Orvalho celeste, que deve ser alimentado
durante tanto tempo quanto seja requerido pela natureza, pelo menos três vezes, ou
até sete, assim os guiando através das ondas e chamas como a razão ordenará, mas
atenta para que a terna natureza não fuja pela força de um fogo demasiado forte.

Sabe também com certeza que o Mercúrio, com o qual a obra deve ser
iniciada, deve ser líquido e branco, mas toma cuidado para que não seques a
umidade em pó devido a um fogo muito forte, de modo que se mostre vermelho,
pois nesse caso o teu esperma feminino estaria corrompido e falharias o teu
desejado objetivo. Nem faças com que o Azougue se torne numa clara e
transparente goma, óleo ou ungüento, pois caso tenhas perdido a proporção certa
nunca chegarás a uma verdadeira dissolução mas serás obrigado a suspender o teu
trabalho já sem esperança, e a adiá-lo para outra altura, pois procedeste de forma
contrária às regras da Arte.

Preocupa-te apenas então em aumentar um espírito que falta ao Azougue


comum, sublimar o grosseiro no firmamento e separar as escórias segundo a Arte; o
que reiterado sete vezes deves então desposar com o ouro até que quedem ambos
perfeitamente combinados.

Assim através da Arte e com a ajuda da Natureza é a verdadeira Donzela


preparada, a qual sendo separada das fezes se faz um rebento celeste que tornou
macio o corpo sólido do Sol e ao ser separado em átomos se tornou negro e
putrefato, que depois no entanto revive e se torna volátil.
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Mas se eu aqui revelasse todos os segredos do fabrico desta nossa Água seria
desprezado por todos os verdadeiros artistas, pois apenas àqueles a quem Deus
deseja ensinar estes devem ser comunicados, enquanto que outros devem
permanecer perdidos num labirinto de erros. Mas aquele que com sofrimentos e
orações dedicadamente procurar este segredo, sem nessa busca ser excitado por
desejos de cobiça, mas procurar apenas o conhecimento com candura resolverá
certamente este mistério, sobre o qual ninguém em nenhuma altura falou tão
claramente.

Há alguns que através da Arte sabem preparar um maravilhoso Licor, que os


Adeptos chamaram Fogo do Inferno, e cujas virtudes são tão estranhas e poderosas
que (pela sua força) são capazes de resolver qualquer composto na sua Matéria
primeira, ou Água; isto numa suave dissolução de Azougue tão uniforme que como
gotas de cristal possa ser dela separado sem que nada seja depositado no fundo do
vaso nem a sua virtude de qualquer maneira enfraquecida. Pois sendo repetidamente
destilada deixa para trás o Azougue que como verás se assemelha a um sal fixo, de
odor lembrando o almíscar, ou aroma, e de sabor semelhante ao mel tal é a sua
doçura, que podes pulverizar como ferrugem e que nenhum fogo pode consumir,
isto no ensaio com Saturno aparece tão fixo como a mais pura Luna.

Esta substância ao ser coobada cinco ou seis vezes com a dita Água (com
digestão prévia) aparecerá como que um Óleo, e pouco tempo depois destila como
um Espírito, que pela adição de um pequeno sujeito pouco a pouco se separa em
duas substâncias distintas, que estando prontas serão guardadas separadamente,
sendo a primeira um Óleo ou Tintura solúvel em Licor; a outra (se a fazes ferver) é
através da Arte redutível em Mercúrio, cujo Azougue é uma substância tão
maravilhosa que não se encontra igual debaixo dos céus.

Esta nem com sais ou água forte poderá ser corroída em precipitado, ou por
circulação freqüente pelo fogo ser combinada, ou sublimada, ou seca em pó, nem
tão pouco ser fixada mas para sempre se manterá volátil. O grande Elixir não
conseguirá transmutar mas de fato dissolve e destrói; é de tal forma estranha que
todos os artistas surpreende, pois nenhum tem poder ou mestria para a alterar: e
através da forma mencionada, poderá ser produzida de todos os corpos Metálicos.

No entanto na nossa Arte isto não serve de nada, pois nós procuramos
multiplicar o Enxofre que é uma Hematina Solar e cuja cauda é lunar; são estes os
113 

 
   

únicos planetas que consideramos no nosso céu terrestre, rejeitando todos os outros
e todas as outras artes. Pois se Ouro, que pela natureza é feito puro e perfeito puder
através deste nosso fogo secreto ou Água ser retrogradado em Mercúrio e Enxofre,
sendo completo em substância, e que antes não podia ser separado pela força do
fogo, mas firmemente nele residia. Quem não vê que tal Mercúrio está distante da
nossa obra? Pois nós procuramos aumentar uma Tintura e apenas o Enxofre, que
como uma capa envolve o Mercúrio e é agradável à natureza Metálica e sem o qual
a Água não poderá reclamar o nome de um metal.

Este Enxofre encontra-se mais ou menos em toda a coisa Metálica, mas em


algumas uma certa escória inquina a substância pura, pelo que deve ser destruída
pelo fogo, pois tudo o que é grosseiro e inútil neste é consumido. Mas dos metais o
Sol e a Lua são revestidos tão intimamente por um puro Enxofre que suportam
grandemente a maior força de Vulcano, e nenhum Artifício humano poderá alguma
vez dividir este Enxofre da sua Água excetuando o mencionado licor, cuja virtude é
tão poderosa que reduzirá até o Sol e a Lua do seu estado fixo e os tornará voláteis.
Não apenas ele, mas também o nosso admirável Fogo podem fazer o mesmo ao
ouro, e de uma forma direta e gentil forçar a sua retrogradação, e no entanto sem
dividir o Enxofre do seu centro, antes o vestindo com uma veste Mercurial para que
ambos habitem combinadas numa Água Dourada.

Mas o mencionado Licor estranho ao dissolver destrói a homogeneidade


Metálica, pois ao separá-los causa um desentendimento e desunião, de modo que
nenhum pode desfrutar do outro e portanto o Mercúrio Central ao ser separado do
Licor tingido mantém-se em baixo de forma que a Hematina que antes no ouro
tinha o Pondus de um Metal se encontra agora tão alterada que se torna num
Azougue mais leve, à vista como que um Óleo ou mesmo um Sal untuoso, que é
uma nobre medicina para os enfermos.
E assim parece que tanto mais uma substância Metálica seja dissolvida nesta
umidade tanto mais é transformada de uma natureza Metálica cujo Enxofre, pela
força deste Licor poderá (embora contra-vontade) ser pelo menos trazido até uma
Água elementar; tal é o poder que este Licor tem sobre qualquer matéria.

Com isto todos os Filósofos concordam, e todos concluem que o nosso


Mercúrio é apenas um, que umidifica apenas aquilo que é homogêneo nos metais, e
que é a mãe da nossa Pedra e cujo segredo, se já não ignoras, deves calar; pois
ninguém alguma vez sobre isto escreveu mais claramente.
Fim do Primeiro Livro.
114 

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