Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Campina Grande - PB
1
Chagas – DEE/UFCG
Capítulo I
A forma construtiva básica e o modo de ligação de um TPI são mostrados na Fig. 1.1.
Ao contrário dos TCs, os TPs devem operar com altas impedâncias ligadas ao secundário.
2
Chagas – DEE/UFCG
A norma NBR 6855 - ABNT (2009) [1] estabelece valores de tensão secundária nominal de
115 V ou 115/3 V, ou ambos, como é mostrado na Fig. 1.2.
São mostrados três tipos de núcleo na Fig. 1.3. As duas colunas mais externas no TPI trifásico
(c) proporcionam baixa relutância para os componentes de fluxo sequência zero, em caso de
operação em regime desequilibrado, e de harmônica triplas, em caso de distorção.
Fig. 1.3. Circuitos magnéticos; (a), (b) TPIs monofásicos; (c) TPI trifásico.
Considera-se um TPI monofásico com núcleo de área de seção reta A, indução BK no ponto
de joelho da curva de saturação B- H e fator de empilhamento das lâminas do núcleo FE. No
seu projeto, recomenda-se usar a seguinte expressão:
FS . U1
N1 A (1.2)
4,44 f FE BK
Para as ligas Fe-Si de grãos orientados, BK ≈ 1,5 T, FE = 0,95 e a constante FS varia de 1,1 a
1,9. Assim, FS estabelece uma margem de segurança para que o TP não opere com o núcleo
saturado, em caso de sobretensão sustentada ou inrush. Dois tipos de TPs usados em média
tensão (15 kV) são mostrados na Fig. 1.4, um com isolamento de óleo mineral e o outro
encapsulado por isolamento sólido (epóxi). Um TPI usado em tensões de até 138 kV é mostrado
na Fig. 1.5.
Exemplo: Um TPI usado em uma linha de 138 kV, 60 Hz, possui um núcleo magnético com
área de seção reta de 16 cm2, fator de empilhamento de 0,95 e BK ≈ 1,5 T. Calcular o número
mínimo de espiras do enrolamento primário, N1.
3
Chagas – DEE/UFCG
1,2 x 138000 / 3
N1 157409 espiras
4,44 x 60 x 0,95 x 16 x10 4 x 1,5
Fig. 1.4. TPIs de média tensão. Fig. 1.5. TPI de alta tensão [2].
Para altas tensões, o número espiras N1 é muito alto. Como a impedância da carga secun-
dária é elevada, o fio do enrolamento primário é muito fino. Isto implica em maior custo devido
à dificuldade de fabricação (a possibilidade de rompimento do fio é grande). Uma solução é
utilizar núcleos e enrolamentos ligados em cascata. Ainda assim, os TPs do tipo indutivo não
são economicamente viáveis para tensões acima de 138 kV. Nestes casos, a solução mais
econômica consiste no emprego de transformadores de potencial capacitivos (TPCs).
É a relação entre os valores nominais U1N e U2N das correntes primária e secundária. Tais
valores são estabelecidos no projeto do TP, sendo indicada na placa de dados. É comumente
denominada relação de transformação, recebendo a notação KN. Esta relação não corresponde
4
Chagas – DEE/UFCG
exatamente à relação de espiras. Porém, elas se acham muito próximas; assim, tem-se:
U 1N N1
KN (1.3)
U 2N N2
É o fator pelo qual se deve multiplicar a relação nominal do TP para que seja obtida a relação
real KR, ou seja:
KR
FCR P (1.5)
KN
Ie I p I m (1.7)
5
Chagas – DEE/UFCG
I1' I e I 2 (1.8)
U K 1 1 FCRP
% 100 K N 2 1 100 N 1 100 1 100 (1.11)
U1 KR FCRP FCRP
Assumindo FCRP ≈ 1, tem-se:
% 100 FCRP % (1.12)
Da Fig. 1.7, vê-se que o erro de fase corresponde ao ângulo entre os fasores U1’ e U2.
A referida norma estabelece que um TPI de medição acha-se dentro de sua classe de
6
Chagas – DEE/UFCG
exatidão nominal quando os pontos determinados por % (ou FCRP%) e acham-se no interior
dos paralelogramos da Fig. 1.8, considerando os ensaios realizados com a carga nominal do TPI.
A norma NBR 6855 - ABNT (2009) [1] fornece detalhes acerca das tensões nominais dos TPIs
e das cargas nominais, expressas em VA com os seguintes valores: 12,5; 25; 75; 200; 400.
(a) (b)
Fig. 1.11. Ligação de TPIs; ( a ) estrela-estrela; ( b ) estrela-delta aberto.
Na Fig. 1.11(a), os enrolamentos primários são ligados em estrela, com o neutro aterrado,
ocorrendo o mesmo com os enrolamentos secundários. Na Fig. 1.11(b), os enrolamentos do
lado secundário são ligados em delta aberto, proporcionando uma tensão residual dada por:
U R U a U b U c 3U 0 (1.13)
Nas ligações da Fig. 1.11, pode-se usar TPIs monofásicos de núcleos magnéticos indicados na
Fig. 1.3(a) ou Fig. 1.3(b) ou TPs trifásicos, com núcleos mostrados na Fig. 1.3(c).
A norma NBR 6855 – ABNT / 1992 [1] estabelece características básicas a serem especifica-
das para consulta ao fabricante; as principais são:
Foi anteriormente afirmado que os TPs indutivos não constituem solução economicamente
viável para tensões superiores a 138 kV. Acima deste valor, usam-se os transformadores de
potencial capacitivos (TPCs), cujo esquema básico é mostrado na Fig.1.12.
Vê-se que além do divisor capacitivo, há um TP indutivo que proporciona redução adicional
de tensão, além de promover isolação elétrica em relação ao circuito primário. Também há um
10
Chagas – DEE/UFCG
indutor L sintonizado de modo tal que a tensão de saída seja independente da corrente I1
requerida pela carga. Isto é obtido fazendo-se:
1
L (1.14)
ω 2 ( C1 C 2 )
1
U j I j ω L I1 (1.16)
ω C2
O circuito completo de um TPC é mostrado na Fig. 1.13. Neste circuito são incluídos
elementos destinados à proteção contra sobretensões transitórias (proteção contra surtos) e
de caráter sustentado (supressor de ferroressonância).
Na Fig. 1.14 é mostrada a forma construtiva básica de um TPC. Como é ilustrado na Fig. 1.15,
a proteção contra surtos de tensão pode ser exercida ( a ) por um centelhador, ( b ) por um
centelhador em série com um resistor não linear ou ( c ) por um pára-raios de óxido de zinco
(forma mais comum).
O dispositivo de proteção contra ferroressonância é descrito no Capítulo II.
11
Chagas – DEE/UFCG
Bibliografia
13
Chagas – DEE/UFCG
Capítulo II
1. O Problema da Ferroressonância
fenômeno, uma vez que a aproximação das grandezas por equivalentes fasoriais acarreta em
um erro cada vez maior à medida que aumenta o grau de saturação do indutor não linear.
O circuito considerado e o diagrama fasorial correspondente são mostrados na Fig. 2.1 e na
Fig. 2.2, respectivamente. Neste caso, pode-se escrever para os módulos das tensões:
1
U L U UC U I (2.1)
C
Fig. 2.1. Circuito LC com indutor saturável Fig. 2.2. Diagrama fasorial do circuito da Fig. 2.1.
Com base nesta equação, pode-se construir o gráfico da Fig. 2.3, onde é mostrado o ponto
de operação inicial, P1. Este ponto corresponde à intersecção da reta descrita por (2.1) com a
curva de magnetização do indutor, para um valor de tensão da fonte U = U 1.
Fig. 2.3. Condição de operação estável de um circuito RLC em série não linear.
15
Chagas – DEE/UFCG
Observa-se que há grande aumento nos valores das tensões, corrente e fluxo. Como o ponto
P3 se situa numa região de intenso grau de saturação da curva U – I, as ondas associadas às
citadas grandezas apresentam caráter acentuadamente não senoidal.
▪ Danos a equipamentos em geral por elevação excessiva dos níveis de tensão e de corrente.
▪ Sobreaquecimento elevado e ruído no transformador em face do aumento de fluxo
magnético no núcleo e circulação excessiva de correntes parasitas.
▪ Deterioração da qualidade de energia ocasionada pela distorção das formas de onda de
tensão e de corrente, com surgimento de harmônicos e de sub-harmônicos.
▪ Destruição de descarregadores de surto (para-raios).
16
Chagas – DEE/UFCG
17
Chagas – DEE/UFCG
2. Ferroressonância em TPIs
Fig. 2.9. Ferroressonância causada por capacitância entre duas linhas e indutância de TPI.
18
Chagas – DEE/UFCG
com os contatos (capacitores de equalização). Isto é feito para que, quando o disjuntor estiver
aberto, as solicitações nos meios extintores das câmaras sejam iguais. Assim, poderá ocorrer
ferroressonância em caso de abertura do disjuntor, pois os capacitores estarão agora ligados
em série com o TPI.
Fig. 2.10. Ferroressonância causada por acoplamento capacitivo entre circuitos de alta e média tensão.
19
Chagas – DEE/UFCG
▪ Estabelecimento de condições para que a energia fornecida pela fonte não seja suficiente
para manter o fenômeno, introduzindo perdas para reduzir seus efeitos. Isso pode ser feito
pela inserção de resistência de amortecimento no circuito.
▪ Uma maneira comum de eliminar a ferrorressonância em TPIs é inserir resistências de
amortecimento da forma indicada na Fig. 2.13. A resistência R e a potência nominal PR do
resistor são dadas pelas expressões a seguir [3], onde U2 é a tensão nominal do secundário
do TPI, em volts, e PR é a potência térmica nominal do TPI, em VA.
3 3U 22
R (2.2)
Pe
PR
3U
2
2
(2.3)
R
20
Chagas – DEE/UFCG
O caso analisado refere-se a uma subestação de 230 kV cujo diagrama unifilar simplificado é
mostrado na Fig. 2.14, no qual são mostrados os componentes descritos a seguir.
A condição de operação analisada corresponde a DJ1 fechado, DJ2 abrindo e DJ3 aberto;
também 1B e 2B estão abertas. Neste caso, tem-se o circuito equivalente mostrado na Fig. 2.15.
dim
Lm u3 (2.8)
dt
di2
L2 R2 i2 u3 (2.9)
dt
du1
C1 i (2.10)
dt
f im (2.11)
22
Chagas – DEE/UFCG
im,k im,k 1
Lm u 3, k 0 (2.16)
h
i2,k i2,k 1
L2 R2 i2,k u3,k 0 (2.17)
h
u1,k u1,k 1
C1 ik 0 (2.18)
h
k f i m , k 0 (2.19)
Esse sistema não linear é resolvido pelo método de Newton-Raphson [4], com h = 1 s.
2300002
Z 3,3 Ω
16 x109
23
Chagas – DEE/UFCG
Rp
230000/ 3 2
R p 157 M Ω
112,06
A curva de saturação do TPI é mostrada na Fig. 2.16, a qual fornece o fluxo de enlace no
enrolamento primário em função da corrente de excitação, em valores de pico.
1000.00
800.00
Fluxo de Enlace ( V.s )
600.00
400.00
200.00
0.00
A curva de saturação é aproximada pelo método de linearização por partes, sendo usadas
coordenadas (im, ) de uma sequência de pontos levantados experimentalmente, com valores
de im crescentes ou decrescentes. Assim, as coordenadas de um ponto situado entre dois
pontos consecutivos fornecidos são determinadas através de rotina de busca em tabela
ordenada [4], empregando-se também o método de interpolação linear. Os pontos da referida
curva são fornecidos na Tabela 2.1.
24
Chagas – DEE/UFCG
Foi considerada no enrolamento secundário do TPI a carga P75, de 75 VA, padronizada pela
norma NBR 6855 – ABNT (2009) [8], a qual possui resistência de 163,2 e indutância de 0,268
H. Refletindo-se esses valores para o primário, tem-se:
R2 1200 2 x 163,2 235 x 10 6 Ω , L2 1200 2 x 0,268 385,92 x 103 H
Os capacitores de equalização dos disjuntores de 230 kV possuem capacitâncias na faixa de
325 pF a 7500 pF [9]. No caso analisado, é considerado C1 = 6100 pF.
A capacitância C2 é igual à capacitância para a terra do trecho do barramento B2
compreendido entre o disjuntor DJ3 e o TPI (CB2) mais a capacitância para a terra do TPI (CT) e
demais equipamentos ligados ao barramento (CD), ou seja:
C2 CB2 CT CD (2.20)
A capacitância para a terra do barramento B2 é dada por (2.21), onde D é a distância entre
os condutores do barramento e r é o raio do condutor [10]:
002425
CB 2 μF / km (2.21)
log D / r
Em um barramento de 50 m de extensão, para D = 4 m e r = 15,2 mm, tem-se CB2 = 501 pF.
A capacitância para a terra de um transformador de potencial típico de 230 kV varia entre
600 e 810 pF [11]. Neste caso, adota-se o valor CT = 700 pF. Para os demais equipamentos
ligados ao barramento, assume-se CD = 900 pF. Assim, tem-se C2 2100 pF.
O oscilograma da tensão no primário do TPI é mostrado na Fig. 2.17. Em regime transitório,
observa-se uma sobretensão máxima de 404,6 kV (3,0 pu). Em regime permanente, ocorrem
picos de tensão de 302,7 kV (2,3 pu). A tensão nos terminais do disjuntor, cuja forma de onda é
mostrada na Fig. 2.18, apresenta valor máximo em regime transitório de 454,2 kV (3,4 pu); em
regime permanente, esse valor é de 345,0 kV (2,6 pu). O oscilograma da corrente no primário é
mostrado na Fig. 2.19, atingindo o valor de 13,3 A em regime transitório e se estabiliza com
valor de pico de 9,0 A. O oscilograma do fluxo de enlace no primário é mostrado na Fig. 2.20.
25
Chagas – DEE/UFCG
600.00
400.00
200.00
Tensão ( kV )
0.00
-200.00
-400.00
400.00
200.00
0.00
Tensão ( kV )
-200.00
-400.00
-600.00
10.00
Corrente ( A )
0.00
-10.00
-20.00
1000.00
500.00
Fluxo de Enlace ( V.s )
0.00
-500.00
-1000.00
27
Chagas – DEE/UFCG
3. Ferroressonância em TPCs
São mostrados na Fig. 2.21 os tipos mais comuns de circuito supressor de ferroressonância
(CSF), o qual foi citado no item 2.2 do Capítulo I.
Os circuitos da Fig. 2.21(a) e da Fig. 2.21(b) são sintonizados para produzirem ressonância na
frequência fundamental, proporcionando um caminho de alta impedância, e o resistor R é
dimensionado para amortecer oscilações em qualquer frequência diferente da fundamental.
No circuito da Fig. 2.21(c) o indutor não linear é projetado para saturar antes do TPI; assim,
ao saturar, sua indutância diferencial assume um valor baixo, de modo que o resistor R2 é
inserido, amortecendo as oscilações.
Considerando o circuito da Fig. 2.21(d), durante a ocorrência da ferroressonância, a tensão
sobre R2 faz o triac disparar, inserindo o resistor R3; a partir daí tudo se processa de modo
análogo ao circuito da Fig. 2.21(c).
28
Chagas – DEE/UFCG
Fig. 2.22. Circuito equivalente sem acoplamento magnético, equivalente ao da Fig. 2.22(a).
Essa equivalência pode ser entendida ao se considerar os circuitos simplificados da Fig. 2.23.
Para o circuito da Fig. 2.23(a), pode-se escrever:
jL1 I1 j M f I 2 U1 (2.22)
Fig. 2.23. Circuito equivalente (a) com acoplamento magnético; (b) sem acoplamento.
L1 M f I1 U1
j (2.24)
M f L2 I 2 - U 2
Para o circuito da Fig. 2.23(b), tem-se:
j L1 M f ) I1 jM f ( I1 - I 2 ) U1 (2.25)
L1 M f I1 U1
j (2.27)
M f L2 I 2 - U 2
29
Chagas – DEE/UFCG
Assim, fica demonstrada a equivalência entre os circuitos da Fig. 2.21(a) e Fig. 2.22.
Um supressor de ferroressonância típico apresenta os seguintes dados: L1 = 0,318 , L2 =
0,084 , C = 9,6 F, Mf = 0,162 H, R = 37,5 [12 ]. A sua impedância no domínio s é dada por:
Z ( s)
C L1 L2 M 2f s 3 RC L1 L2 2M f s 2 L2 s R
(2.28)
1 C L1 L2 2M f s 2
O circuito equivalente do TPC considerado nas simulações é mostrado na Fig. 2.25. Este
circuito apresenta os parâmetros do reator de compensação (R1, L1, C3) e do transformador de
potencial indutivo (R2, L2, R3, Lm, C4).
Os parâmetros C3 e C4 são as capacitâncias parasitas do reator de compensação e do
transformador de potencial indutivo, cuja inclusão é necessária para uma reprodução mais
precisa do desempenho do TPC em regime transitório, em frequências mais altas.
A constante R3 é a resistência de perdas dinâmicas no núcleo magnético do TPI e L3 é a
indutância de magnetização do mesmo. O protetor de surtos não é levado em consideração
nesta análise.
Os dados do TPC são fornecidos na Tabela 2.2 [14]. A característica de magnetização do TPI
(fluxo de enlace versus corrente de magnetização) é fornecida na Tabela 2.3. As tensões
nominais U1 e U2 do primário e do secundário do TPI são, respectivamente, 30/3 kV e 115 V.
Na Fig. 2.26 e na Fig. 2.27 são mostradas a onda de tensão na saída do TPC e a onda de
corrente no primário do TPI com o TPC sem o circuito supressor de ferroressonância.
PARÂMETRO VALOR
C1 10,04 nF
C2 65,4 nF
R1 9,1 kΩ
L1 86,3 H
C3 493,2 nF
R2 920 Ω
L2 114,7 H
C4 9,3 pF
R3 50,6 Ω
31
Chagas – DEE/UFCG
Fig. 2.27 Corrente no enrolamento primário do TPI sem o TPC sem supressor de ferroressonância.
32
Chagas – DEE/UFCG
Na Fig. 2.28 e na Fig. 2.29 são mostradas as mesmas ondas considerando agora o TPC com o
circuito supressor de ferroressonância.
Fig. 2.29. Corrente no enrolamento primário do TPI com o TPC com supressor de ferroressonância.
Fig. 2.30. Diferentes tipos de respostas de um TPC para um curto-circuito no primário [15].
Fig. 2.31. Circuito equivalente simplificado de um TPC para simulação com o ATP.
▪ carga de 400 VA, cos = 1; início da falta no zero da tensão primária (Fig. 2.32);
▪ carga de 400 VA, cos = 1; início da falta no pico da tensão primária (Fig. 2.33);
▪ carga de 400 VA, cos = 0 (indutiva); início da falta no zero da tensão primária (Fig. 2.34).
35
Chagas – DEE/UFCG
Fig. 2.32. Carga: 400 VA, cos = 1; início da falta no zero da tensão primária.
Fig. 2.33. Carga de 400 VA; cos = 1; início da falta no pico da tensão primária.
Fig. 2.34. Carga de 400 VA; cos = 0 (indutiva); início da falta no zero da tensão primária.
36
Chagas – DEE/UFCG
Fig. 2.35. Circuito de um TPC com supressor de ferroressonância para simulação com o ATP.
PARÂMETRO VALOR
L3 10,87 mH
L4 47,39 mH
C5 166,39 F
Mf 8,84 mH
R4 4,99
Para o circuito da Fig. 2.35, foram realizadas simulações correspondentes às três situações
descritas. As tensões nos terminais da carga são mostradas na Fig. 2.36, Fig. 2.37 e Fig. 2.38.
Fig. 2.36. Carga: 400 VA, cos = 1; início da falta no zero da tensão primária.
37
Chagas – DEE/UFCG
Fig. 2.37. Carga de 400 VA; cos = 1; início da falta no pico da tensão primária.
Fig. 2.38. Carga de 400 VA; cos = 0 (indutiva); início da falta no zero da tensão primária.
Digital Simulator). No caso do TPC, considera-se o circuito elétrico equivalente mostrado na Fig.
2.39, o qual difere do mostrado na Fig. 2.35 pelo fato de que todos os elementos acham-se
representados no lado do primário. Além disso, o circuito supressor de ferroressonância não é
considerado. Outra simplificação assumida consiste em tomar o equivalente de Thévenin do
lado da fonte, visto dos terminais a-b.
i4 i5 f 0 (2.23)
39
Chagas – DEE/UFCG
A função f de (2.32) descreve a curva de saturação do TPI, a qual tem seus pontos fornecidos
na Tabela 2.2. Esse sistema não linear pode ser resolvido pelo método de Newton-Raphson,
considerando-se um degrau de tempo h = 1 s.
Na Fig. 2.40 é mostrado o supressor de ferroressonância incorporado ao TPC.
duc
i1 C (2.34)
dt
duc4
i1 i3 C4 (2.35)
dt
d
R1 (i2 i1 ) L1 (i2 i1 ) uc 3 0 (2.36)
dt
duc3
i2 C3 (2.37)
dt
di3 d
R2i3 L2 uc 4 0 (2.38)
dt dt
d
R3 (i4 i3 ) 0 (2.39)
dt
d d d
uc 5 L3 (i5 i6 ) M f (i5 i7 ) R4 (i5 i7 ) 0 (2.40)
dt dt dt
duc5
i5 i6 C5 (2.41)
dt
d d
L4 (i6 i7 ) L3 (i6 i5 ) uc 5 0 (2.42)
dt dt
d d di
R4 (i7 i5 ) M f (i7 i5 ) L4 (i7 i6 ) R i7 L 7 0 (2.43)
dt dt dt
i4 i5 f 0 (2.44)
Esse sistema também pode ser resolvido pelo método de Newton-Raphson [7],
considerando-se um degrau de tempo h = 1 s.
42
Chagas – DEE/UFCG
200.00
100.00
Tensão ( V )
0.00
-100.00
-200.00
Fig. 2.41. Carga: 400 VA, cos = 1; início da falta no zero da tensão primária.
200.00
100.00
Tensão ( V )
0.00
-100.00
-200.00
43
Chagas – DEE/UFCG
200.00
100.00
0.00
Tensão ( V )
-100.00
-200.00
-300.00
Bibliografia
[1] BESSONOV, L. (1972). Applied Electricity for Engineers, Mir Publishers, Moscou.
[2] RUDENBERG, R. (1950). Transient Performance of Electrical Power Systems, McGraw-Hill,
New York.
[3] FERRACCI, P. (1998). Ferroresonance, Cahier Technique no 190, Schneider Electric.
[4] PRESS, W. H., FLANNERY, B. P., TEWKOLSKY, S. A., WETTERLING, W. T. (1986). Numerical
Recipes – The Art of Scientific Computing, Cambridge University Press, New York -NY.
[5] COPEL (2007). Fornecimento de Energia Elétrica nas Tensões de 69 kV, 138 kV e 230 kV,
Companhia Paranaense de Energia Elétrica, Manual Técnico, Curitiba, maio de 2007.
[6] RIBAS, J. C. L. (2012). Modelagem do fenômeno da ferroressonância considerando a
histerese: análise em subestação de energia, Dissertação de Mestrado, Programa de Pós
Graduação em Engenharia Elétrica – PPGEE, Departamento de Engenharia Elétrica – Setor
de Tecnologia da Universidade Federal do Paraná – UFPR, Curitiba - PR.
[7] GUERRA, F. C. F. (2007). Modelo de transformador de corrente para estudos em baixas
frequências, Tese de Doutorado em Engenharia Elétrica, Coordenação de Pós-Graduação
44
Chagas – DEE/UFCG
45
Chagas – DEE/UFCG
Capítulo III
1. Considerações Gerais
Normalmente, o núcleo tem forma de toróide, constituído por uma fita de liga ferro-silício
(3,2% Si) de grãos orientados helicoidalmente enrolada. Em torno do núcleo há dois
enrolamentos. O enrolamento primário de N1 espiras é ligado em série ao sistema de potência
e o enrolamento secundário de N2 espiras alimenta um instrumento (relé ou medidor).
Para o circuito magnético da Fig. 3.1, tem-se:
H.dl N i N i
1 1 2 2 (3.1)
N1 I1 N2 I2 0 (3.2)
I1 N2
(3.3)
I 2 N1
Normalmente, o TC destina-se a reduzir corrente; logo, N1 N2.
A norma NBR 6856 – ABNT / 1992 [1] estipula o valor 5A para a corrente secundária nomi-
nal. Alguns fabricantes também produzem TCs com correntes secundárias nominais de 1 A.
2. Aspectos Construtivos
No TC da Fig. 3.2, o primário consiste em uma só espira constituída por uma barra montada
através do núcleo magnético toroidal. A Fig. 3.3 ilustra o TC do tipo janela, no qual há uma
abertura por onde passa uma ou mais espiras do condutor primário. Em ambos os tipos, o
enrolamento secundário e o núcleo acham-se contidos em uma cápsula normalmente
constituída de epóxi.
O TC tipo núcleo dividido é mostrado na Fig. 3.4, onde o núcleo pode ser aberto, envolvendo
o condutor no qual se deseja medir a corrente. É bastante usado em instrumentos de medição
de corrente e de potência.
47
Chagas – DEE/UFCG
Os TCs mostrados a seguir têm larga aplicação nas subestações de energia elétrica. A Fig. 3.5
ilustra um tipo muito usado, denominado TC tipo bucha, semelhante ao TC tipo janela (bucha é
um elemento isolante destinado a permitir a passagem de um circuito de um ambiente para
outro). Neste caso, o núcleo e os enrolamentos são montados na bucha de um transformador
ou disjuntor, sendo o enrolamento primário constituído por uma única espira, que consiste no
próprio condutor da linha. É fácil ver que tal característica construtiva proporciona economia.
A Fig. 3.6 ilustra outra diferente forma de TC, destinado à utilização em tensões mais
elevadas.
Fig. 3.5. TC tipo bucha. Fig. 3.6. TC usado em sistemas de alta tensão.
48
Chagas – DEE/UFCG
Há TCs que possuem mais de uma relação de transformação, como é mostrado na Fig. 3.7.
Em (a), os enrolamentos primários podem ser ligados assim: P1–P2; P3–P4; P1–P2 em série
com P3–P4; P1–P2 em paralelo com P3–P4. Em (b) e (c), onde há derivações no secundário,
apenas uma delas deve ser usada, ficando as outras em aberto para não haver alterações no
valor da corrente secundária. Em (d) também podem ser feitas diferentes formas de ligação no
secundário. O enrolamento não utilizado deve ficar em aberto.
(a) (b)
(c) (d)
49
Chagas – DEE/UFCG
3. TCs de Medição
Define-se relação real, KN, como sendo a relação entre os valores nominais I1N e I2N das
correntes primária e secundária, respectivamente, as quais são indicadas na placa de dados do
TC. É comumente denominada relação de transformação. Diferentemente do caso ideal, esta
relação não corresponde exatamente à relação de espiras. Porém, elas se acham muito
próximas; assim, tem-se:
I1 N N 2
KN (3.4)
I 2 N N1
50
Chagas – DEE/UFCG
Para os TCs destinados a aplicações em medição, o erro de relação percentual é dado por:
K N I 2 I1 I I /K
% 100 100 2 1 N (3.8)
I1 I1 / K N
Pode-se ainda escrever para o erro relativo do módulo da corrente:
I 2 I1'
% 100 (3.9)
I1'
No diagrama da Fig. 3.10, é normalmente pequeno, o que permite assumir I1’ como sua
projeção sobre a reta colinear a I2. Como I2 << I2, pode-se fazer I1’ ≈ I2 em (8.11); assim:
I 2 I I
% 100 '
100 2 100 e cose 2 (3.10)
I1 I2 I2
Pode-se relacionar o erro de relação e o fator de correção de relação da seguinte maneira:
I K 1 1 FCRC
% 100 K N 2 1 100 N 1 100 1 1 00 (3.11)
I1 KR FCRC FCRC
Assumindo FCRC ≈ 1 e considerando o mesmo em termos de percentagem, resulta:
51
Chagas – DEE/UFCG
52
Chagas – DEE/UFCG
53
Chagas – DEE/UFCG
O ângulo θ corresponde à defasagem angular entre os fasores U e I1. Sendo o erro de fase
introduzido pelo TC, a potência elétrica medida é:
N2
PM U I 2 cos (3.16)
N1
Na prática, é pequeno, sendo cos ≈ 1 e sen ≈ ; além disto, FCRC ≈ 1; assim, resulta:
A Fig. 3.14 ilustra a variação do erro percentual εP% em função de θ para diferentes valores
de . Pode-se ver que o erro de fase dos TCs pode exercer acentuada influência no processo de
medição de potência elétrica. Para cargas indutivas com θ > 80°, os erros cometidos na
medição de potência tornam-se muito elevados quando > 10’.
1000.00
100.00
Erro Percentual, P ( % )
= 100'
10.00
= 10'
1.00
= 1'
0.10
0.01
54
Chagas – DEE/UFCG
As expressões (3.10) e (3.14) indicam que os erros de relação e de fase dos TCs são causados
pela corrente de excitação Ie, a qual depende das características do núcleo magnético. Quanto
maior for a permeabilidade magnética e a resistividade elétrica do núcleo, menor serão Ie e os
erros. A redução da espessura da laminação também contribui para reduzir os erros.
Existe uma família de ligas metálicas à base de níquel que são adequadas ao emprego
núcleos de TCs de medição de elevado graus de exatidão. Essas ligas recebem o nome genérico
de Permalloy, tendo sido criadas em 1914 e posteriormente aperfeiçoadas ao longo do tempo.
São compostas por 70%-90% de níquel e o restante ferro, podendo conter pequenos teores de
outros elementos como cobre, cromo, molibdênio e magnésio. Elas recebem tratamento
térmico especial para que adquira suas propriedades magnéticas desejadas. Sua principal
propriedade é uma permeabilidade magnética relativa (µ/µ0) elevada, que pode atingir 100000.
Uma dessas ligas denomina-se Mu-metal ou Mumetal, a qual é composta por 76% de níquel,
17% de ferro, 5% de cobre e 2% de cromo ou magnésio. Supermalloy é uma liga composta por
79% de níquel, 17% de ferro e 5% de molibdênio. Outras propriedades favoráveis dessas ligas
são a baixa força coerciva (laço de histerese estreito, baixas perdas histeréticas) e elevada
resistividade elétrica (baixas perdas por correntes parasitas). Uma desvantagem são as baixas
induções de saturação (0,6 – 0,8 T) e o alto custo, se comparadas com as ligas ferro-silício de
grãos orientados (GO) empregadas nos TCs de proteção (1,85 T).
No final da década de 1980 foram desenvolvidas ligas nanocristalinas na forma de fitas, as
quais foram obtidas a partir de materiais amorfos, efetuando-se um processo destinado a
favorecer a formação de grãos nanométricos durante o processo de fabricação. A composição
das mesmas é muito variada, tanto em termos dos tipos de elementos químicos como em
relação aos percentuais dos mesmos. A primeira liga nanocristalina foi obtida por Y. Yoshizawa
[3], cuja composição é Fe73,5Si13,5B9Nb3Cu1. A mesma recebeu o nome comercial FINEMET®.
As ligas nanocristalinas apresentam características favoráveis, como baixas forças coercivas
(0,6 a 2,5 A/m), elevados valores de permeabilidade magnética relativa (até 200000) e baixas
remanências (alguns tipos). Até há pouco tempo, elas apresentam valores de indução de
saturação magnética entre 1,2 e 1,35 T, ainda bastante menores que os das ligas Fe-Si tipo GO.
No entanto, essa limitação começa a ser superada com o desenvolvimento de novas ligas com
valores de BS superiores a 1,8 T [4]. Recentemente, essas ligas têm sido empregadas de modo
crescente em TCs de medição de alto grau de exatidão.
55
Chagas – DEE/UFCG
4. TCs de Proteção
O erro de fase não é considerado nos TCs de proteção. Considerando a Fig. 3.9 e a Fig. 3.10,
a NBR 6856 – ABNT / 1992 [1] determina que o erro de relação percentual seja calculado pela
seguinte expressão:
Ie
% 100 (3.20)
I2
A referida norma estabelece as classes de exatidão 5 e 10 para os TCs de proteção.
Considera-se que um TC se acha dentro de sua classe de exatidão quando o erro dado por
(3.20) não excede o valor especificado para valores de corrente de até 20 vezes I2N (corrente
secundária nominal), para a carga igual ou inferior à nominal ligada nos terminais do
enrolamento secundário. O fator 20, denominado fator de sobrecorrente nominal, é devido ao
fato de que, nas aplicações relacionadas à proteção, o TC deve apresentar desempenho
satisfatório para correntes de curto-circuito, as quais são normalmente muito superiores à
corrente nominal do sistema. Os valores 5 e 10 (bastante superiores às classes de exatidão dos
TCs de medição) devem-se aos erros cometidos no cálculo das correntes de curto-circuito.
Assim, em caso de curto-circuito no sistema primário, conclui-se que, para haver reprodução
fiel no secundário dos altos valores de corrente, os TCs de proteção devem operar dentro da
região não saturada, onde as permeabilidades magnéticas do núcleo são mais elevadas. Para
isto, os mesmos devem ser fabricados com núcleo de liga Fe-Si de grãos orientados (GO), em
que as induções de ponto de joelho da curva de saturação, BK, variam no entorno de 1,5 T,
conforme é mostrado na Fig. 3.15.
Além disso, em situação normal de funcionamento, quando circula uma corrente próxima à
nominal no enrolamento primário, o TC de proteção deve ser projetado para apresentar um
valor de indução de pico muito baixa no núcleo (Bm < 0,1 T). Ou seja, para evitar saturação, é
necessário escolher um material de alto valor de indução no ponto de joelho da curva de
saturação, BK, além de projetar o TC de modo que BK >> Bm, considerando a pior condição
possível de curto-circuito, de modo que o valor de BK não seja atingido durante a ocorrência do
defeito.
Também na Fig. 3.15 acha-se mostrada a curva de saturação de um TC de medição, com
núcleo de liga Fe-Ni. Esse tipo de TC apresenta boa linearidade, elevada permeabilidade e
baixas perdas magnéticas. Como foi anteriormente afirmado, tais propriedades são necessárias
56
Chagas – DEE/UFCG
para que sejam obtidas as classes de exatidão requeridas no serviço de medição, as quais
implicam em baixos valores para a corrente de excitação Ie e para os erros de relação e de fase.
Além disso, a indução no ponto de joelho da curva de saturação varia na faixa de 0,4 T a 0,5 T,
conforme é mostrado na Fig. 3.15. Tal valor é significativamente menor que a indução de ponto
de joelho de um TC de proteção (1,5 T), pois o TC de medição tem os seus requisitos de
exatidão especificados para valores de corrente próximos à corrente nominal do sistema
primário.
Deve-se observar que TCs de proteção nunca devem ser usados em aplicações de medição,
pois não apresentam as classes de exatidão requerida. As classes de exatidão estipuladas para
os mesmos são 5 e 10, quando são requeridos os valores de 0,3, 0,6, 1,2 e 3 nas aplicações de
medição.
Em contrapartida, os TCs de medição não devem ser empregados no serviço de proteção,
pois saturaram com menores valores de corrente primária. Isto pode ser entendido através de
análise da Fig. 3.16. No ponto A, a corrente primária corresponde a correntes praticamente
idênticas nos enrolamentos secundários dos dois TCs. Porém, quando a mesma está situada na
faixa compreendida entre 4 I1N e 20 I1N, os erros tornam-se muito altos e as correntes
secundárias correspondentes aos pontos B e C assumem valores muito diferentes (IB << IC). Tal
fato influi de modo drástico no desempenho dos relés de proteção, pois o TC passa a não
refletir de modo proporcional a corrente primária para o lado do secundário.
57
Chagas – DEE/UFCG
Corrente de Excitação, Ie ( A )
Fig. 3.17. Curvas de excitação secundária de TCs [5].
58
Chagas – DEE/UFCG
Para o cálculo de %, considera-se o circuito da Fig. 3.9 e a curva de excitação secundária da
Fig. 3.17. Para determinados valores da corrente e da impedância no enrolamento secundário,
é efetuado o seguinte procedimento:
▪ Calcula-se a tensão Ue multiplicando-se a corrente I2 pela impedância total do secundário.
▪ Através dos valores de Ue, determinam-se os valores correspondentes de Ie na curva de
excitação secundária.
▪ Calculam-se os erros pela expressão (3.20).
O erro máximo admissível % deve ser calculado para a corrente secundária igual a vinte
vezes o seu valor nominal (I2 = 20 I2N ).
A seguir, considera-se a Fig. 3.19. A norma americana C57.13 - IEEE / 2008 [5] define o ponto
de joelho da curva Ue – Ie como aquele que apresenta uma reta tangente com inclinação de
45°. A norma 60044-1 – IEC / 2003 [6], mais adotada na Europa, define este ponto como aquele
em que um acréscimo de 10% de Ue causa um acréscimo de 50% em Ie. Normalmente, o ponto
de joelho definido pelo IEC situa-se acima do definido pelo IEEE.
Fig. 3.19. Definições de ponto de joelho estabelecidas pelo IEEE e pelo IEC.
59
Chagas – DEE/UFCG
Define-se tensão de saturação, Ux, como a tensão simétrica sobre o enrolamento secundário
do TC a qual é determinada graficamente pela localização da intersecção das porções de reta
da curva de excitação sobre os eixos log-log. Vale frisar que este valor é normalmente superior
à tensão do ponto de joelho da curva de excitação secundária, definidos pelo IEEE e pelo IEC. A
tensão de saturação é indicada na Fig. 3.20.
Embora as características de magnetização dos TCs fornecidas pelos fabricantes sejam dadas
em termos dos valores eficazes Ue e Ie, o cálculo de processos transitórios requer que tais
características sejam expressas em valores de pico do fluxo de enlace no secundário, , e da
corrente de excitação, ie. Há duas formas de se obter essa curva. A primeira é através de
medições em laboratório. A segunda é através do emprego da rotina SATURA, do programa
ATP, a qual converte os valores de Ue e Ie em valores correspondentes de e ie.
Na Fig. 3.21 são mostradas as ondas de corrente de excitação, fluxo de enlace e tensão de
excitação secundária em um TC, além da curva de saturação do mesmo.
Considerando a curva de saturação, até o ponto de joelho K (região não saturada), a
indutância diferencial de magnetização apresenta valor aproximadamente constante, Lm ≈
d/die ≈ /ie. As ondas de , ie e ue = d/dt (mostradas de modo tracejado) podem ser assumidas
como senóides. À medida que a impedância da carga aumenta, o núcleo passa a operar na
região de saturação, que é caracterizada por indutâncias diferenciais Lm muito baixas. Isto faz
60
Chagas – DEE/UFCG
com que grande parte da corrente secundária passe a circular por Lm, surgindo elevados picos
de corrente de excitação (ver formas de onda de traço cheio). Assim, o instrumento ligado ao
secundário não será sensibilizado com uma corrente que representa uma reprodução fiel, em
escala reduzida, da corrente primária.
61
Chagas – DEE/UFCG
Outra montagem que constitui um filtro de corrente de sequência zero é mostrada na Fig.
3.25, na qual é usado um TC tipo janela, por onde passam os três condutores de fase. Este
arranjo é empregado em dispositivos diferenciais residuais, destinados à detecção de correntes
de fuga em circuitos e à proteção contra choques elétricos.
Fig. 3.25. TC tipo janela; ligação com saída proporcional à componente I0.
Na ligação em delta da Fig. 3.26, as correntes de saída são dadas pelas diferenças dos
fasores indicados. Esta ligação constitui um filtro de bloqueio das componentes de zero.
63
Chagas – DEE/UFCG
7. Especificação de TCs
A norma NBR 6856 – ABNT / 1992 [1] estabelece as características básicas a serem especifi-
cadas para consulta ao fabricante; as principais são:
Corrente primária nominal e relação nominal – Corrente primária nominal é o valor nominal
de corrente no enrolamento primário suportável pelo TC. Os valores padronizados, em
ampéres, são: 5, 10, 15, 20, 25, 30, 40, 50, 60, 75, 100, 125, 150, 200, 250, 300, 400, 500,
600, 800, 1000, 1200, 1500, 2000, 2500, 3000, 4000, 5000, 6000, 8000.
A relação nominal corresponde à relação entre a corrente primária nominal e a corrente
secundária nominal (5 A). Por exemplo, se I1N = 100 A, I2N = 5 A, tem-se a relação 20:1.
As correntes primárias nominais e as relações nominais devem ser representadas em ordem
crescente, do seguinte modo:
▪ o sinal de dois pontos (:) deve ser usado para exprimir relações nominais; exemplo: 120 : 1;
▪ o hífen ( - ) deve ser usado para separar correntes nominais de enrolamentos diferentes;
exemplo: 100-5 A; 100–100 - 5 A (TC com dois enrolamentos primários individuais e um só
secundário); 100-5-5 A (TC com um enrolamento primário e dois secundários);
▪ o sinal ( x ) deve ser usado para separar correntes primárias nominais ou relações nominais
obtidas de um enrolamento cujas bobinas devem ser ligadas em série ou em paralelo;
exemplo: 100 x 200 – 5 A; 20 x 40 : 1;
▪ a barra ( / ) deve ser usada para separar correntes primárias nominais ou relações nominais
obtidas por meio de derivações, sejam estas no enrolamento primário ou no secundário;
exemplo: 150 / 200 – 5 A; 30 / 40 : 1.
Carga nominal – Como é mostrado na Tabela 3.1, a carga nominal é designada pela letra C
seguida do maior valor de potência aparente que pode ser fornecida pelo enrolamento
secundário, sem que o TC saia de sua classe de exatidão.
▪ Frequência nominal.
▪ Tensão máxima do equipamento e nível de isolamento.
▪ Valor de crista nominal da corrente suportável.
▪ Tipo de aterramento do sistema.
▪ Número de núcleos para medição e proteção.
▪ Uso interno ou externo.
65
Chagas – DEE/UFCG
A corrente térmica nominal e a corrente dinâmica nominal devem ser indicadas apenas para
TCs com tensão máxima igual ou superior a 72,5 kV.
No caso de TCs de medição, indica-se a classe de exatidão seguida dos símbolos da menor e
maior cargas nominais com as quais se verifica essa classe de exatidão. Exemplos: 0,3C2,5 a
C12,5 e C0,6C25; 0,6C2,5 e 1,2C5,0 a C22,5.
Nos TCs de proteção é usado o conceito de tensão secundária nominal, que é a tensão
apresentada nos terminais da carga nominal quando por ela passa a corrente nominal
multiplicada pelo fator de sobrecorrente nominal (5 x 20 = 100 A). A Tabela 3.2 mostra as
correspondências entre os valores de potência e de tensão para as condições especificadas.
Tabela 3.2. Valores de potência, impedância e de tensão para cargas nominais de TCs.
CARGA POTÊNCIA IMPEDÂNCIA TENSÃO SECUNDÁRIA
( VA ) () NOMINAL ( V )
C 2,5 2,5 0,1 10
C 5,0 5,0 0,2 20
C 12,5 12,5 0,5 50
C 25 25 1,0 100
C 50 50 2,0 200
C 100 100 4,0 400
C 200 200 8,0 800
A corrente secundária nominal de um TC normalmente é 5 A (em alguns casos, 1 A). Nos TCs
de proteção, a corrente primária nominal deve ser maior que o maior dos seguintes valores:
▪ 1,5 vezes o valor da corrente de carga máxima dividido pelo fator térmico nominal (1,0; 1,2;
1,3; 1,5; 2,0), de modo a prever expansão de carga;
▪ máximo valor da corrente de curto-circuito no local do TC dividido pelo fator de
sobrecorrente nominal (20), de modo a evitar a saturação em corrente alternada.
66
Chagas – DEE/UFCG
Referências
67
Chagas – DEE/UFCG
Capítulo IV
Z1 R12 L1
2
(4.2)
R1 RS RL (4.3)
L1 LS LL (4.4)
L1
tan 1 (4.5)
R1
68
Chagas – DEE/UFCG
Um U
i1F sen t 1 I 0 m sen 1 e t / T1 (4.8)
Z1 Z1
A corrente i1F possui duas componentes: uma alternada, senoidal, e outra contínua, com
decaimento exponencial, como é mostrado na Fig. 4.2.
69
Chagas – DEE/UFCG
(a) (b)
Em relação ao circuito da Fig. 4.3 (b) e à curva de saturação da Fig. 4.4, considerando - K ≤
≤ K, pode-se escrever para o fluxo de enlace no secundário:
d di
R 2 i 2 L2 2 (4.10)
dt dt
Sendo H o campo magnético, B a densidade de fluxo, a permeabilidade magnética, l o
comprimento médio da trajetória magnética e A a área de seção reta do núcleo do TC, tem-se:
70
Chagas – DEE/UFCG
N1 i1F N 2 i 2 H l (4.11)
B
H (4.12)
N 2 A
N1 l
i2 i1F 2
(4.13)
N2 N 2 A
São consideradas ainda as seguintes expressões:
N2
KΝ (4.14)
N1
R
cos 1 2 (4.16)
Z2
N 22 A
Lm (4.17)
l
L2 Lm
T2 (4.18)
R2
Uma vez que a indutância de magnetização do núcleo magnético, Lm, é muito maior que a
indutância do lado do secundário, pode-se fazer a seguinte aproximação:
Lm
T2 (4.19)
R2
Anotando por I1F o valor eficaz da componente simétrica da corrente primária de defeito,
após várias aproximações e manipulações algébricas, resulta das expressões anteriores [3]:
2 R2 I1F T1T2 t / T2 1
KN
e
e t / T1 sen t (4.20)
T2 T1 cos
A expressão (4.20) descreve a curva indicada com traço cheio na Fig. 4.5, que corresponde à
soma de uma componente alternada senoidal com uma componente contínua transitória,
associadas às componentes senoidal e exponencial de i1F, respectivamente.
Assim, o núcleo do TC pode estar submetido a dois diferentes tipos de sobrefluxo. Os fatores
de influência no caso do sobrefluxo causado pela componente alternada de i1F são: o valor
eficaz desta componente e a impedância da carga ligada ao secundário. No caso da
componente contínua de , além dos fatores citados, as constantes de tempo primária e
secundária (T1, T2), exercem papel fundamental no desempenho do TC em regime transitório.
71
Chagas – DEE/UFCG
Observa-se que o efeito de saturação no núcleo faz com que o fluxo imposto pela fonte não
cresça muito além do valor K indicado. Na região não saturada (- K ≤ ≤ K), a indutância Lm
é elevada e im é pequena. Porém, em regime de saturação, o valor de Lm cai abruptamente.
72
Chagas – DEE/UFCG
Durante os instantes em que o núcleo satura praticamente toda a corrente i1 passa a circular
através do ramo de magnetização, de modo a ocorrer pronunciadas distorções na forma de
onda da corrente secundária i2. Tal fato pode trazer sérias consequências para o desempenho
dos relés de proteção, como será visto mais adiante.
É mostrada na Fig. 4.7 a forma de onda da corrente secundária para uma carga que
apresenta uma componente indutiva. Verifica-se que quando o núcleo satura, a corrente não
cai abruptamente para zero, como ocorre com a carga puramente resistiva. Isso se deve à
propriedade dos indutores em estabelecer oposição a variações bruscas da corrente.
Fig. 4.7. Distorção da onda de corrente secundária - Carga com componente indutiva.
As induções típicas do ponto de joelho da curva de saturação dos TCs com núcleo de liga
ferro-silício de grãos orientados acham-se no entorno de 1,5 Tesla. Porém, em regime normal,
os TCs de proteção devem operar com pequenas induções no núcleo, muito abaixo do ponto de
joelho (menos de 0,1 T). As normas NBR 6856 – ABNT / 1992 [4] e C57.13 - IEEE / 2008 [5]
estipulam um fator de sobrecorrente igual a 20, permitindo que os TCs operem com correntes
de falta cujos valores eficazes representem até 20 vezes a corrente nominal do enrolamento
primário, sem que haja saturação. Entretanto, esta medida mostra eficácia apenas em relação à
componente senoidal da corrente de defeito.
2 R2 I1F T1T2 1
Β
K N N 2 A T2 T1
e t / T2 e t / T1
cos
sen t K [ BCC BCA ] (4.21)
Fig. 4.9. TC com o primário operando em condições normais e com indução residual no núcleo.
Isso ocorre porque são necessárias elevadas induções alternadas com gradual redução a
zero para a completa remoção do fluxo residual. Tais induções não ocorrem no caso de TCs de
proteção operando em condições normais [6]. Assim, se o fluxo residual for elevado, o
75
Chagas – DEE/UFCG
desempenho do TC fica comprometido, pois uma corrente de defeito baixa poderá levar o TC a
um estado de saturação idêntico ao causado por uma corrente de valor bem maior, a qual se
estabeleça com o núcleo inicialmente desmagnetizado. Vale frisar que o fluxo residual não
diminui gradualmente, mas se mantém constante quando a condição de equilíbrio é alcançada.
Tal condição se mantém constante até a aplicação de um fluxo suficientemente elevado no
núcleo [7]. Testes realizados por uma companhia canadense em 141 TCs de um sistema de 230
kV revelaram que 27% apresentavam de 60% a 80% de fluxo residual no núcleo após
desenergização do enrolamento primário [8].
Considera-se um curto-circuito que ocasiona uma corrente simétrica insuficiente para
produzir saturação apreciável no TC. Se a carga no secundário é puramente resistiva (caso dos
relés digitais modernos), a corrente que nela circula acha-se aproximadamente em fase com a
corrente no primário, a qual é interrompida na passagem por zero, e também com a tensão de
excitação secundária. Assim, nesse instante, o fluxo acha-se no valor máximo. Considerando a
Fig. 4.10, pode-se dizer que o ponto de operação do núcleo corresponde a A ou B. Após a
interrupção, esse ponto tende a mover-se para C ou D, respectivamente. Por outro lado, para
uma carga puramente indutiva, esse ponto corresponde a P ou Q, sendo o equilíbrio
estabelecido nos pontos R ou S, respectivamente [6].
76
Chagas – DEE/UFCG
próximo ou até igual à remanência, que pode representar até 90% do fluxo de saturação. Isto
implica em grande impacto no desempenho do TC em regime transitório.
Deve ser lembrado que o fluxo residual também pode influenciar de modo favorável no
desempenho do TC em regime transitório. Por exemplo, se ele for negativo e o fluxo imposto
pelo sistema primário for crescente, o nível de saturação do TC será alcançado menos
rapidamente caso o fluxo residual fosse nulo ou positivo.
3. Fator de Saturação de um TC
2 UK
K (4.24)
Neste ponto, o TC entra em estado de saturação. Em (4.20), para uma carga resistiva no TC,
o valor mais pessimista da componente alternada do fluxo é:
2 R2 I1F T1T2 t / T2
KN
e
e t / T1 1 (4.25)
T2 T1
Fazendo = K, t = tS e combinando (4.23), (4.24) e (4.25), resulta:
T1T2
KS
T2 T1
e tS / T2 e tS / T1 1 (4.26)
Na Fig. 4.11 são mostradas três curvas para diferentes valores de T2. No eixo horizontal
obtém-se o tempo tS que o TC leva para saturar caso ocorra um defeito no circuito primário.
Assim, quanto maior for o fator de saturação, mais tempo o TC leva para saturar e maiores
serão seu tamanho e preço.
Uma simplificação realística consiste em considerar T2 >> T1 em (4.26), de modo a se obter:
K S T1 1 e tS / T1 1 (4.27)
K 1
t S T1 ln 1 S (4.28)
T1
8.00
T2 = 10 s
T1 = 20 ms T2 = 1 s
6.00
Fator de Saturação, K s
T2 = 0,1 s
4.00
2.00
0.00
Um critério usual para estimar o desempenho dos TCs em regime transitório para uma carga
puramente resistiva é descrito em [9], a partir da seguinte expressão:
d R2 t
ue i 1F dt (4.29)
dt KN 0
0
e t / T1
cos t dt (4.31)
2 R2 I 1 F tS
e
t / T 1
K cos t dt (4.32)
KN 0
78
Chagas – DEE/UFCG
R2 I1F L1
UK
K N R1
1 e tS / T1 sen t S (4.33)
Tomando o valor máximo do termo entre colchetes:
R2 I1F X1
UK 1 (4.34)
KN R
1
Sendo N um índice relacionado aos valores nominais do TC, tem-se a tensão de excitação
secundária nominal igual a 20 I2N R2N, onde R2N é a impedância para a qual não há saturação
em CA. Assim, para que não haja saturação em CC:
R2 I1F X1
20 I 2 N R2 N 1 (4.35)
KN R
1
R2 20 K I 20 I
. N 2N . 1N (4.36)
R2 N 1 X1 / R 1 I1F 1 X 1 / R 1 I 1F
É importante observar que esses critérios impõem restrições muito severas nos valores de
impedância da carga secundária, notadamente nos casos de sistemas com relações X1/R muito
elevadas, bem como no caso de TCs com núcleos fechados, onde RPU alcança valores no
entorno de 0,85. Maiores valores de RPU implicam na necessidade de se utilizar núcleos de
maiores seções retas, resultando em TCs demasiadamente grandes.
Uma forma de melhorar o desempenho dos TCs em regime transitório consiste em inserir
entreferros no núcleo magnético para reduzir o fluxo residual, como é mostrado na Fig. 4.11.
79
Chagas – DEE/UFCG
Apesar da importância do tema, não são muitas as publicações que tratam de métodos de
limitação do fluxo remanescente no núcleo de TCs através de entreferros. O IEEE Power System
Relay Committee [3] publicou um extenso trabalho onde foram abordados importantes
aspectos do desempenho de TCs em regime transitório, incluindo os de núcleo com entreferro,
bem como a influência em diferentes esquemas de proteção. O mesmo grupo voltou a publicar
outro trabalho [7] onde são discutidas as características e o desempenho de TCs com pequenos
entreferros (0,0001 a 0,0003 pu do comprimento da trajetória magnética considerada). As
normas americanas não estabelecem critérios de classificação para TCs com entreferro. Porém,
na norma 60044-1 – IEC / 2003 [11] são consideradas as duas classes:
▪ TPY, que possui pequeno entreferro, possuindo remanência com valor inferior a 10% da
apresentada por um TC de núcleo fechado com as mesmas dimensões;
▪ TPZ, que apresenta entreferros com tamanhos maiores (ou vários pequenos entreferros),
com característica praticamente linear e remanência desprezível.
A referida norma também considera a classe TPX, correspondente a TCs sem entreferro,
para a qual não é especificado valor de remanência (a remanência pode representar até 90% do
fluxo de saturação). A Tabela 4.1 resume as características correspondentes às classes citadas.
Tabela 4.1. Características de TCs segundo a norma 60044-1 – IEC / 2003 [11].
▪ Após a interrupção do defeito, quando o fluxo decresce até o valor final, a energia
armazenada no circuito magnético é dissipada, sendo produzida uma corrente de longa
duração no enrolamento secundário (corrente subsequente, com duração de até 1s). Para
atingir a remanência, a variação da indução magnética é bem maior que no caso dos TCs de
núcleo fechado, como é mostrado na Fig. 4.12 (∆B’ > ∆B). Assim, a tensão causada pelo
processo de descarga torna-se maior, podendo ocorrer atuação indevida de relés de
proteção de falha de disjuntor no caso em que haja dois ou mais TCs em paralelo [3].
Fig. 4.12. Variação de fluxo no núcleo do TC com entreferro após interrupção da corrente primária.
Os TCs com entreferro têm aplicação mais frequente nos casos citados a seguir.
▪ Na proteção de geradores, onde são produzidas correntes que apresentam valores de pico e
graus de assimetria muito elevados, em face dos altos valores da relação X/R do sistema de
geração.
81
Chagas – DEE/UFCG
R R f R g (4.39)
Fig. 4.13. (a) Núcleo com entreferro; (b) circuito magnético equivalente.
A indutância diferencial de magnetização do núcleo com entreferro (não linear) é dada por:
Le d die (4.44)
N N di
R2 1 i1F ie L2 1 1F
d N N 2 dt
2 (4.45)
dt 1 L2 / Le
ie f (4.46)
A função ie = f () representa a curva de saturação do núcleo magnético do TC, qual pode ser
aproximada por função ou pelo método de linearização por partes. No segundo caso, são
usadas coordenadas (ie, ) de uma sequência de pontos levantados experimentalmente, com
valores de ie crescentes ou decrescentes. Assim, as coordenadas de um ponto situado entre
dois pontos consecutivos fornecidos são determinadas através de rotina de busca em tabela
ordenada [13], empregando-se também o método de interpolação linear. A solução desse
sistema pode ser obtida através do método de Euler, com um degrau de tempo h = 1 µs.
O fluxo residual pode ser considerado ou não. Na curva da Fig. 4.15, o fluxo residual o não é
considerado, o que é o caso das simulações de regime permanente. Em regime transitório,
pode-se representar o fluxo residual segundo a curva da Fig. 4.16, onde r é o fluxo de enlace
correspondente ao ponto de remanência. Assim, tem-se - r ≤ o ≤ r.
83
Chagas – DEE/UFCG
Fig. 4.15. Curva de saturação sem remanência. Fig. 4.16. Curva de saturação com remanência.
Uma forma de representar as perdas dinâmicas no núcleo (perdas parasíticas clássicas mais
perdas anômalas) consiste em fazer para a corrente de excitação:
d
ie' ie (4.47)
dt
A constante é associada à condutividade do núcleo de ferrro, sendo determinada
mediante comparação de laços obtidos por simulações com laços obtidos por ensaios na
frequência de 60 Hz, com o TC sendo levado ao estado de saturação.
Para o núcleo magnético da Fig. 4.13 e para o circuito elétrico da Fig. 4.14, tem-se:
dB di
N2 A R2 i2 L2 2 (4.48)
dt dt
B
Hl x N1 i1F N 2 i2 (4.49)
0
B 0 H M (4.50)
N l x N di
R2 1 i1F H B L2 1 1F
dB N N2 0 N 2 N 2 dt
2 (4.52)
dt L dH x
N 2 A 2 l
N 2 dB 0
dH dH dB
(4.53)
dt dB dt
84
Chagas – DEE/UFCG
dM 1 dB dH
(4.54)
dt 0 dt dt
1 B
i2 N1 i1F H l x (4.55)
N2 0
N1
ie i1F i2 (4.56)
N2
85
Chagas – DEE/UFCG
Para modelar a curva anisterética, foi escolhida a função de Langevin modificada, ou seja:
M a M s coth Hae a
, H 0, M 0 (4.59)
H e
He H M (4.60)
86
Chagas – DEE/UFCG
dM dM i c dM a dM i (4.66)
dH dH dH dH
dM a dM a dH e dM a dM
1 α (4.67)
dH dH e dH dH e dH
dM i dM i dHe dM i 1 α dM (4.68)
dH dHe dH dHe dH
Substituindo (4.67) e (4.68) em (4.66), resulta para a susceptibilidade diferencial:
(1 c ) dM i c dM a
dM dH e dH e (4.69)
dH 1 c dM a 1 c ) dM i
dH e dH e
Porém, (4.69) pode fornecer valores negativos de dM/dH (soluções sem significado físico)
quando o campo magnético decresce a partir da extremidade do laço, em situações onde a
magnetização irreversível Mi é menor que a magnetização anisterética Ma , no primeiro
quadrante, ou maior que Ma, no terceiro quadrante. A explicação dos autores é a seguinte [14]:
neste caso, as paredes dos domínios magnéticos ficam ligadas aos locais prendedores, de modo
que dMi /dH = 0; assim, quando H decresce a partir da extremidade do laço até que M alcance
Ma, a variação de M é praticamente reversível, ou seja, dM/dH ≈ dMr /dH. Isto resulta na
seguinte formulação modificada:
(1 c) dM i c dM a
dM dHe dHe , (Ma – M) ≥ 0 (4.70)
dH 1 c dM a 1 c ) dM i
dHe dHe
c dM a
dM dH e , (Ma – M ) < 0 (4.71)
dH 1 c dM a
dH e
As expressões (4.59) e (4.63) fornecem os valores de Ma e dMi /dHe ; além disso, tem-se para
a derivada dMa/dHe:
dM a 1 H a
M s 1 coth2 e 2 , H 0, M 0 (4.72)
dH e a a H e
Observa-se que a função de Langevin, da forma coth ( x ) – 1 / x, não pode ser calculada na
origem. Fazendo a expansão em série de Taylor, tem-se para | He / a | < 0,1:
87
Chagas – DEE/UFCG
M a M saHe 1 He 2 2 He 4 ...
2 4
(4.73)
3 45a 945a
Alguns autores usam outros tipos de função para representar a curva de magnetização
anisterética. A referência [15] propõe a seguinte expressão:
a1 H e H e2
Ma Ms (4.74)
a3 a 2 H e H e2
A fim de melhor aproximar o laço maior de histerese nas zonas de transição entre os estados
de não saturação e de saturação, é proposto que o parâmetro k seja modificado de acordo com
a seguinte expressão, em que foi estabelecido o valor 0,96 para [15]:
M
k mod k 1 (4.75)
Ms
▪ Ms = 1,72 x 106;
▪ α = 1,32 x 10-5;
▪ c = 0,1;
▪ k = 39,2;
▪ a1 = 2730; a2 = 3209; a3 = 20294; n = 2; = 0,96.
A curva de saturação e o laço maior de histerese obtidos através dessas constantes são
mostrados na Fig. 4.19.
0.80
0.40
Fluxo de Enlace ( V.s )
0.00
-0.40
-0.80
Na Fig. 4.21 é observado que a distorção após o religamento é bem mais pronunciada que a
apresentada no período anterior, em que o fluxo residual no núcleo é nulo. Isso se deve ao fato
de que o fluxo existente no núcleo no instante de religamento é bastante elevado (0,56 V.s),
como pode ser visto na Fig. 4.23.
Na Fig. 4.24 é apresentado o gráfico da onda de corrente secundária considerando uma
carga com componente indutiva elevada, a qual apresenta uma impedância igual a 0,69 + j1.
91
Chagas – DEE/UFCG
Observa-se que, quando o núcleo satura, a corrente não cai de modo abrupto para zero. Isto
se deve à existência da indutância da carga, a qual se opõe à variação da corrente.
Na Fig. 4.25 é mostrada a forma de onda da corrente secundária para uma carga de 2,25 +
j0, sem religamento. Nos primeiros ciclos vê-se que há saturação devido às componentes alter-
nada e contínua do fluxo. Porém, em regime permanente, a saturação persiste apenas devido à
componente alternada do fluxo. Isto se deve ao alto valor da impedância carga (2,25 Ω).
Na Fig. 4.28 é mostrada a forma de onda da tensão secundária. A cada semiciclo há picos
alternados de tensão de 1,5 kV, ocasionando danos aos instrumentos instalados no secundário
e risco para o pessoal da operação. Conforme é indicado na Fig. 4.29, o fluxo apresenta forma
de onda achatada nos picos, pois é limitado pelo efeito de saturação no núcleo.
93
Chagas – DEE/UFCG
Nos TCs de medição, se o fluxo alternado for muito alto de modo a levar o TC à saturação em
regime permanente, certamente ocorrerão elevados erros de medida. No caso de medição de
energia, haverá prejuízo para a concessionária de energia, uma vez que o medidor será
sensibilizado por uma corrente de menor valor eficaz que o real.
Nos TCs de proteção, podem surgir os seguintes problemas:
▪ os relés são sensibilizados indevidamente, principalmente relés diferenciais;
▪ os relés não são sensibilizados quando necessário, devido à forte saturação e distorção que
reduz o valor eficaz da corrente secundária;
94
Chagas – DEE/UFCG
▪ os relés não são sensibilizados com rapidez suficiente, pelo motivo anteriormente citado;
▪ os localizadores de defeito não fornecem indicação precisa.
Isto pode implicar em uma maior extensão dos danos de natureza térmica e eletrodinâmica,
perda de seletividade da proteção, perda de estabilidade do sistema e dificuldade em localizar
o local do distúrbio, ocasionando prolongadas interrupções de fornecimento de energia.
9. Modelo de TC no Simscape/Matlab
O modelo leva em conta as resistências dos enrolamentos (R1, R2, R3) e as indutâncias de
dispersão (L1, L2, L3), bem como as características de magnetização do núcleo, que é modelada
por uma resistência constante, Rm, a qual representa as perdas de núcleo por correntes de
Foucault e histerese, e uma indutância saturável, Lsat, conforme é mostrado na Fig. 4.31.
95
Chagas – DEE/UFCG
▪ a indutância saturável pode ser representada de modo linearizado por partes, mediante
valores de pico de e ie. A remanência pode ou não ser considerada, como é mostrado na
Fig. 4.32. A representação sem remanência é adequada às simulações em regime perma-
nente, enquanto a consideração da remanência r se aplica ao estudo de transitórios. O
fluxo de enlace residual é representado por o (- r ≤ o ≤ r). Como a curva é simétrica
em relação à origem, só é necessário fornecer a porção do primeiro quadrante.
Z B 0,5
LB 1,33 mH
377
Bibliografia
97
Chagas – DEE/UFCG
[3] IEEE Power System Relaying Committee (1976). Transient response of current
transformers, 76 CH 1130-4 PWR.
[4] NBR 6856 – ABNT (1992). Transformadores de Corrente – Especificação, Norma técnica.
[5] IEEE C57.13 (1993). IEEE standard requirements for instrument transformers.
[6] WRIGHT, A. (1968). Current Transformers, Chapman & Hall, London.
[7] IEEE Power System Relaying Committee (1990). Gapped core current characteristics and
performance, IEEE Transactions on Power Delivery, 5(4): 1732-1740.
[8] KANG, Y. C., PARK, J. K., KANG, S. H., JOHNS, A. T., AGGARWAL, R. K. (1997). An algorithm
for compensating secondary currents of current transformers, IEEE Transactions on Power
Delivery, 12(1): 116-124.
[9] ZOCHOLL, S. E. (2004). Analysing and Applying Current Transformers, SEL, Pullman, WA,
USA, pp. 19-29.
[10] IEEE Std C37.110 (1996). Guide for the application of current transformers used for
protective relaying purposes.
[11] IEC 60044-1 (2003). Instrument transformers - Part 1: Current Transformers.
[12] SLEMON, G. R. (1974). Equipamentos Magnetelétricos - Transdutores, Transformadores e
Máquinas - Vol. 1, Editora LTC, São Paulo – SP.
[13] PRESS, W. H., FLANNERY, B. P., TEWKOLSKY, S. A., WETTERLING, W. T. (1986). Numerical
Recipes – The Art of Scientific Computing, Cambridge University Press, New York.
[14] JILES, D. C., ATHERTON, J. B., DEVINE, M. K. (1992). Numerical determination of hysteresis
parameters for the modeling of magnetic properties using the theory of ferromagnetic
hysteresis, IEEE Transactions on Magnetics, 28(1): 27-35.
[15] ANNAKKAGE, U. D., McLAREN, P. G., DIRKS, E., JAYASINGHE, V., PARKER, A. D. V. (2000). A
current transformer model based on the Jiles-Atherton theory of ferromagnetic
hysteresis, IEEE Transactions on Power Delivery, 15(1): 57-61.
98
Chagas – DEE/UFCG
Capítulo V
Sensores são dispositivos que convertem uma grandeza física numa segunda grandeza física
mais adequada a um sistema de medição. Entre eles se enquadram os TCs e TPs estudados nos
capítulos anteriores. Neste capítulo é feita uma descrição de alguns tipos de sensores usados
para condicionamento de sinais de tensão e de corrente. Serão considerados cinco tipos
fundamentais: resistores shunt, bobinas de Rogowski, acopladores lineares, sensores de efeito
Hall e transformadores de potencial e de corrente ópticos. O estudo apresentado tem caráter
introdutório, sem maiores aprofundamentos, uma vez que os instrumentos citados ou
apresentam uso limitado ou grande diversidade de princípio de funcionamento e forma
construtiva. Considerações mais detalhadas acerca de todos esses componentes podem ser
obtidas a partir de informações fornecidas por fabricantes.
1. Resistores Shunt
Os shunts são resistores de baixo valor de resistência os quais são inseridos em um circuito
de baixa tensão no sentido de disponibilizar uma tensão U proporcional ao valor da corrente do
circuito; assim, essa corrente é dada por:
U
I (5.1)
Rsh
onde U é a tensão lida nos terminais do shunt e Rsh é a resistência do mesmo.
(a) (b)
▪ baixo custo;
▪ excelente exatidão para medições em corrente contínua e em corrente alternada com
frequências não muito elevadas.
Como desvantagens, são enumeradas as seguintes:
▪ não proporcionam isolação elétrica;
▪ dissipam energia em forma de calor, o que implica em variação da resistência com a
temperatura e em aumento do erro na medição;
▪ apresentam uma característica invasiva, pois necessitam de abertura do circuito, causando
alteração das características do mesmo pela inserção de uma resistência adicional;
▪ para elevados valores de frequência, apresentam indutância e capacitância parasitas como é
mostrado na Fig. 5.1; também há o efeito pelicular, que modifica o valor da resistência.
Fig. 5.2. Modelo de um resistor real em altas frequências, incluindo indutância e capacitância parasitas.
2. Bobinas de Rogowski
100
Chagas – DEE/UFCG
A corrente i produz um fluxo no entorno do condutor, o qual induz uma tensão u nos
terminais da bobina, a qual será integrada para que a forma de onda da corrente seja
reproduzida.
O toróide pode ser rígido ou flexível e não fechado, de modo a poder ser aberto para ser
instalado ao redor do condutor no qual se deseja medir a corrente. Um detalhe importante
mostrado na Fig. 5.3 é que o avanço das espiras montadas lado a lado resulta em um efeito
semelhante ao causado por uma espira perpendicular ao eixo do toróide. Em caso de presença
de fluxos magnéticos externos, estes induzem uma tensão que se soma à tensão u, o que
acarretará em erro na medição. A fim de anular esse efeito, a bobina é construída com uma
espira de retorno pelo eixo central das espiras e em sentido oposto ao avanço helicoidal. Como
essa espira de retorno está ligada em série com a saída do enrolamento, em caso de ação de
fluxos externos, será nela induzida uma tensão igual e oposta à tensão induzida no
enrolamento helicoidal, de modo a haver cancelamento [1].
H.dl i (5.2)
H cos dl i (5.3)
101
Chagas – DEE/UFCG
Fig. 5.4. Detalhe de uma bobina de Rogowski com grandezas relacionadas à lei circuital de Ampère.
d 0 n A H cos dl (5.5)
Da lei de Faraday-Lenz, pode-se escrever para a tensão induzida nos terminais da bobina:
d di
u 0 n A (5.7)
dt dt
O acoplamento entre condutor e bobina deve-se exclusivamente ao efeito da indutância
mútua, M, para a qual pode ser escrito:
di
u M (5.8)
dt
M 0 n A (5.9)
Para uma corrente i = Im sen (t + ), a tensão de saída nos terminais da bobina é:
u MIm cos( t ) (5.10)
102
Chagas – DEE/UFCG
Um problema apresentado por esse sensor é que a permeabilidade do núcleo é muito baixa,
praticamente igual à do ar. Assim, valores típicos para indutância mútua M situam-se na faixa
de 0,1 a 1 µH [2], de modo que, para correntes inferiores a 100 A, o sinal de saída u apresenta
valores baixos, da ordem de alguns milivolts. Assim, u necessita ser amplificada mediante um
amplificador de instrumentação de alto ganho, elevada rejeição a ruídos e baixo offset, como é
indicado no diagrama de blocos da Fig. 5.5 [3]. Exemplos de amplificadores com essas
características são: AD621, da Analog Devices e INA101, da Texas Instruments.
103
Chagas – DEE/UFCG
O ganho do integrador é:
1
j C 1
G (5.16)
R1 j R1 C
1
G (5.17)
R1 C
Observa-se que ocorrerá o ganho de malha fechada cada vez mais alto à medida que a
frequência cai, tendendo a infinito para perto de zero. Assim, torna-se necessário estabilizar
o ganho em baixas frequências. Isso pode ser obtido mediante o circuito da Fig. 5.7.
104
Chagas – DEE/UFCG
Se Ro for variada de 0 a ∞, a defasagem produzida no sinal de entrada irá variar de 180o a 0o,
sem que haja alteração no módulo de u3.
A bobina de Rogowski existe desde 1912, quando era usada para medição de campos
magnéticos [1]. Seu uso nos serviços de proteção e medição era inviável em face de
105
Chagas – DEE/UFCG
apresentarem na saída sinais cujas potências eram muito inferiores ao consumo dos relés e
medidores eletromecânicos da época. Entretanto, com o advento dos modernos instrumentos
digitais de elevada impedância de entrada e baixo consumo (IEDs – Intelligent Electronic
Devices), essas bobinas voltam a ser objeto de interesse em aplicações nas redes elétricas. Suas
principais vantagens são citadas a seguir [1], [2]:
106
Chagas – DEE/UFCG
3. Acopladores Lineares
107
Chagas – DEE/UFCG
(a) (b)
Fig. 5.9. Proteção diferencial de barra utilizando acopladores lineares.
Na Fig. 5.10, considerando a placa condutora percorrida por uma corrente elétrica i e
submetida a um campo magnético perpendicular H, os portadores de carga sofrem o efeito de
uma força que produz uma diferença de potencial na placa, como é indicado pelo voltímetro.
Considerando os portadores com carga positiva (corrente convencional), haverá o
aparecimento de uma região com concentração de cargas positivas e a outra com cargas
negativas, ou seja, a borda esquerda da placa ficará carregada positivamente e o ponto P1
ficará com potencial mais elevado do que P2 [6].
108
Chagas – DEE/UFCG
O sentido da força Fm sobre a carga q é determinado pela regra da mão direita. Tal força é
dada é dada pelo seguinte produto vetorial:
Fm q v x H (5.31)
O efeito Hall foi descoberto em 1879 por Edwin H. Hall. Atualmente, esses dispositivos são
empregados em larga escala na indústria para inúmeras finalidades, podendo-se citar as
seguintes: sensores de posição, velocidade, nível de líquido e corrente elétrica. Na Fig. 5.11 o
condutor transportando corrente passa através da abertura de um núcleo magnético toroidal, o
qual possui um pequeno entreferro onde é localizado o elemento sensor. Uma fonte auxiliar
impõe uma corrente a este elemento, de modo a ser produzida na saída uma tensão
proporcional à corrente que se deseja medir.
Ao contrário dos TCs e TPs convencionais, os TCs e TPs ópticos não operam apenas com base
em grandezas elétricas e magnéticas, mas na medição de alterações na característica da luz que
se propaga em certos materiais. Esse princípio de funcionamento é conhecido há mais de um
século. Entretanto, pelo fato de apresentarem sinais de baixa potência na saída, a utilização dos
instrumentos ópticos nas redes de energia foi postergada até o advento dos instrumentos
eletrônicos analógicos e digitais, uma vez que os antigos medidores e relés eletromecânicos
apresentavam elevado consumo de energia.
111
Chagas – DEE/UFCG
É sabido que a luz consiste em uma onda eletromagnética gerada por campos elétricos e
magnéticos que oscilam de modo transversal, ou seja, campos mutuamente perpendiculares.
Assim, se a direção de propagação da onda e o campo elétrico forem conhecidos, a direção do
campo magnético será determinada. No sistema de eixos da Fig. 5.14, considera-se uma onda
se propagando segundo o eixo z, perpendicular e saindo do plano da página. O campo elétrico
acha-se contido num plano perpendicular à direção de propagação da onda, podendo ser
decomposto em duas componentes x e y, para uma posição fixa z, as quais são dadas por:
Ex Emx cos t (5.37)
Fig. 5.14. Componentes ortogonais do campo elétrico de uma onda saindo do plano do papel.
112
Chagas – DEE/UFCG
A presença do terceiro termo do primeiro membro de (5.41) indica que os eixos da elipse
não coincidem com os eixos coordenados. Porém, se for feito = /2, (5.41) se reduz para:
2 2
Ex Ey
1 (5.42)
E E
mx my
Assim, os eixos da elipse se tornam coincidentes com os eixos coordenados.
Uma polarização é dita circular se Emx = Emy = Em; neste caso, considerando (5.42), tem-se a
equação de uma circunferência de raio Em.
Se, além de Emx = Emy = Em, for feito = 0 em (5.41), tem-se:
Emy
Ey Ex (5.43)
Emx
Esta equação define uma reta; assim, diz-se que a polarização é linear.
São mostrados na Fig. 5.16 esses tipos particulares de polarização.
Fig. 5.16. (a) Polarizações elíptica com = /2, (b) circular, (c) linear.
113
Chagas – DEE/UFCG
Os TPs ópticos mais comuns têm seu princípio de funcionamento baseado no efeito Pockels.
Esse efeito ocorre em certos materiais denominados anisotrópicos, nos quais as propriedades
não são idênticas em todas as direções. Na óptica, esse efeito recebe a denominação de
birrefringência, sendo apresentado por cristais eletro-ópticos também denominados células
Pockels. Na Fig. 5.17, um feixe de luz circularmente polarizada incide num meio birrefringente
submetido a um campo elétrico criado por dois eletrodos. Assim, verifica-se uma defasagem
entre os eixos rápido (de mínima refração) e lento (de máxima refração), de modo a ocorrer
uma alteração na polarização, a qual muda de circular para elíptica. A defasagem é
proporcional ao campo elétrico aplicado, sendo medida por um analisador ótico, que separa o
sinal e o envia a dois diodos fotodetectores (dispositivos semicondutores que convertem luz em
corrente elétrica). Neste caso, a birrefringência é induzida por stress causado pela aplicação do
campo elétrico.
V l H (5.44)
Uma forma construtiva de um TC óptico baseado no efeito Faraday é mostrada na Fig. 5.19.
Como vantagens dos TPs e TCs ópticos em relação aos convencionais, podem-se citar:
115
Chagas – DEE/UFCG
Bibliografia
[8] ALAVI, O. (2015). Current measurement with optical current transformer, Journal of
World’s Electrical Engineering and Technology, 4(1):29-35.
116
Chagas – DEE/UFCG
3. Por que os TPs indutivos não são utilizados em sistemas com tensões nominais acima de 138
kV? Acima dessa tensão, que tipo de TP é utilizado?
5. Os TPIs da Fig. 1 estão ligados a uma linha de 230 kV, sendo RTP = 230 kV/115 V. Calcule Uab,
Ubc e Uca. Repita o procedimento supondo que a marca de polaridade de TP2 é transferida
do lado do terminal b para o lado do terminal c.
Fig. 1
11. Quais as propriedades magnéticas desejáveis aos TCs de medição e respectivos laços de
histerese e curvas de saturação? Responder o mesmo em relação aos TCs de proteção.
13. Explicar o que é curva de excitação secundária, tensão de ponto de joelho e tensão de satu-
ração de um TC de proteção. Esboçar o diagrama de circuito para obtenção da referida curva
em laboratório.
14. Por que não se deve abrir o secundário de um TC com o primário energizado? Justificar
mediante utilização de gráficos de formas de onda de fluxo, corrente de excitação e tensão
de excitação secundária.
15. Descrever os efeitos da inserção de um entreferro não magnético num núcleo de um TC. A
partir das características de magnetização B-H da liga aço silício e do material do entreferro,
esboce a característica B-H resultante do TC.
16. A que se referem as designações TPX, TPY e TPZ, usadas para TCs?
17. Por que os TCs com entreferro não são adequados ao serviço de medição?
19. Explicar a influência dos seguintes fatores na saturação dos TCs: corrente primária, módulo
e ângulo da impedância do circuito secundário, área de seção reta do núcleo, relação de
espiras, constantes de tempo primária e secundária, fluxo residual no núcleo.
20. Quais as principais medidas que devem ser tomadas para evitar a saturação em CA nos TCs?
E em relação à saturação em CC?
21. Um TC possui curva de excitação secundária mostrada na Fig. 2, linearizada por partes. No
circuito equivalente, também mostrado na figura, têm-se RTC = 500/5 e Xs = 0,5 Ω.
Fig. 2
118
Chagas – DEE/UFCG
(a) Calcular o erro de relação percentual para os seguintes casos, apresentando também
uma interpretação em relação aos resultados obtidos.
▪ Xc = 4,5 Ω, Ip = 400 A (corrente de carga).
▪ Xc = 4,5 Ω, Ip = 1200 A (corrente de defeito).
▪ Xc = 13,5 Ω, Ip = 400 A (corrente de carga).
▪ Xc = 13,5 Ω, Ip = 1200 A (corrente de defeito).
(b) Caso haja um defeito na linha que produza uma corrente de 1200 A, verificar o que
ocorre quando o TC alimenta um relé de sobrecorrente cujo tape está ajustado em 8 A,
considerando os seguintes valores de impedância de carga: Xc = 4,5 Ω e Xc = 13,5 Ω.
23. Uma subestação de 230 kV apresenta nível de curto-circuito fase-terra igual a 7 GVA e
relação X/R do sistema alimentador igual 7,3. A corrente nominal de um dos alimentadores
de saída é 800 A, no qual transformadores de corrente de fator térmico nominal 1,2
alimentam relés de distância que representam uma carga C25 (ABNT). (a) Calcular a relação
de transformação nominal do TC para que ele seja adequado às condições de carga e não
sofra saturação em CA. (b) Qual deve ser a impedância da carga no secundário, em ohms,
para que não haja saturação em CC, considerando nulo o fluxo residual no núcleo? (c)
Repetir o item (b) para um fluxo residual de 0,85 pu do fluxo de saturação do núcleo.
Comentar os resultados encontrados.
119
Chagas – DEE/UFCG
Fig. 1
120
Chagas – DEE/UFCG
9. Efetuar alterações nos parâmetros do circuito da Fig. 2, tal qual foi feito no caso do circuito
da Fig. 1. Avaliar os resultados obtidos.
Fig. 2
122
Chagas – DEE/UFCG
% -------------------------------------------------------------------------
% SIMULAÇÃO DO DESEMPENHO DE UM TC DE NÚCLEO TOROIDAL COM OU SEM ENTREFERRO
% USA-SE O MODELO DE HISTERESE JILES-ATHERTON E O MÉTODO EULER PROGRESSIVO
% -------------------------------------------------------------------------
clear all
clc
% -------------------------------------------------------------------------
% DADOS DO SISTEMA PRIMÁRIO
% -------------------------------------------------------------------------
Un = 230000; %Tensão nominal (V)
f = 60; %Frequência (Hz)
Rl = 0.0319; %Resistência em série da linha (ohms/km)
Xl = 0.3311; %Reatância em série da linha (ohm/km)
Rth = 0.56; %Resistência de Thévenin do sistema alimentador (ohms)
Xth = 7.30; %Reatância de Thévenin do sistema alimentador (ohms)
% -------------------------------------------------------------------------
% DADOS DO TRANSFORMADOR DE CORRENTE
% -------------------------------------------------------------------------
N1 = 1; %Número de espiras do primário
N2 = 180; %Número de espiras do secundário
Cn = 0.5; %Comprimento médio do núcleo (m)
Xg = 0; %Comprimento total do entreferro (mm)
S = 1.91e-3; %Área de seção reta do núcleo (m2)
Rs = 1.25; %Resistência total no secundário (Ohms)
Xs = 0; %Reatância total no secundário(Ohms)
Fstc = 20; %Fator de sobrecorrente
Fe = 0.95; %Fator de empilhamento do núcleo
B0 = 0; %Indução residual no núcleo (T)
% Dados do modelo Jiles Atherton - Curva anisterética por função racional
Ms = 1.72e6;
alfa = 1.32e-5;
cf = 0.1;
kp = 39.2;
a1 = 2730; a2 = 3209; a3 = 20294;
nr = 2;
bet = 0.96;
% -------------------------------------------------------------------------
% Dados gerais do defeito
% -------------------------------------------------------------------------
C00 = 3.75; %Número de ciclos de duração antes do defeito
C11 = 3.75; %Número de ciclos de duração da primeira falta
Ctt = 8.25; %Número de ciclos de duração do tempo morto
C22 = 12; %Número de ciclos de duração da segunda falta
Tet1 = 0; %Ângulo de fase da tensão do sistema primário que
%determina o instante de ocorrência da 1a falta (graus)
Tet2 = 0; %Ângulo de fase da tensão do sistema primário que
%determina o instante de Ocorrência da 2a falta (graus)
Dist = 5; %Distância do TC ao ponto de ocorrência da falta (km)
% -------------------------------------------------------------------------
% Degrau de tempo considerado no método de Euler
% -------------------------------------------------------------------------
Dt = 1e-6;
% -------------------------------------------------------------------------
CP = zeros; %Corrente primária
CS = zeros; %Corrente secundária
CE = zeros; %Corrente de excitação
UE = zeros; %Tensão excitação
H = zeros; %Campo magnético
B = zeros; %Densidade de campo magnético
M = zeros; %Magnetização
123
Chagas – DEE/UFCG
CS(1) = CP(1)/Rtc;
CE(1) = 0;
UE(1) = CS(1)*sqrt(Rs^2+Xs^2);
B(1) = B0;
H(1) = 0;
M(1) = B0/mur0;
FL(1) = N2*S*B0;
Ck = 1-cf;
for k = 2:NP
HE = H(k-1)+alfa*M(k-1);
HED = abs(HE);
FMA = Ms*(a1*HED+HED^nr)/(a3+a2*HED+HED^nr);
num = Ms*(a1*a3+nr*a3*HED^(nr-1)+(nr-1)*(a2-a1)*HED^nr);
den = (a3+a2*HED+HED^nr)^2;
DMA = num/den;
if HE < 0
FMA = -FMA;
end
kpm = kp*(1-bet*(M(k-1)/Ms)^2);
DMI = (FMA-M(k-1))/(ND*kpm);
if DMI >= 0
DMDH = (Ck*DMI+cf*DMA)/(1-alfa*cf*DMA-alfa*Ck*DMI);
end
if DMI < 0
DMDH = cf*DMA/(1-alfa*cf*DMA);
end
DHDB = 1/(mur0*(1+DMDH));
num = R*(CP(k-1)/Rtc-Cn*H(k-1)/N2-B(k-1)*Xg/(mur0*N2))+L*DC(k-1)/Rtc;
den = N2*S+L*(Cn*DHDB+Xg/mur0)/N2;
DBDT = num/den;
DHDT = DHDB*DBDT;
DMDT = DBDT/mur0-DHDT;
B(k) = B(k-1)+Dt*DBDT;
H(k) = H(k-1)+Dt*DHDT;
M(k) = M(k-1)+Dt*DMDT;
if H(k) >= H(k-1)
ND = 1;
end
if H(k) < H(k-1)
ND = -1;
end
FL(k) = N2*S*B(k);
CE(k) = H(k)*Cn/N2+B(k)*Xg/(mur0*N2);
CS(k) = (CP(k)/Rtc)-CE(k);
UE(k) = (FL(k)-FL(k-1))/Dt;
end
for k = 1:NP
CP(k) = CP(k)/Rtc;
end
% -------------------------------------------------------------------------
tamanho=11;
figure(1)
plot(TP, CP,'LineWidth', 1.5);
grid on;
xlabel('Tempo (s)','FontSize',tamanho);
ylabel('Corrente Primária (A)','FontSize',tamanho);
%
figure(2)
plot(TP, CS,'LineWidth', 1.5);
grid on;
xlabel('Tempo (s)','FontSize',tamanho);
ylabel('Corrente Secundária (A)','FontSize',tamanho);
%
figure(3)
125
Chagas – DEE/UFCG
126