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Chagas – DEE/UFCG

Universidade Federal de Campina Grande


Centro de Engenharia Elétrica e Informática
Departamento de Engenharia Elétrica

Transformadores para Instrumentos


Notas de Aula

Francisco das Chagas Fernandes Guerra

Campina Grande - PB

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Chagas – DEE/UFCG

Capítulo I

Transformadores de Potencial – Aspectos Básicos

Transformadores de potencial (TPs) são dispositivos projetados e construídos para alimentar


instrumentos de medição, proteção ou controle em redes elétricas. Eles reduzem a tensão da
rede a um valor adequado aos instrumentos, estabelecendo uma relação fixa entre os valores
instantâneos correspondentes das ondas de tensão de saída e de entrada, com diferenças de
fase mínimas possíveis entre si. Também objetivam promover isolação elétrica entre os
instrumentos e o sistema de potência. Em relação à forma de construção, os TPs podem ser do
tipo indutivo (TPIs) ou capacitivo (TPCs).
Neste capítulo são tratados aspectos fundamentais acerca do princípio de funcionamento
dos TPs.

1. Transformadores de Potencial Indutivos

1.1. Considerações Gerais

A forma construtiva básica e o modo de ligação de um TPI são mostrados na Fig. 1.1.

Fig. 1.1. Transformador de potencial e modo de ligação ao sistema elétrico.

O núcleo magnético é constituído por liga ferro-silício de grãos orientados. O enrolamento


primário de N1 espiras é ligado em derivação ao sistema primário; o secundário, de N2 espiras
alimenta um medidor ou relé. Para as tensões primária e secundária, tem-se, idealmente:
U 1 N1
 (1.1)
U2 N2

Ao contrário dos TCs, os TPs devem operar com altas impedâncias ligadas ao secundário.

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A norma NBR 6855 - ABNT (2009) [1] estabelece valores de tensão secundária nominal de
115 V ou 115/3 V, ou ambos, como é mostrado na Fig. 1.2.

Fig. 1.2. Transformador de potencial com derivação no secundário.

São mostrados três tipos de núcleo na Fig. 1.3. As duas colunas mais externas no TPI trifásico
(c) proporcionam baixa relutância para os componentes de fluxo sequência zero, em caso de
operação em regime desequilibrado, e de harmônica triplas, em caso de distorção.

(a) (b) (c)

Fig. 1.3. Circuitos magnéticos; (a), (b) TPIs monofásicos; (c) TPI trifásico.

Considera-se um TPI monofásico com núcleo de área de seção reta A, indução BK no ponto
de joelho da curva de saturação B- H e fator de empilhamento das lâminas do núcleo FE. No
seu projeto, recomenda-se usar a seguinte expressão:
FS . U1
N1 A (1.2)
4,44 f FE BK
Para as ligas Fe-Si de grãos orientados, BK ≈ 1,5 T, FE = 0,95 e a constante FS varia de 1,1 a
1,9. Assim, FS estabelece uma margem de segurança para que o TP não opere com o núcleo
saturado, em caso de sobretensão sustentada ou inrush. Dois tipos de TPs usados em média
tensão (15 kV) são mostrados na Fig. 1.4, um com isolamento de óleo mineral e o outro
encapsulado por isolamento sólido (epóxi). Um TPI usado em tensões de até 138 kV é mostrado
na Fig. 1.5.
Exemplo: Um TPI usado em uma linha de 138 kV, 60 Hz, possui um núcleo magnético com
área de seção reta de 16 cm2, fator de empilhamento de 0,95 e BK ≈ 1,5 T. Calcular o número
mínimo de espiras do enrolamento primário, N1.
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Solução - Da expressão (1.2) tem-se:

1,2 x 138000 / 3
N1  157409 espiras
4,44 x 60 x 0,95 x 16 x10 4 x 1,5

Fig. 1.4. TPIs de média tensão. Fig. 1.5. TPI de alta tensão [2].

Para altas tensões, o número espiras N1 é muito alto. Como a impedância da carga secun-
dária é elevada, o fio do enrolamento primário é muito fino. Isto implica em maior custo devido
à dificuldade de fabricação (a possibilidade de rompimento do fio é grande). Uma solução é
utilizar núcleos e enrolamentos ligados em cascata. Ainda assim, os TPs do tipo indutivo não
são economicamente viáveis para tensões acima de 138 kV. Nestes casos, a solução mais
econômica consiste no emprego de transformadores de potencial capacitivos (TPCs).

1.2. Definições Básicas

Relação Nominal e Relação Real

É a relação entre os valores nominais U1N e U2N das correntes primária e secundária. Tais
valores são estabelecidos no projeto do TP, sendo indicada na placa de dados. É comumente
denominada relação de transformação, recebendo a notação KN. Esta relação não corresponde
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exatamente à relação de espiras. Porém, elas se acham muito próximas; assim, tem-se:
U 1N N1
KN   (1.3)
U 2N N2

Sendo as tensões U1 e U2 os valores reais correspondentes no primário e no secundário,


compreendidos na faixa de variação permissível da tensão primária, tem-se para a relação real:
U1
KR  (1.4)
U2

Fator de Correção de Relação

É o fator pelo qual se deve multiplicar a relação nominal do TP para que seja obtida a relação
real KR, ou seja:
KR
FCR P  (1.5)
KN

Este fator também é expresso em termos de percentagem, FCRP%.

1.3. Circuito Elétrico Equivalente e Diagrama Fasorial

O circuito elétrico equivalente de um TP para análise em baixas frequências é mostrado na


Fig. 1.6. Todos os elementos são referidos ao secundário.

Fig. 1.6 Circuito elétrico equivalente de um TP.

R1’, X1’ – Resistência e reatância do enrolamento primário.


R2 , X2 – Resistência e reatância de dispersão do enrolamento secundário.
Rp – Resistência de perdas no núcleo (histeréticas e parasíticas).
Xm – Reatância de magnetização do núcleo.
Rc , Xc – Resistência e reatância da carga ligada ao secundário.

Assim, têm-se as seguintes equações e o diagrama fasorial da Fig. 1.7:


U e  U 2  R2 I 2  j X 2 I 2 (1.6)

Ie  I p  I m (1.7)

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I1'  I e  I 2 (1.8)

U 1'  U e  R1' I1'  j X 1 I1' (1.9)

Fig. 1.7. Diagrama fasorial de um TP indutivo.

1.4. Erros de Relação e de Fase

O erro de relação percentual do TP é dado pela seguinte expressão:


K N U 2  U1
 %  100 (1.10)
U1

Pode-se relacionar % e FCRP da seguinte maneira:

 U  K   1   1  FCRP 
 % 100  K N 2  1 100  N  1  100   1  100   (1.11)
 U1   KR   FCRP   FCRP 
Assumindo FCRP ≈ 1, tem-se:
 %  100  FCRP % (1.12)

Da Fig. 1.7, vê-se que o erro de fase corresponde ao ângulo  entre os fasores U1’ e U2.

1.5. Classe de Exatidão

A classe de exatidão de um TP expressa o seu grau de exatidão considerando o erro de


relação e o erro de fase entre as tensões primária e secundária. A norma NBR 6855 – ABNT /
1992 [1] estabelece as classes de exatidão 0,3, 0,6, 1,2 e 3, para as seguintes finalidades:

▪ Medição de demanda e consumo para faturamento: 0,3.


▪ Alimentação de medidores sem finalidade de faturamento: 0,6.
▪ Alimentação de instrumentos indicadores instalados em painéis: 1,2.

A referida norma estabelece que um TPI de medição acha-se dentro de sua classe de
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exatidão nominal quando os pontos determinados por % (ou FCRP%) e  acham-se no interior
dos paralelogramos da Fig. 1.8, considerando os ensaios realizados com a carga nominal do TPI.

Fig. 1.8. Paralelogramos de exatidão de TPs.

A norma NBR 6855 - ABNT (2009) [1] fornece detalhes acerca das tensões nominais dos TPIs
e das cargas nominais, expressas em VA com os seguintes valores: 12,5; 25; 75; 200; 400.

1.6. Polaridades e Ligações de TPIs

Considerando a Fig. 1.9, os pares de terminais do primário e do secundário de mesma


polaridade instantânea são marcados com índices numéricos idênticos (P1, S1 e P2, S2).

Fig. 1.9. Convenção de polaridades para TPIs.

Um TPI tem polaridade subtrativa quando, em determinado instante, a corrente, percorre o


circuito primário P1 para P2 e a onda de corrente no secundário circula de S1 para S2, como na
Fig. 1.9(a). Caso contrário, o TPI tem polaridade aditiva, como na Fig. 1.9(b).
Em aplicações didáticas, uma prática usual é indicar os terminais de mesma polaridade com
pontos, como é indicado na Fig. 1.10.
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Fig. 1.10. Convenção de polaridades para TPIs – Regra do ponto.

Em circuitos monofásicos, quando os TPIs alimentam instrumentos sensibilizados por uma só


grandeza (voltímetros, relés de tensão), a marcação das polaridades não é relevante. Porém,
quando os mesmos alimentam instrumentos de múltiplas grandezas de entrada, como
wattímetros, medidores de energia e fasímetros, as marcações devem ser observadas. O
mesmo ocorre em relação a circuitos polifásicos.
As ligações mais usuais dos TPIs são mostradas na Fig. 1.11.

(a) (b)
Fig. 1.11. Ligação de TPIs; ( a ) estrela-estrela; ( b ) estrela-delta aberto.

Na Fig. 1.11(a), os enrolamentos primários são ligados em estrela, com o neutro aterrado,
ocorrendo o mesmo com os enrolamentos secundários. Na Fig. 1.11(b), os enrolamentos do
lado secundário são ligados em delta aberto, proporcionando uma tensão residual dada por:

U R  U a  U b  U c  3U 0 (1.13)

Esta expressão é resultado do desenvolvimento dos fasores das correntes em termos de


componentes simétricas. A tensão U0 é a componente de sequência zero que há em cada fase
(estas componentes possuem módulos iguais e defasagem nula entre si, as quais surgem
quando há defeitos que envolvem a terra). Assim, a conexão em delta aberto constitui um filtro
de passagem da componente U0. Esta ligação é usada na alimentação de relés de distância,
relés de sobretensão, além de outras aplicações no campo da proteção dos sistemas elétricos.
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Nas ligações da Fig. 1.11, pode-se usar TPIs monofásicos de núcleos magnéticos indicados na
Fig. 1.3(a) ou Fig. 1.3(b) ou TPs trifásicos, com núcleos mostrados na Fig. 1.3(c).

1.7. Especificação de TPs

A norma NBR 6855 – ABNT / 1992 [1] estabelece características básicas a serem especifica-
das para consulta ao fabricante; as principais são:

Grupo de ligação – O grupo de ligação pode ser 1, 2 ou 3, como é descrito a seguir.


▪ Grupo 1 - TPIs para serem ligados entre fases em sistemas de até 34,5 kV; devem suportar
continuamente 10% de sobrecarga.
▪ Grupo 2 - TPIs para serem ligados entre fase e neutro em sistemas diretamente aterrados.
▪ Grupo 3 - TPIs projetados para serem ligados entre fase e neutro em sistemas onde as
condições de aterramento do sistema não são definidas.
Tensão primária nominal e relação nominal – Os TPIs devem suportar tensões de serviço de
10% acima de seu valor nominal, em regime contínuo, sem prejuízo a sua integridade. Para o
grupo 1, a tensão secundária nominal é padronizada em 115 V e a tensão primária nominal é
padronizada em 17 valores, de 115 V a 69000 V. Para os grupos 2 e 3, a tensão secundária
nominal é padronizada em 115/3 V e a tensão primária nominal é padronizada em 22
valores, de 230/3 V a 230000/3 V. A relação nominal corresponde à relação entre a
tensão primária nominal e a tensão secundária nominal.
As tensões primárias nominais e as relações nominais devem ser representadas em ordem
crescente, do seguinte modo:
▪ o sinal de dois pontos (:) deve ser usado para exprimir relações nominais; exemplo: 120 : 1;
▪ o hífen ( - ) deve ser usado para separar relações nominais e tensões primárias de enrola-
mentos diferentes; exemplo: 13800-115 V.
▪ o sinal (x) deve ser usado para separar relações nominais e tensões primárias de
enrolamento a serem ligadas em série ou em paralelo; exemplo: 6900 x 13800 – 115 V;
▪ a barra ( / ) deve ser usada para separar tensões primárias nominais e relações nominais
obtidas por meio de derivações, sejam estas no enrolamento primário ou no secundário;
exemplo: 69000/3 – 115 / 115/3 V, que corresponde a um TPI do grupo 3, com um
enrolamento primário e um enrolamento secundário em derivação.
Frequência nominal – 60 Hz.
Carga nominal – A soma das cargas ligadas no secundário do TPI não deve ultrapassar a
carga nominal padronizada desse equipamento, a qual é fornecida na Tabela 1.1.
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Tabela 1.1 Cargas nominais de TPIs


CARGA POTÊNCIA FATOR DE IMPEDÂNCIA (120 V) IMPEDÂNCIA (66,3V)
( VA ) POTÊNCIA () ()
P12,5 12,5 0,10 1152 384
P25 25 0,70 576 192
P75 75 0,85 192 64
P200 200 0,85 72 24
P400 400 0,85 36 12

Classe de exatidão – Medição: 0,3 – 0,6 – 1,2 – 3.


Potência térmica nominal – Potência que o TPI pode suprir em regime contínuo, sem que
sejam excedidos os limites especificados de temperatura.
Além desses itens, devem ser especificados:
▪ Nível de isolamento.
▪ Tensão suportável à frequência industrial.
▪ Número de enrolamentos secundários ou derivações.
▪ Tipo de isolamento (óleo ou epóxi).
▪ Uso interno ou externo.

2. Transformadores de Potencial Capacitivos

2.1. Considerações Gerais

Foi anteriormente afirmado que os TPs indutivos não constituem solução economicamente
viável para tensões superiores a 138 kV. Acima deste valor, usam-se os transformadores de
potencial capacitivos (TPCs), cujo esquema básico é mostrado na Fig.1.12.

Fig. 1.12. Esquema básico de um TP capacitivo (TPC).

Vê-se que além do divisor capacitivo, há um TP indutivo que proporciona redução adicional
de tensão, além de promover isolação elétrica em relação ao circuito primário. Também há um
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indutor L sintonizado de modo tal que a tensão de saída seja independente da corrente I1
requerida pela carga. Isto é obtido fazendo-se:

1
L (1.14)
ω 2 ( C1  C 2 )

Para o circuito da Fig. 1.12, pode-se escrever:


1 1
U1   j ( I  I1 )  j I (1.15)
ω C1 ω C2

1
U  j I  j ω L I1 (1.16)
ω C2

Substituindo (1.14) em (1.16), obtém-se:


1 I1
U  j I j (1.17)
ω C2 ω ( C1  C 2 )
De (1.15) e (1.17), resulta:
U 1 C1  C 2
 (1.18)
U C1
Pode-se verificar que (1.18) também é obtida se o TPC estiver sem carga (I1 = 0).
Se o TP indutivo possuir relação nominal KN, a relação de transformação do TPC é dada pela
seguinte expressão:
U1 C  C2
KC   KN 1 (1.19)
U2 C1
Os TPCs são usados em sistemas de tensões nominais entre 34,5 a 765 kV. A tensão entre o
ponto B da Fig. 1.12 e a terra normalmente é 15 kV. A tensão secundária nominal do TPI é 115
V ou 115/3 V.

2.2. Circuito Completo de um TPC

O circuito completo de um TPC é mostrado na Fig. 1.13. Neste circuito são incluídos
elementos destinados à proteção contra sobretensões transitórias (proteção contra surtos) e
de caráter sustentado (supressor de ferroressonância).
Na Fig. 1.14 é mostrada a forma construtiva básica de um TPC. Como é ilustrado na Fig. 1.15,
a proteção contra surtos de tensão pode ser exercida ( a ) por um centelhador, ( b ) por um
centelhador em série com um resistor não linear ou ( c ) por um pára-raios de óxido de zinco
(forma mais comum).
O dispositivo de proteção contra ferroressonância é descrito no Capítulo II.

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Fig. 1.13. Esquema completo de um TP capacitivo (TPC).

Fig. 1.14. Aspecto construtivo básico de um TP capacitivo (TPC) [2].

Fig. 1.15. Diferentes tipos de elementos de proteção contra surtos de tensão.

Além de alimentarem relés de proteção e instrumentos de medição, os TPCs servem como


dispositivos de acoplamento para sistema de onda portadora (Power Line Carrier - PLC), como é
ilustrado na Fig. 1.16. Tais sistemas se destinam a transmitir através da linha um sinal de baixa
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potência e de frequência compreendida entre 30 kHz e 300 kHz, o qual se destina a


teleproteção, telemedição, telecontrole ou transmissão de voz.

Fig. 1.16. Esquema básico de um sistema de onda portadora.

Para simplificar o esquema, os circuitos de proteção contra surtos e os supressores de


ferroressonância do TPCs são omitidos. Os elementos indicados são descritos a seguir.
▪ Unidade de bloqueio (UB) - Associação em paralelo de um indutor e um capacitor,
constituindo um circuito ressonante com impedância desprezível para a frequência de 60 Hz
e alta impedância para as correntes de alta frequência. Esta unidade faz com que o sinal de
carrier se propague apenas no trecho de linha indicado, evitando interferência com sistemas
das seções adjacentes. Também evitam que curtos-circuitos ou manobras que ocorram fora
da seção linha interfiram no sinal desta seção.
▪ Bobina de dreno (BD) - Constitui um caminho de baixa impedância entre os capacitores de
acoplamento e a terra para correntes de 60 Hz. Assim, a tensão entre o ponto P e a terra é
reduzida. Em altas frequências, a impedância entre o circuito de radiofrequência e a terra é
alta, reduzindo as perdas. O centelhador G serve para proteção contra surtos de tensão.
▪ Unidade de sintonia (US) - Com os capacitores de acoplamento, constitui um caminho de
baixa impedância entre o cabo coaxial e a linha.
▪ Cabo coaxial - Liga a unidade de sintonia ao transmissor-receptor.

Bibliografia

[1] NBR 6855 - ABNT (2009). Transformador de potencial indutivo.


[2] CARVALHO JUNIOR, A. V. (2008). Interação transitória entre transformadores de potencial
capacitivos e linhas de transmissão: uma contribuição para minimizar falhas, Dissertação
de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, UFPE, Recife – PE.

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Capítulo II

Transformadores de Potencial em Regime Transitório

Este capítulo trata do estudo do desempenho de transformadores de potencial indutivos


(TPIs) e capacitivos (TPCs) em regime transitório. Mesmo sendo equipamentos de forma
construtiva e princípio de funcionamento simples, aos TPs indutivos está relacionado um
complexo fenômeno de natureza não linear, denominado ferroressonância, o qual pode causar
dano ao próprio equipamento e aos demais componentes da instalação.
Em relação aos TPs capacitivos, além da ferroressonância, é abordado outro fenômeno
transitório que ocorre em caso de curto-circuito no sistema primário, o qual produz oscilações
na tensão secundária, de modo a poder influir na operação dos relés de distância.

1. O Problema da Ferroressonância

1.1. Considerações Gerais

O termo ferroressonância nomeia um fenômeno de caráter oscilatório que resulta da


transferência de energia entre capacitores, indutores com núcleos magnéticos saturáveis e
fontes de alimentação. O exemplo mais simples consiste em uma associação em série de um
transformador com secundário em aberto, um capacitor e uma fonte de tensão senoidal.
Durante a ocorrência da ferroressonância, ao ser atingido o regime de saturação, há uma
variação rápida e descontínua nas amplitudes e fases da corrente e das tensões, surgindo ondas
com formas acentuadamente não senoidais, as quais apresentam altos valores de pico, de
modo a haver risco à integridade dos equipamentos. Nas redes elétricas, os valores máximos de
tensão alcançados situam-se na faixa de 2 a 3 pu. As ondas podem conter componentes de
frequências múltiplas ou submúltiplas da frequência de excitação (harmônicas e sub-
harmônicas). Também ocorre sobrefluxo no núcleo do transformador, fato este que causa
aquecimento em decorrência do aumento das perdas magnéticas.
A análise feita neste item é restrita aos circuitos monofásicos com indutâncias saturáveis,
cujas características de magnetização são fornecidas em termos de valores eficazes de tensão e
de corrente de magnetização (true RMS). Inicialmente, é assumido que as correntes e tensões
não-senoidais podem ser substituídas por equivalentes senoidais de mesmo valor RMS [1], [2].
É importante lembrar que esse método serve apenas para facilitar o entendimento do
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fenômeno, uma vez que a aproximação das grandezas por equivalentes fasoriais acarreta em
um erro cada vez maior à medida que aumenta o grau de saturação do indutor não linear.
O circuito considerado e o diagrama fasorial correspondente são mostrados na Fig. 2.1 e na
Fig. 2.2, respectivamente. Neste caso, pode-se escrever para os módulos das tensões:

1
U L  U  UC  U  I (2.1)
C

Fig. 2.1. Circuito LC com indutor saturável Fig. 2.2. Diagrama fasorial do circuito da Fig. 2.1.

Com base nesta equação, pode-se construir o gráfico da Fig. 2.3, onde é mostrado o ponto
de operação inicial, P1. Este ponto corresponde à intersecção da reta descrita por (2.1) com a
curva de magnetização do indutor, para um valor de tensão da fonte U = U 1.

Fig. 2.3. Condição de operação estável de um circuito RLC em série não linear.

Neste ponto de operação estável, o circuito assume um comportamento predominante-


mente indutivo (UL > UC). Se houver aumento de U, o ponto de trabalho tende a se deslocar
para cima. Entretanto, como P1 acha-se próximo ao joelho da característica do indutor, pode
ocorrer que as duas curvas não se interceptem no primeiro quadrante. De acordo com a Fig.
2.4, o novo ponto de operação passa a ser P3, situado no terceiro quadrante.

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Fig. 2.4. Comportamento de um circuito LC série não linear com aumento de U.

Observa-se que há grande aumento nos valores das tensões, corrente e fluxo. Como o ponto
P3 se situa numa região de intenso grau de saturação da curva U – I, as ondas associadas às
citadas grandezas apresentam caráter acentuadamente não senoidal.

1.2. Consequências da Ferroressonância

As consequências mais importantes da ferroressonância são citadas a seguir:

▪ Danos a equipamentos em geral por elevação excessiva dos níveis de tensão e de corrente.
▪ Sobreaquecimento elevado e ruído no transformador em face do aumento de fluxo
magnético no núcleo e circulação excessiva de correntes parasitas.
▪ Deterioração da qualidade de energia ocasionada pela distorção das formas de onda de
tensão e de corrente, com surgimento de harmônicos e de sub-harmônicos.
▪ Destruição de descarregadores de surto (para-raios).

1.3. Modos de Ferroressonância

Em estado estacionário, a ferroressonância é classificada do seguinte modo [3].

▪ Modo fundamental. As tensões e correntes apresentam forma de onda acentuadamente não


senoidal e com período igual ao da fonte de excitação. O espectro de linhas dos sinais é
discreto e contém a frequência de operação do sistema, f0, além de harmônicas de
frequências k f0, k = 1, 3, 5, .... Isto é mostrado na Fig. 2.5.
▪ Modo sub-harmônico. As tensões e correntes apresentam forma de onda acentuadamente
não senoidal e com período igual a nT, onde n é um múltiplo inteiro e T é o período da fonte

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de excitação. O espectro de linhas dos sinais é discreto e contém uma componente


fundamental de frequência f0 / n, além de suas harmônicas (a componente de frequência f0
também faz parte do espectro), conforme é ilustrado na Fig. 2.6.
▪ Modo quase periódico. Esse modo de oscilação não tem periodicidade, como é mostrado na
Fig. 2.7. O espectro é descontínuo e apresenta frequências que podem ser expressas
segundo a forma n f1+ m f2, sendo n e m inteiros e f1 / f2 um número irracional.
▪ Modo caótico. Neste caso, o comportamento do sinal não é periódico, mas irregular e
imprevisível. O espectro de frequências é contínuo, como é mostrado na Fig. 2.8.

Fig. 2.5. Ferroressonância de modo fundamental.

Fig. 2.6. Ferroressonância de modo sub-harmônico.

Fig. 2.7. Ferroressonância de modo quase periódico.

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Fig. 2.8. Ferroressonância caótica.

2. Ferroressonância em TPIs

2.1. Casos Notáveis de Ferroressonância


A ferroressonância pode ocorrer em redes elétricas que contêm transformadores de
potencial indutivos (TPIs), dependendo de certas configurações e modos de operação dos
circuitos. Uma situação propensa à ocorrência desse fenômeno é ilustrada na Fig. 2.9. A linha A
possui maior tensão nominal que a linha B. Esta última acha-se desligada e tem conectado no
seu início um TPI. Pode ocorrer uma interação entre a capacitância distribuída entre as duas
linhas e a indutância saturável do TPI, ocorrendo ferroressonância.

Fig. 2.9. Ferroressonância causada por capacitância entre duas linhas e indutância de TPI.

Pode também ocorrer ferroressonância em sistemas que contenham circuitos de média e


alta tensão com neutros não aterrados, como é mostrado na Fig. 2.10. Ao ocorrer um defeito
no lado de alta tensão, o potencial do neutro se eleva. Assim, o efeito capacitivo entre os
enrolamentos causa uma sobretensão no lado de média tensão, ocasionando ferroressonância.
Outra situação em que se pode observar ferroressonância é mostrada na Fig. 2.11. Os
disjuntores de alta tensão possuem mais de uma câmara de extinção, ligadas em série. A fim de
distribuir de maneira uniforme a tensão nas mesmas, são colocados capacitores em paralelo

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com os contatos (capacitores de equalização). Isto é feito para que, quando o disjuntor estiver
aberto, as solicitações nos meios extintores das câmaras sejam iguais. Assim, poderá ocorrer
ferroressonância em caso de abertura do disjuntor, pois os capacitores estarão agora ligados
em série com o TPI.

Fig. 2.10. Ferroressonância causada por acoplamento capacitivo entre circuitos de alta e média tensão.

Fig. 2.11. Ferroressonância causada por abertura de disjuntor próximo a um TPI.

2.2. Prevenção e Mitigação da Ferroressonância em TPIs

Para evitar ou atenuar a ocorrência da ferroressonância, as seguintes práticas são


comumente adotadas:

▪ Manutenção da capacitância fora da faixa susceptível a ferroressonância, sendo este


parâmetro estabelecido por chaveamento em local mais próximo do terminal do TPI.
▪ Melhoria no projeto do núcleo do TPI. São mostradas na Fig. 2.12 duas possíveis
características tensão – corrente. Comparando as duas curvas, é observado que, quando se
utiliza a curva 2, torna-se necessária uma tensão transitória bem mais elevada para forçar
um salto para o estado de ferroressonância, uma vez que U2 > U1.
▪ Escolha adequada de conexões de enrolamentos e geometria do núcleo do transformador,
bem como a forma de aterramento do neutro do sistema. A avaliação desses fatores
apresenta considerável grau de complexidade, principalmente no caso de transformadores
trifásicos com núcleo de três e de cinco colunas, requerendo o emprego de programas
computacionais como os do tipo EMTP e outros.

19
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 2.12. Ferroressonância causada por abertura de disjuntor próximo a um TPI.

▪ Estabelecimento de condições para que a energia fornecida pela fonte não seja suficiente
para manter o fenômeno, introduzindo perdas para reduzir seus efeitos. Isso pode ser feito
pela inserção de resistência de amortecimento no circuito.
▪ Uma maneira comum de eliminar a ferrorressonância em TPIs é inserir resistências de
amortecimento da forma indicada na Fig. 2.13. A resistência R e a potência nominal PR do
resistor são dadas pelas expressões a seguir [3], onde U2 é a tensão nominal do secundário
do TPI, em volts, e PR é a potência térmica nominal do TPI, em VA.

3 3U 22
R (2.2)
Pe

PR 
3U 
2
2

(2.3)
R

Fig. 2.13. Eliminação da ferroressonância por inserção de resistor de amortecimento.

20
Chagas – DEE/UFCG

2.3. Exemplo de Ferroressonância em TPI

O caso analisado refere-se a uma subestação de 230 kV cujo diagrama unifilar simplificado é
mostrado na Fig. 2.14, no qual são mostrados os componentes descritos a seguir.

▪ Duas linhas de transmissão operando em 230 kV (LT1, LT2).


▪ Dois disjuntores de linha (DJ1, DJ2).
▪ Um disjuntor de transferência (DJ3).
▪ Dois barramentos, um principal e outro de transferência (B1, B2).
▪ Duas chaves seccionadoras de by-pass (1B, 2B).
▪ Um transformador de potencial ligado à barra B2 (TPI).

A condição de operação analisada corresponde a DJ1 fechado, DJ2 abrindo e DJ3 aberto;
também 1B e 2B estão abertas. Neste caso, tem-se o circuito equivalente mostrado na Fig. 2.15.

Fig. 2.14. Diagrama unifilar simplificado de uma subestação de 230 kV.

Fig. 2.15. Circuito equivalente da subestação de 230 kV da Fig. 2.14.


21
Chagas – DEE/UFCG

Os parâmetros u, R e L se relacionam ao equivalente de Thévenin do sistema alimentador;


R1 e L1 representam a resistência e a indutância em série compreendidas entre o disjuntor e o
TPI, inclusive a resistência e a reatância de dispersão do enrolamento primário do TPI; C1 é a
capacitância de equalização do disjuntor; C2 é a capacitância fase-terra equivalente do
barramento e equipamentos a ele ligados; Rp é a resistência linear de perdas no núcleo
magnético; Lm é a indutância de magnetização do TPI; R2 e L2 representam os valores de
resistência a indutância da carga refletidos para o lado do primário.

Formulação pelo Método de Newton-Raphson

Considerando u =  2U cos t no circuito da Fig. 2.15, tem-se:


di
L  R i  u1  u 2  u (2.4)
dt
di1
L1  R1 i1  u3  u2 (2.5)
dt
du 2
C2  i  i1 (2.6)
dt
u3
i1  im  (2.7)
Rp

dim
Lm  u3 (2.8)
dt
di2
L2  R2 i2  u3 (2.9)
dt
du1
C1 i (2.10)
dt
  f im  (2.11)

A função f de (2.11) descreve a curva de saturação do TPI. Considerando um degrau de


tempo h, têm-se as seguintes equações discretizadas:
ik  ik 1
L  R ik  u1,k  u 2,k  u k  0 (2.12)
h
i1,k  i1,k 1
L1  R1 i1,k  u2,k  u3,k  0 (2.13)
h
u2,k  u 2,k 1
C2  i1,k  ik  0 (2.14)
h
u 3, k
i1,k  im ,k  0 (2.15)
R p ,k

22
Chagas – DEE/UFCG

im,k  im,k 1
Lm  u 3, k  0 (2.16)
h
i2,k  i2,k 1
L2  R2 i2,k  u3,k  0 (2.17)
h
u1,k  u1,k 1
C1  ik  0 (2.18)
h
 k  f i m , k   0 (2.19)

Esse sistema não linear é resolvido pelo método de Newton-Raphson [4], com h = 1 s.

Dados do Sistema e Resultados das Simulações

Um valor típico de potência de curto-circuito em uma subestação de 230 kV é de 16 GVA [5],


o que corresponde a uma impedância com o seguinte valor:

2300002
Z  3,3 Ω
16 x109

A impedância do sistema alimentador apresenta caráter fortemente reativo, com ângulos de


fase típicos no entorno de 88o; assim, tem-se:

3,3 x sen 88o


R  3,3 x cos 88o  0,115 Ω , L  8,750 x 10-3 H
120 π

Os barramentos B1 e B2 possuem condutores de alumínio com alma de aço (ACSR) de bitola


954 MCM, o qual apresenta resistência ôhmica igual a 0,0705 /km a 50 oC. Para um trecho de
barramento de 100 m, a resistência é de 7,05 m, valor que pode ser desprezado. O mesmo
ocorre com a indutância do barramento e com a reatância de dispersão do TPI. Assim, L1  0 e
o valor de R1 é praticamente igual à resistência do enrolamento primário do TPI. Os TPIs típicos
usados em 230 kV apresentam resistência do enrolamento primário muito elevada, pois este é
composto por dezenas de milhares de espiras de fio fino, o que implica em um valor de
resistência da ordem de algumas dezenas de milhares de ohms.
O TPI considerado apresenta os dados fornecidos a seguir [6].
▪ Relação de espiras (primário, secundário): 1200 : 1.
▪ Número de espiras do enrolamento primário: 53897.
▪ Área de seção reta do núcleo: 101 cm2.
▪ Comprimento médio da trajetória magnética: 1,1 m.
O enrolamento primário é constituído de fio de bitola 28 AWG, com resistência ôhmica
0,214 /m, sendo o comprimento médio de uma espira igual a 0,60 m; assim, tem-se:

23
Chagas – DEE/UFCG

R1  53897 x 0,60 x 0,214  6920,4 


O núcleo magnético é constituído por liga Fe-Si de grãos orientados, com perdas magnéticas
de 1,28 W/kg a 60 Hz, com 1,5 T de indução de pico [7]. Como a densidade do ferro é 7,88 x 103
kg/m3, tem-se para as perdas magnéticas totais:
P  101 x 10 4 x 1,1 x 7,88 x10 3 x 1,28  112,06 W
A resistência de perdas no núcleo pode ser estimada fazendo-se:

Rp 
230000/ 3  2

 R p  157 M Ω
112,06
A curva de saturação do TPI é mostrada na Fig. 2.16, a qual fornece o fluxo de enlace no
enrolamento primário em função da corrente de excitação, em valores de pico.

1000.00

800.00
Fluxo de Enlace ( V.s )

600.00

400.00

200.00

0.00

0.00 5.00 10.00 15.00 20.00 25.00


Corrente ( A )
Fig. 2.16. Curva de saturação do TPI.

A curva de saturação é aproximada pelo método de linearização por partes, sendo usadas
coordenadas (im, ) de uma sequência de pontos levantados experimentalmente, com valores
de im crescentes ou decrescentes. Assim, as coordenadas de um ponto situado entre dois
pontos consecutivos fornecidos são determinadas através de rotina de busca em tabela
ordenada [4], empregando-se também o método de interpolação linear. Os pontos da referida
curva são fornecidos na Tabela 2.1.

24
Chagas – DEE/UFCG

Tabela 2.1. Pontos da curva de saturação do TPI (valores de pico).

CORRENTE ( A ) FLUXO DE ENLACE CORRENTE ( A ) FLUXO DE ENLACE


(V.s) (V.s)
0,00 0,00 1,00 755
0,01 550 2,00 773
0,03 600 4,00 795
0,08 650 8,00 822
0,20 700 15,0 850
0,50 735 25,0 870

Foi considerada no enrolamento secundário do TPI a carga P75, de 75 VA, padronizada pela
norma NBR 6855 – ABNT (2009) [8], a qual possui resistência de 163,2  e indutância de 0,268
H. Refletindo-se esses valores para o primário, tem-se:
R2  1200 2 x 163,2 235 x 10 6 Ω , L2  1200 2 x 0,268  385,92 x 103 H
Os capacitores de equalização dos disjuntores de 230 kV possuem capacitâncias na faixa de
325 pF a 7500 pF [9]. No caso analisado, é considerado C1 = 6100 pF.
A capacitância C2 é igual à capacitância para a terra do trecho do barramento B2
compreendido entre o disjuntor DJ3 e o TPI (CB2) mais a capacitância para a terra do TPI (CT) e
demais equipamentos ligados ao barramento (CD), ou seja:
C2  CB2  CT  CD (2.20)
A capacitância para a terra do barramento B2 é dada por (2.21), onde D é a distância entre
os condutores do barramento e r é o raio do condutor [10]:
002425
CB 2  μF / km (2.21)
log D / r 
Em um barramento de 50 m de extensão, para D = 4 m e r = 15,2 mm, tem-se CB2 = 501 pF.
A capacitância para a terra de um transformador de potencial típico de 230 kV varia entre
600 e 810 pF [11]. Neste caso, adota-se o valor CT = 700 pF. Para os demais equipamentos
ligados ao barramento, assume-se CD = 900 pF. Assim, tem-se C2  2100 pF.
O oscilograma da tensão no primário do TPI é mostrado na Fig. 2.17. Em regime transitório,
observa-se uma sobretensão máxima de 404,6 kV (3,0 pu). Em regime permanente, ocorrem
picos de tensão de 302,7 kV (2,3 pu). A tensão nos terminais do disjuntor, cuja forma de onda é
mostrada na Fig. 2.18, apresenta valor máximo em regime transitório de 454,2 kV (3,4 pu); em
regime permanente, esse valor é de 345,0 kV (2,6 pu). O oscilograma da corrente no primário é
mostrado na Fig. 2.19, atingindo o valor de 13,3 A em regime transitório e se estabiliza com
valor de pico de 9,0 A. O oscilograma do fluxo de enlace no primário é mostrado na Fig. 2.20.

25
Chagas – DEE/UFCG
600.00

400.00

200.00
Tensão ( kV )

0.00

-200.00

-400.00

0.00 0.10 0.20 0.30 0.40


Tempo ( s )
Fig. 2.17. Tensão nos terminais do TPI.

400.00

200.00

0.00
Tensão ( kV )

-200.00

-400.00

-600.00

0.00 0.10 0.20 0.30 0.40


Tempo ( s )
Fig. 2.18. Tensão nos terminais do disjuntor.
26
Chagas – DEE/UFCG
20.00

10.00

Corrente ( A )

0.00

-10.00

-20.00

0.00 0.10 0.20 0.30 0.40


Tempo ( s )
Fig. 2.19. Corrente no enrolamento primário do TPI.

1000.00

500.00
Fluxo de Enlace ( V.s )

0.00

-500.00

-1000.00

0.00 0.10 0.20 0.30 0.40


Tempo ( s )
Fig. 2.20. Fluxo de enlace no enrolamento primário do TPI.

27
Chagas – DEE/UFCG

3. Ferroressonância em TPCs

3.1. Considerações Gerais

A ferroressonância nos TPCs é resultado da interação entre indutâncias saturáveis e


capacitâncias do TPI e do sistema, podendo surgir tensões e correntes não senoidais maiores
que as observadas em regime normal, com forte conteúdo de harmônicos, as quais podem
ocasionar dano ao TPC e demais componentes da instalação.

3.2. Mitigação da Ferroressonância em TPCs

São mostrados na Fig. 2.21 os tipos mais comuns de circuito supressor de ferroressonância
(CSF), o qual foi citado no item 2.2 do Capítulo I.
Os circuitos da Fig. 2.21(a) e da Fig. 2.21(b) são sintonizados para produzirem ressonância na
frequência fundamental, proporcionando um caminho de alta impedância, e o resistor R é
dimensionado para amortecer oscilações em qualquer frequência diferente da fundamental.
No circuito da Fig. 2.21(c) o indutor não linear é projetado para saturar antes do TPI; assim,
ao saturar, sua indutância diferencial assume um valor baixo, de modo que o resistor R2 é
inserido, amortecendo as oscilações.
Considerando o circuito da Fig. 2.21(d), durante a ocorrência da ferroressonância, a tensão
sobre R2 faz o triac disparar, inserindo o resistor R3; a partir daí tudo se processa de modo
análogo ao circuito da Fig. 2.21(c).

Fig. 2.21. Diferentes tipos de supressores de ferroressonância (CSF).

28
Chagas – DEE/UFCG

O supressor de ferroresonância considerado no próximo capítulo é o mostrado na Fig.


2.21(a). Para o mesmo, é feita uma equivalência no sentido de se obter o circuito elétrico sem
acoplamentos magnéticos da Fig. 2.22. Os parâmetros L1, L2 são as indutâncias próprias das
duas porções dos enrolamentos do indutor e Mf é a indutância mútua entre as mesmas.

Fig. 2.22. Circuito equivalente sem acoplamento magnético, equivalente ao da Fig. 2.22(a).

Essa equivalência pode ser entendida ao se considerar os circuitos simplificados da Fig. 2.23.
Para o circuito da Fig. 2.23(a), pode-se escrever:
jL1 I1  j  M f I 2  U1 (2.22)

jL2 I 2  jM f I1  U 2 (2.23)

Fig. 2.23. Circuito equivalente (a) com acoplamento magnético; (b) sem acoplamento.

Estas equações podem ser escritas da forma matricial como:

 L1 M f   I1   U1 
j       (2.24)
M f L2   I 2  - U 2 
Para o circuito da Fig. 2.23(b), tem-se:
j L1  M f ) I1  jM f ( I1 - I 2 )  U1 (2.25)

j L2  M f ) I 2  jM f ( I 2 - I1 )  U 2 (2.26)

L1 M f   I1   U1 
j       (2.27)
M f L2   I 2  - U 2 
29
Chagas – DEE/UFCG

Assim, fica demonstrada a equivalência entre os circuitos da Fig. 2.21(a) e Fig. 2.22.
Um supressor de ferroressonância típico apresenta os seguintes dados: L1 = 0,318 , L2 =
0,084 , C = 9,6 F, Mf = 0,162 H, R = 37,5  [12 ]. A sua impedância no domínio s é dada por:

Z ( s) 
 
C L1 L2  M 2f s 3  RC L1  L2  2M f  s 2  L2 s  R
(2.28)
1  C L1  L2  2M f s 2

Substituindo os valores dos parâmetros em (2.28), obtém-se:

4 x109 s 3  2,6136 x104 s 2  0,084s  37,5


Z ( s)  (2.29)
1  6,969 x106 s 2
A resposta em frequência do circuito, obtida através do Matlab, é mostrada na Fig. 2.24.
Observa-se que o módulo da impedância é elevado para a frequência de operação da rede.
Entretanto, para as frequências harmônicas e sub-harmônicas, a impedância do circuito
supressor de harmônicos é praticamente igual à resistência R.

Fig. 2.24. Resposta em frequência de um circuito supressor de ferroressonância.

3.3. Exemplo de Ferroressonância em TPCs

Com o objetivo de avaliar o desempenho do circuito supressor de ferroressonância dos TPCs


no amortecimento das sobretensões, são efetuadas simulações baseadas em ensaios
estabelecidos pela norma IEC 186 (1969) [13]. Para isto, foram realizadas duas simulações. Na
primeira, o circuito supressor de ferroressonância não é considerado. Na segunda, o mesmo é
incorporado ao TPC. Assim, são simuladas mediante o ATP as seguintes operações:
▪ O TPC é energizado a partir do enrolamento primário com 1,2 pu da tensão nominal.
▪ O enrolamento secundário é mantido aberto.
▪ A chave fecha em t = 125 ms e fica fechada durante 6 ciclos, quando a falta é eliminada.
30
Chagas – DEE/UFCG

O circuito equivalente do TPC considerado nas simulações é mostrado na Fig. 2.25. Este
circuito apresenta os parâmetros do reator de compensação (R1, L1, C3) e do transformador de
potencial indutivo (R2, L2, R3, Lm, C4).
Os parâmetros C3 e C4 são as capacitâncias parasitas do reator de compensação e do
transformador de potencial indutivo, cuja inclusão é necessária para uma reprodução mais
precisa do desempenho do TPC em regime transitório, em frequências mais altas.
A constante R3 é a resistência de perdas dinâmicas no núcleo magnético do TPI e L3 é a
indutância de magnetização do mesmo. O protetor de surtos não é levado em consideração
nesta análise.

Fig. 2.25. Circuito equivalente do TPC com supressor de ferroressonância removível.

Os dados do TPC são fornecidos na Tabela 2.2 [14]. A característica de magnetização do TPI
(fluxo de enlace versus corrente de magnetização) é fornecida na Tabela 2.3. As tensões
nominais U1 e U2 do primário e do secundário do TPI são, respectivamente, 30/3 kV e 115 V.
Na Fig. 2.26 e na Fig. 2.27 são mostradas a onda de tensão na saída do TPC e a onda de
corrente no primário do TPI com o TPC sem o circuito supressor de ferroressonância.

Tabela 2.2. Parâmetros do TPC [14].

PARÂMETRO VALOR
C1 10,04 nF
C2 65,4 nF
R1 9,1 kΩ
L1 86,3 H
C3 493,2 nF
R2 920 Ω
L2 114,7 H
C4 9,3 pF
R3 50,6 Ω

31
Chagas – DEE/UFCG

Tabela 2.3. Pontos da curva de saturação do TPI (valores de pico) [14].

CORRENTE ( A ) FLUXO DE ENLACE (V.s)


0,076368 0,025772
2,511675 0,748388
3,662012 0,863553
5,712037 0,942706
55,52702 1,556415
5552.702 1,562242

Fig. 2.26. Tensão de saída do TPC sem supressor de ferroressonância.

Fig. 2.27 Corrente no enrolamento primário do TPI sem o TPC sem supressor de ferroressonância.
32
Chagas – DEE/UFCG

Na Fig. 2.28 e na Fig. 2.29 são mostradas as mesmas ondas considerando agora o TPC com o
circuito supressor de ferroressonância.

Fig. 2.28. Tensão de saída do TPC com supressor de ferroressonância.

Fig. 2.29. Corrente no enrolamento primário do TPI com o TPC com supressor de ferroressonância.

Os resultados apresentados indicam que o circuito supressor de ferroressonância exerce


pouca influência na redução dos valores máximos atingidos pela corrente e pela tensão durante
o regime transitório. Porém, o mesmo mostra-se eficiente na redução desses valores durante o
regime permanente, de modo a permitir que esse regime seja alcançado de forma mais rápida.
33
Chagas – DEE/UFCG

4. Oscilações de Tensão no Secundário de TPCs

4.1. Considerações Gerais


Os transformadores de potencial capacitivos podem proporcionar erros de transformação
significativos durante os primeiros instantes de incidência de um curto-circuito fase-terra em
local próximo. Isto faz com que haja uma queda abrupta da tensão primária, ocorrendo
oscilação ou decaimento unidirecional na tensão secundária em face de transferências de
energia entre capacitâncias e indutâncias. Tal efeito é ilustrado na Fig. 2.30.

Fig. 2.30. Diferentes tipos de respostas de um TPC para um curto-circuito no primário [15].

Resultados de medições em laboratório e de simulações em computador estabelecem os


principais fatores que determinam a resposta transitória dos TPCs, citados a seguir [15].
▪ Valor instantâneo da tensão primária no instante de ocorrência do defeito. Em geral, a
condição mais adversa ocorre quando a tensão assume valor zero.
▪ Módulo da impedância da carga ligada ao secundário. Normalmente, as situações mais
favoráveis ocorrem para valores superiores ao valor nominal.
▪ Fator de potência da carga no secundário. À medida que o mesmo diminui (indutivo ou
capacitivo), as situações se tornam mais adversas, com oscilações de baixas frequências.
▪ Projeto do divisor de potencial capacitivo. Altas capacitâncias produzem transitórios que
apresentam menores valores de pico e maiores durações.
▪ Projeto do TPI. Relações de transformação elevadas produzem transitórios com menores
valores de pico e maiores durações, devendo o TPI apresentar baixa corrente de excitação
no sentido de serem evitadas oscilações de baixas frequências.
▪ Projeto do reator de compensação, o qual deve apresentar baixo fator de qualidade para
produzir amortecimento das possíveis oscilações. Porém, tal característica entra em conflito
com a necessidade de menor resistência em série para obtenção de maior grau de precisão
nas aplicações em regime normal de funcionamento.
▪ Tipo de circuito supressor de ferroressonância utilizado.
34
Chagas – DEE/UFCG

Os comportamentos ilustrados na Fig. 2.30 podem afetar de modo adverso o desempenho


do sistema de proteção da rede elétrica. Estudos realizados comprovam que erros de amplitude
e fase apresentados pela tensão secundária dos TPCs causam erros de precisão nos cálculos dos
fasores, podendo proporcionar operações malsucedidas por parte dos dispositivos de proteção
e controle [16]. Entretanto, a forma como isto se verifica é bastante variada, devido à
diversidade dos TPCs e tipos de relés existentes.

4.2. Modelos de TPC Considerados

O circuito da Fig. 2.31 foi considerado na simulação do comportamento de um TPC ligado a


uma linha de 230 kV, na qual ocorre um curto-circuito fase-terra no primário, em um ponto
próximo. Inicialmente, a fonte fornece uma tensão u = 187794,2 sen (377t) durante 12 ciclos
(S1 fechada e S2 aberta). Inicialmente, não são considerados o protetor de surtos e o supressor
de ferroressonância.

Fig. 2.31. Circuito equivalente simplificado de um TPC para simulação com o ATP.

4.3. Simulações Utilizando o ATP

Considera-se o No instante de incidência do defeito, faz-se a tensão na entrada cair para


zero (S1 aberta e S2 fechada, com k = 0). A seguir, é calculada a tensão nos terminais da carga,
considerando-se os seguintes casos:

▪ carga de 400 VA, cos  = 1; início da falta no zero da tensão primária (Fig. 2.32);
▪ carga de 400 VA, cos  = 1; início da falta no pico da tensão primária (Fig. 2.33);
▪ carga de 400 VA, cos  = 0 (indutiva); início da falta no zero da tensão primária (Fig. 2.34).

No intervalo de tempo compreendido entre a energização do TPC e a ocorrência da falta,


observa-se um comportamento transitório, sendo o estado estacionário atingido após alguns
ciclos.

35
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 2.32. Carga: 400 VA, cos  = 1; início da falta no zero da tensão primária.

Fig. 2.33. Carga de 400 VA; cos  = 1; início da falta no pico da tensão primária.

Fig. 2.34. Carga de 400 VA; cos  = 0 (indutiva); início da falta no zero da tensão primária.

36
Chagas – DEE/UFCG

Logo após a ocorrência do defeito, os valores máximos alcançados pelas tensões no


secundário do TPC, indicadas na Fig. 2.32, Fig. 2.33 e Fig. 2.34 são, respectivamente, 16,64 V,
1,28 V e 36,19 V.
Em seguida, o circuito supressor de ferroressonância é inserido no lado do secundário do
TPI, como é mostrado na Fig. 2.35. Os parâmetros do mesmo são fornecidos na Tabela 2.4.

Fig. 2.35. Circuito de um TPC com supressor de ferroressonância para simulação com o ATP.

Tabela 2.4. Parâmetros do supressor de ferroressonância [14].

PARÂMETRO VALOR
L3 10,87 mH
L4 47,39 mH
C5 166,39 F
Mf 8,84 mH
R4 4,99 

Para o circuito da Fig. 2.35, foram realizadas simulações correspondentes às três situações
descritas. As tensões nos terminais da carga são mostradas na Fig. 2.36, Fig. 2.37 e Fig. 2.38.

Fig. 2.36. Carga: 400 VA, cos  = 1; início da falta no zero da tensão primária.

37
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 2.37. Carga de 400 VA; cos  = 1; início da falta no pico da tensão primária.

Fig. 2.38. Carga de 400 VA; cos  = 0 (indutiva); início da falta no zero da tensão primária.

No processo de estimação de fasores realizado pelos relés digitais, a distorção na tensão de


saída reduz a componente fundamental. Assim, o valor da impedância medida pela primeira
zona do relé de distância é menor que o valor real, ocorrendo sobrealcance, ou seja, o relé gera
um sinal de disparo indevido para o disjuntor [17], [18].

4.4. Modelo Matemático de TPC para Cálculo de Transitórios

Os programas tipo EMTP constituem valiosas ferramentas para o cálculo computacional de


transitórios em sistemas elétricos. Entretanto, há aplicações em que é indispensável o
desenvolvimento de um modelo específico para o sistema que se deseja estudar. Como
exemplo, podem-se citar as aplicações em tempo real onde são utilizados RTDS (Real Time
38
Chagas – DEE/UFCG

Digital Simulator). No caso do TPC, considera-se o circuito elétrico equivalente mostrado na Fig.
2.39, o qual difere do mostrado na Fig. 2.35 pelo fato de que todos os elementos acham-se
representados no lado do primário. Além disso, o circuito supressor de ferroressonância não é
considerado. Outra simplificação assumida consiste em tomar o equivalente de Thévenin do
lado da fonte, visto dos terminais a-b.

Fig. 2.39. Circuito equivalente de um TPC sem supressor de ferroressonância.

Aplicando a lei de Kichhoff das malhas, tem-se:


d
uc  R1 (i1  i2 )  L1 (i1  i2 )  uc 4  uT  0 (2.15)
dt
duc
i1  C (2.16)
dt
duc4
i1  i3  C4 (2.17)
dt
d
R1 (i2  i1 )  L1 (i2  i1 )  uc 3  0 (2.18)
dt
duc3
i2  C3 (2.19)
dt
di3 d
R2 i3  L2   uc 4  0 (2.20)
dt dt
d
 R3 (i4  i3 )  0 (2.21)
dt
d di
 R i5  L 5  0 (2.22)
dt dt

i4  i5  f    0 (2.23)

Considerando um degrau de tempo h, essas equações são discretizadas e rearranjadas,


chegando-se ao seguinte sistema de equações:

39
Chagas – DEE/UFCG

i1,k  i1,k 1 i2,k  i2,k 1


R1 i1,k  R1 i2,k  L1  L1  uc ,k  uc 4,k  uT ,k  0 (2.24)
h h
uc ,k  uc ,k 1
i1,k  C 0 (2.25)
h
uc 4,k  uc 4,k 1
i1,k  i3,k  C4 0 (2.26)
h
i1,k  i1,k 1 i2,k  i2,k 1
R1 i1,k  R1 i2,k  L1  L1  uc 3,k  0 (2.27)
h h
uc 3,k  uc 3,k 1
i2,k  C3 0 (2.28)
h
i3,k  i3,k 1    k 1
R2 i3,k  L2  u c 4 ,k  k 0 (2.29)
h h
 k   k 1
R3 i3,k  R3 i4,k  0 (2.30)
h
i5,k  i5,k 1  k   k 1
R i5,k  L  0 (2.31)
h h
i4,k  i5,k  f  k   0 (2.32)

A função f de (2.32) descreve a curva de saturação do TPI, a qual tem seus pontos fornecidos
na Tabela 2.2. Esse sistema não linear pode ser resolvido pelo método de Newton-Raphson,
considerando-se um degrau de tempo h = 1 s.
Na Fig. 2.40 é mostrado o supressor de ferroressonância incorporado ao TPC.

Fig. 2.40. Circuito equivalente de um TPC com supressor de ferroressonância.

Aplicando a lei de Kichhoff das malhas, tem-se as seguintes equações:


d
uc  R1 (i1  i2 )  L1 (i1  i2 )  uc 4  uT  0 (2.33)
dt
40
Chagas – DEE/UFCG

duc
i1  C (2.34)
dt
duc4
i1  i3  C4 (2.35)
dt
d
R1 (i2  i1 )  L1 (i2  i1 )  uc 3  0 (2.36)
dt
duc3
i2  C3 (2.37)
dt
di3 d
R2i3  L2   uc 4  0 (2.38)
dt dt
d
 R3 (i4  i3 )  0 (2.39)
dt
d d d
uc 5  L3 (i5  i6 )  M f (i5  i7 )  R4 (i5  i7 )  0 (2.40)
dt dt dt
duc5
i5  i6  C5 (2.41)
dt
d d
L4 (i6  i7 )  L3 (i6  i5 )  uc 5  0 (2.42)
dt dt
d d di
R4 (i7  i5 )  M f (i7  i5 )  L4 (i7  i6 )  R i7  L 7  0 (2.43)
dt dt dt
i4  i5  f    0 (2.44)

Como no caso anterior, essas equações são discretizadas e rearranjadas, obtendo-se o


seguinte sistema:

i1,k  i1,k 1 i2,k  i2,k 1


R1 i1,k  R1 i2,k  L1  L1  uc ,k  uc 4,k  uT ,k  0 (2.45)
h h
uc ,k  uc ,k 1
i1,k  C 0 (2.46)
h
uc 4,k  uc 4,k 1
i1,k  i3,k  C4 0 (2.47)
h
i1,k  i1,k 1 i i
R1 i1,k  R1 i2,k  L1  L1 2,k 2,k 1  uc 3,k  0 (2.48)
h h
uc 3,k  uc 3,k 1
i2,k  C3 0 (2.49)
h
i3,k  i3,k 1  k   k 1
R2 i3,k  L2  uc 4 ,k  0 (2.50)
h h
 k   k 1
R3 i3,k  R3 i4,k  0 (2.51)
h
41
Chagas – DEE/UFCG

i5,k  i5,k 1 i6,k  i6,k 1 i7,k  i7,k 1


R4 i5,k  R4 i7,k  ( L3  M f )  L3 Mf
h h h (2.52)
 k   k 1
  u c 5,k  0
h
uc 5,k  uc 5,k 1
i5,k  i6,k  C5 0 (2.53)
h
i5,k  i5,k 1 i6,k  i6,k 1 i7 ,k  i7 ,k 1
L3  ( L3  L4 )  L4  u c 5,k  0 (2.54)
h h h
i5,k  i5,k 1 i6,k  i6,k 1 i7,k  i7 ,k 1
R4 i5,k  ( R  R4 ) i7,k  M f  L4  ( L  L4  M f ) 0 (2.55)
h h h
i4 ,k  i5,k  f  k   0 (2.56)

Esse sistema também pode ser resolvido pelo método de Newton-Raphson [7],
considerando-se um degrau de tempo h = 1 s.

4.5. Simulações Utilizando o Modelo Matemático de TPC

Nas simulações realizadas, considera-se um curto-circuito fase-terra no lado do primário do


TPC no qual se acha incorporado o circuito supressor de ferroressonância (Fig. 2.40), nas
mesmas condições estipuladas no item 4.3, o qual ocasiona uma queda de tensão abrupta na
linha de transmissão.
Nos casos analisados, também se considera igual a zero a tensão durante a ocorrência do
defeito. Os resultados são mostrados na Fig. 2.41, Fig. 2.42 e Fig. 2.43.
Os valores de pico das oscilações ocorridas após a falta no lado do secundário do TPC são
mostrados na Tabela 2.5, os quais são comparados com os obtidos mediante utilização do
programa ATP. Pode-se observar que há excelente concordância entre os valores
correspondentes obtidos pelos dois métodos.

42
Chagas – DEE/UFCG
200.00

100.00

Tensão ( V )

0.00

-100.00

-200.00

0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50


Tempo ( s )

Fig. 2.41. Carga: 400 VA, cos  = 1; início da falta no zero da tensão primária.

200.00

100.00
Tensão ( V )

0.00

-100.00

-200.00

0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50


Tempo ( s )
Fig. 2.42. Carga de 400 VA; cos  = 1; início da falta no pico da tensão primária.

43
Chagas – DEE/UFCG

200.00

100.00

0.00
Tensão ( V )

-100.00

-200.00

-300.00

0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50


Tempo ( s )
Fig. 2.43. Carga de 400 VA; cos  = 0 (indutiva); início da falta no zero da tensão primária.

Bibliografia

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Chagas – DEE/UFCG

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estudos de transitórios eletromagnéticos, Tese de Doutorado em Engenharia Elétrica,
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the impacts of ccvt subsidence transients on the distance relay, IEEE Transactions on
Power Delivery, 27(2): 497-505.

45
Chagas – DEE/UFCG

Capítulo III

Transformadores de Corrente – Aspectos Básicos

Apresenta-se uma descrição das características dos transformadores de corrente (TCs)


destinados aos serviços de medição e de proteção de sistemas elétricos, considerando o
funcionamento em regime permanente senoidal. Também são feitas considerações acerca da
especificação desses equipamentos.

1. Considerações Gerais

Transformadores de corrente (TCs) são transformadores projetados e construídos


especificamente para alimentar instrumentos de medição, proteção e controle em redes de
energia elétrica. Eles têm por finalidade reduzir a corrente do sistema de potência a um valor
adequado, de modo que haja uma relação fixa entre os valores instantâneos correspondentes
das ondas de corrente de saída e de entrada, com diferenças de fase mínimas possíveis entre si.
Também objetivam promover isolação elétrica entre os instrumentos e o sistema primário.
A forma construtiva e o modo de ligação de um TC são mostrados na Fig. 3.1.

Fig. 3.1. Transformador de corrente e modo de ligação.

Normalmente, o núcleo tem forma de toróide, constituído por uma fita de liga ferro-silício
(3,2% Si) de grãos orientados helicoidalmente enrolada. Em torno do núcleo há dois
enrolamentos. O enrolamento primário de N1 espiras é ligado em série ao sistema de potência
e o enrolamento secundário de N2 espiras alimenta um instrumento (relé ou medidor).
Para o circuito magnético da Fig. 3.1, tem-se:

 H.dl  N i  N i
1 1 2 2 (3.1)

O vetor H é o campo magnético e dl é o vetor elemento de comprimento ao longo da


trajetória magnética. Se a permeabilidade do núcleo é alta, tem-se H  0; assim, tem-se:
46
Chagas – DEE/UFCG

N1 I1  N2 I2 0 (3.2)

I1 N2
 (3.3)
I 2 N1
Normalmente, o TC destina-se a reduzir corrente; logo, N1  N2.
A norma NBR 6856 – ABNT / 1992 [1] estipula o valor 5A para a corrente secundária nomi-
nal. Alguns fabricantes também produzem TCs com correntes secundárias nominais de 1 A.

2. Aspectos Construtivos

2.1. TCs de Baixa Tensão

No TC da Fig. 3.2, o primário consiste em uma só espira constituída por uma barra montada
através do núcleo magnético toroidal. A Fig. 3.3 ilustra o TC do tipo janela, no qual há uma
abertura por onde passa uma ou mais espiras do condutor primário. Em ambos os tipos, o
enrolamento secundário e o núcleo acham-se contidos em uma cápsula normalmente
constituída de epóxi.

Fig. 3.2. TC tipo barra; constituição básica e aspecto externo.

Fig. 3.3. TC tipo janela; constituição básica e aspecto externo.

O TC tipo núcleo dividido é mostrado na Fig. 3.4, onde o núcleo pode ser aberto, envolvendo
o condutor no qual se deseja medir a corrente. É bastante usado em instrumentos de medição
de corrente e de potência.
47
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 3.4. TC de núcleo dividido e utilização em instrumentos de medição.

2.2. TCs de Média e de Alta Tensão

Os TCs mostrados a seguir têm larga aplicação nas subestações de energia elétrica. A Fig. 3.5
ilustra um tipo muito usado, denominado TC tipo bucha, semelhante ao TC tipo janela (bucha é
um elemento isolante destinado a permitir a passagem de um circuito de um ambiente para
outro). Neste caso, o núcleo e os enrolamentos são montados na bucha de um transformador
ou disjuntor, sendo o enrolamento primário constituído por uma única espira, que consiste no
próprio condutor da linha. É fácil ver que tal característica construtiva proporciona economia.
A Fig. 3.6 ilustra outra diferente forma de TC, destinado à utilização em tensões mais
elevadas.

Fig. 3.5. TC tipo bucha. Fig. 3.6. TC usado em sistemas de alta tensão.

48
Chagas – DEE/UFCG

2.3. TCs de Múltiplas Relações de Transformação

Há TCs que possuem mais de uma relação de transformação, como é mostrado na Fig. 3.7.
Em (a), os enrolamentos primários podem ser ligados assim: P1–P2; P3–P4; P1–P2 em série
com P3–P4; P1–P2 em paralelo com P3–P4. Em (b) e (c), onde há derivações no secundário,
apenas uma delas deve ser usada, ficando as outras em aberto para não haver alterações no
valor da corrente secundária. Em (d) também podem ser feitas diferentes formas de ligação no
secundário. O enrolamento não utilizado deve ficar em aberto.

(a) (b)

(c) (d)

Fig. 3.7. TCs de múltiplas relações de transformação.

2.4. TCs de Vários Núcleos

Um TC pode possuir vários enrolamentos secundários montados isoladamente em seu


próprio núcleo, como é o caso de alguns TCs usados em alta tensão. A Fig. 3.8 ilustra o caso em
que há dois núcleos, um destinado ao serviço de medição e o outro a proteção. Estes núcleos
apresentam características magnéticas distintas. Caso um dos enrolamentos não esteja sendo
utilizado, o mesmo deve permanecer em curto-circuito.

Fig. 3.8. TC de vários núcleos.

49
Chagas – DEE/UFCG

3. TCs de Medição

3.1. Definições Básicas

Define-se relação real, KN, como sendo a relação entre os valores nominais I1N e I2N das
correntes primária e secundária, respectivamente, as quais são indicadas na placa de dados do
TC. É comumente denominada relação de transformação. Diferentemente do caso ideal, esta
relação não corresponde exatamente à relação de espiras. Porém, elas se acham muito
próximas; assim, tem-se:
I1 N N 2
KN   (3.4)
I 2 N N1

Relação real, KR, é definida por:


I1
KR  (3.5)
I2

As correntes I1 e I2 são os valores reais correspondentes no primário e no secundário.


Fator de correção de relação é o fator pelo qual se deve multiplicar a relação nominal do TC
para que seja obtida a relação real KR, ou seja:
KR
FCRC  (3.6)
KN

3.2. Circuito Equivalente e Diagrama Fasorial

O circuito equivalente de um TC para análise em baixas frequências é mostrado na Fig. 3.9.


Todos os elementos são referidos ao secundário.

Fig. 3.9. Circuito elétrico equivalente de um TC.

R1 ’ – Resistência do enrolamento primário.


X1 ’ – Reatância de dispersão do enrolamento primário.
R2 – Resistência do enrolamento secundário.
X2 – Reatância de dispersão do enrolamento secundário.

50
Chagas – DEE/UFCG

Rp – Resistência de perdas no núcleo.


Xm – Reatância de magnetização do núcleo.
Rc – Resistência da carga ligada ao secundário.
Xc – Reatância da carga ligada ao secundário.
A corrente que circula através da carga é:
I1
I 2  I1'  I e   Ie (3.7)
KN
A diferença entre os fasores I2 e I1’ constitui os erros de relação e de fase do TC. O diagrama
fasorial do TC é mostrado na Fig. 3.10, a partir do qual são deduzidas expressões para os erros.

Fig. 3.10. Diagrama fasorial simplificado de um TC.

3.3. Erros e Classes de Exatidão

Para os TCs destinados a aplicações em medição, o erro de relação percentual é dado por:
K N I 2  I1 I I /K
 %  100  100 2 1 N (3.8)
I1 I1 / K N
Pode-se ainda escrever para o erro relativo do módulo da corrente:
I 2  I1'
 % 100 (3.9)
I1'

No diagrama da Fig. 3.10,  é normalmente pequeno, o que permite assumir I1’ como sua
projeção sobre a reta colinear a I2. Como I2 << I2, pode-se fazer I1’ ≈ I2 em (8.11); assim:
I 2 I I
 %  100 '
 100 2 100 e cose  2  (3.10)
I1 I2 I2
Pode-se relacionar o erro de relação e o fator de correção de relação da seguinte maneira:
 I  K   1   1  FCRC 
 %  100  K N 2  1  100  N  1  100   1  1 00   (3.11)
 I1   KR   FCRC   FCRC 
Assumindo FCRC ≈ 1 e considerando o mesmo em termos de percentagem, resulta:
51
Chagas – DEE/UFCG

 %  100  FCRC % (3.12)

Do diagrama da Fig. 3.10, tem-se ainda:


I e sen  e   2 
sen   (3.13)
I 1'

Como  é pequeno,  ≈ sin  e, assim, o erro de fase da corrente é dado por:


Ie
 sen  e   2  (3.14)
I2
Define-se classe de exatidão de um TC como sendo o máximo erro de relação apresentado
quando o TC opera em condições prescritas de uso.
A norma NBR 6856 – ABNT / 1992 [1] estabelece que um TC de medição acha-se dentro de
sua classe de exatidão nominal quando os pontos determinados por % (ou FCRC%) e  estão no
interior dos paralelogramos indicados na Fig. 3.11, Fig. 3.12 e Fig. 3.13.
A seguir, são estabelecidas finalidades para as respectivas classes de exatidão usuais de
transformadores de corrente destinados ao serviço de medição:
▪ alimentação de medidores de demanda e consumo ativo e reativo para faturamento 0,3;
▪ alimentação de medidores para acompanhamento de custos industriais: 0,6;
▪ alimentação de amperímetros e registradores gráficos: 1,2;
▪ alimentação de instrumentos de painel, exceto medidores de potência e energia: 3 (neste
caso, o erro de fase não é considerado).

Fig. 3.11. Paralelogramos de exatidão de TCs de medição; classe 0,3.

52
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 3.12. Paralelogramos de exatidão de TCs de medição; classe 0,6.

Fig. 3.13. Paralelogramos de exatidão de TCs de medição; classe 1,2.

3.4. Influência dos Erros de Fase de TCs em Medição de Potência

O desenvolvimento a seguir mostra um fato importante: mesmo em condições senoidais, o


erro de fase do TC pode exercer influência drástica no erro de medição de potência ativa em
cargas de elevada composição indutiva [2].
Considera-se a potência em um circuito elétrico dada por:
P  U I1 cos  (3.15)

53
Chagas – DEE/UFCG

O ângulo θ corresponde à defasagem angular entre os fasores U e I1. Sendo  o erro de fase
introduzido pelo TC, a potência elétrica medida é:
N2
PM  U I 2 cos    (3.16)
N1

Levando em consideração as definições de relação nominal, relação real e fator de correção


de relação, feitas no item 2, e combinando as expressões (3.4), (3.5), (3.6) e (3.17), resulta:
U I1
PM  cos    (3.17)
FCRC

O erro percentual cometido na medição da potência é dado por:


cos (   )
 cos 
PM  P FCR C
 P %  100  100 (3.18)
P cos 

Na prática,  é pequeno, sendo cos  ≈ 1 e sen  ≈ ; além disto, FCRC ≈ 1; assim, resulta:

 P %   100 tan  (3.19)

A Fig. 3.14 ilustra a variação do erro percentual εP% em função de θ para diferentes valores
de . Pode-se ver que o erro de fase dos TCs pode exercer acentuada influência no processo de
medição de potência elétrica. Para cargas indutivas com θ > 80°, os erros cometidos na
medição de potência tornam-se muito elevados quando  > 10’.

1000.00

100.00
Erro Percentual, P ( % )

= 100'
10.00

= 10'
1.00

 = 1'
0.10

0.01

60.00 70.00 80.00 90.00


Ângulo de Fase,  ( ° )
Fig. 3.14. Erro de medição da potência ativa em função do ângulo de fase θ.

54
Chagas – DEE/UFCG

3.5. Considerações Adicionais

As expressões (3.10) e (3.14) indicam que os erros de relação e de fase dos TCs são causados
pela corrente de excitação Ie, a qual depende das características do núcleo magnético. Quanto
maior for a permeabilidade magnética e a resistividade elétrica do núcleo, menor serão Ie e os
erros. A redução da espessura da laminação também contribui para reduzir os erros.
Existe uma família de ligas metálicas à base de níquel que são adequadas ao emprego
núcleos de TCs de medição de elevado graus de exatidão. Essas ligas recebem o nome genérico
de Permalloy, tendo sido criadas em 1914 e posteriormente aperfeiçoadas ao longo do tempo.
São compostas por 70%-90% de níquel e o restante ferro, podendo conter pequenos teores de
outros elementos como cobre, cromo, molibdênio e magnésio. Elas recebem tratamento
térmico especial para que adquira suas propriedades magnéticas desejadas. Sua principal
propriedade é uma permeabilidade magnética relativa (µ/µ0) elevada, que pode atingir 100000.
Uma dessas ligas denomina-se Mu-metal ou Mumetal, a qual é composta por 76% de níquel,
17% de ferro, 5% de cobre e 2% de cromo ou magnésio. Supermalloy é uma liga composta por
79% de níquel, 17% de ferro e 5% de molibdênio. Outras propriedades favoráveis dessas ligas
são a baixa força coerciva (laço de histerese estreito, baixas perdas histeréticas) e elevada
resistividade elétrica (baixas perdas por correntes parasitas). Uma desvantagem são as baixas
induções de saturação (0,6 – 0,8 T) e o alto custo, se comparadas com as ligas ferro-silício de
grãos orientados (GO) empregadas nos TCs de proteção (1,85 T).
No final da década de 1980 foram desenvolvidas ligas nanocristalinas na forma de fitas, as
quais foram obtidas a partir de materiais amorfos, efetuando-se um processo destinado a
favorecer a formação de grãos nanométricos durante o processo de fabricação. A composição
das mesmas é muito variada, tanto em termos dos tipos de elementos químicos como em
relação aos percentuais dos mesmos. A primeira liga nanocristalina foi obtida por Y. Yoshizawa
[3], cuja composição é Fe73,5Si13,5B9Nb3Cu1. A mesma recebeu o nome comercial FINEMET®.
As ligas nanocristalinas apresentam características favoráveis, como baixas forças coercivas
(0,6 a 2,5 A/m), elevados valores de permeabilidade magnética relativa (até 200000) e baixas
remanências (alguns tipos). Até há pouco tempo, elas apresentam valores de indução de
saturação magnética entre 1,2 e 1,35 T, ainda bastante menores que os das ligas Fe-Si tipo GO.
No entanto, essa limitação começa a ser superada com o desenvolvimento de novas ligas com
valores de BS superiores a 1,8 T [4]. Recentemente, essas ligas têm sido empregadas de modo
crescente em TCs de medição de alto grau de exatidão.

55
Chagas – DEE/UFCG

4. TCs de Proteção

4.1. Erro e Classes de Exatidão

O erro de fase não é considerado nos TCs de proteção. Considerando a Fig. 3.9 e a Fig. 3.10,
a NBR 6856 – ABNT / 1992 [1] determina que o erro de relação percentual seja calculado pela
seguinte expressão:
Ie
% 100 (3.20)
I2
A referida norma estabelece as classes de exatidão 5 e 10 para os TCs de proteção.
Considera-se que um TC se acha dentro de sua classe de exatidão quando o erro dado por
(3.20) não excede o valor especificado para valores de corrente de até 20 vezes I2N (corrente
secundária nominal), para a carga igual ou inferior à nominal ligada nos terminais do
enrolamento secundário. O fator 20, denominado fator de sobrecorrente nominal, é devido ao
fato de que, nas aplicações relacionadas à proteção, o TC deve apresentar desempenho
satisfatório para correntes de curto-circuito, as quais são normalmente muito superiores à
corrente nominal do sistema. Os valores 5 e 10 (bastante superiores às classes de exatidão dos
TCs de medição) devem-se aos erros cometidos no cálculo das correntes de curto-circuito.
Assim, em caso de curto-circuito no sistema primário, conclui-se que, para haver reprodução
fiel no secundário dos altos valores de corrente, os TCs de proteção devem operar dentro da
região não saturada, onde as permeabilidades magnéticas do núcleo são mais elevadas. Para
isto, os mesmos devem ser fabricados com núcleo de liga Fe-Si de grãos orientados (GO), em
que as induções de ponto de joelho da curva de saturação, BK, variam no entorno de 1,5 T,
conforme é mostrado na Fig. 3.15.
Além disso, em situação normal de funcionamento, quando circula uma corrente próxima à
nominal no enrolamento primário, o TC de proteção deve ser projetado para apresentar um
valor de indução de pico muito baixa no núcleo (Bm < 0,1 T). Ou seja, para evitar saturação, é
necessário escolher um material de alto valor de indução no ponto de joelho da curva de
saturação, BK, além de projetar o TC de modo que BK >> Bm, considerando a pior condição
possível de curto-circuito, de modo que o valor de BK não seja atingido durante a ocorrência do
defeito.
Também na Fig. 3.15 acha-se mostrada a curva de saturação de um TC de medição, com
núcleo de liga Fe-Ni. Esse tipo de TC apresenta boa linearidade, elevada permeabilidade e
baixas perdas magnéticas. Como foi anteriormente afirmado, tais propriedades são necessárias
56
Chagas – DEE/UFCG

para que sejam obtidas as classes de exatidão requeridas no serviço de medição, as quais
implicam em baixos valores para a corrente de excitação Ie e para os erros de relação e de fase.
Além disso, a indução no ponto de joelho da curva de saturação varia na faixa de 0,4 T a 0,5 T,
conforme é mostrado na Fig. 3.15. Tal valor é significativamente menor que a indução de ponto
de joelho de um TC de proteção (1,5 T), pois o TC de medição tem os seus requisitos de
exatidão especificados para valores de corrente próximos à corrente nominal do sistema
primário.

Fig. 3.15. Características das ligas Fe-Ni e Fe-Si GO.

Deve-se observar que TCs de proteção nunca devem ser usados em aplicações de medição,
pois não apresentam as classes de exatidão requerida. As classes de exatidão estipuladas para
os mesmos são 5 e 10, quando são requeridos os valores de 0,3, 0,6, 1,2 e 3 nas aplicações de
medição.
Em contrapartida, os TCs de medição não devem ser empregados no serviço de proteção,
pois saturaram com menores valores de corrente primária. Isto pode ser entendido através de
análise da Fig. 3.16. No ponto A, a corrente primária corresponde a correntes praticamente
idênticas nos enrolamentos secundários dos dois TCs. Porém, quando a mesma está situada na
faixa compreendida entre 4 I1N e 20 I1N, os erros tornam-se muito altos e as correntes
secundárias correspondentes aos pontos B e C assumem valores muito diferentes (IB << IC). Tal
fato influi de modo drástico no desempenho dos relés de proteção, pois o TC passa a não
refletir de modo proporcional a corrente primária para o lado do secundário.

57
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 3.16. Comparação entre um TC de proteção e um TC de medição.

Para a determinação do erro dos TCs, os fabricantes fornecem a característica de magnetiza-


ção em termos das curvas que relacionam a tensão de excitação secundária, Ue, com a corrente
de excitação, Ie, em valores eficazes, as quais são chamadas curvas de excitação secundária,
normalmente traçadas em escalas logarítmicas, como é indicado na Fig. 3.17. Estas curvas são
levantadas por ensaio em laboratório através da montagem mostrada na Fig. 3.18. Os valores
de Ue e Ie (RMS) são obtidos no secundário, com o primário em vazio, através dos medidores de
valor RMS verdadeiro (true RMS) indicados, para diferentes valores da tensão da fonte.

Corrente de Excitação, Ie ( A )
Fig. 3.17. Curvas de excitação secundária de TCs [5].
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Fig. 3.18. Determinação da curva de excitação secundária.

Para o cálculo de %, considera-se o circuito da Fig. 3.9 e a curva de excitação secundária da
Fig. 3.17. Para determinados valores da corrente e da impedância no enrolamento secundário,
é efetuado o seguinte procedimento:
▪ Calcula-se a tensão Ue multiplicando-se a corrente I2 pela impedância total do secundário.
▪ Através dos valores de Ue, determinam-se os valores correspondentes de Ie na curva de
excitação secundária.
▪ Calculam-se os erros pela expressão (3.20).
O erro máximo admissível % deve ser calculado para a corrente secundária igual a vinte
vezes o seu valor nominal (I2 = 20 I2N ).

4.2. Tensão de Ponto de Joelho e Tensão de Saturação

A seguir, considera-se a Fig. 3.19. A norma americana C57.13 - IEEE / 2008 [5] define o ponto
de joelho da curva Ue – Ie como aquele que apresenta uma reta tangente com inclinação de
45°. A norma 60044-1 – IEC / 2003 [6], mais adotada na Europa, define este ponto como aquele
em que um acréscimo de 10% de Ue causa um acréscimo de 50% em Ie. Normalmente, o ponto
de joelho definido pelo IEC situa-se acima do definido pelo IEEE.

Fig. 3.19. Definições de ponto de joelho estabelecidas pelo IEEE e pelo IEC.
59
Chagas – DEE/UFCG

Define-se tensão de saturação, Ux, como a tensão simétrica sobre o enrolamento secundário
do TC a qual é determinada graficamente pela localização da intersecção das porções de reta
da curva de excitação sobre os eixos log-log. Vale frisar que este valor é normalmente superior
à tensão do ponto de joelho da curva de excitação secundária, definidos pelo IEEE e pelo IEC. A
tensão de saturação é indicada na Fig. 3.20.

Fig. 3.20. Definição de tensão de saturação, Ux.

4.3. Característica Fluxo de Enlace – Corrente de Excitação

Embora as características de magnetização dos TCs fornecidas pelos fabricantes sejam dadas
em termos dos valores eficazes Ue e Ie, o cálculo de processos transitórios requer que tais
características sejam expressas em valores de pico do fluxo de enlace no secundário, , e da
corrente de excitação, ie. Há duas formas de se obter essa curva. A primeira é através de
medições em laboratório. A segunda é através do emprego da rotina SATURA, do programa
ATP, a qual converte os valores de Ue e Ie em valores correspondentes de  e ie.

5. Influência da Carga no Secundário de um TC

Na Fig. 3.21 são mostradas as ondas de corrente de excitação, fluxo de enlace e tensão de
excitação secundária em um TC, além da curva de saturação do mesmo.
Considerando a curva de saturação, até o ponto de joelho K (região não saturada), a
indutância diferencial de magnetização apresenta valor aproximadamente constante, Lm ≈
d/die ≈ /ie. As ondas de , ie e ue = d/dt (mostradas de modo tracejado) podem ser assumidas
como senóides. À medida que a impedância da carga aumenta, o núcleo passa a operar na
região de saturação, que é caracterizada por indutâncias diferenciais Lm muito baixas. Isto faz
60
Chagas – DEE/UFCG

com que grande parte da corrente secundária passe a circular por Lm, surgindo elevados picos
de corrente de excitação (ver formas de onda de traço cheio). Assim, o instrumento ligado ao
secundário não será sensibilizado com uma corrente que representa uma reprodução fiel, em
escala reduzida, da corrente primária.

Fig. 3.21. Influência da impedância da carga no funcionamento do TC.

Ademais, são observados os efeitos descritos a seguir.


▪ Aquecimento excessivo do núcleo, causado pelas elevadas perdas magnéticas.
▪ Surgimento de picos de tensão, pois a onda de fluxo apresenta-se muito inclinada no regime
não saturado, resultando em elevados picos de tensão de excitação secundária (ue = d/dt).
Os TCs nunca devem operar com o secundário em vazio. Nestas condições,  tende a
assumir uma forma de onda quadrada de elevado valor de pico (limitado pela saturação do
núcleo), surgindo impulsos de tensão que ocasionam perigo de destruição do isolamento
devido às severas solicitações elétricas e térmicas. Caso esses danos não ocorram, as
características de precisão do TC poderão ser alteradas devido à forte magnetização, pois a
força magnetomotriz imposta ao primário se destina exclusivamente a excitar o núcleo, não
havendo nenhum efeito de oposição no secundário.

61
Chagas – DEE/UFCG

6. Polaridades e Ligações de TCs

Considerando a Fig. 3.22, os pares de terminais do primário e do secundário de mesma


polaridade instantânea são marcados com índices numéricos idênticos (P1, S1 e P2, S2).

Fig. 3.22. Convenção de polaridades para transformadores de corrente.

Um TC tem polaridade subtrativa quando, em determinado instante, a onda de corrente,


percorre o circuito primário P1 para P2 e a onda de corrente no secundário assume a trajetória
de S1 para S2, como na Fig. 3.22 (a). Caso contrário, o TC tem polaridade aditiva, como na Fig.
3.22 (b). Somente sob encomenda eles são fabricados com polaridade aditiva.
Em aplicações didáticas, uma prática usual é indicar os terminais de mesma polaridade com
pontos, como é indicado na Fig. 3.23.

Fig. 3.23. Convenção de polaridades para transformadores de corrente – Regra do ponto.

Em circuitos monofásicos, quando os TCs alimentam instrumentos sensibilizados por uma só


grandeza (amperímetros, relés de sobrecorrente), a marcação das polaridades não é relevante.
Porém, quando os mesmos alimentam instrumentos de múltiplas grandezas de entrada, como
wattímetros, medidores de energia e fasímetros, as marcações devem ser observadas. O
mesmo ocorre em relação a circuitos polifásicos.
A ligação em estrela dos TCs, mostrada na Fig. 3.24, é usada para alimentar relés com as
correntes das fases (relés de fase), como também alimentar um relé instalado na conexão do
neutro aterrado (relé de terra), que é sensibilizado por:
In  Ia  Ib  Ic 3 I0 (3.21)

A corrente I0 é a componente de sequência zero de cada fase. Assim, a conexão em estrela


constitui um filtro de passagem da referida componente.
62
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 3.24. Ligação de TCs em estrela.

Outra montagem que constitui um filtro de corrente de sequência zero é mostrada na Fig.
3.25, na qual é usado um TC tipo janela, por onde passam os três condutores de fase. Este
arranjo é empregado em dispositivos diferenciais residuais, destinados à detecção de correntes
de fuga em circuitos e à proteção contra choques elétricos.

Fig. 3.25. TC tipo janela; ligação com saída proporcional à componente I0.

Na ligação em delta da Fig. 3.26, as correntes de saída são dadas pelas diferenças dos
fasores indicados. Esta ligação constitui um filtro de bloqueio das componentes de zero.

Fig. 3.26. Ligação de TCs em delta.

63
Chagas – DEE/UFCG

7. Especificação de TCs

7.1. Valores Nominais

A norma NBR 6856 – ABNT / 1992 [1] estabelece as características básicas a serem especifi-
cadas para consulta ao fabricante; as principais são:

Corrente primária nominal e relação nominal – Corrente primária nominal é o valor nominal
de corrente no enrolamento primário suportável pelo TC. Os valores padronizados, em
ampéres, são: 5, 10, 15, 20, 25, 30, 40, 50, 60, 75, 100, 125, 150, 200, 250, 300, 400, 500,
600, 800, 1000, 1200, 1500, 2000, 2500, 3000, 4000, 5000, 6000, 8000.
A relação nominal corresponde à relação entre a corrente primária nominal e a corrente
secundária nominal (5 A). Por exemplo, se I1N = 100 A, I2N = 5 A, tem-se a relação 20:1.
As correntes primárias nominais e as relações nominais devem ser representadas em ordem
crescente, do seguinte modo:
▪ o sinal de dois pontos (:) deve ser usado para exprimir relações nominais; exemplo: 120 : 1;
▪ o hífen ( - ) deve ser usado para separar correntes nominais de enrolamentos diferentes;
exemplo: 100-5 A; 100–100 - 5 A (TC com dois enrolamentos primários individuais e um só
secundário); 100-5-5 A (TC com um enrolamento primário e dois secundários);
▪ o sinal ( x ) deve ser usado para separar correntes primárias nominais ou relações nominais
obtidas de um enrolamento cujas bobinas devem ser ligadas em série ou em paralelo;
exemplo: 100 x 200 – 5 A; 20 x 40 : 1;
▪ a barra ( / ) deve ser usada para separar correntes primárias nominais ou relações nominais
obtidas por meio de derivações, sejam estas no enrolamento primário ou no secundário;
exemplo: 150 / 200 – 5 A; 30 / 40 : 1.
Carga nominal – Como é mostrado na Tabela 3.1, a carga nominal é designada pela letra C
seguida do maior valor de potência aparente que pode ser fornecida pelo enrolamento
secundário, sem que o TC saia de sua classe de exatidão.

Tabela 3.1. Cargas nominais de TCs


CARGA RESISTÊNCIA INDUTÂNCIA POTÊNCIA FATOR DE IMPEDÂNCIA
() ( mH ) ( VA ) POTÊNCIA ()
C 2,5 0,09 0,116 2,5 0,90 0,1
C 5,0 0,18 0,232 5,0 0,90 0,2
C 12,5 0,45 0,580 12,5 0,90 0,5
C 25 0,50 2,3 25 0,50 1,0
C 50 1,0 4,6 50 0,50 2,0
C 100 2,0 9,2 100 0,50 4,0
C 200 4,0 18,4 200 0,50 8,0
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Chagas – DEE/UFCG

Classe de exatidão – Máximo erro de relação apresentado quando o TC opera em condições


prescritas de uso. TCs de medição: 0,3 – 0,6 – 1,2 – 3; TCs de proteção: 5 – 10.
Fator de sobrecorrente nominal – É o fator que multiplica a corrente primária nominal do TC
de modo a resultar em um valor menor ou igual à corrente eficaz simétrica (sem
componente CC) que possa circular no primário do TC, de modo que este não sature quando
o secundário esteja alimentando a carga nominal. Nos TCs de proteção, é igual a 20; nos TCs
de medição, é igual a 4.
Fator térmico nominal – É o fator pelo qual deve ser multiplicada a corrente primária
nominal para se obter a corrente primária máxima que o TC é capaz de conduzir sem
exceder os limites de elevação de temperatura especificados e sem sair da classe de
exatidão. Tais fatores são: 1,0 – 1,2 – 1,3 – 1,5 - 2,0.
Corrente térmica nominal – É o maior valor eficaz da corrente de curto-circuito simétrico no
primário (I1) que o TC pode suportar por certo tempo (normalmente, 1s), com o secundário
em curto-circuito, sem que sejam excedidos os limites de temperatura.
Corrente dinâmica nominal – É o maior valor de pico da corrente de curto-circuito que o TC
é capaz de suportar durante o primeiro meio ciclo, com o enrolamento secundário em curto-
circuito, sem que haja danos causados pelas forças eletromagnéticas desenvolvidas.
Normalmente, é tomada como sendo 2,5 vezes o valor da corrente térmica nominal.
Magnitude da reatância de dispersão do enrolamento secundário – Classes A e B.
▪ Classe A - TC que apresenta valor apreciável de reatância do enrolamento secundário,
tomando como referência o valor total da impedância do circuito secundário, com carga
igual à carga nominal.
▪ Classe B - TC que apresenta valor desprezível de reatância do enrolamento secundário,
tomando como referência o valor total da impedância do circuito secundário, com carga
igual à carga nominal.
Além desses itens, devem ser informados:

▪ Frequência nominal.
▪ Tensão máxima do equipamento e nível de isolamento.
▪ Valor de crista nominal da corrente suportável.
▪ Tipo de aterramento do sistema.
▪ Número de núcleos para medição e proteção.
▪ Uso interno ou externo.

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Chagas – DEE/UFCG

A corrente térmica nominal e a corrente dinâmica nominal devem ser indicadas apenas para
TCs com tensão máxima igual ou superior a 72,5 kV.

7.2. Indicação de Características de TCs em Placa

No caso de TCs de medição, indica-se a classe de exatidão seguida dos símbolos da menor e
maior cargas nominais com as quais se verifica essa classe de exatidão. Exemplos: 0,3C2,5 a
C12,5 e C0,6C25; 0,6C2,5 e 1,2C5,0 a C22,5.
Nos TCs de proteção é usado o conceito de tensão secundária nominal, que é a tensão
apresentada nos terminais da carga nominal quando por ela passa a corrente nominal
multiplicada pelo fator de sobrecorrente nominal (5 x 20 = 100 A). A Tabela 3.2 mostra as
correspondências entre os valores de potência e de tensão para as condições especificadas.

Tabela 3.2. Valores de potência, impedância e de tensão para cargas nominais de TCs.
CARGA POTÊNCIA IMPEDÂNCIA TENSÃO SECUNDÁRIA
( VA ) () NOMINAL ( V )
C 2,5 2,5 0,1 10
C 5,0 5,0 0,2 20
C 12,5 12,5 0,5 50
C 25 25 1,0 100
C 50 50 2,0 200
C 100 100 4,0 400
C 200 200 8,0 800

Além da tensão de excitação secundária nominal, são informadas a classe de exatidão e a


indicação de magnitude da reatância secundária. Exemplos: 5A200 (TC de proteção, classe de
exatidão 5, tensão secundária nominal 200), ou seja, a carga nominal é de 2 Ω (Tabela 3,2), com
resistência e indutância especificadas na Tabela 3.1; 10B800 (TC de proteção, classe de exatidão
10, tensão secundária nominal 800), ou seja, a carga nominal é de 8 Ω

7.3. Determinação das Relações dos TCs de Proteção

A corrente secundária nominal de um TC normalmente é 5 A (em alguns casos, 1 A). Nos TCs
de proteção, a corrente primária nominal deve ser maior que o maior dos seguintes valores:

▪ 1,5 vezes o valor da corrente de carga máxima dividido pelo fator térmico nominal (1,0; 1,2;
1,3; 1,5; 2,0), de modo a prever expansão de carga;
▪ máximo valor da corrente de curto-circuito no local do TC dividido pelo fator de
sobrecorrente nominal (20), de modo a evitar a saturação em corrente alternada.

No caso dos TCs de medição, adota-se o primeiro critério.

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Chagas – DEE/UFCG

Referências

[1] NBR 6856 – ABNT (1992). Transformadores de Corrente – Especificação.


[2] CATALIOTTI, A., DI CARA, D., EMANUEL A. E., NUCCIO, S. (2008). Influence of Current
Transformers on the Measurement of Harmonic Active Power, 16th IMEKO TC4
Symposium, Sept. 22-2, 2008, Florence, Italy.
[3] YOSHIZAWA, Y.; OGUMA, S. AND YAMAUCHI, K. (1988). New Fe-based soft magnetic
alloys composed of ultrafine grain structure, Journal of Applied Physics, 64:6044-6046.
[4] LUCIANO, B. A.; CASTRO, W. B. (2012). Ligas nanocristalinas: histórico, desenvolvimento e
aplicações eletroeletrônicas, Revista Eletrônica de Materiais e Processos, 7:143–147.
[5] IEEE C57.13 (1993). IEEE standard requirements for instrument transformers.
[6] IEC 60044-1 (1992). Instrument transformers - Part 6: Requirements for protective
current transformers for transient performance.

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Chagas – DEE/UFCG

Capítulo IV

Transformadores de Corrente em Regime Transitório

Neste capítulo é estudado o desempenho de TCs em regime transitório, durante ocorrência


de curtos-circuitos no lado do primário. São discutidos aspectos relacionados a erros durante o
regime transitório, assim como à inserção de entreferros no núcleo magnético. São
apresentadas duas diferentes formas de representação de TCs aplicados no serviço de
proteção, considerando ou não a presença de entreferro no núcleo e o efeito de histerese, o
qual é descrito pelo modelo de Jiles-Atherton [1].

1. TCs de Proteção - Desempenho em Regime Transitório

1.1. Representação do Sistema Primário

É considerada a linha de transmissão monofásica da Fig. 4.1, onde ocorre o curto-circuito


indicado. A fonte fornece uma tensão u(t) = Um sen ( t + ). Para t = 0, tem-se u(0) = Um sen ,
de modo que o ângulo  determina o valor da tensão no instante do curto-circuito, sendo
denominado ângulo de incidência do defeito.

Fig. 4.1. Representação simplificada do sistema primário.

A impedância primária total é:


j
Z1  Z1 e (4.1)

Z1  R12  L1 
2
(4.2)

R1  RS  RL (4.3)

L1  LS  LL (4.4)
 L1 
  tan 1   (4.5)
 R1 
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Chagas – DEE/UFCG

A constante de tempo primária, T1, é dada por:


L1
T1  (4.6)
R1
Assim, pode-se escrever para o circuito:
di1F
L1  R1i1F  U m sen  t   (4.7)
dt
Supondo que o curto-circuito indicado na Fig. 4.1 ocorre em t = 0 e que o valor instantâneo
da corrente pré-falta é i1F ( 0 ) = I0, a solução de (4.7) é dada por [2]:

Um  U 
i1F  sen  t    1    I 0  m sen   1  e  t / T1 (4.8)
Z1  Z1 
A corrente i1F possui duas componentes: uma alternada, senoidal, e outra contínua, com
decaimento exponencial, como é mostrado na Fig. 4.2.

Fig. 4.2. Forma de onda típica de uma corrente de curto-circuito.

A suposição de que  - 1 = -  / 2 em (4.8) representa a situação mais pessimista, pois a


componente contínua de i1F assume o máximo valor. Em linhas de transmissão de alta e extra
alta tensão, o ângulo 1 torna-se mais próximo de 90o à medida que a tensão nominal aumenta.
Assim, conclui-se que a máxima assimetria da corrente de curto-circuito (condição mais
desfavorável de ocorrência do defeito) é quando a onda de tensão u(t) assume valores
próximos de zero.
Para simplificar, faz-se I0 = 0 e  - 1 = -  / 2 em (4.8); assim, resulta:
U m  t / T1
i1F 
Z1
e  cos t  (4.9)

69
Chagas – DEE/UFCG

1.2. Representação Simplificada do TC

Neste modelo são desprezadas as capacitâncias dos enrolamentos, a resistência e a


indutância do enrolamento primário, o efeito de histerese e as perdas dinâmicas no núcleo.
Assim, o circuito elétrico equivalente do TC é mostrado na Fig. 4.3.

(a) (b)

Fig. 4.3.( a ) Transformador de corrente; ( b ) circuito elétrico equivalente simplificado.

Designa-se por R2 a resistência total ligada ao enrolamento secundário; L2 é a indutância


total ligada ao referido enrolamento; Lm é a indutância de magnetização do núcleo.
A curva de saturação, linearizada por partes, é mostrada na Fig. 4.4, na qual é indicado o
ponto de joelho, de coordenadas (K. imK).

Fig. 4.4. Curva de saturação linearizada por partes.

1.3. Desempenho em Regime Não Saturado

Em relação ao circuito da Fig. 4.3 (b) e à curva de saturação da Fig. 4.4, considerando - K ≤ 
≤ K, pode-se escrever para o fluxo de enlace no secundário:
d di
 R 2 i 2  L2 2 (4.10)
dt dt
Sendo H o campo magnético, B a densidade de fluxo,  a permeabilidade magnética, l o
comprimento médio da trajetória magnética e A a área de seção reta do núcleo do TC, tem-se:

70
Chagas – DEE/UFCG

N1 i1F  N 2 i 2  H l (4.11)

B 
H  (4.12)
 N 2 A

Substituindo (4.12) em (4.11):

N1  l 
i2  i1F   2
  (4.13)
N2  N 2 A 
São consideradas ainda as seguintes expressões:
N2
KΝ  (4.14)
N1

Z 2  R22  2 L22 (4.15)

R 
   cos 1  2  (4.16)
 Z2 

 N 22 A
Lm  (4.17)
l
L2  Lm
T2  (4.18)
R2

Uma vez que a indutância de magnetização do núcleo magnético, Lm, é muito maior que a
indutância do lado do secundário, pode-se fazer a seguinte aproximação:
Lm
T2  (4.19)
R2

Anotando por I1F o valor eficaz da componente simétrica da corrente primária de defeito,
após várias aproximações e manipulações algébricas, resulta das expressões anteriores [3]:

2 R2 I1F  T1T2 t / T2 1 

 KN
 
e 
 e t / T1  sen  t     (4.20)
 T2  T1 cos   
A expressão (4.20) descreve a curva indicada com traço cheio na Fig. 4.5, que corresponde à
soma de uma componente alternada senoidal com uma componente contínua transitória,
associadas às componentes senoidal e exponencial de i1F, respectivamente.
Assim, o núcleo do TC pode estar submetido a dois diferentes tipos de sobrefluxo. Os fatores
de influência no caso do sobrefluxo causado pela componente alternada de i1F são: o valor
eficaz desta componente e a impedância da carga ligada ao secundário. No caso da
componente contínua de , além dos fatores citados, as constantes de tempo primária e
secundária (T1, T2), exercem papel fundamental no desempenho do TC em regime transitório.

71
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 4.5. Fluxo de enlace  no núcleo do TC em condição de curto-circuito no primário.

1.4. Desempenho em Regime Saturado

Na Fig. 4.6, considera-se um TC de núcleo saturável com carga resistiva no secundário.

Fig. 4.6. Fluxo de enlace e correntes primária, secundária e de magnetização.

Observa-se que o efeito de saturação no núcleo faz com que o fluxo imposto pela fonte não
cresça muito além do valor K indicado. Na região não saturada (- K ≤  ≤ K), a indutância Lm
é elevada e im é pequena. Porém, em regime de saturação, o valor de Lm cai abruptamente.

72
Chagas – DEE/UFCG

Durante os instantes em que o núcleo satura praticamente toda a corrente i1 passa a circular
através do ramo de magnetização, de modo a ocorrer pronunciadas distorções na forma de
onda da corrente secundária i2. Tal fato pode trazer sérias consequências para o desempenho
dos relés de proteção, como será visto mais adiante.
É mostrada na Fig. 4.7 a forma de onda da corrente secundária para uma carga que
apresenta uma componente indutiva. Verifica-se que quando o núcleo satura, a corrente não
cai abruptamente para zero, como ocorre com a carga puramente resistiva. Isso se deve à
propriedade dos indutores em estabelecer oposição a variações bruscas da corrente.

Fig. 4.7. Distorção da onda de corrente secundária - Carga com componente indutiva.

As induções típicas do ponto de joelho da curva de saturação dos TCs com núcleo de liga
ferro-silício de grãos orientados acham-se no entorno de 1,5 Tesla. Porém, em regime normal,
os TCs de proteção devem operar com pequenas induções no núcleo, muito abaixo do ponto de
joelho (menos de 0,1 T). As normas NBR 6856 – ABNT / 1992 [4] e C57.13 - IEEE / 2008 [5]
estipulam um fator de sobrecorrente igual a 20, permitindo que os TCs operem com correntes
de falta cujos valores eficazes representem até 20 vezes a corrente nominal do enrolamento
primário, sem que haja saturação. Entretanto, esta medida mostra eficácia apenas em relação à
componente senoidal da corrente de defeito.

1.5. Causas de Erros nos TCs de Proteção

Da expressão (4.17), tem-se para a indução B no núcleo do TC:

2 R2 I1F  T1T2 1 
Β 
 K N N 2 A  T2  T1
 
e t / T2  e t / T1 
cos  
sen  t      K [ BCC  BCA ] (4.21)

K.BCC é a parcela de fluxo contínuo (exponencial) e K.BCA é a parcela alternada (senoidal).


Os fatores que exercem influência na saturação de um TC são citados a seguir.
73
Chagas – DEE/UFCG

▪ Valor da corrente de curto-circuito no primário – Da expressão (4.21), quanto maior for o


valor da corrente primária I1F, maior será a indução magnética imposta ao núcleo do TC.
▪ Impedância do circuito secundário - Esta impedância compreende as impedâncias da carga,
fiação e enrolamento secundário. Na expressão (4.21), quanto maior for R2, maior será a
indução magnética no TC, fazendo com que haja saturação mais rápida. Em relação ao fator
de potência da carga, para um mesmo módulo de impedância, quanto maior for a
componente indutiva, mais lentamente o TC satura, uma vez que a indutância proporciona
baixa impedância para componentes contínuas das correntes de falta assimétricas.
▪ Relação de espiras do TC - Quanto maior for a relação de espiras, maior será o produto KN
vezes N2 na expressão (4.21) e menor será a indução no núcleo do TC.
▪ Área de seção reta do núcleo - Quanto maior for A, menor será a indução magnética no
núcleo. Os fabricantes procuram limitar os erros causados pelos efeitos das componentes CA
e CC das correntes de defeito utilizando diferentes técnicas. Uma delas consiste em
aumentar as dimensões dos núcleos, obtendo-se maior valor do fluxo de enlace no ponto de
joelho da curva de saturação (as normas estabelecem um fator de sobrecorrente igual a 20
para os TCs de proteção). Isto pode resolver os problemas provenientes da componente CA
do fluxo. Entretanto, em algumas aplicações, tal medida se mostra ineficiente em relação
aos efeitos causados pela componente CC, pois o TC se torna grande e caro.
▪ Constante de tempo primária – Quanto maior for a constante T1 = L1 / R1 mais assimétrica
será a corrente de defeito, ou seja, mais intensa será a componente contínua com decai-
mento exponencial de i1F. Assim, a componente contínua do fluxo a ela correspondente
causará uma ação mais pronunciada no sentido de levar o núcleo à saturação. A saturação é
mais intensa para TCs próximos de geradores, situação em que T1 pode chegar a 300 ms.
▪ Constante de tempo secundária – Quanto maior for a constante T2 = Lm / R2 maior será o
termo BCC de (4.21) e também a componente contínua da indução no núcleo, K.BCC, como
indicam as curvas da Fig. 4.8. Essas curvas correspondem à seguinte expressão, escrita a
partir de (4.21):
T1T2 t / T2
ΒCC 
T2  T1

e  e t / T1  (4.22)

Na dedução de (4.21), partiu-se da premissa de que o ângulo de incidência da falta, , era


nulo, assim como o fluxo residual (ou remanescente) no TC. Em relação a , o mesmo
determina o grau de assimetria da corrente de defeito. Assim, a saturação no TC será mais
intensa para  = 0o. Quanto ao fluxo residual, a sua influência é discutida no próximo item.
74
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 4.8. Influência da constante de tempo secundária T2 na saturação do TC.

2. Considerações sobre Fluxo Residual em TCs

Considera-se a situação em que o núcleo do TC seja levado ao estado de saturação.


Restabelecida a normalidade, é possível que o TC passe a operar com a indução variando
segundo um laço menor deslocado segundo o eixo B – H, como é mostrado na Fig. 4.9.

Fig. 4.9. TC com o primário operando em condições normais e com indução residual no núcleo.

Isso ocorre porque são necessárias elevadas induções alternadas com gradual redução a
zero para a completa remoção do fluxo residual. Tais induções não ocorrem no caso de TCs de
proteção operando em condições normais [6]. Assim, se o fluxo residual for elevado, o

75
Chagas – DEE/UFCG

desempenho do TC fica comprometido, pois uma corrente de defeito baixa poderá levar o TC a
um estado de saturação idêntico ao causado por uma corrente de valor bem maior, a qual se
estabeleça com o núcleo inicialmente desmagnetizado. Vale frisar que o fluxo residual não
diminui gradualmente, mas se mantém constante quando a condição de equilíbrio é alcançada.
Tal condição se mantém constante até a aplicação de um fluxo suficientemente elevado no
núcleo [7]. Testes realizados por uma companhia canadense em 141 TCs de um sistema de 230
kV revelaram que 27% apresentavam de 60% a 80% de fluxo residual no núcleo após
desenergização do enrolamento primário [8].
Considera-se um curto-circuito que ocasiona uma corrente simétrica insuficiente para
produzir saturação apreciável no TC. Se a carga no secundário é puramente resistiva (caso dos
relés digitais modernos), a corrente que nela circula acha-se aproximadamente em fase com a
corrente no primário, a qual é interrompida na passagem por zero, e também com a tensão de
excitação secundária. Assim, nesse instante, o fluxo acha-se no valor máximo. Considerando a
Fig. 4.10, pode-se dizer que o ponto de operação do núcleo corresponde a A ou B. Após a
interrupção, esse ponto tende a mover-se para C ou D, respectivamente. Por outro lado, para
uma carga puramente indutiva, esse ponto corresponde a P ou Q, sendo o equilíbrio
estabelecido nos pontos R ou S, respectivamente [6].

Fig. 4.10. Laço de histerese de um material ferromagnético.

Em sistemas com religamento automático, o fluxo residual no núcleo do TC pode alcançar


elevado valor no instante de religamento. Se esse fluxo apresentar polaridade idêntica ao fluxo
imposto pela fonte, que também pode ser alto, certamente haverá acentuadas distorções na
forma de onda da corrente secundária. Isto levará o núcleo a um estado de magnetização

76
Chagas – DEE/UFCG

próximo ou até igual à remanência, que pode representar até 90% do fluxo de saturação. Isto
implica em grande impacto no desempenho do TC em regime transitório.
Deve ser lembrado que o fluxo residual também pode influenciar de modo favorável no
desempenho do TC em regime transitório. Por exemplo, se ele for negativo e o fluxo imposto
pelo sistema primário for crescente, o nível de saturação do TC será alcançado menos
rapidamente caso o fluxo residual fosse nulo ou positivo.

3. Fator de Saturação de um TC

Considera-se que UK e UF representam, respectivamente, a tensão do ponto de joelho da


curva de excitação secundária e a tensão nos terminais de uma carga resistiva do TC correspon-
dente à maior corrente simétrica de falta. Assim, o fator de saturação do TC é definido por:
UK UK
KS   (4.23)
U F R2 I1F / K N 

O parâmetro KS representa a margem de segurança adotada no dimensionamento do


núcleo, no sentido de prevenir os efeitos da componente contínua de . Para uma mesma
relação de transformação, quanto maior for esse fator, maior será a área de seção reta do TC.
O fluxo de enlace no ponto de joelho da curva de excitação secundária é:

2 UK
K  (4.24)

Neste ponto, o TC entra em estado de saturação. Em (4.20), para uma carga resistiva no TC,
o valor mais pessimista da componente alternada do fluxo é:

2 R2 I1F  T1T2 t / T2 

 KN
 e 
 e t / T1  1 (4.25)
 T2  T1 
Fazendo  = K, t = tS e combinando (4.23), (4.24) e (4.25), resulta:
T1T2
KS  
T2  T1
 
e tS / T2  e tS / T1 1 (4.26)

Na Fig. 4.11 são mostradas três curvas para diferentes valores de T2. No eixo horizontal
obtém-se o tempo tS que o TC leva para saturar caso ocorra um defeito no circuito primário.
Assim, quanto maior for o fator de saturação, mais tempo o TC leva para saturar e maiores
serão seu tamanho e preço.
Uma simplificação realística consiste em considerar T2 >> T1 em (4.26), de modo a se obter:
 
K S  T1 1  e tS / T1  1 (4.27)

O tempo que o TC leva para saturar pode ser calculado por:


77
Chagas – DEE/UFCG

 K 1
t S  T1 ln 1 S  (4.28)
 T1 

8.00
T2 = 10 s

T1 = 20 ms T2 = 1 s
6.00
Fator de Saturação, K s

T2 = 0,1 s

4.00

2.00

0.00

1.00 10.00 100.00


Tempo ( ms )

Fig. 4.11. Curvas do fator de saturação versus tempo para o TC saturar.

4. Critério para Especificação da Carga de um TC

Um critério usual para estimar o desempenho dos TCs em regime transitório para uma carga
puramente resistiva é descrito em [9], a partir da seguinte expressão:
d R2 t
ue    i 1F dt (4.29)
dt KN 0

Se I1F é o valor eficaz da corrente simétrica de falta no primário, tem-se de (4.9):


U m t / T1
i1F 
Z1
e   cos t  2I1F e t / T1  cos t    (4.30)

Assim, de (4.29) e (4.30):


2 R2 I 1 F
t
   u e dt 
0 KN 
t

0
 e t / T1

 cos  t dt (4.31)

No instante da saturação (t = tS), tem-se, para o ponto de joelho da curva  - im:

2 R2 I 1 F tS
 e 
t / T 1
K   cos  t dt (4.32)
KN 0

78
Chagas – DEE/UFCG

Sendo UK a tensão RMS do ponto de joelho da curva de excitação Ue - Ie, considerando as


expressões (4.24) e (4.32), tem-se:

R2 I1F  L1 
UK  
K N  R1
 
1  e tS / T1  sen  t S  (4.33)

Tomando o valor máximo do termo entre colchetes:

R2 I1F  X1 
UK  1   (4.34)
KN  R 
 1 

Sendo N um índice relacionado aos valores nominais do TC, tem-se a tensão de excitação
secundária nominal igual a 20 I2N R2N, onde R2N é a impedância para a qual não há saturação
em CA. Assim, para que não haja saturação em CC:

R2 I1F  X1 
20 I 2 N R2 N  1   (4.35)
KN  R 
 1 

R2 20 K I 20 I
 . N 2N  . 1N (4.36)
R2 N 1 X1 / R 1 I1F 1  X 1 / R 1 I 1F

Sendo R2PU a impedância ligada ao secundário, em pu da impedância da carga do TC, e I1PU a


corrente de curto-circuito, em pu da corrente primária nominal I1N, resulta:
20
R2 PU  (4.37)
(1  X1 / R1 ) I1PU

Se há um fluxo de enlace residual não nulo, RPU, expresso em pu do valor correspondente à


saturação do TC, tem-se da referência [9]:
20 (1-  RPU )
R2 PU  (4.38)
(1  X 1 / R1 ) I1PU

É importante observar que esses critérios impõem restrições muito severas nos valores de
impedância da carga secundária, notadamente nos casos de sistemas com relações X1/R muito
elevadas, bem como no caso de TCs com núcleos fechados, onde RPU alcança valores no
entorno de 0,85. Maiores valores de RPU implicam na necessidade de se utilizar núcleos de
maiores seções retas, resultando em TCs demasiadamente grandes.

5. TCs com Entreferros no Núcleo

5.1. Considerações Gerais

Uma forma de melhorar o desempenho dos TCs em regime transitório consiste em inserir
entreferros no núcleo magnético para reduzir o fluxo residual, como é mostrado na Fig. 4.11.

79
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 4.11. Efeito de entreferro em núcleo magnético de liga Fe-Si.

Apesar da importância do tema, não são muitas as publicações que tratam de métodos de
limitação do fluxo remanescente no núcleo de TCs através de entreferros. O IEEE Power System
Relay Committee [3] publicou um extenso trabalho onde foram abordados importantes
aspectos do desempenho de TCs em regime transitório, incluindo os de núcleo com entreferro,
bem como a influência em diferentes esquemas de proteção. O mesmo grupo voltou a publicar
outro trabalho [7] onde são discutidas as características e o desempenho de TCs com pequenos
entreferros (0,0001 a 0,0003 pu do comprimento da trajetória magnética considerada). As
normas americanas não estabelecem critérios de classificação para TCs com entreferro. Porém,
na norma 60044-1 – IEC / 2003 [11] são consideradas as duas classes:

▪ TPY, que possui pequeno entreferro, possuindo remanência com valor inferior a 10% da
apresentada por um TC de núcleo fechado com as mesmas dimensões;
▪ TPZ, que apresenta entreferros com tamanhos maiores (ou vários pequenos entreferros),
com característica praticamente linear e remanência desprezível.

A referida norma também considera a classe TPX, correspondente a TCs sem entreferro,
para a qual não é especificado valor de remanência (a remanência pode representar até 90% do
fluxo de saturação). A Tabela 4.1 resume as características correspondentes às classes citadas.

Tabela 4.1. Características de TCs segundo a norma 60044-1 – IEC / 2003 [11].

Erro na corrente primária nominal Erro de relação


Classe Remanência
Relação Fase máximo

TPX  0,5 %  30’ 10 % Sem limite

TPY  1,0 %  60’ 10 % < 10 %

TPZ  1,0 %  180’  18’ 10 % (em CA) Desprezível

As vantagens da inserção de entreferros são citadas a seguir [7].


80
Chagas – DEE/UFCG

▪ Redução do fluxo residual, melhorando a resposta do TC em regime transitório.


▪ Redução da constante de tempo T2 = Lm / R2 do TC, o que também implica em redução do
fluxo no núcleo, como é mostrado na Fig. 4.8. Isto permite que se utilize um TC de menor
área de seção reta do núcleo.
▪ Menor influência do fator de potência da carga na resposta do TC em regime transitório, em
comparação com um TC de núcleo fechado.
▪ Menor tensão que surge nos terminais do secundário em aberto.

Em contrapartida, surgem as desvantagens descritas a seguir.

▪ A corrente de excitação no núcleo cresce, aumentando os erros de relação e de fase.


▪ Os núcleos com entreferros são mecanicamente mais frágeis e mais caros.

▪ Após a interrupção do defeito, quando o fluxo decresce até o valor final, a energia
armazenada no circuito magnético é dissipada, sendo produzida uma corrente de longa
duração no enrolamento secundário (corrente subsequente, com duração de até 1s). Para
atingir a remanência, a variação da indução magnética é bem maior que no caso dos TCs de
núcleo fechado, como é mostrado na Fig. 4.12 (∆B’ > ∆B). Assim, a tensão causada pelo
processo de descarga torna-se maior, podendo ocorrer atuação indevida de relés de
proteção de falha de disjuntor no caso em que haja dois ou mais TCs em paralelo [3].

Fig. 4.12. Variação de fluxo no núcleo do TC com entreferro após interrupção da corrente primária.

Os TCs com entreferro têm aplicação mais frequente nos casos citados a seguir.

▪ Na proteção de geradores, onde são produzidas correntes que apresentam valores de pico e
graus de assimetria muito elevados, em face dos altos valores da relação X/R do sistema de
geração.

81
Chagas – DEE/UFCG

▪ Na proteção de linhas com sistemas de religamento automático onde, no instante de


religamento, o fluxo imposto pela corrente primária pode apresentar amplitudes elevadas e
com mesma polaridade do fluxo remanescente.

5.2. Circuito Elétrico Equivalente de um TC com Entreferro

É mostrado na Fig. 4.13 um TC de núcleo toroidal com entreferro não magnético de


comprimento x, bem como seu circuito magnético equivalente, que consiste na associação em
série de uma fonte de força magnetomotriz, F, e de duas relutâncias, uma não linear, Rf,

correspondente ao ferro, e outra linear, Rg, relacionada ao entreferro.


Considera-se o núcleo com uma área de seção reta A e comprimento médio de trajetória
magnética l. A relutância equivalente é dada pela seguinte expressão:

R  R f R g (4.39)

A indutância equivalente do TC é dada por:


N 22 N 22 1 1
L    (4.40)
R R f R g R f R g 1 1
2
 2 
N2 N2 L f Lg

Fig. 4.13. (a) Núcleo com entreferro; (b) circuito magnético equivalente.

A expressão (4.37) indica que a indutância equivalente do TC consiste em duas indutâncias


ligadas em paralelo, uma relacionada ao ferro (não linear) e outra ao entreferro (linear).
Na Fig. 4.14 é mostrado o circuito elétrico equivalente do TC. As constantes R2 e L2 são a
resistência e a indutância da carga. As perdas dinâmicas no núcleo (parasíticas e anômalas) são
desprezadas. Este modelo constitui base para duas formas de representação consideradas
neste capítulo.
A indutância Lg é dada pela seguinte expressão [12]:
N 22 A
Lg    (4.41)
x
82
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 4.14. Circuito elétrico equivalente do TC com entreferro.

6. Representação de TCs para Cálculo de Transitórios

6.1. Representação 1 - Núcleo sem Histerese

Para o circuito da Fig. 4.14, pode ser escrito:


d di
 R2 i2  L2 2 (4.42)
dt dt
N1
i2  ie  i1F (4.43)
N2

A indutância diferencial de magnetização do núcleo com entreferro (não linear) é dada por:
Le  d die (4.44)

Combinando as equações acima, obtém-se:

N  N di
R2  1 i1F  ie   L2 1 1F
d N N 2 dt
  2  (4.45)
dt 1 L2 / Le

ie  f   (4.46)

A função ie = f () representa a curva de saturação do núcleo magnético do TC, qual pode ser
aproximada por função ou pelo método de linearização por partes. No segundo caso, são
usadas coordenadas (ie, ) de uma sequência de pontos levantados experimentalmente, com
valores de ie crescentes ou decrescentes. Assim, as coordenadas de um ponto situado entre
dois pontos consecutivos fornecidos são determinadas através de rotina de busca em tabela
ordenada [13], empregando-se também o método de interpolação linear. A solução desse
sistema pode ser obtida através do método de Euler, com um degrau de tempo h = 1 µs.
O fluxo residual pode ser considerado ou não. Na curva da Fig. 4.15, o fluxo residual o não é
considerado, o que é o caso das simulações de regime permanente. Em regime transitório,
pode-se representar o fluxo residual segundo a curva da Fig. 4.16, onde r é o fluxo de enlace
correspondente ao ponto de remanência. Assim, tem-se - r ≤ o ≤ r.

83
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 4.15. Curva de saturação sem remanência. Fig. 4.16. Curva de saturação com remanência.

Uma forma de representar as perdas dinâmicas no núcleo (perdas parasíticas clássicas mais
perdas anômalas) consiste em fazer para a corrente de excitação:
d
ie'  ie   (4.47)
dt
A constante  é associada à condutividade do núcleo de ferrro, sendo determinada
mediante comparação de laços obtidos por simulações com laços obtidos por ensaios na
frequência de 60 Hz, com o TC sendo levado ao estado de saturação.

6.2. Representação 2 - Núcleo com Histerese

Para o núcleo magnético da Fig. 4.13 e para o circuito elétrico da Fig. 4.14, tem-se:
dB di
N2 A  R2 i2  L2 2 (4.48)
dt dt
B
Hl  x  N1 i1F  N 2 i2 (4.49)
0

B   0 H  M  (4.50)

A variável M é o vetor magnetização no interior do material e a constante 0 é a


permeabilidade magnética do ar. Combinando as expressões acima, resulta:
dH 1
 (4.51)
dB  0  1 dM / dH 

N l x  N di
R2  1 i1F  H B   L2 1 1F
dB N N2 0 N 2  N 2 dt
  2 (4.52)
dt L  dH x 
N 2 A  2  l  
N 2  dB  0 
dH dH dB
 (4.53)
dt dB dt

84
Chagas – DEE/UFCG

dM 1 dB dH
  (4.54)
dt  0 dt dt

O termo dM/dH é a susceptibilidade diferencial do núcleo, determinada pelo modelo de


histerese de Jiles-Atherton [14], descrito no próximo item. A solução desse sistema pode ser
obtida através do método de Euler, com um degrau de tempo h = 1 µs.
A corrente secundária e a corrente de excitação são dadas pelas seguintes expressões:

1  B 
i2   N1 i1F  H l  x  (4.55)
N2  0 
N1
ie  i1F  i2 (4.56)
N2

Para TCs sem entreferro, basta fazer x = 0 em (4.52) e (4.55).


De modo análogo ao item anterior, uma forma de representar as perdas dinâmicas no
núcleo consiste em fazer para a corrente de excitação:

ie'  ie  N 2 A (4.57)
dt

6.3. Modelo de Histerese de Jiles-Atherton

A teoria de Jiles-Atherton [1], [14] baseia-se em considerações físicas relacionadas aos


movimentos das paredes dos domínios magnéticos, expostas a seguir.
▪ Os locais onde ocorre o prendimento das paredes dos domínios são uniformemente
distribuídos no material, não havendo nenhuma distinção entre os diferentes tipos de locais
prendedores (imperfeições cristalográficas, impurezas, regiões de fronteiras de grãos).
▪ A resistência às variações na magnetização é uniforme em toda a extensão do material.
Também é estabelecido que a orientação dos domínios deve-se à ação de um campo em
nível molecular, denominado campo de Weiss, associado à interação entre domínios vizinhos
que tendem a se alinhar, uma vez que esta é a configuração correspondente à energia mínima.
O campo médio de Weiss é dado por αM, onde α é a constante de interação entre domínios
magnéticos, uma grandeza adimensional, que depende das características do material. Assim,
para um campo aplicado H, o domínio apresenta um campo efetivo He dado por:
He  H   M (4.58)

Define-se curva de magnetização anisterética como a curva de magnetização obtida em um


sólido ideal, na ausência de todos os locais prendedores, de modo a não ocorrer a histerese.
Esta curva é situada acima da curva de magnetização inicial, como é mostrado na Fig. 4.17.

85
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 4.17. Curva de magnetização inicial e curva anisterética.

Para modelar a curva anisterética, foi escolhida a função de Langevin modificada, ou seja:
 
M a  M s coth  Hae   a 
 
, H  0, M  0 (4.59)
   H e 

He  H  M (4.60)

O parâmetro Ms é a magnetização no ponto onde o material entra em estado de saturação e


a é um coeficiente que caracteriza a forma da curva. De (4.60), pode-se escrever:
dH e dM
1 (4.61)
dH dH
Uma das premissas básicas do modelo é que a magnetização M pode ser expressa em
termos de uma componente de magnetização reversível, Mr , devido à flexão das paredes dos
domínios, adicionada a outra componente de magnetização irreversível, Mi , devido ao
movimento de translação das mesmas na presença dos locais prendedores, ou seja:
M  Mr  Mi (4.62)
A partir de considerações sobre a energia necessária para as paredes se despregarem dos
locais prendedores, foi estabelecido que a componente Mi é dada por:
dM i  M a  M i (4.63)
dH e k
O parâmetro k é a constante de perdas ou constante de prendimento das paredes dos
domínios e  é o coeficiente que assume o valor +1 para dH / dt ≥ 0 (trajetória ascendente), e –1
para dH / dt < 0 (trajetória descendente).
Os autores estabeleceram que, para flexões moderadas, a componente Mr varia linearmente
com a diferença entre a magnetização anisterética e a magnetização irreversível (Ma – Mi ).
Sendo c denominada constante de flexão das paredes dos domínios (adimensional), tem-se a
seguinte expressão:

86
Chagas – DEE/UFCG

Mr  c  Ma  Mi  (4.64)

Combinando (4.62) e (4.64), pode-se escrever:


M  Mi  c  Ma  Mi  (4.65)

dM  dM i  c  dM a  dM i  (4.66)
dH dH  dH dH 

De (4.58), tem-se pela regra da cadeia:

dM a dM a dH e dM a  dM 
   1 α  (4.67)
dH dH e dH dH e  dH 
dM i  dM i dHe  dM i  1 α dM  (4.68)
dH dHe dH dHe  dH 
Substituindo (4.67) e (4.68) em (4.66), resulta para a susceptibilidade diferencial:

(1  c ) dM i  c dM a
dM  dH e dH e (4.69)
dH 1   c dM a  1 c ) dM i
dH e dH e
Porém, (4.69) pode fornecer valores negativos de dM/dH (soluções sem significado físico)
quando o campo magnético decresce a partir da extremidade do laço, em situações onde a
magnetização irreversível Mi é menor que a magnetização anisterética Ma , no primeiro
quadrante, ou maior que Ma, no terceiro quadrante. A explicação dos autores é a seguinte [14]:
neste caso, as paredes dos domínios magnéticos ficam ligadas aos locais prendedores, de modo
que dMi /dH = 0; assim, quando H decresce a partir da extremidade do laço até que M alcance
Ma, a variação de M é praticamente reversível, ou seja, dM/dH ≈ dMr /dH. Isto resulta na
seguinte formulação modificada:

(1 c) dM i  c dM a
dM  dHe dHe ,  (Ma – M) ≥ 0 (4.70)
dH 1  c dM a  1 c ) dM i
dHe dHe

c dM a
dM  dH e ,  (Ma – M ) < 0 (4.71)
dH 1   c dM a
dH e
As expressões (4.59) e (4.63) fornecem os valores de Ma e dMi /dHe ; além disso, tem-se para
a derivada dMa/dHe:

dM a 1 H  a 
 M s   1 coth2  e   2  , H  0, M  0 (4.72)
dH e a  a  H e 
Observa-se que a função de Langevin, da forma coth ( x ) – 1 / x, não pode ser calculada na
origem. Fazendo a expansão em série de Taylor, tem-se para | He / a | < 0,1:
87
Chagas – DEE/UFCG

 
M a  M saHe 1  He 2  2 He 4 ...
2 4
(4.73)
3 45a 945a 

Alguns autores usam outros tipos de função para representar a curva de magnetização
anisterética. A referência [15] propõe a seguinte expressão:
a1 H e  H e2
Ma Ms (4.74)
a3  a 2 H e  H e2
A fim de melhor aproximar o laço maior de histerese nas zonas de transição entre os estados
de não saturação e de saturação, é proposto que o parâmetro k seja modificado de acordo com
a seguinte expressão, em que foi estabelecido o valor 0,96 para  [15]:

 M 
k mod  k 1    (4.75)
 Ms 

7. Exemplo de Simulação do Comportamento Transitório de TCs

Neste item, o comportamento em regime transitório de um TC de proteção é simulado em


programa escrito em Matlab (ver Apêndice 3), mediante utilização do modelo de Jiles-
Atherton, cuja formulação é apresentada no item 6.3. O sistema primário considerado nas
simulações é mostrado na Fig. 4.18. Os dados a ele relacionados são fornecidos a seguir.

▪ Tensão nominal, UN: 230 kV.


▪ Corrente nominal, IN: 800 A.
▪ Comprimento da linha, LT: 85 km.
▪ Resistência em série, rL: 0,0319 /km.
▪ Reatância em série, xL: 0,3311 /km.
▪ Capacitância shunt, cL: 12,333 nF/km.
▪ Potência de curto-circuito na barra de 230 kV, SCC: 7,2 GVA.
▪ Constante de tempo equivalente da barra de 230 kV, T1S: 35 ms.
▪ Impedância de Thévenin da barra de 230 kV, ZT = 0,56 + j 7,35 Ω = 7,37 85,64o.

Fig. 4.18. Diagrama unifilar do sistema primário.

O TC de núcleo toroidal apresenta os dados fornecidos a seguir:


88
Chagas – DEE/UFCG

▪ Corrente primária nominal: 900 A.


▪ Corrente secundária nominal: 5 A.
▪ Relação de espiras: 180 : 1.
▪ Comprimento médio do núcleo: 0,50 m.
▪ Área de seção reta do núcleo: 1,91 x 10-3 m2.
▪ Resistência do enrolamento secundário mais fiação: 0,75 .
▪ Reatância do enrolamento secundário mais fiação: desprezível.
▪ Fator de sobrecorrente: 20.

A curva anisterética é aproximada pela expressão (4.74). As constantes do modelo de Jiles-


Atherton, fornecidas em [15], são as seguintes:

▪ Ms = 1,72 x 106;
▪ α = 1,32 x 10-5;
▪ c = 0,1;
▪ k = 39,2;
▪ a1 = 2730; a2 = 3209; a3 = 20294; n = 2;  = 0,96.

A curva de saturação e o laço maior de histerese obtidos através dessas constantes são
mostrados na Fig. 4.19.

0.80

0.40
Fluxo de Enlace ( V.s )

0.00

-0.40

-0.80

-10.00 -5.00 0.00 5.00 10.00


Corrente ( A )
Fig. 4.19. Curva de saturação e laço maior de histerese do TC [15].
89
Chagas – DEE/UFCG

O TC é considerado sem entreferro. É simulado um curto-circuito a 5 km de distância com


ângulo de incidência igual a 0°. O fluxo residual no núcleo é considerado nulo, ou seja, (0) = 0.
É considerada a seguinte sequência de eventos: defeito com duração de 3,75 ciclos, desliga-
mento, tempo morto de 8,25 ciclos e religamento com reincidência do defeito. A impedância da
carga no secundário é de 1 + j0 Ω, a qual deve ser somada à resistência dos enrolamentos mais
fiação (0,75 Ω). Os resultados são mostrados na Fig. 4.20, Fig. 4.21, Fig. 4.22 e Fig. 4.23.

Fig. 4.20. Corrente primária – Carga de impedância 1 + j0 Ω.

Fig. 4.21. Corrente secundária – Carga de impedância 1 + j0 Ω.


90
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 4.22. Corrente de excitação – Carga de impedância 1 + j0 Ω.

Fig. 4.23. Fluxo de enlace no secundário – Carga de impedância 1 + j0 Ω.

Na Fig. 4.21 é observado que a distorção após o religamento é bem mais pronunciada que a
apresentada no período anterior, em que o fluxo residual no núcleo é nulo. Isso se deve ao fato
de que o fluxo existente no núcleo no instante de religamento é bastante elevado (0,56 V.s),
como pode ser visto na Fig. 4.23.
Na Fig. 4.24 é apresentado o gráfico da onda de corrente secundária considerando uma
carga com componente indutiva elevada, a qual apresenta uma impedância igual a 0,69 + j1.

91
Chagas – DEE/UFCG

Observa-se que, quando o núcleo satura, a corrente não cai de modo abrupto para zero. Isto
se deve à existência da indutância da carga, a qual se opõe à variação da corrente.

Fig. 4.24. Corrente secundária – Carga de impedância 0,69 + j1 Ω.

Na Fig. 4.25 é mostrada a forma de onda da corrente secundária para uma carga de 2,25 +
j0, sem religamento. Nos primeiros ciclos vê-se que há saturação devido às componentes alter-
nada e contínua do fluxo. Porém, em regime permanente, a saturação persiste apenas devido à
componente alternada do fluxo. Isto se deve ao alto valor da impedância carga (2,25 Ω).

Fig. 4.25. Corrente secundária – Carga de impedância 2,25 + j0 Ω.


92
Chagas – DEE/UFCG

A seguir, é considerada uma carga de elevada impedância ligada aos terminais do


enrolamento secundário do TC (600 + j0 Ω). Observa-se um estado de magnetização bastante
pronunciado no núcleo, configurando um comportamento próximo daquele em que há
abertura dos terminais do enrolamento secundário. Pode ser visto na Fig. Fig. 4.26 que a
corrente secundária assume um comportamento altamente distorcido. Na Fig. 4.27 observa-se
elevados valores de corrente de excitação, o que pode provocar solicitações térmicas capazes
de causar dano ao TC.

Fig. 4.26. Corrente secundária – Carga de impedância 600 + j0 Ω.

Fig. 4.27. Corrente de excitação – Carga de impedância 600 + j0 Ω.

Na Fig. 4.28 é mostrada a forma de onda da tensão secundária. A cada semiciclo há picos
alternados de tensão de 1,5 kV, ocasionando danos aos instrumentos instalados no secundário
e risco para o pessoal da operação. Conforme é indicado na Fig. 4.29, o fluxo apresenta forma
de onda achatada nos picos, pois é limitado pelo efeito de saturação no núcleo.
93
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 4.28. Tensão secundária – Carga de impedância 600 + j0 Ω.

Fig. 4.29. Fluxo de enlace no secundário – Carga de impedância 600 + j0 Ω.

8. Consequências da saturação de TCs

Nos TCs de medição, se o fluxo alternado for muito alto de modo a levar o TC à saturação em
regime permanente, certamente ocorrerão elevados erros de medida. No caso de medição de
energia, haverá prejuízo para a concessionária de energia, uma vez que o medidor será
sensibilizado por uma corrente de menor valor eficaz que o real.
Nos TCs de proteção, podem surgir os seguintes problemas:
▪ os relés são sensibilizados indevidamente, principalmente relés diferenciais;
▪ os relés não são sensibilizados quando necessário, devido à forte saturação e distorção que
reduz o valor eficaz da corrente secundária;

94
Chagas – DEE/UFCG

▪ os relés não são sensibilizados com rapidez suficiente, pelo motivo anteriormente citado;
▪ os localizadores de defeito não fornecem indicação precisa.
Isto pode implicar em uma maior extensão dos danos de natureza térmica e eletrodinâmica,
perda de seletividade da proteção, perda de estabilidade do sistema e dificuldade em localizar
o local do distúrbio, ocasionando prolongadas interrupções de fornecimento de energia.

9. Modelo de TC no Simscape/Matlab

O bloco saturable transformer (transformador saturável) do Simscape implementa um


transformador de dois ou três enrolamentos acoplados ao mesmo núcleo, conforme é
mostrado na Fig. 4.30.

Fig. 4.30. Bloco saturable transformer (transformador saturável) do Simscape.

O modelo leva em conta as resistências dos enrolamentos (R1, R2, R3) e as indutâncias de
dispersão (L1, L2, L3), bem como as características de magnetização do núcleo, que é modelada
por uma resistência constante, Rm, a qual representa as perdas de núcleo por correntes de
Foucault e histerese, e uma indutância saturável, Lsat, conforme é mostrado na Fig. 4.31.

Fig. 4.31. Representação do transformador saturável no Simscape.

Ao se utilizar esse bloco na representação de um TC, deve-se considerar o seguinte:

▪ normalmente só são considerados os enrolamentos 1 e 2;


▪ os valores de R1 e L1 são muito pequenos, normalmente desprezíveis;

95
Chagas – DEE/UFCG

▪ a indutância saturável pode ser representada de modo linearizado por partes, mediante
valores de pico de  e ie. A remanência pode ou não ser considerada, como é mostrado na
Fig. 4.32. A representação sem remanência é adequada às simulações em regime perma-
nente, enquanto a consideração da remanência r se aplica ao estudo de transitórios. O
fluxo de enlace residual é representado por o (- r ≤ o ≤ r). Como a curva é simétrica
em relação à origem, só é necessário fornecer a porção do primeiro quadrante.

Fig. 4.32. Curva de saturação sem remanência e com remanência.

▪ no caso de um TC, o ramo de magnetização contendo Rm e Lsat é representado no enrola-


mento 2, ao contrário do modelo do Simscape. Isto requer a utilização das grandezas em pu.

Normalmente, a curva de saturação  - ie é expressa em unidades do Sistema SI (V.s e A). A


conversão para o sistema pu é feita segundo o exemplo a seguir.

Exemplo: Um TC de proteção de relação 900/5 e carga nominal C25 apresenta a curva de


saturação -i cujas coordenadas (valores de pico em unidades SI relativos ao secundário) são
fornecidas na Tabela 4.2. A resistência do enrolamento secundário, R2, é igual a 0,25 . A
resistência e a indutância do primário são consideradas desprezíveis; a reatância do secundário
também é desprezível. A resistência de perdas no núcleo, Rm, referida ao secundário, é de 2500
. A conversão para valores em pu é feita considerando os seguintes valores base no lado do
secundário para a potência, corrente e frequência: SB = 25 VA, IB = 5√2 A e B = 377 rad/s.
A corrente base é tomada como o valor de pico da corrente secundária nominal; assim, tem-
se os seguintes valores base para a tensão, fluxo de enlace e impedância:
SB 25
UB    3,53 V
IB 5 2
UB 3,53
B  2 2  0,0133V.s
B 377
2 2
ZB U B 3,53 0,5 
S B 25
96
Chagas – DEE/UFCG

Tabela 4.2. Pontos da curva de saturação do TC (valores de pico em unidades SI).

CORRENTE (A) FLUXO DE ENLACE (V.s)


0 0
0 0,55
1,2 0,6
5 0,63
10 0,65
50 0,7
400 0,75

A partir desses valores, são obtidos os valores em pu mostrados na Tabela 4.3.

Tabela 4.3. Pontos da curva de saturação do TC (valores de pico em pu).

CORRENTE (pu) FLUXO DE ENLACE (pu)


0 0
0 41,35
0,17 45,11
0,71 47,37
1,41 48,87
7,07 52,63
56,58 56,40

Os valores base de resistência e indutância são:


RB  ZB 0,5 

Z B 0,5
LB    1,33 mH
 377

O valor em pu da resistência do enrolamento secundário é:


R2 0,25
R2, pu    0,5
ZB 0,5
O valor em pu da resistência de perdas no núcleo é:
Rm 2500
Rm, pu    5000
ZB 0,5

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Chagas – DEE/UFCG

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98
Chagas – DEE/UFCG

Capítulo V

Outros Sensores para Instrumentação

Sensores são dispositivos que convertem uma grandeza física numa segunda grandeza física
mais adequada a um sistema de medição. Entre eles se enquadram os TCs e TPs estudados nos
capítulos anteriores. Neste capítulo é feita uma descrição de alguns tipos de sensores usados
para condicionamento de sinais de tensão e de corrente. Serão considerados cinco tipos
fundamentais: resistores shunt, bobinas de Rogowski, acopladores lineares, sensores de efeito
Hall e transformadores de potencial e de corrente ópticos. O estudo apresentado tem caráter
introdutório, sem maiores aprofundamentos, uma vez que os instrumentos citados ou
apresentam uso limitado ou grande diversidade de princípio de funcionamento e forma
construtiva. Considerações mais detalhadas acerca de todos esses componentes podem ser
obtidas a partir de informações fornecidas por fabricantes.

1. Resistores Shunt

Os shunts são resistores de baixo valor de resistência os quais são inseridos em um circuito
de baixa tensão no sentido de disponibilizar uma tensão U proporcional ao valor da corrente do
circuito; assim, essa corrente é dada por:
U
I (5.1)
Rsh
onde U é a tensão lida nos terminais do shunt e Rsh é a resistência do mesmo.

(a) (b)

Fig. 5.1. Tipos de resistores shunt.

Como vantagens desses dispositivos, podem ser citadas as seguintes:


▪ simplicidade;
99
Chagas – DEE/UFCG

▪ baixo custo;
▪ excelente exatidão para medições em corrente contínua e em corrente alternada com
frequências não muito elevadas.
Como desvantagens, são enumeradas as seguintes:
▪ não proporcionam isolação elétrica;
▪ dissipam energia em forma de calor, o que implica em variação da resistência com a
temperatura e em aumento do erro na medição;
▪ apresentam uma característica invasiva, pois necessitam de abertura do circuito, causando
alteração das características do mesmo pela inserção de uma resistência adicional;
▪ para elevados valores de frequência, apresentam indutância e capacitância parasitas como é
mostrado na Fig. 5.1; também há o efeito pelicular, que modifica o valor da resistência.

Fig. 5.2. Modelo de um resistor real em altas frequências, incluindo indutância e capacitância parasitas.

A capacitância parasita normalmente é pequena e pode ser desprezada, exceto em


frequências elevadas como no caso de ondas de rádio. A indutância parasita pode introduzir
atrasos significativos na corrente e afetar o valor da impedância entre os terminais do resistor,
ocasionando erros na medição. Porém, ela pode ser anulada, como no caso de resistores
especiais não indutivos, de fio enrolado, os quais são providos de enrolamentos duplos
dispostos de modo tal a promover o cancelamento de campos magnéticos em oposição.
As principais grandezas a serem especificadas para um resistor shunt são: resistência
nominal (Ω), corrente máxima (A), tensão nominal (V) e tempo de resposta (s).

2. Bobinas de Rogowski

2.1. Forma Construtiva Básica

Há diversas maneiras de se construir uma bobina de Rogowski. A mais usual é mostrada na


Fig. 5.3, a qual consiste em um solenóide de forma toroidal com núcleo de material que não
apresenta as propriedades de saturação e histerese, cuja permeabilidade é constante e igual à
do ar. O solenóide envolve o condutor por onde passa a corrente i que se deseja medir.

100
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 5.3. Forma construtiva básica de uma bobina de Rogowski.

A corrente i produz um fluxo no entorno do condutor, o qual induz uma tensão u nos
terminais da bobina, a qual será integrada para que a forma de onda da corrente seja
reproduzida.
O toróide pode ser rígido ou flexível e não fechado, de modo a poder ser aberto para ser
instalado ao redor do condutor no qual se deseja medir a corrente. Um detalhe importante
mostrado na Fig. 5.3 é que o avanço das espiras montadas lado a lado resulta em um efeito
semelhante ao causado por uma espira perpendicular ao eixo do toróide. Em caso de presença
de fluxos magnéticos externos, estes induzem uma tensão que se soma à tensão u, o que
acarretará em erro na medição. A fim de anular esse efeito, a bobina é construída com uma
espira de retorno pelo eixo central das espiras e em sentido oposto ao avanço helicoidal. Como
essa espira de retorno está ligada em série com a saída do enrolamento, em caso de ação de
fluxos externos, será nela induzida uma tensão igual e oposta à tensão induzida no
enrolamento helicoidal, de modo a haver cancelamento [1].

2.2. Descrição do Funcionamento

A teoria da bobina de Rogowski é baseada na lei circuital de Ampère e na lei de Faraday-


Lenz. Na Fig. 5.4 é mostrada uma porção do enrolamento de forma toroidal e núcleo não
magnético, assim como o condutor percorrido pela corrente i que se deseja medir. Os vetores
H e dl são o campo magnético e um elemento de comprimento ao longo da trajetória
magnética. Pela lei de Ampère, pode-se escrever:

 H.dl  i (5.2)

Sendo  o ângulo entre H e dl, tem-se:

 H cos dl  i (5.3)

101
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 5.4. Detalhe de uma bobina de Rogowski com grandezas relacionadas à lei circuital de Ampère.

Se a bobina completa possui n espiras por unidade de comprimento, para o elemento de


comprimento dl tem-se n.dl espiras; assim, o fluxo concatenado a ele correspondente é:
d  n dl A B cos  n dl A 0 H cos (5.4)

O fluxo de enlace na bobina inteira é:

   d   0 n A H cos dl (5.5)

De (5.3) e (5.5), resulta:


  0 n A i (5.6)

Da lei de Faraday-Lenz, pode-se escrever para a tensão induzida nos terminais da bobina:
d di
u   0 n A (5.7)
dt dt
O acoplamento entre condutor e bobina deve-se exclusivamente ao efeito da indutância
mútua, M, para a qual pode ser escrito:
di
u M (5.8)
dt
M  0 n A (5.9)

Para uma corrente i = Im sen (t + ), a tensão de saída nos terminais da bobina é:
u    MIm cos( t  ) (5.10)

Escrevendo (5.8) no domínio da frequência, tem-se para o fasor da tensão u:


U  j M I (5.11)

Assim, pode-se determinar a indutância mútua mediante medição em laboratório dos


valores eficazes da tensão u e da corrente i, os quais são aplicados na expressão a seguir.
U
M (5.12)
2 fI

102
Chagas – DEE/UFCG

2.3. Aperfeiçoamentos no Projeto da Bobina de Rogowski

Um problema apresentado por esse sensor é que a permeabilidade do núcleo é muito baixa,
praticamente igual à do ar. Assim, valores típicos para indutância mútua M situam-se na faixa
de 0,1 a 1 µH [2], de modo que, para correntes inferiores a 100 A, o sinal de saída u apresenta
valores baixos, da ordem de alguns milivolts. Assim, u necessita ser amplificada mediante um
amplificador de instrumentação de alto ganho, elevada rejeição a ruídos e baixo offset, como é
indicado no diagrama de blocos da Fig. 5.5 [3]. Exemplos de amplificadores com essas
características são: AD621, da Analog Devices e INA101, da Texas Instruments.

Fig. 5.5. Aperfeiçoamentos no projeto da bobina de Rogowski.

O passo seguinte consiste em integrar a tensão de saída u1 do amplificador para a obtenção


de um sinal u2 proporcional e em fase com i, como é indicado em (5.8). Essa integração pode
ser realizada de forma numérica ou através de um integrador analógico (passivo ou ativo).
Neste caso, considera-se o integrador ativo mostrado na Fig. 5.6, para o qual pode ser escrito:
u1 du
C 2  0 (5.13)
R dt

Fig. 5.6. Integrador ativo.

Considerando o capacitor inicialmente descarregado, a tensão de saída u1 é dada por:


1
u2   u1 dt
RC  (5.14)

Assim, de (5.7) e (5.14), além de (5.9), a tensão de saída do integrador é:


0 n A M
u2  i i (5.15)
RC RC

103
Chagas – DEE/UFCG

O ganho do integrador é:
1
j C 1
G   (5.16)
R1 j R1 C
1
G (5.17)
 R1 C
Observa-se que ocorrerá o ganho de malha fechada cada vez mais alto à medida que a
frequência cai, tendendo a infinito para  perto de zero. Assim, torna-se necessário estabilizar
o ganho em baixas frequências. Isso pode ser obtido mediante o circuito da Fig. 5.7.

Fig. 5.7. Integrador ativo modificado.

O ganho do integrador modificado é:


R2 /( j C )
R  1 / ( j C ) R2 / R1
G  2  (5.18)
R1 1  j  R2 C

Para o módulo, tem-se:


R2 / R1
G (5.19)
1  ( R2 C ) 2

Assim, em altas frequências, o circuito funciona como integrador e, em baixas frequências,


como amplificador inversor. O ganho se estabiliza no valor R2/ R1 quando a frequência é nula.
Com base em considerações de ordem prática estabelecidas na referência [4], têm-se as
seguintes condições de projeto, em que a constante T é o período do sinal aplicado na entrada
do integrador:
R2 C
T (5.20)
10
R2  10 R1 (5.21)

104
Chagas – DEE/UFCG

O sinal de saída do integrador, u2, é posto na entrada de um amplificador de baixo offset,


resultando no sinal de saída u3, o qual apresenta o nível de amplitude desejado. O estágio final
do diagrama de blocos da Fig. 5.5 é um circuito defasador destinado à correção de erros de fase
introduzidos pelo integrador. Isso se justifica pelo fato de que, com a inserção do resistor R2, o
ganho G em (5.16) passa a ser diferente de 90o, ao contrário do que ocorre em (5.14).
Um circuito defasador produz uma diferença de fase entre o sinal de saída e o sinal de
entrada sem produzir alteração de amplitude. Isto pode ser obtido através do circuito da Fig.
5.8. Em termos de fasor, pode ser escrito:
U  U3 U  Uo U3  Uo
 0  U (5.22)
R R 2
U
 j C U  U 3   0 (5.23)
Ro

Fig. 5.8. Circuito defasador.

Substituindo (5.22) em (25.23), obtém-se:


1  j Ro C
Uo  U 3   U i   U i (180 o   ) (5.24)
1  j Ro C

  tg 1  Ro C   tg 1 RoC    2 tg 1 RoC  (5.25)


Assim, resulta:
U o  U i  [180 o  2 tg 1 (Ro C )] (5.26)

Se Ro for variada de 0 a ∞, a defasagem produzida no sinal de entrada irá variar de 180o a 0o,
sem que haja alteração no módulo de u3.

2.4. Considerações Adicionais

A bobina de Rogowski existe desde 1912, quando era usada para medição de campos
magnéticos [1]. Seu uso nos serviços de proteção e medição era inviável em face de

105
Chagas – DEE/UFCG

apresentarem na saída sinais cujas potências eram muito inferiores ao consumo dos relés e
medidores eletromecânicos da época. Entretanto, com o advento dos modernos instrumentos
digitais de elevada impedância de entrada e baixo consumo (IEDs – Intelligent Electronic
Devices), essas bobinas voltam a ser objeto de interesse em aplicações nas redes elétricas. Suas
principais vantagens são citadas a seguir [1], [2]:

▪ Linearidade. Como o núcleo não possui as propriedades de saturação e histerese, o


comportamento é linear em toda a faixa de valores de corrente de operação. Isso permite
que sua calibração seja feita para baixos valores de corrente, evitando medições com valores
elevados, o que consiste num processo de execução caro e complicado.
▪ Exatidão. Podem ser usadas simultaneamente nos serviços de proteção, medição e controle,
ao contrário dos TCs convencionais.
▪ Grande banda de passagem, sendo possível medir até transitórios de chaveamentos.
▪ Capacidade de medição de grandes correntes. Uma mesma bobina pode ser usada para
medir correntes na ordem de 100A a 100kA.
▪ Não tem problema de ter o secundário aberto com o primário energizado.
▪ Pequenas dimensões e peso.
▪ Baixo custo e fácil instalação, podendo ser instalada em pontos de difícil acesso.
▪ Pode-se abrir o toróide para instalação, sem interromper o condutor da linha, pois não há
núcleo ferromagnético fechado.
▪ Baixa sensibilidade a variações dos parâmetros de construção.

Como desvantagens, podem ser citadas as seguintes:

▪ Ao contrário dos TCs convencionais, as bobinas de Rogowski requerem o uso conjunto de


circuitos integradores e amplificadores, os quais incorporam fontes de alimentação. Isso
torna o sistema de medição mais complexo.
▪ Limitação da corrente a ser medida. Correntes de baixa intensidade, menores que 100 A, são
difíceis de serem medidas, pois a tensão induzida nos terminais da bobina é pequena,
havendo influência de ruído e offset [3].
▪ Para que haja exatidão nas medições é necessário que a construção da bobina seja feita de
modo ter o enrolamento em torno do núcleo o mais uniforme possível. Esse grau de
exatidão também depende da posição relativa do condutor da linha no interior da bobina,
embora essa influência seja pequena [2].
▪ Somente são aplicáveis em corrente alternada.

106
Chagas – DEE/UFCG

3. Acopladores Lineares

3.1. Considerações Gerais

Os acopladores lineares têm aspecto construtivo semelhante aos transformadores de


corrente de núcleo ferromagnético de forma toroidal, exceto pelo fato de que possuem um
núcleo constituído por material não magnético. Isto lhes confere propriedades lineares (sem
saturação e histerese), sendo a permeabilidade do núcleo praticamente igual à do ar. Eles se
destinam a fornecer uma tensão no enrolamento secundário proporcional à corrente imposta
ao enrolamento primário. Se i1 é a corrente no enrolamento primário, considerando uma
impedância muito elevada no enrolamento secundário, a tensão nele induzida é:
di1
u2   M (5.27)
dt
A constante M é á indutância mútua entre os enrolamentos, dada pela seguinte expressão:
N1 N2 A
M  μ0 (5.28)
l
onde 0 é a permeabilidade magnética do ar, A é a área de seção reta do núcleo não magnético
e l é o comprimento médio da trajetória do fluxo; N1 e N2 são os números de espiras dos
enrolamentos primário e secundário, respectivamente.
Para uma corrente i1 = Im sen (t + ), a saída do acoplador é:
u2    MIm cos( t   ) (5.29)

Se Xm é a reatância indutiva mútua do acoplador, tem-se para o valor eficaz de u2:


U2   M I1   X m I1 (5.30)

Considerando um determinado valor de corrente primária, a tensão U2 é diretamente


proporcional ao valor de Xm. Devido à baixa permeabilidade do núcleo, vê-se em (5.28) e (5.30)
que essa tensão somente alcançará valores da ordem de alguns volts se número de espiras no
secundário for bem maior que o apresentado pelos TCs de núcleo ferromagnético.
Outra forma de obter maiores valores de U2 consiste em aumentar o valor de A. O problema
é que em ambas as possibilidades o acoplador torna-se grande, pesado e caro.
Ao contrário dos TCs de núcleo magnético, não há problemas se os acopladores lineares
tiverem o enrolamento secundário posto em aberto, uma vez que o núcleo não satura.
Como nas bobinas de Rogowski, os acopladores lineares podem ter um condutor de retorno
para evitar influência de campos magnéticos gerados externamente. Se esse condutor não
existir, os acopladores devem ser instalados em local distante da influência de tais campos.

107
Chagas – DEE/UFCG

3.2. Aplicação dos Acopladores Lineares

Os acopladores lineares são usados em esquemas de proteção diferencial de barra em


usinas e subestações de energia elétrica. Isto se deve ao fato de que normalmente várias linhas
acham-se ligadas ao barramento, no qual os valores da corrente de curto-circuito são elevados.
Assim, como nesses dispositivos não existem saturação e remanência, a possibilidade de
atuações indevidas da proteção é menor que no caso dos TCs convencionais.
Na Fig. 5.9 é mostrado um barramento ao qual estão ligadas quatro linhas. Se Xm = 0,005 ,
de acordo com (5.30), uma corrente de 1000 A produz uma tensão de saída de 5 V.

(a) (b)
Fig. 5.9. Proteção diferencial de barra utilizando acopladores lineares.

Em condições normais e também em caso de defeito fora do barramento, como mostrado


em (a), as tensões secundárias se somam, totalizando um valor igual a zero e o relé R não atua.
No caso (b), o defeito ocorre no barramento. Assim, vê-se que a tensão secundária no relé é
diferente de zero, o que causa atuação do mesmo.

4. Sensores de Efeito Hall

4.1. Considerações Gerais

Na Fig. 5.10, considerando a placa condutora percorrida por uma corrente elétrica i e
submetida a um campo magnético perpendicular H, os portadores de carga sofrem o efeito de
uma força que produz uma diferença de potencial na placa, como é indicado pelo voltímetro.
Considerando os portadores com carga positiva (corrente convencional), haverá o
aparecimento de uma região com concentração de cargas positivas e a outra com cargas
negativas, ou seja, a borda esquerda da placa ficará carregada positivamente e o ponto P1
ficará com potencial mais elevado do que P2 [6].
108
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 5.10. Ilustração do efeito Hall em uma placa condutora [6].

O sentido da força Fm sobre a carga q é determinado pela regra da mão direita. Tal força é
dada é dada pelo seguinte produto vetorial:
Fm  q v x H (5.31)

Assim, é criado um campo elétrico E perpendicular ao campo magnético B, de modo que Fm


é contrabalanceada pela força eletrostática Fe resultante do desvio de cargas, dada por:
Fe  q E (5.32)

Assim, quando o equilíbrio é alcançado, tem-se:


q vxH q E  E v H (5.33)
Sendo A = w d a área de seção reta do condutor, n o número de portadores de carga por
unidade de volume, q a carga de cada portador e  a densidade de corrente em ampères por
metro quadrado por segundo, tem-se a seguinte expressão:
i   A n q v A n q v wd (5.34)
Sendo w a largura da placa, pode-se escrever para a tensão Hall medida pelo voltímetro, uH,:
uH  E w  v H w (5.35)
Combinando (5.34) e (5.35), resulta:
Hi
uH  (5.36)
nqd
O material que constitui o sensor de efeito Hall consiste em uma placa de material
semicondutor dopado por onde passa uma corrente em determinado sentido ao aplicar uma
tensão em seus terminais. O efeito Hall está presente em todos os materiais, mas sua aplicação
é eficaz somente onde a mobilidade do elétron é alta, como o arseneto de gálio (GaAs).
109
Chagas – DEE/UFCG

4.2. Tipos de Sensores de Corrente de Efeito Hall

O efeito Hall foi descoberto em 1879 por Edwin H. Hall. Atualmente, esses dispositivos são
empregados em larga escala na indústria para inúmeras finalidades, podendo-se citar as
seguintes: sensores de posição, velocidade, nível de líquido e corrente elétrica. Na Fig. 5.11 o
condutor transportando corrente passa através da abertura de um núcleo magnético toroidal, o
qual possui um pequeno entreferro onde é localizado o elemento sensor. Uma fonte auxiliar
impõe uma corrente a este elemento, de modo a ser produzida na saída uma tensão
proporcional à corrente que se deseja medir.

Fig. 5.11. Constituição básica de um sensor de efeito Hall.

A tensão Hall é um sinal bastante fraco, da ordem de 20 a 30 microvolts, em um campo


magnético de 1 gauss. Um sinal desta magnitude requer um amplificador com características de
alta impedância de entrada, baixo ruído e ganho elevado, como é mostrado no sensor em
malha aberta da Fig. 5.12. A conversão da grandeza de saída de corrente para tensão é feita
através do resistor R.

Fig. 5.12. Sensor de efeito Hall em malha aberta.


110
Chagas – DEE/UFCG

Na Fig. 5.13 é mostrado um sensor de corrente em laço fechado. O fluxo no núcleo


magnético produz uma tensão Hall que é amplificada e aplicada no enrolamento secundário,
com uma polaridade tal que é produzida uma força magnetomotriz em oposição à força
magnetomotriz produzida pela corrente primária, de modo a cancelar o fluxo produzido por
essa corrente. Assim, o sensor opera no ponto de origem do laço de histerese, sem que a
exatidão seja alterada por esse efeito.

Fig. 5.13. Sensor de efeito Hall em malha fechada.

Em medidas de corrente com baixa amplitude de sinal, pode-se aumentar a resolução da


medida, fazendo-se com que o condutor da corrente seja passado mais de uma vez por dentro
do núcleo magnético.
Além de requerer pouco consumo de energia e apresentar peso e tamanho reduzido, esses
sensores operam não apenas em corrente contínua, mas também em corrente alternada, em
frequências de até 100 kHz.

5. Transformadores de Potencial e de Corrente Ópticos

5.1. Considerações Gerais

Ao contrário dos TCs e TPs convencionais, os TCs e TPs ópticos não operam apenas com base
em grandezas elétricas e magnéticas, mas na medição de alterações na característica da luz que
se propaga em certos materiais. Esse princípio de funcionamento é conhecido há mais de um
século. Entretanto, pelo fato de apresentarem sinais de baixa potência na saída, a utilização dos
instrumentos ópticos nas redes de energia foi postergada até o advento dos instrumentos
eletrônicos analógicos e digitais, uma vez que os antigos medidores e relés eletromecânicos
apresentavam elevado consumo de energia.

111
Chagas – DEE/UFCG

É sabido que a luz consiste em uma onda eletromagnética gerada por campos elétricos e
magnéticos que oscilam de modo transversal, ou seja, campos mutuamente perpendiculares.
Assim, se a direção de propagação da onda e o campo elétrico forem conhecidos, a direção do
campo magnético será determinada. No sistema de eixos da Fig. 5.14, considera-se uma onda
se propagando segundo o eixo z, perpendicular e saindo do plano da página. O campo elétrico
acha-se contido num plano perpendicular à direção de propagação da onda, podendo ser
decomposto em duas componentes x e y, para uma posição fixa z, as quais são dadas por:
Ex  Emx cos t (5.37)

E y  Emy cos(t   ) (5.38)

Fig. 5.14. Componentes ortogonais do campo elétrico de uma onda saindo do plano do papel.

A onda é dita polarizada se  e Emy/Emx forem constantes em relação ao tempo. Ao variarem


na mesma frequência, essas componentes determinam o tipo de polarização apresentado pelo
feixe de luz: linear, circular ou elíptica, dependendo da defasagem entre elas.
A expressão (5.38) pode ser escrita como:
Ey
 cost cos  sent sen (5.39)
Emy

Combinando (5.37) e (5.39), chega-se a:


2
Ey E E 
 x cos  1  x  sen (5.40)
Emy Emx  Emx 
Elevando ambos os membros de (5.40) ao quadrado, chega-se a:
2 2
 Ex   Ey  E
      2 Ex y cos  sen 2 (5.41)
 
 Emx   Emy  Emx Emy

Essa equação define uma elipse, como é mostrado na Fig. 5.15.

112
Chagas – DEE/UFCG

Fig. 5.15. Trajetória elíptica da extremidade do vetor campo elétrico.

A presença do terceiro termo do primeiro membro de (5.41) indica que os eixos da elipse
não coincidem com os eixos coordenados. Porém, se for feito  = /2, (5.41) se reduz para:
2 2
 Ex   Ey 
     1 (5.42)
E E 
 mx   my 
Assim, os eixos da elipse se tornam coincidentes com os eixos coordenados.
Uma polarização é dita circular se Emx = Emy = Em; neste caso, considerando (5.42), tem-se a
equação de uma circunferência de raio Em.
Se, além de Emx = Emy = Em, for feito  = 0 em (5.41), tem-se:
Emy
Ey  Ex (5.43)
Emx
Esta equação define uma reta; assim, diz-se que a polarização é linear.
São mostrados na Fig. 5.16 esses tipos particulares de polarização.

Fig. 5.16. (a) Polarizações elíptica com  = /2, (b) circular, (c) linear.

113
Chagas – DEE/UFCG

5.2. TPs Ópticos

Os TPs ópticos mais comuns têm seu princípio de funcionamento baseado no efeito Pockels.
Esse efeito ocorre em certos materiais denominados anisotrópicos, nos quais as propriedades
não são idênticas em todas as direções. Na óptica, esse efeito recebe a denominação de
birrefringência, sendo apresentado por cristais eletro-ópticos também denominados células
Pockels. Na Fig. 5.17, um feixe de luz circularmente polarizada incide num meio birrefringente
submetido a um campo elétrico criado por dois eletrodos. Assim, verifica-se uma defasagem
entre os eixos rápido (de mínima refração) e lento (de máxima refração), de modo a ocorrer
uma alteração na polarização, a qual muda de circular para elíptica. A defasagem é
proporcional ao campo elétrico aplicado, sendo medida por um analisador ótico, que separa o
sinal e o envia a dois diodos fotodetectores (dispositivos semicondutores que convertem luz em
corrente elétrica). Neste caso, a birrefringência é induzida por stress causado pela aplicação do
campo elétrico.

Fig. 5.17. Transformador de potencial óptico baseado no efeito Pockels.

5.3. TCs Ópticos

O sensor eletro-óptico de corrente mais comum tem funcionamento baseado no efeito


Faraday, o qual é ilustrado na Fig. 5.18 [7].

Fig. 5.18. Ilustração do efeito Faraday [7].


114
Chagas – DEE/UFCG

Tal efeito se manifesta de modo que, se um material magneto-óptico se acha submetido a


um campo magnético, e se um feixe de luz linearmente polarizada o atravessa de modo
paralelo ao campo, ocorre uma rotação no plano de polarização do feixe incidente, a qual é
proporcional à intensidade do campo aplicado, como é mostrado na expressão a seguir [8].

 V l H (5.44)

 - Ângulo de rotação do plano de polarização.


µ - Permeabilidade magnética do elemento sensor.
V - Constante de Verdet (característica do material do sensor).
l - Comprimento do elemento sensor.

Uma forma construtiva de um TC óptico baseado no efeito Faraday é mostrada na Fig. 5.19.

Fig. 5.19. Transformador de corrente óptico baseado no efeito Faraday.

5.4. Considerações Adicionais

Como vantagens dos TPs e TCs ópticos em relação aos convencionais, podem-se citar:

▪ desacoplamento galvânico com o elemento de saída (relé ou medidor);


▪ maior largura de banda;
▪ excelente linearidade;
▪ elevado grau de exatidão;
▪ maior faixa dinâmica;
▪ menor interferência eletromagnética;
▪ maior facilidade de isolação;
▪ ausência de problemas na resposta aos transitórios que ocorrem no circuito primário;

115
Chagas – DEE/UFCG

▪ ausência de efeitos não lineares (saturação e histerese);


▪ ausência de perdas elétricas e magnéticas;
▪ efeito de capacitâncias parasitas desprezível;
▪ não é necessário usar óleo ou SF6 para isolação;
▪ operam em corrente alternada e em corrente contínua;
▪ apresentam menor tamanho.

Como desvantagens, pode-se citar o alto custo e a tecnologia complexa.

Bibliografia

[1] CHAVES, C. F. (2008). Transformador de corrente eletrônico usando Bobina de Rogowski e


interface óptica com POF para aplicação em sistemas de potência, Dissertação de
Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, COPPE - UFRJ, Rio de Janeiro - RJ.
[2] RAMBOZ, J. D. (1996). Machinable Rogowski coil, design and calibration, Transactions on
Instrumentation and Measurement, 45(2):511-515.
[3] JINGSHENG, L., XIAOHUA, G., CHENG, L., MINGJUN, G., ZEFU, Y. (2003). Studies of
Rogowski coil current transducer for low amplitude current (100A) measurement,
Canadian Conference on Electrical and Computer Engineering - IEEE CCECE 2003,
Montreal, May 2003, pp. 463-466.
[4] PERTENCE Jr., A. (1988). Amplificadores Operacionais e Filtros Ativos: Teoria, Projetos,
Aplicações e Laboratório, McGraw-Hill, São Paulo – SP.
[5] IEEE Power System Relaying Committee (2010). Practical Aspects of Rogowski Coil
Applications to Relaying, IEEE PSRC Special Report.
[6] DA LUZ, M. S. (2007). Efeito Hall em supercondutores a campo magnético nulo, Tese de
Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais da Escola de
Engenharia de Lorena, Lorena – SP.
[7] LIMA. D. K. (2009). Transformadores para instrumentos ópticos: aspectos da viabilidade
do seu uso pelas empresas do setor elétrico brasileiro, Dissertação de Mestrado,
Programa de Pós-Graduação de Escola Politécnica da USP, São Paulo - SP.

[8] ALAVI, O. (2015). Current measurement with optical current transformer, Journal of
World’s Electrical Engineering and Technology, 4(1):29-35.

116
Chagas – DEE/UFCG

Apêndice 1 – Questões Teóricas

1. Em que aspectos o transformador de potencial indutivo difere de um transformador de


potência de pequeno porte?

2. Qual a função das colunas laterais em um TP trifásico de cinco colunas?

3. Por que os TPs indutivos não são utilizados em sistemas com tensões nominais acima de 138
kV? Acima dessa tensão, que tipo de TP é utilizado?

4. O que é classe de exatidão de um TP? Quais os valores e finalidades de classe de exatidão


estipulados pela norma NBR 6855 – ABNT / 1992?

5. Os TPIs da Fig. 1 estão ligados a uma linha de 230 kV, sendo RTP = 230 kV/115 V. Calcule Uab,
Ubc e Uca. Repita o procedimento supondo que a marca de polaridade de TP2 é transferida
do lado do terminal b para o lado do terminal c.

Fig. 1

6. Cite os principais elementos e respectivas finalidades de um transformador de potencial


capacitivo.

7. Um TPI normalmente não apresenta problemas significativos na operação em regime


transitório. Em relação aos TPCs, qual o principal problema apresentado nesse regime e qual
a influência exercida sobre os dispositivos de proteção?

8. O que é classe de exatidão de um TC? Quais os valores e finalidades de classe de exatidão


estipulados pela norma NBR 6855 – ABNT / 1992 (medição e proteção)?

9. Qual a parte física de um TC que exerce maior influência de erros no processo de


transformação da corrente secundária? Quais as propriedades desejáveis para essa parte
física?

10. Como se justifica a existência de um TC com relação 5/5?


117
Chagas – DEE/UFCG

11. Quais as propriedades magnéticas desejáveis aos TCs de medição e respectivos laços de
histerese e curvas de saturação? Responder o mesmo em relação aos TCs de proteção.

12. Por que não se deve usar um TC de proteção em medição e vice-versa?

13. Explicar o que é curva de excitação secundária, tensão de ponto de joelho e tensão de satu-
ração de um TC de proteção. Esboçar o diagrama de circuito para obtenção da referida curva
em laboratório.

14. Por que não se deve abrir o secundário de um TC com o primário energizado? Justificar
mediante utilização de gráficos de formas de onda de fluxo, corrente de excitação e tensão
de excitação secundária.

15. Descrever os efeitos da inserção de um entreferro não magnético num núcleo de um TC. A
partir das características de magnetização B-H da liga aço silício e do material do entreferro,
esboce a característica B-H resultante do TC.

16. A que se referem as designações TPX, TPY e TPZ, usadas para TCs?

17. Por que os TCs com entreferro não são adequados ao serviço de medição?

18. Explicar o que é saturação em CA e saturação em CC nos transformadores de corrente.

19. Explicar a influência dos seguintes fatores na saturação dos TCs: corrente primária, módulo
e ângulo da impedância do circuito secundário, área de seção reta do núcleo, relação de
espiras, constantes de tempo primária e secundária, fluxo residual no núcleo.

20. Quais as principais medidas que devem ser tomadas para evitar a saturação em CA nos TCs?
E em relação à saturação em CC?

21. Um TC possui curva de excitação secundária mostrada na Fig. 2, linearizada por partes. No
circuito equivalente, também mostrado na figura, têm-se RTC = 500/5 e Xs = 0,5 Ω.

Fig. 2

118
Chagas – DEE/UFCG

(a) Calcular o erro de relação percentual para os seguintes casos, apresentando também
uma interpretação em relação aos resultados obtidos.
▪ Xc = 4,5 Ω, Ip = 400 A (corrente de carga).
▪ Xc = 4,5 Ω, Ip = 1200 A (corrente de defeito).
▪ Xc = 13,5 Ω, Ip = 400 A (corrente de carga).
▪ Xc = 13,5 Ω, Ip = 1200 A (corrente de defeito).
(b) Caso haja um defeito na linha que produza uma corrente de 1200 A, verificar o que
ocorre quando o TC alimenta um relé de sobrecorrente cujo tape está ajustado em 8 A,
considerando os seguintes valores de impedância de carga: Xc = 4,5 Ω e Xc = 13,5 Ω.

22. São consideradas duas impedâncias de carga em um TC: Z1 = 2 0o  e Z2 = 2 45o .


Considerando a ocorrência de um curto-circuito, para qual das duas a saturação no TC se
manifesta de modo mais intenso?

23. Uma subestação de 230 kV apresenta nível de curto-circuito fase-terra igual a 7 GVA e
relação X/R do sistema alimentador igual 7,3. A corrente nominal de um dos alimentadores
de saída é 800 A, no qual transformadores de corrente de fator térmico nominal 1,2
alimentam relés de distância que representam uma carga C25 (ABNT). (a) Calcular a relação
de transformação nominal do TC para que ele seja adequado às condições de carga e não
sofra saturação em CA. (b) Qual deve ser a impedância da carga no secundário, em ohms,
para que não haja saturação em CC, considerando nulo o fluxo residual no núcleo? (c)
Repetir o item (b) para um fluxo residual de 0,85 pu do fluxo de saturação do núcleo.
Comentar os resultados encontrados.

24. Um TC apresenta o seguinte dado de placa: 10A200; em outro TC há a indicação 5B100.


Quais as informações que se pode obter desses dados?

119
Chagas – DEE/UFCG

Apêndice 2 – Simulações Computacionais Usando o Simscape/Matlab

As simulações a seguir devem ser realizadas através do toolbox Simscape/Matlab. É


conveniente que o aluno explore ao máximo as potencialidades do aplicativo mediante análise
e comentários dos resultados obtidos, variando as condições de operação do sistema.
O osciloscópio do Simscape apresenta algumas limitações para impressão dos resultados.
Nas simulações onde o multímetro não é usado, o aluno deverá usar no espaço de trabalho o
comando plot(variável), onde variável são as correntes e tensões de saída, Ia, Ib, Ic, Va, Vb ou
Vc, a fim de imprimir os gráficos em formato Matlab.

1. Considerar o circuito da Fig. 1, o qual representa o equivalente monofásico de um sistema


trifásico de 230 kV. O fenômeno a ser analisado é o comportamento de um TC em regime
transitório durante a ocorrência de um curto-circuito trifásico em uma linha de 80 km, a 5
km do terminal emissor. A linha deve ser simulada por células em pi de 1 km de
comprimento ligadas em série.

Fig. 1

Os dados são os seguintes:


▪ Um = 187,8 kV,  = 90o (valor de pico e ângulo de fase da tensão da fonte).
▪ RT = 0,56 Ω, LT = 19,5 mH (resistência e indutância da fonte).
▪ RL = 0,032 Ω/km, LL = 0,88 mH/km, CL = 12,33 nF/km (resistência, indutância e capacitância
de sequência positiva da linha, por km).
▪ P = 100 MW, Q = 36 Mvar (potência ativa e potência reativa da carga).

120
Chagas – DEE/UFCG

▪ U1N = 5/180 V (tensão nominal do enrolamento primário do TC).


▪ U1N = 5 V (tensão nominal do enrolamento secundário do TC).
▪ Os demais dados do TC são fornecidos no exemplo do item 9, Capítulo 4.
▪ o = 0 pu (fluxo residual no núcleo do TC). Esse valor deve ser especificado no bloco de
representação das grandezas do TC, junto de Rm, e também no bloco Fluxo residual, indicado
na Fig. 1. Neste segundo bloco, o fluxo residual deve ser especificado em unidades SI.
▪ RC = 1 ; LC  0 (resistência e indutância da carga do TC).
▪ Tempo transcorrido para fechamento da chave: 1,75/60 ms.
▪ Tempo total de simulação: 0,2 s.

2. Para avaliar a influência do ângulo de incidência do defeito na saturação do TC, repetir a


simulação 1, alterando o tempo de fechamento da chave para o valor 2/60 ms.

3. Para avaliar a influência da componente indutiva da carga na saturação do TC, repetir a


simulação 1 para uma carga de 1 + j2 .

4. Para avaliar a influência do módulo da impedância da carga na saturação em CC e em CA do


TC, repetir a simulação 1 para uma carga de 5 + j0 .

5. Para avaliar uma forma de operação de um TC próxima de um circuito aberto no secundário,


repetir a simulação 1 para uma carga de 30 + j0 . Para melhor qualidade dos gráficos
obtidos, estabelecer a seguinte configuração: Simulation  Model configuration  All
parameters  Relative tolerance  10-3  10-5.

6. Repetir a simulação 1 para um o fluxo residual o = 35 pu; depois, para o = - 35 pu.

7. Na Fig. 2 é mostrado um sistema de 230 kV. Simula-se um curto-circuito trifásico na linha de


transmissão, representada com parâmetros distribuídos, o qual ocorre a 20 km do extremo
emissor. Os dados são os seguintes:
▪ U = 230 kV,  = 0o (valor eficaz e ângulo de fase da tensão da fonte).
▪ SCC = 18 GVA (potência de curto-circuito trifásico da fonte).
▪ X/R = 32 (relação reatância/resistência equivalente da fonte).
▪ R1 = 0,098 Ω/km, X1 = 0,510 Ω/km, Y1 = 3,252 µS/km (resistência, reatância indutiva e
susceptância capacitiva de sequência positiva da linha, por km).
▪ R0 = 0,532 Ω/km, X0 = 1,541 Ω/km, Y0 = 2,293 µS/km (resistência, reatância indutiva e
susceptância capacitiva de sequência zero da linha, por km).
▪ U1N = 5/180 V (tensão nominal do enrolamento primário do TC).
121
Chagas – DEE/UFCG

▪ U1N = 5 V (tensão nominal do enrolamento secundário do TC).


▪ Os demais dados do TC são fornecidos no exemplo do item 9, Capítulo 4.
▪ o = 0 pu (fluxo residual no núcleo do TC).
▪ RC = 1 ; LC  0 (resistência e indutância da carga do TC).
▪ Tempo transcorrido para aplicação da falta: 0 ms.
▪ Tempo total de simulação: 0,1 s.

8. Considerar agora um curto-circuito trifásico a 10 km do extremo emissor da linha. Avaliar os


resultados obtidos. O que dizer a respeito do dimensionamento do TC?

9. Efetuar alterações nos parâmetros do circuito da Fig. 2, tal qual foi feito no caso do circuito
da Fig. 1. Avaliar os resultados obtidos.

Fig. 2

122
Chagas – DEE/UFCG

Apêndice 3 – Programa em Código Matlab para Cálculo de Transitórios em TCs

% -------------------------------------------------------------------------
% SIMULAÇÃO DO DESEMPENHO DE UM TC DE NÚCLEO TOROIDAL COM OU SEM ENTREFERRO
% USA-SE O MODELO DE HISTERESE JILES-ATHERTON E O MÉTODO EULER PROGRESSIVO
% -------------------------------------------------------------------------
clear all
clc
% -------------------------------------------------------------------------
% DADOS DO SISTEMA PRIMÁRIO
% -------------------------------------------------------------------------
Un = 230000; %Tensão nominal (V)
f = 60; %Frequência (Hz)
Rl = 0.0319; %Resistência em série da linha (ohms/km)
Xl = 0.3311; %Reatância em série da linha (ohm/km)
Rth = 0.56; %Resistência de Thévenin do sistema alimentador (ohms)
Xth = 7.30; %Reatância de Thévenin do sistema alimentador (ohms)
% -------------------------------------------------------------------------
% DADOS DO TRANSFORMADOR DE CORRENTE
% -------------------------------------------------------------------------
N1 = 1; %Número de espiras do primário
N2 = 180; %Número de espiras do secundário
Cn = 0.5; %Comprimento médio do núcleo (m)
Xg = 0; %Comprimento total do entreferro (mm)
S = 1.91e-3; %Área de seção reta do núcleo (m2)
Rs = 1.25; %Resistência total no secundário (Ohms)
Xs = 0; %Reatância total no secundário(Ohms)
Fstc = 20; %Fator de sobrecorrente
Fe = 0.95; %Fator de empilhamento do núcleo
B0 = 0; %Indução residual no núcleo (T)
% Dados do modelo Jiles Atherton - Curva anisterética por função racional
Ms = 1.72e6;
alfa = 1.32e-5;
cf = 0.1;
kp = 39.2;
a1 = 2730; a2 = 3209; a3 = 20294;
nr = 2;
bet = 0.96;
% -------------------------------------------------------------------------
% Dados gerais do defeito
% -------------------------------------------------------------------------
C00 = 3.75; %Número de ciclos de duração antes do defeito
C11 = 3.75; %Número de ciclos de duração da primeira falta
Ctt = 8.25; %Número de ciclos de duração do tempo morto
C22 = 12; %Número de ciclos de duração da segunda falta
Tet1 = 0; %Ângulo de fase da tensão do sistema primário que
%determina o instante de ocorrência da 1a falta (graus)
Tet2 = 0; %Ângulo de fase da tensão do sistema primário que
%determina o instante de Ocorrência da 2a falta (graus)
Dist = 5; %Distância do TC ao ponto de ocorrência da falta (km)
% -------------------------------------------------------------------------
% Degrau de tempo considerado no método de Euler
% -------------------------------------------------------------------------
Dt = 1e-6;
% -------------------------------------------------------------------------
CP = zeros; %Corrente primária
CS = zeros; %Corrente secundária
CE = zeros; %Corrente de excitação
UE = zeros; %Tensão excitação
H = zeros; %Campo magnético
B = zeros; %Densidade de campo magnético
M = zeros; %Magnetização

123
Chagas – DEE/UFCG

FL = zeros; %Fluxo magnético


DC = zeros; %Derivada da corrente
TP = zeros; %Tempo
% -------------------------------------------------------------------------
Urms = Un/sqrt(3);
Up = sqrt(2)*Urms;
mur0 = 4e-7*pi;
w = 2*pi*f;
R1 = Rth + Rl*Dist;
X1 = Xth + Xl*Dist;
Rc = Fstc*sqrt(R1^2+X1^2);
L1 = X1/w;
Rt = R1+Rc;
Xt = X1;
Zt = sqrt(Rt^2+Xt^2);
Lt = Xt/w;
Tet1 = Tet1*pi/180;
Tet2 = Tet2*pi/180;
R = Rs;
L = (Xs)/w;
Rtc = N2/N1;
S = Fe*S;
Xg = Xg/1e3;
T0 = C00*2*pi/w;
TD1 = C11*2*pi/w;
TM = Ctt*2*pi/w;
TD2 = C22*2*pi/w;
T01 = T0+TD1;
TM1 = T01+TM;
TMF = TM1+TD2;
NP = TMF/Dt;
% -------------------------------------------------------------------------
T = 0;
TP(1) = 0;
CP0 = Up/Zt;
CP(1) = CP0;
for j=2:NP
if (T+Dt) < T0
U = Up*cos(w*(T+Dt));
end
DER = (U-Rt*CP0)/Lt;
CP1 = CP0+Dt*DER;
if ((T+Dt) >= T0) && ((T+Dt)<T01)
U = Up*cos(w*(T+Dt)+Tet1);
DER = (U-R1*CP0)/L1;
CP1 = CP0+Dt*DER;
CPP = CP1;
end
if ((T+Dt) >= T01) && ((T+Dt) < TM1)
CP1 = CPP*exp(-900*(T+Dt-T01));
end
if ((T+Dt) >= TM1) && ((T+Dt) <= TMF)
U = Up*cos(w*(T+Dt)+Tet2);
DER = (U-R1*CP0)/L1;
CP1 = CP0+Dt*DER;
end
CP0 = CP1;
T = T+Dt;
CP(j) = CP1;
DC(j) = (CP(j)-CP(j-1))/Dt;
TP(j) = T;
end
ND = 1;
FMA = 0;
124
Chagas – DEE/UFCG

CS(1) = CP(1)/Rtc;
CE(1) = 0;
UE(1) = CS(1)*sqrt(Rs^2+Xs^2);
B(1) = B0;
H(1) = 0;
M(1) = B0/mur0;
FL(1) = N2*S*B0;
Ck = 1-cf;
for k = 2:NP
HE = H(k-1)+alfa*M(k-1);
HED = abs(HE);
FMA = Ms*(a1*HED+HED^nr)/(a3+a2*HED+HED^nr);
num = Ms*(a1*a3+nr*a3*HED^(nr-1)+(nr-1)*(a2-a1)*HED^nr);
den = (a3+a2*HED+HED^nr)^2;
DMA = num/den;
if HE < 0
FMA = -FMA;
end
kpm = kp*(1-bet*(M(k-1)/Ms)^2);
DMI = (FMA-M(k-1))/(ND*kpm);
if DMI >= 0
DMDH = (Ck*DMI+cf*DMA)/(1-alfa*cf*DMA-alfa*Ck*DMI);
end
if DMI < 0
DMDH = cf*DMA/(1-alfa*cf*DMA);
end
DHDB = 1/(mur0*(1+DMDH));
num = R*(CP(k-1)/Rtc-Cn*H(k-1)/N2-B(k-1)*Xg/(mur0*N2))+L*DC(k-1)/Rtc;
den = N2*S+L*(Cn*DHDB+Xg/mur0)/N2;
DBDT = num/den;
DHDT = DHDB*DBDT;
DMDT = DBDT/mur0-DHDT;
B(k) = B(k-1)+Dt*DBDT;
H(k) = H(k-1)+Dt*DHDT;
M(k) = M(k-1)+Dt*DMDT;
if H(k) >= H(k-1)
ND = 1;
end
if H(k) < H(k-1)
ND = -1;
end
FL(k) = N2*S*B(k);
CE(k) = H(k)*Cn/N2+B(k)*Xg/(mur0*N2);
CS(k) = (CP(k)/Rtc)-CE(k);
UE(k) = (FL(k)-FL(k-1))/Dt;
end
for k = 1:NP
CP(k) = CP(k)/Rtc;
end
% -------------------------------------------------------------------------
tamanho=11;
figure(1)
plot(TP, CP,'LineWidth', 1.5);
grid on;
xlabel('Tempo (s)','FontSize',tamanho);
ylabel('Corrente Primária (A)','FontSize',tamanho);
%
figure(2)
plot(TP, CS,'LineWidth', 1.5);
grid on;
xlabel('Tempo (s)','FontSize',tamanho);
ylabel('Corrente Secundária (A)','FontSize',tamanho);
%
figure(3)
125
Chagas – DEE/UFCG

plot(TP, CE,'LineWidth', 1.5);


grid on;
xlabel('Tempo (s)','FontSize',tamanho);
ylabel('Corrente de Excitação (A)','FontSize',tamanho);
%
figure(4)
plot(TP, UE,'LineWidth', 1.5);
grid on;
xlabel('Tempo (s)','FontSize',tamanho);
ylabel('Tensão Secundária (V)','FontSize',tamanho);
%
figure(5)
plot(TP, FL,'LineWidth', 1.5);
grid on;
xlabel('Tempo (s)','FontSize',tamanho);
ylabel('Fluxo de Enlace (V.s)','FontSize',tamanho);
%
figure(6)
plot(CE, FL,'LineWidth', 1.5);
grid on;
xlabel('Corrente de Excitação (A)','FontSize',tamanho);
ylabel('Fluxo de Enlace (V.s)','FontSize',tamanho);
% -------------------------------------------------------------------------

126

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