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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA

Portal Educação

CURSO DE
INSTRUMENTADOR CIRÚRGICO

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 4.0

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CURSO DE
INSTRUMENTADOR CIRÚRGICO

MÓDULO I

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
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mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são
dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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SUMÁRIO

MÓDULO I

1 NOÇÕES DE ANATOMIA HUMANA


1.1 DIVISÃO DO CORPO HUMANO
1.2 CONSTITUIÇÃO DO CORPO HUMANO
1.3 SISTEMAS DO CORPO HUMANO
1.3.1 Sistema tegumentar
1.4 SISTEMA ESQUELÉTICO
1.5 SISTEMA MUSCULAR
1.6 SISTEMA NERVOSO
1.7 SISTEMA ENDÓCRINO
1.8 SISTEMA CIRCULATÓRIO
1.9 SISTEMA RESPIRATÓRIO
1.10 SISTEMA DIGESTIVO
1.11 SISTEMA URINÁRIO
1.12 SISTEMA GENITAL FEMININO
1.13 SISTEMA GENITAL MASCULINO
1.14 PLANOS DE INSCRIÇÃO
1.15 EIXOS ORTOGONAIS E PLANOS DE SECÇÃO
1.16 PLANOS DE SECÇÃO DO CORPO
1.17 TERMOS DE POSIÇÃO
1.18 TERMOS DE DIREÇÃO
1.19 TERMOS DE SITUAÇÃO
1.20 OUTROS TERMOS DA DESCRIÇÃO ANATÔMICA
2 NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA
2.1 FUNÇÕES FISIOLÓGICAS
2.1.1 Digestão
2.1.2 Excreção
2.1.3 Respiração

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2.1.4 Circulação
3 NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA HUMANA
3.1 DEFINIÇÃO
3.2 IMPORTÂNCIA DA MICROBIOLOGIA
3.3 HISTÓRICO DA IMPORTÂNCIA DA MICROBIOLOGIA
3.4 CADEIA DE TRANSMISSÃO DOS AGENTES INFECCIOSOS
3.5 CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS
3.6 A MICROBIOLOGIA ATUALMENTE
3.7 PRINCIPAIS FUNÇÕES DOS MICRO-ORGANISMOS NA NATUREZA
3.8 MICRORGANISMOS COMO AGENTES DE DOENÇAS
4 NOÇÕES DE DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS
5 NOÇÕES DE ANESTESIOLOGIA
5.1 TIPOS DE ANESTESIA
5.1.1 Anestesia local
5.1.2 Bloqueios regionais
5.1.3 Anestesia raquidiana
5.1.4 Anestesia Epidural
5.1.5 Anestesia caudal
5.1.6 Anestesia Geral
5.1.7 Anestésico ideal
5.2 COMPLICAÇÕES
6 NOÇÕES DE HEMATOLOGIA
6.1 SANGUE
6.1.1 Funções do sangue
6.1.2 Composição
6.1.3 Doenças do sangue
6.2 HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO
6.2.1 Grupos sanguíneos
6.2.2 Sistema Rh
6.2.3 Transfusão de sangue
6.2.4 Transplante de medula óssea
7 NOÇÕES DE INFECÇÃO HOSPITALAR
7.1 DEFINIÇÃO

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7.2 PRINCIPAIS SINTOMAS
7.3 TRATAMENTO
7.4 PREVENÇÃO
7.5 CONTROLE

7.6 POTENCIAL DE CONTAMINAÇÃO DA INCISÃO CIRÚRGICA


7.7 NOSSAS DEFESAS CONTRA AS INFECÇÕES
7.8 RISCO DE UM INDIVÍDUO ADQUIRIR INFECÇÃO HOSPITALAR
7.9 COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR
8 ÉTICA PROFISSIONAL
8.1 FUNDAMENTOS DA ÉTICA E DA MORAL
8.2 FUNDAMENTOS DA ÉTICA
8.3 FUNDAMENTOS DA MORAL
8.4 ÉTICA PROFISSIONAL
8.5 CÓDIGO DE ÉTICA DO INSTRUMENTADOR CIRÚRGICO
8.6 JURAMENTO DO INSTRUMENTADOR CIRÚRGICO

MÓDULO II
9 ORGANIZAÇÃO HOSPITALAR
10 O CENTRO CIRÚRGICO
10.1 MONTAGEM DA SALA CIRÚRGICA
10.2 CIRCULAÇÃO NA SALA CIRÚRGICA
10.3 DESMONTAGEM DA SALA CIRÚRGICA
11 EQUIPAMENTOS DA SALA CIRÚRGICA
11.1 BISTURI ELÉTRICO
11.2 BISTURI BIPOLAR
11.3 BISTURI HARMÔNICO
11.4 BISTURI DE ARGÔNIO
11.5 ASPIRADOR CIRÚRGICO
11.6 FOCO CIRÚRGICO DE TETO
11.7 FOCO CIRÚRGICO PORTÁTIL
11.8 APARELHO DE ANESTESIA
11.9 MESA CIRÚRGICA

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11.10 BOMBA DE INFUSÃO
11.11 DESFIBRILADOR CARDÍACO
11.12 MONITOR MULTIPARAMÉTRICO
11.13 EQUIPAMENTOS DE VIDEOCIRURGIA
11.13.1 Fonte de Luz
11.13.2 Câmeras de vídeo
11.13.3 Insufladores
11.13.4 Pneumoperitônio
11.13.5 Morcelador
11.13.6 Shaver

12 CENTRAL DE MATERIAL ESTERILIZADO


12.1 ASPECTOS HISTÓRICOS
12.2 DEFINIÇÃO
12.3 VANTAGENS E ATIVIDADES
12.4 LOCALIZAÇÃO
12.5 FLUXO DE MATERIAIS
12.6 RECURSOS HUMANOS
12.7 CLASSIFICAÇÃO DE ARTIGOS
12.8 REPROCESSAMENTO E REESTERILIZAÇÃO
12.9 LIMPEZA DOS ARTIGOS
12.10 OBJETIVOS DA LIMPEZA DOS MATERIAIS
12.11 PRODUTOS DE LIMPEZA
12.11.1 Limpadores enzimáticos
12.11.2 Detergentes e desincrustantes
12.11.3. Lubrificante
12.12 MÉTODOS EMPREGADOS NA LIMPEZA DE ARTIGOS
12.12.1 Limpeza manual dos artigos
12.12.2 Limpeza mecânica dos artigos
12.12.3 Lavadora ultrassônica
12.12.4 Lavadora desinfetadora e esterilizadora
12.12.5 Lavadora de descarga
12.12.6 Lavadora pasteurizadora

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12.13 INSTRUMENTAIS CIRÚRGICOS
12.14 ARTIGOS ENDOSCÓPICOS
12.15 DESINFECÇÃO
12.16 PASTEURIZAÇÃO
12.17 EMPACOTAMENTO DOS ARTIGOS E INSTRUMENTAIS CIRÚRGICOS
12.17.1 Tecido de algodão
12.17.2 Papel grau cirúrgico
12.17.3 Papel Crepado
12.17.4 Papel Kraft
12.17.5 Filmes Transparentes
12.17.6 Tyvek
12.17.7 Lâminas de Alumínio e Caixas Metálicas
12.17.8 Contêineres Rígidos
12.17.9 Vidros refratários
12.18 PROCESSOS DE ESTERILIZAÇÃO DE ARTIGOS
12.18.1 Esterilização por vapor saturado sob pressão
12.18.2 Esterilização rápida (flash sterilation)
12.18.3 Esterilização por óxido de etileno (ETO)
12.18.4 Esterilização por ácido peracético
12.19 CONTROLE DO PROCESSO DE ESTERILIZAÇÃO
12.19.1 Controles químicos
12.19.2 Controles microbiológicos
13 ASSEPSIA E ANTISSEPSIA

MÓDULO III

14 PREPARO E FUNÇÃO DO INSTRUMENTADOR CIRÚRGICO


15 TEMPO CIRÚRGICO
15.1 DIÉRESE
15.2 HEMOSTASIA
15.3 SÍNTESE
15.4 EXÉRESE

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16 TERMINOLOGIA CIRÚRGICA
16.1 PREFIXOS E SUFIXOS
17 PARAMENTAÇÃO CIRÚRGICA
18 ESCOVAÇÃO
18.1 CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS ANTISSÉPTICOS
18.1.1 Alcoóis
18.1.2 Gluconato de Clorohexidina (GCH)
18.1.3 Polivinilperrolidona 10% iodo 1%
19 ESCOVAÇÃO CIRÚRGICA PROPRIAMENTE DITA
20 DEGERMAÇÃO
21 INSTRUMENTAIS CIRÚRGICOS
21.1 DIÉRESE CIRÚRGICA
21.2 PINÇAS HEMOSTÁTICAS
21.3 EXÉRESE CIRÚRGICA
21.4 EXAURIMENTO CIRÚRGICO
21.5 INSTRUMENTAIS PARA PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
21.6 INSTRUMENTAIS PARA DIVERSOS FINS
21.7 CUIDADOS NO MANUSEIO DO INSTRUMENTAL CIRÚRGICO
21.8 CONTAGEM DOS INSTRUMENTAIS CIRÚRGICOS
22 AGULHAS E FIOS CIRÚRGICOS
22.1 PARTES DAS AGULHAS
23 TÉCNICA DE MONTAGEM DE CAIXAS CIRÚRGICAS
24 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL QUE COMPÕE A MESA DO
INSTRUMENTADOR
24.1 BISTURI
24.2 PINÇAS DE DISSECAÇÃO
24.3 PINÇAS HEMOSTÁTICAS
24.3.1 Pinças hemostáticas traumáticas
24.3.2 Pinças hemostáticas não traumáticas
24.3.3 Pinças de tecidos
24.4 TESOURAS
24.5 AFASTADORES
24.6 PORTA-AGULHAS

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25 MONTAGEM DA MESA BÁSICA
26 MONTAGEM DA MESA AUXILIAR

MÓDULO IV

27 TÉCNICAS DE INSTRUMENTAÇÃO CIRÚRGICA EM DIVERSOS


PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS
28 ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CIRÚRGICO
28.1 CONCEITOS BÁSICOS
29 DRENOS
29.1 DRENO DE PENROSE
29.2 DRENO DE SUCÇÃO (PORTOVAC)
29.3 DRENO DE ABRAMSOM
29.4 DRENO DE KERR
30 CURATIVOS
30.1 DEFINIÇÃO
30.2 A ESCOLHA DOS CURATIVOS
30.3 TIPOS DE CURATIVOS
30.4 VANTAGENS DO MEIO ÚMIDO
30.5 NORMAS DE ASSEPSIA
30.6 NORMAS TÉCNICAS PARA REALIZAÇÃO DOS CURATIVOS
30.7 LAVAGEM DAS MÃOS
30.8 MATERIAL PARA CURATIVOS
30.8.1 Pacote de curativo
30.8.2 Soro fisiológico 0,9% ou água destilada
30.8.3 Técnica do jato de soro
30.8.4 Fita adesiva
30.9 TÉCNICA PARA REALIZAÇÃO DE CURATIVOS
30.9.1 Princípios básicos para a realização dos curativos
30.9.2 Curativos das feridas limpas
30.9.3 Feridas cirúrgicas e traumáticas

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30.9.4 Curativos das feridas contaminadas ou infectadas
30.9.5 Úlceras de estase venosa
30.9.6 Curativo de úlcera plantar
31 NOÇÕES DE PRIMEIROS-SOCORROS
31.1 SINAIS VITAIS
31.1.1 Pulso
31.1.2 Respiração
31.1.3 Pressão arterial
31.1.4 Temperatura
31.2 ABORDAGEM INICIAL A VÍTIMA
31.3 AVALIAÇÃO DA CENA
31.4 CABD PRIMÁRIO
31.4.1. Circulation (pulso e compressões torácicas)
31.4.2 Liberação de vias aéreas
31.4.3 Ventilação boca a máscara
31.4.4 Ventilação Boca a Nariz
31.4.5 Ventilação Boca a Estoma
31.4.6 Ventilação bolsa-valva-máscara
31.4.7 Defibrillation (desfibrilação FV/TV sem pulso)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MÓDULO I

1 NOÇÕES DE ANATOMIA HUMANA

A anatomia é a ciência que estuda a constituição e o desenvolvimento dos


seres vivos e o corpo humano em todas as suas estruturas. Podemos ainda definir a
anatomia como o estudo da estrutura de um organismo e das relações entre suas
partes.
Pode ser considerada também a parte da biologia que estuda a forma e a
estrutura dos seres organizados, bem como as relações entre os órgãos que se
constituem.
Anatomia é uma palavra de origem grega que significa cortar em partes e na
língua portuguesa podemos traduzir com a palavra “dissecação”. A dissecação é
uma palavra derivada do latim (dis = separar e secare = cortar).
O estudo da anatomia humana é realizado desde os primórdios da
humanidade, porém inicialmente era limitada apenas a observação a olho nu e pela
manipulação dos corpos.

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FIGURA 1 – HISTÓRIA DA ANATOMIA HUMANA

FONTE: Disponível em: <http://files.cienciasmorfologicas.webnode.pt/200000037-


31f5932ef8/I-D-2-13.jpg>. Acesso em: 21 jun. 2011.

Atualmente com a evolução das tecnologias, o estudo da anatomia tornou-se


mais qualificado, empolgante e claro.
O estudo da anatomia hoje é subdividido em três grandes áreas:
 Anatomia macroscópica;
 Anatomia de desenvolvimento;
 Anatomia microscópica.
A anatomia macroscópica é o estudo das estruturas observadas a olho nu,
podendo ou não utilizar os recursos tecnológicos.
A anatomia microscópica é aquela que está relacionada com as estruturas
corporais que não podem ser visualizadas a olho nu e ainda requer equipamentos
que aumentem as estruturas como, por exemplo, microscópios eletrônicos ou até
mesmos ópticos.
A anatomia de desenvolvimento estuda o desenvolvimento do ser humano a
partir da fertilização até a fase adulta. Essa área engloba ainda a embriologia, que é
a ciência que estuda o desenvolvimento até o nascimento.

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A posição anatômica do corpo humano é uma posição de referência para o
estudo da anatomia, dando significado aos termos empregados na descrição das
partes e regiões do corpo.
Esta posição serve como base para discussões sobre o corpo, sobre o modo
como o corpo se movimenta, sua postura e a relação entre cada área corporal.
Dessa forma, quando os anatomistas escrevem os textos científicos, referem-se ao
objeto descrito considerando o indivíduo na posição anatômica.
A descrição da posição anatômica é o corpo em pé, ou seja, em posição
ortostática, com os membros superiores estendidos ao lado do tronco e as palmas
das mãos voltadas para frente. O posicionamento da cabeça e dos pés é para frente
e o olhar direcionado para o horizonte.
A posição anatômica considera que a região anterior do corpo humano seja
o indivíduo com os braços ao longo do corpo e as palmas das mãos voltadas para
frente.

FIGURA 2 – POSIÇÃO ANATÔMICA

FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_sUwC3qG-


2a0/S_cPAdg0sjI/AAAAAAAAAAU/caN0vRFP0v8/s1600/Posi%C3%A7%C3%A3o+anatomica.jpg>.
Acesso em: 21 jun. 2011.

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1.2 DIVISÃO DO CORPO HUMANO

O corpo humano é dividido nas seguintes partes:


 Cabeça e crânio;
 Pescoço;
 Tronco= tórax, pelve, abdômen;
 Membros Superiores = ombro, braço, antebraço, mão;
 Inferiores = quadril, coxa, perna, pé.

1.2 CONSTITUIÇÃO DO CORPO HUMANO

O corpo humano é constituído por células e substâncias intracelulares


líquidas. São eles:
 Célula: É a menor unidade formadora dos tecidos do corpo humano.
Ela é microscópica e constitui-se de uma membrana externa, citoplasma e um
núcleo. Essas estruturas são imersas no citoplasma que é líquido. No núcleo
encontra-se o material genético da célula.
 Tecido: É um grupo de células que possuem a mesma função e
estrutura interna. O corpo humano é formado por tecidos nos quais podemos dividi-
los.
 Tecido epitelial: É formado por células justapostas e reveste o
organismo externamente e internamente, ou seja, a pele e as mucosas. Os tecidos
epiteliais são divididos em germinativos, glandulares e de absorção.
 Tecido conjuntivo: É formado por células separadas com muita
substância intercelular, na qual se encontram fibras elásticas e conjuntivas. Sua
função é de proteger os órgãos de armazenar gorduras.
 Tecido adiposo: É o tecido que contém energia em forma de gordura,
localizado logo abaixo da pele.

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 Tecido cartilaginoso: Este tecido é formado por células afastadas
entre as quais fica uma substância intercelular rígida, porém flexível. É o que forma
a cartilagem encontrada na traqueia, na orelha, nos tendões, septo nasal e nas
extremidades ósseas.
 Tecido ósseo: É formado por células chamadas de osteócitos, com
muitas substâncias intercelulares formada por sais de cálcio deixando-a rígida,
formando assim, os ossos do corpo humano.
 Tecido hematopoiético: É o tecido encontrado em determinados
pontos dos organismos que é responsável pela produção de elementos do sangue
 Tecido muscular: É o tecido que forma os músculos do corpo
humano. Possui células que têm a propriedade de se contrair e se alongar
chamados de fibras musculares. O tecido muscular pode ainda ser subdividido
conforme veremos abaixo.
 Musculatura lisa: Não apresentam estrias e são responsáveis pela de
contração involuntária.
 Musculatura estriada: As células possuem estrias transversais e são
responsáveis pela contração voluntária. Apresentam-se na cor vermelha. O tecido
muscular cardíaco é estriado, mas sua contração é involuntária.
 Tecido nervoso: É formado por células nervosas chamadas neurônio.
Sua função é transmitir os estímulos através de suas células.

1.3 SISTEMAS DO CORPO HUMANO

O corpo humano é dividido em sistemas e o instrumentador cirúrgico deve


ter conhecimento básico sobre estes sistemas para que possa atuar em qualquer
tipo de cirurgia.

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1.3.1 Sistema tegumentar

Este sistema é representado pela pele e seus anexos. A pele é o


responsável pelo revestimento do corpo. Sua função é proteger o corpo contra a
entrada ou saída exagerada de líquidos, manterem a temperatura interna estável,
defender o organismo das agressões ambientais, sejam essas, de ordem química,
física ou biológica, além de desempenhar um grande papel sensitivo e contribuir na
produção da vitamina D.
É composta pela derme, epiderme e tecido subcutâneo. Abaixo
descreveremos os detalhes de cada camada e seus anexos. São eles:
 Epiderme: Formada por cinco camadas de células sobrepostas, não
possui irrigação sanguíneas nem terminações nervosas! É ela que dá resistência à
pele, pois possui grande quantidade de queratina. A epiderme que confere a pela a
elasticidade e a flexibilidade.
 Derme: Encontra-se logo abaixo da epiderme, é irrigada por vasos
sanguíneos e aloja as terminações nervosas, o que confere a sensibilidade à pele
como um todo. Nesta camada também se localizam os vasos linfáticos, as glândulas
sebáceas e as sudoríparas.
 Subcutâneo: é uma camada de tecido conjuntivo frouxo localizado
abaixo da derme, a camada profunda da pele, unindo-a de maneira pouco firme aos
órgãos adjacentes
A pele possui os seus anexos, são eles:
 Pelos;
 Cabelos;
 Unhas;
 Glândulas sebáceas: São responsáveis pela lubrificação da pele e
possui poder bactericida. Formam-se junto à raiz dos pelos, havendo geralmente
várias glândulas para cada pelo.

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 Glândulas sudoríparas: Existentes em toda a extensão do corpo, porém
concentrando-se em algumas áreas específicas, como por exemplo, na região das
axilas, produzindo o suor.

1.4 SISTEMA ESQUELÉTICO

Esse sistema é formado pelos ossos, cartilagens e articulações. Sua função


é dar sustentação ao corpo, proteger os órgãos internos localizados em cavidades
por ele limitados, como por exemplo, a caixa torácica e o crânio.
É um elemento fundamental para a inserção dos musculosqueléticos, alguns
deles possuem em seu interior tecido hematopoiético. São de forma variada e no
adulto são em número de 206.
Podemos destacar os seguintes tipos de ossos:
 Longos: No comprimento predomina sobre a largura e espessura.
Podemos citar como exemplo os ossos dos membros superiores;
 Curtos: São os que se equivalem nas três dimensões. São exemplos,
rótula, ossos do carpo e vértebra.
 Planos: Comprimento e largura predominam sobre a espessura.
Podemos citar como exemplos os ossos de crânio;
 Pneumáticas: Apresentam ar em seu interior e são bastante leves.
Como exemplo, temos os ossos do maxilar.
Temos ainda outras estruturas que estão relacionadas com o sistema
esquelético. São elas:
 Esqueleto cefálico: É formado por uma parte superior, o crânio e uma
parte inferior, a face. Os ossos do crânio formam uma caixa resistente protegendo o
cérebro. Os ossos da face por sua vez protegem os órgãos do sentido como a visão,
olfato e gustação.
 Articulação: É a união de dois ou mais ossos.
 Coluna vertebral: Possui 33 vértebras em sua extensão, dispostas nas
regiões cervical, torácica, lombar, sacral e coccígea.

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 Costelas: São formadas por doze pares de ossos alongados que
delimitam a cavidade torácica. Sua função é de proteção do órgão e dar sustentação
do corpo.
 Esterno: É o osso achatado ímpar e ocupa a parte anterior do tórax.
 Membros superiores: São formados pela cintura escapular, braço,
antebraço e mão.
 Membros inferiores: São formados pela cintura pélvica, coxa, perna e
pé.

1.5 SISTEMA MUSCULAR

O sistema muscular é responsável por dar sustentação, movimento ao corpo


humano, auxiliar na produção de calor e nutrir o organismo em algumas situações
extremas.
É composto por músculos e tendões. Encontramos no corpo humano dois
tipos de músculos, o estriado e o liso.
O músculo estriado é formado por fibras que visualizadas no microscópio
apresentam estrias transversais, são chamados de músculos da vida, pois permitam
que nos relacionemos com o ambiente em que vivemos.
Tem a cor avermelhada e sempre estão ligados aos ossos através de dois
tendões laterais, por isso são também chamados de musculosqueléticos e se
contraem por ação da nossa vontade.
O músculo liso se encontra nas paredes de órgãos ocos, tais como os vasos
sanguíneos, na bexiga, no útero e no trato gastrointestinal. O músculo liso está
presente nestes órgãos, pois, por contrações peristálticas controladas
automaticamente pelo Sistema Nervoso Autônomo, tem o papel preponderante de
impulsionar sangue, urina, esperma, bile.
As propriedades dos músculos são:
 Elasticidade: permite ao músculo retornar a sua forma natural.
 Contratilidade: propriedade de se contrair por um impulso nervoso.

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Existem músculos que auxiliam em importantes funções vitais, como por
exemplo, o diafragma, que separa a cavidade abdominal da caixa torácica e
contraem quando respiramos.
Há ainda músculos que utilizamos também para aplicação de medicações
pela via intramuscular, como é o caso do deltoide e do glúteo.

1.6 SISTEMA NERVOSO

É composto pelo sistema nervoso central, dividido em encéfalo e medula e o


sistema nervoso periférico.
Sua função é perceber e identificar as condições ambientais externas,
bem como as condições reinantes dentro do próprio corpo e elaborar respostas
que adaptem a essas condições. Tem ainda uma função Sensorial, Integrativa e
Motora.

1.7 SISTEMA ENDÓCRINO

É composto pela epífese, hipófise, tireoide, paratireoide, glândulas


suprarrenais, pâncreas, ovários e testículos.
Suas principais funções são juntamente com o sistema nervoso, promover a
manutenção do equilíbrio do organismo, ou seja, a homeostase, por meio do
controle das funções biológicas.

1.8 SISTEMA CIRCULATÓRIO

Esse sistema é composto pelo coração e vasos sanguíneos como as


artérias, veias e capilares.
Suas principais funções:

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 Transporte de oxigênio, nutrientes, hormônios para as células;
 Remoção de produtos indesejáveis;
 Defesa do organismo por meio do transporte de antitoxinas e glóbulos
brancos;
 Auxilia na manutenção da temperatura corporal.

1.9 SISTEMA RESPIRATÓRIO

Suas principais funções são:

 Efetuar trocas gasosas, ou seja, captar oxigênio e remover gás


carbônico.

É composto pelas cavidades ou fossas nasais, faringe, laringe, traqueia,


brônquios, alvéolos e pulmões.

1.10 SISTEMA DIGESTIVO

Suas principais funções estão relacionadas com a digestão, realizando a


quebra de alimentos, a absorção dos componentes nutritivos e eliminação de
substâncias indesejáveis.
Seus principais componentes são: boca, língua, dentes, faringe, esôfago,
estômago, intestino delgado, intestino grosso, reto e ânus. Possui glândulas anexas
como as glândulas salivares, fígado e pâncreas.

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1.11 SISTEMA URINÁRIO

É composto pelos rins, ureteres, bexiga e uretra. Suas principais funções


estão relacionadas com a excreção de substâncias tóxicas, manter o equilíbrio
hídrico e controlar os íons.

1.12 SISTEMA GENITAL FEMININO

É composto pelos ovários, trompas, útero e vagina. Sua principal função


está relacionada com a reprodução da espécie humana.

1.13 SISTEMA GENITAL MASCULINO

É composto pela bolsa escrotal, testículos, epidídimo, canal deferente,


uretra, vesículas seminais, próstata e pênis.
Sua função é a mesma do sistema reprodutor feminino, ou seja, a
reprodução.

1.14 PLANOS DE INSCRIÇÃO

São denominados também de planos de delimitação, pois delimitam o corpo


humano por planos tangentes à sua superfície, os quais, com suas intersecções,
determinam a formação de um sólido geométrico, um paralelepípedo.

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Têm-se assim, para as faces desse sólido, os seguintes planos
correspondentes:
 Ventral ou anterior: plano vertical tangente ao ventre;
 Dorsal ou posterior: plano vertical tangente ao dorso;
 Lateral direito: plano vertical tangente ao lado do corpo;
 Lateral esquerdo: plano vertical tangente ao lado do corpo;
 Cranial ou superior: plano horizontal tangente à cabeça;
 Podal ou inferior: plano horizontal tangente à planta dos pés.

1.15 EIXOS ORTOGONAIS E PLANOS DE SECÇÃO

A partir destes planos de inscrição são determinados eixos e planos que são
utilizados como pontos de referência para descrever a situação, posição e direção
de órgãos ou segmentos do corpo.
Unindo o centro de dois planos de inscrição opostos obtêm-se três eixos:
 Eixo longitudinal ou craniocaudal;
 Eixo anteroposterior, dorsoventral ou sagital;
 Eixo laterolateral.

O deslocamento de um eixo sobre o outro define um plano que secciona o


corpo em duas partes. Estes planos, perpendiculares entre si são chamados de
planos de secção medianos ou sagitais, frontais ou coronais, transversais e
horizontais.

1.16 PLANOS DE SECÇÃO DO CORPO

Os planos de secção são “cortes” feitos no corpo em posição anatômica.


São eles:

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 Mediano ou sagital: planos de secção paralelos aos planos laterais que
divide o corpo em metade, direita e esquerda.
 Frontal ou coronal: planos de secção paralelos aos planos ventral e
dorsal, que divide o corpo de forma a separar os planos, ventral e dorsal.
 Transversal ou horizontal: planos de secção paralelos aos planos
cranial e podal, que divide o corpo horizontalmente.

1.17 TERMOS DE POSIÇÃO

Os termos de posição indicam proximidade aos planos de inscrição ou ao


plano de secção mediano. São termos comparativos e indicam que uma estrutura é,
por exemplo, mais cranial que outra.
Nenhum órgão ou estrutura é simplesmente cranial ou ventral, pois estes
planos são tangentes e, portanto estão fora do corpo e surgem apenas como
referência.
Destacamos como termos de posição:

 Medial: A estrutura que se situa mais próxima ao plano mediano em


relação à outra. Por exemplo, dedo mínimo em relação ao polegar.
 Lateral: A estrutura que se situa mais próxima ao plano lateral, direito
ou esquerdo, em relação à outra.
 Ventral ou Anterior: Estrutura que se situa mais próxima ao plano
ventral em relação à outra.
 Dorsal ou Posterior: Estrutura que se situa mais próxima ao plano
dorsal em relação à outra.
 Cranial ou Superior: Estrutura que se situa mais próxima ao plano
cranial em relação à outra.
 Podal ou Inferior: Estrutura que se situa mais próxima ao plano podal
em relação à outra.

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23
1.18 TERMOS DE DIREÇÃO

Acompanham os eixos ortogonais, ou seja, longitudinal ou craniocaudal,


anteroposterior ou dorsoventral e laterolateral. Como exemplo, podemos citar as
falanges estão alinhadas em direção craniocaudal, os ossos do carpo na direção
laterolateral, a traqueia e o esôfago estão alinhados na direção anteroposterior.

1.19 TERMOS DE SITUAÇÃO

São eles:

 Mediano: Situada exatamente ao longo do plano de secção mediano.


 Médio e intermédio: São termos que indicam situação de uma
estrutura entre outras duas, ou seja, médio quando as estruturas estão alinhadas na
direção craniocaudal ou anterodorsal e intermédio quando as estruturas estão em
alinhamento laterolateral.

1.20 OUTROS TERMOS DA DESCRIÇÃO ANATÔMICA

Os termos, proximal e distal são usados para comparar a distância de


pelo menos duas estruturas em relação:

 A raiz do membro;
 Ao coração;
 Ao encéfalo e medula espinhal.

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24
Proximal é a estrutura que se encontra mais próxima da raiz dos membros
(tronco), do coração ou do encéfalo e medula espinhal. Distal é a estrutura que se
encontra mais distante da raiz dos membros, do coração ou do encéfalo e medula
espinhal.
Palmar ou volar é a face anterior da mão. A face posterior das mãos é
chamada dorsal.
Plantar é a face inferior do pé. A face superior dos pés é chamada dorsal.
Oral e aboral são termos restritos ao tubo digestivo e indicam estruturas
mais próximas ou distantes da boca, respectivamente.
Aferente e eferente indicam direção e são usados em anatomia para vasos e
nervos. Aferente significa que impulsos nervosos ou o sangue são conduzidos da
periferia para o centro, eferente se refere à condução do centro para a periferia.
Eferente é a localização do centro para a periferia e aferente é a periferia
para o centro.
Fáscias são tecidos conjuntivos fibrosos que revestem ou delimitam órgãos
e músculos.
Os termos, superficial e profundo indicam as distâncias relativas entre as
estruturas e a superfície do corpo. São também termos de situação que indicam
estar contido nos planos superficiais ou nos planos profundos.
Nesse caso, o limite entre superficial e profundo é a fáscia muscular.
Estruturas superficiais são aquelas contidas no tegumento e estruturas profundas
estão abaixo do tegumento. Lesões limitadas ao tegumento são superficiais, e
lesões que atingem a fáscia muscular já são consideradas profundas.
Interno e externo se referem às faces dos órgãos ocos ou de cavidades e
também se referem às faces das costelas. Interno mais próximo do centro de um
órgão ou cavidade e externo mais afastado do centro de um órgão ou cavidade.

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25
2 NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA

A fisiologia é um ramo da Biologia que estuda os processos, atividades e


fenômenos característicos dos seres vivos. Observa o funcionamento e os
mecanismos que os regulam e regem.
A fisiologia humana baseia-se na anatomia para explicar a estrutura de
nosso corpo, na bioquímica para conhecer os processos químicos que nele ocorrem,
na biofísica para estudar os fenômenos físicos produzidos no corpo, e na genética
para explicar a herança e a variabilidade das características hereditárias.
Podemos ainda definir a fisiologia, que do grego significa "physis", natureza,
e "logos", conhecimento, como a ciência que estuda as funções dos seres vivos.
Muitos dos aspectos da fisiologia humana estão intimamente relacionados
com a fisiologia animal, em que muitas das informações disponíveis hoje têm sido
conseguidas graças à experimentação animal.
A anatomia e a fisiologia são campos de estudo estreitamente relacionados
onde a primeira incide sobre o conhecimento da forma e a segunda dedica-se ao
estudo da função de cada parte do corpo, sendo ambas áreas de vital importância
para o conhecimento médico geral.

2.1 FUNÇÕES FISIOLÓGICAS

2.1.1 Digestão

A digestão é um processo químico e mecânico onde ocorre a quebra das


moléculas dos nutrientes. Esses nutrientes são os lípidos, as proteínas, os
carboidratos e os ácidos nucleicos.

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O caminho do alimento é o seguinte:
 Boca;
 Faringe;
 Esôfago;
 Estômago;
 Duodeno;
 Intestino delgado;
 Intestino grosso;
 Reto;
 Ânus.
A bílis, produzida pelo fígado, emulsifica gorduras, facilitando a ação das
lipases. Os hormônios envolvidos na digestão são: gastrina, secretina,
colecistocinina e enterogastrona. Todos secretados por células epiteliais do trato
digestivo.
As pregas intestinais ou vilosidades são formadas por vasos sanguíneos e
linfáticos, tecido conjuntivo e tecido epitelial com microvilosidades, que aumentam a
superfície de absorção.
As enzimas gástricas não quebram carboidratos, mas apenas proteínas,
pela ação da pepsina, que é ativada pelo ácido clorídrico do suco gástrico. A tripsina
e a quimiotripisna estão inicialmente na forma de tripsinogênio e quimiotripsinogênio,
que são ativados pela enteroquinase no duodeno, quando o suco pancreático ali é
lançado.
Os monossacarídeos são obtidos a partir de dissacarídeos no intestino
delgado pela ação das enzimas entéricas: maltase, lactase e sacarase.
Todo o alimento é utilizado como fonte de energia ou construção da matéria
viva. O que estiver em excesso será armazenado na forma de lipídios, nos
adipócitos. Quando há carência de nutrientes, as gorduras começam a ser
mobilizadas como fonte de energia e a pessoa emagrece.
Alguns problemas do trato digestivo são a úlcera péptica, causada por
medicamentos ou pela bactéria Helicobacter pylori. Há falha na defesa do

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27
revestimento do estômago ou duodeno e a acidez gástrica ataca este revestimento e
surgem lesões e buracos, que ocasionam dores e azia.
A prisão de ventre ocorre quando os movimentos peristálticos do intestino
estão muito lentos e os resíduos ficam muito tempo no intestino, onde endurecem
devido à grande reabsorção de água.
A diarreia ocorre quando o intestino delgado fica irritado e os movimentos
peristálticos ficam muito lentos.
O fígado tem a função de armazenar glicose na forma de glicogênio,
armazenar algumas vitaminas, transformar glicídios em lipídios e proteínas, produzir
a bile.

2.1.2 Excreção

A excreção é a eliminação dos resíduos metabólicos resultantes das reações


químicas das células do organismo. Tais excretas nitrogenadas não podem
permanecer na circulação sanguínea por serem tóxicas.
Essas excretas podem ser a amônia, a ureia e o ácido úrico. Os animais
amoniotélicos excretam a amônia por ser uma substância muito solúvel em água. Os
animais uricotélicos excretam ácido úrico, que é muito pouco solúvel e não precisa
de quantidade relevante de água. Já os animais uriotélicos excretam ureia, que
requer pouca quantidade de água e é bem adaptada à excreção humana, pois
precisamos economizar o máximo de água possível.
A excreção do ser humano é feita pelos néfrons, que são a unidade filtradora
dos rins. Existem cerca de um milhão de néfrons em cada rim. Nosso rim é do tipo
metanefro, pois retira todos os metabólitos direto do sangue.
Aproximadamente 99% da água é reabsorvida e no ducto coletor é formada
a urina, armazenada na bexiga e liberada pela uretra.
Dois hormônios atuam na excreção humana: a aldosterona e o hormônio
antidiurético (ADH). O ADH é liberado pela hipófise e facilita a reabsorção de água
nos néfrons. O álcool inibe o ADH, produzindo urina mais diluída e abundante. A

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aldosterona, das suprarrenais, aumenta a reabsorção de íons nos túbulos do néfron
e atua, portanto, no controle osmótico do sangue.
Podemos citar alguns problemas do trato urinário. São eles:
 Uremia: Elevação da taxa de ureia no sangue;
 Glomerulonefrite: Inflamação dos glomérulos;
 Cálculos renais: Acumulação de cristais de sais minerais nos rins.

2.1.3 Respiração

A respiração é representada pelos processos de inspiração e expiração. O


sistema respiratório é formado pelas vias respiratórias e pelos pulmões.
O ar inspirado, rico em oxigênio, enche os pulmões ao nível dos alvéolos
com o sangue. Os pulmões são protegidos pela caixa torácica, formada pelo Esterno
e pelas costelas.
Os movimentos são feitos pelo músculo diafragma e pelos músculos
intercostais. Quando inspiramos, a caixa se expande e o diafragma desce, entrando
o ar.
Quando expiramos, a caixa volta ao normal e o diafragma sobe novamente,
expelindo o ar, cheio de gás carbônico. O sangue deve nutrir os tecidos e por isso
leva os nutrientes e os gases respiratórios.
Quando chega às células dos tecidos diversos, ocorre uma troca entre eles e
o sangue arterial, que libera o oxigênio e recebe o gás carbônico, que é carregado
principalmente sob a forma de íons Bicarbonato, mas também é levado dissolvido no
plasma e ligados à hemoglobina.
A anidrase carbônica é a enzima que vai catalisar a reação da água com o
dióxido de carbono no sangue. A hemoglobina é o pigmento das hemáceas que lhes
dá a coloração característica e através dos seus íons Ferro, carregam o oxigênio
inspirado para todas as células do corpo.
Tal oxigênio será utilizado para a respiração celular, com um saldo
energético de 38 ATPs para cada molécula de glicose.

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29
O monóxido de carbono, um gás inodoro, faz uma ligação altamente estável
com a hemoglobina, incapacitando-a de transportar o oxigênio. Se o indivíduo for
exposto ao gás carbônico por um período prolongado pode chegar à morte por
asfixia.
Em altitudes mais elevadas, o ar é mais rarefeito e a disponibilidade de
oxigênio, mais baixa. As pessoas que vivem ao nível do mar, ao subirem a tais
altitudes sentem o impacto da carência de oxigênio.
O organismo, para suprir tal carência, começa a produzir mais hemáceas na
medula óssea, pela ação do hormônio eritropoetina e, portanto, vai haver maior
número de moléculas de hemoglobina para captarem mais oxigênio.
Alguns problemas do trato respiratório são:
 Gripe e resfriado: Causados por vírus, que atacam as vias
respiratórias, os seios nasais e o ouvido;
 Tuberculose e pneumonia: Causadas por bactérias. A traqueia e os
brônquios podem ficar inflamados, podendo ocasionar a bronquite aguda, podendo
chegar aos pulmões causando a broncopneumonia.
 A bronquite crônica ocorre devido à irritação constante das vias aéreas
por ação do fumo, alergias e poluição do ar.
 O enfisema é uma destruição progressiva dos alvéolos, causada
principalmente pelo fumo.
 A asma é uma reação inflamatória nos brônquios, com edema,
hipersecreção de muco e contração da contração da musculatura lisa, provocando
falta de ar.

2.1.4 Circulação

A circulação é realizada através do tecido sanguíneo. O sangue circula por


vasos, as artérias, as veias e os capilares. A circulação humana é dupla, fechada e
completa.
O sangue passa duas vezes pelo coração em um circuito completo que dura
cerca de 1 minuto. O coração é composto de quatro cavidades: dois átrios e dois

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30
ventrículos. O átrio direito recebe sangue venoso do corpo através das veias cavas.
O ventrículo direito bombeia este sangue para os pulmões, onde ocorre a hematose,
através da artéria pulmonar.
O sangue arterial entra no átrio esquerdo e é bombeado para o corpo
através da sístole do ventrículo esquerdo e sai do coração para o corpo através das
artérias aorta e carótidas.
As cavidades são separadas por válvulas e há também válvulas entre os
ventrículos e os vasos por onde o sangue sai.
O miocárdio é o músculo cardíaco e este possui certa independência em
relação ao sistema nervoso, pois permite os batimentos cardíacos através de feixes
de células que transmitem um impulso elétrico permitindo os movimentos de sístole
e diástole de ambos os átrios e ambos os ventrículos. Esse feixe de células são o
nódulo sinoatrial, o nódulo atrioventricular, o feixe de Hiss e as fibras de Purkinje.
O sangue arterial leva nutrientes, gases respiratórios e hormônios para os
tecidos e recolhe excretas e gás carbônico. A troca ocorre ao nível dos capilares,
vasos bem finos e o que extravasa e não retorna devido à diferença de pressão na
parte arterial e na parte venosa do capilar, é recolhido pela circulação linfática, que
também transporta linfócitos, células de defesa do organismo.
O que é recolhido é mais tarde levado de volta ao sangue através das veias
subclávias.
A veia é todo vaso que entra no coração, não possui fibra elástica, é
complacente e localiza-se em regiões superficiais. A artéria é todo vaso que sai do
coração, independente do tipo de sangue que transporta, tem fibra elástica, parede
larga e rígida, redonda. Localiza-se em regiões profundas.
Alguns problemas do trato circulatório são:
 Aterosclerose: Endurecimento dos vasos sanguíneos pela deposição
de placas de gordura;
 Isquemia: Dificuldade de transporte de oxigênio e oxigenação das
células em geral;
 Trombose: Entupimento de um vaso, impedindo a passagem do
sangue;
 Acidente vascular cerebral: Rompimento de uma artéria do cérebro
devido a uma elevação brusca da pressão arterial;

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 Infarto Agudo do Miocárdio: Morte do miocárdio devido ao entupimento
das artérias que irrigam o coração, as coronárias. Os pincipais sintomas são dor no
peito esquerdo que irradia para o braço, dor na nuca, sudorese e dificuldade
respiratória. Entre as causas dos problemas cardíacos e circulatórios estão o
sedentarismo, obesidade, alimentação rica em gordura animal e gordura trans, fumo,
estresse, depressão e uso de anabolizantes.

3 NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA HUMANA

3.1 DEFINIÇÃO

A microbiologia é o ramo da biologia que estuda os microrganismos,


incluindo eucariontes unicelulares e procariontes, como as bactérias, fungos e vírus.
Atualmente, a maioria dos trabalhos em microbiologia é feita com métodos de
bioquímica e genética. Também é relacionada com a patologia, já que muitos
organismos são patogênicos.
Foi descoberta a origem das bactérias, tendo sido anterior a origem de
outros corpos, tais como protozoários, eucariotes e vírus. Dentre os citados, o último
a se desenvolver foram os protozoários, por tratar-se de seres com uma
complexidade maior:
 São muito pequenos, então eles não consomem muitos recursos;
 Alguns possuem ciclos de vida bastante curtos;
 Células podem sobreviver facilmente em isolamento das outras células;
 Eles podem-se reproduzir por divisão mitótica, permitindo a
propagação de clones idênticos em populações;
 Eles podem ser congelados por longos períodos de tempo. Mesmo se
90% das células são mortas pelo processo de congelamento, há milhões de células
em um mililitro da cultura líquida.
A grande caracterização dos micróbios tem nos permitido o uso deles como
ferramentas em outras linhas da biologia, como podemos citar logo abaixo:

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32
 Bactérias, principalmente a Escherichia coli, podem ser usadas para
reduplicar DNA na forma de um plasmídeo. Este DNA é frequentemente modificado
quimicamente in vitro e então inserido em bactérias para selecionar traços
desejados e isolar o produto desejado de derivados da reação. Após o crescimento
da bactéria e deste modo a replicação do DNA, o DNA pode ser adicionalmente
modificado e inserido em outros organismos.
 Bactérias também podem ser utilizadas para a produção de grandes
quantidades de proteínas usando genes codificados em um plasmídeo.
 Genes de bactérias têm sido constantemente inseridos em outros
organismos como genes repórteres.
 O sistema de hibridação em levedura combina genes de bactérias com
genes de outros organismos já estudados e os insere em uma célula de levedura
para estudar interações proteicas em um ambiente celular. E também vista na área
da computação.

A Microbiologia é classicamente definida como a área da ciência que se


dedica ao estudo de organismos que somente podem ser visualizados ao
microscópio.
Tendo como base esse conceito, a microbiologia aborda um vasto e diverso
grupo de organismos unicelulares de dimensões reduzidas, que podem ser
encontrados como células isoladas ou agrupados em diferentes arranjos.
Portanto, a microbiologia envolve o estudo de organismos procarióticos,
como as bactérias e organismos eucarióticos, como as algas, protozoários, fungos,
não podendo esquecer também seres acelulares, como os vírus.
É uma área do conhecimento que teve seu início com os relatos de Robert
Hooke e Antony van Leeuwenhoek, que desenvolveram microscópios que
possibilitaram as primeiras observações de bactérias e outros microrganismos a
partir da análise de diversos espécimes biológicos.
Embora van Leeuwenhoek seja considerado o "pai" da microbiologia, os
relatos de Hooke, descrevendo a estrutura de um bolor, foram publicados
anteriormente aos de Leeuwenhoek.

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33
Portanto, embora Leeuwnhoek tenha fornecido importantes informações
sobre a morfologia bacteriana, esses dois pesquisadores devem ser considerados
como pioneiros nesta ciência.
Nas últimas décadas, houve certa revolução no campo da microbiologia,
sendo acometida por profundas modificações, especialmente nos conhecimentos
sobre ecologia e classificação dos microrganismos.
Antigamente, os microrganismos, principalmente os procarióticos, eram
considerados seres unicelulares de comportamento independente, mesmo que
fossem encontrados em agrupamentos contendo diversas células.
Assim, a maior parte dos conhecimentos foi obtida a partir de culturas puras,
ou seja, o microrganismo era isolado da natureza e, após ser afastado dos demais
microrganismos, era cultivado em laboratório, gerando populações contendo um
único tipo celular.
Hoje, sabemos que a maioria dos microrganismos vive em comunidades na
natureza, compostas muitas vezes por inúmeros gêneros e espécies distintos, que
cooperam entre si, como em uma cidade microbiana. Tais associações são
denominadas biofilmes e exercem importantes atividades em nosso planeta.
Outra área que sofreu grandes modificações nas últimas décadas foi a
classificação dos microrganismos. Esta área ainda vem sendo muito debatida, mas
para os especialistas em microbiologia, é primordial destacar um novo grupo, o qual
foi por muito tempo foi considerado um ancestral das bactérias.
Esse grupo corresponde ao domínio Archaea, que consiste em um grupo
bastante peculiar de células procarióticas. Assim, é importante que tal tema seja
mais bem discutido.

3.2 IMPORTÂNCIA DA MICROBIOLOGIA

A microbiologia é uma área da Biologia que tem grande importância seja


como ciência básica ou aplicada.

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Quando destacamos como ciência básica, podemos incluir os estudos
fisiológicos, bioquímicos e moleculares, denominada assim de microbiologia
molecular.
Quando consideramos como ciência aplicada, podemos destacar os
processos industriais, controle de doenças, de pragas, produção de alimentos,
dentre outras.
Podemos destacar como áreas de estudo:
 Odontologia: Estudo de microrganismos associados à placa dental,
cárie e doenças periodontais. Há estudos com abordagem preventiva.
 Medicina, Enfermagem e Instrumentação Cirúrgica: Doenças
infecciosas e infecções hospitalares.
 Nutrição: Doenças transmitidas por alimentos, controle de qualidade
de alimentos e produção de alimentos.
 Biologia: Produção de antibióticos, hormônios, enzimas, insumos,
despoluição, dentre outros.
 Biotecnologia: Uso de microrganismos com finalidades industriais,
como agentes de biodegradação, de limpeza ambiental, etc.

3.3 HISTÓRICO DA IMPORTÂNCIA DA MICROBIOLOGIA

Podemos considerar que um dos aspectos mais negligenciados quando se


estuda a microbiologia referem-se às profundas mudanças que ocorreram no curso
das civilizações, decorrentes das doenças infecciosas.
De forma geral, as doenças provocavam um abatimento físico e moral da
população e dos exércitos, muitas vezes influenciando negativamente no desenrolar
e no próprio resultado da guerra.
A mobilização de tropas, resultando em uma aglomeração de soldados,
muitas vezes longa, em ambientes onde a condição de higiene e de alimentação
precária colaborava de forma importante na disseminação de doenças infecciosas,
para as quais não havia recursos terapêuticos na época.

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Ao mesmo tempo, em áreas urbanas em franca expansão, os problemas
mencionados acima eram também de grande importância, pois rapidamente as
cidades cresciam, sendo que as instalações sanitárias geralmente não
acompanhavam este crescimento da população.
Com a prática do comércio entre as diferentes nações emergentes, passou a
haver a disseminação dos organismos para outras populações, muitas vezes
susceptíveis a aqueles agentes infecciosos.
O declínio do Império Romano, com Justiniano (565 aC), foi acelerado por
epidemias de peste bubônica e varíola. Muitos habitantes de Roma foram mortos,
deixando a cidade com menos poder para suportar os ataques dos bárbaros, que
terminaram por destruir o Império.
Na Idade Média, várias epidemias novas se sucederam, sendo algumas
amplamente disseminadas pelos diferentes continentes e outras mais localizadas.
Dentre as principais moléstias podemos citar o tifo, varíola, sífilis, cólera e peste.
Em 1346, a população da Europa, Norte da África e Oriente Médio era de
cerca de 100 milhões de habitantes. Nesta época houve uma grande epidemia da
peste, que se disseminou através da “rota da seda”, que era a principal rota
mercante para a China, provocando um grande número de mortes na Ásia e
posteriormente espalhando-se pela Europa, onde resultou em um total de cerca de
25 milhões de pessoas, em poucos anos.
Outras epidemias da peste ocorreram nos séculos XVI e XVII, sendo que no
século XVIII, entre os anos de 1720 e 1722, uma última grande epidemia ocorreu na
França, matando cerca de 60% da população de Marselha, de Toulon.
A epidemia mais recente de peste originou-se na China, em 1892,
disseminando-se pela Índia, atingindo Bombaim em 1896, sendo responsável pela
morte de cerca de seis milhões de indivíduos, somente na Índia.
Antes da segunda Guerra Mundial, o resultado das guerras era definido
pelas armas, estratégias e “pestilência”, sendo esta última decisiva.
Na guerra dos 30 anos (1618-1648), onde protestantes se revoltaram contra
a opressão dos católicos, além do desgaste decorrente da longa duração do
confronto, as doenças foram determinantes no resultado final.
No período de Napoleão, em 1812, seu exército foi quase que
completamente dizimado pelo tifo, disenteria e pneumonia, durante campanha de

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retirada de Moscou. No ano seguinte, Napoleão havia recrutado um exército de
500.000 jovens soldados, que foram reduzidos a 170.000, sendo cerca de 105.000
mortes decorrentes das batalhas e 220.000 decorrentes de doenças infecciosas.
No ano de 1892, outra epidemia de peste bubônica, na China e Índia, foi
responsável pela morte de mais seis milhões de pessoas.
Até a década de 30, este era quadro, quando Alexander Fleming,
incidentalmente, descobriu um composto produzido por um fungo do gênero
Penicillium, que eliminava bactérias do gênero Staphylococcus.
Esse microrganismo pode produzir uma vasta gama de doenças no homem
e este composto, chamado de penicilina, teve um papel fundamental no desfecho da
Segunda Guerra Mundial, porque passou a ser administrado às tropas aliadas,
enquanto o exército alemão continuava a sofrer pesadas baixas no campo de
batalha.
Além destas epidemias, vale ressaltar a importância das diferentes
epidemias de gripe que assolaram o mundo e que continuam a manifestar-se de
forma bastante intensa até hoje.
Atualmente temos o problema mundial envolvendo a AIDS, o retorno da
tuberculose como doença oportunista, e o aumento progressivo dos níveis de
resistência aos agentes antimicrobianos que vários grupos de bactérias vêm
apresentando atualmente.

3.4 CADEIA DE TRANSMISSÃO DOS AGENTES INFECCIOSOS

Para que ocorram infecções parasitárias é fundamental que haja elementos


básicos expostos e adaptados às condições do meio.
Os elementos básicos da cadeia de transmissão das infecções parasitárias
são o hospedeiro, o agente infeccioso e o meio ambiente. No entanto, em muitos
casos, temos a presença de vetores, isto é, insetos que transportam os agentes
infecciosos de um hospedeiro parasitado a outro, até então sadio, ou seja, não
infectado, como podemos citar nos casos da febre amarela, da leishmaniose e
outras doenças.

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São elementos básicos da cadeia de transmissão:
 Hospedeiro: Em uma cadeia de transmissão, o hospedeiro pode ser o
homem ou um animal, sempre exposto ao parasito ou ao vetor transmissor. Na
relação parasito-hospedeiro, esse pode comportar-se como um portador que não
apresenta sintomas ou como um indivíduo que apresente sintomas, sendo que os
dois são capazes de transmitir a doença. O hospedeiro pode ser chamado de
intermediário quando os parasitas nele existentes se reproduzem de forma
assexuada, ou ainda podem ser considerados como definitivo, quando os parasitas
alojados nele se reproduzem de modo sexuado.
 Agente infeccioso: É um ser vivo capaz de reconhecer seu
hospedeiro, penetrar, desenvolver-se, multiplicar-se neste ser vivo e, mais tarde, sair
para alcançar novos hospedeiros.
 Meio ambiente: É o espaço constituído pelos fatores físicos, químicos
e biológicos, cujo intermédio são influenciados o parasito e o hospedeiro.
 Tipos de doenças: Destacam-se as doenças transmissíveis, são
causadas somente por seres vivos, chamados de agentes infecciosos ou parasitos.
E as doenças não transmissíveis, que podem ter várias causas, tais como
deficiências metabólicas, acidentes, traumatismos ou ainda ser de origem genética.
 Vírus: Os vírus são considerados partículas ou fragmentos celulares
capazes de se cristalizar até alcançar o novo hospedeiro. Por serem tão pequenos,
só podem ser vistos com o auxílio de microscópios eletrônicos. São formados
apenas pelo material genético, que pode ser o DNA ou RNA, e uma membrana
proteica. Não dispõem de metabolismo próprio e são incapazes de se reproduzir fora
de uma célula. Podem causar doenças no homem, animais e plantas.
 Bactérias: São micro-organismos muito pequenos, porém maiores que
os vírus, mas visíveis somente ao microscópio. Apresentam formas variadas e
pertencem ao reino Monera, sendo considerados como seres unicelulares, ou seja,
procariontes.

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3.5 CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS

Embora não tenha sido o primeiro a tentar classificar os seres vivos,


Linnaeus é considerado o "pai" da taxonomia moderna. Seus estudos são
considerados os pilares da taxonomia botânica e zoológica, pois foi o primeiro
estudioso a utilizar o sistema binomial de classificação.
Haeckel em 1866 incluiu o reino Protista, para classificar "animais" e
"vegetais" unicelulares. Haeckel apresentou um esquema que representaria a árvore
da vida, classificando os seres vivos em três reinos.
Whittaker em 1969 propôs um novo sistema de classificação, em que os
seres vivos seriam agrupados em cinco reinos, sendo separados principalmente
pelas características morfológicas e fisiológicas, tais como:
 Monera: Procariotos;
 Protista: Eucariotos unicelulares, protozoários sem parede celular e
algas com parede celular;
 Fungi: Eucariotos aclorofilados;
 Plantae: Vegetais;
 Animalia: Animais.
Embora extremamente úteis tais sistemas de classificação não refletiam a
história evolutiva dos seres vivos, uma vez que se baseavam exclusivamente em
características fenotípicas dos organismos.
Sua utilização trouxe um conceito profundamente errôneo e ainda difundido,
atualmente que é o de seres "menos evoluídos" e "mais evoluídos". Tais termos,
quando analisados por uma perspectiva mais moderna deveriam ser extintos, uma
vez que todos os seres estão em constante evolução e esses se modificam por
diversificação e não por progressão.
No entanto, esta questão foi abordada pelos estudos pioneiros de Carl
Woese e colaboradores, inicialmente publicados no final da década de 70.
De acordo com Woese, as moléculas registrariam a história da vida e, assim,
o DNA poderia ser considerado um fóssil molecular. A partir desta premissa, Woese

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e colaboradores propuseram um novo e revolucionário sistema de classificação
baseado principalmente em aspectos evolutivos (filogenéticos), pela comparação
das sequência de genes que codificavam o rRNA de diferentes organismos.
Dessa forma, Woese acreditava que organismos filogeneticamente próximos
exibiriam maiores semelhanças (menor diversificação) nas sequências que
organismos filogeneticamente distantes.
Esta nova proposta de classificação subdivide os seres vivos em três
domínios:
 Archaea: Composto por micro-organismos procariotos;
 Bactéria: Composto também por micro-organismos procariotos;
 Eukarya: Composto por micro-organismos eucariotos.
A princípio, acredita-se que estes três domínios divergiram a partir de um
ancestral comum.
As algas caracterizam-se por apresentarem clorofila, além de outros
pigmentos, sendo encontradas basicamente nos solos e águas.
Os protozoários correspondem a células eucarióticas, não pigmentados,
geralmente móveis e sem parede celular, nutrindo-se por ingestão e podendo ser
saprófitas ou parasitas.
Os fungos são também células sem clorofila, que apresentam parede
celular, realizam metabolismo heterotrófico e nutrem-se por absorção.
Os vírus são também abordados pela microbiologia, embora sejam
entidades acelulares, que não apresentam metabolismo próprio, sendo dependentes
de uma célula hospedeira.

3.6 A MICROBIOLOGIA ATUALMENTE

A definição clássica de microbiologia mostra-se bastante imprecisa, e até


mesmo inadequada, frente aos dados da literatura publicados nestas últimas
décadas.

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40
Podemos citar duas premissas que já não podem mais ser consideradas
como verdade absoluta na conceituação desta área de conhecimento, são elas: as
dimensões dos microrganismos e a natureza independente destes seres.
No ano de 1985 foi descoberto um organismo, denominado Epulopiscium
fischelsoni que, a partir de 1991, foi definido como sendo o maior procarioto já
descrito, exibindo cerca de 500 µm de comprimento.
Esta bactéria foi isolada do intestino de um peixe marinho, encontrado nas
águas da Austrália e do Mar Vermelho. Além de apresentar dimensões nunca vistas,
tal bactéria mostra-se totalmente diferente das demais quanto ao processo de
divisão celular, que ao invés de ser por fusão binária, envolve um provável tipo de
reprodução vivípara, levando à formação de pequenos “glóbulos”, que
correspondem às células filhas.
Recentemente, em 1999, outro relato descreve o isolamento de uma
bactéria ainda maior, isolada na costa da Namíbia. Esta, denominada Thiomargarita
namibiensis, pode ser visualizada a olho nu, atingindo aproximadamente 0,8 mm de
comprimento e 0,1 a 0,3 mm de largura.

3.7 PRINCIPAIS FUNÇÕES DOS MICRO-ORGANISMOS NA NATUREZA

Como sabemos, os micro-organismos possuem um importante papel como


componentes da flora residente de animais e plantas e em nosso dia a dia
convivemos com os mais diversos produtos microbiológicos naturais, como por
exemplo, o vinho, a cerveja, o queijo, dentre outros.
Paralelamente, não podemos deixar de lado a importância dos processos
biotecnológicos, envolvendo engenharia genética, que permitem a criação de novos
microrganismos, com as mais diversas capacidades metabólicas.
Os microrganismos desempenham também um importante papel nos
processos geoquímicos, tais como o ciclo do carbono e do nitrogênio, sendo
genericamente importantes nos processos de decomposição de substratos e sua
reciclagem.

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41
O carbono encontra-se na atmosfera primariamente como CO 2 , sendo
utilizado pelos organismos fotossintetizantes, para sua nutrição. Virtualmente, a
energia para o desenvolvimento da vida na Terra é derivada, em última análise, a
partir de luz solar.
A luz é captada pelas plantas e microrganismos fotossintetizantes, como por
exemplo, algas e bactérias, que convertem o CO 2 em compostos orgânicos.
Os animais herbívoros alimentam-se de plantas e os carnívoros alimentam-
se dos herbívoros.
Em termos de ciclo global, há um balanço entre o consumo de CO2 na
fotossíntese e sua produção por intermédio da mineralização e respiração. Esse
balanço, no entanto, vem sendo fortemente alterado por atividades humanas, tais
como a queima de combustíveis fósseis, promovendo um aumento da quantidade de
CO2 atmosférico, resultando efeito estufa.
A celulose existente nas plantas, embora seja um substrato extremamente
abundante na Terra, não é utilizável pela vasta maioria dos animais.
Por outro lado, vários microrganismos, incluindo fungos, bactérias e
protozoários a utilizam, como fonte de carbono e energia. Destes microrganismos,
muitos se encontram no trato intestinal de vários herbívoros e nos cupins.
Outra abordagem que tem se mostrado de grande valia para o homem
refere-se à introdução de genes bacterianos em outros organismos, chamados de
transgênicos, tais como plantas. Assim, está em franco desenvolvimento a obtenção
de plantas transgênicas resistentes a pesticidas ou ao ataque de insetos.

3.8 MICRORGANISMOS COMO AGENTES DE DOENÇAS

Os microrganismos podem provocar eventualmente doenças no homem,


outros animais e plantas. Apesar dos enormes avanços em relação ao tratamento de
doenças infecciosas, essas vêm se tornando novamente um tema preocupante, em
virtude do crescente surgimento de linhagens bacterianas cada vez mais resistentes
às drogas.

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42
Hoje, a Organização Mundial da Saúde vem demonstrando crescente
interesse nas doenças emergentes e re-emergentes, de origem infecciosa.

4 NOÇÕES DE DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS

Na área médica, uma doença infecciosa ou doença transmissível é qualquer


doença causada por um agente biológico, como por exemplo, um vírus, bactéria ou
parasita, em contraste com causa física, como uma grave queimadura, uma fratura
exposta ou ainda uma intoxicação química.
Exemplos de doenças infecciosas:
 Malária;
 Dengue;
 Febre amarela;
 Leptospirose;
 Hepatite A;
 Hepatite E;
 Febre tifoide;
 Cólera;
 Poliomielite;
 Sarampo;
 Rubéola;
 Caxumba;
 Tétano;
 Difteria;
 Antraz;
 Sars;
 Varicela;
 Tuberculose;
 Doença meningocócica;
 Gripe;
 Estafilococcias;

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 Estreptococcias;
 Gripe suina;
 AIDS (HIV).

As doenças infectocontagiosas, de forma bem simples, são doenças


causadas por diferentes agentes, bactérias ou vírus, em sua maioria, que podem ser
transmitidas diretamente de uma pessoa doente para outra pessoa, estando esta
doente ou não.
As principais doenças infectocontagiosas são as transmitidas pela via
denominada fecal-oral por meio de água e alimentos contaminados, por via
respiratória, como no caso de secreções respiratórias, pelo contato sexual, atingindo
pessoas que são sexualamente ativas.
Várias dessas afecções podem ser prevenidas por meio da vacinação. É o
caso de doenças como Hepatite B, HPV, sarampo, tuberculose, varicela, gripe, entre
outras.
Geralmente, medidas básicas de saúde e bem-estar são sempre indicadas
para controle da transmissão de agentes infecciosos, como alimentação equilibrada,
uma noite adequada de sono adequado e ventilação nos ambientes da casa.
Os cuidados variam conforme a via de transmissão preferencial, como por
exemplo, as pessoas sexualmente ativas devem evitar ter relações sexuais sem
preservativos, evitando assim, adquirir uma doença sexualmente transmissível.
Com relação às doenças transmitidas na forma fecal-oral, um cuidado
importante a ser levado em conta é a correta manipulação dos alimentos e bebidas e
as boas condições sanitárias.
Portanto, beber água somente filtrada e/ou fervida, higienizar bem os
alimentos antes do consumo e dar atenção ao acondicionamento e às condições de
temperatura a que são submetidos.
Se a doença a ser evitada tem transmissão pelas secreções respiratórias, é
aconselhável o uso de máscaras e o isolamento do paciente. Ensine-o a usar um
lenço de papel para tapar a boca e o nariz sempre que espirrar ou tossir e a jogá-lo
diretamente no lixo. Deve-se evitar o uso de toalhas e substituí-las por lenços de
papel, e fazer sempre a desinfecção de mobílias e equipamentos de higiene
utilizados.

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A lavagem das mãos é a forma mais eficaz de prevenir as infecções
transmitidas pelo contato e pela via fecal-oral, como gripes, conjuntivites e diarreias
infecciosas e ainda auxilia na prevenção daquelas transmitidas por via respiratória.
O instrumentador cirúrgico não pode nunca se esquecer deste princípio
básico, pois estará trabalhando com o paciente em uma condição frágil, portanto
propenso a adquirir e transmitir infecções.
O simples ato de lavar as mãos previne até 80% a transmissão das doenças
infecciosas. A lavagem das mãos é o procedimento de mais fácil acesso a todos os
profissionais e instituições hospitalares, ou seja, é barato, prático e de alta eficácia.
Essa medida deve ser estimulada ainda mais no ambiente hospitalar, com a
disponibilização de lavabos, sabonete líquido. É importante também que os
profissionais de saúde sejam orientados e treinados para evitar a transmissão
cruzada entre os pacientes.
Como já citamos anteriormente, mas estaremos reforçando aqui, as doenças
infecciosas podem ser causadas por vírus, como a hepatite, a rubéola e o sarampo,
ou por bactérias, como o tétano e a meningite.
Contra os vírus, o único tratamento, na maioria dos casos, é a vacina. Se
esta não existir, o organismo ou vence a infecção com os seus próprios anticorpos
ou entra em sofrimento.
Se o responsável for uma bactéria, no caso de não ter sido efetuada uma
prevenção com uma vacina, ou de esta não existir, a infecção será combatida com
antibióticos.
Às vezes, porém, a doença consegue provocar lesões graves ou
completamente irreparáveis, antes que se consiga intervir com o antibiótico, como é
o caso, por exemplo, do tétano.
O instrumentador cirúrgico deve lembrar que as doenças infecciosas são
contagiosas, ou seja, podem ser transmitidas de uma pessoa para outra. Elas
podem ser transmitidas por contato com a pele, através de fluidos corporais, em
alimentos ou bebidas contaminados ou por partículas do ar que contenham micro-
organismos, embora os caminhos e facilidade de transmissão variem de uma
doença para outra.
Outra forma de transmissão muito comum em nosso país são as picadas de
insetos ou mordidas de animais. Se um inseto picar uma pessoa infectada, ele pode

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transmitir o micro-organismo e passar a doença para outra por meio de uma nova
picada.

5 NOÇÕES DE ANESTESIOLOGIA

De todas as especialidades médicas aquela que envolve mais mistério é a


anestesia. Envolta numa bruma de falsos conceitos e antigos dogmas, o
desconhecimento do que é a anestesia quando o paciente é anestesiado é o grande
responsável por este medo.
Sem contar que muitos casos de intercorrências relacionadas às cirurgias
são creditados ao procedimento anestésico, porém nem sempre essa é a causa da
intercorrência.
A palavra anestesia deriva do grego e significa “ausência de sensações”.
Trata-se de um estado induzido por medicamentos, que torna possível a execução
de procedimentos terapêuticos e diagnósticos sem dor.
A maioria das pessoas associa a palavra anestesia a anestesia geral, porém
a anestesia pode ser geral, regional, local ou sedação. Muitas vezes, esses tipos de
anestesias podem ser combinados entre si.
A anestesia é uma especialidade médica recente, tendo sido o primeiro
anestésico administrado em Boston, em 1846 por William Morton.
Anestesiologia é a especialidade médica que estuda e proporciona ausência
ou alívio da dor e outras sensações ao paciente que necessita realizar
procedimentos médicos, como cirurgias ou exames diagnósticos, identificando e
tratando eventuais alterações das funções vitais.
A especialidade vem a cada dia ampliando suas áreas de atuação,
englobando não só o Período Intraoperatório, bem como os períodos Pré e Pós-
Operatórios.
Realiza ainda o atendimento ambulatorial para avaliação pré-anestésica,
assumindo um papel fundamental pós-cirúrgico no acompanhamento do paciente
tanto na sala de recuperação pós-anestésica e nos centros de terapia intensiva

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quanto no ambiente da enfermaria, realizando cuidados paliativos até o momento da
Alta Hospitalar.
O médico anestesiologista, comumente chamado de anestesista, é o
profissional que, após concluir o curso de Medicina, deve realizar a residência
médica, que equivale a uma especialização por no mínimo três anos.
A anestesiologia é uma especialidade médica em que os seus elementos
são peritos, nas áreas de anestesia, medicina intensiva, dor aguda, dor crônica e
reanimação.
Os médicos anestesistas são comumente encontrados em centros cirúrgicos
e em clínicas de tratamento de dor. Existem ainda os profissionais que trabalham em
serviços de urgência.
No Brasil, sua prática, bem como a discriminação das condições mínimas
para a segurança do paciente, e a divisão de responsabilidades entre os
profissionais que a exercem, é especificada em resolução do Conselho Federal de
Medicina (CFM) número 1802/06.

5.1 TIPOS DE ANESTESIA

5.1.1 Anestesia local

Baseia-se na infiltração de anestésicos locais nas proximidades da área a


ser operada, usualmente empregada em cirurgias de superfície de pequeno ou
médio porte. Auxilia no tratamento da dor pós-operatória quando utilizada sozinha ou
em associação com outras técnicas anestésicas.
Na anestesia local, um anestésico local é injetado na pele e tecidos moles
circundantes à zona que se pretende operar, sendo restrita a área que permanece
entorpecida.

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5.1.2 Bloqueios regionais

Nos bloqueios regionais tenta-se impedir a condução do estímulo doloroso


na emergência de nervos e troncos, a exemplo do bloqueio do plexo braquial
realizado na região cervical ou axilar, com o objetivo de anestesia de todo o membro
superior, ou até mesmo o bloqueio de troncos nervosos ao nível do cotovelo, do
punho, ou ainda nas porções proximais dos dedos visando anestesiar de todo o
dedo.
Há ainda uma técnica de bloqueio regional intravenoso desenvolvida por
August Bier para cirurgias rápidas dos membros superiores e membros inferiores(pé
e terço distal de perna, principalmente), que ficou consagrada como Bloqueio de
Bier. A anestesia raquidiana e peridural também são considerados bloqueios
regionais.

5.1.3 Anestesia raquidiana

Também denominada de raquianestesia, anestesia intratecal e anestesia


subaracnoídea. Baseia-se na administração de anestésico local diretamente no
líquor.
Suas principais vantagens são:
 Início rápido de ação;
 Curta latência;
 Boa intensidade de bloqueio sensitivo e motor;
 Possibilidade de analgesia pós-operatória prolongada.
As possíveis desvantagens são:
 Maior ocorrência de cefaleia em relação as outras técnicas
anestésicas;

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 Limitada duração da anestesia quando utilizado técnica sem a
colocação de catéteres.
O anestésico local preconizado em raquianestesia há algum tempo é a
bupivacaína 0.5% pesada com glicose a 8%, por essa ser mais segura que a
lidocaína hiperbárica a 5%, por meio desta técnica anestésica pode propiciar o
aparecimento da síndrome da cauda equina e de sintoimas neurológicos transitórios
embora sejam complicações raras.

5.1.4 Anestesia Epidural

Esse tipo de anestesia é conhecida também como peridural e baseia-se na


aplicação de anestésico em um espaço virtual entre o ligamento amarelo e a dura-
máter.
As principais possíveis vantagens são:
 A menor incidência de cefaleia quando comparado à raquianestesia;
 Possibilidade de realização de bloqueios mais restritos à faixas de
dermátomos;
 Maior facilidade de realização de técnicas com utilização de catéteres
Como desvantagens podemos citar:
 Latência maior, ou seja, o tempo para iniciar ação;
 Menor intensidade de bloqueio sensitivo e motor;
 Maior possibilidade de toxicidade por anestésico local já que é utilizado
volumes cerca de dez vezes maiores que os utilizados em anestesia subaracnoidea.

5.1.5 Anestesia caudal

É semelhante fisiologicamente à anestesia peridural sendo realizada por


punção do hiato sacral, podendo ser uma alternativa ao bloqueio epidural para

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procedimentos cirúrgicos e obstétricos das regiões perineal e anorretal. É muito
comum em anestesia pediátrica.

5.1.6 Anestesia Geral

A anestesia geral refere-se a um estado de inconsciência reversível,


imobilidade física, analgesia e bloqueio dos reflexos autonômicos obtidos pela
administração de fármacos específicos.
Neste tipo de anestesia, o paciente permanece inconsciente durante todo o
procedimento. A anestesia processa-se em três fases: Indução, Manutenção e
Recobro.
Envolve a administração de fármacos capazes de produzir inconsciência e
analgesia, seja por via inalatória ou por via endovenosa. A respiração é controlada
através da colocação de uma máscara sobre a face do paciente ou por meio de um
tubo através das vias respiratórias, denominado tubo orotraqueal.
A musculatura pode ser paralisada a fim de reduzir a tensão muscular e
permitir ao médico cirurgião melhores condições de trabalho, sendo a ventilação
assegurada pelo ventilador mecânico acoplado ao aparelho de anestesia.
Geralmente, realiza-se uma indução endovenosa e utiliza-se a via inalatória
para a manutenção da anestesia. No final da intervenção, o anestesista procede à
reversão de alguns dos fármacos utilizados, até que o paciente recupere o estado de
consciência ainda na sala operatória.
Os componentes de uma anestesia geral são:
 Analgesia;
 Hipnose:
 Controle dos reflexos autonômicos e relaxamento muscular.
Na atualidade para realização de uma anestesia geral utiliza-se comumente:
 Hipnóticos visando inconsciência, amnésia;
 Opioides visando analgesia e proteção contra os reflexos autonômicos;
 Bloqueadores neuromusculares visando imobilidade;

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 Bloqueios regionais associados visando analgesia e proteção
autonômica;
 Fármacos adjuvantes visando efeitos diversos como controle da
pressão arterial, frequência cardíaca, tratamento de intercorrências tais como
alergias entre outras funções.
A inconsciência pode não ocorrer nos casos em que se deseje algum grau
de proteção ao paciente ou em situações de extremo risco de morte, como por
exemplo, gravidez, traumatizado multisistêmico, idosos e pacientes com algum grau
de choque, seja ele hipovolêmico, séptico ou cardiogênico. Quanto maior a
profundidade da anestesia, maior o grau de inconsciência.

5.1.7 Anestésico ideal

O anestésico ideal será aquele que provoca indução e recuperação da


anestesia rápida e agradável para o doente, ao mesmo tempo possuindo uma
profundidade de anestesia apropriada para a cirurgia a realizar, promovendo um
adequado relaxamento muscular.
Deve ter, também uma boa margem de segurança para o doente, não
apresentando reacções adversas.
Qualquer que seja a técnica anestésica escolhida, o anestesista permanece
sempre ao lado do paciente durante todo procedimento cirúrgico, monitorando os
sinais vitais do paciente avaliando o eletrocardiograma, pressão arterial, saturação
de oxigênio, controlando a dose de medicamento anestésico utilizado na
manutenção, bem como a reposição aos fluidos corporais.
O anestesista é um dos responsáveis pelo paciente período imediatamente
antes, durante e logo após o fim da intervenção, o chamado período perioperatório,
mesmo que o paciente não perceba ou lembre-se de nada.
A anestesia tem a duração necessária para que seja efetuado o
procedimento; o anestesista prescreve (receita) ainda a analgesia (ausência de dor)
no pós-operatório imediato.

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5.2 COMPLICAÇÕES

Um dos grandes mitos relacionados à anestesia refere-se com as


complicações que o procedimento pode resultar.
De um modo geral, o risco de sofrer complicações devido à anestesia no
período perioperatório é muito pequeno, principalmente com o desenvolvimento de
equipamentos de monitorização, técnicas e drogas cada vez mais seguras, sem
contar com o melhor preparo dos médicos anestesistas.
Estes riscos dependem também do estado pré-operatório do paciente, como
por exemplo, idade, obesidade, doenças prévias, medicamentos em uso, tabagismo,
do tipo de cirurgia que será realizada e do caráter do procedimento, se este é eletivo
ou de urgência.
Existem complicações de menor importância e complicações que podem
colocar a vida do paciente em risco. As complicações também podem ser divididas
em frequentes e raras.
Os problemas mais comuns que podem ocorrer após um procedimento
anestésico são:
 Náuseas e vômitos no período pós-operatório;
 Dores de garganta, relacionadas com o tubo endotraqueal usado na
anestesia geral;
 Dores nas costas, devido à técnica anestésica ou posição durante o
procedimento;
 Cefaleias devido à anestesia regional, stress ou jejum prolongado.
Raramente podem ocorrer os seguintes agravos:
 Problemas cardiorrespiratórios;
 Lesões nervosas devido à técnica anestésica ou posição durante o
procedimento;
 Acordar no período intraoperatório é uma preocupação constante;
 Lesão dentária devido à utilização do laringoscópio;
 Reações anafiláticas aos medicamentos anestésicos.

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Os pacientes também têm um papel muito importante na prevenção de
complicações, realizando cuidados simples, como por exemplo:
 Respeitar o jejum pré-operatório de 6 horas para alimentos sólidos e de
duas a quatro horas para alimentos líquidos;
 Informar o médico sobre alergias, medicamentos em uso e
antecedentes anestésicos;
 Retirar próteses dentárias móveis.
O anestesista deve estabelecer com o paciente uma relação de empatia
desde a visita pré-anestésica, pois assim, o paciente irá confiar no médico, e o
procedimento cirúrgico-anestésico terá tudo para transcorrer sem intercorrências.

6 NOÇÕES DE HEMATOLOGIA

A hematologia é o ramo da biologia que estuda o sangue. A palavra é


composta pelos radicais gregos: Haima (de haimatos), "sangue" e lógos, "estudo,
tratado, discurso".
A Hematologia estuda os elementos figurados do sangue, ou seja, as
hemácias, chamadas também de glóbulos vermelhos, denominados de glóbulos
brancos e as plaquetas.
Estuda ainda, a produção desses elementos e os órgãos onde eles são
produzidos pelos órgãos hematopoiéticos: medula óssea, baço e linfonodos.
Além de estudar o estado de normalidade dos elementos sanguíneos e dos
órgãos hematopoiéticos, estuda as doenças a eles relacionadas.

6.1 SANGUE

O sangue é um tecido vivo, produzido na medula óssea dos ossos chatos,


vértebras, costelas, quadris, crânio e esterno (nas crianças, também os ossos
longos como o fêmur, produzem sangue), que circula pelo corpo, levando oxigênio e

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nutrientes a todos os órgãos.
O sangue, juntamente com o coração e os vasos sanguíneos compõe o
sistema circulatório. É uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do
organismo. Em uma pessoa normal sadia, cerca de 45% do volume de seu sangue
são células como os glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas.
O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões e adquire
uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos
pequenos vasos denominados capilares.
Esse movimento circulatório do sangue ocorre devido à atividade
coordenada do coração, pulmões e das paredes dos vasos sanguíneos. O sangue
transporta ainda muitos sais e substâncias orgânicas dissolvidas.
No interior de muitos ossos, há cavidades preenchidas por um tecido macio,
a medula óssea vermelha, onde são produzidas as células do sangue: hemácias,
leucócitos e plaquetas.
O ramo que estuda o sangue e as suas doenças é a hematologia.

6.1.1 Funções do sangue

O sangue, como parte integrante do meio interno, relacionado com todas as


células do organismo, permite o intercâmbio com o meio externo, contribui para a
alimentação das células e para a eliminação de seus resíduos.
Além disso, como líquido circulante, desempenha outras funções, tais como:
 Permite a comunicação entre os órgãos, por meio dos hormônios;
 Contribui para a defesa do organismo, por meio das células do sistema
imune;
 Alguns de seus elementos constituintes são encarregados de vedar a
parede de um vaso lesionado por meio do processo denominado, coagulação
sanguínea, impedindo assim, a ocorrência de hemorragias;
 Conduzir elementos essenciais para todos os tecidos do corpo;
 Oxigênio para as células e tecidos;
 Condução de CO2 para sua eliminação nos pulmões;

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 Coleta de excreções metabólicas e celulares;
 Encaminha as excreções nos órgãos excretores;
 Exerce importância no Sistema imunológico na defesa contra
infecções;
 Auxilia na termorregulação do organismo.

6.1.2 Composição

No sangue encontramos o plasma, responsável por 66% de seu


volume, além das hemácias, dos leucócitos e das plaquetas, responsáveis por
aproximadamente 33% de sua composição.
A maior parte do plasma é formada por água (93%), daí a importância
de sempre nos mantermos hidratados ingerindo bastante líquido. Nos 7%
restantes encontramos oxigênio, glicose, proteínas, hormônios, vitaminas, gás
carbônico, sais minerais, aminoácidos, lipídios, ureia, etc.
A função plasma é realizar o transporte de hemácias, leucócitos,
plaquetas e outras substâncias dissolvidas, como proteínas, nutrientes, excretas
hormônios, anticorpos, sais e íons, gases na forma de ácido carbônico ou
bicarbonato.
O plasma transporta essas substâncias por todo organismo, permitindo às
células a receber nutrientes e excretar e/ou secretar substâncias geradas no
metabolismo. É formado por cerca de 90% de água e 10% outras substâncias.
É um líquido amarelado formado principalmente por água (90%), onde estão
dissolvidas diversas substâncias: proteínas, açúcares, lipídios, hormônios e produtos
da atividade celular. O componente plasmático mais abundante são as proteínas
(6% do volume), entre as quais se destacam a albumina, as imunoglobulinas e as
proteínas da coagulação. A função principal do plasma é servir de meio de
transporte a essas substâncias.
As hemácias ou eritrócitos, também denominados como glóbulos
vermelhos, transportam o oxigênio e o gás carbônico por todo o corpo. Essas

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células duram aproximadamente 120 dias, após isso, são repostas pela medula
óssea.
Os leucócitos ou glóbulos brancos são encarregados pela defesa de
nosso corpo, protegendo nosso organismo contra a invasão de micro-
organismos indesejados, como os vírus, bactérias e fungos.
Os glóbulos brancos formam verdadeiros exércitos contra os micro-
organismos causadores de doenças e qualquer partícula estranha que penetre no
organismo. Outra função importante é a limpeza do corpo, destruindo as células
mortas e restos de tecidos.
São classificados em neutrófilos, monócitos, basófilos, eosinófilos, linfócitos.
Cada qual tem uma função específica e um mecanismo diferente de combater um
agente causador de uma doença.
No sangue, temos de 5.000 a 10.000 glóbulos brancos, que recebem o
nome de leucócitos. De 4.000 a 11.000 glóbulos brancos por mm3. São de vários
tipos principais:
 Neutrófilos: Que fagocitam e destroem bactérias;
 Eosinófilos: Que aumentam seu número e se ativam na presença de
certas infecções e alergias;
 Basófilos: Que segregam substâncias como a heparina, de
propriedades anticoagulantes e a histamina;
 Linfócitos: Que desempenham um papel importante na produção de
anticorpos e na imunidade celular;
 Monócitos: Que digerem substâncias estranhas não bacterianas.

As plaquetas são fragmentos de células, presentes no sangue, que


realizam a coagulação sanguínea, evitando assim uma hemorragia. Elas
geralmente agem quando os vasos sanguíneos sofrem danos.
Essas pequenas massas protoplásticas anucleares, que aderem à superfície
interna da parede dos vasos sanguíneos no lugar de uma lesão e fecham o defeito
da parede vascular. Tem cerca de 200.000 a 300.000 plaquetas, denominadas
trombócitos, no sangue.
As plaquetas são fragmentos celulares bem menores que as células
sanguíneas, ou seja, menores que as hemácias e os leucócitos. As plaquetas atuam

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na coagulação do sangue. Quando há um ferimento com rompimento do vaso
sanguíneo, ocorre uma série de eventos que impedem a perda de sangue.

6.1.3 Doenças do sangue

As doenças do sangue resultam mudanças anormais em sua composição. A


redução anômala do conteúdo de hemoglobina ou do número de glóbulos vermelhos
é conhecida como anemia.
A formação de hemoglobina anômala é característica da anemia falciforme e
da talassemia. A leucemia é acompanhada por uma proliferação desordenada de
leucócitos.
A deficiência de qualquer dos fatores necessários à coagulação do sangue
provoca hemorragias. Diversas doenças hemorrágicas, como a hemofilia, são
hereditárias.
A anemia pode ser considerada uma das principais doenças que acometem
o sangue. A palavra que do grego significa "privação de sangue", é caracterizada por
uma diminuição da quantidade total do número de glóbulos vermelhos ou de
hemoglobina do sangue.
A hemoglobina é constituída por um pigmento vermelho chamado heme, que
dá a cor vermelha característica do sangue. É um pigmento especial predominante
no sangue, cuja função é transportar o oxigênio. Transporta o oxigênio dos pulmões
até os tecidos do corpo. Depois, inverte sua função e recolhe o dióxido de carbono,
transportando-o até os pulmões para ser expirado.
A deficiência de hemoglobina provoca a anemia. As alterações da estrutura
da hemoglobina podem causar a anemia falciforme.
A anemia falciforme é um processo hereditário em que a hemoglobina
apresenta-se alterada. Conhecida também como anemia drepanocítica, é causada
pela existência de hemoglobina anômala ou hemoglobina S, que muda de forma
quando a quantidade de oxigênio no sangue se reduz por qualquer motivo. As
hemácias que contêm a hemoglobina também mudam, adotando a forma de foice,
ou seja, falciforme.

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57
Pode-se verificar a anemia em diversos casos patológicos, como por
exemplo, na hemólise, doenças malignas, saturnismo, talassemia, hemorragia,
deficiência de vitamina B12, deficiência de ferro, afecções inflamatórias crônicas,
dentre outras.
A mais comum é a anemia ferropênica provocada por um deficit de ferro,
elemento essencial para a fabricação de glóbulos vermelhos. A anemia perniciosa é
provocada por um deficit de vitamina B12, fundamental para a produção de
hemácias.
Quando a análise de uma amostra de sangue é realizada, verifica-se a
definição das diferentes formas de anemia e determina a sua causa.
Podemos realizar as seguintes avaliações:
 Segundo o volume globular médio (hemácias): Anemias microcíticas,
normocíticas, macrocíticas e megalocíticas;
 Segundo a concentração corpuscular média de hemoglobina (cromia):
Anemias hipocrônicas ou normocrônicas;
 Segundo a concentração sérica de ferro e de siderofilina: Anemias
hipo, normo ou hipersiderêmicas com siderofilina baixa, normal ou aumentada;
 Segundo o aspecto da medula óssea: Formas megaloblásticas;
 Número de reticulócitos do sangue circulante: Anemias arregenerativas
ou regenerativas;
 Localização do fator responsável pela hemólise: Anemias hemolíticas
corpusculares ou extracorpusculares.

6.2 HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO

A hemostasia corresponde ao processo fisiológico que mantém o sangue


líquido no sistema vascular após lesão no mesmo. Já a coagulação e a fase da
hemostasia envolvida na formação de fibrina, a qual é caracterizada por uma
cascata de reações bioquímicas, terminando com a formação do coágulo.
Nessa cascata de reações estão envolvidas substâncias denominadas
fatores da coagulação que são proenzimas sintetizadas pelo fígado e que se

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58
transformam em enzimas durante o processo de coagulação.

O processo de coagulação ocorre em três estágios:

 Formação do tampão plaquetário e formação da tromboplastina;


 Conversão de protrombina em trombina na presença da tromboplastina
e ativação do fator estabilizador da fibrina (XIII);
 Formação da fibrina através da interação do fibrinogênio com a
trombina e formação da rede de fibrina por ação do fator XIII. Ao final desse estágio
o coágulo está formado, sendo constituído pelo tampão plaquetário mais a rede de
fibrina.
A fibrinólise, isto é, desintegração do coágulo ocorre através da ação da
plasmina.
A hemostasia resulta de uma série de interações complexas pelas quais o
sangue é mantido fluido no sistema vascular, em que se previnem processos
hemorrágicos espontâneos e se contêm sangramentos traumáticos.
Depende basicamente da resistência e contratilidade normais dos vasos, da
constituição e elasticidade dos tecidos periféricos, da atividade plaquetária normal,
de um sistema adequado de coagulação e da estabilidade do coágulo.
Com o processo de coagulação do sangue, é obtido um coágulo sólido de
fibrina, por meio da interação de plaquetas, fatores plasmáticos, seus inibidores e
ativadores.
Quando há lesão de um vaso sanguíneo, o sistema hemostático intervém
imediatamente. De início, a vasoconstrição reflexa reduz o fluxo sanguíneo local. Em
seguida, as plaquetas se prendem às fibras de colágeno do tecido conectivo
exposto, num processo chamado de adesão, e umas às outras, no processo de
agregação, que é amplificado pela liberação de substâncias intraplaquetárias
armazenadas em grânulos.
Com isso, forma-se um tampão hemostático e ao mesmo tempo, através da
via extrínseca e intrínseca, fatores plasmáticos ativam a protrombina, transformando-
a em trombina, que passa a atuar sobre o fibrinogênio para formar a rede de fibrina
que é estabilizada pela ação do fator XIII.

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59
Forma-se, então, um coágulo sólido e posteriormente, este coágulo é lisado
pelo sistema fibrinolítico, fazendo com que o plasminogênio seja ativado à plasmina
e dividindo a fibrina em uma série de produtos de degradação. Assim, o local lesado
é reparado e restabelece-se o fluxo sanguíneo normal.
Distúrbios adquiridos ou hereditários destes sistemas fisiológicos ocasionam
doenças hemorrágicas ou trombóticas. Os mecanismos fisiopatológicos que
envolvem a trombogênese têm sido amplamente estudados e contam com vários
componentes que envolvem alterações no fluxo, na composição do sangue e na
parede vascular.
Muitos apresentam defeito plaquetário e alterações congênitas ou adquiridas
das proteínas da coagulação, outros são basicamente atribuídos ao meio, como
estilo de vida, ou ainda trata-se de pacientes clinicamente suspeitos de
apresentarem quadro de hipercoagulabilidade adquirida ou secundária, como
anticoagulante lúpico, uso de estrogênio, neoplasias, diabetes mellitus, pós-
operatório, trauma, gravidez, imobilização prolongada, dentre outras.
A coagulação sanguínea é uma sequência complexa de reações químicas
que resultam na formação de um coágulo de fibrina. É uma parte importante da
hemostasia, na qual a parede de vaso sanguíneo danificado é coberta por um
coágulo de fibrina para parar a sangramento e ajuda a reparar o tecido danificado.
Desordens na coagulação podem levar a um aumento no risco de hemorragia,
trombose ou embolismo.
A coagulação é semelhante nas várias espécies de mamíferos. Em todos
eles o processo envolve um mecanismo combinado de células e proteínas. Esse
sistema nos humanos é o mais extensamente pesquisado e consequentemente o
mais bem conhecido. Esse artigo é focado na coagulação sanguínea humana.
Em um indivíduo normal, a coagulação é iniciada dentro de 20 segundos
após a lesão ocorrer ao vaso sanguíneo causando dano às células endoteliais. As
plaquetas formam imediatamente um tampão plaquetário no local da lesão. Essa é a
chamada hemostasia primária.
A hemostasia secundária acontece quando os componentes do plasma
chamados fatores de coagulação respondem em uma completa cascata de reações
para formar fios de fibrina, que fortalecem o tampão plaquetário.

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60
Ao contrário da crença comum, a coagulação a partir de um corte na pele
não é iniciada pelo ar ou por meio da secagem da área, na verdade ocorre através
das plaquetas que se aderem e que são ativadas pelo colágeno do endotélio do
vaso sanguíneo que fica exposto, quando cortado o vaso.
As plaquetas ativadas então liberam o conteúdo de seus grânulos, que
contêm uma grande variedade de substâncias que estimulam uma ativação ainda
maior de outras plaquetas e melhoram o processo hemostásico.

6.2.1 Grupos sanguíneos

Os grupos sanguíneos ou tipos sanguíneos foram descobertos no início do


século XX, quando o cientista austríaco Karl Landsteiner se dedicou a comprovar
que havia diferenças no sangue de diversos indivíduos.
Karl Landsteiner realizou a coleta de amostras de sangue de diversas
pessoas, isolou as hemácias e fez diferentes combinações entre plasma e
hemácias, tendo como resultado a presença de aglutinação dos glóbulos em alguns
casos, e sua ausência em outros.
Landsteiner explicou então por que algumas pessoas não sobreviviam após
as transfusões sanguíneas e outras recebiam a transfusão sem apresentar nenhuma
intercorrência. No ano de 1930 ele ganhou o Prêmio Nobel por esse trabalho.
Os tipos sanguíneos são determinados pela presença, na superfície das
hemácias, de antígenos que podem ser de natureza bioquímica variada, podendo
ser compostos por carboidratos, lipídeos, proteínas ou uma mistura desses
compostos.
Estes antígenos eritrocitários são independentes do Complexo principal de
histocompatibilidade (HLA), o qual determina a histocompatibilidade humana e é
importante nos transplantes.
O fornecimento seguro de sangue de um doador para um receptor requer o
conhecimento dos grupos sanguíneos. Estudaremos dois sistemas de classificação
de grupos sanguíneos na espécie humana: os sistemas ABO e Rh.

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61
Nos seres humanos existem os seguintes tipos básicos de sangue em
relação aos sistemas ABO: grupo A, grupo B, grupo AB e grupo O.
Cada pessoa pertence a um desses grupos sanguíneos. Nas hemácias
humanas podem existir dois tipos de proteínas: o aglutinogênio A e o aglutinogênio
B. De acordo com a presença ou não dessas hemácias, o sangue é assim
classificado:
• Grupo A – possui somente o aglutinogênio A;
• Grupo B – possui somente o aglutinogênio B;
• Grupo AB – possui somente o aglutinogênio A e B;
• Grupo O – não possui aglutinogênios.
No plasma sanguíneo humano podem existir duas proteínas, chamadas
aglutininas: aglutinina anti-A e aglutinina anti-B.
Se uma pessoa possui aglutinogênio A, não pode ter aglutinina anti-A, da
mesma maneira, se possui aglutinogênio B, não pode ter aglutinina anti-B. Caso
contrário, ocorrem reações que provocam a aglutinação ou o agrupamento de
hemácias, o que pode entupir vasos sanguíneos e comprometer a circulação do
sangue no organismo. Esse processo pode levar a pessoa à morte.
Na tabela abaixo você pode verificar o tipo de aglutinogênio e o tipo de
aglutinina existente em cada grupo sanguíneo:

TABELA I: COMBINAÇÃO DE ANTÍGENOS E ANTICORPOS EM CADA


GRUPO
Sistema ABO
Antígeno na
Tipo Sanguíneo Anticorpo no Plasma
hemácia
A A anti-B
B B anti-A
AB AeB Nenhum

FONTE: Disponível em: <http//:www.hemoclinicadf.com.br>. Acesso em: 28 jun. 2011.

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62
Pelo padrão de reação observado nesses cruzamentos o sangue foi
classificado em três grupos (A, B e O). O grupo AB foi identificado, em 1902, por
seus colaboradores. Nesse sistema, o plasma do indivíduo sempre contém
anticorpos para os antígenos que estiverem ausentes nas hemácias.
A transfusão de sangue deve respeitar as compatibilidades entre os grupos
do sistema ABO, pois uma transfusão de sangue incompatível pode ser muito
perigosa.
Quando hemácias incompatíveis são dadas a um paciente elas são
destruídas a uma velocidade de quase 1 ml por minuto provocando uma reação
muito severa (hemólise intravascular). Esse quadro se caracteriza por febre,
desconforto respiratório súbito, hipotensão, escurecimento da urina e insuficiência
renal.

TABELA II: COMPATIBILIDADE ENTRE OS GRUPOS ABO


Sangue Tipo: Doa para: Recebe de:
A A e AB AeO
B B e AB BeO
AB AB A, B, AB e O
O A, B, AB e O O
FONTE: Disponível em: <http//:www.hemoclinicadf.com.br>. Acesso em: 28 jun. 2011.

Os tipos sanguíneos são formados por genes que recebemos de nossos


pais. Alguns genes são dominantes, basta recebê-lo de um dos pais para ele se
expressar, outros são recessivos, precisamos receber um do pai e outro da mãe
para que ele se expresse. No caso do sistema ABO, ha três genes responsáveis:
gene A (co-dominante), gene B (co-dominante), gene O (recessivo).

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TABELA III – GENES FORMADORES DO SISTEMA ABO
Tipo sanguíneo A B AB O
Combinação de
AA ; AO BB ; BO AB OO
Genes
FONTE: Disponível em: <http//:www.hemoclinicadf.com.br>. Acesso em: 28 jun. 2011.

Cada pessoa possui um conjunto diferente de antígenos eritrocitários, e por


seu número existem hoje aproximadamente 27 sistemas antigênicos, conhecidos,
mais alguns antígenos diferenciados que ainda não foram atribuídos a nenhum
sistema específico.
É muito difícil, ou praticamente impossível encontrar dois indivíduos de
mesma composição antigênica. Daí a possibilidade da presença, no soro, de
anticorpos específicos dirigidos contra os antígenos que cada indivíduo não possui,
resultando na aglutinação ou hemólise quando ocorre uma transfusão incompatível
ou, em determinações laboratoriais, quando se fazem reagir soros específicos com
os antígenos correspondentes presentes nas hemácias.
Diferentes sistemas antigênicos se caracterizam por induzir a formação de
anticorpos em intensidades diferentes; além do que, alguns são mais comuns e
outros, mais raros. Estes dois fatos associados determinam a importância clínica de
cada sistema.
Os sistemas ABO e Rh estão geralmente relacionados às reações
transfusionais hemolíticas. Outra complicação muito comum é a eritroblastose fetal,
geralmente causada por diferenças antigênicas relacionadas ao Sistema Rh, como o
fator Rh+ do pai e da criança e o Rh- da mãe.
A determinação dos grupos sanguíneos tem importância em várias ciências:
 Na Hemoterapia: torna-se necessário estudar pelo menos alguns
desses sistemas em cada indivíduo para garantir o sucesso das transfusões. Assim,
antes de toda transfusão eletiva, é necessário se determinar, pelo menos, a tipagem
ABO e Rh do doador e do receptor.

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64
 Na ginecologia, obstetrícia e neonatologia: é possível se
diagnosticar a eritroblastose fetal através do seu estudo, adotando-se medidas
preventivas e curativas.
 Na Antropologia: é possível estudar diversas raças e suas inter-
relações evolutivas, mediante a análise da distribuição populacional dos diversos
antígenos, determinando sua predominância em cada raça humana e fazendo-se
comparações.
 Na Medicina legal: é possível se determinar, por exemplo, o tipo
sanguíneo de um criminoso a partir de material colhido na cena do crime, auxiliando
na investigação criminal.

6.2.2 Sistema Rh

Levin e Stone (1939) relataram o caso de um feto natimorto gerado por uma
mulher que posteriormente manifestou reação hemolítica transfusional ao receber
sangue de seu marido, compatível quanto ao sistema ABO, o único então
conhecido.
Landsteiner e Wiener (1940) descreveram um anticorpo produzido no soro
de coelhos e cobaias, pela imunização com hemácias de Macacus rhesus, que era
capaz de aglutinar as hemácias de 85% das amostras obtidas de um grupo de
caucasoides americanos.
Wiener e Peters (1940) aproximaram as duas observações, determinando
tratar-se do mesmo antígeno. O anticorpo produzido no sangue da cobaia foi
denominado de anti-Rh.
Os indivíduos que apresentavam o fator Rh passaram a ser designados
Rh+, o que geneticamente acreditava-se corresponder aos genótipos RR ou Rr. Os
indivíduos que não apresentam o fator Rh foram designados Rh- e apresentavam o
genótipo rr, sendo considerados geneticamente recessivos.
Os antígenos do sistema Rh são de natureza glicoproteica, de grande
variabilidade. A tipificação dos fatores Rh, com o avançar das pesquisas, o sistema
se revelou na prática bem mais complexo do que simplesmente em Rh Positivo e Rh

AN02FREV001/REV 4.0

65
negativo. Hoje, são conhecidos mais de 40 antígenos diferentes pertencentes a esse
sistema.
Não existem anticorpos naturais no sistema Rh, sendo os anticorpos
presentes apenas nos indivíduos sensibilizados por inoculação prévia. A inoculação
pode ocorrer por episódios de transfusão incompatível ou, na mulher, devido à
introdução, no sangue materno da mãe Rh negativo, de hemácias provenientes de
uma gravidez ou aborto de filho Rh Positivo.

Este fato tem duas implicações importantes:


 Toda mulher grávida que tem como o Rh o fator negativo, de um pai Rh
Positivo deve tomar medidas especiais para evitar ser sensibilizada;
 Inexiste, na determinação laboratorial dos antígenos do sistema Rh,
prova reversa análoga à praticada no caso do sistema ABO.

A presença de antígenos fracos torna desaconselhável a determinação dos


antígenos do sistema Rh em lâmina, pois nesta metodologia alguns dos antígenos
mais fracos, que deveriam ser classificados como Rh positivos, podem ser
incorretamente classificados como Rh negativos.
No Brasil, a legislação estabelece como necessária a determinação do fator
Rh em microplacas escavadas e/ou através da centrifugação em tubos de ensaio.
Nessas metodologias, é obrigatória a investigação dos antígenos Rh fracos
(antigamente designados como Du) por meio de incubação a 37°C e com acréscimo
de Albumina bovina a 22%, e pela prova de Coombs.
É também possível a determinação direta do D fraco pelo método de gel-
centrifugação, também admitido na legislação brasileira. Neste método, o Rh fraco é
determinado diretamente através da intensidade de aglutinação, classificada em
ausente ou, se positiva, em intensidades de (+) até (++++).
Em todos os métodos, é recomendada aos pacientes Rh negativos a
determinação dos antígenos C, c e E, e, a qual pode ser executada através do uso
de soro poliespecífico "CDE". Isto classifica estes pacientes em Rh Negativo e Rh
negativo, CDE Positivo.
Existem situações que descrevem os fenômenos encontrados na quase
totalidade das situações clínicas, são elas:

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66
 Os pacientes Rh negativo representam em torno de 15% dos
receptores; estes pacientes devem receber sangue Rh negativo, e podem doar para
qualquer tipo. Em circunstâncias especiais, é considerada aceitável a transfusão de
sangue Rh negativo, CDE positivo a estes pacientes. Esta, contudo, deve ser
evitada.
 Pacientes Rh negativo, CDE positivo perfazem menos de 1% dos
indivíduos. Devem receber sangue Rh negativo, mas seu sangue ordinariamente é
doado a receptores Rh positivo.
 Os pacientes Rh fraco (antigamente designados como Rh negativo, Du
positivo) são equiparados aos pacientes Rh Positivo, considerando-se haver uma
diferença apenas quantitativa e não qualitativa, na expressão de seu antígeno.
Juntos, perfazem o total de aproximadamente 85% dos indivíduos. Podem receber
sangue de qualquer tipo, mas doam apenas aos pacientes Rh positivo ou fraco.
Se um paciente Rh negativo doar sangue para um paciente Rh positivo, ele
estará entregando hemácias lisas e nada acontece;
Se um paciente Rh positivo doar sangue para um paciente Rh negativo, ele
estará entregando uma proteína estranha (fator Rh), no soro do receptor pode haver
anticorpos, assim pode ocorrer à aglutinação do sangue.

6.2.3 Transfusão de sangue

Nas transfusões sanguíneas, em relação ao sistema ABO, é preciso


considerar, inicialmente, que a taxa de aglutinogênios nas hemácias é
significativamente maior que a taxa de aglutininas no plasma.
Dessa forma, são inviáveis as transfusões em que o sangue doado contém
aglutinogênios que “encontrarão” no receptor as aglutininas contrastantes. Isso
significa que, se o sangue doado representa aglutinogênios A, o sangue do receptor
não pode conter aglutininas anti-A e que, se o sangue doado contém aglutinogênios
B, o receptor não pode apresentar aglutininas anti-B.

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67
Assim, um indivíduo do grupo B não pode doar sangue para outro do grupo
O, uma vez que as aglutininas anti-B do receptor reagiriam com os aglutinogênios B
do doador, à semelhança de uma reação antígeno-anticorpo.
Dessa reação, na qual os aglutinogênios B atuariam como antígeno, ou seja,
uma proteína “estranha” ao receptor do grupo O e as aglutininas anti-B como
anticorpos, resulta a aglutinação do sangue doado, fato que pode provocar a
obstrução de vasos sanguíneos, com consequências que podem levar o receptor à
morte.
Porém, um indivíduo do grupo O pode doar sangue para outro do grupo B,
porque o volume de sangue doado não contém aglutininas em taxa suficientemente
grande para provocar a aglutinação das hemácias do receptor.
Podemos observar então, que as hemácias que se aglutinam são aquelas
presentes no sangue doado e, para tanto, devem conter aglutinogênios “estranhos”,
isto é, que não existem no sangue do receptor.
Veja no esquema a seguir, indicado pelas setas, as transfusões quanto ao
sistema ABO:

FIGURA 3 – POSSÍVEIS TRANSFUSÕES SANGUÍNEAS

FONTE:Banco de imagens Portal Educação

O esquema mostra as possíveis transfusões no sistema ABO. O grupo


sanguíneo O é doador universal (observe que o grupo O não pode receber de
nenhum outro grupo; a não ser do próprio grupo O). O grupo AB é denominado
receptor universal porque pode receber sangue de qualquer outro grupo.

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6.2.4 Transplante de medula óssea

A medula óssea é uma substância parecida com gelatina encontrada nas


cavidades dos ossos que contém células tronco hematopoiéticas, ou seja,
formadoras de sangue.
A medula óssea é o local onde se produz o sangue. É conhecida,
popularmente, como tutano do osso. É no interior dos ossos que encontramos as
células mãe do sangue, ou melhor, as células que darão origem aos glóbulos
vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. As células que dão origem ao sangue são
chamadas de células progenitoras ou células tronco hematopoéticas.
Geralmente, chamadas simplesmente de "células tronco". Essas células são
críticas para a vida porque produzem continuamente células sanguíneas vermelhas
que transportam oxigênio; células sanguíneas brancas que ajudam a combater
infecções, e plaquetas que agem como coagulantes para interromper sangramentos.
Os transplantes de medula óssea ajudam a curar doenças que interferem na
produção de qualquer um desses tipos de células. Essas doenças incluem leucemia,
doença de Hodgkin e outros linfomas (cânceres do sistema linfático).
Para pessoas com leucemia mieloide, uma forma comum de leucemia,
células brancas anormais enchem a medula óssea, entram na corrente sanguínea, e
podem invadir outros órgãos e tecidos.
Transplantes de medula óssea também podem ajudar pacientes com
condições não cancerígenas caracterizadas pela deficiência na produção de células
sanguíneas, como anemia aplástica e desordens hereditárias no sistema
imunológico.
Doenças que afetam a produção de células sanguíneas na medula são
difíceis de curar com tratamento tradicional. A quimioterapia e radioterapia destroem
não somente as células anormais, mas também as normais.
O transplante de medula óssea permite ao médico tratar pacientes com dose
elevada de terapia, matando efetivamente todas as células na medula óssea, e
então substituir a medula óssea danificada por uma sadia.

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O transplante de medula óssea (TMO) é um tratamento no qual a medula do
paciente é destruída com altas doses de quimioterapia e/ou radioterapia. O
condicionamento faz com que o sistema imunológico do paciente fique sem
capacidade de reconhecer e destruir o enxerto, no caso a medula do doador. Essa
medula doente será destruída substituída por células mãe do sangue, sadias de um
doador compatível.
O transplante de medula óssea é diferente da maioria dos transplantes. É
uma terapia celular, o órgão transplantado não é sólido, como fígado, ou rim - são
células que são levadas do doador ao receptor.
Nesse procedimento, o paciente (receptor) recebe o a medula óssea por
meio de uma transfusão, ou seja, as células mãe ou progenitoras do sangue são
colhidas do doador, colocadas em uma bolsa de "sangue", transfundidas para o
paciente.
As células transfundidas circulam pelo sangue, se instalam no interior dos
ossos, dentro da medula óssea do paciente. Depois de um período variável de
tempo ocorre a "pega" da medula, quando as células do doador começam a se
multiplicar, produzindo as células do sangue e enviando ao sangue: glóbulos
brancos, glóbulos vermelhos e plaquetas normalmente.
Médicos também têm usado transplantes de medula óssea em tratamentos
experimentais de pacientes com tumores cancerígenos sólidos, como o de mama e
testículos, por exemplo, que requerem tratamento agressivo com altas doses de
medicamentos tóxicos.
Nesse caso, o transplante de medula óssea é usado para tentar "salvar" o
paciente das altas doses de quimioterapia necessárias para destruir o câncer, a qual
também destrói a medula óssea.
O tratamento tem o objetivo de substituir a medula óssea doente, ou
deficitária, por células normais de medula óssea de um doador sadio, com o objetivo
de regenerar a medula do paciente.
Há três tipos de transplantes:
 Autólogo: Neste tipo de transplante o paciente é seu próprio doador.
Esse procedimento é indicado somente para algumas doenças. Após o paciente
completar as sessões de quimioterapia, as células mãe da medula óssea são

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retiradas do próprio paciente, armazenadas e transfundidas após altas doses de
quimioterapia a fim de eliminar células doentes e reconstituir a medula óssea;
 Singênico: é o transplante de medula óssea entre irmãos gêmeos
idênticos; neste caso, o paciente certamente tem um doador compatível que possui
características genéticas idênticas a ele;
 Alogênico: as células-tronco ou células mãe do sangue são recebidas
de outra pessoa; um doador selecionado por testes de compatibilidade
(Compatibilidade HLA). Esse doador compatível pode ser um irmão, irmã, parentes
próximos ou pode ser um doador voluntário não aparentado, cadastrado em bancos
de medula óssea ou em bancos de cordão umbilical.

7 NOÇÕES DE INFECÇÃO HOSPITALAR

7.1 DEFINIÇÃO

Primeiramente estaremos definindo a infecção, que é uma doença que


envolve microrganismos, podendo ser uma bactéria, fungos, vírus e protozoários. No
início ocorre a penetração do agente infeccioso no corpo do hospedeiro e há
multiplicação dos microrganismos, com consequente apresentação de sinais e
sintomas.
As infecções podem acometer diversas regiões do corpo e a partir desta
porta de entrada disseminar-se pela corrente sanguínea. Alguns agentes infecciosos
têm preferência por determinadas localizações topográficas, assim a localização da
infecção depende do tipo de microrganismo.
A infecção hospitalar é qualquer tipo de infecção adquirida após a entrada
do paciente em um hospital ou após a sua alta quando essa infecção estiver
diretamente relacionada com a internação ou procedimento hospitalar, como, por
exemplo, uma cirurgia.
Podemos definir ainda a infecção hospitalar como qualquer tipo de infecção
adquirida após a entrada do paciente em um hospital ou após a sua alta quando

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71
essa infecção estiver diretamente relacionada com a internação ou procedimento
hospitalar, como, por exemplo, uma cirurgia.
A infecção hospitalar também pode ser denominada de infecção nosocomial.
O diagnóstico de infecção hospitalar envolve o uso de alguns critérios
técnicos, previamente estabelecidos, como citaremos a seguir:
 Observação direta do paciente ou análise de seu prontuário;
 Resultados de exames laboratoriais;
 Se não houver evidência clínica ou laboratorial de infecção no
momento da internação no hospital, convenciona-se infecção hospitalar toda
manifestação clínica de infecção que se apresentar após 72 horas da admissão no
hospital;
 Também são convencionadas infecções hospitalares aquelas
manifestadas antes de 72 horas da internação, quando associadas a procedimentos
médicos realizados durante esse período;
 Os pacientes transferidos de outro hospital são considerados
portadores de infecção hospitalar do seu hospital de origem;
 As infecções de recém-nascidos são hospitalares, com exceção das
transmitidas pela placenta ou das associadas à bolsa rota superior a 24 horas.
Qualquer paciente que internar-se em um hospital para tratamento médico,
seja ele clínico ou cirúrgico, está sujeito a adquirir uma infecção hospitalar, que está
diretamente relacionada ao tempo de internação, a qualificação dos profissionais de
saúde e ao procedimento a ser realizado.
Em procedimentos cirúrgicos existe maior risco de o paciente contrair
infecção hospitalar do que em uma internação clínica sem procedimentos já que os
centros de tratamento intensivo, centros cirúrgicos e centros obstétricos são locais
onde há muito mais chances de contrair infecção.

7.2 PRINCIPAIS SINTOMAS

Os sintomas são relacionados diretamente com local do procedimento ou


envolvem algum sistema do corpo humano, como por exemplo, o sistema

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72
respiratório, urinário ou outro. Pacientes graves podem ter comprometimento de todo
o organismo.
Esses sinais e sintomas podem ser, entre outros: febre, dor no local afetado,
alteração de exames laboratoriais, debilidade, dentre outros.
O instrumentador cirúrgico é o profissional que estará responsável por cuidar
dos instrumentais cirúrgicos e esse cuidado é fundamental para que o paciente não
seja acometido por uma infecção, pois muitas vezes os micro-organismos
patogênicos se encontram nestes artigos.

7.3 TRATAMENTO

Logo após o paciente ter um diagnóstico de infecção hospitalar confirmado,


o médico deve iniciar o tratamento imediatamente e este tratamento é realizado
sempre com antibióticos injetáveis e por período que pode variar entre 14 a 30 dias.

7.4 PREVENÇÃO

A prevenção das infecções nosocomiais depende muito das políticas do


hospital e da responsabilidade dos profissionais de saúde que trabalham ali, do que
dos pacientes, que na maioria das vezes não se interna com intenção de contrair
doenças dentro do hospital e sim com a intenção de tratar a sua doença.
Os cuidados para não ocorrer elevado número de infecções e sua prevenção
e controle envolvem medidas de qualificação da assistência hospitalar, de vigilância
sanitária e outras, tomadas no âmbito do município e estado.
A infecção hospitalar é um grande desafio a ser vencido nos hospitais, e a
colaboração de médicos, enfermeiros, instrumentadores cirúrgicos e demais
profissionais que ali trabalham, é fundamental.

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73
A morte do ex-presidente Tancredo Neves aproximou de certa forma a
população brasileira a este tema, trazendo para o nosso dia a dia conceitos como
septicemia, diverticulite e infecção generalizada.
Desde então, a infecção hospitalar não mudou, apenas tornou-se mais
conhecida, permanecendo como um dos grandes flagelos mundiais na área de
saúde, pois nenhum país tem o controle absoluto da infecção hospitalar, apenas
existem países que possuem números mais baixos de contaminação.

7.5 CONTROLE

Desde o início do século XIX podemos observar os seres microscópicos que


produzem doenças e cientistas e médicos já buscavam formas de destruí-los e evitar
assim, a invasão de outros micro-organismos.
No período da idade média, desconhecendo as causas das infecções, as
medidas eram queimar os móveis e utensílios e o cadáver da pessoa que morria nas
epidemias de cólera ou de peste. O objetivo era eliminar o provável causador da
doença que passava de uma pessoa doente ou de seus objetos para outras
pessoas.
O cientista Louis Pasteur descobriu que algumas das bactérias eram
causadoras de doenças e que muitas delas morriam se aquecidas acima de certa
temperatura. A “pasteurização” do leito consiste em aquecê-lo durante meia hora a
60 graus com o objetivo de eliminar as bactérias patogênicas e evitar a transmissão
de algumas doenças.
Antes de Pasteur, o médico Ignácio Semmelweis obrigava todos a lavarem
as mãos com água e sabão ou aplicar em si próprios hipoclorito de cálcico antes de
atenderem as parturientes, o que determinou uma diminuição na mortalidade por
febre puerperal de 18% para 2%.
Nessa mesma época, o cirurgião inglês, Joseph Lister, fez com que os
cirurgiões se lavasssem com solução de fenol e aplicou pomadas de ácido fênico
nas feridas, reduzindo o número de infecções. A sua importância no controle de

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infecções é grande, porque implantou os princípios de assepsia, isto é, manter livre
de germes os centros cirúrgicos.
O costume de manter o ambiente limpo e de trabalhar com os doentes nas
condições mais assépticas possíveis foi pouco a pouco assumido por todas as
pessoas dedicadas a atender enfermos.
A partir dessa época, novos descobrimentos se fizeram, como o uso de
luvas de borracha, a esterilização por vapor de água e o emprego de antissépticos
cada vez mais eficazes.
Parte desses descobrimentos continuam sendo usados, porém o grande
avanço de nossa época é o uso de material descartável e os métodos industriais de
esterilização, que significaram grande progresso no controle das infecções.
Ao mesmo tempo em que se progredia no estudo dos compostos capazes
de destruir os germes patogênicos sobre os materiais e sobre a pele, começou-se a
buscar substâncias que destruíssem os germes no interior do organismo, sem
prejuízo para as células das pessoas.
No início do século XX, foram descobertas as sulfamidas, que eliminavam
alguns micro-organismoss, mais o avanço mais importante supõe-se ter sido a
obtenção, em 1929, do primeiro antibiótico, a penicilina.
Porém, a sua produção e comercialização só começaram na década de 40.
Desde então, até os dias de hoje, foram descobertos e produzidos outros
antibióticos cada vez mais eficazes no tratamento de muitas doenças infecciosas.
Não podemos esquecer também os estudos sobre as defesas do próprio
organismo contra as infecções e o descobrimento das vacinas no final do século
XIX. A partir desse momento, o uso generalizado e sistemático das vacinações fez
diminuir a incidência de algumas doenças e desaparecer outras, como a varíola, que
nos séculos passados produzia grande número de mortes.
No ano de 2010, pesquisadores escoceses desenvolveram, na Universidade
de Strathclyde, um método chamado de descontaminação denominado Sistema de
Descontaminação Ambiental de Luz. Esse sistema utiliza luz de alta intensidade e
tem 60% a mais de eficiência que os métodos tradicionais de eliminação de
bactérias e fungos.

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7.6 POTENCIAL DE CONTAMINAÇÃO DA INCISÃO CIRÚRGICA

O número de micro-organismos presentes no tecido a ser operado


determinará o potencial de contaminação da ferida cirúrgica. De acordo com a
Portaria n° 2.616/98, de 12/5/98, do Ministério da Saúde, as cirurgias são
classificadas em:
 Limpas: são realizadas em tecidos estéreis ou de fácil
descontaminação, na ausência de processo infeccioso local, sem penetração nos
tratos digestório, respiratório ou urinário, em condições ideais de sala de cirurgia.
Podemos citar como exemplo a cirurgia de ovário.
 Potencialmente contaminadas: são realizadas em tecidos de difícil
descontaminação, na ausência de supuração local, com penetração nos tratos
digestório, respiratório ou urinário sem contaminação significativa. Como exemplo
temos a redução de uma fratura exposta.
 Contaminadas: são realizadas em tecidos recentemente
traumatizados e abertos, de difícil descontaminação, com processo inflamatório, mas
sem supuração. Um exemplo é a apendicite.
 Infectadas: são realizadas em tecido com supuração local, tecido
necrótico e feridas traumáticas sujas.

7.7 NOSSAS DEFESAS CONTRA AS INFECÇÕES

Nós sabemos que existem micro-organismos patogênicos no ar, nos objetos


e sobre a pele, porém normalmente esses não produzem infecções porque existe
uma série de barreiras naturais que protegem as possíveis portas de entrada destes
micro-organismos.
Os seres humanos fazem parte da natureza e nela há uma ininterrupta
batalha entre os seres vivos e outros, que às vezes se mantêm ou não em equilíbrio.

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A principal barreira que temos contra os micro-organismos é a nossa pele. A
camada superficial da pele é formada por células mortas com grande quantidade de
queratina.
Essa faz com que a pele seja impermeável e, com a secreção gordurosa e o
suor, evite que os micro-organismos penetrem no organismo. Se a pele se rompe ou
se altera, as bactérias que normalmente nela vivem podem introduzir-se no
organismo, produzindo infecção.
Outra via importante para a entrada de micro-organismos é a respiratória.
Aqui, entre células que recobrem a faringe e a traqueia, existem células que
segregam mucosidade para reter os elementos estranhos, além disso, há cílios que
se movem continuamente para expulsá-los para o exterior. Esse epitélio fica alterado
nos fumantes, por isso eles têm mais infecções respiratórias do que os não
fumantes.
A entrada de micro-organismos pelo aparelho digestivo está protegida pela
saliva e sucos gástricos, que têm capacidade de destruir alguns micróbios. O rim e a
via urinária são protegidos pelo esfíncter de saída e o esvaziamento periódico da
urina.
Também a vagina e os olhos têm secreções protetoras das infecções. São o
fluxo vaginal e a lágrimas. A alteração dessas secreções facilita o surgimento de
infecções.

7.8 RISCO DE UM INDIVÍDUO ADQUIRIR INFECÇÃO HOSPITALAR

Os atendimentos em unidades de saúde atualmente são cercados por uma


gama de recursos tecnológicos avançados, portanto os pacientes têm uma melhor
assistência em saúde.
Antigamente muitos pacientes evoluíam para o óbito, hoje não só
sobrevivem, mas ainda como têm uma excelente expectativa de vida, muitas vezes,
sem apresentar nenhuma sequela.
Diversas situações que ocorrem no cotidiano como os acidentes
automobilísticos graves, recém-nascidos prematuros ou de baixo peso e indivíduos

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que necessitam de transplante de órgãos, demonstram como o atendimento
hospitalar evoluiu.
Em contrapartida, essa melhoria no atendimento e avanço tecnológico
aumentou o número de procedimentos possíveis de serem realizados num hospital.
Procedimentos que, ao mesmo tempo em que prolongam a vida, trazem
consigo um risco aumentado de infecção, pois aumentam o tempo de internação
hospitalar e com isso a probabilidade do paciente contrair a infecção hospitalar.
Muitos desses procedimentos são invasivos, isto é, penetram as barreiras de
proteção do corpo humano. A primeira barreira de proteção do corpo é a pele,
entretanto, sendo mais frequentemente rompida por procedimentos hospitalares,
portanto, a melhoria no atendimento possibilita maior sobrevida, mas têm o ônus de
elevar o risco de infecção.
Estas técnicas invasivas favorecem a penetração de microrganismos que
não pertencem ao corpo do hospedeiro. Para evitar que essa penetração ocorra, os
procedimentos precisam ser padronizados de modo a serem desenvolvidos de
maneira asséptica.

7.9 COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR

Uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) possui


profissionais que deverão executar as seguintes tarefas:

 Detectar casos de infecção hospitalar, seguindo critérios de


diagnósticos previamente estabelecidos.
 Conhecer as principais infecções hospitalares detectadas no serviço e
definir se a ocorrência destes episódios de infecção está dentro de parâmetros
aceitáveis. Isso significa conhecer a literatura mundial sobre o assunto e saber
reconhecer as taxas aceitáveis de infecção hospitalar para cada tipo de serviço.
 Elaborar normas de padronização para que os procedimentos
realizados na instituição sigam uma técnica asséptica (sem a penetração de
microrganismos), diminuindo o risco de o paciente adquirir infecção.

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 Colaborar no treinamento de todos os profissionais da saúde no que se
refere à prevenção e controle das infecções hospitalares.
 Realizar controle da prescrição de antibióticos, evitando que os
mesmos sejam utilizados de maneira descontrolada no hospital.
 Recomendar as medidas de isolamento de doenças transmissíveis,
quando se trata de pacientes hospitalizados.
 Oferecer apoio técnico à administração hospitalar para a aquisição
correta de materiais e equipamentos e para o planejamento adequado da área física
das unidades de saúde.
É necessário que os profissionais que participam de uma CCIH possuam
treinamento para a atuação nesta área. Há exigência legal para manutenção de pelo
menos um médico e uma enfermeira na CCIH de cada hospital. Isso está
regulamentado em portaria do Ministério da Saúde.
Outros profissionais do hospital também devem participar da CCIH, devendo
esses contribuir para a padronização correta dos procedimentos a serem
executados.
Os profissionais devem possuir formação de nível superior e geralmente são
farmacêuticos, médicos microbiologistas, epidemiologistas, representantes médicos
da área cirúrgica, clínica e obstétrica.
Representantes da administração do hospital devem atuar também na CCIH
para colaborar na implantação das recomendações.
A lavagem de mãos é a arma mais importante e econômica na prevenção
das infecções hospitalares. Ela impede que microrganismos presentes nas mãos
dos profissionais de saúde sejam transferidos para o paciente.
Cada hospital possui uma clientela diferente e variados níveis de
atendimento, por esse motivo, não é necessário compararmos uma instituição com
outra.
Dentro de um mesmo hospital o risco de adquirir infecção hospitalar pode
variar muito, de acordo com os diversos serviços e procedimentos realizados. Só um
profissional qualificado pode reconhecer as circunstâncias que permitem a
comparação entre serviços.

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Caso contrário, as taxas de infecção hospitalar tornam-se um número sem
sentido, podendo parecer muito ou pouco, conforme o entendimento pessoal, porém
sem base científica.
Hoje, o conhecimento científico permite saber qual o risco potencial de
infecção hospitalar envolvido em cada procedimento realizado. Antes de identificar
se o índice é realmente zero, é preciso saber se a detecção de episódios de
infecção hospitalar está sendo conduzida por pessoal qualificado e se a CCIH está
efetivamente trabalhando.
Segundo a portaria do Ministério da Saúde n. 2616, de 1998, todos os
hospitais devem possuir uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar.

8 ÉTICA PROFISSIONAL

8.1 FUNDAMENTOS DA ÉTICA E DA MORAL

O homem busca, constantemente, o entendimento do mundo como forma de


sobrevivência e evolução, por meio da filosofia alcançou as primeiras explicações
sobre a natureza, onde a tradição cultural e o mito configuraram a própria visão de
mundo.
No período socrático (séc. V e IV a.C.) começaram as reflexões sobre a
condição humana e explicações sobre os comportamentos, surgindo novas
maneiras de pensar com base em algo já pensado, e com isso os homens
alcançavam novas possibilidades de olhar e interpretar o mundo; o que o caracteriza
não apenas como parte da natureza, mas também como um ser social que interpreta
e transforma a realidade, criando um novo éthos – “modo de ser”, “conduta de vida”
ou caráter.
Segundo Oguisso (2006), existiam duas concepções fundamentais de ética:
a primeira como ciência do fim, na qual a conduta do homem deve se dirigir, e dos
meios para atingir esse fim, ou seja, o homem dirigido pela sua natureza; já a

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segunda reporta-se aos motivos ou causas que levam o homem a ter essa ou
aquela conduta.
Ética em grego designa a morada humana, não é algo pronto e construído
de uma só vez. Ético significa tudo àquilo que ajuda a tornar melhor o ambiente para
que seja uma moradia saudável. Materialmente sustentável psicologicamente
integrada e espiritualmente fecunda. A partir desses conceitos analisamos o homem
dominando a natureza, mudando o seu percurso natural e inscrevendo novos
costumes.
Dessa forma, ética não é moral da forma que entendemos hoje, como um
conjunto de normas, e sim indica o lugar onde esses costumes tomam forma e como
as pessoas costumam viver em sociedade.
A ética está baseada em princípios, valores, sentimentos, emoções que
cada pessoa traz dentro de si; ela reflete o ato de pensar e questionar, ou seja, um
modo de ser, e com isso o homem apresenta condutas conscientes que se refletem
em suas escolhas e ações.
Ao se lançar no mundo as pessoas sentem sua impotência para entender
todos os fatos e aplicar tudo aquilo que considera ser o melhor em prol do coletivo.
Na década de 30, ao trabalhar com jovens o Cardeal belga Cardjn introduziu
o Método “Ver, Julgar, Agir, Rever”, com intuito de desenvolver uma consciência
crítica, ampliando a capacidade de estabelecer normas básicas para seu
comportamento e para seu modo de agir, levando as condutas éticas:

 VER - enxergar elemento fundamental tornando o olhar profundo e não


superficial das coisas, observar os fatos e determinar as causas;
 JULGAR - aprofundamento nas consequências de cada fato
objetivamente; é analisar sem preconceitos;
 AGIR - ação consciente e segura de mudar o que se deseja e julgou
ser necessário fazer;
 REVER - implica na avaliação tranquila e honesta de tudo o que se fez,
aprendendo com os sucessos e fracassos.

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Este Método, a princípio, parece mecânico ou pouco natural, mas à medida
que se apropria destas etapas o homem consegue ter uma prática consciente e
crítica em prol de uma sociedade justa e de homens felizes.

8.2 FUNDAMENTOS DA ÉTICA

Ética é a ciência que tem por objetivo os atos morais, produzidos pela
vivência e prática dos valores determinados em um grupo social, em um tempo e
espaço; os atos éticos são exclusivos do homem que ao agir consciente, livre e
responsável caracteriza as condições fundamentais do ato moral.
Outro conceito descrito no Manual de Fiscalização COFEN-1984, diz que
ética é o conjunto de princípios colocados à disposição do ser humano, com vistas a
sua preservação e elevação, procede diretamente do criador e é constituída pelos
elementos básicos da vida (inclusa saúde), harmonia, liberdade, justiça, alegria, do
amor, do equilíbrio, da razão e da inteligência.
A ética nasce da necessidade de fazer o bem, o que implica o
reconhecimento de um valor, das coisas e das pessoas; não existe o bem absoluto,
o bem precisa ser ensinado; essa tarefa não é fácil, pois para o homem agir bem é
necessário que haja um processo de aprendizagem, o que requer tempo e
amadurecimento, por meio da convivência com outras pessoas e com o mundo em
que está inserido.
O primeiro nível do conhecimento emerge das práticas do cotidiano que
resultam da repetição sistemática do fazer coisas de forma organizada; esse
processo leva o homem a fazer uso da sua inteligência (razão - ato de pensar) de
um modo prático.
Ao assumir uma atitude, o homem usa também como ferramentas a
consciência, a pretensão e algumas virtudes como prudência e tolerância, as quais
são imprescindíveis para estabelecer relações harmônicas com as pessoas e o
mundo em que vive.

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Ao fazer suas escolhas o homem é capaz de produzir algo fundamental na
ética, que é o agir consciente, aplicando aquilo que considera bom, agindo bem e
para o bem.
O homem está em constante processo de aprendizado, questionando,
criando e alterando a cultura e a história. Para enfrentar as dificuldades usa o
conhecimento em diferentes níveis: o físico, o mental, o emocional e o espiritual.
A inteligência se refere à capacidade de intuir e de ler no interior da
realidade um sentido de valor e a razão se refere a contar e analisar, o espírito é
algo muito profundo e envolve a vida, a ética, o estético e a metafísica, porque vai
além do físico e contempla aquilo que transcende.
Todos esses níveis de conhecimentos promovem uma integração, pois
existe uma interface entre essas dimensões que não se separam na atividade
humana.
É muito importante atribuirmos valores às coisas, aos objetos e até a
conduta humana, pois o próprio agir humano é uma forma de expressar valores, a
partir deles é possível conceber o mundo em que vive e conhecer a si e aos outros.
Construímos os conceitos de ética como uma ação individual em que cada
pessoa tem a sua, na qual se baseia em princípios, valores e sentimentos que cada
um traz dentro de si e a partir de sua própria escolha é possível se aproximar ou se
distanciar dos valores de outras pessoas.

8.3 FUNDAMENTOS DA MORAL

A moral, por sua vez, vem de dentro da sociedade, com valores


selecionados e determinados como “verdades”, é a parte da vida concreta e trata da
prática real das pessoas que se expressam por costumes, hábitos e valores
culturalmente estabelecidos.
Uma pessoa é moralmente aceita quando age em conformidade com os
costumes e valores consagrados, que podem ser questionados pela ética; podendo
ser moral, mas não ética, pois segue os costumes apenas por conveniência.

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Podendo resumir que ética sempre irá referir-se ao valor da ação humana,
ação consciente, racional e com liberdade de optar por este ou aquele valor, para
fundamentar o seu agir e a moral é o conjunto de normas e costumes que tende a
regulamentar o agir das pessoas e ao mesmo tempo oferece oportunidade para a
pessoa refletir sobre o valor do agir humano.
É comum o pensamento de que moral e ética são sinônimos, contudo
analisando as origens etimológicas dos termos percebemos a diferença. A ética tem
sua raiz no termo grego éthos que quer dizer “modo de ser” ou “caráter” e a moral
provém do latim mos ou mores e quer dizer “costume ou costumes”, ambos são
adquiridos por hábito e não são, portanto, decorrentes de disposição natural; não
nascemos com eles, mas adquirimos na medida em que nos relacionamos com os
outros semelhantes em um determinado contexto social e histórico.
O objeto da ética é constituído de atos conscientes e voluntários dos
indivíduos, os quais podem repercutir e trazer consequências a outro indivíduo; o
conceito de moral engloba o que deve ser e o que é.
Um ato para ser moral deve possuir motivação aceita pela coletividade,
considerando o motivo, fins, meios utilizados para obtenção dos resultados, bem
como a liberdade e a consciência para agir são predicativos imprescindíveis do ato
moral. Assim, a pessoa responde pelo ato quando age conscientemente, ou seja,
com autonomia e liberdade, tendo como parâmetro os valores coletivos.

8.4 ÉTICA PROFISSIONAL

Ética profissional é o conjunto de normas morais pelas quais o indivíduo


deve orientar seu comportamento na profissão que exerce.

Segue o decálogo com deveres do Instrumentador Cirúrgico:

 Conhecer os instrumentos pelos nomes próprios e não se esquecer de


colocar em sua mesa os instrumentos necessários, para a operação a efetuar-se;

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 Manter a assepsia rigorosa e ter pronto todo o material da diérese de
síntese e hemostase;
 Diligência e ajustes nas ações manuais;
 Ordem e método na arrumação do instrumental;
 Limpeza e acomodação do instrumental usado, quando o cirurgião o
deixa na mesa, manchado de sangue;
 Entregar o instrumento com presteza, ao pedido, colocando-o em sua
mão, em forma, modo e precisão exata para uso imediato, sem que o cirurgião tenha
que reacomodá-lo em sua mão, ao utilizá-lo;
 Entregar o instrumento que, por sinais manuais, poderá ser pedido pelo
cirurgião;
 Entregar sucessivamente os instrumentos sem que os peçam. O
cirurgião realiza, em tempo "Standart", uma sucessão de atos operatórios
invariáveis;
 Sincronizar tempos e ações manuais com o cirurgião e o primeiro
ajudante, segundo técnicas e detalhes bem estudados;
 Deve guardar silêncio absoluto.

São direitos dos instrumentadores cirúrgicos:

 Que seja dono absoluto da mesa do instrumental;


 Que lhe peçam os instrumentos com precisão;
 Que lhe permitam o tempo necessário para sincronizar ações manuais;
 Que não lhe modifiquem a técnica sincronizada;
 Que o cirurgião e o primeiro ajudante, não lhe peçam vários
instrumentos ao mesmo tempo;
 Que não lhe invadam a liberdade de tomar os instrumentos de sua
mesa, o cirurgião ou os ajudantes;
 Que não se perturbe sua tranquilidade com expressões chocantes;
 Que não precipitem os pedidos de instrumental;
 Que requeira do cirurgião ordem e métodos ajuntados às ações
manuais independentes;

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 Que exija o perfeito estado do material de sutura e dos instrumentos de
diérese, hemostase e síntese, entregues pela enfermeira da sala de operações.

8.5 CÓDIGO DE ÉTICA DO INSTRUMENTADOR CIRÚRGICO

Segue o código de ética dos instrumentadores cirúrgicos:


Art. 1º. – O Instrumentador Cirúrgico defenderá com todas as suas forças e
em todas as circunstâncias o direito fundamental da vida humana.
Art. 2º. – O Instrumentador Cirúrgico dedicará atenção especial ao doente,
prescindindo de raça, nacionalidade e religião.
Art. 3º. – O Instrumentador Cirúrgico procurará familiarizar-se com os vários
aspectos organizacionais e administrativos do hospital e com dinâmica do bloco
operatório, objetivando uma integração adequada no seu ambiente de trabalho.
Art. 4º. – O Instrumentador Cirúrgico, ciente de que o desempenho de sua
função requer formação aprimorada, procurará ampliar e atualizar seus
conhecimentos técnicos, científicos e do desenvolvimento da própria profissão.
Art. 5º. – O Instrumentador Cirúrgico executará com rigor e presteza as
orientações do cirurgião, com vistas ao pleno sucesso do ato cirúrgico.
Art. 6º. – O Instrumentador Cirúrgico, evitará abandonar o paciente em meio
ao ato operatório sem causa justa e sem garantia de solução de continuidade de sua
atividade.
Art. 7º. – O Instrumentador Cirúrgico negará sua participação em pesquisas
que violem os direitos inalienáveis da pessoa humana.
Art. 8º. – O Instrumentador Cirúrgico procurará manter relações cordiais,
espírito de colaboração e integração com todos os membros da equipe cirúrgica.
Art. 9º. – O Instrumentador Cirúrgico guardará segredo sobre fatos que
tenha conhecimento no exercício de sua profissão.
Art. 10º. – O Instrumentador Cirúrgico fará valer seu direito, à remuneração
compatível com o trabalho realizado e com dignidade da profissão.

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Art. 11º. – O Instrumentador Cirúrgico colocará seus serviços profissionais à
disposição da comunidade em casos de urgência, independentemente de qualquer
proveito pessoal.
Código aprovado em Assembleia Geral Ordinária da Anic, em São Paulo, no
dia 26 de Setembro de 1986.

8.6 JURAMENTO DO INSTRUMENTADOR CIRÚRGICO

1 - Promete ser fiel aos seus compromissos, às leis e o dever para com a
sociedade?
PROMETEMOS.
2 - Promete obedecer às ordens dos cirurgiões e seguir os parâmetros
segundo os ensinamentos obtidos?
PROMETEMOS.
3 - Promete ser fiel a única instituição da classe que ofereça reciclagem e
aprofundamento profissional?
PROMETEMOS.
4 - Promete obedecer às hierarquias institucionais?
PROMETEMOS.
5 - Jura nunca esquecer o ser humano?
JURAMOS.

FIM DO MÓDULO I

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