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De 1808 a 2008:
200 anos de praticagem
regulamentada no Brasil
1a edição
Rio de Janeiro
2008
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DIRETOR-PRESIDENTE
Carlos Eloy Cardoso Filho
DIRETORES
Carlos Jesus de Oliveira Schein
João Paulo Dias Souza
Juarez Koury Viana da Silva
Marcio Campello Cajaty Gonçalves
Ralph Rabello de Vasconcellos Rosa
ISBN 978-85-89222-02-0
CDU 656.61.052(81)
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De 1808 a 2008:
de praticagem
regulamentada no Brasil
200 anos
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Apresentação
A idéia deste livro surgiu
da percepção de uma grande lacuna
em nossa profissão: a inexistência de uma
historiografia da praticagem brasileira.
Como em 2008 comemoram-se os 200 anos
do primeiro diploma legal relativo ao serviço de
praticagem no Brasil, achamos que este seria
o momento ideal para dar o passo inicial rumo
à organização de nossa história.
O momento é de comemoração,
mas também de reflexão.
Nós, práticos brasileiros, estamos dando a devida
importância à construção de nossa memória?
É preciso lembrar que o conhecimento
de nossa história não representa simplesmente
alimento para nossa curiosidade.
Conhecer o passado é ferramenta eficiente
para se entender o presente e melhorar o futuro.
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Prefácio
A iniciativa do Conapra ao patrocinar o trabalho de pesquisa
e a edição deste livro, contendo o histórico da Praticagem
desde seus primórdios, contribui de forma notável
para a melhor compreensão das dificuldades, perigos e
complexidade dos riscos envolvidos na atividade.
Ao longo de seus capítulos, nota-se a essencialidade
da profissão que, resistindo aos séculos, mantém-se atual
na busca de um gerenciamento de riscos eficaz,
capaz de oferecer assistência aos comandantes
e contribuir para a segurança da navegação,
dos portos e do meio ambiente.
Nota-se, também, a atuação sempre presente da Marinha,
seja na elaboração de normas e procedimentos,
seja na preocupação com o nível profissional,
através de concursos e atualizações.
O exercício da profissão de prático é um eterno desafio.
O ambiente em que trabalha, sujeito às variações nas
condições de vento e mar, à proximidade dos perigos,
à variedade de tipos de navios, enfim, à carga emocional
de quem está responsável por vidas humanas
e um imenso patrimônio material, cria um cenário especial.
O prático precisa ter habilidade e coragem,
além do aprimoramento técnico e
profundo conhecimento das peculiaridades locais.
A criação do Conapra em 1975, e sua atuação junto às
Autoridades Navais, vem contribuindo para o aprimoramento
da atividade de praticagem a nível nacional,
colocando-a em consonância com os centros mais desenvolvidos.
A presente obra é um marco histórico que, certamente,
servirá de base ao estudo da Praticagem.
Comandante da Marinha
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Agradecimentos
Muitas pessoas contribuíram
de forma decisiva
para a realização desta obra,
mas, como a experiência ensina
que citar nomes é imprudente,
preferimos dirigir nossos
agradecimentos ao serviço
de documentação brasileiro,
especialmente o da Marinha
e o do Arquivo Nacional,
cujo importante trabalho
de preservação documental
nos forneceu
o material necessário
para transformar em livro
essa investigação pioneira
sobre a praticagem nacional.
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Sumário
parte I
Uma profissão que vem de longe 12
2. A origem da praticagem 17
3. A pilotagem em Portugal 26
parte II
A praticagem brasileira: fragmentos de uma história 34
1. Antes de começar 37
2. Os primeiros registros 44
2. O CONAPRA 232
Bibliografia 244
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Uma profissão
que vem de longe
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No início do século XIX, oficialmente, a palavra prático ainda não era nome de
profissão para a monarquia portuguesa. A constatação vem da leitura do primeiro
decreto que regulamentou a praticagem no Brasil, baixado pelo príncipe regente
D. João, em 1808, poucos meses depois de a corte portuguesa se estabelecer no Rio
de Janeiro. No diploma legal, o monarca se referia a esse profissional como piloto
prático, a mesma nomenclatura adotada em Portugal para designar aqueles que,
sem conhecimento naútico teórico, mas com muita prática nas operações de
entrada e saída dos portos, auxiliavam os comandantes dos navios.
A maioria dos estudiosos alemães, entretanto, não aceita essa hipótese. Segundo
eles, lotse tem sua origem no termo leytsman , do alemão antigo, que corresponderia
a lodsman , em holandês, e loadsman , em inglês. Os radicais leyt , lod e load signifi-
cariam to lead (dirigir) ou way (caminho). O prático seria aquele que guia ou
mostra o caminho – a definição mais lúdica, sem dúvida. Da mesma forma, a
Estrela Polar era conhecida como the Lodestar , a estrela-guia.2 2 MARTINS, Joaquim
António. História da
Pilotagem Prática em
O termo genérico que designava prático no início da Idade Média era lodesman . Portugal, p. 13.
Algumas de suas variações – lods , lotse e loods – ainda estão em uso na
Escandinávia, Alemanha e Holanda, respectivamente. No Brasil, ficou-se com
Parte I – Uma profissão que vem de longe 15
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2. A origem da praticagem
Assim, ao povo fenício couberam tais empreendimentos tão somente por habitar
região estreita de terra, apertada entre as montanhas do Líbano e as plagas do
Mediterrâneo. Mais tarde, todos os povos situados à beira-mar, seguindo o exemplo dos
fenícios, passaram, pouco a pouco, a se dedicar também àquelas atividades.
Com a intensificação crescente da navegação e do comércio pelo mar, surgiu
a necessidade de serem criadas e adotadas normas especiais destinadas à sua
regulamentação. O conjunto dessas regras constituiu, então, o que se chamou de
3 Curso de Direito
direito marítimo.3
Privado da Navegação ,
p. 17.
Embora o estudo do direito marítimo antigo ofereça pistas sobre a origem
da praticagem no mundo, não permite reconstituir o início da profissão, que será
sempre um grande enigma. Não há documentos que provem a existência de leis
marítimas
no tráfego para o povo pouco
marítimo, fenício,ouporquase
exemplo: “(...)registro
nenhum Apesar foi
da grande atividade
encontrado dos
antigos povos orientais, e nem mesmo dos fenícios, que fizeram de Tiro e
4
Cartagena dois grandes pólos comerciais”. 4 Entretanto, por serem grandes MARTINS, Eliane M.
Otaviano. Curso de Direito
navegadores os precursores do comércio marítimo, é comum encontrar afirmações Marítimo , p. 5.
de que essa civilização fazia uso do serviço.
§ 234
Se um barqueiro calafetou um barco de 60GUR [capacidade aproximada:
18 toneladas] para um awilum [homem livre], ele lhe dará dois siclos de prata
por seus honorários.
§ 235
Se um barqueiro calafetou um barco para um awilum e não executou o seu
trabalho com cuidado e naquele mesmo ano esse barco adernou ou sofreu avaria, o
barqueiro desmontará esse barco, reforçá-lo-á com seus próprios recursos, e entregará
§ 236
Se um awilum alugou seu barco a um barqueiro e o barqueiro foi negligente e afundou
o barco e arruinou-(o), o barqueiro restituirá um barco ao proprietário do barco.
§ 240
Se o barco de um piloto de barco que navega rio acima colidiu com o barco de um
piloto de barco que navega rio abaixo e (o) afundou, o proprietário, cujo barco foi
ao fundo, declarará, diante de deus, tudo que se perdeu em seu barco, e o piloto do
barco que navega rio acima, que afundou o barco do piloto que navega rio abaixo,
deverá indenizá-lo por seu barco e por tudo o que se perdeu.
O legislador usou três termos para se referir ao profissional que dirigia barcos – um
abrangente, traduzido por “barqueiro”, e os outros dois específicos, traduzidos por
“piloto de barco a remo” e “piloto de barco a vela”; a perícia e os conhecimentos
locais exigidos desses profissionais levam a crer que entre suas funções estivesse a
de prático. Mas não se pode afirmar que eles eram práticos – aquaviários
especializados nas operações de entrada e saída de navios em portos e barras – sob
pena de anacronismo, ou seja, atribuir a uma época determinada um personagem
de outro tempo.
Apenas alguns fragmentos dessas leis passaram à posteridade, mas suas normas
6
vigoraram em todo o Mediterrâneo entre os séculos VII e IX. 6 Como foram MARTINS, Eliane M.
Otaviano. Ob. cit., p. 5.
o mais importante monumento concernente ao comércio marítimo na Anti-
güidade, tendo influenciado enormemente regulamentos posteriores, acredita-se
que essas leis normatizavam em alguma medida a atividade dos práticos.
Parte I – Uma profissão que vem de longe 19
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Uma das mais remotas e precisas descrições da atividade do prático encontra-se no O périplo
Périplo do Mar da Eritréia , um guia mercantil do Mar Vermelho e do Oceano
Índico setentrional, escrito por volta de 64 d.C. Neste fragmento, o autor Os gregos, na Antigüi-
(desconhecido) descreve as aproximações do Golfo de Cambay e do Rio Narbuda dade, tinham o que eles
a Barygaza (atual Broach, nordeste da Índia): chamavam de ‘périplos’.
A passagem é difícil devido aos baixios na foz do rio. Por isso, pescadores nativos a Eram
das descrições
costas escritas
que usavam
serviço do rei sobem a costa até Syrastrene, de encontro aos navios. E eles os para navegar. Não eram
mapas nem cartas náuti-
governam diretamente e com precisão desde a entrada da baía, por entre baixios, cas, eram uma descrição.
com suas tripulações, e os rebocam até posições fixas, subindo o rio com o início da O Mediterrâneo é muito
maré enchente e permanecendo nas vazantes nos fundeadouros e bacias. Essas bacias interessante porque ele é
são locais de maior profundidade no rio, no percurso para o porto, que fica a muito aberto em longi-
cerca de 10 estádios da foz. tude e muito estreito em
latitude. Então, se um
navegante se perder e se
Nesse extrato reconhece-se facilmente o trabalho de um “prático de estuário ou dirigir para o norte, vai
eporto”. Velejar,
manobrar remar e derivar
a embarcação com a secorrente,
enquanto aguardaempregando as âncoras
a maré seguinte ainda para segurar
constituem dar
paranao sul,
Europa. E se
vai dar nadirigir
costa
técnicas úteis. A referência ao reboque mostra a antiga relação entre essa atividade africana. O périplo ensina-
e a de praticagem.7 va como chegar ao porto.
Esse fragmento faz parte do livro Collection de lois maritimes antérieures au XVIII e
Livro com leis
siècle ; seu autor faz uma interessante observação sobre o fragmento em questão
marítimas anteriores corroborando a hipótese de gubernatore significar prático:
ao século XVIII
Suppose-t-on ici que le navire étoit complétement dépourvu d'un
pilote?
ils queJ'en douterois.
le patron n'aAlors ces mots,
pas pris sine gubernatore,
un pilote spécialementsignifieroient-
instruit des
localités, ce que nous nommons pilotes locmans? Il s'ensuivroit que
cette institution auroit été connue des Romains, et je suis porté à
le croire.9
Os Rolos de Oléron
Durante o período medieval o mais importante código de costumes
marítimos a vigorar no Atlântico estava nos Rolos de Oléron, um conjunto
de sentenças compiladas nos séculos XI e XII por autor ignorado. Sua
denominação deve-se ao fato de serem os julgamentos redigidos em
pergaminhos que eram enrolados – o que facilitava transportá-los nos
navios – e de derivarem da Ilha de Oléron, na costa Atlântica da França,
local onde se comercializavam largamente vinho e sal. Esse fato parece
explicar em grande parte o motivo pelo qual o código foi elaborado:
assegurar que o vinho exportado de Bordeaux chegasse em segurança à
Inglaterra. Os práticos eram importantes nesse contexto, e algumas
Brasão da cidade do
passagens dessas leis a eles se referiam.
Castelo de Oléron
Os 24 artigos redigidos inicialmente estabeleciam fundamentos legais para a
proteção social e regras relacionadas à segurança, sem nada de bárbaro. Alguns
artigos anexados a posteriori , contudo, eram de extrema brutalidade. Os
22 De 1808 a 2008: 200 anos de praticagem regulamentada no Brasil
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Artigo XIII
Um navio é carregado
em qualquer eme Bordeaux
outro lugar chega a seuoulocal
La Rochelle ou
de descarga
e, segundo sua carta de afretamento, despesas com
rebocadores e praticagem de porto são de responsabili-
dade dos comerciantes [proprietários ou recebedores de
carga]. Na costa da Bretanha, todos os que embarcam
após a passagem da Ilha de Batz [fora de Roscoff] são
práticos de porto (...) E isso é o julgamento nesse caso.
Artigo XXIV
Um jovem
para é o prático
conduzi-lo de umonde
ao porto navio,deve
sendodescarregar.
contratado
Pode ocorrer que o porto seja um porto fechado. O
comandante é obrigado a providenciar seu fundeio ou
atracação por seus próprios meios e de sua tripulação,
e também a colocar bóias que sejam visíveis acima do
nível da água, ou certificar-se de que o fundeadouro
esteja bem demarcado, e que os comerciantes não
sofram prejuízos; e se ocorrerem prejuízos, o coman-
dante é obrigado a repará-los, se eles [os comerciantes]
apresentarem razões que suplantem as apresentadas pelo
comandante. O prático terá desempenhado adequada-
mente seus deveres quando tiver levado o navio com
segurança até seu atracadouro, que é o local até onde
ele deve conduzir a embarcação, e daí em diante, a
responsabilidade passa a ser do comandante e sua
O Livro Negro
tripulação. E isso é o julgamento nesse caso. do Almirantado
Artigo XXXIV
É também costume no mar que se uma nave for perdida por culpa de um prático,
os marinheiros podem, se lhes aprouver, levar o prático a um guindaste ou a um
outro lugar para lhe cortar a cabeça sem que o comandante do barco ou seus
marinheiros tenham a obrigação de justificar esse ato diante de um juiz, já que o
prático traiu a atividade de praticagem. E isso é o julgamento neste caso.
quase doiscom
exclusiva, séculos
18 em muitos
artigos, quepaíses. As ordenações
regulamentava francesas
o serviço continhamOuma
de praticagem. seção
primeiro
artigo estatuía o seguinte:
Nos lugares onde pareça necessário estabelecer pilotos para conduzir os navios, na
entrada e saída dos portos, no interior destes, nas enseadas e rios navegáveis, o seu
número deverá ser regulamentado pelos oficiais do Almirantado, sob o conselho dos
intendentes do porto e dos mais eminentes comerciantes do lugar.
Art. 1, XVIII - Os pilotos da barra, que por ignorância tiverem feito encalhar uma
embarcação, serão condenados a açoites e privados para sempre da pilotagem; e a
(…) contudo acho de suma conveniência, que estes práticos sirvam sob as disposições
de um regulamento, que lhes marque as multas e penas corporais [grifo nosso],
quando por negligência, e erros cometidos no exercício de suas funções causem danos
ao porto, e ao mesmo comércio, e que os puna, visto estarem sujeitos a esta Inspeção,
de toda a insubordinação que houverem de praticar para com o inspetor, e patrão-
mor, e pela falta de cumprimento de ordens que por estes dois indivíduos lhes forem
transmitidas: o primeiro, na qualidade de chefe da Polícia do Porto, e o segundo,
15
como ajudante, ou um agente principal deste chefe. 15 Disponível em
http://brazil.crl.edu/bsd/bsd
hartness/marinha.html,
A praticagem se desenvolveu nos países marítimos segundo variáveis que não seria 1844-3, index: S6-9 e S6-10.
possível elencar aqui. Cobrir o desenvolvimento da profissão em todos esses
estados seria certamente tarefa distinta daquela a que se propõe esta publicação.
3. A pilotagem em Portugal
Introdução
Embora
em terrasalusas,
praticagem brasileira
a atividade tenhaestá
no Brasil origem distinta relacionada
intimamente da observada
à
história da pilotagem portuguesa. Os primeiros práticos do Brasil eram
portugueses, pois dava-se preferência aos profissionais que já houvessem
exercido o ofício em Lisboa. Não por acaso o patrono da praticagem
brasileira é um português: o capitão de milícias Francisco Marques Lisboa,
pai do almirante Tamandaré (patrono da Marinha brasileira).
Porque, pescando com as redes à deriva, com linhas ou com artes de arrasto,
adquiriram o conhecimento das correntes e revessas, dos fundos e sua natureza. Tudo
isso, relacionado também com a conhecença da terra, dava-lhes uma sabedoria que
estava,
dispunhana de
maioria dos casos,
cartografia fora do nem
desenvolvida conhecimento
de roteiros.doFica
navegante, que aindaque
assim entendível nãoo
recurso ao prático local foi uma necessidade que não se pode situar no tempo.
Na nossa ótica os navios que subiam esses rios, ou tinham ajuda de práticos ou
os mestres eram originários desses portos fluviais. Dada a data referida de 1122,
os indivíduos referidos seriam moçárabes ou mouros, o que pode pressupor
que os primeiros práticos, do que depois seria o território português,
16 MARTINS, Joaquim seriam árabes.16
António. Ob. cit.,
pp. 13-15.
Para a pilotagem prática lusa foram muito importantes os conhecimentos acerca
da previsão do tempo transmitidos pelos pescadores de Seixal, Olivais e Barreiro,
que fora da barra de Lisboa usavam as tartaranhas – barcos de formas muito cheias
a proa, de vela de bastardo e com muitos panos envergados em varas horizontais,
a vante e a ré.
Serra da Arrábida, que se mostrava mais ou menos clara, pelo fenômeno dos
ventos que sopram no verão, “diferenciadamente no Rio Tejo até São Julião e
fora da barra até para além da linha de entre-cabos” etc. Essas informações eram
muito importantes na época da navegação a vela, tendo sido transmitidas de
geração em geração para os práticos da barra de Lisboa e de outras.
portugueses, enaperigosa,
contingente sua grande maioria
e maus barraspois
de sair, fluviais, maus de(ventos
as travessias demandar, de entrada
de oeste) ou as
nortadas obrigavam para ganhar barlavento, a bolinar, mas que por isso mesmo
constituíram a fecunda escola onde se afiançaram desde os primeiros tempos as
aptidões dos nautas portugueses.
Além dos pilotos práticos, que exerciam sua profissão em portos e barras,
Portugal dispunha de pilotos náuticos, que serviam nas expedições junto à
Armada ou no comércio marítimo. A legislação concernente ao assunto,
entretanto, não esclarece as diferenças entre os dois tipos de profissional. O certo
é que os pilotos náuticos, cuja função inicial quando chegavam a sítios
desconhecidos era investigá-los a bordo de barcos menores, tornavam-se a partir
da primeira visita ao local autênticos práticos embarcados, disponíveis para ações
futuras, capazes de levar a bom pouso os navios da frota.
Joaquim A. Martins dá ainda outro exemplo da atuação dos pilotos náuticos como
práticos. Diz ele que D. Henrique (1396-1460) teve a preocupação de ter
em Lagos (sul de Portugal) pilotos para servir à navegação em suas viagens do
Estreito de Gibraltar em direção ao oeste. Entre outras medidas, o infante
concedeu privilégios a Martim Vicente, piloto e morador de Lagos.
Ainda que os reis justificassem seus atos lançando mão de argumentos religiosos
– as expedições seriam uma espécie de cruzada cristã contra os muçulmanos –,
um dos principais objetivos do empreedimento era quebrar o monopólio exercido
pelas cidades de Gênova e Veneza sobre as rotas de comércio com a Ásia e
estabelecer contato direto com as fontes produtoras, especialmente a Índia, por
mar. Formou-se uma forte aliança entre setores mercantis e a nobreza a fim de
sustentar o ambicioso projeto da expansão marítima portuguesa.
aos comandantes, escolhidos quase sempre na nobreza e sempre entre pessoas que
mereciam a confiança ou simpatia do monarca, não se exigiam conhecimentos da
especialidade e só as qualidades próprias de um bom comandante, idênticas na terra
e no mar, sobrelevando provavelmente a todas a coragem. Aos pilotos estava
A
ummaneira
pequeno como esses navios
universo erama habitados,
fechado sociedade navegados
portuguesae da
comandados
época. Noresumia
comandoem
supremo estavam os fidalgos aristocratas. Religiosos embarcados cuidavam de
manter a bordo o enorme poder que a Igreja tinha em Portugal. Havia técnicos em
navegação, como os pilotos, que eram as pessoas mais importantes a bordo depois
do capitão – e ninguém podia interferir no seu julgamento sobre as manobras do
navio. Seu local de trabalho era uma cadeira ao lado da “agulha de marear” (a bússola).
No mesmo artigo Bonalume acentua que as técnicas de navegação não podiam ser
consideradas “estritamente científicas”. O trabalho dos pilotos ainda era muito
empírico – só no século XVIII, por exemplo, seria possível uma determinação
razoável de longitude. A prática e experiência de que em parte se valiam os pilotos
renderam-lhes severas críticas por parte do famoso cientista e cosmógrafo-mor do
reino Pedro Nunes (1502-1578) que apontava muitas falhas em sua formação.22 22 Disponível em
http://www1.
folha.uol.com.br/fol/brasil
Portugueses e espanhóis levaram séculos para aprender a navegar no Oceano 500/histdescob2.htm
Atlântico. Os ventos e as zonas de calmaria equatoriais eram verdadeiros tormen-
tos para os navegadores. Quando os homens do infante D. Henrique – padrinho
das explorações ultramarinas lusas – começaram a se aventurar pela costa oeste da
África, eles estavam trocando a segurança do Mar Mediterrâneo pela incerteza e
amplidão do Mar Tenebroso, como era conhecido então o Atlântico:
As costas mediterrâneas, banhadas pelo ‘mar fechado’, jamais ficavam a mais de
800km uma da outra, no sentido norte-sul, ocupando apenas 7º de latitude. Mas a
costa africana se estende de 38º de latitude norte a 38º de latitude sul, distância que
equivale a um quinto da volta ao globo. De início, para calcular o ponto em que
seus navios se encontravam, os navegadores se baseavam na altura em que a Estrela
Polar se encontrava no horizonte. À medida que avançaram para o sul, os lusos viram
esse signo universal de localização ‘afogar-se’ no horizonte norte. A cosmopolita
comunidade que D. Henrique atraíra para Sagres – da qual fariam parte o astrônomo
Abraão Zacuto e o matemático José Vizinho, todos judeus fugidos das perseguições
de Castela – desenvolveu ou aperfeiçoou tabelas matemáticas com a declinação dos
astros e admiráveis instrumentos de navegação, entre os quais o quadrante, o Quadrante
astrolábio, a agulha de marear (espécie de bússola), a balestrilha e o noturlábio (um
tipo de astrolábio usado à noite, com a luz das estrelas), além de aprimorar os
rudimentares portulanos, antigos mapas náuticos feitos pelos árabes em peles de
carneiro ou pergaminhos.23 23 BUENO, Eduardo.
A viagem do descobrimento,
pp. 72-73.
Os navegadores portugueses quatrocentistas precisaram de muitos anos para realizar
o périplo africano. O primeiro a contornar a África foi Bartolomeu Dias que, graças
a sua grande habilidade marinheira e a de seus pilotos Pero de Alenquer, Álvaro
Parte I – Uma profissão que vem de longe 29
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Os pilotos de Cabral
Da tripulação da viagem que resultou no descobrimento do Brasil em 1500, tem-se
econhecimento de pelo
do já citado Pero menos trêsApilotos
de Alenquer. – Afonso
esses homens Lopes,
estava Pero Escobar
confiado (ou Escolar)
o comando técnico
do empreendimento, enquanto a Cabral cabia a chefia militar da missão.
Na noite seguinte, ventou tanto sueste com chuvaceiros que fez caçar as naus, e
especialmente a capitânea. E sexta pela manhã, às oito horas, pouco mais ou menos,
por conselho dos pilotos, mandou o capitão levantar âncoras e fazer vela; e fomos
ao longo da costa, com os batéis e esquifes amarrados à popa na direção do norte,
para ver se achávamos alguma abrigada e bom pouso, onde nos demorássemos, para
tomar água e lenha (...)
Fomos de longo, e mandou o capitão aos navios pequenos que seguissem mais
chegados à terra e, se achassem pouso seguro para as naus, que amainassem. E,
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velejando nós pela costa, obra de 10 léguas do sítio donde tínhamos levantado ferro, A caravela portuguesa
acharam os ditos navios pequenos um recife com um porto dentro, muito bom e
muito seguro, com uma mui larga entrada. E meteram-se dentro e amainaram. As
Ao contrário da nau,
naus arribaram sobre eles, e um pouco antes do sol posto amainaram também, obra a caravela portuguesa
de uma légua do recife, e ancoraram em 11 braças. foi embarcação sem
E estando Afonso Lopes, nosso piloto, em um daqueles navios pequenos, por antecedentes
surgiu conhecidos,
no segundo
mandado do capitão, por ser homem vivo e destro para isso, meteu-se logo no quartel do século XV.
Era navio de dois
esquife a sondar o porto dentro; e tomou dois daqueles homens da terra, mancebos mastros latinos, isto é,
e de bons corpos, que estavam numa almadia (...) com velas triangulares,
possuía roda de proa e
Ao contrário do que acontecia na costa leste da África, região de grande atividade cadaste e popa redonda,
mercantil, onde tanto Vasco da Gama como Cabral utilizaram pilotos locais, no uma coberta, tilha a
território recém-descoberto não havia nem de longe algo parecido com pilotos de proa e tolda e chapitéu a
ré. Verossimilmente,
barra ou porto. Eram terras virgens, fora das rotas comerciais da época, o que levou tinha o porte de 40 a 60
os pilotos a atuarem como práticos, guiando a bordo de embarcações miúdas os
grandes navios da frota cabralina, em busca de um “porto seguro”. Feito o primeiro tonéis
poderiae,utilizar
se necessário,
remos.
reconhecimento local, nas viagens futuras voltariam os mesmos navegadores ou A grande dimensão das
outros aos quais fossem transmitidos os conhecimentos das particularidades do lugar. vergas – podiam atingir
o dobro do que era
normal nos navios
Seria exagero apontar esses homens como os primeiros práticos do Brasil; no latinos do Mediterrâneo
entanto é legítimo afirmar que eles simbolizam os primórdios da profissão no país. – e a proporção do
casco, muito afilado,
deram-lhe excepcionais
qualidades veleiras,
permitindo-lhe navegar
com bolina
apertada, muito
cerca de cinco a
seis quartas do vento, o
que a tornava muito su-
perior aos navios coevos.
Senhor: O bacharel mestre João, físico e cirurgião de Vossa Alteza, beijo vossas reais mãos. Senhor:
porque, de tudo o cá passado, largamente escreveram a Vossa Alteza, assim Aires Correia como todos
os outros, somente escreverei sobre dois pontos. Senhor: ontem, segunda-feira, que foram 27 de abril,
descemos em terra, eu e o piloto do capitão-mor e o piloto de Sancho de Tovar; tomamos a altura do
sol ao meio-dia e achamos 56 graus, e a sombra era setentrional, pelo que, segundo as regras do
astrolábio,
pólo antárticojulgamos estar afastados
em 17°, segundo é manifestoda naequinocial poré 17°,
esfera. E isto e tera um
quanto por dos
conseguinte
pontos, peloa que
altura
saberá do
Vossa Alteza que todos os pilotos vão tanto adiante de mim, que Pero Escolar vai adiante 150 léguas,
e outros mais, e outros menos, mas quem diz a verdade não se pode certificar até que em boa hora
cheguemos ao cabo de Boa Esperança e ali saberemos quem vai mais certo, se eles com a carta, ou eu
com a carta e o astrolábio. Quanto, Senhor, ao sítio desta terra, mande Vossa Alteza trazer um mapa-
múndi que tem Pero Vaz Bisagudo e por aí poderá ver Vossa Alteza o sítio desta terra; mas aquele
mapa-múndi não certifica se esta terra é habitada ou não; é mapa dos antigos e ali achará Vossa
Alteza escrita também a Mina. Ontem quase entendemos por acenos que esta era ilha, e que eram
quatro, e que doutra ilha vêm aqui almadias a pelejar com eles e os levam cativos. Quanto,
Senhor,mas
podido, ao outro ponto, por
não muito, saberá Vossa
causa Alteza
de uma pernaque,queacerca
tenhodasmuito
estrelas,
mal,euquetenho trabalhado
de uma coçadurao que tenho
se me fez
uma chaga maior que a palma da mão; e também por causa de este navio ser muito pequeno e estar
muito carregado, que não há lugar para coisa nenhuma.
Somente mando a Vossa Alteza como estão situadas as estrelas do (sul), mas em que grau está cada
uma não o pude saber, antes me parece ser impossível, no mar, tomar-se altura de nenhuma estrela,
porque eu trabalhei muito nisso e, por pouco que o navio balance, se erram quatro ou cinco graus, de
modo que se não pode fazer, senão em terra. E quase outro tanto digo das tábuas da Índia, que se não
podem tomar com elas senão com muitíssimo trabalho, que, se Vossa Alteza soubesse como
desconcertavam todos nas uns
Canárias desconcertavam polegadas, ririaemdisto
dos outros maispolegadas,
muitas que do astrolábio; porque desde
que uns diziam, Lisboa
mais que outros,atétrês
as
e quatro polegadas, e outro tanto desde as Canárias até as ilhas de Cabo Verde, e isto, tendo todos
cuidados que o tomar fosse a uma mesma hora; de modo que mais julgavam quantas polegadas eram,
pela quantidade do caminho que lhes parecia terem andado, que não o caminho pelas polegadas.
Tornando, Senhor, ao propósito, estas Guardas nunca se escondem, antes sempre andam ao
derredor sobre o horizonte, e ainda estou em dúvida que não sei qual de aquelas duas mais baixas seja
o pólo antártico; e estas estrelas, principalmente as da Cruz, são grandes quase como as do Carro; e a
estrela do pólo antártico, ou Sul, é pequena como a do Norte e muito clara, e a estrela que está em
cima de toda a Cruz é muito pequena.
Não quero alargar mais, para não importunar a Vossa Alteza, salvo que fico rogando a Nosso
Senhor Jesus Cristo que a vida e estado de Vossa Alteza acrescente como Vossa Alteza deseja. Feita
em Vera Cruz no primeiro de maio de 1500. Para o mar, melhor é dirigir-se pela altura do sol, que não
por nenhuma estrela; e melhor com astrolábio, que não com quadrante nem com outro
nenhum instrumento. Do criado de Vossa Alteza e vosso leal servidor.
oh nnes
20
32 De 1808 a 2008: 200 anos de praticagem regulamentada no Brasil
http://slidepdf.com/reader/full/livro-200-anos-de-praticagem-regulamentada-no-brasil
5/27/2018 Livro 200AnosdePraticagemRegulamentadaNo Brasil-slidepdf.com
Canto VI
estrofe 5