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Os novos desafios da Europa comunitária

Dep. Carlos Coelho

Vamos começar os nossos trabalhos com o tema "Novos desafios da Europa


comunitária". Connosco temos o Dr. Mário David, que é actualmente Deputado à
Assembleia da República, mas que foi Secretário de Estado dos Assuntos Europeus
do último Governo do PSD.

O hobbie é viajar, (eu sou testemunha disso), a comida favorita é a da mulher, o


livro que sugere é "Carta aberta às crianças da Europa", o filme é "The killing
fields", o horror da guerra e o valor da amizade, a principal qualidade que valoriza
nos outros é a honestidade e a coragem moral e física.

Dr. Mário David muito obrigado por ter aceite o nosso convite, a palavra é sua.
€

Dep.Mário David

Muito obrigado Carlos Coelho, amigo de longa data, e um abraço a todos os


companheiros da JSD que partilham esta Universidade de Verão. Esta é uma
experiência que eu não conhecia até 1989, quando fui pela primeira vez a Bruxelas
e verificar que muitos dos nossos parceiros e partidos irmãos faziam um evento
deste género. Felicito o Carlos Coelho pela transposição para Portugal de uma
experiência tão enriquecedora.

Espero que a tarde de hoje seja tão enriquecedora para vós, que aprendam coisas
novas, mas também para mim, que eu consiga sentir o pulsar da juventude
portuguesa face às expectativas que todos nós temos relativamente ao futuro da
nossa União.

Eu tinha pensado abordar três temas e fazer uma referência breve a um quarto. Os
três temas são o Tratado Constitucional (o grande assunto do momento), a questão
das perspectivas financeiras e os limites da Europa (os futuros alargamentos). Uma
matéria para abordar en passant seria a Estratégia de Lisboa.

Em primeiro lugar, o Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa.


Estamos hoje a atravessar uma das maiores crises da União Europeia. Já passámos
por outras e soubemos sempre ultrapassá-las.
Mas aquilo que é preocupante é que o Conselho Europeu não tenha sido capaz de
transmitir uma imagem de liderança, clarividência, criatividade e esperança.

A proposta de fazermos uma reflexão de cerca de um ano e que foi decidida no


último Conselho Europeu apenas revela, para mim, a incapacidade dos Chefes de
Governo de compreenderem o verdadeiro Estado de espírito dos cidadãos europeus.
Durante 5 décadas, desde a sua fundação, a União representou para todos os seus
cidadãos uma garantia de paz e estabilidade no nosso continente ao mesmo tempo
que era acompanhada por um surto evidente de prosperidade, bem-estar,
progresso, patente no quotidiano de todos os cidadãos.

Hoje as nossas preocupações são outras: Emprego (em primeiro lugar), Imigração,
Modelo Social, Concorrência, Deslocalização, Dumping Social e Ambiental.
E sobre isto, no último Conselho Europeu, se estão recordados, não houve nada! O
Tratado foi apenas um pretexto e não foi a causa do voto negativo!

Eu gostaria de aqui discutir convosco quais são, em minha opinião, as virtualidades


do Tratado e depois, talvez já na fase do diálogo, falarmos dos motivos do voto
negativo em França e dos Países Baixos.

Comecemos por nos perguntar o que querem os Chefes de Estado e de Governo


fazer daqui a 12 meses! O que é que eles vão decidir que não pudessem ter
decidido já agora?
Julgo que teria sido mais útil assumir desde já o fracasso da apresentação desde
Tratado e iniciar já os mecanismos que levassem à aprovação dum novo Tratado
assente nos princípios que permanecem válidos (que vos vou tentar explicar) mas
bem mais sucinto e compreensível que o actual texto.
Com esta medida que tomaram, de estagnar durante 12 meses, o que fizeram foi
perder 12 meses na vida da UE.
Porque é que há gente que está contra este Tratado? Recordemos o que é que ele
enuncia e o que deve ser preservado.
Em primeiro os valores da UE. Quais são? O respeito pela dignidade humana, a
liberdade, a democracia, a igualdade, o Estado de Direito, o pluralismo, a não
discriminação, a tolerância, a justiça, a solidariedade, a igualdade entre homem e
mulher.

Depois somos uma União com símbolos. Quais são? Estão definidos no Tratado: a
bandeira, um hino (uma parte do 9º andamento da última sinfonia de Beethoven,
temos uma divisa ("A unidade na diversidade"), temos uma moeda e um dia, que é o
9 de Maio.

Também, o Tratado, nos seus princípios, consagra as liberdades de todos os seus


cidadãos: a livre circulação de pessoas, bens, serviços, capitais, conhecimento; a
proibição de discriminação em razão da nacionalidade.
Define os nossos objectivos: em primeiro lugar promover a paz e os seus valores, o
bem-estar, o espaço de Liberdade, Segurança e Justiça, o Mercado Único (livre,
com uma concorrência não falseada), com desenvolvimento sustentado, uma
economia social de mercado, a melhoria da qualidade do ambiente e uma
protecção social.
Finalmente os nossos direitos: o direito de cidadania europeia, de livre circulação,
de residência, de elegibilidade para o Parlamento Europeu e órgãos autárquicos em
todo o espaço europeu, o direito de petição (não só ao PE mas também ao Provedor
de Justiça), a utilização da língua materna, acesso aos documentos e protecção
consular e diplomática.

Do ponto de vista político, o Tratado fala da igualdade entre todos os Estados-


Membros, bem como o reconhecimento explícito da dupla natureza da União (uma
união de Estados e de cidadãos em plano total de igualdade).

Esta foi a forma de se conseguir conjugar o alargamento e o aprofundamento duma


forma justa e equilibrada. A cidadania da União Europeia é complementar da
identidade nacional, não a substitui.
Outro postulado é o reforço do princípio da coesão económica, social e territorial,
na medida em que sem solidariedade não faz sentido a existência da própria UE.

Uma outra coisa que nos preocupa sempre muito é o reforço do estatuto das regiões
ultraperiféricas, transformando-a num instrumento mais eficaz face às
especificidades (para nós) dos Açores e Madeira.

O reforço da união e método comunitário: neste Tratado não houve nenhuma re-
nacionalização de competências, foi confirmado o direito de iniciativa da Comissão
e alargado o âmbito da co-decisão entre Conselho e Parlamento Europeu.

Um dos vectores mais importantes é a simplificação do processo decisório, com a


tipificação e redução dos actos jurídicos e a fusão dos pilares. (mais tarde voltarei
a isto).

Finalmente um funcionamento mais eficaz, transparente e democrático e um


aprofundamento gradual do próprio projecto europeu.

Há também um reforço do papel dos parlamentos nacionais, estabilizando as suas


competências, a participação no processo decisório, a aplicação dos princípios de
proporcionalidade e de subsidiariedade, e aquilo que chamamos o alerta precoce:
se 1/3 dos parlamentos nacionais entenderem que uma determinada iniciativa da
Comissão Europeia ultrapassa as competências definidas nos Tratados, nessa altura
a Comissão tem de retirar a sua proposta e reformulá-la para que se possam
cumprir os princípios que acabei de enunciar.

Portanto, foi um Tratado pensado nos benefícios que podia trazer para o cidadão
europeu que é o seu primeiro destinatário: essencialmente tentar aproximar a
Europa dos cidadãos. Reforma, como disse, a legitimidade, a transparência, a
eficácia e a coerência no processo de decisão.

Na sua Parte II, tem a inclusão da Carta dos Direitos Fundamentais que passa a ter
pela primeira vez uma força jurídica vinculativa. O que é que ela traduz?
Essencialmente os nossos direitos civis, políticos, tem até um capítulo designado de
"a boa administração", os direitos sociais dos trabalhadores, a protecção de dados
pessoais e as questões da bioética. Foi no interesse de todos nós que a Carta foi
consagrada.

Tenta-se que a União não seja uma coisa estática, que seja um processo gradual,
compreendido e aceite por todos os cidadãos. Nesse sentido é também criado um
direito de petição (desde que haja um milhão de assinaturas) que permite solicitar
à Comissão Europeia a definição de uma determinada directiva.

Permitam que lhes recorde a posição da Confederação Europeia dos Sindicatos: a


política social, com este novo Tratado, passa a ser uma competência partilhada e o
papel dos parceiros sociais passa a ser reconhecido, razão que levou a referida
Confederação a apoiar e a apelar ao apoio popular a este Tratado.

Finalmente, é atribuída uma personalidade jurídica, tornando a UE num sujeito de


direito internacional, com capacidade diferente da que tinha até hoje.

Gostaria que atentassem nestas prerrogativas do Tratado e depois no debate que


teremos digam-me se vêm aqui nisto algo que violente algum de nós. no meu caso
não consigo deslindar nada!

Aproveitou-se também esta iniciativa constitucional para fazer uma reforma das
instituições. É que face ao último alargamento, em que passámos de 15 para 25,
continuávamos a viver com as mesmas regras institucionais que tínhamos desde o
início da UE.

Assim, foi definido o PE para um máximo de 750 deputados (que variam entre os 6 e
os 96 consoante a população dos Estados), o Conselho Europeu passa a ser, pela
primeira vez, uma instituição da União Europeia, até aqui era o órgão que dava o
impulso político à UE mas não tinha de prestar contas a ninguém: com este
Tratado, o Conselho passaria também a estar sujeito ao controle do Tribunal de
Justiça das Comunidades. É criado um lugar de Presidente do Conselho Europeu,
por dois anos e meio, que é suposto ser o novo dinamizador, terá representação
externa da União, as presidências do Conselho passam a ser agrupadas de três
países por dezoito meses.
Isto é mais uma maquilhagem que uma alteração substancial, na medida em que é
sempre dada oportunidade a esses três países para estabelecerem a presidência
como quiserem e na prática aquilo que continuará a acontecer é que cada um terá
o seu semestre de presidência.

Mas, é possível que os três países em causa decidam que o Conselho da


Competitividade seja presidido a todo o tempo pelo país x, o Conselho Justiça e
Assuntos Internos pelo país y, etc. Tudo é possível.

Note-se que já foram dados passos antes da entrada em vigor deste Tratado.
Nomeadamente as presidências colectivas entram já em vigor a 1 de Janeiro de
2007 e o primeiro grupo terá à cabeça Alemanha, Portugal e Eslovénia. Assim, a
manter-se tudo como está, a próxima presidência portuguesa será no segundo
semestre de 2007.

A Comissão, que neste momento tem um comissário por Estado-Membro, passará, a


partir de 2014, a ter somente 2/3 dos Estados representados na Comissão, numa
rotação estritamente igualitária, ou seja, o Comissário de Malta estará tantas vezes
na Comissão como o da Alemanha.

É criado o lugar de Ministro dos Negócios Estrangeiros, com um duplo papel, ou


seja, ele vai continuar a ser o Alto Representante para a Política Externa ao nível
do Conselho e vai ser em simultâneo vice-presidente da Comissão, tendo o pelouro
das relações externas. Tal como o Presidente do Conselho Europeu, será designado
por uma votação de maioria qualificada.
Essa maioria qualificada é redefinida no Tratado e é-o com uma dupla maioria: para
se conseguir maioria qualificada é necessário os votos de 55% os Estados (ou seja,
um mínimo de 15) e que representem ao mesmo tempo 65% da população.

Para que haja uma minoria (que não seja apenas a dos quatro grandes Estados), é
necessário mais do que quatro grandes Estados.

E depois recorreu-se a um jargão comunitário que já devem ter ouvido falar, que é
o Compromisso de Ioanina. O que é isso?
Bem, na UE, quando se vota, ganha-se ou perde-se, mas não há interesse nenhum
em violentar ninguém ou prejudicar os Estados. Assim, quando não há força
suficiente para bloquear uma decisão mas já ¾ dessa força estão conseguidos, em
vez de se passar logo à votação, tenta-se buscar um compromisso de modo a que
não haja ninguém ou nenhum Estado violentado. Embora nem sempre seja depois
possível o consenso.

Referi há pouco que com este Tratado há uma simplificação de procedimentos.


Neste momento há 36 instrumentos comunitários, com o Tratado reduzimos para 6.
Passa a haver os actos legislativos (as leis e as leis-quadros), os actos não-
legislativos (os regulamentos e as decisões) e os "pontos de vista" (é a linguagem
utilizada) que são recomendações e pareceres.

É generalizada a co-decisão, para melhorar a dupla legitimidade da União Europeia


(quer através dos Estados representados no Conselho quer nos Povos representados
no PE). No entanto, em determinadas áreas é mantida a unanimidade. Justamente
para garantir a defesa de todos os Estados, particularmente dos mais pequenos.

Essa unanimidade é garantida na fiscalidade, recursos próprios, o quadro financeiro


plurianual, (por isso o Direito de Veto que todos têm nas Perspectivas Financeiras),
nas áreas de política europeia de segurança comum, na política externa e nas
prescrições mínimas a Segurança e Social.
Há também a clausula de "Passarelle" que é a possibilidade duma certa legislação
que nos termos da Constituição ou do Tratado exigem unanimidade poder passar
com maioria apenas qualificada se os Estados decidirem (por unanimidade) essa
passagem, isto no sentido de aligeirar (e não ter de haver outra Cimeira Inter-
Governamental).

Se mais de 1/3 dos Estados quiserem avançar num determinado domínio, podem
fazer uma cooperação reforçada de modo a poderem aprofundar a actuação
comunitária fora das suas áreas de competência exclusiva.

Outros dos aspectos do Tratado é a impossibilidade de haver défice no Orçamento.


As despesas não podem ser superiores às receitas, bom como a unidade de
documento (no mesmo documento devem estar consignadas as despesas e as
receitas).

Muito discutido (particularmente em Portugal, realço isto, para não dizer que foi o
único Estado em que eminentes cidadãos levantaram a questão) é o Princípio do
Primado da Legislação Comunitária.
Obviamente que há uma explicação para tudo isto. Em Julho de 1960, pela primeira
vez o Tribunal de Justiça das Comunidades através de jurisprudência
(paulatinamente consolidada) proclamou o Principio do Primado Incondicional de
todo o direito comunitário sobe todo o direito nacional, seja ele ordinário ou
constitucional. E isto pode parecer de facto uma violentação! Como é que a UE se
permite estabelecer uma determinada legislação que sobrevalece sobe toda a
legislação nacional: a razão é simples!

Há necessidade de haver uma uniformidade e uma eficácia na aplicação do direito


comunitário. Ou seja, as normas da UE têm de ter, em todos os Estados, o mesmo
significado para que não haja distorção (até de concorrência), têm de ter a mesma
força obrigatória e o mesmo conteúdo invariável. Se tal não fosse, cada País podia
adaptar as suas legislações de forma a poderem contornar determinadas directas da
UE.
Era muito fácil: votava-se lá por unanimidade e chegávamos cá e subvertíamos o
que lá se votou.
É esta a razão do célebre artigo 5º.

Outra das questões que têm sido colocadas prende-se com o facto de não ter havido
uma suficiente democratização no processo de elaboração dum Tratado
constitucional. Não foi bem assim.
Deixem-me contar-vos. Em todos os outros Tratados que foram feitos, desde o
início, existiu sempre uma CIG (Conferência Inter-Governamental), ou seja, foi
cometido aos Primeiros-Ministros a responsabilidade de os redigirem, e muitos
delegaram em Ministros dos Negócios Estrangeiros, que por sua vez delegaram nas
suas equipas.

Desta vez foi-se por outro caminho. Fez-se uma Convenção, lembram-se do termo?,
que foi um organismo muito mais transparente e com ampla participação, em que
estavam efectivamente os 15 Estados-Membros, mais os 13 que estavam a terminar
a adesão à UE, esteve uma representação importante do PE, estiveram delegações
dos parlamentos nacionais, do Comité das Regiões, do Conselho Económico e Social,
dos Parceiros Sociais, houve até um fórum da sociedade civil, o que fez com que
dos 105 membros da Convenção, 72 eram membros directamente eleitos pelas
várias instâncias, nomeadamente parlamentos nacionais.
Portanto, pela primeira vez se alargou o leque de participação na redacção do
projecto, projecto esse que foi aprovado pela Convenção após um trabalho de 15
meses.

(UM MINUTO INAUDÍVEL NA GRAVAÇÃO)


Para terminar este tema, o Tratado consegue fazer um texto consolidado e de
forma sistemática todos os outros Tratados que existiam até então, (se virem o
Tratado de Nice é algo de muito complexo pois está sempre a remeter para a
legislação anterior).

Já agora a questão do nome. Costuma chamar-se Constituição, que é um nome que


violenta algumas pessoas. O termo escolhido, como sabem, foi Tratado
Constitucional, porquê? Tratado porque está sujeito às regras do Direito
Internacional e Constitucional porque tem elementos de natureza constitucional.
É um texto dividido em quarto partes. A primeira tem os objectivos, as
competências, os processos de decisão e as instituições da UE. A segunda insere a
Carta dos Direitos Fundamentais. A terceira fala das acções da UE e o seu método
de funcionamento e o quarto fala das cláusulas finais e do processo de adopção do
próprio Tratado.

Sobre as minhas críticas iniciais à forma como o processo final foi abordado pelo
Conselho, acho que teria sido mais proveitoso (a grande saída) manter a parte 1 e
2, que têm dignidade constitucional e expurgava-se todo o capítulo terceiro, das
políticas internas (essas sim podem variar, podem mudar, consoante a evolução
sócio-política dentro da UE e dos Estados).

Para resolver o problema causado pelos dois nãos referendários, salvávamos as duas
primeiras partes e retirava-se a terceira, pois é aquela que é mutável. Conseguia-se
assim um texto mais constitucional, mais perdurável no tempo.

Sobre as competências que o Tratado prevê são primeiro competências exclusivas,


(matérias que a UE considera que a acção é mais eficaz se for transferida dos
Estados para as instituições). Exemplos disso são a União Aduaneira, o Mercado
Interno, a Política Monetária, os recursos biológicos marítimos e a Política
Comercial.

Depois temos as competências partilhadas: a Política Social, Coesão Económica,


Social e Territorial, a Agricultura e Pescas, a Defesa do Consumidor, Transportes,
Redes Transeuropeias, Energia, o Espaço Liberdade, Segurança e Justiça, a
Segurança da Saúde Pública, a Investigação e a Ajuda Humanitária.

Finalmente as áreas de apoio (onde a UE tem apenas um papel coordenador): a


Saúde, a Indústria, a Cultura, o Turismo, Educação, Juventude e Desporto,
Formação Profissional, Protecção Civil e Cooperação Administrativa.

O que é que se passou até agora? Era suposto que o Tratado entrasse em vigor a 1
de Novembro de 2006, ou seja, dois anos depois da assinatura, em Roma, e os
Estados dispunham de dois anos para fazer a adaptação do Tratado. Mas pela
primeira vez este Tratado, prevendo dificuldades de aplicação, criou um artigo em
que se diz que se ao fim de dois anos, 20 Estados Membros tivessem ratificado a
Constituição e se até 5 Estados não o tivessem feito, o Conselho deveria analisar as
dificuldades que estava a ter lugar. E foi baseado neste artigo que o Conselho, em
Junho, decidiu suspender a ratificação do Tratado, antecipando já esta análise de
dificuldades.

A resposta jurídica é muito simples: se não houver Tratado, a União não fecha,
mantém-se Nice (com as mesmas dificuldades que levaram a querer fazer-se outro
Tratado). Mas há neste momento uma questão política que temos de resolver: é que
há 13 Estados que já ratificaram (Áustria, Chipre, Alemanha, Grécia, Hungria,
Itália, Letónia, Lituânia, Malta, Eslováquia, Eslovénia, Luxemburgo e Espanha, estes
dois por referendo).
Na Bélgica existe um sistema esquisito e é preciso a ratificação de diversas
estruturas políticas, sendo que algumas já ratificaram.

O actual Primeiro-Ministro português fez a proposta de um referendo à escala


europeia. Eu nisto estou à vontade. Tanto quando eu saiba, perdoem-me a
imodéstia mas fui a primeira pessoa (a 19 de Abril de 2002) a escrever um artigo
sobre o tema. Propunha que, por se tratar de uma matéria com dignidade
constitucional, dever-se-ia fazer um referendo a nível europeu. Não num único dia
pois há países com tradição de se fazer à quinta-feira, por exemplo, mas cujos
resultados fossem todos conhecidos no mesmo dia para não haver influências.

Durante o período eleitoral, estariam todos os países a debater o tema em


simultâneo, os argumentos seriam todos sustentados ou rebatidos em simultâneo, e
teria havido vantagem nisso.

Abro aqui um parêntesis para referir ao Sr. Director da UV que esgotei a minha
meia hora e receio que me tenha entusiasmado com o Tratado Constitucional não
havendo tempo para os outros diversos temas.

Dep. Carlos Coelho

Ainda tem alguns minutos que pode usar, Dr. Mário David.
€

Dep.Mário David

Muito bem, então aproveito para falar um pouco sobre o Alargamento.


A UE ainda está, neste momento, numa fase de absorção de 10 novos Estados.
Nunca tinha havido um alargamento tão grande: o maior foi o último, com a Suécia,
a Finlândia e a Áustria, Estados altamente desenvolvidos, com um PIB per capita
muito superior ao da média comunitária de então. Democracias muito consolidadas,
etc., portanto, um alargamento fácil de fazer. Como foram todos os anteriores,
com excepção do da Grécia, diga-se!
Porquê? Porque a Grécia tinha saído da ditadura dos coronéis, e a França (para
garantir a evolução democrática na Grécia) teve a ideia de fazer os gregos entrar
na União sem qualquer discussão ou negociação. Assim eles entraram primeiro e
negociaram depois. Portugal e a Espanha pagaram logo a seguir este erro que a
União fez, pois a União fez-se passar por 8 anos de negociações e adaptações para
que, quando entrássemos, não houvesse problemas.

Neste momento temos um ano e quatro meses desde a entrada dos 10 novos. Chipre
e Malta têm dimensões pequenas, tradições democráticas e não oferecem grandes
problemas (à excepção da questão da divisão de Chipre).
Os outros têm um PIB per capita muito inferior ao da média comunitária, têm ainda
instituições que estão também a fazer as primeiras experiências democráticas, (a
queda do Muro foi em 89), e isso levanta sempre alguns problemas.

Os Tratados de adesão da Roménia e da Bulgária estão já assinados, pressupondo-se


que a entrada destes dois países se faça a 1 de Janeiro de 2007 mas, não estando
imprensa aqui presente, eu quase que apostava que a 1 de Abril de 2007 não entra
ninguém da UE. Tenho fundados receios que a UE venha dizer que estes dois países
precisam de mais um ano para fazerem a real transposição de todas as directivas
que a adesão implica.

Se isto já parecia que ia acontecer com a Roménia, ainda ontem recebi um


telefonema de uma amiga membro do Governo búlgaro, que me traduzia a grande
preocupação que tinham tido depois de uma reunião do seu Primeiro-Ministro em
Bruxelas em que lhe referiram as reservas face ao Estado de consonância do País
com o acervo comunitário.

No dia 17 de Março passado, deveriam ter sido abertas as negociações de adesão da


Croácia. Eles têm um governo da nossa família política, o Primeiro-Ministro é nosso
parceiro, pelo que temos acompanhado com bastante cuidado o processo.

Porém, os países nórdicos e o Reino Unido (particularmente o Reino Unido que tem
umas contas a ajustar com os serviços secretos croatas) propuseram suspender o
processo com a Croácia enquanto o general Ante Gotovina, procurado pelo Tribunal
de Haia, não seja entregue pelas autoridades croatas.

Infelizmente isto foi aprovado por maioria, com o voto de Portugal (a votação foi já
depois do PSD ter saído do Governo, senão tínhamos votado de maneira diferente).
Bloqueou-se assim o processo de adesão da Croácia.
Note-se que o Tribunal de Haia colocou 626 questões ao Estado Croata, 625 foram
satisfeitas: falta a entrega de Gotovina. Por causa disso, mensalmente, tem sido
adiado o início das negociações.

Vamos ver o que vai acontecer agora a 2 de Outubro, na reunião do Conselho de


Assuntos Gerais que é quem pode decidir sobre o tema. Esta é uma matéria que
acompanho com alguma paixão, conheço bem a história do General Gotovina, que
por acaso também é cidadão francês e não vi qualquer sanção à França pelo facto
do Governo francês não ter entregue o General ao Tribunal de Haia. Vingaram-se
nos Croatas.

No dia 1 de Abril também é dia das mentiras na Croácia, (RISOS) e lá, abriram um
telejornal dizendo: não bastou o nosso processo de adesão à UE ser bloqueado como
agora também estamos proibidos de participar com a nossa selecção no
Campeonato Mundial de Futebol na Alemanha enquanto não entregamos o General
Gotovina! (RISOS)
Bom, às 3 da tarde tiveram de desmentir a notícia porque já estavam 200 mil
pessoas (RISOS) no centro da cidade a insultar tudo quanto (RISOS) era UEFA, FIFA,
Governo, União Europeia. (RISOS)

Para verem que há uma nação, um Estado de espírito, refém de um cidadão.


E isto é tanto de mais complexo se virem que em breve (a 3 de Outubro) é suposto
começarem as negociações com a Turquia. A sensação que eu tenho é que, com
excepção do Governo inglês, ( não sei se a pedido norte-americano, os EUA têm
feito alguma pressão sobre a UE neste capítulo), os Governos da UE não são
favoráveis à entrada da Turquia.

Vejam que em conversas bilaterais foram todos contra, depois no Conselho Europeu
de Dezembro votámos todos por unanimidade a adesão da Turquia. Somos
europeístas convictos, gostamos do projecto, mas não deixamos de reconhecer as
hipocrisias que se desenrolam pelo meio!
Agora a Comissão tem de entregar um relatório sobre a forma como pensa fazer as
negociações. O seu primeiro relatório, recomendando a abertura das negociações,
não apresentou, por exemplo, um estudo de impacto que o PE lhe solicitou, mas diz
que a Turquia já cumpre os critérios de Copenhaga (critérios de democraticidade,
respeito pelos direitos do Homem, etc).

Quer-se fazer uma negociação assente em alguns pilares e um deles é reforçar e


apoiar o processo de reformas, garantindo não só que elas são feitas, como a sua
irreversibilidade.
Um relatório da UE diz que essa adesão só pode ocorrer depois de 2015 e que todas
as incidências financeiras da adesão da Turquia, que são imensas, só podem
começar a ser negociadas depois de 2014, ou seja, depois das próximas
perspectivas financeiras. Anunciam-se longos períodos transitórios, nomeadamente
em áreas específicas como nas políticas regionais, política de coesão, e na política
agrícola diz que pode haver disposições específicas para a Turquia.
Eu pergunto-me se isto não representa uma outra forma que não a adesão plena,
pois fala-se em cláusulas de salvaguarda permanentes bem como a livre circulação
de trabalhadores. Ou seja, aquilo que está anunciado para a Turquia é diferente do
que tem acontecido com as outras adesões.

Um outro pilar é um diálogo político e cultural reforçado com as outras nações para
que haja uma maior aceitação da Turquia.

Junta-se a isso, como sabem, que brevemente teremos eleições na Alemanha, e


tudo indica que será a líder da CDU (nossa parceira) a ganhar o embate. Ontem a
coligação dela tinha 51% das sondagens contra 29 do Partido Socialista. Tudo indica
que ganhe a CDU alemã e a CDU tem-se oposto terminantemente à adesão da
Turquia.

Deixem-me dizer-vos que as projecções dizem que em 2025 só para a PAC e para a
Coesão para a Turquia seriam entre 22 e 33 mil milhões de euros, o que é vez e
meia do que aquilo que Portugal recebeu nos últimos sete anos.
Mas o problema não é financeiro, é antes de mais político, é o da aceitação ou não
dos nossos concidadãos, duma forma tranquila, dum Estado muçulmano, com uma
cultura muito diferente.

Para terminar, Carlos, eu costumo dar esta imagem. Nós, daqui a 15 anos, (quanto
tiver terminado o processo de negociação com a Turquia), teremos um referendo de
15 em 15 dias e é por sms, nem sequer é preciso ir lá votar, estaremos
permanentemente a ser solicitados a nos pronunciarmos.

Há pelo menos 4 Estados Dinamarca, França, Áustria e Holanda (para não falar na
Alemanha) que estão preparados para votar contra a adesão da Turquia em
referendo. Como sabem, qualquer entrada de um novo Estado implica a ratificação
por todos os restantes.
E pergunto-me senão seria mais prudente inventar uma nova forma de
"partenariado" para a Turquia que não implique ser Estado-Membro do que, daqui a
15, anos não ser nem uma coisa nem outra. Prefiro ter hoje uma manifestação de 2
milhões em Ankara contra Chirac do que daqui a 15 anos ter o povo turco contra o
povo francês porque foi o povo francês que votou contra. Nessa altura o impacto é
mais grave e as tensões muito maiores.

Peço desculpa de me ter alongado tanto. Muito ficou por dizer mas espero que com
as vossas perguntas mais coisas sejam ditas.

PALMAS

Dep. Carlos Coelho

Antes de passar a palavra ao Daniel para a moderação, recomendo aos participantes


e ao nosso convidado que tenham algum ritmo de forma a que ainda reste tempo
para as perguntas livres.
€

Daniel Fangueiro

Ana Filipa Janine pelo Grupo Amarelo


€

Ana Filipa Janine

Antes de mais gostava de agradecer ao Deputado Mário David pela sua intervenção.
A nossa questão é sobre o alargamento.
O Reino Unido já declarou que a sua principal preocupação durante a presidência
será o alargamento, quer pela questão da Roménia e Bulgária quer pela Turquia e
as negociações com a Croácia.
No entanto, por mais países que a União englobe não há uma correspondente união
de cidadãos.

Isso é visível em varias situações. Quer na abstenção nas eleições do PE, quer no
grande distanciamento face às instituições, quer ainda na ignorância da maioria dos
cidadãos sobre temas como a Constituição Europeia. Até pela forma como os
referendos foram usados para penalizar Governos.

Não será mais urgente sensibilizar os povos da União para aquilo que comummente
se chama a cidadania europeia? Como deve ser feita esta chamada de atenção?
Deve-se partir para o alargamento sem que haja esta união de povos? Será que a
constituição europeia será uma força aglutinadora ou uma fonte de discórdia?

Muito obrigado!
€

Dep.Mário David

Começo por dizer que concordo com muitos pressupostos da sua pergunta, mas
temos de conseguir também um equilíbrio. Tal como foi conseguido no Tratado
Constitucional.
Além de um equilíbrio entre aqueles que são inter-governamentalistas e os que são
federalistas, temos também de ter um equilíbrio entre os que têm aspirações de
pertencer à UE e os que já pertencem. Muitos querem entrar porque vêm na UE
uma forma de entrarem na via irreversível da democracia.
Não falámos aqui, por exemplo, da Ucrânia que está a sair da esfera do bloco
soviético e a única coisa que lhes interessa é entrar na UE. Que perspectivas lhes
podemos dar? Eles não têm situação que lhes permita aderir nos próximos 15 anos.
Está fora de questão.

Mas é um país que tem uma cultura muito mais próxima da nossa.

É importante promover um debate sério a que se responde a esta pergunta: para


onde queremos nós ir enquanto União? Mas tem de ser um debate sério.
Quando foi o debate agora em França houve argumentos com este impacto: era
afirmado pelo NÃO que o novo Tratado proibia o aborto, coisa que nem é falada no
texto; dizia-se também que permitiria os trabalhos forçados e coisas desta
gravidade!

Por isso deve haver um debate sobre onde queremos ir, com quem queremos ir, até
onde devem ir as nossas fronteiras e haver um maior conhecimento das realidades
europeias - ao nível da juventude, o programa Erasmus é óptimo para isso: neste
momento, na República Checa estão dezenas de estudantes portugueses em
Erasmus.

Eu sou europeísta convicto, mas julgo que o problema actual da UE é que fomos
depressa demais nos últimos tempos e que assustámos grande parte dos cidadãos
europeus. Agora é preciso dizer-lhes "não tenham medo" e qual é que é o projecto.
€

Ruben Badaró

Boa tarde. Estivemos essencialmente a falar de desafios internos da UE e não


falámos de desafios externos, como por exemplo a concorrência do mercado
asiático.

A nossa pergunta é esta: como vê essa concorrência dos produtos asiáticos no nosso
mercado, a possível deslocalização de empresas nossas para o mercado asiático e
toda a influência asiática na economia europeia.

Obrigado
€

Dep.Mário David
Obrigado pela pergunta, pois este era um dos temas que eu queria ter focado
inicialmente.

Esta é uma das pedras de toque sobre o que nós queremos para a UE do futuro. À
sua questão eu acrescentaria o modelo social.

Nós temos um modelo social europeu que queremos manter e melhorar. E sabemos
que as outras forças de mercado com as quais estamos em competição
nomeadamente no extremo asiático, não têm as mesmas preocupações que nós nem
de perto nem de longe. Daí a deslocalização como fruto, também, da globalização.

Isto fere alguma esquerda bem pensante, mas eu não percebo como é que alguns
defendem o status quo do nosso mercado laboral, (quando os nossos competidores
não têm nenhuma das nossas preocupações) e depois defendem um clima de portas
abertas. Tem de haver um equilíbrio entre o direito dos competidores de
desenvolverem os seus mercados e compaginar isso com a expectativa dos nossos
concidadãos em adquirir produtos de qualidade a melhores preços.
Estou a falar de pautas aduaneiras que, ao mesmo tempo que protegem a indústria
europeia não violentem o consumidor final.

Em França, durante o referendo falou-se muito das deslocalizações com a entrada


da Turquia. Falou-se também muito do "electricista polaco", aquele homem bem
preparado e que leva mais barato, que faria descer os salários em França: isto não
deixa de nos fazer repensar o tal sistema social europeu.
€

Adelina Cabral

Antes de mais uma boa tarde. Penso que falo em nome de todos nós ao agradecer a
intervenção muito elucidativa relativamente a alguns assuntos da UE, sobretudo do
Tratado.

Eu pegava em três aspectos de que falou: temos um dia, uma moeda e uma
bandeira, falou do conceito de cidadão europeu. Isto parece um Estado. Parece que
o caminho que estamos a percorrer será para uma federação ou confederação de
Estados.

Por outro lado deu o contraponto: a cidadania europeia é complementar e nunca


substitui a cidadania materna. A nossa pergunta é esta: de que forma este aglutinar
de nações tão díspares pode vir a acordar os nacionalismos um pouco adormecidos,
uma vez que já assistimos a alguns movimentos nesse sentido nos últimos tempos.

Eu tive a oportunidade de ler "O Jardim da Delícias" do João Aguiar que traça o
cenário do que pode vir a ser a "federação europeia" daqui a uns anos.

Teme que venham a ressurgir movimentos nacionalistas?


Obrigado.
€

Dep.Mário David

Infelizmente alguns movimentos nacionalistas já estão a ressurgir. E alguns até com


grande intensidade.

Eu julgo que, ao contrário do que poderia parecer, o facto de a União estar a


agregar mais países (e eu antevejo mais 4 ou 5 no médio prazo), dificulta o
caminhar para o modelo federal. Isto porque cada vez há uma maior diluição. Por
força do alargamento, a potência do eixo Berlim-Paris foi-se diluindo porque o bolo
é o mesmo e a fatia tem de ser cada vez mais pequena na medida em que há mais
gente à volta da mesa e que é co-responsável pelas decisões.

Tenho pena que o caminho para o federalismo esteja diluído porque sou também
um federalista convicto.

Como fez o favor de relembrar, a cidadania europeia deve ser complementar à


cidadania nacional: não a substitui. E nós o melhor exemplo daquilo que é uma
soberania partilhada por "n" Estados.
Ninguém entrou para a UE por anexação: isto não foi um império que subjugou.
Mais, pela primeira vez, com o Tratado Constitucional, há o direito de cesseção, o
direito de sair (foi uma coisa que eu há pouco não referi). Claro que antes de estar
consagrada esta norma, haveria sempre uma forma dos outros Estados permitirem o
abandono de um Estado que quisesse sair da União, estou seguro disso.
€

Cristóvão Norte

Eu gostava de focar a questão da globalização. O mundo está cada vez mais


globalizado, as exigências são cada vez maiores, fala-se muito no dumping social e
ambiental e da negação dos EUA em cumprir Quioto e outros acordos fundamentais
para a sustentabilidade do planeta.

A questão que eu queria colocar, à semelhança daquilo que o prof. Medina Carreira
transmitiu numa intervenção há dias, é a seguinte: nós consideramos o modelo
social europeu como um dos vértices da construção europeia, algo imprescindível e
aglutinador. Assim, devemos revisitar alguns conceitos que têm a ver com o
proteccionismo, (como propugna o Prof. Medina Carreira) ou devemos optar por
sermos menos competitivos e garantir que o modelo social europeu continua a
vigorar?
€

Dep.Mário David

Obrigado pela sua pergunta. Eu julgo, pela sua formulação, qual é a opinião que
defende.
Para mim, é muito importante a manutenção do modelo social europeu e até o seu
desenvolvimento.

Isto implica questões importantes tais como o combate ao dumping social e até
fiscal. Veja-se que o Estado chinês financia todas as exportações chinesas. Resta
saber até quando é que aquele regime ultra-capitalista de etiqueta comunista vai
poder fazer isto!

Eu julgo que nem sequer podemos ponderar a hipótese de sermos menos


competitivos para defender o modelo social europeu, antes pelo contrário: aquilo
que quisemos com a Estratégia de Lisboa (com as preocupações económicas, sociais
e ambientais, os três vectores da EL) foi tornar a Europa no continente mais
competitivo.

Eu há pouco contava ao Deputado Carlos Coelho que o Comissário António Vitorino


visitou a China a convite a presidência britânica. Ele contou-me que a dada altura
colocou, meio a medo, a questão dos têxteis chineses no mercado europeu. A
resposta, que é obviamente estudada, "querem impor-nos quotas para os têxteis?
Sem problema nenhum, até porque nós já queremos transferir a sua produção para
África. Expliquem-nos é como é que nós podemos construir airbus aqui em vez de os
irmos comprar a Toulouse". Ou seja, eles já estão noutra onda!

Para nós, enquanto modelo de desenvolvimento, enquanto bem-estar, enquanto


força de paz (não se esqueçam de duas coisas: durante 5 décadas a UE foi um
garante de paz no mundo e a UE e os seus Estados representam mais de 50% de toda
a ajuda humanitária dada no mundo)
(UM MINUTO INAUDÍVEL NA GRAVAÇÃO)
€

Bruno Ventura

Boa tarde a todos.


A questão que queremos colocar tem a ver com o alargamento.
Fazendo uma breve introdução, nós sabemos que a história dos alargamentos
europeus aconteceram sempre numa fase anterior à ratificação dos Tratados. Ou
seja, primeiro entram os povos e depois é que se tenta mudar as regras.

Pelo que eu percebi da sua intervenção, das reuniões bilaterais que teve, nenhum
Estado (à excepção do inglês) era a favor da integração da Turquia. Ou seja, a
Turquia é como o Prof. Freitas do Amaral no governo socialista: ninguém o quis lá,
ninguém sabe como ele foi lá parar, mas ele acabou por lá estar. RISOS
A questão que eu lhe coloco, para não haver mais casos destes, é a seguinte: o que
é importante os cidadãos perceberem tem a ver com "qual é a nossa definição de
Europa". É aquela definição clássica que vai dos Urais até ao Atlântico, ou é
baseada num critério de cultura política, afirmado num modelo da democracia
representativa, num modelo económico assente na iniciativa privada e no modelo
social europeu? É um critério geográfico ou de cultura social, política e económica?
€

Dep.Mário David

Se descobrir algum Chefe de Estado ou de Governo da Europa que lhe dê resposta a


isso eu felicito-o (RISOS) ou também me sinto liberto para não a dar eu próprio
(RISOS).

Mas vamos tentar aprofundar isso porque a questão dos limites da Europa é muito
importante. Quando eu cheguei a Bruxelas, em 89, já nessa altura se discutia isso:
onde acaba a Europa? E onde acaba a Europa politicamente? Eu cheguei 10 dias
antes da queda do Muro, tive oportunidade de apanhar essa discussão toda.

O critério geográfico foi usado, por exemplo, no pedido de adesão de Marrocos! Foi
o primeiro pedido que nos apareceu fora de área, e foi chumbado só com esse
argumento. O critério geográfico já não se aplica em alguns casos. Veja que a
Turquia e Israel são consideradas Europa para fins futebolísticos.

O que é que se passou com a Turquia? Todo o processo é bem aproveitado pelos
turcos no início da questão iraquiana. E os EUA têm necessidade do apoio turco que
nunca lhes foi dado nos termos que eles pretendiam. Portanto, aqueles Estados que
estiveram mais próximos da coligação americana desde o início foram os que mais
apoiaram a estrada da Turquia na UE. Daí o grande entusiasmo do Reino Unido, o
grande entusiasmo da Itália de Berlusconi, Espanha e Portugal com Aznar e Barroso,
e dos novos Estados-Membros todos.

Logo, houve uma grande vontade política de ajudar esses Estados todos. E também
é verdade que a Turquia tem já um modelo de sociedade que é o modelo que mais
se aproxima do nosso. Existe economia de mercado na Turquia como não existe em
mais nenhum país muçulmano. A abertura que tem sido progressivamente verificada
em termos culturais faz-me pensar. Não chega só o modelo político, que já é
bastante próximo do nosso (embora muito há ainda a fazer nos direitos humanos
mas muitos sustentam, por exemplo, que neste aspecto a situação na Roménia não
é muito diferente.

O modelo social deles ainda tem de andar muito, vejam que os trabalhadores ainda
não têm garantias nenhumas. Mas aquilo que mais confusão me faz é a questão
cultural, é o facto de irmos violentar a Turquia para que ela se aproxime dos nossos
parâmetros.

Mas isto tem de ser assim, coisa que já foi amplamente explicada. Existe um clube
com determinadas regras: quem quer aderir tem de se adaptar a essas regras, não
as pode alterar. E as elites políticas turcas consideram que as vantagens de adesão
justificam essa violentação do modelo turco de sociedade. Eu até receio que,
internamente, isso possa ter um preço. Estou plenamente convencido que mesmo
que haja aceitabilidade total do lado turco de todas as regras, haverá um não cego
político dos cidadãos europeus (não das instituições mas sim dos cidadãos)!

Vejam só que o Presidente Chirac, quando tentou fazer passar a Constituição


Europeia, fez aprovar uma emenda na constituição francesa (que já está em vigor)
que diz que qualquer entrada de um novo Estado na União depois da Croácia teria
de ser aprovado por referendo em França. Ele diz "depois da Croácia", não
mencionou a Turquia!

Daí que o meu receio seja que isto se trate apenas de um choque entre povos e não
entre políticos.
€

Guida Sousa

Muito boa tarde.

Apesar de recentemente o Tratado Constitucional ter sido amplamente abordado


pela Comunicação Social, este debate tem-se centrado em questões políticas que
pouco dizem à maioria da população, fazendo com que esta se sinta bastante
desconhecedora do Tratado.

A nossa questão é: o que é que devemos dizer ao cidadão comum quando ele nos
pergunta "o que é que temos a ganhar com o Tratado", três ou quatro pontos
essenciais que interfiram no quotidiano de cada português!
Porque é isso que eles querem saber e se calhar é por isso que há tanto
desinteresse e falta de informação, seja porque não a procuram seja porque o
debate se centra em questões menos relevantes para a população.

Obrigado.
€

Dep.Mário David

Bom, vamos lá ver, uma Constituição é um documento jurídico-político não é um


romance que se leia com agrado, muito menos quando têm a complexidade e a
extensão desta Constituição Europeia.

Eu penso que aquilo que se deve fazer aos cidadãos é vender o modelo de
sociedade que queremos e estamos a tentar construir com base naqueles
fundamentos jurídico-políticos. O facto de nós termos conseguido chegar a um
consenso quanto a um Tratado que garante a total igualdade de tratamento entre
todos os Estados-Membros independentemente da sua dimensão política,
geográfica, demográfica e económica, garante o tratamento igualitário de todos os
cidadãos da União Europeia, reforça o princípio da Coesão Económica, Social e
Territorial, reforça o estatuto das regiões ultra-periféricas (um problema que diz
essencialmente respeito a Portugal, Espanha e França), garante a manutenção do
método comunitário (ou seja, existe uma Comissão supranacional que vela pelo
interesse geral), reforça o papel dos parlamentos nacionais (havendo uma maior
democratização de todo o processo), simplifica o processo decisório, (havendo
maior transparência, eficácia e coerência), unifica num único documento diversa
legislação dispersa, dá mais proximidade entre cidadãos e instituições, dá maior
segurança e representatividade diplomática a todos os cidadãos
independentemente de haver ou não embaixada do seu país estejam onde
estiverem.

Quer dizer, todas estas razões levam-nos a querer dizer SIM por convicção e não por
interesse ou por imposição ou outra razão qualquer.
Há efectivamente uma consolidação da aproximação dos cidadãos no Tratado que é
difícil dizer numa única razão.

Ao mesmo tempo, acho que temos de vencer a apatia e mostrar a evidência das
realidades. Vocês são jovens e por isso não devem ter totalmente a noção do que
era a realidade sócio-económica de Portugal no pós 25 de Abril. Era muito má! E
muito do salto que nós demos e da estabilidade democrática que conseguimos
foram obtidas em larga medida com os fundos que a UE colocou à nossa disposição.
Sem eles, eu queria ver! Criticou-se muito a política do betão, mas era essa a
necessidade primária do País: uma rede ferroviária, viária, cadeias de distribuição,
saneamento básico e foi nisso que empenhámos os primeiros fundos de coesão.

Portanto, quando debatermos a fundo o Tratado e a construção europeia, temos de


explicar onde estávamos, o que éramos, o que somos agora e quanto é que a UE
contribuiu para esse mesmo desenvolvimento.
€

Pedro Santos

Começo por saudar a todos.


Os novos desafios da União põem em causa a soberania. Num projecto de paz e
prosperidade, poderá dar-se consistência a uma Europa que se quer unida na sua
diversidade sem colidir com a ideia de soberania partilhada?
Obrigado.
€

Dep.Mário David

Eu não sei se percebi bem a sua pergunta, falou em "pôr em causa a soberania".
Bom, deixe-me dar a metáfora da pizza, que tinha 15 fatias, agora tem 25, daqui a
dois anos terá 27. o que interessa é saber a dimensão da pizza, se a quero small,
medium ou large, se quero ou não transferir mais competências a serem partilhadas
pelos 25, e se tenho ou não interesse em estar sentados à volta da mesa. Porque as
decisões serão tomadas mesmo sem estarmo lá. Não temos toda essa dimensão
(nem demográfica nem económica - política temos a que sabemos)!

Veja só a dimensão que têm as relações entre nós e a África lusófona e o Brasil e a
dimensão que teriam se não fossemos membros da UE? O interesse desses países em
Portugal seria o mesmo se não estivéssemos nos 25?

O que teria sido a nossa evolução económica e financeira caso não tivéssemos essa
partilha na UE? Se não aderíssemos ao Euro o escudo já estaria de desvalorização
em desvalorização e poderia até acontecer, como na Argentina, uma situação de
bancarrota!

Julgo assim que a partilha de soberania e o facto de termos a nossa voz é essencial.
Durante algum tempo fomos considerados os meninos bem-educados e os bons
alunos da Europa, e isso fez-nos granjear algum prestígio. Não é por acaso que o
Presidente da Comissão aparece português, não é porque ninguém quisesse. Só no
PPE havia mais 4 Primeiros-Ministros que queriam! Para não falar em 2 liberais e 2
socialistas!

É importante lembrar que somos só um em 25, mas se os outros 24 tomarem a


decisão e nós ficarmos de fora, não contamos nada!
€

Oriana da Inês

Boa tarde.
Neste debate falámos do Tratado, do alargamento, do modelo social europeu e
soberania.

No seguimento dos recentes ataques terroristas a que se tem assistido em Londres e


Madrid, pensamos que esta temática é igualmente um desafio para a Europa
comunitária.

Assim, gostaríamos de perguntar até que ponto o reforço da investigação de


actividades terroristas colide com os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos
da UE. Obrigado.
€

Dep.Mário David

Essa pergunta era mais bem dirigida ao Carlos Coelho que é um especialista na
matéria.

Nós estamos todos a fazer uma reflexão em torno do Tratado Constitucional e de


que forma ele pode servir melhor os cidadãos e defender os seus direitos.

Em resposta à sua pergunta, temos de saber dosear entre aquilo que é a


privacidade e a vida pessoal de cada um de nós e aquilo que é o interesse colectivo
e a segurança individual e conjunta. Haverá sempre alguns preços a pagar quando
alguns utilizam alguns direitos que o nosso modelo de sociedade nos confere para
atentarem contra esse modelo de sociedade.

Agora, se há área que teve um avanço significativo na União, e agora ainda terá
mais com este Tratado, é o Espaço de Liberdade Segurança e Justiça. Temos de ter
meios adequados de fazer face ao terrorismo e à criminalidade, temos de ter uma
gestão integrada de fronteiras externas, uma política comum de asilo e imigração,
ter um estatuto uniforme dos refugiados, um combate ao tráfico de pessoas!
Para isso é necessário que haja uma cooperação judiciária em matéria civil
aprofundada, que passa pelo conhecimento mútuo das decisões, pela cooperação na
obtenção de provas, movimentação policial transfronteiriça, etc.
A cooperação é necessária em matéria penal, na luta contra o tráfico de drogas,
terrorismo, exploração sexual, branqueamento de capitais, crime organizado,
corrupção, etc.

Temos de implementar uma outra cooperação dentro da Europol, para as


intervenções comuns! De igual forma, prevê-se a criação de um Ministério Público
Europeu para investigar crimes transnacionais e busca acordos com países terceiros.
Nós temos de saber combater aqueles que usam as liberdades que a nossa
sociedade confere para lutarem contra ela. Possibilidade de escutas telefónicas,
intercepção de mensagens, etc., temos de saber compaginar isso!

Em Portugal, por exemplo, não se pode fazer intercepção de comunicações, por


isso os nossos parceiros pensam que nós andamos a brincar às polícias.
€

Dep. Carlos Coelho

O Dr. Mário David vai permitir que eu só diga uma coisa.


Eu concordo com tudo aquilo que ele disse: acho que há uma dimensão na Europa
que é uma mais-valia para Portugal no combate ao crime e ao crime transnacional
que está a aumentar, portanto aquilo que ele disse tem todo o cabimento.

Porém eu quero ir ao fundo da sua pergunta!


Você pergunta: qual é o limite? O combate ao terrorismo justifica que se percam
algumas liberdades? E a minha resposta é esta: temos de ser fiéis ao princípio
segundo o qual os fins não justificam os meios!

Quando aceitarmos que os fins justifiquem os meios estamos exactamente iguais


àqueles que estamos a combater! Acaba-se o património de liberdades
fundamentais, de cultura civilizacional que nos marca, que nos identifica!

PALMAS

Dou-vos um exemplo, há poucas semanas, foi assassinado um jovem de 22 anos em


Londres. Um jovem brasileiro, Jaime Menezes. Era um potencial terrorista!!! Era
um terrorista e portanto foi assassinado!

Na altura, o Mayor de Londres - não é um individuo da extrema-direita, é da


esquerda do Partido Trabalhista inglês - o senhor Ken Livingstone, tão à esquerda
que nem sequer foi candidato do Partido Trabalhista (candidatou-se contra o
Partido Trabalhista), apareceu perante as televisões do Reino Unido dizendo-se
orgulhoso da polícia britânica porque contra os terroristas só há uma política: é o
"shoot to kill". (atirar para matar)

O terrorista morreu com sete balas na cabeça e uma no ombro.

Depois de morto descobriu-se que afinal não era terrorista! Foi um erro da polícia.

A primeira reacção da polícia foi explicar porque é que tinha havido engano.
Primeiro argumento: ele trazia volumes debaixo do casaco! É mentira - está
provado pelas imagens de vídeo do metro que ele trazia um casaco mas sem
volumes, pois ele era magro e tinha um aspecto magro!
Segunda acusação: ele tinha fugido à polícia! O inquérito oficial já provou que era
mentira.
E outras mentiras que a polícia usou para justificar a acção estão a cair pela base
no inquérito que está a ser feito pelas autoridades judiciais britânicas.

Não me interessa agora deter-me na questão do funcionamento policial do Reino


Unido. Interessa-me, sim, que há um jovem de 22 anos que foi assassinado por um
erro! E toda a máquina do Estado apressou-se a justificar esse erro, dando
argumentos que, sabemos agora, são falsos.

Coitado, foi abatido! Houve uma senhora que disse à televisão britânica: pois,
coitado, um inocente morreu, mas não nos podemos esquecer dos 50 ingleses que
morreram no atentado! Efectivamente, nós não nos podemos esquecer nem de uns
nem de outros! O facto de 50 inocentes terem morrido num atentado suicida não
justifica que se mate mais um, dois, três ou quatro inocentes!

Porque os fins não justificam os meios!

Esta questão que vos pode parecer simples está na ordem do dia na Europa e vai
estar mais!
Vocês vão ver pessoas, que se calhar respeitam, que se calhar respeitam muito,
dizendo na televisão isto: no Mundo conturbado que temos, a defesa da nossa
segurança pode significar a preterição de algumas das nossas liberdades!

Eu termino citando um Pai da Constituição Americana, Benjamin Franklin, que


escreveu: "aqueles que estão dispostos a abdicar das suas liberdades essenciais em
troca de um pouco de segurança provisória, não merecem nem liberdade nem
segurança".

SILÊNCIO NA SALA
€

Isabel Leite

Boa tarde

O Grupo Laranja gostaria de colocar a seguinte questão: é notório que a UE está a


duas velocidades.
Com a entrada de mais Estados, corremos o risco de funcionar a três. Não
estaremos nós a hipotecar o futuro da UE?
Obrigada.
€

Dep.Mário David

Quais são as duas velocidades? É que se calhar há mais! (RISOS)


Já deve ter ouvido numa UE de círculos concêntricos. Em que de cada vez se
permite um maior ou menos aprofundamento.

O caminho que estamos a seguir agora, plasmado no Tratado, por força dos
alargamentos, é o de permitir que os Estados que quiserem continuar a fazer mais
aprofundamentos (desde que representem mais de um terço dos Estados-Membros)
poderem prosseguir neste caminho.

O Euro e Schengen são exemplos de duas velocidades na Europa. Aquilo que se


pretende agora é não violentar os Estados e obrigá-los a aderir a esses
procedimentos mas permitir àqueles que querem aprofundar mais, poderem fazê-
lo. Julgo que isso é vantajoso para a União porque ninguém fica penalizado pelo
facto de alguns preferirem não seguir certos aprofundamentos e permite andar mais
depressa a quem quer fazê-lo!

Isso não é uma debilidade mas sim uma virtualidade da UE. E vem também diminuir
a capacidade da UE se transformar num Estado federal.
Portanto, os que têm medo da diluição da soberania nacional, que não tenha, pois
cada Estado pode dizer se quer ou não entrar naquele aprofundamento!

Agora, há outras causas também elas importantes e eu vou chegar a elas para não
as esconder.
Entre os cinco grandes, quiseram fazer no capítulo da justiça e assuntos internos:
quiseram fazer um aprofundamento da capacidade judiciária já entre eles! Fora dos
mecanismos da UE, sem perguntarem aos outros 20 se eles queriam: aí é que temos
de nos opor! Até porque cinco é menos de 1/3.

Não se pode excluir ninguém! Há que perguntar aos outros se querem aderir!
€

Nuno Piteira Lopes

Obrigado pela excelente exposição. O Grupo Bege coloca a seguinte questão.

A competitividade dos nossos quadros passa pela formação sustentada e planeada.


Como perspectiva o desempenho dos nossos quadros no contexto da competição de
recursos humanos qualificados dentro da UE?
€
Dep.Mário David

Eu tive a oportunidade de acompanhar quer as negociações do alargamento anterior


quer agora com os 12 novos. A preocupação maior que tinha era, face à formação
maior existente nesses Estados, a fácil ultrapassagem dos seus quadros sobre os
nossos.

Continuo, infelizmente, convencido disso. Com os fundos estruturais, o Estado de


preparação daqueles povos e a sua garra, farão estreitar rapidamente o fosso que
neste momento existe.

Isto é fruto não só da boa formação que eles têm mas também do espírito de
dinamismo. Em Portugal, quando falamos do Estado, o Estado são "eles". Nos novos
10 países (particularmente dos que vêm da esfera comunista) o Estado somos "nós".

Enquanto houver esta dicotomia, há os que andam e os que não andam!


€

Dep. Carlos Coelho

Temos ainda alguns minutos para perguntas livres, o Daniel vai tomar nota das
inscrições. Peço-vos perguntas telegráficas.
€

Jorge Azevedo

A minha questão está relacionada com o novo Tratado.


Com a criação do Ministro dos Negócios Estrangeiros Europeu, assistir-se-á a casos
de diplomacia paralela em temas concorrenciais? Em minha opinião isso seria
contraproducente pois a UE deveria, cada vez mais, apresentar uma face unida.
Obrigado
€

Telma Gonçalves

Existe uma união económica e uma união política. Eu pergunto se faz sentido haver
uma união militar existindo a NATO?
Obrigado
€

Fernando Teigão dos Santos

Agradeço a sua exposição e tenho pena que não tenha havido tempo para falar mais
das perspectivas financeiras.

Tivemos 20 anos de fundos europeus que supriram muitas necessidades mas a


verdade é que, em comparação com outros países, tivemos um défice de
aproveitamento dos mesmos.

Estamos neste momento a negociar mas dinheiros e, parece estranho, mas falta em
Portugal uma verdadeira política de desenvolvimento regional. Que estratégias
queremos para as nossas regiões. As regiões são cada vez mais importantes, por um
lado pela erosão de todos os Estados-Nação e, por outro, nota-se uma capacidade
mais local/regional de gerir a economia.

Gostava que reflectisse um pouco sobre esta nossa ausência de politica regional, à
luz dos conceitos de policentrismo, e agendas de Lisboa e Gottenburgo.
€

Dep.Mário David

Muito obrigado. Três temas diferentes e interessantes.


Ministro dos Negócios Estrangeiros e diplomacias paralelas. Se há área que dá um
salto qualitativo com a nova Constituição e a da política externa. Como sabe,
começou a fazer-se já o esboço de um novo serviço de "Estrangeiros" europeu.

Devo dizer-vos que lamento que o actual governo português não tenha prosseguido
os nossos esforços para que na equipa inicial de Javier Solana estivesse um
diplomata português.

Portugal tem setenta e tal embaixadas, a Inglaterra e França têm 130. Muito
provavelmente não deixarão de as ter, mas Portugal pode aproveitar esta
oportunidade para mudar a mentalidade do MNE (onde eu trabalhei durante uns
tempos). Sei que há lá pessoas de grande capacidade e valor, mas é necessário
aproveitar as sinergias de toda aquela máquina para canalizar o esforço dos nossos
diplomatas para a "venda" dos produtos portugueses.
As embaixadas hoje em dia servem para isso! Fala-se muito no diplomata do
croquete, mas a verdade é que se entra numa embaixada qualquer e perguntam-nos
logo se não precisamos duns computadores, ou duns airbus.
E os outros, doutras escolas, vão apenas fazer sorrisinhos e comer o croquete!
Temos de aproveitar esse embrião de "MNE europeu" para os nossos serviços
diplomáticos serem um ICEP especializado! E que aproveite as estruturas da UE
para podermos estar presentes em toda a parte. Ou perderemos o comboio.

A união militar, que é a fase seguinte da união política! Não sei para quando!
Mas terá de respeitar alguns parâmetros. Desde logo o facto de alguns dos nossos
Estados serem neutrais, que devem ser respeitados, não impedindo, claro, outros
de avançar.
Depois, terá de ser em complementaridade com a NATO e já estamos a fazê-lo (ex:
nos Balcãs).
E ser uma acção em situações de manutenção de paz, muito mais do que para uso
da força.

Sobre as perspectivas financeiras.


Eu não queria ser tão radical como o foi na sua pergunta.
Houve uma necessidade e uma orientação de uso das verbas iniciais para
determinadas carências muito sentidas no País. Uma vez supridas, temos de saber
diversificar.

Estamos a fazer das perspectivas financeiras que é suposto começar de 2007 a


2013. Neste momento, o atraso que se verificou pela sua não aprovação ainda nao é
preocupante. Mas sê-lo-á a 31 de Dezembro de 2006, visto que têm de ser
elaborados os regulamentos financeiros para a utilização dessas mesmas verbas e aí
os Estados-Membros têm de apresentar projectos e objectivos para ver se podem ou
não auferir as verbas.

(UM MINUTO INAUDÍVEL NA GRAVAÇÃO)

Muitas destas verbas não têm envelopes nacionais atribuídos, ou seja, o melhor
projecto é o que será mais bem servido! Para que vejam, os cinco mais ricos
levaram cerca de 70% da verba para a investigação científica.
€

Alexandre B. Cunha Pereira

Eu começo por agradecer a excelente aula que aqui foi dada.


Sendo nós jovens, ou seja, o futuro da União, como é que se faz e fará a
aproximação entre as instituições europeias e os cidadãos, visto haver um
desfasamento tão grande?
Já que falou sobre a pizza, deixe-me perguntar o seguinte: a 25 o tamanho da pizza
permanecerá igual? E vão continuar a ser os mesmos a partir a pizza?

Vozes:
Muito bem, muito bem!
PALMAS

Para finalizar, nós em Nice, ganhámos, perdemos ou empatámos?


Obrigado.
€

Guida Sousa

Sobre os Quadros Comunitários de Apoio. Será que tem havido discussão suficiente
de como aplicá-lo, temo-lo aplicado devidamente, como será aplicado o próximo
QCA?
Obrigada.
€

Filipe Beja Simões

Antes de mais muitos parabéns pela forma concisa e clara como expôs a matéria.
Vou abordar o tema da religião. Vimos o debate gerado em França em torno dos
símbolos religiosos: como é que, com a diversidade da UE e duma Europa a mais de
25, nos poderemos defender de extremismos?
Estaremos precavidos duma guerra religiosa na Europa?
€

Dep.Mário David

Muito obrigado.

Oh Alexandre, a aproximação da UE aos cidadãos aparentemente, a julgar pelos


referendos negativos, terá falhado. Embora eu ache que o Tratado foi a desculpa e
não a causa dos votos negativos.

Repito o que há pouco disse no que toca à aproximação da Europa às pessoas no


Tratado: pretendeu-se simplificar, unir e verter tudo num único texto, tornando-se
mais compreensível.

Temos depois as petições ao PE e ao Provedor de Justiça, usando a sua própria


língua, temos a petição legislativa em que os cidadãos podem solicitar à Comissão
que elabora um directiva em determinado sentido, temos também uma melhor
compreensão dos mecanismos decisórios (passam de 36 a 6).
Pretende-se tudo mais coerente, mais eficaz, mais legítimo, mais transparente. A
intenção foi essa. Houve um salto qualitativo

O tamanho da pizza: a pizza cresceu mas não na mesma proporção nem geométrica
nem aritmética. Não aumenta na proporção que queríamos.

Nas perspectivas financeiras, quer o Tratado actual quer o de Nice definem a


necessidade de suficiência de meios para as políticas comunitárias. Mas há seis
Estados que não estão a respeitar isso - chamamos-lhes "os seis avarentos".
Essa é outras das causas que podem afastar os cidadãos da Europa. É que existe
uma determinada expectativa sobre os fundos europeus. Se eles aparecem em
quantidade menor do que se aguarda, a frustração aumenta.

Eu diria que em Nice empatámos. Aznar foi o vencedor de Nice. O grande perdedor
foi a Hungria (foi corrigido o erro no novo Tratado). Portugal não foi prejudicado
nem beneficiado (estou a falar em termos de equilíbrios regionais e forças
relativas). No novo Tratado, a Espanha perdeu o que tinha ganho em Nice. Portugal
não foi prejudicado.

Margarida, sobre o Quadro Comunitário de Apoio, remeteria a sua resposta para


grande parte do que respondi ao Fernando: é necessário que Portugal saiba dar o
salto qualitativo de uso dos fundos para as políticas de desenvolvimento e emprego
e as demais relacionadas com a Estratégia de Lisboa.

Tenhamos a consciência que este é o último quadro de apoio em que Portugal ainda
receberá verbas de vulto. Quer por força do nosso desenvolvimento quer por força
do pulo estatístico da entrada de mais 10 Estados.
A questão do Filipe da religião. Eis um tema novo que não tínhamos abordado.
Em minha opinião pessoal tudo se resume a uma palavra: reciprocidade!

A mim faz-me muita confusão, cada vez que vou ao aeroporto de Bruxelas, ter de
passar por uma mesquita. Não me faz confusão por ser uma mesquita, a minha
confusão é eu ir a um país muçulmano e não ter uma igreja católica que é a minha
fé!
Portanto, o que devemos exigir é só isto: reciprocidade.

Ou vamos por aqui ou então não admito que tenham chamado tanta coisa ao senhor
Berlusconi quando ele disse que nós somos superiores porque não exigimos
reciprocidade! Berlusconi disse que a nossa tolerância faz-nos considerar
superiores!

Eu aposto que já me cruzei com homens, digo homens, vestidos de burka! E se eram
homens, não deviam estar a fazer boa coisa! Porque razão estaria vestido daquela
maneira?

Eu não exijo que as jovens muçulmanas andem de mini-saia, que era muito mais
agradável (RISOS) em Bruxelas, Paris ou em Lisboa, mas exijo reciprocidade, e na
minha terra usam os meus costumes.

Todos os extremismos me fazem confusão, tal como me faz confusão a luta


católicos/protestantes na Irlanda do Norte. Acho inconcebível no sec. XXI.

Mas não acho absurdo em França que por força da laicicidade tenha sido proibido o
véu e o crucifixo. Fica tudo em pé de igualdade!
€

Ricardo Videira

A pergunta que quero colocar é mais por curiosidade da sua opinião pessoal.
O aprofundamento da UE em matérias como justiça, política externa, defesa é
muito importante. Isto é um processo moroso devido a alguns atritos entre diversos
países.
Quais são, em sua opinião, os principais passos e momento em que devem ser dados
para que a concertação entre os países nestas matérias tenha lugar e sejamos de
facto uma união?
€

Nuno Piteira Lopes

Mais uma vez o Dr. Barroso foi acusado (pela imprensa nacional e estrangeira) de
não exercer o papel como Presidente da Comissão Europeia. O que é um facto é
que, tal como tomou posse como Primeiro-ministro e apanhou o País em crise,
apanhou também a UE em profunda crise.

Como avalia o papel do presidente da Comissão nestes últimos tempos?


€

Pedro Veloso

Boa tarde.
Fala-se frequentemente do alargamento a leste e do avanço geográfico da Europa
comunitária até as portas da ex-URSS.
Acha que este avanço da UE até esse eixo pode fazer avançar também a NATO até
aí?
€
Dep.Mário David

Eu julgo que, em matéria de aprofundamento da relação em determinadas áreas


como defesa e justiça, não de pode falar em prazos ou timings. Estamos todos
reunidos sob interesses comuns mas na hora da verdade cada um pensa apenas no
seu umbigo. Agora, há é a consciência que actuando sozinhos não temos a força que
os 25 atingem quando agem em bloco.

Sobre a performance do Dr. Barroso. Eu acompanhei de perto (muito de perto) a


indigitação do Dr. Barroso e lembro-me que numa das conversas que tivemos
percebemos que as distritais com que ele tinha de começar a dialogar deixavam de
se chamar Portalegre, Lisboa ou Braga e passavam a chamar-se Berlim, Paris e
Londres (RISOS).

Assim, tinha de haver uma relação de poder em que se soubesse a todo o momento
qual era o equilíbrio de forças na UE. Até porque a UE ainda é um mecanismo
híbrido!
O Dr. Barroso dizia: chamam a isto a comissão Barroso e eu mal conheço três dos
meus comissários! Porque é cada primeiro-ministro que os escolhe. No futuro, com
o Tratado Constitucional, será um pouco diferente.

O Dr. Barroso é um europeísta convicto, e quem assina aquele texto no Financial


Times a que se está a referir é o mesmo que fazia loas ao senhor Prodi todas as
semanas! Portanto, ofensas que venham dali não magoam. Porém, a maior parte
das pessoas que lê o artigo não sabem o background.

De qualquer maneira, a forma que se antevê na Alemanha, e as boas relações que


existem entre a líder da oposição alemã (e futura chanceler, achamos todos), etc.,
no fim dos cinco anos o balanço será seguramente muito positivo e prestigiará
Portugal.

Sobre o alargamento até à ex-URSS! Bom, nós já entrámos dentro do antigo bloco
de leste: os três Estados bálticos já são nossos parceiros na UE e na NATO.
Acontecerá o mesmo com a Roménia e com a Bulgária.
No caso da Ucrânia, seria mesmo o primeiro país da ex-União Soviética a pertencer
à União. Mas antes disso passará a ser membro da NATO também.

Das conversas que tenho tido com o assessor diplomático do Presidente Putin (o que
é complicado para mim porque ele é maníaco do futebol e adepto do CSKA e a
última vez que veio visitar Lisboa foi num dia particularmente difícil para a minha
memória RISOS), e apercebo-me que a Rússia do presidente Putin é muito mais
aberta do que os receios que normalmente tínhamos.

Dá-lhes jeito controlar aquela região, sobretudo a Ucrânia, mas são abertos.

A Rússia não busca a entrada na UE mas está interessada numa parceria especial
connosco (daí estar expectante com a entrada da Turquia). Veja-se que no capítulo
da Justiça e Assuntos Internos tem havido uma relação muito estreita entre UE e
Rússia, pelo que o facto de terem a NATO à porta não lhes levanta problemas.

O único país que faz, de vez em quando, renascer esse espírito difícil é a Polónia,
porque a História desses não foi fácil: ou eram invadidos de ocidente para leste
(nomeadamente por alemães/prussianos) ou eram os russos que iam até à Prússia e
os invadiam! Assim mantêm um sentimento muito aguerrido.

Temos ainda o problema que é o reconhecimento das fronteiras externas da UE (a


nossa fronteira com a Rússia), pois entre Rússia/Estónia e Rússia/Letónia, ainda não
há fronteiras definidas e reconhecidas pelos Estados envolvidos.
€

Dep. Carlos Coelho

Em nome de todos agradeço ao Dr. Mário David o facto de ter Estado connosco, ter
falado e respondido às nossas perguntas.
Desejo-lhe os maiores sucessos na sua já extensa folha de serviços no desempenho
dos valores em que acredita, ao serviço do PSD e de Portugal.
Peço ao Alexandre Picoto e aos avaliadores que tomem conta dos trabalhos a partir
de agora enquanto eu e o Daniel acompanhamos o nosso convidado à saída.
€

Dr.Alexandre Picoto

À semelhança do que aconteceu há pouco, peço à primeira fila que vote (pausa)
Peço agora é segunda fila a sua votação (pausa), a terceira fila pode votar (pausa),
agora a quarta (pausa) e por fim a última.

Muito obrigado.
€

Dep. Carlos Coelho

Hoje terão a vossa primeira reunião a sério de trabalhos de grupo. Será por volta
das 17.30h. Às 20.00h teremos o jantar-conferência com o Dr. Rui Rio.
Até já e bons trabalhos.

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