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Crise no Tribunal do Júri

I– O Fato. Soou como um tiro de canhão no silêncio da noite o


pregão de rebate que, pelos idos de março de 1993, deram alguns
promotores de justiça do 1º Tribunal do Júri da Capital, de que as sessões
daquela corte estariam eivadas de nulidade absoluta por inobservância
de regra processual impostergável: a que impõe seja feita mediante
cautelas especiais a convocação do júri.
Esse ato, de tanta solenidade, relevância e graveza, estaria sendo
praticado, a jurarmos nas palavras daqueles representantes do
Ministério Público, à luz de critério outro que o exigido por lei.
Indisputável, assim (proclamaram eles), que o tribunal popular
infringiu em seu espírito e forma o preceito do art. 428 do Código de
Processo Penal (de 1941), que reza: “O sorteio (dos vinte e um jurados que
tiverem de servir na sessão) far-se-á a portas abertas, e um menor de dezoito
anos tirará da urna geral as cédulas com os nomes dos jurados, as quais serão
recolhidas a outra urna, ficando a chave respectiva em poder do juiz, o que tudo
será reduzido a termo pelo escrivão, em livro a esse fim destinado, com
especificação dos vinte e um sorteados”.
Tal notícia não veio a público a descoberto de prova ou sob a
cor de artifício retórico; antes se autorizou com elementos e
testemunhos superiores a toda a exceção. Em suma: a pormos fé
inteira na séria increpação do órgão ministerial, o 1º Tribunal do Júri, ao
escolher por critério insólito os jurados que nele deviam servir, obrou
com enorme afronta dos ditames da lei, pois até réu de homicídio
doloso consta que figurara em seu cadastro geral onomástico.

II – O Júri. As instituições humanas, ainda as mais nobres, têm lá


seus detratores, que é coisa impossível concordarem todos os
pareceres, conforme aquilo do excelso Vieira: “Até entre os anjos pode
haver variedade de opiniões, sem menoscabo de sua sabedoria, nem de sua
santidade”(1).
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Assim quanto ao júri: alguns houve que o exaltaram aos cornos


da lua(2); estigmatizaram-no outros com o ferrete em brasa, não o
poupando a aspérrimas diatribes e invectivas(3). Mas, quem lhe definiu
melhor a essência e fez subir de ponto sua utilidade foi decerto Rui,
por estas palavras verdadeiramente dignas de se entregarem à
memória: “Sentido, senhores! Quando o tribunal popular cair, é a parede mestra
da Justiça que ruirá. Pela brecha hiante varará o tropel desatinado e os mais altos
tribunais vacilarão no trono da sua superioridade”(4).
Todavia, muito a prazer de seus apologistas e com bem de pesar
de seus críticos inexoráveis, tem o júri, em face do direito brasileiro, a
consagração de garantia constitucional (art. 5º, nº XXXVIII). Os que o
não quiserem aplaudir hão pois, ao menos por imperativo legal, de
catar-lhe esclarecido e pronto respeito.

III – As Nulidades. É doutrina jurídica triunfante, que não vale


(sendo, portanto, nulo) o ato que deixa de revestir a forma
determinada em lei(5). Originando-se de infração de princípios capitais
do sistema jurídico, a nulidade será “pleno jure”. Por seu caráter de
ordem pública, pode alegá-la qualquer interessado, “e se o interessado
guarda silêncio, se o Ministério não intervém ou se mostra incurioso no
cumprimento de seus deveres, nem assim a nulidade se cobre”(6).
No âmbito da Justiça Penal, o maior interessado em arguir a
nulidade do ato praticado em detrimento da forma prescrita em lei
será aquele que ocupar o polo passivo da relação processual; aquele
que, potencialmente, haja de suportar o gravame da condenação: o
réu. Sua voz, por isso, com preferência a todas as mais, será a que vai
emitir os veementes e firmes protestos contra a preterição de
formalidades processuais relevantes.
Não cuide alguém deva o interessado, em obséquio à teoria
geral dos atos irregulares, fazer prova de seu prejuízo, primeiro que
argua a nulidade. Fora demasia exigi-lo. Por simples presunção, com
efeito, prova-se o prejuízo do réu julgado por juiz incompetente, a
quem se equipara o jurado escolhido sem atenção ao requisito da
“notória idoneidade”(7).
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IV – Os Jurados. Ponto que não sofre disputa é esse do alto conceito


que deve exornar os jurados, entre os quais não queria Firmino
Whitacker senão “homens de moral pura e consciência reta”(8). Faz-se mister
concorram neles cabedais de ciências e virtudes que francamente os
recomendem à terrível e bela função de julgar, a qual, por sua
desmedida grandeza, parece havê-la o homem usurpado à própria
divindade(9). Estrito rigor, por conseguinte, deve presidir à seleção do
corpo de jurados, pedra angular da veneranda instituição do Júri.
Os que externaram profunda irresignação à vista dos episódios
ocorridos na esfera do 1º Tribunal do Júri, estamos que não o fizeram
com o intuito de “desmoralizar a Justiça” (como parecera a um de nossos
egrégios criminalistas) ou por “frívolo curialismo”, porém pela muita
importância que lhes mereceu o problema da irregularidade dos atos
judiciais.
Foram, nesse particular, fiduciários da doutrina do saudoso
professor José Frederico Marques: “Muita prudência, portanto, deve guiar o
juiz quando tenha de encarar o problema das nulidades no processo penal.
Postergar, de maneira categórica, a relevância das formas processuais, para
atender tão só ao aspecto teleológico do ato, pode redundar em violação aberta do
direito de defesa. É que a observância das formas, na justiça penal, constitui,
muitas vezes, o instrumento de que a lei se vale para garantir o jus libertatis
contra as coações indevidas e sem justa causa”(10).
Contrapondo-se à prática perniciosa que se instalara no seio do
Judiciário, os promotores do 1º Tribunal do Júri souberam
desempenhar o principalíssimo de seus deveres: zelar pelo fiel
cumprimento da lei.
Tenhamo-los, pois, em boa conta!
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Notas

(1) Sermões, 1959, t. IV, p. 216.


(2) Na legião dos defensores do júri alistaram-se autores de muito
nome, que lhe encareceram as excelências com frases lapidares:
“O júri é a melhor forma de justiça que eu conheço” (Magarinos Torres,
apud Evandro Lins e Silva, A Defesa Tem a Palavra, 1980, p. 237);
“Se um dia tiver a infelicidade de cometer um crime, quero ser julgado pelo
júri popular, porque é o único tribunal que pode fazer-me verdadeira
justiça” (Pedro Lessa, apud Vitorino Prata Castelo Branco, O
Advogado no Tribunal do Júri, 1989, p. 25); “Júri, santuário da justiça
popular” (José Eduardo Fonseca, Justiça Criminal, 1925, p. 70).
(3) Do júri, entre nós, foi quiçá Nélson Hungria seu mais iníquo
censor, ao averbá-lo não menos que de “osso de megatério”: “…o
famigerado Tribunal, osso de megatério que persiste em ligar repressão
penal e regime democrático, redundou, pela incompetência e frouxidão,
em fator indireto de criminalidade” (apud Pedro Paulo Filho, Grandes
Advogados, Grandes Julgamentos, 1989, p. 20).
(4) Obras Completas, vol. XXV, t. III, p. 86.
(5) Art. 130 do Cód. Civil.
(6) Orosimbo Nonato, Da Coação como Defeito do Ato Jurídico, 1957, p.
226.
(7) Art. 436 do Cód. Proc. Penal.
(8) Júri, 5a. ed., p. 18.
(9) “Sublime e tremenda missão de julgar, que no dizer de Ellero foi usurpada
pelo homem a Deus” (Carlos de Araújo Lima, Os Grandes Processos
do Júri, 1957, vol. III, p. 175).
(10) Estudos de Direito Processual Penal, 1959, p. 259.

Carlos Biasotti
Desembargador aposentado do TJSP e ex-presidente da Acrimesp

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