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ENSINAMENTOS BASEADOS NA VIDA DE DAVI

Editora Mensagem Para Todos


Coordenação Editorial Douglas Maia
Capa Souto Design
Editoração Salomão Santos
Revisão Salomão Santos
Preparação Magno Paganelli
Impressão e Acabamento Gráfica Imprensa da Fé

Copyright (c) 2014


Josué Gonçalves

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por qualquer meio sem a autorização por
escrito do autor.

Josué Gonçalves (2014)


Aprendendo com os Erros dos Outros
Auto ajuda, casamento, família, liderança / Josué Gonçalves
Editora Mensagem Para Todos, 2014
SUMÁRIO

PREFÁCIO ............................................................................9

INTRODUÇÃO ....................................................................15

CAPÍTULO 1
DE QUEM ESTAMOS FALANDO? ........................................23

CAPÍTULO 2
SINAIS DO PERIGO ...........................................................33

CAPÍTULO 3
CONSELHOS AOS SÁBIOS ..................................................45

CAPÍTULO 4
O QUE DEVEMOS APRENDER?...........................................73

CONCLUSÃO ......................................................................85
Dedico este livro ao Pr. Paulo Lima e a
Pra. Cláudia Lima, amigos queridos e
intercessores incansáveis.

Vocês fazem toda diferença


no nosso ministério.
9

PREFÁCIO

Muitos líderes estão sem pastor, sem supervisão e


sem tutoria. Eles estão sozinhos e desprotegidos.
Dizer que o líder é como uma águia, que voa
sozinha e deve acostumar-se com a vida isolada,
é a mais descarada mentira de Satanás para sepa-
rar os ministros da “manada” e caçá-los implaca-
velmente. Desta maneira, o estrago no corpo de
Cristo é muito maior.

Você pode ser extremamente influente, um líder


da igreja ou um empresário. Ou talvez você seja
que não exerce uma liderança notória, mas ainda
assim é certamente um líder. Em algum momen-
to da vida, todos exercemos influência sobre ou-
tros. Seja você um líder de destaque ou uma pes-
1 0 P R E FÁC I O

soa comum, é impossível viver sem influenciar.


Tenho convicção de que este livro é para você.

Se você é estudante, pode influenciar os colegas.


Se já está há mais de um ano na escola, pode
influenciar os “calouros”. Se trabalha em uma
empresa, o exercício da liderança se apresentará a
qualquer momento. Pais de família ou donas de
casa, diáconos ou professores de escola domini-
cal, tios ou avós, todos exercemos a liderança e
precisamos aprender com o erro dos outros, pre-
cisamos ser sábios

Todos nós precisamos de acompanhamento e


pastoreio, que inclua um aconselhamento es-
pecífico e prático. A tendência natural do ser
humano é racionalizar, é criar um desculpa que
justifique e atenue o pecado. Ao cometer o “pe-
queno” erro da cobiça e falhar pela primeira vez,
o apito da consciência acusa a todo volume, mas
é abafado pelo desejo, que aciona a mente para
produzir um atenuante, uma desculpa, uma jus-
tificativa “plausível”, que cauteriza, amortece e
cala a consciência.

Este processo é chamado na Bíblia de engano do


pecado. O escritor de Hebreus aconselha:
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 11

... exortai-vos mutuamente cada dia, durante o


tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum
de vós seja endurecido pelo engano do pecado.
(Hebreus 13.3. Ênfase acrescentada)

A saída que Deus provê para isto não está em


se esforçar mais. Não está em uma consagração
mais excelente, embora ela seja de muito provei-
to. A ação preventiva consiste em contar com o
próximo, trabalhar em conjunto, conviver e agir
dentro do Corpo de Cristo para que não haja
este endurecimento que abre o caminho para a
consumação do pecado, seguido de morte não
somente do líder, mas da família, dos subordina-
dos e da igreja.

“Se conselho fosse bom, não se dava, vendia-


se”. Este é o dito popular que nos incentiva a
deixar que os outros descubram por si mesmos
seus erros e vivam suas amargas consequências.
Esta não é a postura da Palavra de Deus nem do
Pr. Josué Gonçalves que, conhecedor do mundo
evangélico brasileiro, das igrejas e dos pastores,
tem visto muitas tragédias que poderiam ter sido
evitadas simplesmente com bons conselhos, sim-
plesmente com alertas e admoestações.

Este livro propõe-se a repetir e fazer eco às pala-


1 2 P R E FÁC I O

vras do Pregador, da Sabedoria, que insistia com


seu filho e sua geração:

Grita na rua a Sabedoria, nas praças, levanta a


voz; do alto dos muros clama, à entrada das por-
tas e nas cidades profere as suas palavras:

Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E


vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós,
loucos, aborrecereis o conhecimento? Atentai
para a minha repreensão; eis que derramarei co-
piosamente para vós outros o meu espírito e vos
farei saber as minhas palavras.
(Provérbios 1.20-23)

A iniciativa do alerta partia de Deus. Não so-


mente um alerta tímido, discreto e desinteressa-
do, mas um senso de pânico, de urgência e de
máxima relevância acompanhava o anúncio! A
Sabedoria gritava, expunha-se, movimentava-se
para alertar. A figura que gosto de associar a este
aviso é a de uma ponte que desabou, situada de-
pois de uma curva, deixando exposto um abismo
mortal. Os carros dirigem-se a ela com inteiras
famílias, em alta velocidade, alheios ao perigo
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 13

que está a poucos metros. Se vocês estivesse pró-


ximo a esta curva, como você faria para alertar os
motoristas?

Imagine essa cena. A vida de inúmeras famí-


lias está nas suas mãos e você precisa alertá-las.
É com tal senso de urgência e gravidade que o
Pr. Josué Gonçalves escreveu este livro. Não é
somente mais um título, mas um anseio do seu
coração pastoral que não consegue viver em paz,
sem se envolver, sem alertar e sem gritar.

Você também dirige um automóvel, sua família


e seus amados estão com você, e a próxima curva
pode ser desastrosa. Decida ouvir o alerta, resol-
va reduzir a marcha. Ouça os avisos de perigo,
seja sábio e aprenda com os erros dos outros.

Boa leitura.

Salomão Santos
Coordenador Editorial Família Debaixo da Graça
15

INTRODUÇÃO

“Aprender sem pensar é tempo perdido.”


Confúcio

Vigiai e orai, para que não entreis em tentação;


o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne
é fraca. (Mateus 26.41)

Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para


uma mulher com intenção impura, no coração,
já adulterou com ela. (Mateus 5.28)
1 6 I N T R O D U Ç ÃO

D ecorrido um ano, no tempo em que os reis


costumam sair para a guerra, enviou Davi a
Joabe, e seus servos, com ele, e a todo o Israel,
que destruíram os filhos de Amom e sitiaram
Rabá; porém Davi ficou em Jerusalém. Uma
tarde, levantou-se Davi do seu leito e andava
passeando no terraço da casa real; daí viu uma
mulher que estava tomando banho; era ela mui
formosa. Davi mandou perguntar quem era. Dis-
seram-lhe: É Bate-Seba, filha de Eliã e mulher de
Urias, o heteu. Então, enviou Davi mensageiros
que a trouxessem; ela veio, e ele se deitou com
ela. Tendo-se purificado da sua imundícia, voltou
para a sua casa. A mulher concebeu e mandou
dizer a Davi: Estou grávida. (2Samuel 11.1-5)

De uns tempos para cá, Deus tem falado ao meu co-


ração para eu não perder o senso de radicalidade do
Evangelho. Isso porque ser cristão é ser radical.

Se alguém pensa que esse papo de radicalidade é coi-


sa para adolescentes e jovens, sugiro que você leia o
Sermão da Montanha, em Mateus capítulos 5 a 7 e
confira o que estou falando. Sabe por que eu digo
que ser cristão é ser radical? Porque foi o próprio Je-
sus quem disse. Ser cristão é ser “estreito”: “Porque
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 17

estreita é a porta e apertado o caminho...”. Você co-


nhece a história.

Ser cristão é ser radical porque Jesus também disse:

Portanto, se o teu olho direito te escandalizar,


arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é me-
lhor que se perca um dos teus membros do que
seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a
tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a
para longe de ti, pois é melhor que se perca um
dos teus membros do que seja todo o teu corpo
lançado no inferno. (Mateus 5.29, 30)

Ele ainda disse que somos a luz do mundo. Assim,


não há outra opção; se você é luz, você é oposição às
trevas.

Se, portanto, a luz que há em ti forem trevas,


que grandes trevas serão! (Mateus 6.23)

A luz opõe-se às trevas. Compactuar com as trevas,


portanto, é afirmar não ter comunhão com a luz. E
você sabe muito bem o que isso implica.

Não há como caminharem juntos dois que não esti-


verem de acordo:
1 8 I N T R O D U Ç ÃO

Por acaso andarão duas pessoas juntas, se não es-


tiverem de acordo? (Oseias 3.3)

E se você é salvo, você deve salvar os perdidos.


Jesus disse a Pedro que, quando se convertesse,
confirmasse ou testemunhasse aos irmãos (Lucas
22.32). Pedro andava com Jesus há cerca de três
anos e precisou ouvir uma advertência dessas!
Isso é a radicalidade do evangelho.

A nossa maneira de falar também deve ser afe-


tada positivamente pela radicalidade do evange-
lho. Fale de acordo com a verdade: Se for “sim”,
diga “sim”. Se for “não”, diga “não”. O que pas-
sar disso é de procedência maligna.

Há muitas outras passagens nas quais vemos a ra-


dicalidade do evangelho. E essas outras passagens
dão conta de cada aspecto de nossa vida. Veja,
por exemplo, o mandamento de Jesus: “Ame os
inimigos”. Amar gente boa, que mesmo assim
é chata, é difícil. Há pessoas do nosso convívio
que, apesar de não serem inimigas, são pessoas
difíceis de lidar. Dizemos que elas são chatas, ou
que são “malas”. São pessoas de convivência di-
fícil.

Mas Jesus não disse para amar os chatos, os im-


APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 19

plicantes ou os insuportáveis. Ele disse para amar


os inimigos!

Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos


e orai pelos que vos perseguem. (Mateus 5.44)

Já pensou? Constantemente nós nos esquece-


mos de orar pelos amigos, por aquelas pessoas
das quais gostamos muito. Agora, imagine lem-
brar-se de orar pelos inimigos! E não somente
lembrar, mas orar de fato, interceder por eles,
colocar-se na brecha dos problemas que o nosso
inimigo criou e pedir ao Senhor que resolva esses
problemas – isso tudo antes de querer resolvê-los
por nós mesmos! Orar de coração pelo inimigo é
algo radical. É andar na contramão do sistema. É
assim que o evangelho mostra a sua radicalidade.

Você não deve orar pedindo: “Senhor, abençoa


aquele desgraçado”. É complicado, mas Jesus
disse: “Ore pelos seus inimigos”.

Vejamos mais.

Eu, porém, vos digo que todo aquele que se irar


contra seu irmão será passível de julgamento;
quem o chamar de insensato, será réu diante do
2 0 I N T R O D U Ç ÃO

tribunal; e quem o chamar de tolo, será réu do


fogo do inferno. (Mateus 5.22)

Que radicalidade. Hoje em dia, poucas pessoas


prestam atenção ao que falam. Há irmãos e ir-
mãs cujo vocabulário é bastante parecido com
o daqueles que não são discípulos de Jesus. Há
pessoas na igreja que soltam palavrões de vez em
quando porque não estão preocupadas com o
que sai de sua boca. Jesus, porém, não disse que
era para afrouxar o cuidado com a fala. Aliás, ele
apertou bem o parafuso nesse ponto. Imagine
você chamar uma pessoa de idiota, tolo, estú-
pido: “réu do inferno”. É radical? Sim, esse é o
evangelho de Jesus.

Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, po-


rém, vos digo que todo aquele que olhar com de-
sejo para uma mulher já cometeu adultério com
ela no coração. (Mateus 5.27, 28)

Muito bem. Creio que até aqui você já pôde


entender o que eu quero dizer por radicalida-
de. Evidentemente, você já sabia isso e conhecia
todos esses versículos, mas eu os coloquei aqui,
dispostos, a título de introdução.

E por que eu fiz essa introdução? Porque aquilo


APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 21

que vou tratar neste livro tem a ver com a radi-


calidade do evangelho. O evangelho pode virar a
cabeça de qualquer um. Se alguém estiver deso-
rientado, o evangelho pode alinhá-lo. Ele apru-
ma a vida de quem quer que seja. Se o camarada
estiver a caminho do inferno, o evangelho muda
radicalmente o rumo dessa vida e o coloca no
sentido do céu. As nossas igrejas estão cheias de
gente com testemunhos assim, pessoas que fo-
ram reorientadas.

Portanto, até mesmo os nossos erros são conver-


tidos em histórias de sucesso quando aplicamos
o evangelho à nossa vida. Não podemos, porém,
aprender somente com os nossos erros, com as
nossas próprias experiências. Devemos aprender
também com os erros dos outros. Ninguém erra
sozinho, não é mesmo?

As pessoas inteligentes erram para aprender.


Elas fazem tentativas e, se erram na sua execu-
ção, aprendem com os erros e melhoram na vez
seguinte. Ainda assim, há pessoas mais que in-
teligentes; elas são sábias. Essas pessoas tomam
emprestados os erros de Davi, por exemplo, para
não errar em sua própria vida. Pessoas sábias
aprendem com os erros dos outros.
22

Quero, então, dar uma olhada nos erros que


Davi cometeu, nos erros de Bate-Seba, no des-
cuido de Urias, nos erros de Joabe e ver o que
podemos aprender com eles para não cometer os
mesmos erros e os mesmos pecados.

Partiremos dos versículos apresentados no início


desta Introdução, uma história bem conhecida.
Ela nos dará o eixo em torno do qual trabalha-
remos. Fiz questão de colocar antes outros dois
textos que emolduram a história, e neles Jesus
nos fala sobre qual é o alvo do cristão. Jesus fala
de santidade, outro assunto radical.

Oro e espero que cada um de vocês, leitores,


possa aprender com os erros desses personagens
e, com isso, habituar-se a observar os erros das
pessoas que integram a história de sua vida – não
com espírito pobre para criticar, mas com cora-
ção sábio para aprender.

Boa leitura a todos!


23

CAPÍTULO 1

DE QUEM ESTAMOS
FALANDO?

“A melhor maneira de que o homem dispõe


para se aperfeiçoar é aproximar-se de Deus.”
Pitágoras
2 4 D E Q U E M E S TA M O S FA L A N D O ?

T odos nós conhecemos, ao menos superficial-


mente, algumas passagens da história de Davi.
As histórias que envolvem Davi são consideradas
por muitos de nós como as histórias mais emo-
cionantes da Bíblia. Elas são tão vibrantes e têm
tantos detalhes que tocam a nossa alma. Seus sal-
mos são inconfundíveis e neles encontramos o
derramamento sincero da alma humana naquilo
que lhe é mais íntimo e precioso.

Davi, na galeria dos heróis, foi tão grande que


62 capítulos da Bíblia foram dedicados à sua
biografia. Nenhum outro homem ocupa espaço
tão vasto nas Escrituras. Há nada menos que 59
referências do Novo Testamento que chamam a
atenção das pessoas para esse homem. Ele ganha
de qualquer outro personagem bíblico.

No capítulo 11 do segundo livro de Samuel,


Davi não estava com 20 anos de idade, não es-
tava com 30 anos de idade nem com 40 anos
de idade. Davi contava 50 anos de idade àquela
altura e vivia seu período de maiores conquistas.
Lembremo-nos de que ele era rei e uma das atri-
buições do rei era semelhante ao que hoje conhe-
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 25

cemos por carreira militar. Ele era o comandante


ou general dos exércitos de Israel.

Aquele homem vivia o momento áureo de sua


carreira. Era também o ápice do seu reinado,
quando ele podia celebrar suas maiores vitórias.
E repito aqui aquilo que venho dizendo já há al-
guns anos no meu ministério: “o sucesso é um
terreno minado”.

De repente, parece ter ocorrido um “apagão” na ca-


beça de Davi. Ele enviou para a guerra Joabe, um
dos militares do seu exército e homem de sua con-
fiança. A Bíblia diz que aquela era uma ocasião de
guerra (2Sm 11.1) e, portanto, não há nenhuma
irregularidade nisso, senão o fato de Davi transferir
responsabilidades que eram suas. Ele resolveu ficar
em casa, em Jerusalém, no seu palácio.

Certa tarde, o rei saiu à janela e contemplou a


cena imediatamente à sua frente (v. 3). Uma bela
mulher tomava banho. Toda a história de sua
vida assumiu novo rumo a partir daquele mo-
mento. Mas...

... todo aquele que olhar com desejo para uma


mulher já cometeu adultério com ela no cora-
ção. (Mateus 5.28)
2 6 D E Q U E M E S TA M O S FA L A N D O ?

Em Mateus 26.41, Jesus diz: “Vigiai...”. Vigiar não


é uma ação a ser feita isoladamente. Jesus colocou o
mandamento para vigiar antes do mandamento para
orar. “Vigiai e orai”.

O que devemos vigiar? As circunstâncias? Não. Deve-


mos vigiar o quê? O Diabo? Também não. Devemos
vigiar a vida das pessoas à nossa volta? Não, também.
Se não é para vigiar as circunstâncias... Se não é para
vigiar o Diabo... Se não é para vigiar as pessoas...
Então o que devemos vigiar? Vigie os movimentos
e insinuações da sua alma. Olhe para dentro de você
porque é da alma, do coração, que procedem todas as
saídas da vida de um homem e de uma mulher.

Há uma série de textos bíblicos que são base para


essa afirmação. O próprio Jesus disse:

Todas essas coisas más procedem de dentro do


homem e o tornam impuro. (Marcos 7.23)

Note a verdade que é comum às duas passagens:


o mal não está fora do homem; ele nasce no e
brota do seu próprio coração. Por isso insisto em
lhe dizer que vigie a sua alma, a sede dos dese-
jos do seu coração. É lá que residem os laços e
embaraços que podem desvirtuar e desorientar
um homem e uma mulher que ainda estão no
caminho e na direção certos.
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 27

Davi vivia o melhor momento das conquistas


militares para o seu reino em Israel. Não pense
que isso era pouca coisa. Lembre-se da história
dele. Ele era o menor da casa de seu pai; no en-
tanto, foi ungido rei. Quando foi à guerra, ven-
ceu um gigante, o Golias, diante de centenas de
soldados experientes. Ele foi aclamado por suas
vitórias e, por conta disso, Saul o perseguiu im-
placavelmente. Precisou refugiar-se entre os filis-
teus, inimigos de Israel, e organizou um exército
de vagabundos. Só depois de muito tempo subiu
ao poder e, ainda assim, foi um poder parcial.
Ele não iniciou seu reinado apoiado por unani-
midade. Inicialmente, reinou sobre a parte sul
do país e só mais tarde, depois de sete anos, uni-
ficou todas as tribos.

Quando tudo se estabilizou, o povo aceitou a


sua liderança, o exército avançava e ele estava no
centro da vontade e dos projetos de Deus para a
sua vida... entrou um cisco no seu olho espiri-
tual. Que coisa maligna foi essa? Surge a seguinte
pergunta: O que leva um homem que vive o
seu melhor momento de conquistas a deixar as
atividades normais, as atividades triviais de sua
vida, e dar-se a uma prática ociosa e maligna-
mente destrutiva?
2 8 D E Q U E M E S TA M O S FA L A N D O ?

Será que o fato de Davi ter ficado em casa en-


quanto todos estavam na guerra não indica um
problema na sua alma? Quando estudamos sobre
a liderança em nossos dias, deparamo-nos com o
tema da delegação de autoridade. Não se pode
concentrar em uma só pessoa toda a autoridade
para cumprir a obra do Senhor nem todas as ta-
refas e atividades. Essa verdade não é nova; desde
Jetro, sogro de Moisés, esse princípio tem sido
aplicado.

No entanto, quando sem motivo justo, transfe-


rimos a outros aquilo que é nosso dever, mesmo
depois de ter partilhado as tarefas, as atividades
e as responsabilidades, trata-se de negligência.
Isso não é delegação de poder nem divisão de
tarefas: é pura negligência. E sabe o que significa
negligência? Descuido na execução de algo, me-
nosprezo.

Davi menosprezou aquilo que Deus havia pre-


parado para ele, aquilo para que Deus o havia
preparado e aquilo com que o povo esperava que
ele se ocupasse. Total menosprezo.

Há nisso uma aplicação para nós no século 21.


Preocupa-me quando vejo pastores transferin-
do a responsabilidade da pregação e ensino em
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 29

suas igrejas, quando vejo pastores transferindo a


responsabilidade do aconselhamento e cuidado
do rebanho, quando vejo pastores transferindo a
responsabilidade das visitas aos lares que formam
suas igrejas. Ou então, nas igrejas onde vou pre-
gar, quando vejo o pastor afastar-se do púlpito,
transferir a responsabilidade e ir para o seu ga-
binete... ir para a varanda onde ele pode avistar
cenas agradáveis, mas que não são as cenas que
Deus preparou para que ele veja.

Esses indicadores gritam aos nossos ouvidos di-


zendo que há algo errado com a alma desses líde-
res e irmãos. A alma deles está desajustada, desa-
linhada da vontade de Deus. Eles não percebem
isso, e são capazes até mesmo de justificar o seu
afastamento e ausência.

Pastores, a varanda e a janela não são lugares in-


dicados para vocês estarem. O comandante Davi
perdeu a batalha sem sair do seu palácio; bastou-
lhe ir à varanda espiar uma cena diferente. Isso
diz algo para você? Isso se encaixa em alguma
situação vivida atualmente?

A Bíblia diz que foi da varanda que tudo come-


çou a precipitar na vida de Davi. À tarde, levan-
3 0 D E Q U E M E S TA M O S FA L A N D O ?

tou-se Davi do seu leito, espreguiçou-se e deve


ter pensado: “Deixe-me ver como está o dia”.

Numa tarde, Davi se levantou da sua cama e foi


passear no terraço do palácio real. Do terraço ele
viu uma mulher que tomava banho; ela era mui-
to bonita. (2Samuel 11.2)

A tentação é um processo lento porque o Diabo não


tem pressa. Muitos de nós andamos por vista, medi-
mos o tempo, planejamos em curto prazo se compa-
rado com a realidade do mundo espiritual. Nós pen-
samos que se conseguirmos vencer as batalhas de um
dia teremos vencido todas as batalhas. No entanto, o
Diabo vive em mundo diferente do nosso e ele tem
projetos para derrubar os cristãos em cinco anos, em
quinze anos, em vinte e trinta anos.

O Diabo não tem pressa, até porque Tiago 1.14, 15


mostra-nos os estágios da tentação.

Mas cada um é tentado quando atraído e seduzi-


do por seu próprio desejo. Então o desejo, tendo
concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, após
se consumar, gera a morte.

Esse é o processo da caça sendo perseguida pelo caça-


dor. Primeiro olhar, depois cobiçar, então atrair com
habilidade, seduzir, e depois conceber. Por fim o nas-
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 31

cimento e, consequentemente, a morte. Trata-se


de um plano com etapas de execução. Mas este
não é o plano de Deus para cada um de nós; é o
plano do Diabo.

O que isto quer dizer?

Esse plano deve ser minado e desfeito a qualquer


momento. Do contrário, você ou eu seremos
derrotados. Considere isso: ou você desfaz o pla-
no maligno ou o Diabo acaba com você e sua
carreira, sua família e sua reputação. O Diabo
está decidido e empenhado; ele não arreda o pé
da própria vocação para matar, roubar e destruir.

E você, qual é a sua decisão?

Minha sugestão é que cada um de nós faça uma


avaliação do nível de tentação que tem enfrenta-
do. A partir dela, encararemos a questão de fren-
te. Não nos cercaremos de justificativas, de falsas
proteções. O pecado nunca brinca de ser pecado,
embora alguém possa brincar de ser resistente a
ele.

No capítulo seguinte, apresentarei os cinco sinais


de um líder em perigo e depois os conselhos que
Davi daria aos líderes de hoje.
33

CAPÍTULO 2

SINAIS DE PERIGO

“O que não provoca minha morte faz com que


eu fique mais forte.” F. Nietzsche
34 SINAIS DE PERIGO

V ivemos na chamada era da informação. Do-


bramos os nossos conhecimentos nos últimos
anos. Sabemos a respeito de tudo! Em nossos
dias, é difícil alguém justificar erros com base
em falta de informação. Quem pode desculpar-
se por contrair o vírus da aids? Há campanhas e
mais campanhas sobre a prevenção dessa doença.
Quem pode dizer que não sabe que o cigarro cau-
sa câncer na garganta e nos pulmões? O governo
investe muito dinheiro para advertir a população
sobre esses riscos. Quem pode dizer que não sabe
que álcool e direção não combinam?

O mesmo acontece no mundo espiritual com as


coisas de Deus. Quem pode alegar desconheci-
mento da vontade de Deus para a sua vida? Está
na Bíblia o que Deus requer de todo homem e
de toda mulher. E quem não tem uma Bíblia? A
verdade é que muitos de nós temos várias Bíblias
em casa; basta abri-la e ler o que Deus inspirou
os antigos a escreverem sobre qualquer assunto.
Está escrito na Bíblia; você não precisa ser pro-
feta nem apóstolo para saber a vontade de Deus.

No passado, nos tempos de Davi ou dos juízes de


APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 35

Israel, Moisés já havia escrito a Torah, que con-


tém os mandamentos do Senhor para o povo de
Israel. Já naqueles tempos cada homem sabia o
que Deus requeria de seu povo. Hoje sabemos
ainda mais sobre as coisas de Deus porque reuni-
mos o Antigo e o Novo Testamentos e com eles
as declarações de cerca de quarenta homens que
escreveram as Escrituras.

E quando falamos sobre os sinais de que os ho-


mens de Deus estão em perigo, estamos falando
exatamente sobre o quê? Quais são os sinais que
indicam que líderes estão em perigo? Tomarei
como exemplo Sansão, cuja história aparece no
livro dos Juízes, a partir do capítulo 13.

Sinal número 1:
Líderes em perigo deixam de agir diante de sinais claros
de fraqueza de caráter.

Mike Murdock, certa vez, disse:

Aquilo que você não domina, lá na frente irá


destruí-lo.
36 SINAIS DE PERIGO

Aquilo que Sansão não conseguiu dominar o des-


truiu. Dalila cercou Sansão algumas vezes na tentati-
va de desvendar o segredo de sua força. O que ele fez?
Brincou com a situação. Todas as vezes que negligen-
ciamos as circunstâncias que oferecem perigo, dimi-
nuímos as proteções pessoais contra a queda. Lem-
bra-se de que falamos sobre a negligência de Davi?
E o que é negligência senão descuido na execução de
algo e menosprezo?

Sansão menosprezou os sinais que revelavam as fa-


lhas do seu caráter. Ele queria o prazer do risco e
menosprezou o bem-estar com o Pai. A maior incli-
nação do seu caráter pendia para aventuras eróticas e
ele não reparou os sinais dessa fraqueza.

Cabe aqui uma nota sobre o significado de uma pa-


lavra que aparece na Bíblia. Você sabe o que significa
a palavra tentar? Tentar significa relevar a fraqueza.
Quando o Diabo tenta alguém, ele não toma a pes-
soa à força e a leva ao pecado, não! Ele revela a essa
pessoa a fraqueza dela. E o Diabo sabe quais são as
nossas fraquezas? Sim, tanto é que ele nos tenta nos
nossos pontos de maior fragilidade. Ele nos cerca
com ofertas atraentes, com cenários deslumbrantes,
com circunstâncias sedutoras. Mas o Senhor, por
meio do seu Espírito, pode abrir os nossos olhos es-
pirituais para discernirmos os sinais e fugirmos da
tentação.
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 37

Sinal número 2:
Líderes em perigo inclinam-se à mentira para preserva-
rem a si mesmos.

Sansão mentiu para Dalila nas primeiras vezes em


que ela perguntou sobre a fonte da sua força espan-
tosa. Ele era o homem de Deus que libertaria o povo
judeu da opressão sob os filisteus, e cercou-se de
mentira em vez de cortar o mal pela raiz.

Quando uma pessoa flerta com o erro, é comum


usar a mentira para se proteger. O prazer obtido
no erro está no centro da vontade dessa pessoa
e a mentira é usada como escudo para preservar
esse erro que supostamente dará prazer. Um pro-
cesso de construção acontece na alma inclinada
ao pecado. Ela primeiro pensa o erro, depois
deseja o erro, em seguida planeja como obtê-lo
ou realizá-lo, e tece uma colcha de retalhos com
mentiras de todo tipo para proteger o seu plano:

» mentiras comerciais
» mentiras emergenciais
» mentiras ministeriais
Certa vez, eu estava pregando e tive uma experiência
com o Espírito Santo. Eu falava sobre justiça, ver-
38 SINAIS DE PERIGO

dade, transparência, autenticidade e, durante uma


pausa para respirar, o Espírito Santo tocou em algo
pessoal. Eu falava sobre verdade, mas ostentava uma
mentira em meu braço. Naquele dia eu usava um re-
lógio que era uma réplica de Rolex. Não era original,
verdadeiro; era uma mentira.

Quando precisamos de mentiras para construir ou


preservar nossa imagem, está caracterizado o sinal
do perigo que um líder corre. Elimine o menor ris-
co antes que ele se torne o seu maior problema. Por
exemplo, se eu tivesse antecipado o perigo, não teria
sido confrontado pelo Espírito Santo justamente em
meio a uma pregação.

Sinal número 3:
Líderes em perigo agem impulsivamente.

O Senhor criou e estabeleceu princípios para to-


dos os seus filhos. Um desses princípios é que de-
vemos ter controle sobre nossos impulsos. Paulo
chama isso de “domínio próprio”:

Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, pa-


ciência, benignidade, bondade, fidelidade, ama-
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 39

bilidade e domínio próprio. Contra essas coisas


não existe lei. (Gálatas 5.22, 23)

Tiago, em sua carta, fala que dominar o sistema da


fala é o melhor modo de exercitar-se para ter domí-
nio sobre todo o corpo:

Todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém


não tropeça no falar, esse homem é perfeito e capaz
de refrear também seu corpo inteiro. (Tiago 3.2)

Se esses princípios valem para todo cristão, desde


quando ainda são bebês na fé, que dirá para o líder,
que pela vocação deve demonstrar a maturidade, a
experiência e muitas outras virtudes que se esperam
dele? Todos os líderes precisam inegociavelmente do-
minar seus impulsos. Precisam dominar e controlar o
que falam, decidem e fazem. Eles não podem agir in-
consequentemente, guiados por aquilo que lhes vem
à mente, sob o risco de danos irremediáveis.

Veja as consequências do pecado de Davi; veja as


consequências do descuido de Sansão. Sansão não
considerou o plano de Deus para ele, que deveria
proteger o seu povo contra os filisteus. Sansão
permitiu que o impulso sexual dominasse suas
decisões em vez de ele dominar esses impulsos.
O líder precisa exercer domínio próprio sobre o
seu corpo, sua mente e as emoções.
40 SINAIS DE PERIGO

O brasão do Estado de São Paulo tem um lema


muito interessante escrito em latim. Diz assim:
Non DVCOR DVCO, que significa não sou
conduzido, conduzo. Assim deve ser o líder em
relação aos seus impulsos. Ele não pode ser con-
duzido, mas deve conduzir o seu homem interior
para o centro da vontade de Deus.

Sinal número 4:
Líderes em perigo fazem mau uso dos dons dados por
Deus.

Por vezes, Sansão usou os seus dons em brinca-


deiras para seu próprio deleite. O que deveria
ser aplicado em benefício público, ele usou para
satisfazer sua vida privada. Líderes responsáveis
sabem separar as coisas, seja na política, nos ne-
gócios ou na obra de Deus.

Líderes em perigo utilizam os dons recebidos na


manipulação de pessoas para tirar proveito pes-
soal. Deus dá dons aos homens para que sejam
usados em favor da Igreja, em favor do povo, até
mesmo em favor dos incrédulos, para que esses
cheguem ao conhecimento da salvação. Infeliz-
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 41

mente, há quem aplique o seu dom em alguma ati-


vidade cujo retorno nada tem de proveitoso para a
coletividade, para os irmãos.

O Senhor não levanta gurus nem mágicos evan-


gélicos. O Senhor levanta homens e mulheres de
Deus. E Sansão brincou com o dom que Deus
lhe conferiu. Foi uma questão de tempo para que
o espírito de Dalila o derrubasse.

Sinal número 5:
Líderes em perigo são derrotados por causa de um pon-
to fraco.

A consequência comum à desconsideração dos


alertas anteriores é a derrota. Eles afrouxam aqui,
dão liberdades a mais ali, relevam uma fraqueza
acolá e finalmente são derrubados. A sua ruína é
grande. Líderes que dão liberdade total aos seus
pecados terminam consumidos por eles. E devo
dizer uma verdade que constrange a alguns: de
todos os líderes, tomando até os que recebem
maior destaque, os mais imitados e dinâmicos,
não há um único que seja bom em tudo; todos
nós temos um ponto fraco “de estimação”.
42 SINAIS DE PERIGO

Esse é o alerta para quem pensa ser forte: descu-


bra o seu ponto fraco, pois você o tem, e vigie-o
incansavelmente, noite e dia. Quando o desco-
brir – se é que já não o conhece – coloque-o sob
a proteção do sangue do Cordeiro, do poder do
Espírito Santo e da Palavra de Deus.

Os olhos são as portas de entrada para o territó-


rio da tentação. O Diabo sempre apelará para a
concupiscência dos olhos. Com Eva foi assim,
com Davi do mesmo modo.

O que determina meus pensamentos é aquilo


que vejo, e aquilo que penso determina as mi-
nhas ações. Eu vejo, por isso penso e assim ajo.

Esse é o motivo pelo qual vemos, tanto no An-


tigo como no Novo Testamentos, textos que nos
orientam a povoarmos nossos pensamentos com
coisas aprovadas.

Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verda-


deiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo,
tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o
que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há
algum louvor, nisso pensai. (Filipenses 4.8)

Quando cercamos nossa alma com a blindagem


APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 43

dos bons pensamentos, protegemos nossa inte-


gridade contra as investidas do pecado. E não há
alternativa; não insista, não pague para ver, não
creia que você é tão destacado e competente que não
será vítima dessas armadilhas porque, se assim o
fizer, será derrotado como muitos foram.

O Senhor é bondoso de modo como nós não po-


demos imaginar. Graças a Deus que capacitou
cada um de nós com dispositivos que percebem
a aproximação do perigo. O nosso espírito e a
nossa alma são sensíveis aos sinais que indicam
o perigo nos rondando. Quando permanecemos
próximos ao Senhor, por meio de uma vida de
oração e consagração, despimos as nossas vestes
humanas e imundas para recebermos as armadu-
ras de Deus para a luta espiritual, travada inces-
santemente em nosso redor.

Meu conselho é que você permaneça alerta, seja vivo!


Preste atenção aos sinais e proteja-se, pois a sua alma,
sua vida, sua reputação, família e ministério valem
muito mais que um raro momento de prazer.

Esse não é o único conselho que você pode extrair


da história. Agora quero permitir que o próprio
Davi dê conselhos a partir da sua experiência. É
o que veremos no próximo capítulo.
45

CAPÍTULO 3

CONSELHOS AOS
SÁBIOS

Ajuda o teu semelhante a levantar a carga, mas


não a levá-la. Pitágoras
4 6 C O N S E L H O S AO S S Á B I O S

D avi foi um exímio escritor. Escreveu cânticos


que são conhecidos por salmos, e foi o autor
mais produtivo neste estilo em todo o Antigo
Testamento. Seus salmos têm sido lidos, canta-
dos e orados, servindo de base teológica, inspira-
ção e consolo para os aflitos da alma.

Os salmos fazem derramar a alma humana em


forma de palavras, frases, expressões. Davi sabia
muito bem lidar com essa ferramenta e sua ma-
téria prima, a própria alma, atribulada muitas
vezes, reflete as questões que incomodam os ho-
mens há milhares de anos.

Seria diferente conosco? De modo nenhum. Os


problemas vividos por Davi são os mesmos vivi-
dos por cada um de nós. Devemos, porém, pres-
tar atenção a um detalhe que faz diferença: Davi
é conhecido como o “homem segundo o coração
de Deus”. Em outras palavras, embora sejamos
todos pecadores, Davi ainda voltava sempre a
sua atenção para Deus.

O pecado é um problema humano global, e


esquecer-se de Deus é um pecado ainda mais
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 47

grave. Não foi assim com Davi! Sua alma incli-


nou-se para Deus em cada momento dramático
de sua vida e as lições que ele aprendeu foram
deixadas nas páginas da Bíblia para servir-nos de
exemplo. Por isso, vejamos quais são os conse-
lhos que Davi nos daria depois de suas amargas
experiências.

Conselho número 1:
Não façam como eu. Tenham cuidado com o seu tempo
livre.

Quando um homem não sabe usar de forma ade-


quada o tempo livre, o Diabo faz da sua mente
uma grande oficina. Você já deve ter ouvido o
conhecido ditado que diz: “Mente vazia, oficina
do Diabo”.

Quando um líder não sabe usar de forma sábia


o tempo livre, a sua mente corre o risco de se
tornar um amplo terreno de Satanás porque ele é
inteligente e esperto para aproveitar-se do nosso
descuido.

Existem dois extremos perigosos na vida do líder.


4 8 C O N S E L H O S AO S S Á B I O S

O primeiro é a ociosidade destrutiva; o segundo é


a exaustão crônica.

Os efeitos da ociosidade destrutiva nós já vi-


mos na história de Davi, nos capítulos ante-
riores. Um líder nessa condição envolve-se em
atividades que não são da sua competência,
intromete-se em questões alheias. Em outras
palavras, “ele mete o bico onde não foi cha-
mado” e passarinho que põe o bico em ninho
estranho tem que dar comida a filhote que não
gerou.

Por outro lado, um homem cronicamente exaus-


to torna-se presa fácil de seus hormônios. E não
esqueçamos: ainda que sejamos espiritualmente
maduros, os nossos hormônios não são converti-
dos... e podem nos trair.

Organize-se, portanto, para aproveitar bem cada


minuto de sua agenda. E muito cuidado com o
tempo livre.
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 49

Conselho número 2:
Enquanto espera ou descansa, ocupe-se com o que é
construtivo e que faz você crescer.

A diversão, o repouso, o lazer devem estar na


agenda de todo líder. Ninguém é de ferro. Todos
nós precisamos de tempo com qualidade para a
família, para o lazer e para nós mesmos, indivi-
dualmente.

O modo de preenchermos nosso tempo livre de-


termina o bom aproveitamento dele ou a nos-
sa própria degola. Enquanto você descansa ou
se diverte com a família corriqueiramente, não
permita que o Diabo faça da sua mente um labo-
ratório para testes nucleares, colocando “pensa-
mentos explosivos”, “bombásticos”.

Tome como exemplo Paulo. Como foi que Paulo


ocupou o seu tempo quando esteve preso? Apa-
rentemente, ele teve uma tremenda oportunida-
de para viver uma ociosidade destrutiva. Por que,
então, Paulo não se corrompeu? Por que não se
perdeu em pensamentos vagos? Paulo manteve-
se aparentemente parado por dois anos, quando
esteve preso. O que ele fez para “manter a linha”?
5 0 C O N S E L H O S AO S S Á B I O S

Ele foi capaz de ocupar-se com aquilo que era


construtivo e fazia o seu espírito crescer e se for-
talecer. Ele leu. Ele escreveu. Ele aconselhou.
Ele cuidou das igrejas enviando cartas. Ele orou.
E repetiu todas essas atividades durante todo o
tempo.

Na carta que escreveu a Filemom, ele disse: “Vo-


cês pensam que eu estava lá, vivendo ociosamen-
te? Destrutivamente? Não. Eu gerei Onésimo nas
minhas algemas”. Isto é uma paráfrase minha,
mas você pode conferir o texto original em Fi-
lemom 1.10.

Gente que se ocupa dessa maneira glorifica a


Deus e guarda o seu coração contra o mal que
tão de perto nos rodeia.

» Um caso extraconjugal pode começar em


míseros dez dias de férias na praia.
» Um caso extraconjugal pode começar na-
quele churrasco trivial em final de semana.
» Um caso extraconjugal pode começar em
congresso de espiritualidade!
Seria muita ingenuidade pensar que o Diabo está
cochilando na rede enquanto os cristãos cuidam
das coisas do Senhor. Por que Jesus diria: “Vigia
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 51

a tua alma”? Porque ela é o alvo predileto dos


ataques que recebemos.

Todas as manhãs, faça uma vistoria interior em


seus pensamentos, seus planos, aquilo que tem
ocupado a sua mente – e identifique se algo des-
trutivo tem se desenvolvido em sua alma, nos
corredores do seu coração, durante os momentos
ociosos em que a sua imaginação trabalha.

Conselho número 3:
Cuidado com o poder destruidor de uma paixão proibida.

Leia o que estava escrito em um bilhete que recebi:

Você estava lindo com aquele terno ontem, meu


pastor.

Este elogio não foi escrito por minha esposa e


entregue a mim.

Essa frase, esse elogio, é uma semente. Concor-


da? Dependendo do solo onde ela é semeada,
pode dar frutos. Uma semente pode ser lançada
por email, como “Seu perfume ontem estava ir-
5 2 C O N S E L H O S AO S S Á B I O S

resistível, minha irmã”. Ou ainda por meio de


mensagem via celular.

Expressões de admiração, apreciação e elogio


não trazem em si quaisquer problemas. Que mal
pode haver em dizer elogios a alguém bem ves-
tido? É a expressão da verdade. Que mal pode
haver em comentar o aroma agradável de um
perfume? É a expressão da verdade. Palavras, po-
rém, embutem valores e significados em diferen-
tes contextos, em diferentes situações, por e para
diferentes pessoas.

E essas situações são delineadas pela condição


que o ouvinte e o falante se encontram. Mais que
isso: é preciso considerar a presença e atuação do
Diabo sobre essas mesmas situações e ocorrên-
cias. O mundo tem seu componente espiritual
oculto, e não seríamos suficientemente ingênuos
em não contar com isso.

No momento parece apenas uma frase despre-


tensiosa, sem maldade, mas o Diabo faz dela
uma semente maligna e a planta na terra das nos-
sas imaginações inclinadas para a queda.

E o Senhor viu que a maldade do homem na


terra era grande e que toda a imaginação dos
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 53

pensamentos de seu coração era continuamente


má. (Gênesis 6.5)

Quando Davi relacionou-se sexualmente com a


mulher avistada a partir da janela de seu palácio,
ela engravidou. Quando soube a novidade, ela
mandou avisar Davi que estava grávida, espe-
rando, talvez, uma providência amistosa em seu
favor. Não sabemos ao certo que reação ela pro-
curou causar com a informação, mas sabemos a
reação de Davi quando soube que seu caso secre-
to traria uma criança ao mundo.

E aqui eu chamo a atenção para o que ocorre ao


homem dominado por paixão proibida. Parece
não haver limites. Ele ficou desequilibrado ao sa-
ber do filho fora do casamento e, imediatamen-
te, foi dominado por imaginação demoníaca. O
rei mandou trazer Urias, o heteu, que lutava na
guerra, a mesma guerra na qual Davi deveria es-
tar presente. Urias era o marido legítimo da mu-
lher. Davi serviu vinho a ele e lhe deu uma noi-
te de folga, imaginando que ele tivesse relações
com a esposa e, com isso, a paternidade do filho
bastardo pudesse ser atribuída a ele.

Urias, porém, não foi para casa, não deitou nem


se relacionou com a esposa. Nos tempos de guer-
5 4 C O N S E L H O S AO S S Á B I O S

ra, a agenda de Urias tinha os dias comprome-


tidos com o dever de soldado. Ele pensou nos
seus irmãos e não se viu envolvido em prazeres
pessoais enquanto os soldados do seu exército es-
tivessem matando e morrendo. Dispensado por
Davi, Urias não só não foi para casa, como se-
quer saiu do palácio. Dormiu à porta do rei.

De seu lado, Davi afundou-se mais e mais na


perversidade oculta em seu coração. Ele, então,
planejou eliminar Urias. Escreveu um bilhete e
enviou a Joabe, comandante do seu exército:

Posicionai Urias na linha de frente, onde a ba-


talha for mais feroz, e deixai-o sozinho para que
seja ferido e morra. (2Samuel 11.15)

Você sabe a história. A carta foi enviada para


Joabe e o portador foi o próprio Urias, o sen-
tenciado de morte pelo rei. Foi muita maldade.
Eu não estou falando de qualquer homem; es-
tou falando de Davi. Há pouco escrevi que ele é
conhecido como “homem segundo [ou conforme]
o coração de Deus”. Quem você conhece com o
mesmo adjetivo?
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 55

Se isso aconteceu a Davi, pode acontecer conos-


co? Estamos protegidos contra cenas como essas?
Adultério, homicídio? O coração do homem é
uma caixa de surpresas.

Davi tinha cinquenta anos de idade, homem


maduro, vivia o melhor momento de sua vida,
no reino, no campo de batalha, na vida espiri-
tual. Havia conquistado mais que os seus sonhos
jamais conceberam. No entanto, ocupou mal o
seu tempo e envolveu-se em uma paixão que não
era da sua conta.

Qual é o momento do seu ministério? Como


está a sua guarda? Você tem vigiado a sua alma?

O melhor momento para vencer a tentação é


no início, e com o uso de toda a força dispo-
nível. Não pense que maturidade é garantia de
livramento. Não pense que você está isento de
tentações por estar há muito tempo na Igreja.
Tempo de casa só é bom para quem tem Fun-
do de Garantia a receber. E mesmo quem tem
muito tempo de casa pode ser mandado embora
por justa causa se cair prostrado diante de uma
paixão proibida.
5 6 C O N S E L H O S AO S S Á B I O S

Conselho número 4:
Nunca tente resolver um problema por vias erradas.
Você criará maiores problemas.

Quero ser mais incisivo neste ponto.

Davi tinha um problema grave e tentou resolvê


-lo criando um problema ainda maior. Mandar
matar o companheiro inocente não foi a decisão
certa. Vemos um cenário parecido em Gênesis
capítulo 4, quando Caim levou Abel ao campo
para assassiná-lo (v. 8). Caim derramou sangue
inocente na terra. E mais para frente, a Palavra
diz:

Quando cultivares a terra, ela não te dará mais


sua força; serás fugitivo e vagarás pela terra.
(Gênesis 4.12)

Deus não se referia à terra em sentido literal. Ele


falava da vida, do coração, do ministério e até
mesmo do relacionamento com o seu semelhante.
Quem assassina companheiros não consegue ex-
trair o melhor fruto do seu trabalho. O vigor do
seu esforço é fraco se comparado ao que poderia
ser se promovesse vida em vez de morte.
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 57

Digo isso porque há líderes promovendo morte


em seu ministério. Disputas internas (e externas)
por poder, por influência, por alianças derramam
sangue que enfraquece e inibe o crescimento e a
prosperidade. O dia em que lançarem sementes,
essa terra não produzirá porque foi regada com
sangue e Deus não tem compromisso de prospe-
ridade na terra de quem derrama sangue inocen-
te: refiro-me ao ministério.

T. D. Jakes fez uma afirmação que guardo para o


resto da vida:

Se não gostas do que estás colhendo, olha para


trás e veja o que foi plantado.

Davi semeou dois tipos de sementes malignas:


a do adultério e a do homicídio. Qual foi a sua
colheita? Basta olhar 2Samuel 13. Amnon, filho
de Davi, apaixonou-se por Tamar, sua irmã, e a
estuprou: a colheita foi um incesto em sua pró-
pria casa. Absalão, outro filho de Davi, revoltou-
se com a indiferença do pai ao tratar o problema
e assassinou Amnon. Se você continuar a leitu-
ra, verá no capítulo 15 do mesmo livro que o
próprio Absalão rebelou-se politicamente contra
Davi e foi morto por Joabe.
5 8 C O N S E L H O S AO S S Á B I O S

É preciso levar a sério essa infalível lei da semeadu-


ra no exercício da liderança. Não tente resolver
problemas, pequenos ou grandes, acrescentando
mais problemas à situação. Procure o caminho
certo e tome as medidas certas para que as coisas
se encaminhem favoravelmente. Acabe de uma
vez por todas com arremedos, “jeitinhos”, aco-
bertamento de pecados e acréscimo de pecado
sobre pecado. Rompa de uma vez por todas com
o ciclo que destrói e mata em vez de promover
edificação e vida!

Lembro-me de um irmão que foi ordenado ao


diaconato. Ele trabalhou seis meses nessa função
e, de repente, precisou de dinheiro. Alguém o
aconselhou a processar a igreja reivindicando R$
20.000,00 de indenização pelos serviços de diá-
cono.

O pastor líder foi até ele e pediu que não levas-


se o caso adiante, explicando que a igreja tinha
pouquíssimos recursos. O diácono não deu ou-
vidos ao antigo líder.

Depois de muita negociação, a igreja conseguiu


acordo para pagar 20 prestações de R$ 350,00.

Agora, veja a colheita real que o diácono levou


APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 59

“de brinde”, visto que com o dinheiro “da oferta


da viúva” não se brinca. O irmão começou a re-
ceber todo mês a quantia combinada. De repen-
te, a esposa foi diagnosticada com câncer. Cha-
maram o pastor líder para orar, e ele disse: “Eu
não coloco a minha mão onde Deus colocou a
mão dele para tratamento”.

Dois meses depois, a filha foi estuprada. Passa-


dos alguns meses, ele perdeu a razão, ficou louco
e foi internado em hospital psiquiátrico. A famí-
lia daquele homem foi dizimada.

A esposa morreu de câncer, ele foi para um hos-


pital de loucos e a filha carregou o trauma de um
estupro. A família acabou tal qual a de Davi.

O que o profeta Natã disse ao rei?

Pois tu o fizeste em segredo, mas eu farei o que


disse perante todo o Israel e à luz do dia. Então
Davi disse a Natã: Pequei contra o SENHOR.
Natã respondeu a Davi: Também o Senhor per-
doou o teu pecado, por isso, não morrerás.

(2Samuel 12.12, 13)

Em outras palavras, a graça de Deus não cance-


6 0 C O N S E L H O S AO S S Á B I O S

la a colheita feita por ninguém, nem mesmo do


homem segundo o coração de Deus. A graça de
Deus preserva o plantio e todos nós colhemos o
fruto segundo a semente que lançamos na terra,
seja essa terra o nosso ministério, a nossa família
ou algum outro lugar.

Conselho número 5:
Nunca tente esconder do cônjuge aquilo que está diante
dos olhos do Senhor.

Devo supor que cada cristão esteja consciente de


que Deus vê tudo.

Os olhos do Senhor estão em todo lugar, vigian-


do os maus e os bons. (Provérbios 15.3)

A tentativa de Davi de esconder o seu pecado foi


bastante inocente. O pecado cheirou mal diante de
Deus e esse mau cheiro não podia persistir: Deus
recorreu ao seu profeta. Sabe quando Deus levanta
profetas? Quando o sacerdote não ensina o povo e
quando o rei não é reto diante de Deus. O recurso
do Pai para não ficar sem testemunho na terra é o
profeta. Então Deus revelou o caso a Natã.
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 61

A cena do crime ainda estava preservada, mas Davi


pensou que pudesse pagar sua dívida de pecado
com um cartão de crédito de boas obras. Não pôde.
Esse é o pensamento típico das armadilhas do po-
der. Em nossos dias, há líderes repetindo o erro,
racionalizando o próprio pecado. Eles dizem: “Eu já
jejuei muito, eu já preguei muito, eu já ganhei mui-
tas almas para Deus e, portanto, tenho crédito lá em
cima para dar uma ‘pecadinha’”.

Nem mesmo Davi, o homem segundo o coração de


Deus, teve crédito para encobrir o seu pecado. O
pecado, qualquer que seja, dá legalidade a Satanás
e afasta você de Deus. “Todos pecaram e destituídos
estão da glória de Deus” (Romanos 3.23) é o que
ensinou o apóstolo Paulo. E quanto a Davi, a Bíblia
é explícita:

Mas, visto que com esse ato deste motivo para


que os inimigos do Senhor blasfemassem, o filho
que te nasceu certamente morrerá.
(2Samuel 12.14)

Enumerei os erros de Davi. A situação, porém,


não aponta os canhões somente para o seu lado. Ba-
te-Seba também tem parcela de culpa e ensina
sobre as intensões da alma humana, especial-
mente a feminina. Vocês acham que Bate-Seba
era inocente? Não era. Todo pecado – e no caso o
6 2 C O N S E L H O S AO S S Á B I O S

pecado de adultério – é um processo que envolve


dois lados.

Em primeiro lugar, não creio que tudo tenha


acontecido em um dia. O caso era muito sério,
tratava-se de Davi, o grande herói do povo, o
rei exemplar ungido de Deus! E um dia não é
suficiente para um envolvimento tão intenso
como esse. Um dia não é suficiente para cegar o
homem desse jeito.

E aí eu pergunto: Por que ela tomava banho em


lugar onde podia ser observada pelo rei? Ela não
tinha outro lugar para fazer isso? Você já deve ter
feito essa pergunta. E vale uma advertência séria
para as mulheres, especialmente para aquelas que
estão em posição de destaque, à frente de algum
trabalho ou de algum grupo: a maneira de você
se vestir revela a intenção do seu coração e as ten-
dências da sua alma.
Veja o que temos em Provérbios 7.6-23:

Porque da janela da minha casa, por minhas


grades, olhando eu, vi entre os simples, descobri
entre os jovens um que era carente de juízo, que
ia e vinha pela rua junto à esquina da mulher
estranha e seguia o caminho da sua casa, à tarde
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 63

do dia, no crepúsculo, na escuridão da noite, nas


trevas.
Eis que a mulher lhe sai ao encontro, com vestes
de prostituta e astuta de coração. É apaixonada e
inquieta, cujos pés não param em casa; ora está nas
ruas, ora, nas praças, espreitando por todos os
cantos. Aproximou-se dele, e o beijou, e de cara
impudente [sem juízo, sem vergonha] lhe dis-
se: Sacrifícios pacíficos tinha eu de oferecer [era
crente, cultuava]; paguei hoje os meus votos. Por
isso, saí ao teu encontro a procurar-te, e te achei.
Já cobri de colchas a minha cama, de linho fino
do Egito, de várias cores; já perfumei o meu leito
com mirra, aloés e cinamomo.
Vem, embriaguemo-nos com as delícias do
amor, pela manhã; gozemos amores. Porque o
meu marido não está em casa [era casada, ela ti-
nha em casa um Urias], saiu de viagem para lon-
ge. Levou consigo um saquitel de dinheiro; por
volta da lua cheia ele tornará para casa. Seduziu
-o com as suas muitas palavras, com as lisonjas
dos seus lábios o arrastou.
E ele num instante a segue, como o boi que vai
ao matadouro; como o cervo que corre para a
rede, até que a flecha lhe atravesse o coração;
como a ave que se apressa para o laço, sem saber
que isto lhe custará a vida”. (acréscimos feitos
por mim)
6 4 C O N S E L H O S AO S S Á B I O S

Minha irmã e meu irmão, saiba que esse texto


quebra laços neste exato momento. É um tex-
to muito forte e revelador, que alcança o ponto
mais íntimo da nossa alma e desfaz a obra do
Diabo. Cabe a cada um de nós, agora, vigiar
sobre os lugares que frequenta, a posição para
onde se desloca, o lugar onde se senta e, mais,
a impressão que a sua maneira de vestir pode
causar. Seja consciente na hora de escolher o
seu estilo e pense sobre a mensagem que o seu
estilo transmite.
Bem, já vimos os erros de Davi e também os de Bate-
Seba. Agora iremos nos deter um pouco na displi-
cência e dor de Urias. Esta passagem também ensina
muito especialmente aos maridos.

Então Davi mandou dizer a Joabe: Traze-me


Urias, o heteu. E Joabe o enviou a Davi. Urias
veio a Davi, este lhe perguntou como estavam
Joabe e o exército e como ia a guerra. Depois
Davi disse a Urias: Vai para a tua casa e procura
descansar.
E, assim que Urias saiu do palácio real, foi-lhe
mandado um presente do rei. Mas Urias dormiu
à porta do palácio real, com todos os servos do
seu senhor, e não foi para casa. Então contaram a
Davi: Urias não foi para casa. E Davi perguntou
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 65

a Urias: Não chegaste de uma viagem? Por que


não foste para casa? Urias respondeu a Davi:
A arca, as tropas de Israel e de Judá estão em
tendas; Joabe, meu senhor, e os servos de meu
senhor estão acampados ao relento. Como eu
iria para casa comer e beber e me deitar com mi-
nha mulher? Por tua vida e por tua honra, não
farei isso. Então Davi disse a Urias: Fica ainda
hoje aqui, e amanhã te despedirei. Assim, Urias
ficou em Jerusalém aquele dia e o seguinte. Davi
o convidou a comer e a beber com ele e o embe-
bedou; e à tarde Urias saiu e foi deitar-se na sua
maca, onde estavam os servos de seu senhor, mas
não foi para a sua casa. (2Samuel 11.6-13)

Antes de prosseguir, preciso deixar claro aqui,


que toda a narrativa aponta para uma conduta
honrada e nobre do soldado Urias, conduta dis-
ciplinada que contrasta com o comportamento
lascivo, “confortável” e maligno de Davi. Mesmo
um marido correto e honrado, pode sofrer uma
traição injusta e desproporcional. Todos têm
falhas, mas dificilmente, um erro justifica uma
traição. Urias foi traído por sua esposa e por seu
chefe. Como ele, uma pessoa também pode ser
traída e será desafiada a perdoar.

Vamos destacar um pequeno descuido de Urias,


6 6 C O N S E L H O S AO S S Á B I O S

que não justifica a traição e muito menos sua


morte, e buscar lições para quem vive na pós
modernidade.

A intensão de Davi ao mandar Urias para casa


era maligna, mas o princípio que Urias deveria
ter preservado era legítimo. Ele estava há quaren-
ta dias na guerra, portanto, fora de casa. Chegan-
do à cidade, deveria ir para a sua casa encontrar-
se com sua esposa. No entanto, o versículo 9 diz
que ele “não desceu para sua casa”. Ele alegou
fidelidade aos companheiros na guerra e à pre-
sença da arca no arraial dos soldados.

Urias não foi para casa. É interessante notar


como ele estava preocupado com a arca, com
Israel, com Joabe, com os amigos de trabalho
e, em momento nenhum, ele mencionou a sua
mulher e os filhos, se é que os tinha. Ele estava
preocupado com a arca, ele estava preocupado
com o chefe Joabe, ele estava preocupado com a
nação inteira, com os companheiros de trabalho,
mas em nenhum momento ele se mostrou preocupa-
do com sua esposa, com sua família, com sua vida
pessoal que era igualmente importante.

Há coisas em nossa vida que não podem concor-


rer entre si. Ministério não pode concorrer com
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 67

casamento. Se não há tempo suficiente para uma


atividade importante, diminua o tempo investi-
do em outra atividade à qual você se dedica mais.
Uma atividade está roubando tempo da outra;
há desequilíbrio.

Precisamos saber separar as coisas. Admiramos


que um homem seja fiel ao Senhor, submisso ao
seu líder e solidário aos parceiros do ministério.
Esperamos ter milhares de homens assim ao nos-
so lado. No entanto, há uma ordem estabeleci-
da na economia de Deus. E essa ordem precisa
ser preservada para que todas as demais áreas de
nossa vida prosperem equilibradamente e sejam
igualmente preservadas. A ordem estabelecida
por Deus é1:

1º) Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo,


2º) Cônjuge e, se tivermos filhos, nossa
família,
3º) Trabalho, que provê sustendo para a

1 Tempo com Deus, vida em família e trabalho: tudo


é culto, tudo é sagrado. A vida do cristão não deve ser
separada, dividida. O Espírito Santo habita no cristão e
ele cultua quando acorda e prossegue até deitar-se para
descansar. Por “obra de Deus”, defino trabalho direta-
mente realizado na ou para igreja local.
6 8 C O N S E L H O S AO S S Á B I O S

família e gera recursos para a próxima


prioridade que é...
4º) A obra de Deus.

Essa é a ordem ideal para que as coisas funcio-


nem sem sobressaltos. Inverta essa ordem e espe-
re problemas, certamente. Foi o que aconteceu
quando Urias inverteu o terceiro lugar (o traba-
lho), colocando-o no lugar da família.

Como seria a história se Urias tivesse descido a


sua casa e se relacionado com a esposa? Ninguém
sabe. Podemos imaginar que a gravidez fosse atri-
buída a ele. Talvez ele nunca descobrisse. Talvez
viesse a saber. Quem sabe ele somente suspeitas-
se. Quando o marido não tinha certeza, ele po-
deria ir ao sacerdote e levar sua mulher com ele,
pois havia na Lei de Moisés um juramento que
o marido obrigava a mulher a fazer de que não
tinha adulterado (1Sm 5.11-31).

O que ele faria se soubesse? Podemos ver como


outros judeus agiam. José, pai de Jesus era um
típico israelita e resolveu lidar com a questão da
suposta traição abandonando Maria para não le-
vá-la a julgamento (Mt 1.19). Judá, ao saber que
sua nora havia se prostituído (Gn 38.24), man-
dou que ela fosse queimada. Na Lei de Moisés,
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 69

a ordem era para apedrejar o homem e a mulher


(Lv 20.10). O “homem”, em questão era o rei
Davi. Realmente não há como saber como Urias
reagiria.

Vamos fazer uma aplicação para o século XXI.


Se fosse em nossos dias, ao descobrir uma trai-
ção, confessada pela esposa que não suportou
conviver com a mentira da traição e, depois de
um tempo, contasse a seu marido sua aventu-
ra sexual extraconjugal. Eles poderiam discutir
severamente, mas no fim ele poderia rever seus
valores, suas prioridades, perdoar e passar a uma
nova fase no seu casamento.

Crentes no Senhor precisam aprender a convi-


ver com o perdão, pois nem mesmo a infidelida-
de deve ser usada como razão para separação se
houver disposição para o perdão. Deus é podero-
so para curar feridas e fazer novas todas as coisas.
O perdão que cabe a homens de fé está implícito
nesse quadro que pintei.

Sabe qual é o nosso problema? Superestimamos


o nosso valor. Pensamos que o nosso valor indi-
vidual é maior que o nosso valor coletivo. Pensa-
mos que aquilo que fazemos sozinhos vale mais
que o que fazemos no grupo: no ministério, na
7 0 C O N S E L H O S AO S S Á B I O S

família, na comunidade. Imaginamos, errada-


mente, que as coisas simples da vida têm menos
valor que aquelas que aparecem mais aos olhos
dos outros, que dão mais status.

Não despreze os dias das coisas pequenas.


(Zacarias 4.10)

A vida de cada um de nós é formada por ati-


vidades diferentes com valores e pesos diversos.
Por isso, precisamos desvendar o valor que cabe
a cada uma das nossas atividades e fazer o inves-
timento adequado para que haja equilíbrio em
toda a nossa vida.

A Deus, a parte que cabe a Deus. À família, a


parte que cabe à família. E assim com tudo o que
nos envolve, sem desprezar as atividades aparen-
temente simples que contribuem para fazer de
nós quem somos.

Quero finalizar este capítulo chamando a sua


atenção para o principal valor na vida de um lí-
der: a vida. Quando se trata de uma vida, todos
devemos respeitá-la. Seja quem for, ocupe o car-
go que ocupar, não importam as credenciais: a
vida está em primeiro lugar.
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 71

Joabe errou. Ele associou-se a Davi para a morte


de um homem. Joabe não conhecia a circuns-
tância de pecado nem as motivações do rei para
desejar a morte de Urias; isto somente agrava a
culpa de Joabe porque ele não questionou as ra-
zões pelas quais deveria criar uma estratégia que
resultasse na morte de um de seus soldados.

Joabe cumpriu uma ordem absurda, sem ques-


tionar. Não é porque a patente de Joabe era infe-
rior à do rei que ele deveria obediência à ordem
pecaminosa. Havia uma vida em jogo e ela estava
acima de qualquer patente, de qualquer posição
ou cargo.

A submissão não é incondicional. Se assim fos-


se, Misael, Ananias e Azarias teriam se prostra-
do diante da estátua do rei Nabucodonosor na
Babilônia. Se assim fosse, a mãe de Moisés não
teria escondido o filho Moisés, mas obedecido à
ordem do faraó.

Quando alguém lhe pedir para desobedecer a


Deus, opte por fazer aquilo que você sabe que
deve ser feito, ainda que em detrimento da obe-
diência cega e incondicional a uma autoridade
humana. 
72

Nós, líderes, devemos submissão a Deus. Esse foi


o exemplo deixado pelo Senhor Jesus, que obe-
deceu ao desejo de Deus de que tivéssemos vida,
esvaziou-se a si mesmo e “não considerou o fato
de ser igual a Deus algo a que devesse se apegar”
(Filipenses 2.6).

E não só vamos desobedecer ordens humanas


quando uma vida está em risco, mas sempre que
alguém nos ordena desobedecer a uma ordem de
Deus.
73

CAPÍTULO 4

O QUE DEVEMOS
APRENDER?

“O sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pen-


sa sempre tudo o que diz.” Aristóteles
74 O QUE DEVEMOS APRENDER?

N o capítulo anterior, vimos como a experiência


amarga de Davi pode fornecer conselhos para
cada um de nós líderes. Todos eles foram extraí-
dos do próprio relato bíblico e são orientações
tiradas da vida real daquele que foi o maior rei
de Israel.

Neste capítulo, veremos duas medidas a serem


tomadas criteriosamente, com a finalidade de
cercar a nossa alma dos laços que insistem em
apanhá-la de surpresa. A bem da verdade, o pe-
cado é o mesmo desde o Éden, você concorda?
Eva foi tentada quando a serpente distorceu a
verdade de Deus e fez a mulher imaginar uma si-
tuação “agradável aos olhos e desejável” (Gênesis
3.6). Ao longo dos séculos e milênios, o Diabo
insiste nessa estratégia, simplesmente “atualizan-
do” o seu argumento; o modelo, porém, conti-
nua o mesmo. E o que é pior: muita gente ainda
cai na sua conversa.

Então, a pergunta a ser respondida neste ponto


do livro é:
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 75

Como vencer a tentação de pecar quebrando


uma aliança?

Se os nossos olhos estão vendo cenas agradáveis,


se estamos sendo atraídos por paisagens encanta-
doras, mas enganosas, é preciso levantar muros
de proteção para que não aconteça conosco o
que aconteceu com Davi, com Bate-Seba, com
Urias e mesmo com Joabe. Mas como fazer isso?

Dou-lhe minhas sugestões.

Sugestão número 1:
Tenha um mentor com o perfil de Natã.

Nos dias de Davi havia um profeta, que frequen-


tava o palácio do rei, e o seu nome era Natã. Fa-
lamos pouco a seu respeito em nosso livro.

Natã soube dos crimes cometidos por Davi por-


que o Senhor os revelou a ele. É o cuidado de
Deus com aqueles que são seus. Natã, então, foi
ao palácio e entrou à presença de Davi, o que
nos ensina que o rei o tinha como conselheiro.
Nenhum líder deve imaginar que seu sucesso de-
76 O QUE DEVEMOS APRENDER?

corre exclusivamente da sua capacidade. A porta


do gabinete de um líder deve permanecer aberta
para os seus colaboradores; eles devem ter livre
acesso a ele.

Na presença do rei, Natã contou uma parábola e


Davi indignou-se com ela. Veja a história:

O Senhor enviou Natã a Davi. Quando ele


chegou, disse a Davi: Numa cidade havia dois
homens, um rico e outro pobre. O rico tinha
rebanhos e manadas em grande número; mas o
pobre não tinha coisa alguma, senão uma peque-
na cordeira que comprara e criara; ela crescera
com ele e com seus filhos; comia da sua porção,
bebia do seu copo e dormia em seus braços; e ele
a considerava como filha. Certa vez, um viajante
chegou à casa do rico; mas ele não quis pegar
uma ovelha sua ou um boi seu para dar de comer
ao viajante que o visitava, assim tomou a cor-
deira do pobre e a preparou para o seu hóspede.
(2Samuel 12.1-4)

Ao ouvir a parábola, Davi ficou revoltado. Disse


que o homem que fez aquilo deveria ser morto!
Natã, então, olhou nos olhos do rei e disse: “Esse
homem és tu” (v. 7).

Qual a finalidade dessa ocorrência? Por que o Se-


APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 77

nhor revelou os segredos do rei e enviou o profe-


ta para falar com Davi? Isso se chama cuidado e
zelo, que resultam em restauração.

É preciso que nós, líderes, tenhamos pessoas que


possam nos confrontar. Quem do seu relacio-
namento tem liberdade de acesso para confron-
tá-lo? Quem do seu relacionamento pode fazer
perguntas a você com liberdade? Quem é o seu
mentor?

O sucesso eleva qualquer pessoa a um patamar


de isolamento perigosíssimo. E no isolamento, a
natureza humana pecaminosa, inclusive a nossa,
de cristãos, pode “revirar-se no caixão” e querer
sair. A história da humanidade e a própria his-
tória da Igreja têm casos e mais casos de pessoas
que perderam a direção certa porque se deixa-
ram levar pela autonomia, pela autossuficiência.
A igreja só é igreja na comunhão dos irmãos.
Ninguém é igreja sozinho. Você e eu temos o
Espírito Santo habitando em nós, isso é certo e
bíblico. No entanto, para sermos parte da Igreja,
precisamos ter comunhão uns com os outros. O
isolamento é maligno.

O Novo Testamento está cheio de citações do


tipo “uns aos outros”. Os autores recomendam
78 O QUE DEVEMOS APRENDER?

a cumprimentarem-se afetuosamente com bei-


jos2, a se aconselharem mutuamente3, a conso-
lar4, honrar5, saudar6, amar7, incentivar às boas
obras8, a suportar em amor9, a perdoar10, a lavar
os pés11, a exortar12, a acolher13 e a sujeitar-se14.

Como encarar mais de 70 recomendações que só


podem ser atendidas comunitariamente e ainda
achar que é possível viver isolado? Aconselhar-se
e sujeitar-se são possíveis, somente na integração
e no convívio com o corpo. Estes verbos apon-
tam para pessoas que funcionam como espelho,
como profetas Natãs, como a voz do próprio
Deus.

Quem deseja que você fique isolado é Satanás. O

2 Romanos 16.16; 1Coríntios 16.20; 1Pedro 5.14.


3 Efésios 5.19
4 1Tessalonicenses 4.18
5 Romanos 12.10
6 2Coríntios 2.13
7 João 13.34-35; Romanos 12.10; Gálatas 5.15; 1João
3.11 e 4.11
8 Hebreus 10.24
9 Efésios 4.12
10 Colossenses 3.13
11 João 13.14
12 1Tessalonicenses 5.11
13 Romanos 15.7
14 Efésios 5.21
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 79

isolamento é maligno. Por isso, cerque-se de pes-


soas de Deus, com visão espiritual aguçada e que
tenham liberdade e sensatez para contribuir com
você em todos os momentos da sua vida, seja na
carreira pessoal no ministério, seja no trabalho
secular se você o tem, seja nos novos projetos e
até mesmo em decisões pessoais.

Quem é que confronta você, dizendo: “Esse não


é o caminho de Deus para a sua vida. Afasta-se
dele. Onde está a sua cabeça?”.

Amigo é quem não tem medo de confrontá-lo


quando você está em caminhos de morte. Esse
é seu amigo. Você tem gente assim ao seu lado?

Conta a história que um grande pintor trabalha-


va na execução de um pintura maravilhosa. Era
um painel alto e ele trabalhou em cima do an-
daime, durante um mês todo, pintando a grande
obra.

Quando o painel ficou pronto, ele ficou embria-


gado com a beleza do quadro. A fim de contem-
plá-lo, afastou-se um pouco da imagem, ainda
em cima do andaime. O amigo que estava em-
baixo, percebendo que o pintor cairia caso desse
mais um passo para trás, tomou uma brocha que
80 O QUE DEVEMOS APRENDER?

estava no chão dentro de uma lata de tinta e ati-


rou-a no quadro, estragando a pintura.

O pintor irritado deu um pulo para frente e es-


bravejou: “Você ficou louco? Um mês inteiro de
trabalho e você destruiu tudo!”. E o amigo res-
pondeu: “Eu destruí o seu quadro, mas salvei a
sua vida”.

É a vida que precisamos preservar a qualquer custo,


não o quadro.

Se o quadro que você está pintando para o seu


ministério, para a sua família e para você mesmo
o leva em direção à morte, é preciso destruir o
quadro e preservar a vida.

A contemplação da obra pode distraí-lo do peri-


go na vida real. A obra é maravilhosa, mas a vida
é espetacular. Prefira sempre a vida.

Como são sedutoras muitas carreiras diante de


nós. Mas não hesite em ter por perto pessoas dis-
postas a desfazer a sedução para salvar a sua vida.
Se você não tem essa pessoa, ore e peça a Deus
que dê a você um Natã. Deus levantará um men-
tor à altura para estar ao seu lado; um mentor
com coragem de estragar o seu quadro e resgatar
a sua vida.
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 81

E esta é a minha oração:

Senhor, para cada um de nós, dá um Natã neste


dia. Para cada um de nós, dá um Natã que che-
gue a tempo, antes que o pior aconteça.

Erga esse muro de proteção em torno da sua vida


e mantenha alto o nível de resistência por meio
da disciplina, da oração e da Palavra. E pratique
essas coisas, aplique-se nelas de fato, pois o Dia-
bo não respeita quem fala de oração: o Diabo res-
peita quem de fato ora.

Viva de acordo com um código de integridade.

Sugestão número 2:
Desenvolva um código de integridade.

Você tem um código de integridade? Se tem, en-


tão viva de acordo com ele.

O desenvolvimento de um código de integrida-


de começa quando você se compromete com li-
nhas mestras bíblicas autoimpostas que lhe dão o
controle moral sobre a própria vida. Esse esforço
82 O QUE DEVEMOS APRENDER?

imprime e reforça a sua vontade pessoal ou seu


modo de reagir quando as tentações surgem.

Que tipos de linhas mestras podem ser cultiva-


das e autoimpostas?

Um exemplo é a criação de uma aliança com um


companheiro de oração. Certa vez, o pastor Jo-
cimar Fonseca ligou para mim e disse: “Eu es-
tava no monte orando, o seu nome veio à mi-
nha mente e eu orei por você. Como está você?
Como está a sua casa? E a sua família? Como vão
as coisas no seu ministério? E o seu coração?”.

E respondi a ele o seguinte: “Já que você ligou pra


mim, vamos fazer uma aliança? Vamos fazer uma
parceria de oração?”.

Eu orei por ele, e ele fez uma bonita oração em


meu favor. Selamos uma aliança de oração mú-
tua.

Você precisa de um parceiro com o qual tenha


uma aliança de oração porque a oração é uma
das principais linhas mestras da vida de todo ho-
mem e mulher de Deus. Mas não é a única. Se
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 83

você procura um código de integridade para se-


guir e pautar a sua vida, sugiro que leia nos evan-
gelhos. Leia, por exemplo, o Sermão do Monte
no evangelho de Mateus. Lá há várias cláusulas
fundamentais que podem ser usadas para com-
por o seu código. O Sermão do Monte é um baú
com tesouros que podem enriquecer a sua vida
e a sua experiência com Deus. Use à vontade,
retire de lá o que precisar. Ele não é a única fonte
de riquezas para a nossa vida, evidentemente. Há
outras porções das Escrituras de onde você pode
retirar direcionamento seguro e saudável para a sua
alma.

E não se esqueça de envolver pessoas no seu có-


digo. O isolamento é maligno e não ajudará você
em nada. Às vezes, nós nos encontramos com
amigos, parceiros de ministério, e só falamos
em projetos, planos, estratégias, dificuldades de
avançar na obra e tantas outras coisas. No entan-
to, nós nos esquecemos de perguntar: “Como vai
a alma? Como vai o coração? Como vai o minis-
tério? Como vai a chama dentro do teu peito?
Ela está acesa?”.
85

CONCLUSÃO

“O único lugar onde o sucesso vem antes do


trabalho é no dicionário.” Albert Einstein

Permitindo que o Sermão da Montanha aconse-


lhasse o rei Davi, aprendemos que há uma neces-
sidade premente de vigilância concentrada, or-
ganizada e comunitária. Um caráter consistente
forma a base sobre a qual o serviço deve estar
alicerçado. Quanto mais talentoso, quanto mais
famoso for o líder, melhor e mais firme deve ser
a fundação do seu caráter. Em uma batalha, mais
importante do que derrubar muitos inimigos é
permanecer forte para não dar trabalho aos com-
panheiros nem sair do combate. Vigie, portanto,
e proteja-se.
8 6 C O N C LU S ÃO

O rei Davi, valente, famoso, querido de Deus,


ungido, músico, salmista e amigo de Deus dei-
xou de vigiar enquanto tirava seu tempo de lazer.
Ele pecou grosseiramente, tentou consertar um
erro com outro pior ainda e, mesmo sendo ami-
go de Deus (ou talvez, justamente por ser) colheu
o fruto amargo do seu erro, trazendo sofrimento
sobre sua família e seu reinado, que nunca mais
foram os mesmos depois da sua queda.

Para evitar tal desvio, você precisa vigiar, sondar,


buscar e ficar muito atento ao que se passa na
sua mente, nos seus pensamentos, tendo atenção
dobrada nos momentos mais críticos de lazer e
descanso – aqueles momentos quando a tentação
pode vir com mais força.

Todo bom sentinela sabe que há sinais que apon-


tam para a presença ou chegada do inimigo; por-
tanto, você precisa ficar ligado. Enfrente suas
fraquezas de caráter com seriedade, nunca faça
uso da mentira, fique atento às ações impulsivas
e saiba que quando você usa os dons dados por
Deus para proveito próprio, você corre um sério
perigo.
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 87

Atenção para os sinais:

» negligência em suas tarefas mais essen-


ciais,
» brincadeiras com erros e pecados, patro-
cinadas pela autossuficiência soberba e
enganosa,
» alta de controle em pequenas atitudes,
que aponta para um descontrole maior,
» mentira, que passa a se apresentar sempre
que é necessário inventar uma desculpa
para camuflar o comportamento de risco
ou o pecado em si.

Diante deste diagnóstico, que aponta para a ne-


cessidade urgente da vigilância, aceite os con-
selhos para os candidatos a sábios. Você precisa
descobrir o seu ponto fraco e vigiá-lo incansavel-
mente, ainda que precise da ajuda de um amigo,
do cônjuge ou do seu tutor – e é bem possível
que você precise dos três.
8 8 C O N C LU S ÃO

A armadilha dos extremos

Não caia na armadilha dos extremos que o colo-


cam face a face com o pecado: ficar à toa, ocioso,
ou ficar tão cansado a ponto de perder o ânimo e
a vontade de viver. Um extremo é agradar a car-
ne em todos os seu desejos; o outro, é levar a si
mesmo ao desfalecimento pela falta de descanso.
Ambos devem ser evitados a qualquer custo. 

Como o descanso é tão importante quanto o tra-


balho, descanse de tal maneira que você seja edi-
ficado. Descubra o prazer em atividades nobres
e elevadas. Se você perceber sentimentos muito
intensos voltados a determinada tarefa ou pes-
soa, fique alarmado, pois pode ser uma paixão
destrutiva e proibida. Fuja da fonte de tais senti-
mentos. Fuja mesmo, nada de achar que é forte.

Se você já está envolvido, de alguma forma, com


uma paixão maligna, resolva pelas vias corretas
da verdade e confissão e não acrescente mais pro-
blemas ao problema inicial. Seja firme, confesse
e enfrente as consequências enquanto a situação
ainda não ficou pior. Deus perdoará e, o quanto
antes você voltar atrás, menores serão as conse-
quências ruins.
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 89

Não esconda de Deus o que ele já sabe. Ao


olhar-se no espelho, pergunte a si mesmo qual
recado você deseja passar com suas roupas, qual
mensagem você quer que os outros recebam. Seja
sóbrio. Lembre-se de não permitir que o traba-
lho, o ministério ou os estudos façam concor-
rência com o seu casamento e a sua família. Estes
sustentam aqueles, e não vice-versa. Não caia na
armadilha do status e da popularidade, vigie seu
coração contra a ganância.

Mesmo que você seja um líder de renome ou


um grande empresário, tenha um mentor que
cultive a intimidade com Deus e tenha coragem
para alertá-lo. Deixe a porta aberta para aqueles
que o ajudam, apontando seus erros, e decida ter
também um companheiro de oração que possa
caminhar ao seu lado com franqueza.

O Deus de toda provisão

Quero concluir este livro contando uma expe-


riência muito edificante. Há tempo, fui convida-
do para pregar em Brasília. E em Brasília há um
9 0 C O N C LU S ÃO

homem que inspira a minha caminhada cristã;


muitos o conhecem, é o pastor Vilarino.

Na data marcada para eu ministrar, desembar-


quei em Brasília, mas eu estava naqueles dias
quando tudo parece ir de mal a pior. Eu estava
vazio, oco. Não tinha nada para dar ao povo que
ouviria a mensagem.

O irmão que me recebeu no aeroporto chegou


muito animado, dizendo: “Pastor, está tudo
pronto. Tudo armado. Tudo preparado. Tudo no
jeito. É só o senhor deixar Deus o usar.”

Eu pensei: “Se ele soubesse do meu estado... Se


ele soubesse que estou precisando de alguém que
ore por mim, alguém que coloque a mão sobre a
minha cabeça e ministre renovação sobre minha
vida e meu ministério...”.

Aquele irmão levou-me para a chácara onde seria


o encontro. Foi lá que veio a surpresa, pois Deus
não é indiferente às nossas necessidades. Se orar-
mos, confiantes de que Deus fará algo, chegará
às nossas mãos aquilo de que precisamos.

E chegou. Quando ele me recebeu na chácara,


o pastor Vilarino, com quem tenho laços muito
estreitos de comunhão, disse: “Há quinze dias eu
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 91

tive uma experiência e eu tenho que compartilhá


-la com você, Josué. Vamos para casa e eu conta-
rei o que houve. Vou levar você até a casa onde
ficam os preletores”.

Eu fui. Chegando lá, ele começou a falar.

Josué, todos os dias eu caminho por uma hora.


Tenho setenta anos de idade e caminho todos os
dias por uma hora. Eu caminho onde os políti-
cos caminham. Os senadores, os ministros, toda
essa turma da política caminha no mesmo espa-
ço. E todos os dias eu caminho por uma hora. E
faço isso orando e recitando versículos.

Há quinze dias, enquanto eu caminhava, um


cidadão apareceu ao lado e disse: “Posso roubar
um pouquinho do tempo da sua meditação?”.
Eu disse: “Pode, vamos lá.” Nós dois começa-
mos, então, a caminhar juntos e logo ele disse:
“O Senhor é o meu pastor”. E eu completei:
“E nada me faltará”. “Deitar-me faz em verdes
passos.” E eu devolvi: “Guia-me mansamente às
águas tranquilas”. E fomos assim, de lá e de cá,
um começava e o outro terminava. Aí o sujeito
disse assim: “Você conhece muito da Bíblia”. Eu
respondi e disse: “Eu gosto de memorizar textos
da Palavra, sim”.
9 2 C O N C LU S ÃO

Lá na frente havia um deficiente físico em uma


cadeira de rodas. Eu parei, abracei aquele ho-
mem — como faço com todo mundo que co-
nheço — o beijei e disse: “Você é muito especial
para Deus”. E continuamos caminhando. O ci-
dadão olhou para mim e disse: “Deus gosta dis-
so”. E seguimos.

Por uma hora nós caminhamos juntos. Depois de


uma hora, quando chegamos próximos de onde
meu carro estava estacionado, eu disse: “Oh, foi
muito bom caminhar com você, meu amigo.
Meu carro está ali e eu preciso ir embora”. Pe-
guei na mão do sujeito, segurei firme, olhei nos
olhos dele e perguntei: “Qual é o seu nome?”.
Ele respondeu: “Eu sou o anjo que visitou Pedro
na prisão”. E desapareceu imediatamente.

Josué, eu fiquei quinze dias em estado de glória.


Por aqueles a quem eu orava, colocando a mão
sobre a pessoa, ela caia cheia do poder de Deus.
E por todos os doentes que eu orei, vi que foram
curados. Eu entrei em uma dimensão de vida es-
piritual que eu ainda não conhecia.

Caro leitor, cara leitora, a nossa vida é uma cons-


trução diária, permanente. Nós estamos cons-
truindo uma casa para habitação de Deus, mas
APRENDENDO COM OS ERROS DOS OUTROS 93

quem dá os recursos para a construção é o próprio


morador. Deus nos deu histórias de vitória, de
lutas, de sofrimentos, de alegrias, de divisão e de
multiplicação, de subtração e de grandes somas,
para que possamos aprender de tudo um pouco.
Aprendemos com um, com outro; com cada pes-
soa à nossa volta há uma lição a ser aprendida. E
essas lições, juntamente com as nossas próprias
experiências, são levadas a outros que também
construirão suas casas para habitação de Deus
aprendendo com as nossas experiências.

Depois que o pastor Vilarino contou essa histó-


ria, meu coração encheu-se da glória do Senhor.
Eu, que havia chegado à Brasília vazio, oco e ári-
do, ao tomar conhecimento daquela história de
vida, daquela experiência que era dele, fui cheio
de todo o favor e graça do Pai. Acredito since-
ramente que a nossa troca de experiências não
beneficia somente a um lado, mas a ambos, e de-
pois a todos quantos tomarem conhecimento de
nossas experiências.

Compartilhe seu testemunho, passe à frente suas


histórias, conte aos outros o que aprendeu aqui
neste livro. Seja construtor e não destruidor. Seja
edificador como Neemias, seja mentor como
Natã, seja um caminhante carismático como
9 4 C O N C LU S ÃO

Vilarino. Seja um líder, uma líder, que aprende


com os erros dos outros e constrói uma carreira e
uma história de sucesso porque aprende com as
pessoas certas.

Oração
Faça esta oração comigo:

Senhor, nós nos colocamos diante da tua pre-


sença. Reconhecemos o quanto somos carentes
da tua graça, o quando precisamos da tua mise-
ricórdia, o quanto precisamos da tua ajuda. Sem
ti nada podemos fazer. Sem a tua graça somos
facilmente destruídos. Eis aqui o nosso coração,
disponível para ser tratado por ti. Eis aqui a nos-
sa alma, escancarada diante da sua presença para
ser tocada, moldada e afinada, para ser liberta
pelo poder do teu Espírito e da tua Palavra. Toca
o que precisa ser tocado. Mexe onde precisa ser
mexido. Tira todo o excesso, deixa só o essencial.
Coloca sobre nós uma fagulha da tua glória que
nós não conhecemos ainda, Senhor. Queremos
ser marcados por ti. Queremos ser impactados
por ti. Queremos transbordar a tua graça, o teu
amor, a tua bondade, a tua misericórdia. Em
nome de Jesus. Amém.
Esta obra foi composta nas
fontes Adobe Garamond
Pro e Myriad Pro.

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