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TÉCNICAS DE ENTREVISTA. F. Marian Bishop e Robert E. Froelich In: Robert E. Rakel: Tratado
de Medicina de Família. Ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1997, 5 ª ed., Cap. 18, pp.263-
270.
TÉCNICAS DE ENTREVISTA
COMUNICAÇÃO ENTREVISTA
No mundo de hoje, existe aporte de informações nas vidas da maioria dos indivíduos que
tem efeitos diretos e indiretos sobre a interação médico-paciente e o processo de entrevista. O
público passou a esperar troca de informações instantânea e bites de 30 segundos que fornecem
poucos detalhes ou dados de base.
A comunicação de massa levou a uma despersonalização das relações humanas e a
uma glorificação de clichês e slogans. A resposta padronizada começa a substituir cada vez mais
a expressão personalizada, percebida profundamente... o ouvido humano adaptou-se ao modo e
desconsidera um número considerável de mensagens verbais que emergem dos alto-falantes do
rádio e dos aparelhos de televisão, da mesma forma que anteriormente se acomodou à tarefa de
absorver o que era dito. (Ruesch e Kees, 1970, pp. 3-7)
Estas observações sugerem que os entrevistados foram inconscientemente treinados
pela mídia a não ouvir e precisam se retreinar para ouvir o que está sendo dito pelos pacientes.
Os entrevistadores precisam certificar-se de que têm os detalhes que faltam e os dados exigidos
precisamente, o que exige múltiplas habilidades que não são utilizadas nem necessárias no
bloqueio diário criado pela comunicação de massa.
Durante todo o tempo, os entrevistadores ouvem uma palavra que um paciente diz e
concluem que compreendem o que o paciente queria dizer com aquela palavra. Um erro de
concepção comum de todos os entrevistadores é a crença de que o paciente está usando uma
palavra para dizer o que o entrevistador acredita que ela signifique. Para ilustrar este ponto,
vamos considerar o professor que escreve, reescreve e revê uma questão de prova sobre um
tópico que ele e seus alunos discutiram durante várias semanas. Eles utilizaram um conjunto de
palavras comuns ao campo de estudo. O que acontece quando o professor faz a pergunta em
uma prova? Sem dúvida, alguns estudantes interpretarão a pergunta erradamente e responderão
um aspecto da questão que o professor não tinha a intenção de perguntar.
Há maior oportunidade de confusão se a pergunta não foi escrita anteriormente, não foi
revista quanto a possíveis erros de interpretação, e é apresentada apenas na forma oral. Esta é a
situação precisa de uma entrevista. Indo além, vamos supor que a pergunta possa ser respondida
com um "sim" ou "não". Quantas informações erradas podem ser desenvolvidas por esta pergunta
e resposta?
A semântica é o estudo básico de toda comunicação verbal (Hayakawa, 1964). Um
conceito básico de semântica é que uma palavra está para o que representa como um mapa para
um território. Nenhum mapa é o território. Não há dois mapas iguais do mesmo território. Cada
mapa é uma abstração única daquele território, e o mesmo se aplica às palavras e o que
representam. Como uma ilustração, considere uma sensação que um paciente nota e refere como
dor. A sensação que o paciente tem é o território. A descrição, pelo paciente, da dor é seu mapa
do território. As palavras pintam o quadro verbal da sensação. Apenas através do esclarecimento
do uso das palavras pelo paciente o entrevistador pode obter uma idéia relativamente precisa do
território.
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A maioria dos diagnósticos pode ser feita quando se é capaz de obter uma descrição
precisa da sensação interna ou território do paciente. Considere a situação na qual dez neurônios
de fibras para dor profunda estão deflagrando para a raiz dorsal da medula espinhal. Uma pessoa
pode referir esta sensação como muito dolorosa, enquanto uma segunda pessoa pode referir
como uma dor pequena. O território é o mesmo, mas cada pessoa utiliza um mapa diferente para
representar o território.
Toda comunicação tem dois componentes. Um componente é a definição cognitiva, de
dicionário, das palavras que formam a comunicação - a descrição do território. O segundo
componente é o tom afetivo ou emocional da comunicação. É importante ouvir ambos os
componentes e ter a capacidade de responder a qualquer um deles. Por exemplo, quando as
pessoas estão zangadas, as definições de dicionário de suas palavras podem transmitir muito
pouco da mensagem pretendida. Reagir apenas às palavras pode significar perder a mensagem
completamente.
O acompanhamento não-verbal das palavras (o contexto, a qualidade e a ênfase da voz,
a expressão facial, a postura corporal, o cenário, as roupas, a idade e cultura do paciente) ajuda o
entrevistador a preencher o que não foi expresso. Entretanto, a única forma de certificar-se de que
esta compreensão foi precisa é o entrevistador determinar isso com o paciente. O uso de
afirmações de resumo e perguntas, "O que você disse é... Estou correto?" é uma técnica eficaz
para certificar-se de que o paciente está sendo ouvido corretamente. Este tipo de intervenção do
entrevistador assegura aos pacientes que o entrevistador está concentrado neles, o que eles
apreciarão.
O processo de comunicação é mais bem compreendido quando percebemos que "se as
palavras devem ser usadas com significado, devem ainda despertar imagens ilustradas na mente
de um leitor ou ouvinte" e "que apenas através do uso de palavras que despertam imagens exatas
e surpreendentes pode ser produzida uma resposta emocional no leitor" (Ruesch e Kees, 1970,
pp. 3-7). O inverso desta afirmação é que nenhuma comunicação ocorre quando o ouvinte não
tem nenhuma experiência ou imagem para relacionar com as palavras faladas. "Não
experimentamos nem compreendemos primeiro alguma realidade e depois encontramos palavras
para designar aquela compreensão. Nós compreendemos dentro e através das linguagens
disponíveis para nós" (Tracy, 1987, p. 48).
Se compreendemos que vemos fora de nossos olhos e ouvimos fora de nossos ouvidos
(isto é, não vemos ou ouvimos aquilo que não estamos treinados ou preparados para ver ou
ouvir), começamos a concentrar nossa atenção ao entrevistar em ver e ouvir, e não em perguntar.
Estar aberto para o que quer que seja dito e para ver o que quer que aconteça é uma tarefa muito
difícil. Quando começamos a ver e ouvir o que não é familiar, então começa a próxima tarefa -
aquela de atribuir significado a estas observações. Apenas através do tempo despendido com os
pacientes é que finalmente compreendemos sua comunicação e o significado a atribuir-lhe.
OBJETIVO DA ENTREVISTA
A entrevista tem vários objetivos. Aquele identificado com maior freqüência é o de reunir
dados do paciente que levarão a uma compreensão do processo patológico e do estado fisiológico
subjacente. Igualmente importante é o objetivo de estabelecer um relacionamento e um contrato
de tratamento entre o paciente e o médico e a equipe do médico. Este relacionamento e o
contrato de tratamento associado são um elemento comum essencial de todo tratamento bem-
sucedido.
Antes de estabelecer um contrato eficaz com um paciente, há outro objetivo da
entrevista. A avaliação das atitudes, crenças, compreensões e tendências do paciente em sua
relação com sua enfermidade, o papel dos medicamentos, e o papel do paciente é necessário
para o tratamento bem-sucedido. Na situação extrema, um paciente pode compreender seu papel
como um receptor passivo de assistência, enquanto o médico pode esperar que o paciente cuide
ativamente de si próprio. Se esta diferença de expectativas não for compreendida, a chance de
tratamento bem-sucedido é ameaçada.
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O objetivo final da entrevista é atender às necessidades do paciente e às necessidades
do médico. Na maioria das consultas, quando médico e paciente possuem a mesma base cultural,
suas expectativas são harmoniosas e sincronizadas ao ponto em que as necessidades individuais
nunca afloram ao consciente. Apenas quando as expectativas não são harmoniosas, quando há
atrito, desconforto e desobediência, as necessidades e expectativas do paciente e do médico são
percebidas e tomam-se uma questão para discussão, trabalho e resolução.
CAPACITANDO O PACIENTE
Há um considerável corpo de pesquisa que sugere que o maior envolvimento do paciente
no processo de entrevista resulta em sua maior satisfação (Brody e cols., 1989). Muitas vezes, os
pacientes ficam zangados porque se sentem impotentes para influir em seu próprio processo de
tratamento médico. Eles se sentem hesitantes ou envergonhados para fazer perguntas. Essa
incapacitação é uma barreira crítica no encontro médico-paciente. Também está claro, a partir de
pesquisas como a de Greenfield e colegas (1985), que o maior envolvimento dos pacientes em
seu próprio controle e tratamento médico leva a melhor saúde.
Embora os pacientes geralmente desejem ser envolvidos em decisões sobre seu
tratamento clínico e os médicos não desejem excluí-los, parece haver uma incompatibilidade entre
expectativa e percepção.
Os pacientes dizem que seus médicos não os ouvem, não explicam as coisas claramente
ou não desejam ser perturbados com perguntas. Enquanto isso, os médicos dizem que desejam
que seus pacientes tenham expectativas mais realistas e assumam um papel mais ativo em seu
próprio tratamento. A imagem do encontro médico assemelha-se à de dois navios se cruzando na
noite. (Feffer, 1992, pp. 8-10)
A conscientização da defasagem entre expectativa e percepção é importante. Pode ser
útil para o médico e para o paciente delinearem claramente as expectativas mútuas no início da
entrevista e reverem a percepção de sucesso antes de concluir o encontro. Os médicos devem
assumir a liderança neste processo. "Os médicos, com seu treinamento historicamente
concentrado em ser responsável e decidir, possuem necessidades maiores do que a média de
desaprender práticas habituais de incapacitação" (Feffer, 1992, pp. 8- 10).
O médico precisa ajudar os pacientes a superarem as barreiras à participação ativa e
tentar atender suas necessidades. Uma forma de incentivar maior envolvimento do paciente é
certificar-se de que ele se sente suficientemente seguro para fazer perguntas e participar
ativamente. Além disso, pedir aos pacientes suas opiniões e responder ao que eles dizem é
capacitante por si mesmo. Não há substituto para obter rotineiramente feedback dos pacientes
sobre questões médicas e interpessoais.
Há vários indicadores de que os pacientes sentem-se incapacitados e de que há
problemas na comunicação. Estes incluem ausência de resposta do paciente, afirmações cujo
conteúdo ou relação com o tópico discutido não é claro para o médico e discordância direta entre
o paciente e o médico.
Um paciente torna-se capacitado ao ter responsabilidade para compartilhar sua história
clínica. Realiza-se isso por meio de facilitações, reflexões e respostas empáticas, e não por
perguntas diretas. A atenção crítica não é um processo passivo. É realizada quando o médico
ouve e responde ao que o paciente diz. Se a narrativa da entrevista está relacionada com a
doença e não com o paciente e a consulta transforma-se em 20 perguntas com o objetivo de
descobrir urna doença, o paciente não é capacitado nem torna-se um participante ativo na relação
médico-paciente.
Uma abordagem do tipo "receita de bolo" na entrevista negligencia as características
peculiares do paciente, a situação e o problema atuais e a personalidade e o estilo interpessoal do
próprio médico. Assim, a entrevista é mais uma arte que uma ciência. Todavia, há algumas
técnicas e abordagens úteis a serem utilizadas. Os autores deste capítulo, juntamente com outros
como Sanson-Fisher e cols. (1991), afirmam que não é necessário entrevistar os pacientes por
tentativa e erro. Algumas dessas técnicas e abordagens são discutidas nas seções subseqüentes.
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ORGANIZANDO A ENTREVISTA MÉDICA
Uma boa entrevista deve resultar em uma história abrangente e precisa da situação do
paciente. Esta história algumas vezes é denominada história clínica. Uma frase comum é "colher
uma história clínica".
Mas as histórias clínicas, como as histórias escritas de países ou instituições, não são
colhidas, mas feitas ... feitas de relatos orais das enfermidades atuais e passadas pelo paciente,
família e amigos, bem como de afirmações orais e escritas de colegas, registros de
hospitalizações prévias, e assim por diante. A seleção, a interpretação e a solicitação de
informações permeiam o processo de escrever a história do caso. O ponto de tudo isso é que as
histórias clínicas são criadas, não constatadas. (Donnelly, 1988, p. 6)
Um ponto de vista amplo sugere que o intercâmbio entre o médico e o paciente é um
processo de resolução de problemas composto de sete ou oito etapas dependendo da definição
de cada etapa. A partir desta perspectiva, a entrevista médica pode ser organizada da seguinte
forma.
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Obtêm-se dados relevantes das histórias patológica pregressa, social, profissional e
familiar utilizando-se as mesmas técnicas e processo de abertura do tópico, auxiliando a narrativa,
fechando o tópico e fazendo uma ligação para um novo tópico (Quadro 18.1).
ARMADILHAS NA ENTREVISTA
A eficácia de um entrevistador em conduzir uma boa entrevista médica e criar e obter
uma história clínica depende parcialmente da capacidade de evitar algumas das subseqüentes
armadilhas comuns. Tais armadilhas podem, algumas vezes, tornar-se um dano inconsciente
tanto para o entrevistador experiente quanto para o principiante. Com a prática e o esforço
consciente, podem ser evitadas, com atenção e vigilância, podem ser utilizadas apropriadamente
e não rotineiramente.
Perguntas Diretas
A tentação de recorrer a perguntas diretas é provavelmente a principal armadilha para o
entrevistador inexperiente e o entrevistador que deixa as habilidades enfraquecerem. Uma
entrevista constituída de perguntas diretas reúne pouca informação por unidade de tempo, porque
a maior parte do tempo é perdida pelo entrevistador estruturando e fazendo perguntas, cada qual
desencadeando um conjunto específico de informações.
A abordagem de pergunta direta não permite aos pacientes fornecer as informações que
experimentaram, e os entrevistadores podem nunca obter as informações que os pacientes
desejavam dar - isto é, exceto se os entrevistadores fizerem a pergunta específica que mencione
a informação.
Por Quê?
Uma segunda armadilha é fazer perguntas do tipo "por quê": "Por que você tomou aquele
medicamento?" "Por que você deixou o trabalho?" "Por que você se divorciou?" O problema com
estas perguntas é que elas exigem que os pacientes expliquem seu comportamento e incentivam
atitudes defensivas. As perguntas "por quê" a um paciente implicam que este faz algo errado.
Como grande parte do comportamento do paciente pode provir do inconsciente ou relacionar-se
com razões não socialmente aceitáveis, os pacientes podem ser antagonizados pela implicação
na questão de que fizeram algo errado. Os pacientes podem considerar que esta questão
encontra falhas neles e, assim, podem tornar-se irritados ou perturbados. É difícil fazer uma
pergunta do tipo "por quê" e evitar os tons de acusação. Além disso, tais perguntas provêm de
uma posição operacional queixosa por parte do entrevistador. A posição queixosa pode ser
descrita como uma posição de desamparo, defesa ou frustração irada.
As perguntas anteriores poderiam ser reformuladas para: "Conte-me sobre o uso daquele
medicamento." “Você precisou deixar o trabalho?" "Você deseja me contar sobre o divórcio?"
Perguntas Sugestivas
Uma terceira armadilha é uma pergunta que contém a resposta. Esta é denominada
pergunta sugestiva. Um exemplo é: "Quando você discutiu seu problema, sua respiração estava
um pouco rápida. Você estava um pouco nervoso naquele momento?" Que escolha o paciente
tem em responder a este tipo de pergunta? Obviamente, podem ser obtidas informações erradas
pelo emprego de perguntas sugestivas. Isso ocorre principalmente quando o paciente sente-se
rebaixado ou inferiorizado em relação ao médico e sente necessidade de ser obediente.
PACIENTES PROBLEMÁTICOS
A eficácia de uma entrevista depende, em grande parte, do número e da variedade de
técnicas de entrevista que o médico pode utilizar para atender à variedade de situações que
surgem nesse encontro. Por exemplo, as mesmas técnicas não funcionarão com o paciente
loquaz e o reticente, o triste e o zangado, ou com o amedrontado e o estóico.
Parte da literatura sobre entrevista concentra-se em pacientes problemáticos. Embora
esta ênfase tenha levado a alguns conhecimentos significativos, a visão mais ampla do paciente
problemático como parte de um sistema de entrevista levou a outros discernimentos
concentrando-se no médico e no paciente. Um paciente problemático para um médico pode ser
um paciente ideal para o próximo médico. Esta seção concentrar-se-á no paciente e no médico,
utilizando uma abordagem personalizada das atitudes e sentimentos do médico na discussão.
Paciente Defensivo
Os pacientes geralmente são defensivos porque esperam um resultado negativo se
falarem livremente sobre o tópico em questão. Por exemplo, o paciente pode esperar raiva,
rejeição, culpa ou ridículo, e há medo ou ansiedade em relação ao resultado esperado. Podem ser
usadas várias técnicas para lidar com a defensividade e o obstáculo que representa à avaliação e
ao diagnóstico.
Uma técnica é perguntar, "O que poderia acontecer se você falasse sobre ... ?" A
resposta do paciente é acompanhada até que o médico compreenda o medo. Em casos raros, o
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médico pode concordar que o resultado esperado é um resultado provável (p. ex., informações
usadas em um processo judicial pendente) e que o paciente não deve discutir o assunto. Mais
provavelmente, uma vez discutido o resultado, toma-se evidente para o paciente que nada de mal
acontecerá se o assunto for discutido. À medida que o assunto é discutido, a defensividade
começa a desaparecer.
Uma segunda técnica é perguntar, "Qual é a pior coisa possível ou catástrofe que poderia
acontecer se falássemos sobre ... ?" Novamente, o médico pode concordar que a catástrofe
poderia ocorrer ou, como ocorre mais geralmente, o paciente perceberá a improbabilidade de a
catástrofe realmente acontecer.
Uma terceira técnica, principalmente se o paciente estiver provocando ou parecer estar
sugerindo que há informação importante e a seguir não fornecer a informação, é concordar em
não discutir o assunto e passar para outro. Se isso for uma "provocação", o assunto será
abordado posteriormente ou na próxima consulta se for de grande importância para o paciente.
Não respondendo, o médico reforça uma discussão direta, aberta, em vez de uma continuação de
insinuações provocantes.
Uma quarta técnica é comentar sobre a defensividade, como: "Você parece muito
relutante em discutir este assunto," seguido inicialmente por silêncio da parte do médico. Se o
paciente não responde, o médico pode prosseguir com "Há algo que tornará mais fácil para você
discutir esse tópico?" ou "Há alguma pergunta que você queira fazer antes de prosseguirmos?" ou
"Você pode identificar suas preocupações em falar sobre este assunto?" Finalmente, o médico
poderia perguntar: "Há algum problema em você me confiar as informações sobre este assunto?"
ou "Há algo que preocupa você quando a minha reação ou sentimentos em relação a você se
discutirmos este assunto?"
Se for feita qualquer destas últimas perguntas, o médico precisa estar preparado para
discutir as respostas do paciente de forma honesta, direta, objetiva e sem distância pessoal no
sentido de que o paciente está reagindo à pessoa no papel do médico. O paciente pode estar
reagindo à sua fantasia do médico-pessoa (transferência), depositando expectativas no médico. A
precisão destas expectativas deve ser verificada antes de se prosseguir. Na primeira vez em que
o relacionamento entre o médico e o paciente é o foco, pode ser útil gravar a consulta em fita e
revê-la com um colega ou supervisar que possa fazer algumas observações objetivas sobre a
relação médico-paciente. Ao lidar com a defensividade, na maioria das vezes este é um problema
de transferência, e não um problema real.
Paciente Temeroso
Uma pessoa pode gerar ansiedade em si mesma com um pensamento amedrontador e
respiração restrita. Fazendo o oposto - relaxando a respiração e evitando os pensamentos
geradores de medo - a ansiedade pode ser controlada.
Deve ser tomada uma decisão sobre se o medo do paciente está relacionado com uma
ameaça real, algumas vezes referido como medo da realidade, ou com uma ameaça imaginada,
referido como medo neurótico. O medo associado a uma ameaça real é considerado saudável. As
técnicas de relaxamento, concentrando-se em desviar a atenção da pessoa da ameaça, e apoio
assistencial são formas úteis de confortar estes pacientes. É importante deixar os pacientes
experimentarem seu medo real e ajudá-los.
O medo neurótico de uma ameaça imaginada deve ser tratado pela exploração da
ameaça e da probabilidade de que realmente ocorra, juntamente com as conseqüências se
ocorresse. Novamente, qual é o temor catastrófico e quão realista ele é ou qual a probabilidade de
que aconteça? A pergunta "E como será se acontecer?" pode ajudar. Este processo confronta a
irrealidade do temor e a ameaça imaginada.
A próxima etapa é incentivar o paciente a concordar em respirar lenta e profundamente e
a interromper os pensamentos amedrontadores. Em vez disso, o paciente deve concentrar-se em
alguns pensamentos agradáveis. Isso utiliza uma abordagem positiva, e não negativa.
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Paciente Irado
Várias questões são levantadas ao se lidar com um paciente irado:
1. Qual é a direção e a qualidade da raiva?
2. O médico pode aceitar ou permitir que o paciente fique zangado?
3. A raiva do paciente está afetando o problema médico?
4. Como o paciente está justificando a raiva?
5. A raiva é causada por frustração ou é um disfarce para a tristeza?
Na pessoa saudável, normal, a raiva é a conseqüência natural da frustração. Para
superar a frustração de uma forma socialmente aceitável, a raiva adquire a forma de agressão.
Quando se transforma em hostilidade, a raiva toma-se destrutiva em vez de construtiva, sendo
considerada uma má adaptação.
Os médicos variam muito em sua capacidade de reconhecer a raiva e tolerá-la em um
paciente. Um médico pode gostar da energia do paciente irado enquanto outro pode temer, isolar-
se ou negar a raiva de um paciente. A questão é como o médico pode sentir-se à vontade com um
paciente irado? Deseja aprender como sentir-se à vontade com um paciente irado? Alguns
médicos respondem a esta pergunta com "Sim, tenho certeza de que o paciente está sob controle
e não me machucará." Esta é uma decisão diagnóstica que deve ser discutida.
O fato de uma pessoa estar ou não zangada em um determinado momento está sob seu
próprio controle. Não se pode provocar ira em uma pessoa que escolhe não se zangar. As
provocações à raiva podem ser ignoradas ou consideradas apenas como idiossincrasias.
Também, a atenção pode ser concentrada no que poderia motivar outros a emitir estes sinais de
comportamento ou provocações. Qualquer destas técnicas efetivamente ajudará uma pessoa a
evitar ficar zangada em resposta ao comportamento hostil de outra pessoa.
A compreensão da raiva como um sentimento sob o controle do indivíduo sugere uma
forma de controlá-la. Um outro fator a considerar é como a pessoa utiliza a raiva no processo
interpessoal. A raiva freqüentemente é usada como chantagem (isto é, "Se você fizer..., eu ficarei
zangado e quando eu fico zangado é melhor você ter cuidado"). A raiva também é freqüentemente
usada como uma tentativa de controlar o comportamento de outros. Assim, o tratamento da raiva
é reconhecê-la e depois ignorá-la com uma afirmação como "Você certamente está zangado. Se
você deseja ficar zangado está tudo bem para mim." E, se for o caso, acrescentar "Eu realmente
acho que é uma atitude estúpida ficar zangado nesta situação."
Estas afirmações reconhecem a raiva, aceitam o fato de o paciente estar zangado, e
permitem ao médico evitar participar do jogo com resposta subseqüente. O médico poderia
continuar estas afirmações com "Se você quiser descobrir como ficou tão zangado, eu estou
disposto a descobrir com você," ou "Ficarei feliz em encaminhar você a alguém que o ajudará a
encontrar uma forma de sentir-se mais à vontade e não zangado."
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Modificando Reações a Pacientes Problemáticos
A chave para modificar o comportamento é respondida pela pergunta "Como?" Quando o
processo, mecanismo ou procedimento para o comportamento - neste caso, estilo de entrevista -
é compreendido, é possível modificar alguma parte ou todo o processo, mecanismo ou
procedimento a fim de iniciar um novo comportamento.
Respondidas estas perguntas, o médico pode se perguntar: "Há outra forma de interpretar o
comportamento do paciente?" ou "Eu ainda ficaria zangado se interpretasse o comportamento de
outra forma e desse a ele um significado diferente?"
A etapa conclusiva para instituir uma modificação é decidir interpretar o comportamento
de outra forma e decidir sentir outra coisa além de raiva na próxima vez que o médico se deparar
com o comportamento do paciente. Este processo envolve perguntar:
1. Como surgem os comportamentos ou sentimentos do médico?
2. Que significado é atribuído ao comportamento do paciente?
3. Como a percepção do comportamento pode ser interpretada de forma diferente?
O processo também envolve decidir sobre uma forma alternativa de interpretar o
comportamento para iniciar a modificação. No aprendizado da entrevista médica, este processo
de modificação é fundamental para melhorar as habilidades de entrevista médica.
O Questionário
O questionário preenchido por um paciente (seja no papel ou a partir das recordações do
entrevistador) é muito diferente de uma entrevista. Eles diferem de duas formas principais. Em
primeiro lugar, o questionário não possui as qualidades humanas de uma interação entre seres
humanos - o "dar e receber" constantemente renegociado. Não possui todos os aspectos não-
verbais da comunicação significativa. Segundo, o questionário não possui a capacidade de extrair
significado das respostas do paciente. Sem significado, o médico tem uso limitado ou nenhum uso
das informações. Para ilustrar, o dado de que um paciente se casou aos 15 anos de idade tem
pequena utilidade isoladamente. Entretanto, conhecer as circunstâncias sobre a decisão de se
casar aos 15 anos pode ter significado profundo na compreensão das reações do paciente a uma
enfermidade atual. O dado bruto, "casado aos 15 anos," torna-se significativo e útil no contexto
atual por elaboração na entrevista.
Embora um questionário escrito fornecido a um paciente possa resultar em informações,
não há estabelecimento de relacionamento humano entre um paciente e um questionário. Como o
relacionamento é importante para o tratamento do paciente e a cooperação do paciente, a
entrevista humana é um elemento essencial da visita do paciente.
A Anamnese Computadorizada
Não sendo capazes de extrair o significado das palavras, as anamneses
computadorizadas possuem o problema semântico de não serem capazes de explicar melhor ao
paciente o significado de cada pergunta feita, e o problema inverso de não serem capazes de
perguntar ao paciente exatamente o que eles querem dizer. Um estudo de anamneses
computadorizadas constatou que apenas "68% [dos pacientes] poderiam expressar todas ou a
maioria de suas queixas, mas algumas de suas queixas físicas poderiam não ser informadas (de
forma alguma)", e apenas "52% das mulheres" e "74% dos homens consideraram suficiente a
amplitude das respostas para escolher" (Quaak e cols., 1986, pp. 551-564). Como os autores
deste capítulo constataram desde 1968, o computador é incapaz de compreender uma
comunicação do paciente porque a comunicação inclui mensagens verbais e não-verbais. O
significado das palavras é transformado pelos aspectos não-verbais lingüísticas da mensagem, e
o computador é incapaz de captar este significado. Lembre-se do problema das perguntas diretas
discutido anteriormente neste capítulo. As perguntas geradas por computador, necessariamente,
devem ser perguntas diretas porque o computador é incapaz de interpretar o diálogo como uma
resposta.
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A principal atividade do entrevistador é extrair o significado das palavras escolhidas pelo
paciente. Apenas após o significado ser confirmado pelo entrevistador podem ser compreendidos
os processos fisiológicos. "É fundamental não colocar a interação homem-máquina e o diálogo
humano na mesma posição. Um computador é incapaz de compreender qualquer coisa, mas pode
ajudar profissionais de saúde a reunir dados da história clínica" (Houziaux, 1986, pp. 129-143).
estava claro que este trabalho interessava igualmente a toda disciplina de assistência
primária - clínica, pediatria e medicina de família. Para que os pediatras e médicos de família se
sentissem parceiros em nossos esforços, eles necessitavam estar no mesmo nível. Esta foi a
principal razão para separar-se da Sociedade de Medicina Interna Geral (Lipkin, 1993, pp. 1-2).
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