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A PERSPECTIVA TRANSGERACIONAL

.. NA
. *
DROGADICAO
THE TRANSGENERATIONAL PERSPECTIVE IN THE
Revista DRUG ADDICTION
de
Psicologia Liana Fortunato Costa 1 Lilian Gurgel Pereira 2

RESU MO
Este trabalho considera a importância das relações familiares na determinação da saúde mental dos
membros da família. Fundamentada na abordagem sistêmica, busca a compreensão da drogadição
enquanto sintoma transgeracional de disfuncões nas interações familiares. É necessário compreender a
função do sintoma no contexto das dificuldades da família em redefinir sua relação com os seus
membros, visando a obtenção de melhores resultados no tratamento realizado com famílias drogaditas.
Para tanto, o genograma é um recurso que pode ser utilizado como técnica de avaliação
e intervenção psicológica.

Palavras chave: família, drogadição, genograma, transgeracionalidade.

ABSTRACT
This research considers the importance of the family relation in the determination of the mental health
in the members of a family. Based on the systemical approach, it searches the understanding of the
drug addiction as a transgenerational symptom of dysfunction in the family interactions. It is necessary to
understand the role of the symptom in the context of difficulties of the family in redefining its relation
with its members, aiming to obtain the best results in the treatment of drug addicted families. In order
to doso, the genogram is a resource which can be used as a technique of evaluation and of
psychological intervention.

Key words: family, drug addiction, genogram, transgenerationality

• Esse texto baseia-se no Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, defendido
em junho de 2003, realizado pela segunda autora e orientado pela primeira.
1 Psicóloga, Terapeuta Familiar, Psicodramatista. Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo. Professora Adjunto da
Universidade Católica de Brasília. Pesquisadora Associada da Universidade de Brasília. E-mail: lianaf@zaz.com.br
2 Psicóloga graduada pela Universidade Católica de Brasília. E-mail: liligurgel@pop.com.br

Revista de Psicologia, Fortaleza, v. 21 n.ll2, p. N, janJdez. 2003


Revista de Psicologia Liana Fortuna to Costa e Lilian Gurgel Pereira

1 -INTRODUÇÃO dos atuais vínculos circulares. Vale dizer que as


dificuldades que a família enfrenta são consideradas
Esse texto se refere a uma pesquisa qualitati-
esforços de reparação no sentido de corrigir, controlar,
va e tem como objetivo geral conhecer a questão da
defender-se e apagar antigos e perturbadores
transgeracionalidade em famílias com abuso de dro-
paradigmas relacionais ligados à família de origem. Por
gas. Seus objetivos específicos visam analisar, no
isso, terapeutas rotineiramente utilizam um genograma
contexto do abuso de drogas, questões como a difi-
da família para detectar padrões multigeracionais e
culdade de separação da família de origem, a repe-
ajudar a família a compreender seus problemas em
tição de padrões transgeracionais e os papéis
perspectiva longitudinal que reduza a responsabilidade
atribuídos aos membros da família. Para isso, tem
e a culpa que ela sente. Quando a família e terapeuta
como questão de estudo analisar o genograma (Fi-
examinam juntos esta história da evolução da família,
gura 1: Genograma) de uma família com um mem-
sua condição atual muitas vezes parece fazer sentido
bro adicto e verificar se nela estão presentes alguns
devido ao padrão de síndromes, traumas e crises
desses elementos citados.
ocorridos no correr das décadas.
Sabe-se que a família é um sistema em constru-
ção e para compreender a sua problemática como um
2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA todo, é necessário analisar pelo menos três gerações.
A família é uma organização que possui regras, É importante fazer uma leitura de como essa família
estabelece fronteiras entre seus membros e o exterior, recebeu sua herança cultural, e como foi estabelecido
a tem agrupamentos internos e há fronteiras entre estes o mito familiar. O genograma mostra-se, então, como
agrupamentos. De uma perspectiva semântica, são um instrumento fundamental para a compreensão de
as. descritos para as famílias códigos, valores, hierarqui- como uma família está estruturada, já que ele pode
as, histórias e mitos, assim como diferenças de poder ser usado para mapear cada fase do ciclo de vida fa-
entre seus membros. Assim, miliar, mostrando também como foram elaboradas as
transições de um estágio para o outro. Assim,
a família é uma unidade grupal onde se de-
os genogramas são retratos gráficos da histó-
senvolvem três tipos de relações pessoais,
ria e do padrão familiar, mostrando a estru-
aliança, filiação e consangüinidade, e que a
tura básica, a demografia, o funcionamento e
partir dos objetivos genéricos de preservar a
os relacionamentos da família (CARTER &
espécie, nutrir e proteger a descendência e
MCGOLDRICK, 1995, p.144).
fornecer-lhe condições para a aquisição de
th suas identidades pessoais desenvolveu atra- O genograma resulta em um eficiente resu-
vés dos tempos funções diversificadas de mo clínico permitindo ao terapeuta que desconhe-
1ary to transmissão de valores éticos, estéticos, reli- ce o caso, adquirir de forma rápida, uma grande
)fi giosos e culturais (ZIMERMAN, & OSÓRIO, quantidade de informações sobre uma família e ter
er 1997, p. 50).
uma visão dos problemas potenciais. Enquanto que
notas escritas em um prontuário ou questionários
O processo de transmissão multigeracional é podem se perder na história clínica, a informação
um conceito que descreve a transmissão do proces- do genograma se reconhece de imediato, podendo
so emocional da família através de gerações múlti- agregar fatos ou ser corrigida em cada visita clíni-
plas. Murray Bowen foi um dos pioneiros na idéia ca a medida que se obtém mais detalhes sobre a
de que os problemas de uma família não se devem família.
simplesmente às interações atuais ou a impactos ao Os genogramas podem ajudar os membros de
longo do ciclo de vida da família, mas se desenvol- uma família a olharem a si mesmos de maneira dife-
vem durante muitas gerações. Segundo esse autor, rente; além disso, é uma maneira do terapeuta vincu-
para resolver um problema "aqui e agora", é preciso lar-se à família. Isto permite ao entrevistador formular,
ir "lá e antes" ( BOWEN, 1978 apud ANDOLFI, 2002, desintoxicar e normalizar questões carregadas de
p. 111). O conceito de transmissão multigeracional emoções, criando uma perspectiva sistemática que
conduz a doença emocional não somente além do in- ajuda a rastrear problemas familiares através do tem-
defendido divíduo para a família, mas também além da família po e do espaço. A entrevista do genograma também
nuclear para várias gerações. proporciona um veículo para o interrogatório siste-
Adjunto da
Hoje em dia, está claro que a evolução de um mático ajudando o terapeuta e a família a verem um
sistema familiar durante gerações pode explicar muitos quadro mais amplo da situação.

Revista de Psicolo~a, Fortaleza, v. 21 n.ll2, p. 80-88, janJdez. 2003 IDI


_R_e_v_i_st_a_d_e_P_s_i_c_o_l_o_..g'-ia__________________ Liana Fortuna to Costa e Lilian Gurgel Pereira

Ao estudar a extensão do atual contexto fami- um número desproporcionado de pais bebem dema-
liar, o terapeuta pode avaliar a relação dos atores ime- siadamente. Os adictos são freqüentemente conside-
diatos entre si no drama familiar, assim como sua rados pela família como pessoas dependentes e
relação com o sistema maior, e avaliar também, a for- inadaptadas, necessitando de uma proteção intensa
ça e vulnerabilidade da família em relação à situação pelo fato de não poderem assumir responsabilidades.
global. Como conseqüência disso, incluímos no Assim, quando um adicto começa a se desenvolver e
genograma todo o elenco de atores (membros nuclea- conquistar objetivos, como arranjar um emprego, ou
res da família, assim como membros que não perten- iniciar um tratamento psicoterápico, a família de al-
cem a mesma, mas que viveram com ela ou tiveram guma forma tenta boicotar esse crescimento do adic-
um papel importante na vida familiar) e um resumo to, desenvolvendo quase simultaneamente uma crise
da situação familiar atual. (os pais entram em processo de separação, ou um
Para a utilização do genograma é importante outro filho começa a desenvolver sintomas) . Diante
compreendermos a perspectiva de sistemas familia- dessa situação, o adicto retoma a sua situação de fra-
res. O conceito de sistema se utiliza para fazer refe- casso concentrando novamente as atenções para si.
rência a um grupo de pessoas que interagem como Dessa forma, percebe-se que, assim como o
um todo funcional. Nem as pessoas nem seus proble- adicto, sua família também temia muito pela separa-
mas existem em um vazio. Ambos estão intimamente ção da mesma.
ligados a sistemas recíprocos mais amplos dentre os
Esta conduta nos indicou que se tratava de
quais o principal é a família.
um processo interdependente onde o fracas-
Dentro desse marco, a família está composta por
so servia como função protetora para man-
toda a rede de familiares de pelo menos três gerações.
ter a aproximação familiar (STANTON &
Segundo Mcgldrick & Gerson (1987), os funcionamen-
TODD, 1988, p . 29).
tos físicos, sociais e emocionais dos membros de uma
família são profundamente dependentes, com mudan- Assim, como a família necessita desse vínculo, a
ças em uma parte do sistema que repercutem em ou- ameaça de separação pode gerar medo. Em conseqü-
tras partes do mesmo. Além disso, as interações e as ência disso, ocorre uma pressão enorme para que o adic-
relações familiares tendem a ser altamente recíprocas, to não vá embora, fazendo com que a família suporte
pautadas e reiterativas. São essas pautas redundantes mentiras, roubos, além da vergonha que todos esses atos
que nos permitem realizar predições a partir dos geram. Os membros da família também não conseguem
genogramas. As pessoas estão organizadas dentro de aceitar a sua participação nesse processo, e preferem
sistemas familiares segundo gerações, idade e sexo, responsabilizar sistemas externos, tais como, a vizinhan-
para nomear alguns dos fatores mais comuns. O lugar ça ou o grupo de amigos pelo problema do adicto. Nota-
que ocupa dentro da estrutura familiar pode influen- se a dificuldade que essas famílias possuem em adotar
ciar no seu funcionamento, suas pautas de relações e o uma posição firme. Muitas vezes quando decidem por
tipo de família que forma a geração seguinte. As famí- expulsar o adicto de casa, ressentem-se e o incentivam
lias se repetem a si mesmas. O que sucede em uma a retornar. Assim tornar-se quase impossível para o
geração, freqüentemente se repetirá na seguinte, as adicto separar-se de sua família.
mesmas questões tendem a aparecer de geração em As famílias de adictos se assemelham em al-
geração, apesar de que a conduta atual pode tomar guns sentidos a outras famílias com disfunções seve-
uma variedade de formas. No genograma, buscamos ras. Muitos tipos de famílias problemáticas se
pautas de funcionamento, relações e estruturas que concentram nos problemas de seus filhos para evitar
continuam ou se alternam de uma geração a outra. conflitos conjugais, ou outros problemas familiares.
O abuso de drogas costuma originar-se na ado- Porém, de acordo com Stanton & Todd (1988), exis-
lescência, devido às grandes transformações que esta tem alguns aspectos em que as famílias de adictos
etapa do ciclo de vida sugere, tais como, a experimen- parecem diferir, são eles:
tação de novas condutas, a auto-afirmação, o desen- • Existem provas de um índice maior de de-
volvimento de relações íntimas e o abandono do lar. pendência química transgeracional, em especial o ál-
Segundo Stanton & Todd (1988) em muitas fa- cool, entre as famílias de adictos, além de uma maior
mílias com filhos adictos é possível perceber uma mãe propensão ao desencadeamento de outros vícios, tais
super protetora, apegada e permissiva com o usuá- como, o jogo. Essas práticas constituem um modelo
rio. Por outro lado, os pais são descritos como distan- para os filhos e podem também se converter em tra-
tes, desapegados ou ausentes. Além disso, nota-se que dições familiares.

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Pereira Revista de Psicologia Lia na Fortunato Costa e Lilian Gurgel Pereira

dema- • Nas famílias de adictos é muito comum verificar encontra para o seu dilema de permanecer na família
Jnside- alianças, muitas vezes explícitas, entre seus membros ou separar-se dela. Quando o adicto submete-se a um
mtes e (como o adicto e sua mãe), as quais são freqüentemente tratamento psicoterápico e começa a mostrar resulta-
intensa confirmadas verbalmente pelos mesmos. dos, dois movimentos da família podem acontecer: se
idades. • As mães dos adictos possuem uma intensa ne- a família ainda o necessita como adicto, pode submetê-
olver e cessidade simbiótica. Isto implica que essas mães es- lo a uma pressão quase insuportável; se não pode re-
~go, ou tão fixadas em uma fase inicial do desenvolvimento, o sistir, entra novamente num ciclo adaptativo.
i de al- que as levam a se apegarem a seus filhos e os tratarem "A drogadição pode ser considerada como par-
,o adic- como se fossem menores do que realmente são. te de um processo cíclico envolvendo três ou mais in-
1a crise • Estas famílias revelam um predomínio de te- divíduos, comumente o adicto e os pais ou pais
ou um mas relacionados com a morte e com mortes prema- substitutos" (STANTON & TODD, 1988, p.36) . Em de-
Diante turas dentro da família. terminado momento o equilíbrio do casal é ameaça-
Ide f~a- do, como quando o relacionamento conjugal está em
Além da questão do medo da separação e da
ara SI. vias de uma separação. Logo, o adicto cria uma situa-
interdependência manifestadas pelas famílias de adic-
como o ção para que a família concentre as atenções sobre ele.
tos, pode-se perceber que por trás do prazer imediato
~epara- que a droga proporciona ao adicto, existem caracte-
Esta pode se dar de diversas formas, como por exem-
plo, quando o adicto comete um delito ou sofre uma
rísticas adaptativas e funcionais. Verifica-se que adro-
overdose. Com essa atitude, o adicto tira o foco da se-
ga surge para o adicto e sua família como uma solução
rtava de paração e faz com que os pais deixem de encarar seus
paradoxal ao dilema de permanecer ou dissolver a
o fracas- conflitos conjugais, passando para um excessivo ape-
mesma.
ra man- go parental. Frente à situação sintomática do filho,
ITON & A droga representa nestas famílias uma série unem-se para atendê-lo. Depois que a crise conjugal
de sintomas que devem ser investigados para que pos- está "esquecida", o adicto comporta-se de modo mais
samos compreender o seu modo de funcionamento. competente, mostrando que tem condições de funcio-
nculo, a Algumas dessas funções podem ser: nar independente da família Qá que os pais parecem
onseqü-
• Vários autores têm colocado a experiência eu- não necessitar mais dele). Assim, os pais voltam a en-
eoadic-
fórica do adicto como análoga a um apego ou fusão frentar seus conflitos e o sistema novamente é amea-
suporte çado, ressurgindo a iminência da separação, e com ela,
simbiótica com a mãe, como se fosse uma espécie de
;ses atos
saciedade regressiva infantil. Enquanto o adicto se o comportamento autodestrutivo do adicto em busca
seguem encontra neste estado se pode estar presente e próxi- da droga. E assim, o ciclo disfuncional da família con-
'referem mo da mãe ou da família, além de algumas vezes po- tinua. É neste sentido que o adicto cumpre uma fun-
izinhan- ção importante contribuindo para a conservação do
der aparecer diante dela como quando era criança
o.Nota- dependente. equilíbrio homeostático do sistema familiar.
1adotar
• Um outro aspecto se refere a questão de que Sabemos que o ciclo aditivo freqüentemente
iem por
o adicto forma relações com os membros da subcultura tem início na adolescência, intensificando-se quando
entivam
da droga. Ou seja, ele pode começar a ganhar dinhei- o adicto manifesta uma intenção de abandonar o lar
l para o
ro traficando para outras pessoas e dessa forma, sus- (por exemplo, quando vão casar). Esta é uma etapa
tentar seu vício. Assim, perante seus amigos pode ser extremamente difícil e conturbada para essas famíli-
1 em al- visto como uma pessoa adulta e independente. Po- as, já que exige que os pais reelaborem sua relação, a
'es seve- rém, sabemos que quanto maior for o seu uso, mais qual não incluirá mais este filho. Porém, como os pais
ticas se dependente e incompetente o adicto será. do adicto são incapazes de relacionar-se satisfatoria-
·a evitar mente entre si, a família reage com pavor a essa ame-
niliares. Em outras palavras, pode ser exitoso e com-
aça de separação. Assim, a maioria dessas famílias se
S), exis- petente somente dentro de uma subcultura de
estabiliza ou se separa nesta etapa evolutiva, de tal
adictos fracassados e incompetentes. É um reino li-
modo que o adicto permanece intimamente ligado a
mitado, restringido a pessoas que necessitam
eles de uma maneira crônica.
r de de- de ajuda e não podem funcionar adequada-
De acordo com Stanton & Todd (1988), este te-
cial o ál- mente dentro da sociedade (STANTON &
mor de separação do adicto tem outra característica
la maior TODD, 1988, p. 33).
paradoxal: ao mesmo tempo em que sofre obstáculos
cios, tais • Vimos que a droga pode funcionar como uma para se relacionar com os outros, o adicto realiza uma
modelo forma de manter a família "unida". Desse modo, trans- atividade potencialmente mortal, como no caso de
·em tra- cende seu efeito farmacológico, ou seja, a droga fun- uma overdose. Não obstante, esta separação definiti-
ciona mais como uma solução paradoxal que o adicto va que é a morte, não produz na família o mesmo

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pavor que outros tipos de separações. Tem-se perce- adotada. A família foi encaminhada pela Justiça para
bido que quando o filho adicto morre, os conflitos con- atendimentos psicológicos devido à dificuldade de re-
jugais se conduzem novamente a formação de uma lacionamentos, envolvimento com transgressões e de-
nova tríade (por exemplo, outro filho com tendência pendência química. Kelmo e Karla não estudam, nem
a adicção, ao suicídio ou outras condutas problemáti- trabalham. Júnior e Dóris estudam. Os irmãos são mui-
cas), ou a dissolução da relação conjugal. Além disso, to agressivos uns com os outros e brigam constante-
existe uma alta incidência nas famílias de adictos de mente. A família estava em contexto de avaliação
privação parenta!. Muitos deles experimentaram a familiar, para possível encaminhamento à terapia fa-
separação ou morte de um progenitor, mais miliar. Para cumprir nosso objetivo utilizamos ape-
comumente o pai, antes dos 16 anos. Nestes casos nas a construção do genograma. Este foi realizado
poderíamos pensar que o modelo triádico seria em uma sessão com a presença da Dona Francisca,
inaplicável, e que a díade (mãe e filho) seria mais ade- Seu José e Dóris. A construção gráfica do genograma
quada. Porém, percebe-se que nestas situações, um se deu em uma folha de papel pardo e a sessão foi
terceiro membro importante costuma surgir como gravada em fita cassete. (FIGURA 1 - em anexo)
participante ativo na interação. Todavia, para o adic-
to conseguir a separação e a independência é ainda
mais complicado em famílias com apenas um proge-
nitor, pois este ficará sozinho com seus escassos re- 4- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
cursos psicológicos se o adicto optar por ir embora.
A análise dos dados foi feita a partir da trans-
crição da sessão do genograma e também de sua aná-
lise gráfica. Ao fazermos a análise da interpretação
3- METODOLOGIA do genograma, alguns pontos se destacaram e fica-
O presente trabalho constituiu-se numa pesqui- ram muito evidentes como modos de funcionamento
sa qualitativa. Sabe-se que a informação qualitativa desta família. Foi possível perceber e confirmar o que
não busca ser neutra ou objetiva, mas permeável à ar- alguns teóricos da abordagem sistêmica já haviam des-
gumentação consensual crítica. Dessa forma, esta critos como características gerais de famílias com tran-
metodologia foi escolhida tomando por base o objeto sação delitogênica, como por exemplo, estudos
de estudo, pois este, será melhor caracterizado e ex- anteriores de Sudbrack (1992).
plicado através da mesma. Segundo Demo (2001), o
ideal seria que os métodos quantitativos e qualitati-
vos fossem tomados como complementares e como 4.1 - Função Paterna
regra. A informação qualitativa refere-se àquela osten-
sivamente interpretada e que lida com sujeito-objeto, Sudbrack (1992), em um de seus estudos, iden-
não com mero objeto de análise. Não podemos nos co- tifica três categorias de famílias, a partir dessa pro-
municar sem sermos parte do processo comunicativo, blemática, ligada à função paterna. A primeira
como sujeito e como sujeito-objeto. Dessa forma, a in- categoria é denominada "o pai desconhecido", a qual
formação qualitativa é comunicativamente trabalha- refere-se a casos de filhos naturais aos quais não foi
da e retrabalhada, até que as condições tanto do revelada a verdade sobre a sua filiação, desconhecen-
entrevistador quanto do entrevistado sejam satisfei- do ou até mesmo ignorando o pai genitor. A segunda
tas. Para compreendermos melhor o outro devemos categoria é denominada "o pai perdido", referindo-
procurar entendê-lo da melhor maneira possível, ten- se a casos de filhos aos quais foi proibido totalmente
tando sempre nos colocarmos no lugar dele. Vale en- o contato com o pai genitor, após um período de con-
tão estudar sua cultura, sua história, sua maneira de vivência com este na primeira infância, por ocasião
ver e de expressar, seu espaço e seu tempo. A pesquisa da separação do casal parenta!. A terceira e última
foi realizada numa clínica escola onde os atendimen- categoria, denomina-se "o pai excluído", a qual refe-
tos são dirigidos por estagiários e supervisionados por re-se a casos onde a família apresenta-se "normalmen-
professores da Instituição. te constituída", com a presença atual do pai genitor, o
Buscou-se conhecer uma família, composta por qual, no entanto, não assume a contento a paternida-
seis membros, de baixa renda, morando na periferia. de ou não é reconhecido no papel de Pai na família.
Seu José (nomes fictícios), 49 anos, servidor público e Encontramos duas categorias neste estudo de
Dona Francisca, 42 anos, dona de casa, estão casados caso: a primeira refere-se à família de origem do Sr.
há 25 anos, e possuem quatro filhos: Kelmo, 22 anos; José e é a categoria "o pai perdido". Ao analisar esta
Karla, 21 anos; Júnior, 15 anos e Dóris, 11 anos, filha família, logo no início da sessão do genograma, Seu

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ereira Revista de Psicologia Liana Fortuna to Costa e Lilian Gurgel Pereira

José deixa claro esta ausência paterna. Quando ainda trouxe conseqüências para a educação de seus filhos,
era muito pequeno, seu pai que não tinha condições pois, se ele não teve a vivência de ter tido uma relação
de criá-lo, o levou para casa de seus avós, onde pas- com o pai, como ele será no papel de pai numa relação
,nem sou a ser criado por sua avó e duas tias. Logo em se- com seu próprio filho? Surge então, uma dificuldade
guida, ele se defende trazendo toda uma questão de nessa relação com os filhos e como conseqüência,
recompensa afetiva que teve por ter sido criado por podemos acrescentar aqui, a questão da hierarquia,
liação várias mulheres, porém, a falta do pai é a sua primei- trazida mais uma vez pelo Seu José na sessão do
ia fa- ra fala a ser nominada. Percebe-se, então, que ele ain- genograma.
da tem muito presente essa vivência faltosa do pai. A
segunda categoria encontrada foi a categoria "o pai
excluído" que se refere à posição que o Sr. José assu-
4.3 - Hierarquia - Repetição - Fronteiras
miu enquanto pai dentro da sua família. Podemos per-
ceber durante a sessão do genograma que apesar dessa Um possível elo de fragilidade nas famílias é a
família estar bem constituída, o Sr. José não conseguiu organização hierárquica. Em famílias com adolescen-
assumir o seu papel de pai dentro da mesma. tes, as questões de controle podem ser relacionadas à
inabilidade dos pais para passar do estágio de pais
solícitos de crianças pequenas ao de pais respeitosos
de jovens adolescentes. Nesta situação, antigos mo-
4.2 - Papéis Familiares
trans- delos que serviram bem para a família, quando as cri-
aaná- Podemos acrescentar a tudo isso, um outro as- anças eram pequenas, interferem no desenvolvimento
·~tação pecto importante a ser considerado: os papéis famili- de uma nova configuração familiar. As crianças pos-
e fica- ares. A saúde emocional na família pode ser sivelmente se adaptariam bem a mudanças no seu de-
menta determinada pelo desempenho no cumprimento das senvolvimento, ao passo que os pais ainda não
roque funções familiares essenciais, relacionadas aos papéis elaboraram novas alternativas para o estágio de vida
des- de marido, mulher, pai, mãe, filho, filha, irmão, irmã. em que eles mesmos se encontram.
!fl tran- O papel, no grupo familiar, pode ser definido como
Em famílias com crianças delinqüentes, o
tudos as funções de cada membro a partir das posições que
controle dos pais depende da sua presença .
ocupa nos subsistemas conjugal, fraterno, parenta! e
Autoridade existe somente enquanto os pais
filial. Segundo Carneiro (1992), a família estará faci-
lá estão para implementá-la. A criança apren-
litando o crescimento de seus membros quando cada
de que em um contexto há determinadas re-
membro puder assumir papéis definidos e adequa-
gras, porém, estas regras não operam em
dos, todavia sem estereotipia e rigidez. A imagem outros. Nesta organização os pais tendem a
;, iden- principal do papel pa temo na perspectiva tradicional emitir um alto número de respostas
sa pro- é a função de provedor, de oferecer suporte emocio- controladoras, que muitas vezes são inefica-
imeira nal e apoio à sua esposa, com pouco envolvimento zes. O progenitor faz urna demanda de con-
, a qual direto com os filhos e filhas. Nessa perspectiva, os trole, a criança não obedece, o progenitor faz
não foi homens são simbolicamente importantes para as cri- outra demanda, e assim por diante. Há um
thecen- anças, como modelo de poder e de autoridade. Além mútuo acordo de que depois de um certo
!gunda disso, sabemos da importância do papel do pai no de- número de demandas do progenitor, a cri-
~rindo­ senvolvimento da criança e as conseqüências e preju- ança responderá. (MINUCHIN & FISHMAN,
lmente ízos de sua ausência, atingindo a aquisição da 1990, p.66).
:ie con- identidade de gênero, a performance acadêmica e o
A Escola Estrutural de Minuchin (1982), se
xasião desenvolvimento moral. Dessa forma, culturalmente,
preocupou muito com a questão das fronteiras
última o pai é aquela pessoa que vem trazer a lei, os limites
geracionais e a importância do funcionamento
ai refe- para romper a relação dual mãe-filho. No caso da de-
adequado do subsistema dos pais. A estrutura da
almen- linqüência, existe uma falha da função paterna em es-
família, o padrão organizado com que os membros
nitor, o tabelecer essa interdição.
da família interagem, é um conceito determinista,
emida- Assim, a identidade de um filho, a construção mas não prescreve o comportamento; ela descreve
tmília . de um papel é constituída na relação familiar. Logo, as seqüências que são previsíveis. Quando são
udo de uma pessoa que não teve pai, não teve a oportunidade repetidas, as transações da família estabelecem
do Sr. de vivenciar a sua relação filho-pai. E foi isto que padrões duradouros. Estes padrões repetidos
;ar esta aconteceu na família em análise. Seu José teve tias e determinam como, quando e com quem os membros
na, Seu avó, mas não teve presente a figura de um pai. Isso da família se relacionam.

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A estrutura da família é moldada em parte por 4.4 - Casal Dividido


limitações universais e em parte por limitações Sabemos que a comunicação é uma condição
idiossincráticas. Por exemplo, todas as famílias têm sine qua non da vida humana e das relações sociais.
algum tipo de estrutura hierárquica, com pais e os fi- Quando se fala de comunicação, pensa-se muitas ve-
lhos possuindo quantidades diferentes de autorida- zes na linguagem, por ter sido esta considerada, du-
de. Os membros da família também tendem a ter rante muito tempo, quase como a única forma
funções recíprocas e complementares. Por exemplo, importante de se comunicar. Porém, não podemos
se um pai/mãe é supercompetente e responsável, o esquecer da comunicação não-verbal e das suas cor-
outro será menos. relações com a linguagem verbal. Watzlawick, Beavin
Os indivíduos e as famílias são demarcados por e Jackson (1967) aceitam como principal axioma da
fronteiras interpessoais, ou seja, barreiras invisíveis que comunicação que, em toda a situação de interação,
envolvem os indivíduos e os subsistemas, regulando a todo o comportamento tem valor de mensagem, ou
quantidade de contato com os outros. As fronteiras vi- seja, é comunicação, de onde se conclui que, por mais
sam a proteção da autonomia da família e de seus que se tente, não se pode não comunicar.
subsistemas, lidando com a proximidade e com a hie- Uma outra questão importante que o genograma
rarquia. As fronteiras interpessoais podem variar des- nos mostra é a falta de unidade dos pais seguida de uma
de rígidas até difusas. As fronteiras rígidas são restritivas carência na forma de comunicação. Seu José e Dona
e permitem pouco contato com os subsistemas exter- Francisca trazem a dificuldade que possuem quando
nos, resultando em distanciamento. necessitam impor limites, já que enquanto um briga, o
outro defende, consumindo assim a autoridade de ambos
Os indivíduos ou subsistemas distanciados os pais. Segundo Sudbrack (1992), essa dificuldade dos
são relativamente isolados e autônomos. Do casais em constituírem-se e apresentarem-se enquanto
lado positivo, isto permite a independência, unidade com as respectivas conseqüências em nível da
o crescimento e o domínio. Por outro lado, o imposição do interdito e da lei do pai é freqüente nas
distanciamento limita a proximidade, o afe- famílias drogaditas. Quando se tem dois emissores
to e a proteção; e as famílias distanciadas pre- mandando ao adolescente mensagens contraditórias, que
cisam estar sob extremo estresse antes de se situam em dois níveis lógicos diferentes, e quando essas
mobilizarem apoio mútuo (NICHOLS & injunções vêm de pessoas, que por motivos afetivos ou
SCHWARTZ, 1998, p. 191). sociais são importantes para o adolescente, de maneira
O desenvolvimento de uma hierarquia clara, igual, o adolescente encontra-se necessariamente preso
além de manter alguma privacidade para o casal, na obrigação de obedecer a uma e desobedecer a outra
mantém os pais com o controle dos filhos, no sentido injunção ou vice-versa. Mas ele não poderia escapar a
de estarem exercendo a posição de liderança a qual este dilema, a não ser pela transgressão. Qualquer coisa
lhes compete. Muito freqüentemente, esta hierarquia que ele faça, sempre vai haver alguém que vai considerar
é destruída por um~ centralizado na criança. Os seu ato como inadequado ou ilegal. Esses tipos de
pais aglutinados com seus filhos tendem a discutir comunicação não são somente a conseqüência das
com eles sobre quem está no comando e compartilham contradições entre o pai e a mãe, o que seria o esquema
inadequadamente com eles, a responsabilidade por primordial do duplo vínculo. Mas também contradições
tomadas de decisões que cabem aos pais. Na família que podem existir entre os pais e os educadores, ou entre
em análise, isso fica evidente. Os pais perdem o papel os pais e o juiz, ou entre o juiz e os educadores, ou também
de comando e liderança para os dois filhos mais ve- entre os educadores entre si.
lhos. Podemos notar claramente essa situação na fala A transgressão é, em primeiro lugar, um gesto
de seu José, quando ele diz: e se pensa logo em passagem ao ato (acting-out), no-
ção que se situa no centro da reflexão criminológica
Até hoje eu dou valor na criação de antiga- sobre a delinqüência, mas este gesto tem muito a ver
mente. Não é igual a de hoje que ninguém também com o desaparecimento, com a perda do li-
respeita ninguém, filho fica por cima dos pais
mite abolido que ela revela a si própria num último e
que é o que está acontecendo com a gente,
frágil reconhecimento. O acting-out é uma maneira de
com os dois mais velhos, principalmente o
expressar ao ato o que não pode ser expresso pela lin-
mais velho.
guagem. Ele ocorre quando o adolescente é confron-
Nesta fala, seu José traz a indicação de uma di- tado ao duplo vínculo, cortado ou clivado de injunções
nâmica que está presente na sua família que é a ques- contraditórias expressas pelos pais ou por dois adul-
tão da inversão dessa hierarquia. tos diferentes. (SEGOND, 1992, p.437). na

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·eira Revista de Psicologia Liana Fortunato Costa e Lilian Gurgel Pereira

4.5 - Violência àquelas que não têm acesso a outros meios de comu-
A violência familiar, como muitos outros proble- nicação e aprendizagem. A mídia e o social fizeram
ição
mas que ocorrem nas famílias, envolve a influência essa dis tinçãó arbitrária entre drogas ilícitas e dro-
iais.
interativa de todos os membros da família. Na família gas lícitas, quando sabemos que ambas são prejudi-
ve-
du- que estamos estudando, não é diferente, a violência está ciais para o indivíduo. Esse conceito de que as drogas
rma presente envolvendo todos os membros. Esta violên- lícitas não são consideradas drogas, constitui um pro-
mos cia aparece como uma mediação diante de uma gran- blema desde cedo na formação do indivíduo, pois
cor- de dificuldade de comunicação. Os membros desta sabemos que o álcool, por exemplo, é uma droga
avin família possuem dificuldade em se comunicarem ver- como outra qualquer, possuindo a mesma relação e
a da balmente, não conseguem expressar o que realmente trajetória estabelecida na dependência química. Com
isso, o genograma nos mostra também, que não existe •
sentem e por isso, expressam esses sentimentos atra-
vés da violência (acting-out). Assim, quando querem nessa família a percepção sobre o aspecto da repeti-
ais expressar amor, o fazem de forma violenta. Isso fica ção, dos aspectos simbólicos que passam de geração
claro quando Dona Francisca diz que o Kelmo gosta para geração.
de todos, ele tenta fazer carinho, mas ele não sabe e
acaba machucando. Nesta família, a brincadeira ma-
chuca; e a forma de demonstrar carinho é agressiva. 5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Além dessa violência como forma de manifes- Este trabalho aponta a importância de se estar
tação de amor, existe uma outra violência que vem atento como profissional de Psicologia para a ques-
associada ao uso de drogas pelos filhos (Kelmo e tão da transgeracionalidade dos sintomas. A família,
Karla). Seu José, diz que Kelmo, sob efeito de droga, núcleo primordial de construção da subjetividade dos
já quebrou seu carro, destruiu uma geladeira, arra- sujeitos de que dela fazem parte, marca seus pares.
nhou a máquina de lavar, agrediu a mãe e a ele mes- Neste sentido, é preciso investir em intervenções cujo
mo com uma cadeirada. Dutton & Golant (1997), resgate das relações interpessoais na família se façam
comprovaram que a agressividade está diretamente presentes.
relacionada ao consumo de substâncias químicas. Se-
O contexto de pobreza, escassez vivido pelos
gundo eles, entre agressores o consumo de bebidas
membros dessa família se faz presente em seu discur-
os ou alcoólicas costuma ser elevado. Quanto mais eles ten-
so na sessão, este grupo familiar é marcado pela ex-
,aneira tavam determinar a personalidade violenta, maior era
clusão social, pela marginalização, ausência de uma
1preso a quantidade de ákool que se consumia. As pessoas
lei capaz de protegê-lo, salvaguardá-lo. A drogadição
1 outra que apresentam esse perfil também experimentam
apara é, neste contexto, o traço de todos os significantes que
depressão e ansiedade. O álcool é um dos recursos
permeiam essa família.
coisa mais utilizados para suprir esses sentimentos desa-
;iderar gradáveis, já que funcionam como uma substância que Sudbrack (1999), afirma que jovens e crianças em
JOS de reduz nossas inibições. Porém, o resultado é uma com- situação de pobreza sofrem dentro do próprio lar um
ia das binação de cólera e falta de controle, aumentando as- processo de marginalização, ou seja, canalizam para si o
quema sim, o risco de se produzirem atos de violência. Na sofrimento do grupo familiar, protagonizando a situa-
1dições verdade, essa família está denunciando um sintoma, ção global como um problema pessoal. E para esse
uentre que é a violência, com outro sintoma associado, que é protagonismo o genograma aponta, para os comporta-
unbém a dependência química. mentos autodestrutivos, no caso a drogadição, que esta
família mantêm. Assim, a utilização do genograma se
Um outro aspecto interessante a ser ressaltado
gesto faz necessária como técnica de avaliação e intervenção,
1. é que o Seu José, no início da sessão do genograma
Jt), no-
já que ele é um instrumento visual, o qual facilita uma
relata que já fez uso de álcool e cigarro, assim como
Jlógica compreensão da família em tratamento como um todo.
os seus filhos mais velhos, porém não consegue dis-
.o a ver Além disso, ele enriquece muito o trabalho familiar, au-
criminar a bebida como uma droga. Ele diz:
xiliando o terapeuta a perceber as fronteiras, as alian-
a do li-
o que eu não fiz, eles estão fazendo. A droga ças, e principalmente, as repetições transgeracionais.
ltimo e
que eu conheço foi a bebida, que eu bebi O drogadito sofre um duplo processo de exclu-
1eira de
muito tempo e cigarro que eu fumo, né. Eu são social, ele não é aceito pela sociedade e está em uma
,ela lin-
estou largando também, Graças a Deus. Dro- incessante busca de inserção no grupo marginal já insta-
onfron-
ga mesmo, eu não conheço. lado. Dada a complexidade do fenômeno drogadição
junções
is adul- Sabemos que a mídia exerce um grande poder evidenciado no atendimento com esta família, não se
na formação conceitual das pessoas, principalmente trata de entender esta questão em nível individual, um

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sujeito comprometido em sua capacidade de lidar com MINUCHIN, S. Famílias: Funcionamento e Tratamen·
seus dramas, mas, sim, um grupo familiar que trans- to. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.
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---------. & FISHMAN, H. C. Técnicas de Terapia Famili·
tos da dinâmica e estrutura desta família, bem como o
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imaginário dela que carecem de escuta e intervenção
psicológica. Portanto intervenções em grupos familia- NICHOLS, M. & SCHWARTZ, R. Terapia Familiar: con·
res carentes, marcados pela exclusão também passam ceitos e métodos . Porto Alegre: Artmed, 1998.
pela ordem do subjetivo, do emocional, contrariando
SEGOND, P. Família e Transgressão. Psicologia Teoria
muito dos preconceitos presentes de que não há de-
e Pesquisa, Brasília, v. 8, Suplemento, p . 433-445, 1992.
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" Doença de cetação

ó Uso de áloool

, _ Uso de drogas ik:itas

"c:::D Uso de cigarro

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IJI Revista de Psicologia, Fortaleza, v. 21 n.l/2, p. 80-88, janJdez. 2003

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