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TIPOLOGIA TURÍSTICA:
BÁRBARA MATEUS
Nº11508
INTRODUÇÃO
A indústria do turismo, um fenómeno crescente nos dias que correm, vê o seu trabalho
pendente de diversas variáveis. Aquela em que a presente recensão se irá focar prende-se com
a tipologia turística. Este assunto irá ser abordado com base na análise de três artigos
científicos de autores distintos e com preocupações primárias igualmente diferentes. O
primeiro, Works of Art: Aesthetic Ambitions in Design Hotels, dos autores Strannegård e
Strannegård, tem o seu enfoque principal nas preocupações estéticas dos responsáveis pelos
design hotels, ou aqueles que são muitas vezes designados por boutique hotels, bem como nos
aspetos que distinguem este género de alojamento de todos os outros. Em segundo vem o
artigo Community-based tourism: The Romeiros Way in São Miguel Island in Azores/Portugal,
da autoria do Prof. Vítor Ambrósio, cujo argumento está relacionado com a criação de um
produto turístico através de uma peregrinação tradicional de uma ilha açoriana. Por último,
estará em escrutínio o artigo de Fan et al, Tourist typology in social contact: An addition to
existing theories, de natureza mais científica e descritiva e no qual é feita uma classificação
detalhada dos tipos de turistas. O facto de três trabalhos de investigação de índoles diversas
serem passíveis de uma análise à luz de uma temática comum demonstra a transversalidade e
a importância da tipologia do turista dentro da análise turística. O presente ensaio, que
encontra a sua base na análise comparativa dos três artigos previamente mencionados, verá a
sua divisão baseada no último: a divisão será feita de acordo com as classes de turistas
definidas nesse mesmo trabalho e, a partir das mesmas, veremos de que modo este tipo de
turista poderá ou não ser envolvido nas atividades turísticas referidas nos restantes dois.
1. TIPOS DE TURISTAS
1.1. DEPENDENTS
A denominação escolhida para este tipo de turista prende-se com a dependência destes face a
alguém que os acompanhe nas viagens, quer sejam familiares, amigos ou apenas outros
turistas. São caraterizados por serem turistas pouco experientes e, portanto, depositam todo o
trabalho de planeamento da viagem no operador turístico. Durante a viagem, são o tipo de
turista que se encerra na sua própria bolha, limitando o contacto com a comunidade local quer
por restrições a nível da linguagem quer por falta de vontade.
1.2. CONSERVATIVES
O contacto que este turista mantém com a comunidade local restringe-se a necessidades
extremas, como um pedido de informação ou ajuda na resolução de um problema. Um fator
que interfere na qualidade e quantidade de comunicação com os locais é a duração da estadia.
Quanto mais tempo passarem num local, mais à vontade estarão para o contacto social. Outra
variável influenciadora é o estigma que estes detêm derivado de determinados estereótipos. O
facto de o grupo ser maior ou menor, ou de a mediação ser feita pelo operador pode ser
também determinante para a interação turista-local. Também as experiências deste tipo de
turistas são limitadas.
1.3. CRITICIZERS
1.4. EXPLORERS
Os explorers são facilmente comparáveis aos critizers e a sua atitude aproxima-se bastante da
dos últimos. O fator distintivo é a qualidade e quantidade de contacto que estabelecem com
os locais. Este contacto, mais intenso, é estabelecido intencionalmente, com o propósito de
saber mais não só sobre a cultura local, mas também sobre o quotidiano e as atividades das
quais estes dependem. Há outros fatores que são determinantes para estes turistas, que já
apresentam uma maior experiência em viagens. Estes fatores prendem-se com a duração da
estadia, as caraterísticas da comunidade local e o alojamento. Procuram uma experiência o
mais autêntica possível, buscando atividades vistas como tradicionalmente não turísticas, mais
entusiasmantes e que, certamente, irão impactar a ideia que estes tinham do destino e
enriquecer o contacto intercultural.
Este tipo de turista assemelha-se bastante àquele que os design/boutique hotels, de que tanto
se fala no texto de Strannegard e Strannegard (2012), procuram captar como clientes. Estes
hotéis caraterizam-se pela atmosfera única que neles é criada por profissionais na área,
destacando-se de todos os outros e, principalmente, das grandes cadeias hoteleiras. Através
do slogan da Holiday Inn, “the best surprise is no surprise”, os autores enfatizam que, num
design hotel, o cliente deve ter o fator surpresa imbuído na sua estadia (Stannegard &
Stannegard, 2012). Este cliente não será o turista habitual, mas aquele que os autores definem
como lifestyle traveller e que encaixa, na tipologia de Fan et al. (2017), no patamar dos
explorers. Esta correspondência deve-se ao facto de estes turistas serem experientes e
viajarem sozinhos, mantendo a sua individualidade, exceto no que toca à procura de
experiências e de eventos que os faça sentir integrados na comunidade local. É exatamente
neste aspeto que os boutique hotels se destacam, ao oferecerem serviços tão exclusivos e uma
experiência sensorial que comunique com os explorers e que vá de encontro às suas exigências,
compatíveis com a autenticidade das experiências, mas ainda assim mais sofisticadas e avant-
garde. De forma semelhante ao trabalho de Fan et al. (2017), é falado no artigo de 2012 de
Stannegard e Stannegard acerca da comunicação e das interações. No entanto, no último, a
comunicação que é referida é aquela que se estabelece entre o turista e o alojamento. Este
género de hotel procura incorporar nas suas imediações um discurso transnacional, de modo a
que o turista possa sentir-se um local, onde quer que esteja (“Be a local, wherever you are”).
Esta transformação de turista para local é feita com a ajuda do staff, que deve fornecer aos
hóspedes todas as informações, desde atividades, a eventos ou até mesmo experiências
gastronómicas, para que este se possa integrar na comunidade de acolhimento da maneira
mais natural possível.
O belonging seeker distancia-se de todos os restantes, dado ser aquele que interage com a
comunidade local com propósitos sociais. A comunicação entre as duas partes é efetuada de
maneira natural, sem constrangimentos culturais. É assim que procuram fazer amizades entre
os locais e os anfitriões que os recebem, participando ativamente no dia-a-dia destes e
mantendo uma ligação mais profunda. Esta ligação é estabelecida igualmente face à localidade.
Tendo em conta todas estas caraterísticas, é bastante evidente a ligação entre o tipo de turista
descrito imediatamente acima e os Romeiros de S. Miguel e a atividade que praticam durante
a sua peregrinação. É também da opinião de Ambrósio (2019) que é este o tipo de turista que
melhor se enquadra na atividade turística que descreve, a par dos explorers. O fator distintivo
entre estes dois últimos tipos de turistas, e o que me leva a crer que os belonging seekers são
os que melhor se enquadrariam nesta atividade turística, é a vontade do turista em fruir da
experiência como um verdadeiro local. Tendo em conta que esta fruição passa pela vontade de
conhecer e ficar alojado em casa de membros da comunidade local e de procurar neles
verdadeiras amizades, a Romaria de S. Miguel apresenta-se como uma forte atividade turística
para estes viajantes. Na verdade, qualquer atividade turística relacionada com o turismo
comunitário seria do interesse deste tipo de turista.
CONCLUSÃO
Através desta análise crítica, e com base nas diversas classificações apresentadas por autores
também eles diferentes, podemos inferir que a tipologia turística representa uma ferramenta
valiosa para a construção dos produtos turísticos, permitindo que este planeamento seja
realizado de acordo com o perfil do turista que o procurará. Os três textos apresentados na
introdução apresentam, então, este denominador comum: a tipologia turística. Se por um lado
temos, em Fan et al. (2017), um texto estritamente descritivo e pragmático, temos, pelo outro,
dois textos que apresentam ao leitor dois nichos de mercado, sendo eles os design hotels e o
turismo comunitário, e o perfil do turista que os procura. Assim, torna-se clarividente a
conexão passível de ser estabelecida entre os documentos, ressalvando a transversalidade da
atividade turística.
BIBLIOGRAFIA
Ambrósio, Vitor (2019). Community-based tourism: The Romeiros Way in São Miguel Island in
Azores/Portugal. In Peter Wiltshier and Alan Clarke (editors), Community Based Tourism in the
Developing World. Oxfordshire: Taylor and Francis, 152-165.
Bernardo, Edgar (2013). Abordagens Teóricas ao Turismo. CIES e-Working Paper, 172/2013.
Lisboa: CIES-IUL.
Fan, D., Zhang,H., Jenkins,C. & Tavitiyaman, P. (2017). Tourist typology in social contact: An
addition to existing theories. Tourism Management, 60, pp. 357-366.
Milán, Oliver Cruz (2017). Plog’s Model of Typologies of Tourists. The SAGE International
Encyclopedia of Travel and Tourism. Thousand Oaks: SAGE Publications, pp. 954-956.
Strannegard, L. & Strannegard, M. (2012). Works of Art: Aesthetic Ambitions in Design Hotels.
Annals of Tourism Research, 39(4), pp. 1995-2012.