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21/04/2020 Na Amazônia, avanço da covid-19 e invasões ameaçam indígenas | Notícias e análises sobre os fatos mais relevantes do Brasil | DW | 21.04.

2020

NOTÍCIAS / BRASIL

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CORO N AV ÍRUS

Na Amazônia, avanço da covid-19 e invasões ameaçam


indígenas
Além do avanço da doença provocada pelo novo coronavírus, população indígena tenta barrar invasões de garimpeiros e
madeireiros em territórios. Problemas socioambientais podem agravar efeitos da pandemia na região.

Funai afirmou que usará verba adicional para proteger povos isolados e de recente contato.

Na aldeia São José, no Alto Solimões, Amazonas, indígenas estão assustados com o poder de contágio da covid-19, a doença provocada pelo
novo coronavírus. Com 484 famílias, a maioria da etnia kokama, a comunidade tem diversos casos confirmados.

Alguns fazem parte da família de Edinho Kokama, liderança local. "Está muito difícil", diz à DW Brasil por telefone. "Com a ajuda dos
enfermeiros, tentamos isolar as entradas da aldeia para que ninguém de fora entre", fala sobre medidas de prevenção.

Veja o Especial da DW Brasil sobre a Amazônia

Os doentes da região do Alto Solimões são a maioria da lista de 31 casos registrados entre indígenas até esta terça-feira (21/04). A pandemia
provocou, até então, sete mortes, segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Um outro óbito suspeito aguarda a
confirmação. A vítima era um enfermeiro da etnia baniwa e havia denunciado, pelas redes sociais, a falta de testes para covid-19 e o colapso
dos hospitais.

Para o Ministério da Saúde, no entanto, são três mortes confirmadas entre indígenas. A metodologia de contagem é motivo de controvérsia: o
órgão considera como pacientes indígenas de covid-19 apenas aqueles que residem nos territórios. Os que moram em áreas urbanas ficam de
fora dessa lista.

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21/04/2020 Na Amazônia, avanço da covid-19 e invasões ameaçam indígenas | Notícias e análises sobre os fatos mais relevantes do Brasil | DW | 21.04.2020
"Isso é racismo. Não deixamos de ser indígenas porque moramos na cidade", critica Nara Baré, à frente da Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).

Nos territórios, devido à falta de estrutura para atendimento dos serviços de saúde e de materiais básicos, como sabão e máscaras, o esforço se
concentra no isolamento social. A estratégia, no entanto, é como uma agressão ao modo tradicional de viver nessas comunidades. Na cultura
indígena, membros de famílias numerosas costumam dividir a mesma habitação, as refeições são compartilhadas, e todos trabalham juntos
nos roçados e na confecção de artesanatos.

"Por causa do isolamento, não saímos mais para a roça", explica Edinho. "A gente precisa de apoio."

Na aldeia vizinha, a Betânia, do povo tikuna, mais de 3 mil indígenas se protegem como podem. Caso o vírus passe a circular nos territórios, o
resultado seria trágico. "Se a pandemia se alastra, será um massacre total", afirma Baré.

A comunicação com as lideranças espalhadas pela Amazônia, feita via rádio na maioria das vezes, tem sido complexa nestes dias de pandemia.
A preocupação extrema com o cenário tem custado noites de sono, conta Baré.

"Não somos coitadinhos, mas estamos em situação de vulnerabilidade por causa do nosso histórico", pontua. Desde a chegada dos europeus
no país, as doenças trazidas por não indígenas resultaram em mortes. A falta de imunidade natural a vírus e bactérias que provocam gripe,
sarampo, coqueluche, tuberculose, varíola e sífilis provocou o desaparecimento de sociedades inteiras.

Invasões na era da pandemia

Para muitas lideranças indígenas, as invasões "modernas", da atualidade, trazem o mesmo risco. "Como medida de contenção contra a covid-
19, nós pedimos a retirada imediata de todos os invasores, missionários, grileiros, garimpeiros, madeireiros, porque eles são vetores de
transmissão", diz Baré.

O clamor dos indígenas parece ter provocado efeito contrário. Em alguns territórios, lideranças denunciam o aumento de invasores. Fontes
ouvidas pela DW Brasil infiltradas em grupos de conversas de infratores ambientais dão conta de que existem várias ações ilegais previstas em
terras indígenas para as próximas semanas, quando a temporada de chuvas na Amazônia termina.

No território ianomâmi, que ocupa parte dos estados de Amazonas e Roraima, o garimpo ilegal não para de crescer. "São mais de 25 mil
garimpeiros. Eles já vêm com ameaças de morte pra cima da gente, arma de fogo, matam nossos rios. E agora trazem essa doença", comenta
Dario Kopenawa Yanomami. "A gente precisa de ação de verdade. As operações que aconteceram até agora só espalharam os garimpeiros.
Eles ainda estão aqui."

As críticas à demora da Fundação Nacional do Índio (Funai) para agir vêm de todos os lados. "Praticamente, a Funai se ausentou totalmente.
A iniciativa de isolar os territórios para conter a covid-19  foi dos próprios indígenas", diz Antônio Eduardo de Oliveira, secretário executivo
do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

Em resposta, a Funai informou que recebeu 10,8 milhões de reais adicionais, que serão usados na compra de alimentos para comunidades em
extrema vulnerabilidade social e na proteção de povos isolados e de recente contato.

Em condição de anonimato, servidores do órgão alegam que a falta de um esforço coordenado do governo brasileiro ameaça a existência de
muitos indígenas. "Isso reflete a postura de todo o governo. Eles são anti-indígenas por convicção. A chefia da própria Funai foi colocada pela
bancada ruralista e tem um posicionamento alinhado à presidência da República", disse a fonte à DW Brasil.

Mapa de risco

A preocupação também é notável entre cientistas. Num artigo assinado por pesquisadores ligados à Coalizão Ciência e Sociedade, o "grande
vazio" de infraestrutura médico-hospitalar é apontado, entre outros, como fator de perigo. 

"A maior região brasileira (Norte) conta com a menor proporção de hospitais do país, tanto de pequeno porte (10% do total) quanto centros de
alta complexidade (8%)", diz o texto, que tem a cientista Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília, entre os autores.

Tiago Moreira, antropólogo do Instituto Socioambiental (ISA), trabalha em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) num mapa de risco indígena em relação à pandemia.

"Indígenas nas cidades, provavelmente, serão os mais atingidos. Eles vivem nas periferias, sob condições sanitárias precárias, como é o caso
das cidades amazônicas", comenta Moreira. Só em Manaus, capital do Amazonas e cidade que concentra a maioria dos casos de covid-19 no
estado, vivem cerca de 30 mil indígenas.

O mapa, em fase final de elaboração, desenha um cenário crítico. "A gente acredita que a presença de atividades ilegais pode agravar essa
situação. Terras com muitos problemas socioambientais podem ser as mais atingidas, como a ianomâmi, assim como territórios no entorno de
Manaus, onde houve uma explosão de casos", antecipa.

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De sua casa, Edinho Kokama diz aguardar dias mais difíceis pela frente. "Estou com 53 anos, nunca vi isso na minha vida. A doença está no
meu povo, na minha família, e não posso visitar ninguém. Estou muito triste e preocupado", diz.

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A EV O L U ÇÃO DA PANDEMIA DE CORON AV Í R U S

Tudo começou em Wuhan


A China notificou a Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre uma misteriosa pneumonia em Wuhan, de
cerca de 11 milhões de habitantes. Especialistas de todo o mundo começaram a tentar identificar o agente
causador. Supõe-se que ele tenha se originado num mercado de frutos do mar na cidade, que logo foi
fechado. Inicialmente foi comunicado que havia cerca de 40 pessoas infectadas. (31/12/2019)

LEIA M A I S

Indígenas na Amazônia denunciam aumento de garimpo ilegal durante pandemia


Segundo indígenas, fluxo de garimpeiros brasileiros rumo à Guiana Francesa aumentou devido à enfraquecimento do controle na fronteira em meio à
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Interior da Amazônia pode se tornar novo epicentro da pandemia, adverte médico


Concentração do atendimento especializado em grandes cidades eleva vulnerabilidade de indígenas que vivem em áreas remotas. Por razões distintas,
médicos e invasores de terras são vetores em potencial.  (04.04.2020)  

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Sepultamento de jovem ianomâmi sem consulta à família gera debate sobre possibilidade de conciliar protocolos restritivos para limitar o contágio por
coronavírus com as particularidades culturais de diferentes povos. (20.04.2020)  

"Consequência será o genocídio"


Em entrevista à DW Brasil, sertanista acusa Funai de ignorar regimento e usar pandemia de coronavírus como pretexto para forçar contato com povos
indígenas isolados. "Vai acontecer o que o passado já nos ensinou." (21.03.2020)  

Data 21.04.2020

Autoria Nádia Pontes

Assuntos relacionados Coronavírus, Especial Amazônia, Amazônia, Funai, Povos indígenas

Palavras-chave coronavírus, covid-19, Amazônia, Floresta Amazônica, povos indígenas

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