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Devemos escolher outras personagens? Questão difícil. Penso que esse não é o
melhor caminho. Não adianta substituir um herói por outro. Acredito que devemos
abandonar de uma vez por todas a visão positivista da história que elege apenas aqueles
homens ilustres e seus feitos notáveis como os verdadeiros sujeitos e fatos dignos de
rememoração. Ora, não há critério para se eleger um fato ou um sujeito privilegiado.
Como estabelecê-lo? Por testemunhas? Por documentos oficiais? Sabemos que as mais
honestas testemunhas se enganam e que os documentos oficiais também mentem. Para
escrever em minúcias um dia na vida de seu personagem Tristam Shandy, o escritor
irlandês Laurence Sterne precisou de um ano inteiro para realizar o trabalho e a
descrição preencheu um enorme volume. Isto é, diante do incrível acúmulo de fatos e
personagens no decorrer dos tempos, qualquer critério de escolha é injusto. Depois da
literatura do século XIX e do cinema do começo do século XX terem alçado pessoas
anônimas e situações cotidianas ao templo da arte, os historiadores também passaram a
produzir uma história que já não busca apenas os heróis ilustres e os grandes atos
administrativos como objetos de estudo. As mulheres, os índios, os operários, as
minorias étnicas têm sido reivindicadas no panteão dos sujeitos da história e a vida
privada, os hábitos culturais, as sociabilidades cotidianas agora dividem espaço com os
fatos políticos. Assim, colocar uma estátua de um índio ou um caboclo no lugar do “trio
fundador”, não resolve o problema. Não tenho dúvida de que o leitor deve imaginar que
cada um de nós, cada cidadão chapecoense pode acreditar que mereça uma homenagem,
por mais singela que seja. Cada um de nós sabe o quão heróica foi ou é a vida de um
trabalhador nos frigoríficos da região ou de um pequeno agricultor ou cooperado.
Portanto, eleger uma personagem, uma cultura, é deixar todas as outras de fora.
O prefeito Luciano Buligon declarou que não fora ele que escolheu as
personagens, mas sim a história. Ora vejam só, temos aqui um prefeito muito
qualificado para tirar o corpo fora, mas pelo visto, conhece muito pouco a história do
município que governa. Ao contrário do que diz o prefeito, os historiadores regionais
produziram uma história profundamente crítica dos modelos tradicionais e dos
historiadores amadores que predominaram até pouco tempo atrás, os quais sequer
consideraram os povos nativos, inclusive os pré-históricos. Há muito tempo que se
produz, da graduação à pós-graduação, uma história crítica do passado da região que
hoje é problematizado a partir de outros ângulos. Também o cotidiano, o vulgar, o
anônimo, o incógnito, tornaram-se objetos dos estudos históricos contemporâneos. Já
não se pratica uma história laudatória e seletiva