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DISCURSO DO PAPA BENTO XVI POR OCASIÃO DA TROCA DE VOTOS NATALÍCIOS

COM A CÚRIA ROMANA

Segunda-feira, 20 de Dezembro de 2010

Senhores Cardeais, Venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado, Amados irmãos e irmãs!

E N
xcita – a oração lembra o brado

É
com vivo prazer que vos revejo, este contexto, veio-me à mente
amados Membros do Colégio dirigido ao Senhor, que estava a uma visão de Santa Hildegarda de
Cardinalício, Representantes da dormir na barca dos discípulos Bingen, que descreve de modo
Cúria Roma e do Governatorato, neste fustigada pela tempestade e quase a afundar. impressionante o que vive-mos neste ano.
encontro tradicional. Dirijo a cada um a Quando a sua palavra potente aplacou a «No ano de 1170 depois do nascimento de
minha cordial saudação, a começar pelo tempestade, Ele censurou os discípulos pela Cristo, estive durante longo tempo doente
Cardeal Angelo Sodano, a quem agradeço sua pouca fé (cf. Mt 8, 26 e paralelos). Que- na cama. Então, física e mentalmente acor-
as expressões de estima e comunhão e votos ria dizer: em vós mesmos, adormeceu a fé. dada, vi uma mulher de uma beleza tal que
ardentes que me formulou em nome de E o mesmo nos quer dizer a nós; também a mente humana não é capaz de com-
todos. Prope est jam Dominus, venite, em nós, muitíssimas vezes, a fé dorme. Por preender. A sua figura erguia-se da terra até
adoremus! Contemple-mos como uma isso peçamos-Lhe que nos acorde do sono ao céu. O seu rosto brilhava com um es-
única família o mistério do Emanuel, de de uma fé que se sente cansada e restitua à plendor sublime. O seu olhar estava voltado
Deus-connosco, como disse o Cardeal fé o poder de mover os montes, isto é, de para o céu. Trajava um vestido luminoso e

«
Decano. De bom grado retribuo os votos conferir a ordem justa às coisas do mundo. fulgurante de seda branca e um manto
expressos e desejo agradecer vivamente a guarnecido de pedras preciosas. Nos pés,
todos, incluindo os Representantes Pontifí- Excita, Domine, potentiam tuam calçava sapatos de ónix. Mas o seu rosto
cios espalhados pelo mundo, pela compe- et veni»: nas grandes angústias, a estava salpicado de pó, o seu vestido estava
tente e generosa contribuição que cada um que nos vimos expostos neste rasgado do lado direito. Também o manto

«
presta ao Vigário de Cristo e à Igreja. ano, voltou-me sem cessar à mente e aos perdera a sua beleza singular e os seus
lábios esta oração de Advento. Com grande sapatos estavam sujos por cima. Com voz
Excita, Domine, potentiam tuam alegria, tínhamos começado o Ano Sacer- alta e pesarosa, a mulher gritou para o céu:
et veni» – com estas e outras dotal e, graças a Deus, pudemos concluí-lo “Escuta, ó céu: o meu rosto está manchado!
palavras semelhantes a liturgia também com imensa gratidão, apesar de se Aflige-te, ó terra: o meu vestido está
da Igreja reza repetidamente nos dias do ter desenrolado muito diversamente de co- rasgado! Treme, ó abismo: os meus sapatos
Advento. Trata-se de invocações formu- mo o tínhamos esperado. Em nós, sacerdo- estão sujos!”
ladas provavelmente quando o Império Ro- tes, e nos leigos – concretamente nos jovens

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mano estava no seu ocaso. O desmorona- – renovou-se a consciência do grande dom continuou: “Estava escondida no
mento dos ordenamentos basilares do que representa o sacerdócio da Igreja Ca- coração do Pai, até que o Filho do
direito e das atitudes morais de fundo, que tólica, que nos foi confiado pelo Senhor. De Homem, concebido e dado à luz na
lhes davam força, causou a ruptura das mar- novo nos demos conta de como é belo que virgindade, derramou o seu sangue. Com
gens que até então protegeram a convi- seres humanos estejam autorizados a pro- este sangue por seu dote, tomou-me como
vência pacífica entre os homens. Um mun- nunciar, em nome de Deus e com pleno sua esposa.
do estava no seu ocaso. Frequentes cataclis- poder, a palavra do perdão, tornando-se

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mos naturais aumentavam ainda mais esta assim capazes de mudar o mundo, a vida; s estigmas do meu esposo man-
experiência de insegurança. E não se vendo como é belo que seres humanos estejam têm-se em chaga fresca e aberta,
qualquer força que pudesse pôr um freio a autorizados a pronunciar as palavras da con- enquanto se abrirem as feridas dos
tal declínio, tanto mais insistente era a invo- sagração, pelas quais o Senhor atrai para pecados dos homens. Este facto de perma-
cação da força própria de Deus: que Ele dentro de Si um pedaço de mundo, e assim, necerem abertas as feridas de Cristo é
viesse e protegesse os homens de todas num determinado lugar, transforma-o na precisamente por culpa dos sacerdotes.

«
estas ameaças. sua substância; como é belo poder estar, Estes rasgam o meu vestido, porque são
com a força do Senhor, junto dos homens transgressores da Lei, do Evangelho e do
Excita, Domine, potentiam tuam nas suas alegrias e sofrimentos, tanto nas seu dever sacerdotal. Tiram o esplendor ao
et veni». Também hoje temos horas importantes como nas horas negras da meu manto, porque descuidam totalmente
variados motivos para nos asso- existência; como é belo ter na vida por mis- os preceitos que lhes são impostos. Sujam
ciarmos a esta oração de Advento da Igreja. são não esta pessoa ou aquela, mas pura e os meus sapatos, porque não caminham por
O mundo, com todas as suas novas espe- simplesmente o ser mesmo do homem, estradas direitas, isto é, pelas estradas duras
ranças e possibilidades, sente-se ao mesmo procu-rando ajudar para que se abra a Deus e severas da justiça, nem dão bom exemplo
tempo angustiado com a impressão de que o e viva a partir de Deus. Com tal consciên- aos seus súbditos. Em alguns deles, porém,
consenso moral se esteja a dissolver, um cia, ainda mais atónitos ficámos quando, encontro o esplendor da verdade”.
consenso sem o qual as estruturas jurídicas precisamente neste ano e numa dimensão

E
e políticas não funcionam; consequente- que não podíamos imaginar, tivemos conhe-
ouvi uma voz do céu que dizia:
mente, as forças mobilizadas para a defesa cimento de abusos contra os menores come-
“Esta imagem representa a Igreja.
de tais estruturas parecem destinadas ao in- tidos por sacerdotes, que desvirtuam o Sa- Por isso, ó ser humano que vês
sucesso. cramento no seu contrário, sob o manto do tudo isto e ouves as palavras de lamentação,
sagrado ferem profundamente a pessoa hu-
anuncia-o aos sacerdotes que estão destina-
mana na sua infância e causam-lhe um dano
dos à guia e à instrução do povo de Deus,
para a vida inteira.
tendo-lhes sido dito, como aos apóstolos:
„Ide por todo o mundo e proclamai o terrestre – eloquente expressão da ditadura em manifestações imponentes, a rica cultura
Evangelho a toda a criatura‟ (Mc 16, 15)”» do dinheiro que perverte o homem. Todo o cristã do Oriente cristão. Mas vimos tam-
(Carta a Werner von Kirchheim e à sua prazer se torna insuficiente e o excesso no bém o problema do país dividido. Torna-
comunidade sacerdotal: PL 197, 269ss). engano da alucinação torna-se uma violên- vam-se visíveis culpas do passado e feridas
cia que dilacera regiões inteiras, e isto em profundas, mas também o desejo de paz e

N
a visão de Santa Hildegarda, o nome de um equívoco fatal da liberdade, no de comunhão como existiram antes. Todos
rosto da Igreja está coberto de pó, qual a própria liberdade do homem acaba estamos cientes do facto de que a violência
e foi assim que nós o vimos. O minada e por fim completamente anulada. não traz qualquer progresso; de facto, foi ela
seu vestido está rasgado, por culpa dos que criou a situação actual. Só com o acor-

P
sacerdotes. Como ela o viu e expressou, ara nos opormos a estas forças, do e a compreensão mútua se pode restabe-
assim nós o vimos neste ano. Devemos devemos lançar um olhar sobre os lecer a unidade. Preparar a gente para esta
acolher esta humilhação como uma exorta- seus alicerces ideológicos. Nos anos atitude de paz é uma missão essencial da
ção à verdade e um apelo à renovação. Só a Setenta, teorizou-se sobre a pedofilia como pastoral.
verdade salva. Devemos interrogar-nos so- sendo algo totalmente consentâneo ao ho-

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bre o que podemos fazer para reparar o mais mem e também à criança. Mas isto fazia epois, no Sínodo, o olhar alargou-
possível a injustiça sucedida. Devemos per- parte duma perversão fundamental do con- se sobre todo o Médio Oriente,
guntar-nos o que estava errado no nosso ceito de vida moral. Defendia-se – mesmo onde convivem fiéis pertencentes
anúncio, em todo o nosso modo de con- no âmbito da teologia católica – que o mal a religiões diversas e também a variadas
figurar o ser cristão, para que pudesse acon- em si e o bem em si não existiriam. Haveria tradições e diferentes ritos. No caso dos
tecer semelhante coisa. Devemos encontrar apenas um «melhor que» e um «pior que». cristãos, há as Igrejas pré-calcedónias e as
uma nova determinação na fé e no bem. De- Nada seria em si mesmo bem ou mal; tudo calcedónias; Igrejas em comunhão com Ro-
vemos ser capazes de penitência. Devemos dependeria das circunstâncias e do fim pre- ma e outras que estão fora desta comunhão,
esforçar-nos por tentar tudo o possível, na tendido. Segundo os fins e as circunstâncias, e em ambas existem, um ao lado do outro,
preparação para o sacerdócio, a fim de que tudo poderia ser bem ou então mal. A moral variados ritos. Nos tumultos dos últimos
uma tal coisa não possa voltar a acontecer. é substituída por um cálculo das consequên- anos, foi abalada a história de partilha, as
Este é também o lugar para agradecer de cias, e assim deixa de existir. Os efeitos de tensões e as divisões cresceram, de tal modo
coração a todos quantos se empenham por tais teorias são, hoje, evidentes. Contra elas, que somos testemunhas sempre de novo e
ajudar as vítimas e suscitar neles de novo a o Papa João Paulo II, na sua Encíclica com terror de actos de violência nos quais
confiança na Igreja, a capacidade de Veritatis splendor de 1993, com vigor pro- se deixou de respeitar aquilo que para o
acreditar na sua mensagem. Nos meus fético apontou na grande tradição racional outro é sagrado, e, pior ainda, desmoronam-
encontros com as vítimas deste pecado, da vida moral cristã as bases essenciais e se as regras mais elementares da humani-
sempre encontrei também pessoas que, com permanentes do agir moral. Hoje, deve-se dade. Na situação actual, os cristãos são a
grande dedicação, estão ao lado de quem colocar de novo no centro este texto como minoria mais oprimida e atormentada.
sofre e foi lesado. Esta é a ocasião para caminho na formação da consciência. É Durante séculos, viveram pacificamente
agradecer também a tantos bons sacerdotes nossa responsabilidade tornar de novo juntos com os seus vizinhos judeus e mu-
que transmitem, humilde e fielmente, a audíveis e compreensíveis entre os homens çulmanos. No Sínodo, ouvimos palavras
bondade do Senhor e, no meio das estes critérios como caminhos da verdadeira sábias do Conselheiro do Mufti da Repú-
devastações, são testemunhas da beleza não humanidade, no contexto de preocupação blica do Líbano contra os actos de violência
perdida do sacerdócio. pelo homem em que estamos imersos. aos cristãos. Ele dizia: com o ferimento dos
cristãos, acabamos feridos nós próprios.

E C
stamos cientes da particular omo segundo ponto, quero dizer Infelizmente, porém, esta e análogas vozes
gravidade deste pecado cometido uma palavra sobre o Sínodo das da razão, pelas quais nos sentimos
por sacerdotes e da responsabi- Igrejas do Médio Oriente. Teve profundamente agradecidos, são demasiado
lidade que nos cabe. Mas não podemos início com a minha viagem a Chipre, onde débeis. Também aqui o obstáculo é a liga-
deixar de falar também sobre o contexto do pude entregar o Instrumentum laboris do ção entre avidez de lucro e cegueira ideoló-
nosso tempo que é testemunha destes Sínodo aos Bispos daqueles países lá reu- gica. Com base no espírito da fé e na sua
acontecimentos. Existe um mercado da nidos. Inesquecível foi a hospitalidade da razoabilidade, o Sínodo desenvolveu um
pornografia que envolve as crianças, e que Igreja Ortodoxa, que pudemos experimentar grande conceito do diálogo, do perdão, do
de algum modo parece ser considerado cada imensamente agradecidos. Embora ainda acolhimento recíproco; conceito esse, que
vez mais pela sociedade como algo normal. não nos tenha sido concedida a plena comu- agora queremos gritar ao mundo. O ser
A devastação psicológica de crianças, na nhão, todavia constatámos com alegria que humano é um só e a humanidade é uma só.
qual pessoas humanas são reduzidas a um a forma basilar da Igreja antiga nos une pro- Aquilo que é feito em qualquer lugar contra
artigo de mercado, é um terrível sinal dos fundamente uns aos outros: o ministério o homem, no fim fere a todos. Assim, as pa-
tempos. Continuo a ouvir, de Bispos de sacramental dos Bispos enquanto portador lavras e os pensamentos do Sínodo devem
países do Terceiro Mundo, que o turismo da tradição apostólica, a leitura da Escritura ser um forte brado, dirigido a todas as pes-
sexual está a ameaçar toda uma geração e segundo a hermenêutica da Regula fidei, a soas com responsabilidade política ou reli-
danificá-la na sua liberdade e na sua compreensão da Escritura na unidade giosa, para que detenham a cristianofobia;
dignidade humana. O Apocalipse de São multiforme centrada em Cristo desenvolvi- para que se levantem em defesa dos pró-
João menciona entre os grandes pecados de da graças à inspiração de Deus e, por fim, a fugos e dos atribulados e na revitalização do
Babilónia – símbolo das grandes cidades fé na centralidade da Eucaristia na vida da espírito da reconciliação. Em última análise,
irreligiosas do mundo – o facto de comer- Igreja. Assim encontrámos ao vivo a rique- a regeneração só pode vir de uma fé pro-
cializar os corpos e as almas, fazendo deles za dos ritos da Igreja antiga mesmo dentro funda no amor reconciliador de Deus.
uma mercadoria (cf. Ap 18, 13). Neste con- da Igreja Católica. Tivemos liturgias com Fortalecer esta fé, alimentá-la e fazê-la
texto, coloca-se também o problema da dro- Maronitas e Melquitas, celebrámos em rito resplandecer é a missão principal da Igreja
ga, que estende fortemente os seus tentácu- latino e tivemos momentos de oração ecu- nesta hora.
los como um polvo por todo o globo ménica com os Ortodoxos e pudemos ver,
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eter-me-ia de bom grado a falar man reconhece precisamente que as coisas man sempre estivera consciente de ter uma
detalhadamente da inesquecível estão ao contrário: Deus e a alma, o próprio missão para a Inglaterra. Mas, na teologia
viagem à Grã-Bretanha, mas ser do homem a nível espiritual constituem católica do seu tempo, dificilmente podia
quero limitar-me a dois pontos que estão aquilo que é verdadeiramente real, aquilo ser ouvida a sua voz. Era demasiado alheia
relacionados com o tema da responsabili- que conta. São muito mais reais que os à forma dominante do pensamento teoló-
dade dos cristãos neste tempo e com a objectos palpáveis. Esta conversão significa gico e mesmo da devoção. Em Janeiro de
missão eclesial de anunciar o Evangelho. uma viragem copernicana. Aquilo que até 1863, escreveu no seu diário estas palavras
Recordo, antes de mais nada, o encontro então lhe apareceu irreal e secundário, reve- impressionantes: «Como protestante, a
com o mundo da cultura na Westminster la-se agora como a realidade verdadeira- minha religião parecia-me miserável, mas
Hall, um encontro onde a consciência da mente decisiva. Onde se dá uma tal conver- não a minha vida. E agora, como católico, a
responsabilidade comum neste momento são, não é simplesmente um teoria que é minha vida é miserável, mas não a minha
histórico suscitou grande atenção, que em mudada; muda a forma fundamental da religião». Não chegara ainda a hora da sua
última análise se concentrou na questão vida. De tal conversão todos nós temos in- eficácia. Na humildade e na escuridão da
acerca da verdade e da própria fé. Que, nes- cessante necessidade: então estaremos no obediência, ele teve de esperar até que a sua
te debate, a Igreja deve prestar a própria recto caminho. mensagem fosse utilizada e compreendida.
contribuição, era evidente para todos. No Para poder afirmar a identidade entre o

E
seu tempo, Alexis de Tocqueville observara m Newman, a forma motriz que conceito que Newman tinha da consciência
que, na América, a democracia se tornara impelia pelo caminho da conversão e a noção subjectiva moderna da consciên-
possível e funcionara, porque existia um era a consciência. Com isto, porém, cia, comprazem-se em fazer referência à sua
consenso moral de base que, ultrapassando que se entende? No pensamento moderno, a palavra, segundo a qual ele – no caso de ter
as diversas denominações, a todos unia. Só palavra «consciência» significa que, em de fazer um brinde – teria brindado primeiro
se houver um tal consenso acerca do essen- matéria de moral e de religião, a dimensão à consciência e depois ao Papa. Mas, nesta
cial é que podem funcionar as constituições subjectiva, o indivíduo, constitui a última afirmação, «consciência» não significa a
e o direito. Este consenso de fundo prove- instância de decisão. O mundo é repartido obrigatoriedade última da intuição
niente do património cristão está em perigo pelos âmbitos do objectivo e do subjectivo. subjectiva; é a expressão da acessibilidade e
sempre que no seu lugar, no lugar da razão Ao objectivo pertencem as coisas que se da força vinculadora da verdade: nisto se
moral, entra a mera racionalidade dos fins, podem calcular e verificar através da funda o seu primado. Ao Papa pode ser
de que há pouco falei. Combater contra esta experiência. Uma vez que a religião e a mo- dedicado o segundo brinde, porque a sua
cegueira da razão e manter-lhe a capacidade ral se subtraem a estes métodos, são consi- missão é exigir a obediência à verdade.
de ver o essencial, de ver Deus e o homem, deradas como âmbito do subjectivo. Aqui

T
aquilo que é bom e o que é verdadeiro, é o não haveria, em última análise, critérios enho de renunciar a falar das
interesse comum que deve unir todos os objectivos. Por isso a última instância que viagens tão significativas a Malta, a
homens de boa vontade. Está em jogo o aqui pode decidir seria apenas o sujeito; e é Portugal e à Espanha. Nelas, de
futuro do mundo. isto precisamente o que se exprime com a novo se tornou visível que a fé não é uma
palavra «consciência»: neste âmbito, pode realidade do passado, mas um encontro com

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or fim, queria ainda recordar a decidir apenas o indivíduo, o individuo com o Deus que vive e actua agora. Ele chama-
beatificação do Cardeal John Henry as suas intuições e experiências. A con- nos em causa e opõe-se à nossa preguiça,
Newman. Por que motivo foi cepção que Newman tem da consciência é mas é precisamente assim que nos abre a

«
beatificado? Que tem ele a dizer-nos? A diametralmente oposta. Para ele, estrada para a verdadeira alegria.
estas perguntas podem-se dar muitas «consciência» significa a capacidade de
respostas, que foram desenvolvidas no verdade do homem: a capacidade de Excita, Domine, potentiam tuam
contexto da beatificação. Quero destacar reconhecer, precisamente nos âmbitos et veni». Começámos pela
apenas dois aspectos que estão interligados decisivos da sua existência – religião e invocação da presença da força
e, no fim de contas, exprimem a mesma coi- moral –, uma verdade, a verdade. E, com de Deus no nosso tempo e pela experiência
sa. O primeiro é que devemos aprender das isto, a consciência, a capacidade do homem da sua aparente ausência. Se abrirmos os
três conversões de Newman, porque são de reconhecer a verdade, impõe-lhe, ao nossos olhos, precisamente com um olhar
passos de um caminho espiritual que nos mesmo tempo, o dever de se encaminhar retrospectivo sobre o ano que caminha para
interessa a todos. Aqui desejo pôr em evi- para a verdade, procurá-la e submeter-se a o seu termo, é possível ver que a força e a
dência apenas a primeira: a conversão à fé ela onde quer que a encontre. Consciência é bondade de Deus estão presentes de varia-
no Deus vivo. Até àquele momento, New- capacidade de verdade e obediência à das maneiras também hoje. Assim todos
man pensava como a média dos homens do verdade, que se mostra ao homem que nós temos motivos para Lhe dar graças.
seu tempo e como a média dos homens procura de coração aberto. O caminho das Com o agradecimento ao Senhor, renovo a
também de hoje, que não excluem pura e conversões de Newman é um caminho da minha gratidão a todos os colaboradores.
simplesmente a existência de Deus, mas consciência: um caminho não da subjectivi- Oxalá Deus nos dê a todos um Santo Natal
consideram-na em todo o caso como algo dade que se afirma, mas, precisamente ao e nos acompanhe com a sua bondade no
incerto, que não tem qualquer função essen- contrário, da obediência à verdade que próximo ano.
cial na própria vida. Como verdadeiramente pouco a pouco se abria para ele. A sua ter-
real apresentava-se-lhe, a ele como aos ho- ceira conversão, a conversão ao Catolicis-
Confio estes votos à intercessão da Vigem
mens do seu e do nosso tempo, o empírico, mo, exigia-lhe o abandono de quase tudo o Santa, Mãe do Redentor, e de coração
aquilo que se pode materialmente agarrar. que lhe era caro e precioso: os seus haveres concedo a todos vós e à grande família da
Esta é a «realidade» segundo a qual nos ori- e a sua profissão, o seu grau académico, os
Cúria Romana a Bênção Apostólica. Feliz
entamos. O «real» é aquilo que se pode laços familiares e muitos amigos. A renún-
Natal!
agarrar, são as coisas que se podem calcular cia que a obediência à verdade, a sua cons-
e pegar na mão. Na sua conversão, New- ciência, lhe pedia, ia mais além ainda. New-

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