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Gráfica
Conjunto de linguagens gráficas não-verbais e não-seqüenciais de pretensão
cognitiva, que produz figuras. Especialmente: linguagens que permitem representar os
espaços por objetos analogicamente espaciais, entre os quais a carta.
A gráfica se define como a „parte racional do mundo das imagens‟ (Bertin, 1967).
A gráfica se fez conhecer por meio de algumas obras... O nome (a gráfica) assim como
o adjetivo (representação gráfica, construção gráfica) ou o sufixo – gráfica (que serve
para formar os adjetivos – topográfico, geográfico) viram seus sentidos ser
multiplicados mesmo se restringirmos o uso do termo para o domínio das
representações. Nascido de graphein („eu escrevo‟), a palavra „gráfica‟, empregada
como nome feminino, designa uma disciplina que engloba tudo o que se exprime com a
ajuda de uma figura (curvas, redes, diagramas, cartas) e que faz apelo à linguagem
visual. Ela é um instrumento de tratamento de informação que utiliza a percepção
visual e o raciocínio lógico para comunicar. No final do século XIX, alguns teóricos
(Cheysson, Levasseur, Vauthier, etc) estabeleceram suas premissas. Assim, para
Cheysson (1880), a gráfica, língua universal, fala a todos com rapidez e exatidão: „os
procedimentos gráficos, unidos por vezes à noção de geografia, permitem não somente
abarcar com um só golpe de olho uma série de fenômenos, mais ainda, assinalar as
relações ou as analogias, encontrar as causas, desobrigar a lei.‟ (citado por Palsky,
1996, p. 249). No entanto, será preciso esperar quase um século para que Jacques
Bertin e sua equipe estabelecessem as regras e as leis do sistema de signos que
permitem construir uma imagem para ver, um desenho útil que dê uma resposta rápida
às questões que o leitor se põe. „Utilizar da melhor maneira possível essa potência
considerável da visão, num quadro de raciocínio lógico, tal é o objeto da gráfica, nível
monossêmico da percepção visual.‟ (Bertin, 1967). Esse sistema de percepção que se
endereça ao olhar dispõe de três variáveis sensíveis: a variação das manchas e as
duas dimensões do plano. As relações entre as três variáveis implicam, a fim de que a
mensagem passe no instante mínimo da visão, na abordagem que segue:
1. A análise da informação;
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3. Enfim, a visualização dessas informações com a ajuda de seis variáveis visuais (ou
retinianas) que são, para as informações diferenciais ou de separação, a forma, a
orientação, a granulação e a cor e, para as informações ordenadas, o valor e o
tamanho.
Esse conjunto que constitui os meios do sistema gráfico está sujeito ao conjunto
de regras da semiologia gráfica (Bertin, 1967).
Nesse processo, a gráfica ocupa um lugar central (no sentido primeiro do termo)
entre, a montante, a problemática necessária a toda pesquisa e, a abaixo, a explicação
e a interpretação que estão freqüentemente de par com a força do texto escrito e do
discurso, formas que tem mais impacto junto ao público. O texto vem, com efeito, não
somente explicitar a mensagem fornecida pela imagem, mais igualmente vai bem
freqüentemente além propondo outras chaves de leitura mais finas e diversificadas,
situação em que a imagem sozinha não pode dar conta.
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LÉVY, Jacques. Euclidien (Espace). In: LÉVY, Jacques; LUSSAULT, Michel (Org.).
Dictionnaire de la Géographie et de l’espace des sociétés. Paris: Belin, 2003. p. 351.
Tradução de trabalho de Fernanda Padovesi Fonseca e Jaime Tadeu Oliva
Euclidiano (Espaço)
Numa definição restrita, o espaço euclidiano é aquele construído segundo uma
métrica euclidiana, tendo como referência a geometria concebida pelo grego da Sicília
Euclides (450-380 a.C). Esse espaço supõe a continuidade (nada de lacuna) e a
contigüidade (nada de ruptura), mas também a uniformidade (métrica constante em
todo ponto). É um caso particular do que em matemática denomina-se como “espaço
métrico”.
Cartografia
“‟Cartografia‟ é um neologismo nascido no fim do século XIX para designar a
ciência que estuda e realiza as cartas geográficas. Com o passar do tempo, outras
significações emergiram e a cartografia também se tornou:
que, por sua vez, é „espacializado‟ com relação a eles. Isso se traduz pela utilização de
algumas convenções construtivas, incorporadas nos habitus cartográficos:
a atividade cognitiva) é crucial: trata-se de um ator social que apela à carta para dela
extrair as informações que lhe permitirão perseguir seus objetivos. Com efeito, a
interpretação da carta é um momento de ação espacial que prefigura as estratégias de
produção, de utilização e de mediação do espaço. Por essa razão, ela é não somente
um instrumento importante de apropriação intelectual do espaço, mas também uma
parte integrante desse processo: é um sistema ordenador, é um viés, pelo qual a
sociedade se liga ao mundo.
A cartografia aparece então como o produto de uma cultura que torna ela
mesma (a cartografia) em cultura. Ela se liga ao potencial cognitivo de uma sociedade
em particular para qual ela traz suas capacidades de fixar e difundir os saberes
geográficos de todo tipo (saberes militares, legendários – mitológicos, ideológicos,
políticos, etc.). Ela se impõe enquanto meio de comunicação autônomo, instrumento de
interpretação do mundo no interior do dispositivo de controle da sociedade que a
produz.”
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LÉVY, Jacques. Carte. In: LÉVY, Jacques ; LUSSAULT, Michel (Org.). Dictionnaire de la
Géographie et de l’espace des sociétes. Paris: Belin, 2003. p. 128-132. Tradução de
trabalho de Fernanda Padovesi Fonseca e Jaime Tadeu Oliva
Mapa (Carta)1
Representação fundada com base numa linguagem caracterizada pela construção de uma
imagem analógica de um espaço.
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Nessa tradução optou pela tradução do francês Carte por Mapa.
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Componente não espacial de uma configuração espacial. Segundo Jacques Lévy com a escala e a
métrica a substância constitui o terceiro componente de toda configuração espacial elementar. É um não
espacial por construção das outras disciplinas, por exemplo: economia, sociologia, ciência política etc.
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Vistas das cidades romanas.
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Esse segundo aspecto pode ser considerado como independente do primeiro, pois já
presente entre os Gregos. Com seu “diafragma” (oeste-leste) e sua “perpendicular”
(norte-sul) se cruzando em Roma, Dicearco4 deu corpo, independentemente dos
conhecimentos concretos do planeta, às idéias de latitude e longitude, elaboração
continuada durante os cinco séculos seguintes por Erastóstenes, Hiparco e Ptlomeu
até se chegar a um esboço de uma cartografia geométrica em relação à qual pode-
se considerar Mercator (aliás Gerhard Kremer, 1512-1594) como o continuador
principal.
Haveria uma especificidade européia na antecipação dos espaços ainda não
explorados, no ato de domesticar o desconhecido somente pelo seu poder de medir
(de medida)? De fato, durante uma longa parte da história ocidental da cartografia
se misturaram conhecimento verificáveis e mitos: reconhece-se o papel produtivo
desses diferentes tipos de ilusões geográficas e cartográficas na descoberta da
América pelos Europeus. Durante ainda vários séculos, a pesquisa de um continente
austral capaz de equilibrar o hemisfério Norte prosseguirá até a eliminação
experimental, no fim do século XIX, de numerosas hipóteses mais ou menos fantasiosas.
A singularidade européia não diz respeito tanto a uma capacidade intelectual fora do
comum (encontram-se competências comparáveis nas mesmas épocas no mundo
árabe e na China), mas sim à possibilidade de se confrontar representações
intelectuais e de exploração do mundo. Ora, essa experiência não é unicamente de
natureza cognitiva. Ela é, num aspecto decisivo, a conseqüência de uma prática do
salto de escala ligado à geopolítica européia: além da gestão dos territórios
controlados de modo durável pelos Estados, o Kriegspiel torna possível um contato
violento com a alteridade e aproxima espaços concretos, materiais ou ideais,
daqueles do mapa.
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Historiador, geógrafo e mitógrafo grego de Messina (Messena), Sicília, (347-285 a. C) que fez
profundas modificações na geografia de Anaximandro e Hecateu. Foi um ocidental, primeiramente
influenciado pelo pitagorismo, passando depois ao círculo peripatético... Criou um planisfério em que a
posição de cada região geográfica era estabelecida em relação a distância que a separava de uma linha
imaginária orientada de leste para oeste, chamada de diafragma.
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sistemático, topográfico” que se constituiu num artefato completo, é uma pura ilusão
de transparência que seria bem pueril, se ela não tivesse tido “efeitos de realidade”
não negligenciáveis em matéria de geopolítica. Na história da Geografia, esse
artefato serviu de recurso para o empirismo e para a recusa de uma reflexão sobre o
objeto e os métodos da pesquisa. A mapa “geral”, de fato mapa topográfico,
pensado para um uso militar, significou um inesperado efeito epistemológico, o qual se
apossou de uma disciplina muito feliz de encontrar, com o mapa, um “curto-circuito”
confortável entre o real e o pensado.
Entretanto, se o mapa não é o espaço, um mapa é realmente um espaço.
Pode-se, seguramente, tratá-lo como um simples quadro (tabela) de dados, ou como
um simples cruzamento entre coordenadas terrestres e uma outra informação
(toponímia, cotas hipsométricas ou “batimétricas”) e com isso se afastar do mapa
para fazer uma charte (em inglês, o uso da palavra carta foi mantido para as cartas
náuticas). Se, ao contrário, se assume a leitura espacial, quer dizer, instantânea e
global do mapa, isso se torna ipso facto um modelo gráfico, emitindo uma mensagem
fortemente restrita pelas condições de sua recepção. Desde que se reconheça nos
universos ideais a mesma legitimidade que os universos materiais para se tornar não
apenas uma fonte de informação, mas também, simplesmente, um objeto a se
conhecer, a mapa torna-se um “terreno” entre outros para o geógrafo.
Por sua característica espacial os mapas apresentam uma ordem linguageira
(de linguagem) que enriquece e desarruma o universo habitual dos “enunciados” com
objetivo científico. De um lado, eles organizam uma coexistência de elementos que
poderiam se apresentar de maneira dispersa numa exposição verbal, o que os impele
à coerência (uma coespacialidade). De outro lado, eles impõem uma concisão da
mensagem em seu propósito e uma ditadura do instante na leitura, mas se prestam
aos deslizamentos de sentidos, assim como com as outras imagens, pela falta de
apoios sistemáticos e sem limite de quantidade, que é que permite a linguagem
verbal. A supressão de “ruídos” visuais permite evitar os “efeitos secundários” sobre a
mensagem de informações acessórias. O recurso aos contornos “generalizados” (quer
dizer, simplificados) aparece legitimado já que ele contribui para que se concentre o
olhar do leitor sobre o essencial mas, se se vai muito longe em outro sentido, a escolha
de formas geométricas muito simples, de significações culturais fortes, pode criar novas
interferências e efeitos indesejáveis; esse é um dos paradoxos da elaboração
coremática em modelização cartográfica.
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Isomorfismo entre duas figuras.
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das matemáticas fora de geometria euclidiana podem aqui ser preciosos. Pode-se
assim considerar a Terra não mais como um espaço em três dimensões, mas como
uma superfície curva, para o que a cartografia não é nem um pouco desarmada.
Mas genericamente, o espaço mundial (o geográfico, o social) põe a questão de sua
organização e, as maneiras pelas quais o mapa pode dar conta dessa organização
são múltiplas e para isso, deve se centrar a reflexão sobre as regras de base da
construção do mapa. É nesse contexto, vamos ver, que se encontra um dos campos
contemporâneos da renovação da cartografia.
Profusão, crise e renovação do mapa: o mapa serviu (tem sido de muita utilidade)
como auxiliar de várias atividades humanas com forte componente espacial: a
exploração, a guerra, o controle estatal e, mais recentemente, a escolha de
implantações de empresas ou os passeios. Os mapas são multiplicados com tanto mais
de facilidade quando os problemas técnicos da coleta de dados e de seu tratamento
conheceram solução novas e satisfatórias, graças à estatística, ao sensoriamento
remoto e à informática. O sistema de informação geográfica (SIG) consagra o sucesso
técnico de uma cartografia em proliferação embora dissociada do suporte do papel.
Contudo, vê-se projetar uma certa crise do mapa, segundo um quádruplo ponto de
vista.
1. Como toda linguagem, o mapa pode servir para transmitir ideologias implícitas, e
até para instrumentalizar seu leitor. De onde uma crítica, primeiramente tímida,
depois mais e mais dura aos métodos fraudulentos de conduzir a convicção,
obtida com a ajuda de um mapa (lá onde o texto teria fracassado), explorando as
características próprias da leitura do mapa (sincronismo e limitação do volume de
mensagem) para jogar com o irracional. É notadamente o caso em matéria de
geopolítica e de planejamento do espaço.
2. O mapa não é sempre utilizado de maneira universal pois o esforço de
aprendizagem de suas linguagens permanece considerado como desproporcional
com respeito às suas contribuições. O acréscimo de mobilidades não se traduz por
uma expansão proporcional do uso do mapa.
3. O mapa parece mais e mais substituível por outras técnicas como os dispositivos de
localização que integram um GPS (Global Positioning System, sistema de
localização planetário), que difundem informações precisas que lhe demandam e
descarta a passagem por um documento, ao menos parcialmente, independente
do uso que será feito.
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Em Madaba, antiga cidade bizantina na atual Jordânia, encontra-se o antigo mosaico colorido do mapa
da Terra Santa (do Líbano até o Egito), numa igreja ortodoxa.
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Anamorfose
Procedimento que permite dar a uma carta, ou mais precisamente, ao fundo da
carta uma métrica diferente da euclidiana. Uma tal carta é denominada cartograma.
Será preciso um pouco mais de tempo para a cartografia para fazer a prova de
uma tal reflexidade. O tabu da métrica euclidiana não pode ser transposto a não ser
tardiamente e com muita dificuldade, apenas na segunda metade do século XX graças
notadamente aos trabalhos de Waldo Tobler, que dará uma base matemática sólida às
construções cartográficas não-estandartes. A anamorfose permite sair da ditadura da
“superfície vazia”. Essa ditadura faz dos objetos geográficos mais importantes, entre os
quais as cidades, ocuparem freqüentemente um lugar muito limitado na carta por causa
de sua densidade, que é justamente uma de suas características significativas.
Tratando as superfícies de fundo de carta como entidades sensíveis às realidades a
serem representadas, sai-se de um impasse. A extensão deixa de ser um componente
intangível da carta e em entra em diálogo com a temática escolhida.
o fundo euclidiano como referência única) mais de uma construção – assim como toda
carta o é.
LUSSAULT, Michel. Image. In: LÉVY, Jacques; LUSSAULT, Michel (Org.). Dictionnaire de la
Géographie et de l’espace des sociétes. Paris: Belin, 2003. p. 485-489. Tradução de trabalho
de Fernanda Padovesi Fonseca e Jaime Tadeu Oliva
Imagem
No sentido etimológico original, reprodução inversa que uma superfície polida dá
de um objeto que ali se refletiu. Por extensão, sistema de signos não-verbais que
representa alguma coisa. De maneira mais abrangente, sistema de signos
mediatizando a relação indivíduo-ator com o mundo.
Por extensão, é imagem toda representação visual, quer ela seja material ou
mental e quer ela se refira a uma realidade objetal concreta do mundo físico ou a uma
idealidade abstrata. Uma tal abertura impeliu os pesquisadores a ultrapassar a postura
clássica da “imagerie” e da iconografia fixa ou móvel ao abordar todos os dispositivos
visuais – que incluem, por exemplo, a paisagem, a cenografia, as instalações diversas,
enfim toda coisa estruturada “olhável”. Trata-se da expressão de uma vontade de
romper com o que muitos desses especialistas nomeiam como uma epistemologia anti-
visualista dominada pelo paradigma do texto que teria reinado incontestável desde
Platão na cultura letrada ocidental (e, mais particularmente na cultura e nas ciências
sociais “continentais”). Barbara Stafford, partindo da constatação da inflação de
imagens no mundo contemporâneo, sintetizava essa desvalorização por uma eficaz
fórmula: “It‟s raining images outside, but we are locked indoors” (Stafford, 1996, p. 87)
{“Chovem imagens lá fora, mas nós estávamos fechados aqui dentro”}
Não se pode compartilhar essa idéia sem reservas, pois sempre houve, na
França, notadamente, uma tradição de abordagens visualistas nas ciências artísticas,
em semiótica, em filosofia, em história. Entretanto, a formalização do campo do visual é
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Bertin), algo assim será permanecer no interior de uma concepção positivista. Trata-se,
sobretudo de compreender a cartografia numa perspectiva de reconhecimento do
princípio da construção da realidade social. A realidade dos objetos da sociedade não é
dada, porém construída e reconstruída e a imagem espacial em geral (e a cartografia
em particular) é instituinte dessa realidade que ela contribui para definir e para
configurar.
publicitários, aquela das mídias etc., mas uma diferença de registros – o sucesso e a
eficácia dos documentos visuais, seu valor pragmático, parece ter três “poderes”
essenciais:
A “imagerie” não seria ponto faccioso como a linguagem porque ela não encobre
nada, ela exporia a integralidade do objeto representado, sem os travestimentos da
frase, do estilo, dos subentendidos e os sentidos múltiplos das palavras; pura forma
denotativa, ele proscreveria os elementos turvos da conotação. Eis, exposta
brevemente, uma doxa (opinião) poderosa. Enquanto o discurso é atingido pelo selo da
subjetividade do enunciador e do fato de não se constituir como mais que uma opinião
(um viés), mais ou menos autorizada, certamente, mas sempre percebida como
contingente da pessoa e de seus interesses, o ícone, por sua vez, possui um
enunciador anônimo – e mesmo transparente até parecer ausente – exporia a verdade
do ponto de vista incontestável (“as linhas tortas de Deus”) [aquele do “Deus Voyeur”
analisado por Michel de Certeau] que transcende todas as opiniões.
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Não é esse o fundo da crença que pode explicar o “papel de verdade” que os
geógrafos atribuem às imagens no discurso científico? E isso até fazendo da gráfica
algo análogo à linguagem formal dos matemáticos, apta à exprimir claramente as leis
universais do espaço {como por exemplo} no quadro da geografia coremática
desenvolvida na França entorno de Roger Brunet.
As representações gráficas são dadas por fiáveis; a maior parte dos atores lhe
reconhece esse status, tem confiança nelas. Se bem que elas possam ser contestadas,
elas são, entretanto, sempre “aplainadas” nas provas, sempre mostradas como médias
da verdade, é por isso que a crítica se liga ao conteúdo representado (e não ao status
epistemológico e à função política e social da representação) objeto sempre legítimo
em seu princípio.
B. Relação com o mundo: pode-se dar a palavra imagem um sentido mais largo, sem
lhe reduzir ao domínio do visual, o que não é uma posição necessariamente aceita por
todos os pesquisadores. A imagem torna-se então sinônimo da representação, que
pode tomar formas muito diversas: texto escrito, falas, ícones, “imagerie” animada,
dispositivos visíveis... A definição da representação que convém a essa expansão do
domínio da imagem se encontra em Louis Marin, para quem ela é “a enunciação
poderosa de uma ausência” (Marin, 1993, 10); ela apresenta uma coisa que não está lá
– e na origem ela atenua a ausência daquilo que a corrupção do tempo teria feito
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desaparecer, para vir, por extensão, manifestar a presença de tudo isso que se furta ao
aqui e agora, sejam quais forem os motivos para isso. Ao mesmo tempo, ela exibe seu
próprio status de enunciado representativo, o que permite ao espectador e/ou ao leitor
de se constituir em sujeito-observador (no sentido de olhar) e ou/leitor.
LÉVY, Jacques. Échelle. In: LÉVY, Jacques ; LUSSAULT, Michel (Org.). Dictionnaire de la
Géographie et de l’espace des sociétes. Paris: Belin, 2003. p. 284-288. Tradução de trabalho
de Fernanda Padovesi Fonseca e Jaime Tadeu Oliva
Escala
São três sentidos: 1. Relação de tamanho entre realidades; 2. Relação de
tamanho entre realidades geográficas; 3. Em cartografia, relação de redução entre o
referente („terreno‟) e o referido („carta‟).
A escala cartográfica é uma noção fundamentalmente diferente dos outros dois
sentidos. Embora se apoie sobre uma metáfora utilizando o mesmo objeto concreto e,
em conseqüência, embora se exprimindo pelo mesmo termo em numerosas
linguagens, as duas são fundamentalmente diferentes. Seja quando se trata de uma
classificação hierárquica entre realidades tendo uma existência independente da ação
de conhecer; seja quando é questão de medir uma transformação efetuada pela
linguagem cartográfica e de confrontar um referente e um referido.
Uma tal simplicidade leva facilmente à adesão; entretanto nota-se que essa
fórmula não serve a não ser para os comprimentos, onde a medida (rotas terrestres ou
marítimas, linhas de artilharia...) constituíram, ao longo do tempo, um uso importante
das cartas. Se se passa para as superfícies, a proporção será igual ao quadrado da
escala nominal. Para uma carta 1/100.000 (1 cm para 1 km), a relação de superfícies
será portanto 1/10.000.000.000: há dez bilhões de cm2 num km2. Um tal deslocamento
pode ter por efeito atuar contra a intuição, por meio de uma leitura que justamente
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pensar que se trata sobretudo de uma ideologia profissional (corporativa), que consiste
em legitimar por um controle de uma linguagem técnica e esotérica uma posição
institucional. Do ponto de vista do conhecimento, essa atitude é, de um modo geral,
insustentável. Pode-se representar um pequeno espaço sobre uma carta de pequena
escala e um grande numa carta de grande escala: basta fazer variar o recorte do papel
ou da tela. É preciso, portanto, ter clareza, sobre esse ponto: a escala cartográfica e a
escala geográfica são duas noções distintas e que não devem em nenhum caso ser
confundidas. Além disso, a confusão entre real e representação nos deve inquietar.
Essa concepção poderá parecer furiosamente pós-moderna se não se constata, mais
prosaicamente, que ela “trai” (“ataca”) uma dificuldade persistente em geografia, que é
pensar o objeto como objeto e as ferramentas como ferramentas.