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THE SOCIAL OBSERVATORY OF BRAZIL AND THE ORGANIZATIONAL CHALLENGES OF SOCIAL ACCOUNTABILITY
EL OBSERVATORIO SOCIAL DEL BRASIL Y LOS DESAFÍOS ORGANIZACIONALES DEL ACCOUNTABILITY SOCIAL
RESUMO
Este estudo de caso visa a interpretar as representações sociais que caracterizam o Observatório Social do Brasil, sua identidade,
seus desafios e perspectivas organizacionais, na coordenação da Rede OSB de controle social. Para legitimar sua atuação, a orga-
nização viabiliza parcerias e adota uma postura de isenção partidária, preservação da imagem do agente público, profissionalização e
padronização de procedimentos. Seus principais desafios e/ou perspectivas podem ser mais bem compreendidos considerando suas
ambiguidades e complementariedades, ou seja, à luz do pensamento complexo, na abordagem aqui adotada. Para a análise realizada,
as representações sociais foram agrupadas conforme três aspectos que tipificam o engajamento em accountability social: estratégia,
organização e contexto. A representação social (RS) de negação da política partidária torna complexa a construção, a longo prazo, de
pontes duradouras entre sociedade e Estado para a coprodução do bem público controle e evidencia a dificuldade de a própria socie-
dade organizada construir pontes entre si.
PALAVRAS-CHAVE: Accountability, identidade organizacional, representações sociais, complexidade, coprodução do bem público.
1
Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União, Florianópolis, SC, Brasil
2
Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Ciências da Administração, Florianópolis, SC, Brasil
DOI: http://dx.doi.org/10.12660/cgpc.v23n75.73946
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 23, n. 75, maio/ago. 2018, 215-234
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ABSTRACT
This case study aims at interpreting the social representations that characterize the Social Observa-
tory of Brazil, its identity, organizational challenges and perspectives, under the coordination of Rede
OSB of social accountability. To legitimize its performance, the organization enables partnerships and
adopts a stance of political-party exemption, preservation of the public agent’s image, professionaliza-
tion and standardization of procedures. Its main challenges and / or perspectives can be better under-
stood considering its ambiguities and complementarities, that is, in the light of complex thinking, in the
approach adopted here. For this analysis, the social representations were grouped according to three
aspects that typify the engagement in social accountability: strategy, organization and context. The
social representation of denial of political parties makes complex the long-term construction of lasting
bridges between Society and State for the co-production of the public good, and shows the difficulty
of the organized Society itself to build bridges.
KEYWORDS: Accountability, organizational identity, social representations, complexity, co-production
of public good.
RESUMEN
Este estudio de caso pretende interpretar las representaciones sociales que caracterizan al Observa-
torio Social de Brasil, su identidad, desafíos y perspectivas organizacionales, en la coordinación de
la Red OSB de accountability social. Para legitimar su actuación, la organización viabiliza alianzas y
adopta una postura de exención partidaria, preservación de la imagen del agente público, profesion-
alización y estandarización de procedimientos. Sus principales desafíos y/o perspectivas pueden ser
mejor comprendidos considerando sus ambigüedades y complementariedades, es decir, a la luz del
pensamiento complejo, en el abordaje aquí adoptado. Para el análisis realizado, las representaciones
sociales fueron agrupadas según tres aspectos que tipifican el compromiso en accountability social:
estrategia, organización y contexto. La representación social de negación de la política partidaria
hace compleja la construcción a largo plazo de puentes duraderos entre Sociedad y Estado para la
coproducción del bien público control y evidencia la dificultad de la propia Sociedad organizada de
construir puentes entre sí.
PALABRAS CLAVE: Rendición de cuentas, identidad organizacional, representaciones sociales, com-
plejidad, coproducción del bien público.
um modelo padronizado de trabalho aos ob- tempo causa e efeito, expressa uma mudan-
servatórios filiados. Estatutariamente, a dire- ça de postura e também contribui para ge-
toria e os conselhos do OSB são compostos rar mais mudanças. O Observatório Social
por representantes de OS, ou seja, o OSB é expressão e, ao mesmo tempo, parte do
representa a Rede OSB em termos institu- fenômeno do controle estatal realizado por
cionais. meio de organizações sociais.
O OSB estima que em quatro anos (2013- O próprio slogan da rede indica essa mu-
2016) tenha havido “uma economia de mais dança: “Indignar-se é importante. Mas ati-
de R$ 1,5 bilhão para os cofres municipais” tude é fundamental” (2017b). O voluntário
(OSB, 2017a). A metodologia de cálculo des- admite que apenas o discurso não é sufi-
se valor, porém, é controversa entre os pró- ciente para mudar a realidade; é preciso agir
prios voluntários. Existem economias quan- efetivamente. Mas quais as características
tificáveis, mas há aquelas cujos resultados desse fenômeno social organizado? Como
estendem-se para além da ação do observa- a rede constrói sua credibilidade? Que va-
tório, como ganhos decorrentes do aumento lores e sentimentos os voluntários comparti-
de participantes em licitações, melhorias em lham ao construir sua realidade social e sua
procedimentos gerenciais, avanços políticos identidade organizacional? Que desafios e
junto ao Legislativo e ações de educação perspectivas emergem no OSB, como coor-
para a cidadania. denador da rede?
Na prática, cada OS tem suas peculiarida- Este trabalho aborda o controle social sob
des e desafios, o que faz variarem sobrema- uma perspectiva organizacional, tendo como
neira suas linhas de atuação: alguns fiscali- objeto a entidade OSB. Além de análise do-
zam somente a prefeitura, outros priorizam cumental, para aprofundar a investigação
o Legislativo e só parte deles consegue sobre uma organização que, por sua natu-
fazer as duas coisas. Enquanto a maioria reza, é composta por outras, optou-se por
monitora somente os editais de compras e realizar entrevistas levando em conta pers-
contratações, poucos conseguem acompa- pectivas externas, divergentes e/ou com-
nhar a folha de pagamento, que geralmente plementares sobre o OSB, coerente com a
ultrapassa 50% do orçamento municipal. E abordagem do pensamento complexo aqui
mesmo com o crescimento da rede, emer- adotada (Morin, 1991; 1998; 2015).
gem conflitos pessoais e divergências or-
ganizacionais não identificadas por grande Essa contextualização permite elaborar a
parte dos observatórios, nem pela mídia, a questão de pesquisa: Quais representações
sociedade em geral ou os agentes públicos sociais caracterizam o Observatório Social
que interagem com a rede. do Brasil, sua identidade, seus desafios e
perspectivas organizacionais, na coorde-
O fenômeno dos OS transforma a postura nação da Rede de Observatórios munici-
da sociedade frente à realidade: da inação e pais de controle social? Para responder a
passividade à ação concreta, que traz resul- esta pergunta, o trabalho tem como objetivo
tados consistentes. Isso porque é ao mesmo identificar e interpretar as representações
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sociais que caracterizam o OSB, sua iden- e credibilidade visam a garantir mantenedo-
tidade, seus desafios e perspectivas orga- res, facilitar o acesso a informações públicas
nizacionais, na coordenação da Rede OSB. e aumentar a respeitabilidade que viabiliza
parcerias em diversas instâncias.
A compreensão do fenômeno do controle so-
cial realizado por organizações constituídas Os observatórios buscam ser representantes
especificamente para esta finalidade pode legítimos da sociedade local, ainda que não
contribuir com os estudos sobre o tema, se articulem com segmentos sociais mui-
com o aperfeiçoamento de iniciativas simila- to variados. Todas essas questões afetam
res da sociedade civil e de políticas públicas a identidade dessa rede em expansão, e a
de fomento à participação e accountability. compreensão das RS permite ir além dos
O portal da rede contém a “Carta de Identi- registros formais e documentos oficiais, que
dade dos OS” (OSB, 2017a), elaborada no não traduzem a realidade empírica das orga-
1o. Encontro Nacional por 49 Observatórios nizações.
(1o. ENOS, 2012), que definiu princípios e
objetivos, como o apartidarismo e a veda- REFERENCIAL TEÓRICO
ção ao recebimento de recursos de órgãos
públicos fiscalizados. Contudo, sua identi- A fundamentação deste trabalho parte do
dade organizacional (Etkin & Schvarstein, paradigma da complexidade, ou pensamen-
2005) não tem sido investigada, no “melhor to complexo, proposto por Edgar Morin, se-
entendimento de sua complexidade e sua guida de uma breve revisão sobre represen-
utilização mais abrangente na análise orga- tações sociais. Em seguida, são delimitados
nizacional” (Wood & Caldas, 1997). os conceitos de controle social, accountabili-
ty e coprodução do bem público, no contexto
As pesquisas sobre a rede não abordam dos estudos sobre a Rede OSB.
as representações sociais (RS) dos volun-
tários, as quais contribuem na forma como Paradigma da complexidade
o conhecimento coletivo é construído e dis-
seminado nessas organizações. Caracteri- O pensamento aberto para a complexidade
zadas pelas interações humanas entre indi- (Morin & Kern, 1995) facilita a compreensão
víduos e grupos (Moscovici, 2015), as RS da interdependência entre atores, proces-
“são sistemas de ideias, valores e práticas sos, sociedade, Estado e organizações, aler-
construídos por grupos sociais, com a du- tando para a necessidade de uma análise
pla função de orientação e de comunicação” permanentemente crítica, visando a evitar o
(Jovchelovitch & Priego-Hernandez, 2013, p. reducionismo, o determinismo, a disjunção e
31). A questão da legitimidade é central para a unilateralidade entre os níveis ou dimen-
o OSB. Segundo Nogueira e Alves (2014, p. sões dos fenômenos individuais, coletivos e
5), “a ação conjunta organizada” entre en- organizacionais que se investigam. Para Mo-
tidades associativas e/ou cooperativas não rin (1998, p. 192):
só dá “mais poder, mas muitas vezes mais
legitimidade para conseguir uma influência O imperativo da complexidade é, também,
externa”. No caso dos OS, essa influência o de pensar de forma organizacional; é o
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Assim, tendo como lente teórica a aborda- Considerando o indivíduo como ator social
gem complexa aqui adotada, pretende-se responsável pela criação e compreensão da
investigar, por meio das representações so- realidade, para Moscovici (2015), o sujeito
ciais, nuances variadas e diversas sobre a precisa ser interpretado enquanto ser social
identidade organizacional, os desafios e as que age, pensa e sofre influências do gru-
perspectivas do OSB. po e da realidade social em que está inse-
rido, mas cuja ação e pensamento ao mes-
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de prestar contas por sua conduta diante São José). Para além da compreensão ver-
de uma responsabilidade assumida perante tical e horizontal (O’Donnell, 1998), os auto-
outrem”. Rocha (2011) aponta diferentes en- res propuseram “uma perspectiva sistêmica
tendimentos de accountability institucional da accountability”, em “quatro categorias:
e social, conforme os modelos de Adminis- política-cultural; valorativa; organização sis-
tração Pública: Administração Burocrática, têmica e produção” (Schommer et al., 2015,
Nova Gestão Pública e Novo Serviço Públi- p. 1376). Assim, fundamentado no pensa-
co (Denhardt & Denhardt, 2003; Denhardt, mento complexo de Morin e a partir da iden-
2012). tificação e interpretação das RS, busca-se
abordar o controle social enquanto fenôme-
O Novo Serviço Público (NSP) pressupõe no socio-organizacional complexo, visando
uma relação cooperativa entre Estado, so- a conhecer a identidade no OSB, seus prin-
ciedade, mercado e demais partes interes- cipais desafios e suas perspectivas.
sadas (stakeholders), baseada no apoio
mútuo, no compartilhamento decisório e no METODOLOGIA
alargamento da compreensão de accoun-
tability. Por ser “complexa, multifacetada e Este estudo de caso qualitativo exploratório,
processual”, a accountability inclui “dimen- descritivo e interpretativo, enquanto “pos-
sões substantivas e instrumentais, técnicas sibilidade de investigação dos fenômenos
e políticas, e depende de diversidade de humanos e sociais” (Godoy, 2006, p. 116),
sujeitos e mecanismos para ser produzida” viabiliza “explorar e entender o significado
(Heidemann, 2009, p. 2). que os indivíduos ou os grupos atribuem a
um problema social ou humano” (Creswell,
Doin et al. (2012) evidenciaram a coprodu- 2010, p. 26).
ção da informação e do controle pelos OS,
ocasionando a interação entre os mecanis- A escolha do OSB como caso para estudo
mos de accountability para além da metá- levou em conta que essa organização repre-
fora geométrica horizontal-vertical, em uma senta a Rede de Observatórios Sociais, por-
perspectiva sistêmica, com “múltiplas inte- tanto investigar a identidade, os desafios e
rações dos mecanismos de controle institu- as perspectivas do OSB significa, em certa
cional e de controle social e seus agentes, medida, investigar esses aspectos da Rede
influenciando-se mutuamente, demandando OSB em geral, e de cada OS em particular.
e produzindo informações e estabelecendo Além disso, embora a rede esteja em fran-
a coprodução do bem público controle” (p. ca expansão, emergem conflitos pessoais
8). e divergências organizacionais. A maioria
dos OS catarinenses, por exemplo, tinha o
Schommer et al. (2015) pesquisaram “carac- Observatório Social de São José (OSSJ)
terísticas da coprodução da informação e do como referência; seu vice-presidente atu-
controle sociopolítico sobre a administração al era membro do Conselho Fiscal do OSB
pública nas relações entre OS brasileiros e até 2016. Mas houve um rompimento entre o
órgãos estatais de controle”, analisando 20 OSB e o OSSJ, que não está mais na rede
OS e três em particular (Maringá, Itajaí e desde janeiro de 2017 (OSB, 2017b). Esses
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Este artigo aborda uma rede de organiza- Buscou-se uma diversidade de perfis, visan-
ções sociais em expansão e sua identidade do a abordar controvérsias, captar diferentes
em construção. São entidades autônomas percepções e pontos de vista, coerentemen-
espalhadas por diversos Estados e que ten- te com a fundamentação teórico-epistemoló-
tam seguir uma metodologia padronizada. gica desta pesquisa. Assim, no período de
Mas cada OS é único, com peculiaridades 01/08/2017 a 03/10/3017, foram entrevistados
derivadas de suas diferentes linhas de atua- quatro voluntários do OSSJ, quatro do OSB
ção e da personalidade da liderança do res- (três presidentes de OS de SC e um do Pa-
pectivo OS. Esta investigação sobre as RS raná) e um contratado do OSB, conforme re-
características de organizações de contro- sumido no Quadro 1 e como segue:
le social tem a entidade OSB como objeto - 1 contratado do OSB, experiente em en-
principal, mas leva em conta as percepções tidades empresariais e voluntariado;
de voluntários de um OS que não faz mais - 2 empresários das áreas de indústria e
parte da rede, visando a abordar a temática comércio;
numa ótica organizacional complexa e mul- - 1 empresário e profissional liberal de
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tade estava em cidades desse porte, sendo conceitos e expressões, conforme resumido
que mais de 70% deles estão em cidades na Tabela 1. Essas RS identificam a organi-
entre 50 mil e 500 mil habitantes. zação OSB, em específico, os Observatórios
Sociais e a Rede OSB, hipótese de genera-
À luz dos pressupostos adotados, a inter- lização limitada, visto que se priorizou a pro-
pretação realizada permitiu classificar as fundidade da pesquisa e o peso dos cargos
RS identificadas em 16 grupos, somando ocupados pelos pesquisados, em vez de um
448 registros brutos que indicam padrões de número representativo de entrevistas.
Qt. Regis-
Prisma Grupos de Repres. Sociais
tros
Observatório Social do Brasil 19
Rede OSB 11
Observatório Social 27
RS Sobre Estratégia (*) 20
Identidade e Estratégia Organizacional (*) Resultados do OS 32
Identidade (*) 50
Representatividade 8
Responsabilidade Social 14
Controle Social 23
RS Sobre as
Voluntariado 38
Relações de Coprodução
Corrupção e Ineficiência Pública 50
Sociedade-Estado
Política e Apartidarismo 39
Receptividade ao OS 21
RS Sobre as Conflitos 26
Interações Sociais (Indivíduos e Grupos) Desafios/Riscos/Ameaças 30
Críticas e controvérsias 40
Total de registros - conceitos e expressões 448
(*) Os termos Estratégia e Identidade foram utilizados para nominar grupos específicos de RS identificados. Po-
rém, outros grupos também representam aspectos de Identidade e Estratégia organizacional. Dessa forma, os
termos foram adotados também para definição de um dos prismas, em sentido amplo, englobando oito grupos.
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como entidade representativa dos OS”, “uma aos observatórios que estão com dificulda-
federação”, mas precisa que “estejam fortes”, des” (E1), auxiliar na estabilização dos OS
“ajudá-los para ser ajudado” (E1); já existentes, sob risco de um OS inativo ser
usado como “atestado de honestidade” (E1)
- Credibilidade: a participação não é isen- pelo gestor local. “Precisa carregar essa
ta de riscos: até onde vai a supremacia do cruz, já que se dispõe a isso” (E8). “Tem OS
controle social? O cidadão pode tudo em que me parece que é uma ou duas pessoas.
nome de um OS? Pode impor sua posição Não tem captação de recursos, não tem um
ao gestor? Limites da liberdade de opinião escritório” (E8). “Dos 100 ou 120 que nós te-
do cidadão, no espaço público representado mos, existe um grande número de observa-
pelo OS, em contraposição à presunção de tórios que foram fundados e nunca entraram
boa-fé e ao direito de defesa do gestor; em operação.” Outros “foram criados, chega-
ram a funcionar, mas morreram depois do
- Perfil das lideranças: “o OS é a cara do primeiro, segundo, terceiro ano” (E1);
(…)” (E5, E6, E7, E9), “mas não pode ser”, “é
um risco que infelizmente em algumas cida- - Profissionalização: essencial para legiti-
des nós temos” (E5). A abordagem mais ou mação da rede como forma de garantir tra-
menos colaborativa também “é uma ques- balhos técnicos, imparciais, sua urgência é
tão (…) do perfil de quem está dirigindo o também uma questão de continuidade. Fa-
observatório.” Ou seja, “um gestor com um vretto (2017) identificou que 20% dos 62 OS
olhar mais contábil, vai migrar para essa li- pesquisados não têm funcionários, enquan-
nha, então o resultado vai ser positivo nessa to quase 48% têm apenas uma pessoa e so-
linha.” (...) “Um gestor que tem uma base e mente 3% têm quatro ou mais colaboradores
um perfil mais de mobilização comunitária fixos. “Precisa de pessoal técnico somente
vai atuar mais diretamente no serviço públi- para atender ao OSB”; “não faz sentido os
co, que foi a base dele” (E3); voluntários atuarem” na “área-meio” (E7).
“Precisa profissionalizar porque o voluntário
- Mensuração de resultados: é um desafio não pode ficar largado. Ele despende algu-
para o OSB estabelecer indicadores que mas horas por semana, precisa de alguém
permitam avaliar suas próprias atividades, que vá lá na prefeitura (…), precisa desse
tornando-o mais accountable interna e ex- suporte.” (E6). O OS “tem de ter um gestor,
ternamente, reforçando sua legitimidade tem de captar recursos, tem de ter gestão”
junto aos OS que compõem a rede e con- (E6);
solidando sua credibilidade perante o poder
público e a sociedade em geral. - Voluntariado: “captação, capacitação e re-
tenção de voluntários” é “uma questão críti-
Organização ca na rede como um todo”, o principal “desa-
fio de hoje”, porque “muitas pessoas querem
- Consolidação: mesmo com as expectativas contribuir”, mas “não desenvolvemos experti-
de crescimento, a consolidação da credibili- se para reter talentos” (E5). “Com estagiários
dade da rede e do OSB como entidade co- é mais fácil, já é técnico em uma área” (E7).
ordenadora passa por “aumentar a atenção “A realidade do OS é dinâmica, depende das
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lideranças” e “há um desgaste, porque nem cidade de articulação local, auxiliando cada
sempre conciliam a expertise do voluntário OS por meio das entidades representativas
com a necessidade” do OS (E5); mantenedoras, a maioria delas de abrangên-
cia nacional e com capilaridade municipal.
- Sustentabilidade: um OS “precisa apresen- Mas essas articulações têm sido insuficien-
tar resultados concretos” (E1) para captar tes para obtenção de recursos em várias
recursos e “fidelizar os mantenedores” (E5). localidades. A consolidação das parcerias
Vários OS podem estar “morrendo” por falta pode ser a solução para os desafios de ex-
de estrutura, decorrente da dificuldade de pansão, sustentabilidade financeira e profis-
captação de recursos ou voluntários. O OSB sionalização da rede;
existe “para ajudar os observatórios, ser o
representante nacional junto a órgãos pú- - Política partidária: predomina a descrença
blicos, captar recursos internacionais, (…) na classe política e um preconceito com a
contratar serviços com ganho de escala” política partidária brasileira. “A gente mesmo
(E1). fala isso; quando alguém vem aqui já pensa-
mos ‘qual será o interesse?’ Quer aparecer
Contexto do lado do observatório” (E2). Os voluntários
têm consciência de que “fazer controle social
- Receptividade: “levamos a proposta do é uma forma de fazer política, só não é políti-
OSB à risca, porque senão lá na frente o ca partidária” (E6). Porém, “esse é um campo
observatório acaba se desvirtuando e cami- muito sensível; é pisar em ovos” (E2), pelo
nhando para um lado que não é o aconse- “risco de alguém filiado a um partido fazer
lhado” (E9). Os entrevistados acreditam que ‘propaganda’ de que está no observatório, de
a neutralidade partidária aumenta a recep- que o OS o apoia” (E2). Para a maioria dos
tividade dos gestores ao OS, mas essa re- entrevistados, “o controle social não deve vi-
ceptividade não é uniforme entre as áreas sar a assumir cargos”, ocupar “cadeiras” no
monitoradas nem ao longo do tempo. O de- Legislativo ou no Executivo, porque “não tem
safio do OSB consiste em auxiliar a rede a uma bandeira partidária”; “o controle social
melhorar a receptividade e, ao mesmo tem- deve ter a bandeira do cidadão” (E6). A RS
po, manter a neutralidade que dá credibili- predominante é que “nas prefeituras, nos ór-
dade ao OS, sem tornar-se “chapa-branca” gãos, nas câmaras, a bandeira é do partido,
(E1) nem convalidar tacitamente atos ilícitos (...) do interesse pessoal (…) ou do interesse
de gestores locais. O dilema está em cola- de um grupo, não é o interesse coletivo”, en-
borar, mas criticar e cobrar quando neces- quanto o controle social da rede seria “puro”,
sário, sem perder sua isenção, para que o no sentido de “só ter a bandeira do bem co-
gestor mantenha as portas abertas ao OS e letivo, do bem comum, e não a bandeira de
respeite suas proposições; uma cor partidária” (E6).
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Por fim, a interpretação das RS característi- esta pesquisa pode contribuir com uma pro-
cas do OSB, sob uma perspectiva comple- posta de perfis característicos dos OS, con-
xa, resultou na sistematização de aspectos forme demonstrado no Quadro 2, elaborado
de sua identidade, seus principais desafios a partir das RS sobre o perfil das lideranças
e suas perspectivas organizacionais na co- e sobre controle social, além de outros as-
ordenação da Rede OSB. Nesse sentido, pectos identificados.
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