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Comunicação apresentada no 6o..

Simpósio Paranaense de Educação Musical


Festival de Música de Londrina, 1996

Ecologia sonora: a escuta do rádio como ato de criação

Janete El Haouli

Nesta exposição pretendo colocar algumas reflexões e inquietações com


as quais convivo e trabalho há algum tempo na condição de pesquisadora,
educadora e, principalmente, diretora do programa de rádio “Música Nova –
rádio para ouvidos pensantes”, veiculado semanalmente pela Rádio
Universidade FM - Londrina, desde novembro de 1991.
Acredito ser necessário dizer que tais reflexões decorrem da constante
busca de uma prática adequada de inovação e renovação de idéias nesta nossa
época de rápidas mudanças e transformações.
Interessa-me, sobretudo, trabalhar as funções da escuta, a escuta do
Rádio e as possibilidades experimentais da radiofonia como ato de criação no
contexto da contemporaneidade. Se considerarmos a maneira pela qual a
sociedade contemporânea se relaciona, interage, codifica e decodifica os sons
do meio em que habita, pensamos que uma tomada de consciência das
“paisagens sonoras” (Schafer, 1977) deverá interferir numa ecologia sonora que
postule uma melhor percepção auditiva, ou seja, a escuta como ato de criação.
Vale lembrar que Ecologia (Eco, do grego Oîkos, “casa”, “habitat”,
“domicílio”) é o ramo das ciências humanas que estuda a estrutura e o
desenvolvimento das comunidades humanas e suas relações com o meio
ambiente e sua conseqüente adaptação a ele, assim como novos aspectos que
os processos tecnológicos ou os sistemas de organização social acarretam nas
condições de vida do homem.
De acordo com o compositor, educador e pesquisador canadense R.
Murray Schafer, que na década de 70 desenvolveu o The World Soundscape
Project (Projeto Mundial da Paisagem Sonora), “o ambiente sonoro é como uma
grande composição acontecendo ao redor da gente, constantemente, e nós
somos agora os principais criadores desta composição, isto é, a raça humana,
pois nós é que produzimos o maior número de sons, portanto temos a
responsabilidade de melhorar esta orquestração. Só nós podemos mudá-la e
esta responsabilidade deveria ser entendida por todos”.(Schafer, 1977)

I
O Rádio é indiscutivelmente um meio de comunicação social inserido no
contexto das transformações tecnológicas. Ondas hertzianas em satélite. É um
poderoso veículo capaz de disseminar perspectivas, de produzir uma
multiplicidade ilimitada de pontos de vista e questionar a intencionalidade da
escuta.
Neste sentido, um dos aspectos possíveis da criação musical é a
utilização do rádio na contemporaneidade incluindo-o, certamente, no contexto
da educação em amplo sentido e suas interrelações nesta era de alta
velocidade onde CD-Rom, rádio digital, Internet e outros meios podem ser
desenvolvidos e usados no campo artístico-científico.
Segundo o semioticista Adriano Rodrigues, professor da Universidade
Nova de Lisboa, devemos entender o Rádio não só como informação, mas
também como uma modulação das vozes que faz ressoar em nosso imaginário
a sonoridade do nosso mundo envolvente. É no domínio estético-poético que a
sua influência se faz sentir. É esta função poética que confere à experiência
radiofônica uma dimensão particularmente afetiva que nos remete para uma
memória arcaica, para este instante quase mítico em que, antes mesmo de
despertarmos para a configuração visual das suas formas, o mundo nos
apareceu sob a forma de um invólucro sonoro.
Levando em conta as possibilidades e a função das Rádios educativas
universitárias, pensamos que deveriam voltar-se para a investigação, para a
pesquisa. Não deveriam possuir uma ideologia a priori e obrigatoriamente gerar
um produto, um resultado. Mas, talvez, suscitar tendências, provocar, inquietar,
criar. Enfim, ousar. Alterar.
A intenção do trabalho que está sendo desenvolvido na Rádio
Universidade FM com o programa “Musica Nova” é propor uma escuta atenta ao
mundo circundante, captando no movimento contínuo, na velocidade das
informações, no transcurso acelerado de todos os tipos de sensação, um
observar próprio, uma escuta própria, uma pausa.
Se a nossa sociedade é eminentemente visual, o rádio pode fornecer
uma pausa para que possamos desenvolver uma apreensão crítica do nosso
mundo através da audição. Segundo John Cage, o mais irracional dos nossos
sentidos.
A idéia é romper com as tiranias imperantes do continuum radiofônico
vigente. Nesse aspecto podemos afirmar que o espaço da criação independe do
tipo de ferramenta. E o rádio, enquanto meio de comunicação, pode ser o
fomentador dessa criação específica, original, insubstituível. É preciso escutar e
pensar o mundo com o ouvido, de acordo com Murray Schafer.

II
Todavia, é preciso encarar a grande revolução em nosso “ecosistema”
sonoro. A rapidez com que evoluem as ciências e a tecnologia em nosso tempo,
dificilmente permite acompanhar o desenvolvimento e a transformação da
mentalidade e dos hábitos intelectuais e psíquicos das pessoas. Sabemos que a
eletrônica, no início do século, e a informática, neste último quarto de século,
têm modificado sensivelmente o ser humano.
As transformações realizadas na linguagem musical do século XX, assim
como as mudanças do papel do músico na sociedade e sua relação com o
ouvinte requerem, hoje, mais do que nunca, um processo de transformação
constante de critérios e idéias artísticas numa realidade outra, resultante de
mudanças sociais. As diversas tendências contemporâneas, os numerosos
dialetos musicais, contínuo intercâmbio de experiências e idéias no mundo
inteiro, fez surgir múltiplas e simultâneas estéticas musicais, estéticas estas que
ainda não foram suficientemente difundidas, assimiladas e compreendidas.
Esta nova imagem do mundo e a reviravolta radical do conhecimento
obrigam-nos constantemente à revisão profunda e pormenorizada de nossas
idéias e, consequentemente, da educação em amplo sentido.
Assim, desenvolvemos debates sobre o ensino da música diante das
novas tecnologias, sobre as transformações do estatuto do compositor, do
autor, do intérprete, do público, do professor, do estudante, da análise destes
efeitos mas, mesmo assim, a incerteza e a perplexidade permanecem.

III

Sabemos que a utilização restrita, equivocada, acelerada e desenfreada


de recursos tecnológicos na atualidade tem causado desequilíbrios na ecologia
sonora de comunidades, nos processos de criação em amplo sentido, assim
como tem gerado equívocos movidos por uma competição impulsionada pelo
sistema capitalista e um descontrole abusivo em todo o sistema, seja ele
educacional, social ou cultural.
Neste sentido, é oportuno questionarmos as grades curriculares das
escolas e pensarmos: quem é este novo profissional da era tecnológica que
queremos formar/informar? Como devemos operar diante da velocidade destas
mudanças e termos respostas qualitativamente adequadas diante da massa de
acontecimentos? Que alterações sofre a sensibilidade humana, suas
manifestações e processos de criação?
Como diz Ciro Marcondes Filho, (1996) “a nova sociedade da era
tecnológica impõe-se por si mesma e exclui antigas formas de pensar, agir e
sentir as coisas. Torna-se, portanto, necessário manter a capacidade crítica e de
reflexão, mas não da forma tradicional, mas agora adaptada ao ritmo e à
velocidade desta agitação, da vibração do movimento contínuo e cadenciado
das novas máquinas de informação, comunicação e lazer”.
Às vezes, tem-se a sensação de que estamos envoltos por uma casca
que nos isola do mundo contemporâneo, com todo o ranço de uma tradição
conservadora e preconceituosa. Vivemos um paradoxo de fim de milênio. Ou
seja, uma casca nova para o velho. A questão então seria a de pensarmos o
ensino em face deste quadro de incoerências e paradoxos.
Ora, toda desconstrução é incômoda e dolorosa. Como diz Isidoro
Blikstein, desmontar e remontar, ler o que não está expresso, destilar sentidos e
informações de linguagens cotidianas é um ato criativo e capaz de resgatar o
diverso, o inusitado. Esta, talvez, seria a chance do homem da era informática,
buscando rupturas onde há fusões, o novo onde só aparecem repetições, o
criativo onde o que se vê é apenas o imitativo. Seria um sinal da sua
“desobediência” ao sistema, uma revolta à imperiosidade maquínica e linguística
com sua tendência padronizadora sobre seres que, consciente ou
inconscientemente, incorporam a estratégia maliciosa presente em todas as
coisas.
Nesse sentido, o programa “Música Nova” é uma proposta, uma tentativa
e tem se apresentado como uma possibilidade de romper o continuum
radiofônico vigente, interagir com as pessoas difundindo perspectivas, idéias e
imagens sonoras. Uma proposta de educação a partir de experiências de uma
escuta crítica da nossa ecologia sonora fazendo dela um invólucro do próprio
desenrolar dos acontecimentos que fazem a história do presente.
Quer nos parecer que a questão fundamental é de como nos
posicionamos diante destas novas tecnologias. E neste posicionamento
necessário, o pensar, o refletir, a transformação e a criação devem acompanhar
a mesma velocidade, a mesma palpitação deste mundo que está em constante
interface com cada um de nós.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Marcondes Filho, Ciro/Coletivo NTC-São Paulo. Pensar-Pulsar: cultura


comunicacional, tecnologias, velocidade. São Paulo: Edições NTC, 1996.
Coletivo NTC-São Paulo. Linguagens e Tecnologia. Revista Atrator estranho, No.
23 - Julho/96.

Schafer, R. Murray. The Tuning of the world. New York, Knopf, 1977.

Schaeffer, Pierre. Traité des objets musicaux: essais interdisciplines, Paris,


Seuil, 1977.

Maia, Matos. Telefonia. Círculo de Leitores, 1995.

Obs. – Texto publicado nos Anais do referido evento)

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