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Arqueologia Industrial
eléctricas até às indústrias que a Electricidade Industrial das quais se pode reter, pelo seu
criou; desde os edifícios construídos para a carácter geral, uma — a Arqueologia
Indústria Eléctrica até à aparelhagem acessória Industrial é uma área de estudo do processo de
e auxiliar para o aproveitamento industrial da industrialização através do exame sistemático
Electricidade. dos monumentos e dos artefactos que
Mas pretendendo a Arqueologia Industrial, sobreviveram à exploração desse processo.
quando aplicada às Indústrias Eléctricas, Esta definição realça alguns aspectos:
estudar, datar, catalogar, e reconstruir os — porque a Arqueologia Industrial é
objectos sobreviventes ao desaparecimento de uma disciplina auxiliar da História,
algumas dessas indústrias, tem embora possuindo métodos próprios, não
necessariamente de estar ligada à História da pode priscindir do contributo das outras
Electrotecnia para aí encontrar a informação disciplinas auxiliares para se chegar a
precisa sobre uma tecnologia que é complexa um resultado útil no âmbito da
em todos os seus domínios, e, também, na tecnologia industrial. No caso das
forma como se deu a sua evolução ao longo de Indústrias ligadas à Electricidade, como
dois séculos. E essa relação tem de ser o seu desenvolvimento se deu numa
fomentada, apesar de no âmbito da História da época em que começaram a surgir os
Electrotecnia pouco estar ainda feito face ao Museus de Ciência e de Tecnologia, o
muito que há a fazer, tanto em termos globais passado dessas indústrias encontra-se já
como no caso da História da Electrotecnia em razoavelmente documentado;
Portugal. — o estudo dos testemunhos materiais de
Por isso, quando na actualidade surge uma um passado industrial não pode ser
incursão de arqueólogos industriais no confundido com, nem pode degenerar
domínio da Electrotecnia pode resultar u m em, a elaboração de ensaios de História
trabalho intelectual que, não sendo esclarecedor Económico-Social. Nem tudo o que diz
nem tecnicamente correcto, suscita crítica ou, respeito à Indústria é objecto de estudo
até, contestação. da Arqueologia Industrial. No caso das
Indústrias ligadas à Electricidade ainda
Arqueologia Industrial há assuntos que devem ter o seu estudo
A reconstrução das indústrias destruídas no âmbito mais vasto da História da
durante a Segunda Guerra Mundial e a Electrotecnia, ou em alguns casos da
renovação ou substituição de indústrias História da Ciência;
decadentes levaram ao aparecimento de — o exame sistemático dos objectos
edifícios, de máquinas e de arquivos que físicos industriais carece do contributo
necessitavam de ser resguardados como de várias áreas de conhecimento: é
testemunhos de uma época industrial; não só pluridisciplinar. No caso das Indústrias
das que integravam a Revolução Industrial ligadas à Electricidade a colaboração da
mas também das indústrias ainda florescentes Electrotecnia terá de ser informada por
no início do século vinte. Em diversos países uma componente de História da
surgiu a partir da década de sessenta u m Electrotecnia para que a interpretação
movimento de preservação dos diferentes dos factos seja precisa, e
artefactos industriais sem utilidade imediata,
— a prática da Arqueologia Industrial
que assumiu características diferentes: forte
supõe um “trabalho de campo” para além
associativismo na actividade de amadores em
do trabalho de escrita. No caso das
Inglaterra, a estatização e a institucionalização
Indústrias ligadas à Electricidade o
dos estudos em França e a inserção do
chamado trabalho de campo pode ser a
movimento num contexto universitário na
pesquisa no arquivo de uma determinada
Alemanha.
repartição estadual de uma época
Como resultado dessas diversas atitudes passada, mas também pode ser a
foram surgindo definições de Arqueologia inspecção em local remoto do
electricidade começou por ser aplicada, como empresa distribuidora de energia União
uma exploração empresarial, na iluminação de Eléctrica Portuguesa (UEP) mostra que o
várias povoações (Porto, 1886; Braga, 1893; consumo era diminuto, que o preço da energia
Vila Real, 1894) [11] e no transporte público não compensava significativas reconversões
urbano (Porto, 1895) [12]. As fontes de energia numa indústria manufactureira ou que já se
primária eram a energia térmica resultante da movia accionada por uma máquina a vapor;
combustão do carvão e a energia mecânica mostra também que, como muitos sabem, o
associada a uma queda de água [13]. transporte da energia eléctrica a longa
O aproveitamento industrial da distância não altera o valor da potência
Electricidade foi diminuto no Norte do país e disponível no aproveitamento hidráulico (!)
no resto de Portugal, criando durante décadas [10].
um grave problema de consumo. O consumo de
energia eléctrica em Portugal durante a
primeira metade do século vinte dificilmente
justificava o aproveitamento dos recursos
hídricos disponíveis [14], o que se deve ao
carácter fraccionário das empresas industriais
que raramente atingiram uma dimensão
apreciável, que justificasse a concentração do
sistema individualista, auto-produtor disperso,
numa rede eléctrica nacional [15].
Constitui um caso paradigmático o
aproveitamento das quedas do Lindoso em
1921, feito por uma empresa espanhola
(capitais estrangeiros), com o fim de abastecer
em energia eléctrica a cidade de Braga e V i l a
Nova de Gaia em 1921 e o Porto em 1923.
Apesar de dimensionado em 1921 para uma
potência activa de produção de 2 x 7 MW só
em 1932 foi a potência activa instalada Centrais Eléctricas em 1922 no Noroeste de Portugal [16 ]
aumentada para 28 MW.
Quanto à importância do aproveitamento
Aproveitamento do Lindoso — cronologia do Lindoso (1922) para a alimentação em
1907 alvará de concessão das quedas do Lindoso energia eléctrica do vale do Ave verifica-se que
1908 criação da Sociedade Eléctra del Lima a solução proposta na altura [16] não
1909 início das obras contemplava essa opção. Era preferida a
1919 constituição da União Eléctrica Portuguesa alimentação pelos pequenos aproveitamentos
1920 celebração de contratos de Braga e V.N. Gaia do Varosa (1,5 MW), do Ermal (500 kW),
1922 início de funcionamento da central (7 MW) Corvete (200 kW) e Santo Tirso, considerando
1923 energia eléctrica para o Porto ainda a existência das centrais locais
1923 funcionamento do segundo grupo (+ 7 MW) particulares de Campelos (500 kW) e da
1925 fornecimento de energia pela UEP central termoeléctrica de “A Boa Reguladora”
1927/29 contrato e fornecimento a Coimbra em Famalicão. Esta opção resultava,
1932 funcionamento de mais um grupo (+ 14 MW) certamente, do pequeno valor do consumo de
1945 funcionamento de outro grupo (+ 14 MW) energia eléctrica dessa região em 1922.
Quando a Lei 2002 de 26 de Dezembro de
A evolução da potência instalada na central
1944 — Lei de Bases da Electrificação
do Lindoso, apesar das pequenas alterações no
Nacional — foi publicada ainda era a falta de
sistema hidráulico, apesar do aumento da área
consumo o principal problema de
populacional servida e do aumento da
desenvolvimento do sistema eléctrico nacional
distância dos locais de consumo atingidos pela
porque, a partir dessa altura, a electrificação
passou a ser tratada como obra de geométricas esclarecem muito pouco, enche
desenvolvimento na qual se encontrava espaço numa exposição, mas é um mau serviço
empenhado o Estado. Todos estes factos podem prestado à Arqueologia Industrial.
ser analisados numa perspectiva de
Arqueologia Industrial quando mostram a
incapacidade, e a fragilidade, da Indústria
para se reconverter ou para adoptar a nova
forma de energia e dela tirar o respectivo
proveito económico.
Consistindo um sistema global de
aproveitamento da energia eléctrica, em meio
industrial ou em qualquer outro meio, numa
conversão inicial de uma outra forma de
energia em energia eléctrica, no seu transporte
e distribuição e, geralmente, numa conversão Alternador trifásico com excitatriz AEG (1939)
final da energia eléctrica em energia mecânica, O mesmo se pode dizer quanto aos motores
surgem como elementos importantes deste eléctricos. Mas, infelizmente, há que escrever
processo as unidades — máquinas eléctricas — que, numa exposição pública, apresentar uma
que no início e no final do sistema promovem antiga máquina têxtil (191?), ligada a u m
uma conversão de energia envolvendo a energia motor de accionamento duma época recente
eléctrica. É, portanto, necessário num trabalho (motor de indução trifásico), constitui uma
de Arqueologia Industrial saber caracterizar as anacronismo [18] que, pelo menos, deveria ser
máquinas eléctricas, salientar as assumido e esclarecido a todos os visitantes,
particularidades construtivas, ou de aplicação, incluindo os que têm conhecimentos de
capazes de fornecer uma informação útil e de electrotecnia. Já é de lamentar que um conjunto
saber integrar a informação recolhida no de motor de indução trifásico com rotor
contexto da Indústria em estudo. bobinado e respectivo sistema de comando, que
Tendo a indústria eléctrica alcançado cedo, inclui um reóstato de arranque e u m
e por necessidade de uma boa exploração amperímetro montado numa coluna adjacente,
económica, um elevado grau de normalização, é não tivesse a chamada de atenção para as
relativamente fácil encontrar informação útil particularidades que a sua manobra tem, e que
numa máquina eléctrica reduzida a objecto estão bem patentes no tipo construtivo
arqueológico. Para além da chapa de utilizado na sua época; e, necessariamente,
características, o seu princípio de contêm uma importante informação sobre a
funcionamento, os seus aspectos construtivos formação técnica do operário encarregado
(do desenho aos materiais utilizados) e a sua dessa manobra.
montagem, tudo pode dar informações úteis, Como disciplina recente, a Arqueologia
passíveis de serem recolhidas em ficha Industrial, ao incidir o seu estudo sobre
normalizada [17] devidamente adaptada. objectos do âmbito da Electrotecnia, só tem a
No caso de um gerador de corrente lucrar com a divulgação dos seus meios de
alternada, dotado de chapa de características, investigação ou de dedução e com a
há que recorrer a técnicas auxiliares para demonstração pública da sua correcta
tornar legíveis as inscrições quando estas aplicação.
estiverem pouco visíveis, e se no veio do É muito vasta a variedade de aparelhagem
alternador está acoplada a excitatriz (mais necessária ao funcionamento em segurança de
importante do que o tambor da correia), mesmo uma sistema eléctrico. Por isso tem interesse a
que reduzida apenas aos elementos rotóricos, apresentação de alguns elementos utilizados na
há que o salientar esse facto porque a instalação eléctrica de uma fábrica. No entanto,
informação nele contida é útil. O simples carece de esclarecimento e de realce essa
apresentar de uma máquina, sem expor as importância, porque a mera apresentação dos
informações úteis, já que as dimensões
Manuel Vaz Guedes Arqueologia Industrial
HISTÓRIA
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