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A morte e o morrer

. Método: concessão hermenêutica às visões apresentadas.

- Visão histórica (Passeio histórico):

. Concepção aristocrática (civilização micênica, séc. XV a.C-): a “bela morte” –


morte heróica: em situação honrosa, que exalta a virtude (areté) do herói; antes da
velhice: preserva a virtude e o aspecto visível (eidos) do herói; com honras fúnebres:
perpetua o nome (nomos) do herói. A morte honrosa deve culminar uma vida gloriosa –
cuja memória atravessa as gerações e imortaliza o herói.

. Concepção civíca-moral (civilização democrática, séc. V a.C): a “boa morte” –


morte do homem bom (agathon) – bom cidadão –: segue as leis da cidade; faz bem os
trabalhos; trata com justiça os amigos e inimigos. Os “epitáfios”: reconhecimento
público das virtudes dos cidadãos. Sócrates (séc. V a.C): reconhece a alma
(“interioridade”) como centro do ser humano: “Conhece-te a ti mesmo”. Alma: centro
individual de entendimento e decisão (vontade). Homem bom: reflete sobre o bem,
adere ao bem por livre decisão e age de acordo com ele. Vida feliz: eudaimonia – vida
em acordo com a própria alma; paz de espírito. Boa morte: morrer em paz consigo
mesmo, como desfecho de uma vida bem vivida. Possibilidades da vida após a morte,
segundo Sócrates: “sono eterno”; reencontro com os vivos. É preferível ser condenado à
morte que trair a própria alma. Sócrates: “Não ligo à morte mais importância que a um
figo podre”.

. Platão (espiritualimo dualista): morte: retorno da alma à vida originária – celeste –,


na qual contempla as verdades (essências, idéias) eternas; libertação da alma do
túmulo / cárcere do corpo. Alma (espírito): substância imaterial de entendimento e
vontade; vive da contemplação das verdades; pré-existe ao corpo e neste encarna como
expiação por haver-se afastado da verdade. Morte: restaura a pureza originária da alma.
Filosofia: “meditação sobre o morrer” (meleté thanatós).

. Epicuro (materialismo monista): morte: desagregação dos átomos que compõem o


composto corpo-alma humano, levando ao fim da sensação e do entendimento. Em si, a
morte não é um mal: não impede a fruição dos prazeres (psíquicos e sensoriais) durante
a vida; o nada que a ela se segue não nos atinge. “Quando eu estou, a morte ainda não
chegou; quando chega a morte, eu já não estou.” A sabedoria ensina: a livrar-se do
medo da morte e dos deuses; a tirar o máximo e melhor proveito do prazer; que o mal
dura pouco e é suportável. Filosofia: meditação sobre o bem viver. Epicuro: entre os
espasmos da morte, proclama que a vida é doce e feliz.

. Estoicismo: sentido da vida: viver de acordo com o logos – razão universal que
governa o cosmos e a natureza humana. Corresponder ao logos é realizar o próprio ser.
Bem: virtude – agir conforme o logos; mal: vício – contrariar o logos. Vida boa:

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consideração exclusiva pelo dever; indiferença pelas demais vantagens (ou
desvantagens) – saúde, riqueza, beleza, prestígio... e pela própria vida. Sabedoria:
implica apatia: indiferença pelos afetos positivos ou negativos; e ataraxia: desapego
dos desejos. A vida não é mais estimável e desejável do que a morte. Zenão, diante da
morte: “Venho, por que me chamas?”

. Tradição grega: neutraliza a dramaticidade – ou a tragicidade – da morte. Morte: pode


tirar a vida, mas não a felicidade para quem vive com sabedoria (sob a razão): não
destrói a paz da alma (Sócrates), a alegria de viver (Epicuro) e a imperturbabilidade da
alma (estoicismo); até conduz à verdadeira vida (Platão). Morte: não é um mal radical –
não leva, por si mesma, ao desespero. Mais poderosa que a morte é uma vida racional.

. Tradição cristã: condição humana: ferida por mal radical que a põe em desacordo
consigo mesma e cujos principais aspectos são: sofrimento, injustiça e morte. Mal: “des-
criação”. Morte: resumo e cúmulo do mal: sumamente indesejável (“Pai, afasta de mim
este cálice”; “E Jesus chorou”); invencível por qualquer recurso humano que a tente
neutralizar ou atenuar; não justifica, mas torna compreensível o desespero. Tradição
cristã: releva a dramaticidade – ou a tragicidade – da morte. A morte não tem solução
humana – só pode ter salvação (redenção) divina. Só Deus pode restaurar a criação
ferida pelo mal. Cristo: Deus-Homem – Homem: assume toda a obra da morte; Deus:
retira a nova vida da própria morte (“Ó morte, onde está tua vitória?”). Existência à luz
do mistério cristão: “pascal” – travessia da condição mortal para a nova vida.
Ressurreição: vida eterna, trans-figurada – para além da morte –, e não i-mortal. Posição
cristã diante da morte: nem desespero passional, nem otimismo racional – esperança
fundada na fé. Fé: obscura confiança – não nos seria dado o desejo de vida eterna se ele
fosse irrealizável. Tradição cristã franciscana: a “irmã morte”.

. Espinosa (filósofo holandês, séc. XVII): Essência humana: conatus essendi (“potência
vital”): esforço para perseverar e expandir-se na existência. Ação (causa adequada): o
que acontece ao sujeito depende do poder do conatus; paixão (causa inadequada): o que
acontece ao sujeito não depende do poder do conatus. Ação: incorpora o exterior ao
poder do conatus. Desejo: inclinação do conatus ao que aumenta a sua força. Paixões:
alegres – coragem, amor, alegria -: reforçam o conatus; e tristes – medo, ódio, tristeza –:
enfraquecem o conatus. Homem livre – sábio –: conhece as leis da natureza humana e
se deixa guiar pelas paixões alegres. Virtude: saber desejar o que reforça o conatus;
saber desejar o que nos alegra. “Bem”: consciência da alegria; “mal”: consciência da
tristeza. Morte: não diz respeito à vida. Pensar na morte só reforça paixões tristes. (“Um
homem livre em nada pensa menos do que na morte, e sua sabedoria não é uma
meditação sobre a morte, mas sobre a vida”).

. Hegel: “O real é racional e o racional é real”. Lógica do real: 1) Totalidade: cada ser é
momento de um todo; 2) Relação: cada ser existe em tensão com o seu contrário; 3)
Negação: cada ser precisa negar-se em seu contrário; 4) Processo – realidade: devir das
identidades em vista da afirmação da totalidade. Identidades individuais: precisam ser
negadas para que se afirme a totalidade – plena racionalidade – da vida social. Vida
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individual: precisa morrer para deixar nascer a vida total do Espírito. Morte: momento
negativo necessário à lógica que preside a realidade. Morte, outra vez: concilia-se com a
razão; perde a tragicidade.

. Nietzsche: recusa-se a racionalizar a morte. Há que aceitar a morte como constitutiva


da vida. Racionalização da morte: sintoma de ressentimento contra a vida – de
impotência da vontade. Vontade de potência: glorifica a vida na morte. Posição de
Nietzsche: alegria trágica; transcendência da imanência (o “Eterno retorno do mesmo”).
Contra a metafísica grega: a vida mortal dispensa razões transcendentes. Com os
gregos: suficiência do sujeito para encontrar o sentido da (na) vida.

. Levinas (filósofo judeu, séc. XX): morte: alteridade absoluta: além do poder do sujeito
– apodera-se dele; além do presente – é inesperado absoluto, sustém todo projeto; além
da luz – é invisível e inefável. Morte: impossibilidade da possibilidade – “Morrer é
converter-se na comoção infantil do soluço.” Levinas: também recusa uma teleologia da
morte – nada a justifica ou atenua (honra, boa consciência, outra vida,
imperturbabilidade, superação no Todo...). Mas não aceita ou glorifica sua violenta
tragicidade. Por si só, o sujeito não pode superar o trágico da morte. A responsabilidade
pelo Outro – revelação do Infinito – o faz superar a primazia do gozo e ir além da
constrição a ser ou não ser – retirando da morte seu poder desesperador. “Amor mais
forte que a morte”.

. “A Negação da Morte” (Ernst Becker, 1973): Medo da morte: “persegue o animal


humano mais que qualquer outro”. Culturas: sistemas simbólicos que visam proteger o
ser humano contra a realidade da morte. Aspecto recorrente dessa “proteção cultural”:
mito do heroísmo – representa o ser humano como dotado de virtudes especiais e
significação cósmica. Heroísmo: forma de “mentira vital” – auto-engano pelo qual o ser
humano procura escamotear sua condição mortal e sua nulidade diante do universo.
Mentiras vitais: sintomas de narcisismo – estima instintiva por si mesmo cuja
contrapartida é a instrumentalização do outro aos próprios interesses. Imensidão neutra
e incontrolável do universo: insuportável ao narcisismo humano. Auto-representação do
ego como identidade auto-subsistente ou “caráter”: uma das mentiras (ou
“desonestidades”) vitais primárias que tornam a existência possível. Paradoxo humano:
cisão insolúvel entre a finitude física e as possibilidades infinitas da consciência; entre
condição mortal e desejo de imortalidade. Ser humano: não suporta a plena consciência
de seu paradoxo.

. Heidegger: morte – na visão impessoal cotidiana: ocorrência inevitável e normal que


se refere a todos e a ninguém: “morre-se”. Morte: vista como fim “tardio” do percurso
da vida. Evita-se assumir a mortalidade como condição central da existência, para não
ameaçar a ocupação e segurança do cotidiano. Restringe-se a presença da morte – no
tempo (apenas lembrada no “dia de finados”); e no espaço (localizada no cemitério).
Consideração da mortalidade: vista como preocupação mórbida ou fuga covarde da
vida. Procura-se convencer o moribundo de que ele não morrerá. Morte: “ob-cena”.
Heidegger: morte – não mero evento terminal, mas aspecto nuclear da condição
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humana. Ser humano – “ser-para-a-morte”; único ser “mortal”. Ser-para-a-morte:
antecipa a possibilidade da impossibilidade da existência. Ser-para-a-morte: mostra-se
na angústia – sentimento da própria finitude como ameaçadora; sentimento da ameaça
inscrita na condição humana enquanto finita ou mortal. Visão impessoal cotidiana:
confunde a angústia – indeterminada – com medo – fuga de ameaça determinada. Morte
como objeto de angústia – condição (intrínseca) a ser aceita; morte como objeto de
medo – perigo (externo) a ser vencido ou banido. Ser-para-a-morte – não se refere a
algo dado, mas à espera de um inesperado; é insuperável e irremissível; reivindica o ser
humano em sua singularidade – intima cada um a pôr-se diante de sua existência e
assumir suas possibilidades mais próprias. Ser-para-a-morte: possibilidade que abre ao
ser humano o seu poder-ser mais próprio. Enfrentar a mortalidade: assumir a existência
como projeto próprio e intransferível (autenticidade). Heidegger (como Nietzsche):
assimila o trágico da morte a uma concepção sapiencial da existência.

. Morte – visão corrente: acontecimento episódico, inexorável e final. Morrer, porém:


dimensão nuclear e constante da própria existência. Verbo “morrer”: não é conjugado
somente no fim da vida, mas ao longo da vida. Viver já é (em certo sentido) morrer.

. Significado existencial de morrer: analogia com a própria morte em sentido eminente.


Morrer: perda de algo vital; fim, interrupção, ruptura de um ciclo vital; expulsão do
abrigo existencial, exílio; passagem ao desconhecido; impotência diante do inevitável;
decadência ou falência das forças vitais; fracasso, derrota em uma luta vital.

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