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Acerca das Adivinhas

Moçambicanas1
Américo Correia de Oliveira*

1. Introdução
[...]
– Se você adivinhar esse mistério, o mundo vai ficar tão admirado que até o tempo há-de
parar.
– Jure, avozinha?, berlindavam-se os olhos dela.[...]
– Avó, sei a adivinha!
No rosto da senhora nenhum sinal, nem uma ruga se alterou. Parecia que Ermelinda já cruzara
aquele risco feito na água,
fronteira entre a vida e a morte.
– Lembra a adivinha, vó? Aquela do rio de um lado só? [...]
– É o mar, avó. Esse cujo rio; é o mar2.

Este pequeno estudo sobre as semanários, bem como o acervo “Os e nigmas fornecem, com
adivinhas moçambicanas tem como mimeografado e manuscrito, inédito efeito, um meio precioso de
ponto de partida uma nossa colec- (mais de 50 %). penetrar nos arcanos do e s p í r i t o
tânea de a divinhas moçambicanas Sobre o valor cultural das adivin- indígena, porque são, sem dúvida,
( 1 4 6 3 ) 3 , fruto da consulta de um has nada melhor do que as palavras a parte mais estranha da sua lite-
acervo bibliográfico impresso4 , em de um dos maiores africanistas, ratura, a que menos se pare c e
português, e em bantu5 e português, também moçambicanista, Henri com os produtos da nossa! [euro-
com excepção de jornais diários ou Junod: p e i a ] ”6

2. Distribuição das adivinhas moçambicanas


por comunidades linguísticas e colectores

“De facto há muitas mais a recolher! // Aqui pretendemos apenas dar uma ideia da imensa
grande riqueza que há a recolher e a valorizar, que há portanto a explorar cientificamente7!”

P - Olhos esbugalhados como os do coelho. [Dwanya mahoo nga gihulo].


R - O alcance da sua vista é o mesmo que o do farol que orienta os navios. [Guwona gwagoo nga
fororooo]. (gitonga, Guamba, 1998:[2]).

Uma leitura atenta da colectânea “ g é n e ro” literário. Algumas comuni- tuada por alguns dos nossos ex-
p e rm i t i r-nos-á verificar como é dades linguísticas nem sequer estão alunos da Universidade Eduard o
desigual a distribuição das adivinhas representadas (Kimwani, Cibalke e Mondlane, no ano de 1999, e por Ali
pelas diversas comunidades linguísti- Cimanyika), outras em número ínfim o (1993). Futuras recolhas, no terreno,
cas e diferentes colectores, revelando- de espécimes, fruto de uma feliz irão pôr cobro a esta disparidade, ou
nos graves lacunas na recolha deste recolha, se bem que “empírica”, efec- mesmo ausência.

3. Para uma noção das adivinhas moçambicanas e respectiva classificação


“As adivinhas são um jogo de desenvolvimento e treinamento da memória, da imaginação e da
reflexão. Exprimem, tal como os provérbios, uma filosofia de experiências acumuladas e dialécti-
cas do quotidiano”8
P - As “massalas” [fruto] maduras não se mantêm na árvore. [Maramba khamakatameli].
R - Os problemas não apodrecem. [Mahungu khamahini]. (gitonga, Guamba, 1998:[2])

Para Pires Prata9 , “o estudo das adivinha?” E deixa a pergunta sem texto adivinhístico, até pelo pouco
adivinhas [moçambicanas] é um resposta. estudo de que tem sido objecto,
tema, pouco ou nada explorado Tudo leva a crer que o autor designadamente, também, as adivin-
nem dado a conhecer.” E acrescenta, tenha razão, porque nada pare c e has portuguesas, de acordo com
à frente: “Afinal o que é uma mais difícil do que tentar definir o Arnaldo Saraiva10. Se parece inócuo

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usada nos ritos de iniciação/passa-
gem e/ou por aqueles que a eles
foram submetidos?!
Ficará para mais tarde esse
estudo, bem como a exploração de
toda a poética “tonal”, rítmica e eufó-
nica da versão originária, em línguas
bantu ou não, que, de modo mais
simples e conciso, responda à portu-
guesa (e não só) necessidade de criar
pequenos poemas adivinhancísticos.
A primeira e a mais minuciosa
classificação das adivinhas moçambi-
canas, re f e rente à comunidade
tsonga, é a d e Henri A. Ju nod (1996
[1912-13], 2.º vol:159-166). Para o
autor, os “enigmas tsonga” compreen-
dem o enigma ( m h u m h a n a ) q u e
consiste, primeiro que tudo, em
adivinhar em que mão está o bocado
de carvão; é simples jogo. Mas pode
ter um carácter mais literário, e,
nesse caso, consiste numa perg u n t a
mais ou menos espiritual e que pede
uma resposta. O autor classifica
estes últimos “enigmas” em: 1.
“enigmas numa frase” (re s p o s t a
com uma só palavra); 2. “enigmas
que contêm duas frases” (“as
respostas devem ser aprendidas de
cor”); 3. “enigmas que aludem a
factos históricos”; 4. enigmas em
que há “apenas uma apro x i m a ç ã o
de sons, uma aliteração que lison-
jeia o ouvido 1 4 ”; 5. “enigmas
completamente incompre e n s í v e i s ”
(nos quais “há certas perguntas à s
quais se pode responder de várias
maneiras”, em que a resposta “varia
a p resentar uma definição para a universo ritualístico das adivinhas, segundo os i nform a d o res”, s endo
adivinha portuguesa - “textos verbais um simples olhar sobre as temáticas “muito difícil encontrar uma ligação
b reves que impliquem um jogo de das adivinhas, inseridas nos capítu- qualquer entre estas duas proposi-
p e rgunta e resposta, sendo que esta, los “ Filosofia de vida” e “Política”, ções”, constituindo autênticos “jogos
clara, está contida naquela de modo possibilita-nos constatar que esta- de sociedade”). O mesmo autor
cifrado, velado ou inesperado”11 - o u mos perante a divinhas-provérbios, afirma: “alguns assemelham-se aos
para a adivinha em geral - “relação em muitos casos assumindo a e stru- p rovérbios antitéticos de Salomão.
trópica entre simbolizante e simboli- tura de dois provérbios, repartidos Mas deve-se reconhecer que lhes
zado”12 -, o mesmo não parece acon- pela pergunta e r esposta. falta inteiramente o profundo sentido
tecer com a adivinha africana, Aceitámo-las, todas, como adivi- religioso ou moral dos pro v é r b i o s
nomeadamente a de origem moçam- n h a s , mesmo que muitas delas judaicos15.”
bicana13 e angolana, em que a exis- tenham sido denominadas “enig- Mais tarde, Junod & Jacques
tência formal de dois tipos de adivin- mas” ( Henri A. Junod, 1 996 [ 1912- (1957 [1936]: 301) dividem as adivin-
has - as simples e as compostas - não 1913]), e especificamente “enigmas has (“riddles”) da comunidade
p e rmite, pelo menos na maioria de iniciação” (Martinez, 1989). Serão tsonga (abarcando as comunidades
destas últimas ( a não ser que faça- adivinhas que já perderam (ou ainda de língua xichangana, xironga e cits-
mos uma interpretação lato sensu da as manterão?) as suas marcas ritua- hua) e m duas e spécies: adivinhas
definição todoroviana), uma ligação, lísticas, e, por isso, se revele tão difí- (mhumhana) cuja resposta é consti-
seja definicional, seja de re l a ç ã o cil compreender a sua ligação tuída por uma só palavra; e adivin-
simbolizante-simbolizado entre elas. p e rg u n t a - resposta, porque consti- has (shitekatekisana) cuja resposta
Mesmo sem entrarmos no tuindo uma “língua especial”, só é formada por uma frase completa.

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4. Contexto, função e fórmulas das adivinhas
P - A pergunta do pequeno pássaro. Ou: o pequeno pássaro conta uma estoriazinha?16
[Tshekelembana wa xinyana. Kumbe: Matsheketana wa xinyana?]. [The little bird’s query. Or: The
little bird’s tale telling?].
R - A fala é rainha (Toda a gente tem o direito de falar a expressar-se). [Ku vulavula ku ni hosi].
[Speech is chief. (Everybody has the right to speak, a way of expressing himself)]. (xitshonga,
Junod & Jaques, 1957:320-21).

Viegas Guerre i ro (1966:60), nota de rodapé, repleta de cortes, apresenta em outras partes da África
aludindo às adivinhas da comuni- devido à sua extensão 17. Negra idênticas características. Os
dade de língua shimakonde, afirma: Nessas fórmulas, é notória a ideia Ajauas, que vivem paredes meias com
“O género é cultivado nas mais varia- de diálogo desafiante e lúdico, e de os Macondes, iniciam o certame,
das circunstâncias e s obretudo pelos enigma difícil de decifrar, e viden- dizendo: Chindavi!, a que se responde
rapazes, raparigas e mulheres. De dia ciando o seu carácter antiquíssimo: - Aise!, vocábulos com a mesma s i g n i fi-
e de noite, nas horas de ócio, ao fogo muitas delas já intraduzíveis e até cação dos parc e i ros macondes.”
a que se aquecem dentro e fora de indecifráveis. Também, as fórmulas [ Veja-se o parágrafo anterior]. No
casa, divertem-se jogando às adivin- adivinhancísticas angolanas pare c e m mesmo sentido se pronuncia Manuel
has. Também os homens a s dizem reforçar estas características. Outro s Amaral (1990:279): “As adivinhas
entre si e aos rapazes, uma vez por l u g a res, outros povos, se bem que servem de entretenimento aos wayao,
outra, na quietação da c h i t a l a Bantu, mas o mesmo “secre t i s m o ” , rindo muito quando o interlocutor
[aldeia] ou em pleno mato, na folga “competição” e “ludismo”!... tem dificuldades em re s p o n d e r.
que se segue às grandes b atidas de No mesmo sentido, vão as afir- Começam, quase sempre, por anun-
caça.” mações de Viegas Guerreiro (1966: ciá-las, dizendo: Cinda (adivinha), ao
Os “enigmas de iniciação” da 60-61), em relação à comunidade que respondem: J i i c e! (diga)”.
comunidade de língua emakhuwa shimakonde: “As adivinhas pro p õ e m - Ludovico (s. d.: 3), referindo-se
(Martinez, 1989) têm, como é natu- se de muitos modos e são principal- à comunidade linguística echuwabu,
ral, o seu lugar próprio n os re s p e c t i- mente um jogo colectivo que se a f i rma: “O contador de adivinhas
vos ritos. Pires Prata, referindo-se à executa sob a forma de desafio. dirige-se aos outros, dizendo: ‘Era
mesma comunidade, escreve: “Não Constituem-se dois grupos, que se uma vez”[ C i d d a p i n y u ! . . . ]. Os outros
são de todo os dias, nem de todas as colocam frente a frente. Um dos respondem-lhe: ‘Guerra’ ou ‘Mmange’
horas. Têm tempo apropriado e j o g a d o res lança a pergunta a um ou ‘ T x i p i t t h e ’ ou ‘ C i v i re ’, ‘Passa//
determinado. O código (?) penal para o u t ro d o g rupo a dverso e , se e ste avança”. Este mesmo autor (Ludovico,
as transgressões é v ariado. Não se acerta com a resposta, passa a inicia- s. d.:1-2) escreve: “Sendo expre s-
contam ou não se fazem de dia. Há tiva para o seu grupo; e se nem ele são da genuína cultura de um
consequências... há sanções da natu- nem nenhum dos companheiro s povo, as adivinhas constituem uma
reza. Se se perder o tempo a c ontá- encontra solução, continuam, é riqueza, quer pelo aspecto linguís-
las, fora do serão, as tarefas ficarão c l a ro, na situação de interro g a d o s . tico, quer como manifestação da
paradas ou atrasadas, prejudicando a // A própria estrutura formal da mentalidade [...] De facto este
produção. ‘As coisas semeadas não adivinha anuncia o seu carácter de livrinho constitui um pequeno
a m a d u recem bem’, (em Lalaua). ‘Virá disputa. Um dos interlocutores abre dicionário prático da língua portu-
a fome’, (em Nampula). ‘Faz vir a s e m p rea competição com a palavra guesa.” E continua: “A função das
fome’, sendo contadas de dia, em N a n c h o!, difícil de t raduzir e que adivinhas é de passa-tempo (ware-
Nampula. ‘Faz nascer os chifre s ’ significará ‘Eu quero dizer-te uma d h a ), para entreter as pessoas no
‘omela manhaka’. As adivinhas, tais coisa’ ou ‘Uma adivinha’, e o inter- momento de folga, particular-
como os c ontos, não se contam de pelado responde: M w a h a ! , q u e mente ao serão à volta da fogueira
dia.” (Prata, 1983, não pag.). igualmente mal s e t raduz por ‘Diz e com a participação de todos. //
O estudo mais completo e d etal- lá’ ou ‘Venha ela!’. Segue então o É ao mesmo tempo uma maneira
hado que possuímos sobre as contexto e a resposta é d ada com de instruir os mais novos, aju-
fórmulas introdutórias das adivinhas uma só palavra e raramente com dando-os a despertar, a observar
moçambicanas, designadamente da duas.” melhor os factos da vida, a liber-
comunidade emakhuwa, é de Pires Viegas Guerre i ro (1966: 61) acre s- tar as suas energias intelectivas e
Prata. Inserimos essas fórmulas, em centa: “O género , que é universal, criativas”.

5. O universo “espelhado” nas adivinhas moçambicanas


P - O junco de Inhambane desfaz-se em pedaços (quando fazemos uma esteira)? [Ritsulu ra
Nyembana xidlhaka-dlha?]. [The Inhambane juncus breaks into pieces (when making a mat)?].
R - O coração do outro é outra terra (Não se consegue compreendê-lo). [Mbilu ya munhu unwana,
gimbe tiko (xikhambana)]. [Another man’s heart is another land! (One cannot understand it) 18].
(xitshonga, Junod & Jaques, 1957:312-13).

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Peinture Fátima Fernandes

Estamos perante sociedades portes públicos (autocarro, a vião, ou a nimais?!... E as abundantes e


rurais, a fricanas, de t radição oral, comboio - este só mencionado duas castiças onomatopeias?! 21
maioritariamente ágrafas, sendo vezes, na zona sul), a e lectricidade e Por último, uma palavra para
natural que as respectivas adivinhas os respectivos aparelhos, o calçado, essa vida, contínua e dinâmica, das
reflictam, embora de modo e nvie- as peúgas e as meias... Não é esque- adivinhas que as últimas recolhas,
sado, esse mundo rural: os morros cido o velho receio da feitiçaria e após a Independência, patenteiam,
de muchém [térmites], as “m acham- o antiquíssimo medo da pobreza e nas v ertentes brejeiras e políticas,
bas” [campos de c ultivo], as bebidas da fome: sem nunca perd e rem a sua peculiar
tradicionais e os objectos “artesa- poeticidade:
nais”: a enxada, o coador e o funil P - Uma grande árvore não cai por
tradicionais; a a gulha de m adeira; o si. [Muri kunbwaluwa yekiwa]. P - A folha de papaieira é gro s s a .
R - A pessoa (É crença que a morte [Lihagane nya papagai gudhimba].
moinho de pedra manual; o púcaro é ocasionada pelo feitiço, por R - Brincar com as cunhadas é um
de coco; o sal vegetal; o celeiro de inveja...). [ M u t t h u ]. (echuwabu delírio. [ Guhagana ni valamo
dependurar; as “trempes” de pedra (“Zambézia Central”), Ludovico, s. g u t s a m b a ]. (gitonga, CECICI,
ou barro que sustentam as panelas; d.: 21, 51). 1988: 24, 14).
as armadilhas e redes de caça e pesca,
P - Uma pequena panela cheia de P - Numa mata de “zigeklwane”22 ,
feitas com o material artesanal que se f o rmigas ferve e deita fora? as codornizes não voam. [A kwati
tem à mão. [ T_ikhadyana t_a wusokoti t_a ga zigeklwane gi buruma zwitxe-
Concomitantemente, são apre- p w y a k a t e l a ? ]. [A little pot full of remba].
sentados os valores ético-morais ants boils and overflows?]. R - Os seios de uma jovem tiram a
que regem essas soc iedades: o tabu R - Filhinho de gente pobre chora tristeza. [A mavele yanhanyana ma
e chora. [Mwanana wa wukulungu hungata wusiwana ]. (xitsonga
do incesto com a formosa i rmã; a wa diladila ]. [A little child of poor (citshwa), CECICI, 1988: 21, 11).
importância da família e do pare n- people weeps and weeps 1 9] .
tesco; o papel da mulher; o respeito (cicopi; Junod & Jaques, 1986: P - O gatinho que acabou por ro e r
pelos hóspedes, pelos mais-velhos 264-5). os seus ossos. [ Xingovana xinga
e pelos antepassados; o valor do mbeta a marambo hiku kukutsa].
P - O dente do elefante ataca aqui R - O colono que ficou com os
trabalho e da moderação; enfim, a e acolá? [Rimhondzo ra ndlopfu ku olhos inchados de chorar.
indispensável generosidade... mbvaza?]. [The elephant’s tusk stri- [Xikolonyi xinga vimba matihlo hiku
Toda a fauna e flora, o vestuário, kes here and there?]. rila]. (xitsonga (citshwa ), CECICI,
os topónimos, etnónimos e antro p ó- R - A fúria de um esfomeado. 1988: 21, 11).
nimos locais, os astros e as partes do [ Munhu wo ndlala tihanyi ]. [The
anger of an hungry man 20 ]. (xits-
corpo fazem a sua aparição, sendo honga, Junod & Jaques, 1957: C o n c l u i remos com as palavras
imensas as designações intraduzíveis 316-17). de Pires Prata (1983: não pag.): “A
para a Língua Portuguesa. Constituem adivinha é um exercício mental, de
v e rd a d e i ros “dicionários” regionais e E como esquecer a l inguagem reflexão e de raciocínio. É um
nacionais de todo um léxico que metafórica, p ejada de figuras, de passatempo agradável e pro v e i-
p rocura dar nome a tudo o que os tropos e de imagens belíssimas, em t o s o !”
cerca e que com eles convive. que, por exemplo, a enxada e Quem usará afirmar que e stão
De fora fica todo um mundo outros objectos adquirem vida e se condenadas ao desapar ecimento?!
vedado a essa população: os trans- comportam c omo s eres humanos Mas à cautela (porque “cautela

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e caldo de galinha não fazem mal a BIBLIOGRAFIA
ninguém”, reza o pr ovérbio)... • A LI, Aires ( 1993). Recolha e contextualizações de canções, lendas, histórias
Só o uso, oral e escrito, e o seu contos e provérbios para crianças nas províncias de Niassa, Nampula e Manica,
registo, poderão salvaguardar estas U N I C E F, Projecto de Educação para a Paz, policopiado, não paginado, sem
formas de texto, tão legítimas e lúdi- indicação de local.
• A MARAL, Manuel Gama ( 1990), O Povo Yao. Subsídios para o estudo de um
cas, como “simples” e enigmáticas. povo do Noroeste de Moçambique, Lisboa, M inistério do P laneamento e d a
Administração d o Te r r i t ó r i o / S e c retaria d e E stado d a Ciência e Te c n o l o g i a /
P - Um prato de abóbora não se Instituto de Investigação Científi ca e Tropical.
aquece. [ A mariwa amakufume • CECICI (Comissão Executiva das Comemorações dos 260 anos da Imp lantação
twi]. da Cidade de Inhambane) (1988). Contos, provérbios e adivinhas sewe! . . .
R - O amor não se obriga. [ A ambane, Inhambane, Gover no Provincial de Inhambane/INLD.
lirandjo ali khongotelwi]. (xitsonga • C OUTO, M ia, A adivinha, in http://pintopc.home.cern.ch/ pintopc/www/
(citshwa), CECICI, 1988: 21, 11). Africa/Couto_Mia/Adivinha.htm consultado em 26.11.2004 [in e-mail de
19.01.1999 de “Abdul Cadr e” <abdulcadre@mail. telepac.pt>].
P - Sobes, saltando de um ramo • F ESTI, L udovico ( s. d .). M isibe dha Alomwe. Dizeres comuns dos Lómuès,
para o outro? [ Tsapela, tsapela, inédito, dactilografado, não paginado, Quelimane.
t s a p e l a ? ]. [You climb from one • GUAMBA, F rancisco Penicela (1998). P rovérbios, adivinhas e troças [Gitonga],
branch to another?]. trabalho man uscrito de [3] pp., 3. º ano do Cu rso de Ling uística da F aculdade de
R - Consegues adivinhar o que vai Letras da Universidade Eduar do Mondlane, Maputo, 1998.
acontecer? [Le’swi pfaka antshaku • GUERREIRO, Manuel Viegas (1966) . Os Macondes de Moçambique, IV,
wa swi vona xana? ]. [Do you see Sabedoria, Língua, Literatura e Jogos, Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar
what is coming afterw a rd s ? 2 3 ] . (Centro de Estudos de Antropologia Cultural).
(xitshonga, Junod & Jaques, 1957: • JUNOD, Henri Philipp e & JAQUES, Alexandre A. (1957). Vutlhari Bya Vatsonga
(Machangana). The Wisdom of the Tsonga-Shangana People. Swivuriso,
330-31) l
Swihlayahlaya, Switekatekisana ni Mavito ya Vatsonga (Machangana) hi
Xitsonga, Xironga ni Xitshwa. Tsonga, Ronga and Tshwa Proverbs Riddles and
* ESELeiria/Universidade Agostinho P roverbial Names, 2.ª ed. [ 1.ª, 1936?] Revised a nd Enlarged, C entral M ission
Neto Press, Published by The Swiss Mission in S. A., Johannesburg.
• JUNOD, Henri P hilippe & JAQUES, Alexandre A . (1986). Vutlha ri Bya Vatonga
1 Este artigo constitui uma retoma, (Mashangana). The Wisdom of the Tonga-Shangaan People. Sivuriso, Sihlahlaya,
objecto de adaptação, da “Introdução” Sitekatekisana ni Mavito vaTonga (Matshangana) hi siTonga, siTswa, siRro n g a .
do Livro de adivinhas moçambicanas Tonga, Tswa and Ronga Proverbs Riddles and Proverbial Names, re i m p ressão
(No prelo). da 1.ª ed. (1936)24, [P rinted by T he Central Mis sion Press Cleveland, Transval],
2 Couto, Mia, A adivinha, in http://pin- Pretória, Union of South Africa
topc.home.cern.ch/pintopc/www/Afric • JUNOD, H enri A . ( 1996[1912-13]). Usos e costumes dos Bantu, t omos 1 e 2 ,
a/Couto_Mia/Adivinha.htm, consultado Maputo, A rquivo Histórico de M oçambique ( Documentos 3) [1.ª edição em
em 26.11.2004. Inglês, em 1912, 1913, tomo I e II, respect.].
3 Os meus agradecimentos, em forma de • KANDIYE, Kandiyane Wa Matuva ( 1995). L iteratura Tradicional Portuguesa
adivinha, ao Dr. António Sopa e ao Literatura Tradicional Moçambicana Provérbios Adivinhas e Enigmas [Cicopi],
Júlio Ribeiro que, no Arquivo Histórico trabalho dactilografado, de [23] pp., VIII Curso de História da Literatura
de Moçambique, me facultaram docu- Portuguesa, da responsabilidade da Faculdade de Letras da Universidade
mentação imprescindível à constituição E d u a rdo Mondlane, e dos S erviços C ulturais d a E mbaixada d e Portugal em
do acervo da obra referida na nota 1: Maputo, em 1995.
P - O pintainho é anão. [Ci sondwana
• L UDOVICO, Txilapi 200 adivinhas, mimeografado, 63 pp., s. d., C . P. 100 -
ndji ndemba].
R - Dar aos outros é guardar. [Kuha Quelimane. [“Zambézia Central (área de Lugela, Mocuba, Namacurra,
vakwanu ngu vheka]. (cicopi, Kandiye, Quelimane)”].
1995:[9]). (“Da mesma maneira que o • M ARTINEZ, F rancisco Lerma (1989). O povo macua e a sua cultura, L isboa,
anão demora a crescer, o que se Ministério da Educação/Instituto de Investigação Científi ca e T ropical.
guarda hoje, amanhã, ser-nos-á útil, • MENDES, Orlando ([1982]). S o b re literatura moçambicana, Maputo, Edição do
ainda que seja tarde.”). [Comentário do Instituto Nacional do Livr o e do Disco (INLD).
colector]. • PENVENNE, Jeann e Marie ( 1992). “ Caras, narrativas, c ontos, po emas e ca nções:
4 Martinez (1989:124, nota) refere algu- d e s a fios metodológicos para historiadores de Mo çambique”, Educação, Ensino,
mas obras contendo adivinhas da Investigação e Desenvolvimento, Maputo, 24 a 28 de Agosto de 1992, Universidade
comunidade linguística emakhuwa, a Eduardo Mondlane/Centro de Estudos Africanos [conferência, em fotocópia,
que não tivemos acesso: E. Ciscato, 18 pp.] .
Adivinhas Lomwe, Quelimane, s. d.; E. • PRATA, A. Pire s (1982). Adivinhas macuas, Arquivo His tórico de Moçambique,
Fuchs, Adivinhas macuas, Monapo inédito, dactilografado, não paginado.
(Nampula), s. d.; Anónimo, “Adivinhas • PRATA, A. Pires ( 1983). Adivinhas na zona da língua Macua, A rquivo Histórico
macuas”, em Voz de Moçambique de Moçambique, inédito, manuscrito e dactilografado, não paginado. [14 páginas].
(Lourenço Marques), II, 20, de 31 de • SARAIVA, Ar naldo (1999). “Poética e enig mática das adivinha s populares portu-
Janeiro de 1961, p. 9. guesas”, in Gabriela F unK (coord.) (1999: 433-438) , Actas do 1.º Encontro sobre
5 Actualmente, prevalece, entre os espe-
Cultura popular (Homenagem ao Prof. Doutor Manuel Viegas Guerreiro ), 23 a
cialistas, nomeadamente africanos, a
grafia “bantu”, quer para o singular, 27 de Setembro de 1997, Ponta Delgada, Universidade dos Açores.
quer para o plural. De referir que José • S ITOE, B ento ( 1996). D icionário Changana-Português, Maputo, I nstituto
Lourenço Tavares (1942) intitula a sua Nacional do Desenvolvimento da Educação.
“Comunicação Apresentada no • SITOE, Bento e N GUNGA, Armindo (2000). R elatório do II Seminário sobre a
Congresso Colonial” de “Das línguas e p a d ronização da ortografia de línguas moçambicanas, Maputo, NELIMO -
dialectos bântus em Angola”. Centro de Estudos das Línguas Moçambicanas, Universidade Eduardo Mondlane.
Adoptámos a norma do Português • TODOROV, Tzvetan (1978: 260). Os géner os do discurso. Lisboa: Edições 70.
europeu, anterior ao Acordo • VALER, Vito e FESTI, L odovico (1995) . D icionário Etxuabo-Português, Trento,
Ortográfico de 1994, que ainda não Centro Missioni Cappuccini.
entrou em vigor. Contudo, tendo em • WEULE, Karl, Wissenschaflliche Ergebnisse meiner ethnographischen
atenção as denominações utilizadas F o r s c h u n g s r eise in den Su:dosten Deutsch - Ostafrikas. 1908, p . 66, apud
por africanistas actuais, privilegiámos Guerreiro, Viegas (1966, IV: 61).

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o pensamento de desafio, competição
ou luta lúdica.[...] // Himani! Himyani!
Ou Hinhani! (esta na área de
Nampula), Dizei! Dizei lá vós!
Nkahimani! Dizei! Falai vós então! //
Koroshani! Ou Koroshyani! Ou ainda
Korosyani! Explicai! Decifrai vós! Estas
últimas na área de Nacala, Memba, etc.
// Todas estas fórmulas correspondem
ao sinal de vencido [sublinhado do
colector] ou significam dar-se por ven-
cido ou a aceitar a derrota. // São,
pois, fórmulas de se confessar vencido
ou incapaz de responder!” [...]
As fórmulas introdutórias ou de desafio
e as de resposta ou de adesão já estão
estereotipadas, indecifráveis, porque
resistentes ou impeditivas de análise. //
Quando se pretende levar mais fundo
a questão, a resposta habitual é: Não
sei! Não sabemos! // No entanto a
significação da palavra Sirapi (nas
diversas formas Shirapi, shirampi,
surapi e até sarapi) pode trazer-nos
alguma luz e trazer-nos qualquer vis-
Peinture de Mucavele lumbre que nos possa ajudar. Significa
coisa obscura, difícil de compreender,
as designações bantu, sempre que as interessante a reflexão a que o profes- dificuldade, enigma, coisa para ser
mesmas existam. sor procede, efectuando a destrinça decifrada, casa circular, cujo tecto é
6 Henri A. Junod (1996 [1912-13], 2.º entre verdadeiras adivinhas e outras difícil de executar e daí talvez a ideia
vol.:157). formas “similares”, e a análise exempli- de duelo, jogo, etc. Será algo destas
7 Prata (1983, não pag.) refere-se, especi- ficativa do seu verd a d e i ro valor literá- coisas? // Como acabamos de ver, as
ficamente, às adivinhas da comunidade rio. (Idem, ibidem: 433-438). formulações ou formas introdutórias
linguística emakhuwa, aliás, a comuni- 11 Arnaldo Saraiva (1999: 435). das adivinhas variam com as regiões
dade de que possuímos o maior 12 Tzvetan Todorov (1978: 260). linguísticas, ou melhor dito com as lín-
número de adivinhas. 13 Henri A. Junod (1996: 159-166 [1912- guas ou idiomas ou seja com os diver-
8 Orlando Mendes ([1982:10)]. O mesmo 13]). sos dialectos.” (Pires Prata, 1983, não
autor escreve: “A recolha da nossa tra- 14 O itálico é do colector. pag.).
dição oral, incluindo a literatura, esteve 15 Henri A. Junod (1996 [1912-13], 2.º 18 No original, só versão em Xitshonga e
a cargo de estrangeiros. E se alguns vol.: 21). Inglês. Tradução do Inglês por Liliana
deles, eruditos e curiosos, tiveram 16 No original, só versão em Xitshonga e Inverno. [Nota nossa].
honestas preocupações de registo, não Inglês. Tradução do Inglês por Liliana 19 No original, só versão em Cicopi e
devemos esquecer que a maior parte Inverno. [Nota nossa]. Inglês. Tradução do Inglês por Liliana
do trabalho de recolha interessou 17 Eis algumas dessas fórmulas: “A intro d u- Inverno. [Nota nossa].
agentes intelectuais do colonialismo e ção ou formulação da adivinha difere 20 No original, só versão em Xitshonga e
colonos exploradores do exotismo, que de zona para zona. // Na primeira Inglês. Tradução do Inglês por Liliana
a perspectivaram e escreveram imbuí- [Moma e Angoche] será: Sirapi! Ou Inverno. [Nota nossa].
dos do espírito de dominação, incapa- Shirapi! Ou Surapi! Ou até Sarapi. A 21 Alguns exemplos típicos de onomato-
zes de compreenderem a verdade his- resposta é: Nkavirà! Passa! Ou peias: “tepe-tepe”, “ngundzu-ngundzu”,
tórica de que a tradição era veículo, e Nampette! Ou Nampetce (área do “ngwavila-ngwandla”, “ngwa”, “gurhu-
as realidades dramáticas do Povo. // A lómwè, no vale do Ligonha).[...] // N a gurhu”, “gurhu”, “gebe-gebe”, “gwo”,
literatura oral, pelo conhecimento mais terceira zona [Ilha de Moçambique] a “magoiogoio”, “ndindinga ndinga
ou menos correcto que dela podemos introdução será: Pokhà! (presta aten- ndinga”, “gudlu-gudlu”, “txefu-txefu”,
ter hoje, aparentemente se repetia e ção, vou falar!). A resposta será: “tseke-tseke”, “shigiligigi”, “bum”,
consolidava com formas de expressão Pokhani! (Falai!). [...] // Na zona de “guím”, “mwahaa...namba”, “xigiligigi
cristalizadas. Mas a verdade é que a Nampula, quinta zona, a introdução é xigi”, “ndjua ndjua”, “ta landani”,
sua temática se renovava, em virtude Shampatteke! E a resposta é: Virà! “ngungu”, “diidiidi”, “ku! ku! ku!”,
da sua própria função crítica e didác- Passa! Anda! Avança! Ou Vira-vira! “dodo”, “wim!”. [Nota nossa].
tica” (Idem, ibidem: 9-10). Um olhar Passa! Ou com mais frequência 22 “Zigeklwane”, árvore muito espinhosa.
atento pelas adivinhas, em especial, Nkavirà! Passa já! Ou Passa imediata- [Nota do colector].
designadamente sobre as recolhas fei- mente! Ou Vem já! // Na sexta zona - 23 No original, só versão em Xitshonga e
tas após a Independência do País, Malema, Mutuáli, etc. Não consegui Inglês. Tradução do Inglês por Liliana
revela-nos um mundo onde há lugar encontrar nenhuma fórmula introdutó- Inverno. [Nota nossa].
para a brejeirice, erotismo, e, especial- ria. Mas, com frequência, a formulação 24 Há uma 2.ª edição revista e aumentada
mente, para uma observação/ retrata- da adivinha termina com a interrogação (1957), presumimos, em relação à 1.ª
mento crítico e objectivo do momento feita uma ou duas vezes: Shenì? O que edição de 1936. A edição (“reimpres-
político que o País atravessava. é? Ou Shenì? Shenì? Que é? Ou ainda são”) de 1986 contém 892 provérbios
Situação ainda mais curiosa - que vem Enikhala shenì? O que é? O que vem a em relação aos 1201 da edição de
dar razão a Orlando Mendes (1982) e ser? [...] // Na zona da Zambézia usa-se 1957; ainda na edição de 1986,
Penvenne (1992), entre outros - é o Shirapi! Ou S i r a p i! Na parte do lómuè, é constam 200 adivinhas em Xitshonga,
facto dessas adivinhas não perderem, Tcarapini! Ou Tjarapini! Ou Nsharapini! em relação às 210 da edição de 1957.
antes pelo contrário acentuarem as Na área de Maganja da Costa, no dia- Contudo, a edição de 1986 insere 11
suas características de adaptação e lecto Nharinga, e na do Chuabo adivinhas em Cicopi que não constam
poeticidade. Veja-se o cariz político e (Quelimane, etc.). A resposta aqui é da edição de 1957.
brejeiro, sem perder as suas caracterís- Tcivire! (Tjivire!) nalgumas terras e Na obra, utilizámos: a edição de 1957,
ticas “poéticas”, da recolha efectuada, Tcipithe! (Tjipithe!) noutras. E a res- pelo facto de conter o maior número
na área de Inhambane, após a Inde- posta é Kondò! Que corresponde, em de adivinhas em Xitshonga (210); e a
pendência do País (CECICI, 1988). macua, a Ekhotto! Ou seja Guerra! // edição de 1986, porque inclui 11 adi-
9 Prata (1983, não pag.). Nesta resposta, no dialecto nharinga e vinhas em Cicopi. [Nota nossa].
10 Arnaldo Saraiva (1999:435). Deveras na língua chuabo, está latente a ideia e

50 LATITUDES n° 25 - décembre 2005

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