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BARTHES, Roland. O grau zero da escrita. Trad: Mário Laranjeira.

Martins Fontes. São Paulo, 2004.

Introdução:
Ora, é onde a História é recusada que ela age mais claramente; pode-se, portanto, traçar
uma história da linguagem literária que não é nem a história da língua, nem a dos
estilos, mas apenas a história dos Signos da literatura, e pode-se prever que a história
formal manifeste claramente, a seu modo, sua ligação com a História profunda.

A História, então, diante do escritor, é como o advento de uma opção necessária entre
várias morais da linguagem; ela obriga a significar a Literatura segundo possíveis que
ele não domina.

Primeira parte
O que é a escritura?

"O escritor não extrai nada dela [a língua], a rigor: para ele, a língua constitui antes uma
linha cuja transgressão designará talvez uma sobrenatureza da linguagem: ela é a área
de uma ação, a definição e espera de um possível. Não é o lugar de um engajamento
social, mas somente um reflexo sem escolha, a propriedade indivisa dos homens e não
dos escritores; ela permanece fora do ritual da Letras; é um objeto social por definição,
não por eleição [...] Assim, para o escritor, a língua é apenas um horizonte humano que
instala ao longe uma certa familiaridade [...]"

"[...] suspensa entre formas abolidas e formas desconhecidas, a língua do escritor é bem
menos um cabedal do que um limite extremo; ela é o lugar geométrico de tudo aquilo
que ele não poderia dizer sem perder, tal como Orfeu voltando-se, a estável significação
de sua atitude e o gesto essencial de sua sociabilidade."

"A língua está pois aquém da Literatura. O estilo está quase além: imagens, um fluir,
um léxico nascem do corpo e do passado do escritor e se tornam, pouco a pouco, os
automatismos mesmos de sua arte. Assim, sob o nome de estilo, forma-se uma
linguagem autárquica que mergulha apenas na mitologia pessoal e secreta do autor,
nessa hipofísica da palavra, onde se instalam de uma vez por todas os grandes temas
verbais de sua existência."
"Seja qual for seu refinamento, o estilo tem sempre algo de bruto: ele é uma forma sem
destino, é o produto de um surto, não de uma intenção, é como uma dimensão vertical e
solitária do pensamento. [...] ele é a 'coisa' do escritor, seu esplendor e sua prisão, é a
sua solidão."

"É a voz decorativa de uma carne desconhecida e secreta; funciona à maneira de uma
Necessidade, como se, nessa espécie de surto floral, o estilo não fosse senão o termo de
uma metamorfose cega e obstinada, provinda de uma infraliguagem que se elabora no
limite da carne e do mundo."

"O estilo [...] só tem uma dimensão vertical; mergulha na lembrança enclausurada da
pessoa, compõe a sua opacidade a partir de certa experiência da matéria; o estilo nunca
é mais que metáfora, quer dizer, equação entre intenção literária e a estrutura carnal do
autor [...]"

"[...] o que se mantém ereto e profundo no estilo, reunido dura ou suavemente em suas
figuras, são os fragmentos de uma realidade absolutamente estranha à linguagem. O
milagre dessa transmutação faz do estilo uma espécie de operação supraliterária, que
carrega o homem até o limiar do poder e da magia. Por sua origem biológica, o estilo se
situa fora da arte, isto é, fora do pacto que liga o escritor à sociedade."

"O horizonte da língua e a verticalidade do estilo desenham, pois, para o escritor, uma
natureza, porque ele não escolhe nem uma coisa nem outra. A língua funciona como
uma negatividade, o limite inicial do possível; o estilo é uma Necessidade que amarra o
humor do escritor à sua linguagem. Ali, ele encontra a familiaridade da História, aqui, a
de seu próprio passado."

"Ora, toda Forma é também Valor; eis por que entre a língua e o estilo existe lugar para
outra realidade formal: a escrita. Em qualquer forma literária, há a escolha geral de um
tom, de um etos, se quiser, e é aí precisamente que o escritor se individualiza
claramente, porque é aí que ele se engaja."

"Língua e estilo são dados antecedentes a toda problemática da linguagem, língua e


estilo são o produto natural do Tempo e da pessoa biológica; mas a identidade formal
do escritor só se estabelece verdadeiramente fora da instalação das normas da gramática
e das constantes do estilo, no lugar onde o contínuo escrito, reunido e fechado
inicialmente numa natureza linguística perfeitamente inocente, vai tornar-se finalmente
um signo total, a escolha de um comportamento humano, a afirmação de um certo Bem,
empenhando assim o escritor na evidência e na comunicação de uma felicidade ou de
um mal-estar, e ligando a forma ao mesmo tempo normal e singular de sua palavra à
vasta História do outro."

"Língua e estilo são forças cegas; a escrita é um ato de solidariedade histórica. Língua e
estilo são objetos; a escrita é uma função: é a relação entre a criação e a sociedade, é a
linguagem literária transformada em sua distinção social, é a forma captada em sua
intenção humana e ligada assim às grandes crises da História."

"Colocada no âmago da problemática literária, que não começa senão com ela, a escrita
é então essencialmente a moral da forma, é a escolha da área social no seio da qual o
escritor decide situar a Natureza da sua linguagem."

"Todo vestígio escrito se precipita como um elemento químico inicialmente


transparente, inocente e neutro, no qual a simples duração faz aparecer, pouco a pouco,
todo um passado em suspensão, toda uma criptografia cada vez mais densa."

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