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LONGITUDINAIS DE VIGAS
RECTANGULARES DE
BETÃO ARMADO SUJEITAS
A FLEXÃO SIMPLES PLANA
DE ACORDO COM O
EUROCÓDIGO 2
E. JÚLIO
Professor Auxiliar
DEC FCTUC
Coimbra
SUMÁRIO
Neste artigo apresentam-se expressões de cálculo de vigas de betão armado de secção rectangular
sujeitas a flexão plana, seguindo a metodologia proposta em 1985 por D’Arga e Lima et al. mas
introduzindo as actualizações necessárias para ter em conta as 14 classes de resistência de betão e as
diferenças na curva parábola-rectângulo consideradas no Eurocódigo 2 (Abril 2004) face ao
REBAP.
In this paper are presented design expressions for reinforced concrete beams with rectangular cross-
section subjected to pure bending, following the methodology proposed in 1985 by D’Arga e Lima
et al. but introducing the necessary improvements to take into account the 14 strength classes of
concrete and the differences in the parabola-rectangle curve considered in Eurocode 2 (April 2004)
relatively to REBAP.
1. INTRODUÇÃO
Em 1985 D’Arga e Lima et al. publicaram um documento [1] de extrema importância para os
projectistas de estruturas, no qual são fornecidos, na forma de tabelas/ábacos e de fórmulas
simplificadas, meios de dimensionamento de armaduras para Estado Limite Último (ELU) de
elementos de betão armado sujeitos a flexão, simples e composta, plana e desviada. Os valores e as
expressões apresentados são baseados nos critérios de dimensionamento constantes no Regulamento
de Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado (REBAP) [2] de 1983, ainda em vigor, e para as
classes de betões e tipos de aço aí definidos.
Com o presente artigo, reconhecendo a utilidade da publicação do LNEC [1], pretende-se dar um
contributo para a sua actualização, nomeadamente definindo os valores limite de α, μ e ω acima dos
quais a rotura é frágil ou a partir dos quais é mais racional armar duplamente uma secção
rectangular de betão armado sujeita a flexão simples plana, de acordo com o EC 2. Apresentam-se
ainda expressões de cálculo das armaduras de tracção e de compressão, em função dos valores
limite anteriormente referidos ou de valores limite definidos pelo projectista, constituindo deste
modo um meio de cálculo mais flexível do que as “fórmulas simplificadas” apresentadas em [1],
com a vantagem acrescida dos resultados serem mais rigorosos.
2. DIAGRAMAS PARÁBOLA-RECTÂNGULO DO EC 2
⎡ ⎛ ε ⎞
n⎤
σ c = f cd ⎢1 − ⎜⎜1 − c ⎟
⎟
⎥ para 0 ≤ ε c ≤ ε c 2 (1)
⎢ ⎝ ε c2 ⎠ ⎥
⎣ ⎦
σ c = f cd para ε c 2 ≤ ε c ≤ ε cu 2 (2)
ε cu 2 − ε c 2
Fc1 = f cd ⋅ ⋅b⋅ x (3)
ε cu 2
n ε
Fc 2 = f cd ⋅ ⋅ c2 ⋅ b ⋅ x (4)
n + 1 ε cu 2
⎛ 1 ε ⎞
Fc = Fc1 + Fc 2 = f cd ⋅ ⎜⎜1 − ⋅ c 2 ⎟⎟ ⋅ b ⋅ x (5)
⎝ n + 1 ε cu 2 ⎠
C12/15 C50/60
0,35%
ε C55/67
0,30% C60/75
C70/85
C80/95 C90/105
0,25%
0,20%
0,15%
0,10%
0,05%
0,00%
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0
σ (MPa )
As extensões ao nível das linhas de acção das resultantes Fc1 e Fc2 são, respectivamente:
ε c 2 + ε cu 2
ε G1 = (6)
2
n+3
ε G2 = ε c2 (7)
2n + 4
x x
Fc1 ⋅ ε G1 ⋅ + Fc 2 ⋅ ε G 2 ⋅
ε cu 2 ε cu 2
x−c = (8)
Fc1 + Fc 2
⎛ ⎛ ε c 2 ⎞ ⎞⎟
2
⎜ 1
−
1
⎜ ⎟
⎜ 2 (n + 1)(n + 2 ) ⎜⎝ ε cu 2 ⎟⎠ ⎟
c = ⎜1 − ⎟x (9)
⎜ 1 ⎛ ε c2 ⎞ ⎟
⎜⎜ 1− ⎜ ⎟ ⎟⎟
n + 1 ⎜⎝ ε cu 2 ⎟⎠
⎝ ⎠
c = k2 ⋅ x (11)
apresentando-se, no Quadro 2, os valores dos coeficientes k1 e k2, para cada uma das classes de
resistência consideradas no EC 2.
As f yd
ω= (12)
bdf cd
M Rd
μ= (13)
bd 2 f cd
Em flexão simples plana, para secções simplesmente armadas, a resultante de tracção na armadura
iguala a resultante de compressão no betão pelo que o numerador de (12) pode ser substituído pela
expressão (10). Sendo ainda α a relação entre a posição do eixo neutro, x, e a altura útil da secção,
d, tem-se:
ω = k1 ⋅ α (14)
O momento resistente pode ser definido, neste caso, como o binário constituído pelas resultantes de
tracção na armadura e de compressão no betão. Substituindo o numerador de (13) pelo produto da
resultante de compressão no betão, dada por (10), pelo braço do binário, dado pela diferença entre a
altura útil da secção, d, e a distância da linha de acção da resultante de compressão no betão à fibra
mais comprimida, c, dada por (11), tem-se:
μ = k1 ⋅ α ⋅ (1 − k 2 ⋅ α ) (15)
4. VALORES LIMITE PARA ARMAR SIMPLESMENTE SECÇÕES RECTANGULARES
Uma das situações limite, consideradas em [1], é a fronteira entre rotura frágil e rotura dúctil, ou
seja, consiste em admitir um diagrama de extensões na secção em que a fibra mais comprimida de
betão apresenta a extensão última e a armadura de tracção assume a extensão de cedência, sendo:
ε cu 2
α lim = (16)
ε cu 2 + ε yd
Introduzindo (16) em (14) e (15) obtêm-se as correspondentes expressões de cálculo dos valores
limite da percentagem mecânica de armadura e de momento resistente reduzido, respectivamente:
ε cu 2
ωlim = k1 ⋅ (17)
ε cu 2 + ε yd
ε cu 2 ⎛ ε cu 2 ⎞
μ lim = k1 ⋅ ⋅ ⎜1 − k 2 ⋅ ⎟ (18)
ε cu 2 + ε yd ⎜ ε cu 2 + ε yd
⎟
⎝ ⎠
apresentando-se, no Quadro 3, os valores para cada classe de resistência de betão e tipo de aço.
Outra situação limite, igualmente considerada em [1], representa a fronteira a partir da qual é mais
racional armar duplamente a secção. Para uma secção simplesmente armada, tem-se:
M Rd = As ⋅ f yd ⋅ (d − c ) (19)
Derivando esta expressão em ordem a As, pode determinar-se o incremento de momento resistente
com o aumento de armadura de tracção:
dM Rd
dAs
=
d
dAs
[
As ⋅ f yd ⋅ (d − c ) ] (20)
Atendendo a que:
Fs = As ⋅ f yd = f cd ⋅ k1 ⋅ b ⋅ x = Fc (22)
dM Rd d ⎡ ⎛ As ⋅ f yd ⎞⎤
= ⎢ As ⋅ f yd ⋅ ⎜⎜ d − k 2 ⋅ ⎟⎥ (23)
dAs dAs ⎢⎣ ⎝ f cd ⋅ k1 ⋅ b ⎟⎠⎥⎦
vindo:
⎡ As ⋅ f yd ⎤
⎥ = f yd ⋅ [d − 2 ⋅ k 2 ⋅ x ]
dM Rd
= f yd ⋅ ⎢d − 2 ⋅ k 2 ⋅ (24)
dAs ⎣ f cd ⋅ k1 ⋅ b ⎦
ΔAs
ΔM Rd = ⋅ f yd ⋅ (d − a ) (25)
2
= ⋅ f yd ⋅ (d − a )
dM Rd 1
(26)
dAs 2
Para que seja mais racional armar duplamente a secção, terá de se verificar a seguinte inequação,
obtida de (24) e (26):
f yd ⋅ [d − 2 ⋅ k 2 ⋅ x ] < ⋅ f yd ⋅ (d − a )
1
(27)
2
De onde vem que:
1 ⎛ a⎞
α lim = ⎜1 + ⎟ (28)
4 ⋅ k2 ⎝ d ⎠
k1 ⎛ a ⎞ ⎛ 1⎛ a ⎞⎞
μ lim = ⎜1 + ⎟ ⋅ ⎜⎜1 − ⎜1 + ⎟ ⎟⎟ (30)
4 ⋅ k2 ⎝ d⎠ ⎝ 4⎝ d ⎠⎠
apresentando-se, no Quadro 4, os valores para cada classe de resistência de betão e três relações a/d:
Quadro 4 – Valores de αlim, ωlim e de μlim função da eficácia do posicionamento dos varões
a/d Classes ≤ 50/60 55/67 60/75 70/85 80/95 90/105
αlim 0,631 0,670 0,696 0,725 0,740 0,744
0,05 ωlim 0,511 0,497 0,484 0,462 0,443 0,434
μlim 0,377 0,366 0,357 0,341 0,327 0,320
αlim 0,661 0,702 0,729 0,760 0,775 0,779
0,10 ωlim 0,535 0,521 0,507 0,484 0,465 0,455
μlim 0,388 0,377 0,367 0,351 0,337 0,330
αlim 0,691 0,734 0,762 0,794 0,810 0,815
0,15 ωlim 0,560 0,544 0,530 0,506 0,486 0,475
μlim 0,399 0,388 0,377 0,361 0,346 0,339
Comparando os valores do Quadro 3 com os do Quadro 4, verifica-se que: (a) para betões de classe
superior a C50/60, a condicionante é sempre o limite entre rotura frágil e dúctil (Quadro 3); (b) para
betões de classe inferior ou igual a C50/60 e aços S500 ou S600, a condicionante é a mesma
(Quadro 3); (c) para betões de classe inferior a C50/60 e aço S400, a condicionante ainda é a mesma
(Quadro 3), para a/d=0,15, passando a ser a eficácia do posicionamento das armaduras (Quadro 4),
para a/d=0,10 e a/d=0,05.
É útil, em várias situações práticas, poder determinar-se de forma expedita, ainda que aproximada, a
área de armadura de tracção e de compressão, sem ter que recorrer a cálculo automático ou a
tabelas/ábacos. Por este motivo, são apresentadas em [1] “fórmulas simplificadas”.
Sendo μ ≤ μ lim , a secção será simplesmente armada. Substituindo (14) em (15) vem:
⎛ k2 ⎞
μ = ω ⋅ ⎜⎜1 − ω⎟ (31)
⎝ k1 ⎟⎠
k1 ⎡ ⎛ ⎞ ⎤
12
k2
ω= ⋅ ⎢1 − ⎜1 − 4 ⋅ ⋅ μ ⎟⎟ ⎥ (32)
2k 2 ⎢ ⎜⎝ k1 ⎠ ⎥⎦
⎣
Se μ > μ lim , a secção será duplamente armada. Admitindo que o acréscimo de momento reduzido,
μ − μ lim , é conseguido através da colocação de uma armadura de compressão e de um acréscimo de
igual valor de armadura de tracção, mantendo-se a posição do eixo neutro inalterada relativamente à
situação limite considerada, da expressão (25) pode obter-se:
As′ ⎛ a⎞
μ − μ lim = ⋅ f yd ⋅ (d − a ) = ω ′ ⋅ ⎜1 − ⎟ (33)
b ⋅ d ⋅ f cd
2
⎝ d⎠
μ − μ lim
ω′ = (34)
a
1−
d
ω = ωlim + ω ′ (35)
De notar que as expressões de cálculo da percentagem mecânica de armadura propostas, (32), (34) e
(35), além de actualizadas de acordo com o EC 2, apresentam algumas vantagens relativamente às
“fórmulas simplificadas” de [1], nomeadamente: a expressão (32), para o caso de secções
simplesmente armadas, é exacta; e as expressões (34) e (35), para secções duplamente armadas,
permitem ao projectista utilizar os valores limite, dados nos Quadros 3 e 4, ou, em alternativa,
utilizar valores limite definidos pelo próprio. Exemplificando, o projectista pode entender
considerar, em lugar do valor dado por (16), o limite:
ε cu 2
α lim = (36)
ε cu 2 + m ⋅ ε yd
sendo m um real superior ou igual a 1. Neste caso, substituindo (36) em (17) e (18), tem-se:
ε cu 2
ωlim = k1 ⋅ (37)
ε cu 2 + m ⋅ ε yd
ε cu 2 ⎛ ε cu 2 ⎞
μ lim = k1 ⋅ ⋅ ⎜1 − k 2 ⋅ ⎟ (38)
ε cu 2 + m ⋅ ε yd ⎜ ε cu 2 + m ⋅ ε yd
⎟
⎝ ⎠
Assim, caso o momento reduzido actuante seja superior ao valor dado por (38), é igualmente
possível utilizar as expressões (34) e (35) para determinar as armaduras de tracção e de compressão,
tendo o diagrama de extensões na rotura sido definido pelo projectista, em função da ductilidade
pretendida.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em conta o facto de, actualmente, serem grandes as potencialidades das calculadoras de
bolso, considerou-se justificável apresentar a expressão exacta de cálculo da percentagem mecânica
de armadura, em lugar de uma fórmula simplificada, para o caso de secções simplesmente armadas:
expressão (32). Para o caso de secções duplamente armadas, considerou-se mais interessante
apresentar as expressões de cálculo da percentagem mecânica das armaduras de tracção e de
compressão, (34) e (35), em função dos valores limite, podendo ser usados os valores tabelados nos
Quadros 3 e 4 ou utilizados valores limite definidos pelo projectista.
7. REFERÊNCIAS
[1] D’ARGA E LIMA, J., MONTEIRO, V., MUN, M., Betão Armado. Esforços Normais e de
Flexão (REBAP – 83), Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, 1985.
[2] REBAP – Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado, Dec.-Lei N.º 349-
C/83 de 30 de Julho, 1983.
[3] EN 1992-1-1, Eurocódigo 2: Projecto de Estruturas de Betão. Parte 1-1: Regras gerais e regras
para edifícios, CEN, Abril 2004 (versão Portuguesa).
[4] LOURENÇO, J., JÚLIO, E., MARANHA, P., Betões de Agregados Leves. Guia para a sua
Utilização, APEB, 2004.