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FUNDAMENTOS DA

HARMONIA
AULA 1

Prof. Anderson Roberto Zabrocki Rosa


CONVERSA INICIAL

O termo harmonia é originário da Grécia, estando presente em textos de


filósofos e poetas que buscavam a verdade partindo da observação de diversos
fenômenos da natureza. A relação entre os sons musicais era um dos fenômenos
que mais os fascinava, por suas proporções matemáticas e a sua influência
sobre as nossas emoções. Por isso, a música, os sons e suas combinações – a
harmonia – eram consideradas uma grande fonte de conhecimento, pois nelas
poderiam estar contidos os elementos necessários para a compreensão da
mecânica do Universo e de outros segredos da natureza. Platão (428-347 a.C.)
e Pitágoras (570-495 a.C.) trataram da música e da harmonia em seus estudos,
sendo os princípios detalhados por Pitágoras os fundamentos de nossa teoria
musical.
Na aula de hoje, trataremos de alguns experimentos e observações de
Pitágoras sobre os sons; de como era o pensamento harmônico na Idade Média
e no Renascimento; do contraponto de Palestrina (1525-1594); dos primórdios
da harmonia moderna, por meio de Johann Sebastian Bach (1685-1750) e Jean-
Philippe Rameau (1683-1764); e de como a harmonia é abordada na música
popular.

TEMA 1 – O LEGADO DE PITÁGORAS PARA A TEORIA MUSICAL

Pitágoras de Samos (570-495 a.C.) foi um filósofo e matemático grego,


fundador de uma importante escola filosófica da Antiguidade – a Escola
Pitagórica –, na qual Pitágoras e seus discípulos dedicavam-se aos estudos de
aritmética, geometria, astronomia e música. Para Pitágoras, os números eram
sagrados e a música representava uma rica fonte de analogias para o seu
pensamento. Por esse motivo, considerava a observação de objetos
geométricos e a percepção da música como um pré-requisito para o
entendimento de questões mais profundas sobre a natureza.

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1.1 O monocórdio

Figura 1 – Frontispício do tratado musical Theorica Musicae, de Franchinus


Gaffurius (1492): Pitágoras explorando harmonia e proporções com diversos
instrumentos

Crédito: CC-20.

O monocórdio é um instrumento científico e musical que consiste em uma


única corda esticada sobre uma caixa de ressonância. É o instrumento mais
lembrado ao se referir aos experimentos de Pitágoras, por sua simplicidade e
eficiência em demonstrar as proporções matemáticas dos sons musicais. Conta
a tradição que Pitágoras teria intuído a base de seu sistema de afinação ao
passar por uma oficina de ferreiros. Pitágoras escutou as batidas de martelos de
tamanhos diferentes percutindo ao mesmo tempo e percebeu que os diferentes
sons se combinavam, algumas vezes soavam consonantes e outras,
dissonantes. Ele percebeu que os instrumentos que apresentavam a metade do
peso (2:1), em comparação com o martelo mais pesado, se harmonizavam
perfeitamente com ele, pois emitiam a mesma nota mais aguda, estabeleciam o
intervalo de uma oitava. Assim, ficou definido que a oitava poderia ser obtida da
combinação do som de dois martelos: um martelo grande e um com a metade
de seu tamanho (2:1). Pitágoras testou também as outras combinações de
martelos e suas proporções, encontrando consonâncias nos martelos que
apresentavam o peso de 3:2 (intervalo de quinta) e 4:3 (intervalo de quarta) em
relação ao maior martelo. Após a descoberta vinda das batidas e das proporções
dos martelos, Pitágoras buscou outros objetos sonoros para explorar as suas

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proporções. Pitágoras realizou seus experimentos com diversos instrumentos e,
dentre todos, o monocórdio é o mais conhecido.

Usando um monocórdio, instrumento semelhante à lira, Pitágoras


investigou o que acontecia com a percepção dos sons ao variar o
comprimento da corda. Para isso, usou um cavalete móvel sob a corda
que lhe permitia variar o comprimento da mesma. Pitágoras verificou
que os sons mais agradáveis eram obtidos quando a corda era dividida
na razão de pequenos números inteiros. Caso contrário, os sons
obtidos eram desagradáveis aos ouvidos (Granja, 2010, p. 31).

A cada uma das combinações harmônicas que resultavam em números


inteiros: 2:1; 3:2 e 4:3, foi atribuído um nome distinto. O diapason se referia ao
2:1 (intervalo de oitava justa), a harmonia mais consonante, obtida com base no
toque simultâneo da corda solta e da corda dividida ao meio. O diapente
correspondia ao som obtido com a corda dividida em 3:2 (intervalo de quinta
justa). E o diatessaron correspondia ao intervalo obtido da razão 4:3 (intervalo
de quarta justa).

OITAVA QUINTA QUARTA


JUSTA JUSTA JUSTA

2:1 3:2 4:3

1.2 A afinação pitagórica

A afinação pitagórica é distinta do sistema de afinação que utilizamos


prevalentemente desde o século XVIII, a chamada afinação de temperamento
igual. O sistema pitagórico se dá pela afinação de oitavas (2:1) e quintas
perfeitas (2:3), em um ciclo de 7 oitavas e 12 quintas perfeitas sobrepostas: Ré
> Lá > Mi > Si > etc.
Porém, o sistema de afinação pitagórico apresenta uma limitação prática,
conhecida como o coma pitagórico, em que determinadas relações harmônicas,
que teoricamente deveriam soar consonantes, soam completamente
dissonantes. Por esse motivo, ao longo dos séculos, sempre se buscaram outros
sistemas de afinação com o intuito de evitar o coma, cada um ao seu modo,
apresentando novas sonoridades e outras limitações.
Para se alcançar a afinação que utilizamos atualmente, foi necessário
abandonar de vez o ideal pitagórico, dividindo a oitava em 12 partes iguais, o

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que garante o equilíbrio tonal em qualquer transposição ou modulação, o que
não era possível no sistema pitagórico e em outros sistemas utilizados
anteriormente.

TEMA 2 – A HARMONIA NA IDADE MÉDIA E NO RENASCIMENTO

A harmonia na Grécia Antiga era linear, melódica, baseada em escalas.


Na Idade Média, com a origem da polifonia1, a harmonia passou a ser vista como
a combinação de duas notas. O cantochão passou a receber o acompanhamento
simultâneo de uma nota mais grave, sempre combinando os intervalos de
quartas, quintas ou oitavas. A essa maneira de compor e cantar se deu o nome
de organum, o primeiro estilo polifônico na música ocidental, tendo seus
primeiros registros em meados do século XI d.C. As vozes do organum
costumavam ser duplicadas (oitavadas), para ele ser cantado a três ou mais
vozes.
Ainda sob a influência do pensamento harmônico de Pitágoras, teóricos e
compositores da Idade Média e do Renascimento consideravam apenas a
combinação de oitavas (2:1), quintas (3:2) e quartas (4:3) como consonantes –
harmônicas –, sendo todas as outras combinações consideradas dissonantes.
A partir do século XIII, as composições passam a ser pensadas a três
vozes e a inclusão de combinações intervalares de terças e sextas se tornam
cada vez mais frequentes, somando-se aos intervalos consonantes de oitava e
quinta. O intervalo de quarta, apesar de sua perfeição numérica, na prática vai
deixando de ser considerado uma consonância. Giuseffo Zarlino (1517-1590) foi
o primeiro a assumir em seus escritos teóricos os intervalos de terças e sextas
como consonâncias – contrariando a tradição.
Na época de Zarlino, a composição deveria apresentar,
predominantemente, consonâncias; as dissonâncias deveriam surgir com menor
frequência e, quando surgissem, deveriam ser preparadas e resolvidas de
maneira que não interferissem na harmonia e no equilíbrio da peça.
Nos tempos fortes do compasso, deveriam ocorrer apenas consonâncias.
As dissonâncias só poderiam surgir nos tempos fracos, devendo ser atingidas

1 Estilo musical no qual várias vozes ou partes instrumentais são combinadas de maneira
contrapontística (mantendo a individualidade da linha) em oposição à homofonia (um único som
ou melodia). Em termos históricos a era da polifonia foi definida entre os séculos XIII e XVII,
sobrevivendo até o início do século XVII (Dourado, 2004).
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por graus conjuntos e deixadas por graus conjuntos, nunca por salto. A seguir
conferimos alguns exemplos de como as notas poderiam se suceder em uma
composição contrapontística da época de Zarlino. As setas para baixo indicam
os tempos fortes (tempos 1 e 3), as setas para cima indicam os tempos fracos
(2 e 4). Abaixo das notas temos as letras c e d, indicando os intervalos
consonantes e os dissonantes em relação à nota grave de quatro tempos (Dó).

A) B) C)

D) E)

Fonte: Sachs; Dauhlhaus, 2001.

Na Figura 2, as setas para baixo indicam os tempos fortes (tempos 1 e 3) e


as setas para cima indicam os tempos fracos (2 e 4). Abaixo das notas temos as
letras c e d, indicando os intervalos consonantes e os dissonantes em relação à
nota grave de quatro tempos (Dó).

TEMA 3 – O CONTRAPONTO DE PALESTRINA

O auge musical da Renascença se deu por meio do compositor Giovani


Pierlugi da Palestrina (1525-1594), que estabeleceu o estilo composicional para
a liturgia da Igreja Católica, se tornando uma referência maior para compositores
de todas as épocas subsequentes. A técnica de composição de Palestrina era o
contraponto, “[...] termo usado pela primeira vez no século XIV para descrever a
combinação de linhas melódicas soando simultaneamente, de acordo com um
sistema de regras preestabelecidas” (Dourado, 2004, p. 92).
E do contraponto de Palestrina herdamos grande parte das regras de
condução de vozes e do tratamento de dissonâncias que ainda utilizamos em
harmonia e na composição de arranjos vocais e instrumentais.

O estilo de Palestrina foi o primeiro na história da música ocidental a


ser conscientemente preservado, isolado e tomado como modelo em
épocas posteriores, quando os compositores, naturalmente, escreviam

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já um tipo de música totalmente diferente. Era este estilo que os
compositores tinham geralmente em mente quando, no século XVII,
falavam de Stile Antico (estilo antigo). A sua obra chegou a ser
considerada como a encarnação do ideal musical de certos aspectos
do catolicismo que vieram a ser especialmente sublinhados no século
XIX e no princípio do XX. (Grout; Palisca, 2007, p. 294).

TEMA 4 – OS PRINCÍPIOS DA HARMONIA TONAL: RAMEAU E BACH

A concepção moderna de harmonia, a qual abordaremos nas próximas


aulas, tem o ano de 1722 como marco fundamental. Foi o ano em que Jean-
Philipe Rameau (1683-1764) publicou o seu tratado de harmonia, apresentando
pela primeira vez a concepção de um sistema musical baseado em hierarquias
entre acordes. Rameau é tido como o mais importante músico francês do século
XVIII, compositor de óperas, música para teclados e também conhecido por seus
trabalhos teóricos.

Nos seus numerosos escritos procurou deduzir das leis da acústica os


princípios fundamentais da música, e não somente clarificou a prática
musical do seu tempo, como também exerceu na teoria musical uma
influência que se prolongou por mais de duzentos anos. Rameau
considerou o acorde como o elemento fundamental da música - e não
a nota isolada, nem as linhas ou os intervalos melódicos. [...] Rameau
definiu os três acordes de tônica, dominante e subdominante como os
pilares da tonalidade e relacionou os outros acordes com estes, assim
formulando a noção de harmonia funcional, e defendeu ainda a
concepção de que a modulação podia resultar da mudança de função
de um acorde (na terminologia moderna, um acorde pivot). (Grout;
Palisca, 2007, p. 434-435).

Em 1722, Johann Sebastian Bach (1685-1750) escreveu o primeiro de


dois volumes da obra O cravo bem temperado, na qual o compositor apresentou
uma coleção de 24 prelúdios e fugas em cada uma das tonalidades maiores e
menores, sendo a primeira coleção de peças a atingir plenamente esse intento.
O título da obra faz menção à afinação utilizada por ele para atingir tal êxito,
inalcançado até então, por meio da afinação que se tornou padrão nos
instrumentos musicais modernos, o temperamento igual.

TEMA 5 – A HARMONIA NA MÚSICA POPULAR

A harmonia na música popular segue os mesmos princípios da harmonia


da música clássica ou harmonia tradicional. Porém, o seu estudo e sua prática
costumam se ater mais ao aspecto das funções e combinações entre acordes,
com enfoque no acompanhamento harmônico de melodias e na improvisação.

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No estudo da harmonia tradicional, há uma preocupação maior com aspectos
técnicos para a composição e o arranjo a duas ou mais vozes.
A notação harmônica em música popular tende a ser a notação por cifras,
que sintetiza as informações harmônicas em um sistema alfanumérico,
fornecendo dados essenciais para que o músico possa realizar o
acompanhamento ou improvisar sobre uma determinada música. Já a notação
harmônica tradicional, em partituras, geralmente para piano, tende a ser limitada,
dando apenas uma opção rítmica e harmônica ao acompanhador.
Para músicas de caráter folclórico, canções de ninar e o choro, por
exemplo, costumam-se empregar harmonias triádicas – acordes de três notas –
, que soam menos dissonantes. Para o jazz, a bossa-nova e parte da música
popular brasileire (MPB), os acordes tendem a ser tétrades, constituídos de ao
menos quatro notas, que soam mais dissonantes e ampliam as possibilidades
de improvisação.
Miles Davis (1926-1991), um dos mais notórios músicos de jazz do século
XX, costumava instruir os músicos de sua banda a evitar as notas óbvias, fosse
em melodias, fosse em acordes, para que sempre se explorassem novos
caminhos e sonoridades, mesmo em músicas consagradas. A fala de Miles
ilustra bem a maneira de abordar a música pelo músico popular, ao qual, muitas
vezes, basta saber o tom da música para que a acompanhe ou improvise,
independentemente da formação instrumental ou do estilo musical.

NA PRÁTICA

As observações feitas por Pitágoras em seu monocórdio podem ser


facilmente testadas em nossos instrumentos de cordas modernos. A metade da
corda, que demarca o intervalo de oitava (2:1), se encontra exatamente na casa
12 dos instrumentos com traste. Nesses instrumentos, é comum que haja
círculos nos mesmos pontos que Pitágoras considerava as frações harmônicas
mais importantes: na casa 12 (2:1) encontramos a oitava; na casa 7 (3:2), a
quinta e na casa 5 (4:3), a quarta (Figura 3).

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CASA CASA CASA
5 7 12

(4:3) (3:2) (2:1)

Outra maneira pela qual podemos observar as proporções matemáticas e


os seus resultados musicais é por meio da confecção de um “xilofone de água”.
Para isso, precisamos de ao menos três copos ou garrafas iguais, que serão
preenchidas com água e percutidas com uma colher. O primeiro recipiente deve
ser preenchido ao máximo (1:1), o segundo com dois terços (3:2) da quantidade
do primeiro e o terceiro, com três quartos (4:3) do valor do primeiro. Ao percutir
os recipientes, perceberemos que há uma relação harmônica entre eles. Por
diversos fatores, recipientes ou medidores, podem ser necessários alguns
ajustes no “xilofone”, acrescentando-lhe ou retirando-lhe alguns mililitros de água
para encontrarmos as consonâncias de quartas (3:2) e quintas justas (4:3).

FINALIZANDO

Nesta aula, traçamos um breve panorama histórico sobre a harmonia, de


como a harmonia foi trabalhada por Pitágoras e de qual foi o seu legado para as
gerações posteriores. Vimos de que maneira a harmonia se desenvolveu na
Idade Média e no Renascimento, pela ampliação de vozes e pelo acréscimo de
novas notas consonantes, além das estabelecidas pelos antigos matemáticos e
teóricos musicais. Na Alta Renascença chegamos ao contraponto de Palestrina,
estilo composicional que influenciou e permanece relevante para o estudo de
composição e harmonia. No ano de 1722, duas obras de imensa importância
para o estudo de harmonia foram escritas: uma teórica, o tratado de harmonia
de Rameau; e uma musical, O cravo bem temperado, de J. S. Bach. E, por
último, tratamos de como a harmonia tem sido abordada na música popular e
quais são as suas principais diferenças em comparação com a harmonia
tradicional.

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REFERÊNCIAS

DOURADO, H. A. Dicionário de termos e expressões da música. São Paulo:


Editora 34, 2004.

GRANJA, C. E. de S. C. Musicalizando a escola: música, conhecimento e


educação. 2. ed. São Paulo: Escrituras Editora, 2010.

GROUT, D.; PALISCA, C. História da música ocidental. 5. ed. Lisboa: Gradiva,


2007.

SACHS, K.; DAUHLHAUS, C. Counterpoint. In: SADIE, S. The New Grove


Dictionary of Music and Musicians. Oxford: Oxford University Press, 2001. p.
551-571.

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